O que dizer? Um dos maiores filmes que vi e uma das melhores trilhas sonoras já compostas? Sim, é bom começo, é sincero. É um filme onde Juliette Binoche depara-se com toda a liberdade possível. Ela faz o papel de Julie, mulher de um importante compositor e regente francês que morre num acidente de carro. Com ele, morre também a única filha do casal. É uma liberdade de luto — incômoda, deprimente, indesejável, horrível. Junto a um amigo do casal, ela tenta finalizar uma composição para coro e orquestra que havia sido encomendada ao marido, a Canção pela Unificação da Europa, descobrirá detalhes da vida do marido e seguirá sua vida. Trois Couleurs: Bleu (A Liberdade é Azul), de 1993, é um filme belíssimo e importante do cineasta polonês Krzysztof Kieslowski, o primeiro da Trilogia das Cores.
Zbigniew Preisner foi digno do filme. Deve ter trabalhado muito com Kieslowski, pois a música adapta-se ao filme — ou o filme a ela — de modo realmente arrepiante. Eu não consigo desgrudar o filme do CD da trilha sonora. A trilha faz parte do filme e gosto demais de ouvi-la para lembrar dele.
Zbigniew Preisner (1955): Trois Couleurs: Bleu (A Liberdade é Azul)
1. Song for the Unification of Europe (Patrice’s version) 5:17
2. Van Den Budenmayer – Funeral music (winds) 2:05
3. Julie – Glimpses of Burial 0:32
4. Reprise – First appearance 0:34
5. The Battle of Carnival and Lent 0:59
6. Reprise – Julie with Olivier 0:51
7. Ellipsis 1 0:23
8. First flute 0:52
9. Julie – in her new apartment
10. Reprise – Julie on the stairs
11. Second flute 1:18
12. Ellipsis 2 0:23
13. Van Den Budenmayer – Funeral music (organ) 1:59
14. Van Den Budenmayer – Funeral music (full orchestra) 1:49
15. The Battle of Carnival and Lent II 0:44
16. Reprise – flute (closing credits version) 2:21
17. Ellipsis 3 0:25
19. Olivier and Julie – Trial composition 2:01
20. Olivier’s theme – finale 1:40
21. Bolero – Trailer for “Red” film 1:11
22. Song for the Unification of Europe (Julie’s version) 6:50
23. Closing credits 2:06
24. Reprise – organ 1:15
25. Bolero – “Red” film
Flute – Jacek Ostaszewski
Music By – Zbigniew Preisner
Piano – Konrad Mastylo*
Recorded By – Sinfonia Varsovia
Soprano Vocals – Elzbieta Towarnicka*
Vocals [Soloist] – Beata Rybotycka
Já disse em minha última postagem: ando impossível. Tudo o tenho postado é absurdamente bom. Sim, é casual, pois estou apenas obedecendo a ordem dos CDs em minha pilha (crescente, crescente, sempre crescente). Este CD é tão bom que por anos foi objeto do desejo de mim e de meus amigos, isto desde os anos 70, quando apareceu a sensacional coleção REFLEXE, lançada pela EMI. Quando consegui o disco, fiquei louco de alegria. Baita LP (vinil) que, creio, nunca foi relançado em CD. Confiram a qualidade da coisa.
Languedoc foi uma antiga província da França que hoje integra parte da região Languedoc-Roussillon. No século XII, os habitantes do Languedoc, os Cátaros, foram considerados hereges pela Igreja Católica em razão de sua cultura singular, bem diferente da que a circundava: era uma área independente do Rei da França; nela falava-se o dialeto provençal, não o francês.
L’Agonie du Languedoc
Pèire Cardenal:
1. Tartarassa ni voutor
2. Ben volgra
3. Razos es qu’ieu m’esbaudei
Guilhelm Figueira
4. D’un sirventes far
Tomier et Palazi
5. Si col flacs moins torneja
Pèire Cardenal:
6. L’afar del comte Guió
Pèire Bremon Ricas Novas:
7. Ab marrimen
Bernart Sicart Marjevols:
8. Ab greu cossire
Studio der frühen Musik:
Andrea von Ramm (voice, organetto)
Richard Levitt (voice, percussions)
Sterling Jones (bowed instruments)
Thomas Binkley (plucked instruments)
Claude Marti (chanteur, reader)
Benjamin Bagby (voice)
Harlan Hokin (voice)
Alice Robbins (bowed instruments)
Paul O’Dette (plucked instruments)
Thomas Binkley, dir.
Admito: quase que não demos os parabéns a Ludwig. Ontem mesmo nosso colega René apontou que o aniversário de quem chamou de vice-padroeiro do blog passara em branco, pelo que resolvi antecipar essa postagem que já tinha no prelo, e ainda em tempo de lhe render homenagem. Afinal, presume-se que Beethoven, batizado em 17 de dezembro de 1770, nasceu um dia antes, mas nem ele próprio sabia em que dia sua querida mãe o trouxera ao mundo, de modo que celebrava seu natalício no dia 17 e, alemão que era, provavelmente não apreciasse a ideia de receber parabéns na véspera, esperando com isso agouros ainda piores que os tantos desgostos que teve na vida.
Não foi só para não fazer desfeitas, entretanto, que lhes apresento esta gravação. Faço-o porque desde que foi lançada, há já ano e meio, ela quase só encontrou, entre um e outro resmunguinho, bramidos de aclamação. Não me importaria com eles, claro, e jamais haveria de compartilhá-la, por óbvio, se um desses bramidos não fosse meu – e porque sim, meus caros, essa leitura de Dame Mitsuko para as Variações Diabelli é realmente transcendental.
Admito, também, enquanto ainda surfo a mesma onda sincericida com que abri essa postagem, que esperava algo bem diferente quando me coloquei a ouvi-la pela primeira vez. Talvez mais o fogo e a fúria com que Mitsuko-san atacara, por exemplo, a leviatânica Hammerklavier, que demonstrações da sabedoria amealhada em quase sete décadas a debulhar os caroços do repertório beethoveniano. Estranhei, por exemplo, as diminutas cisuras na apresentação do tema e a acentuação peculiar dos tempos da valsinha (ou, mais apropriadamente, do Ländler) de Diabelli, só para, algumas variações adiante, ouvir essa acentuação fazer todo sentido, ao reaparecer como um dos poucos elementos reconhecíveis do tema, então transfigurado por completo. Quando dei por mim, uma fabulosa hora já tinha passado e me vi a recomeçar a jornada com Uchida, a reencontrar a valsinha de Diabelli e reconhecer a coerência sobre-humana que a arte dela concedera àquele longo arco de trinta e três transformações.
[Poucas vezes, aliás – se me permitem não só parênteses, mas também colchetes -, a preferência de Beethoven pelo termo Veränderungen (“transformações”) em lugar do consolidado Variationen para o título da primeira edição soou-me tão sobejamente honrada numa gravação dessa sua última grande obra para piano, testamento da dedicação de uma vida inteira, e desde a tenra idade, tanto ao piano quanto à forma das variações]
Escutei-a inda outra vez – a terceira em sequência -, com a partitura em mãos, e me maravilhei com a atenção da intérprete às indicações precisas de articulação e dinâmica que Beethoven lhe deixou, a despeito de toda minha (agora reconhecia) insensata estranheza inicial. Estava, e isso vocês já perceberam, inteiramente arrebatado pela gravação. Passei então alguns meses sem ouvi-la, para tentar ganhar dela algum distanciamento, e então reencontrá-la, talvez, com ouvidos mais críticos. Teria eu, perguntava-me, embriagado pelo hype dos bramidos supracitados, realmente exagerado em minha reação? Ou teria tão só, doente de tanta dor, doideira e feiúra que testemunhara no Brasil dos anos anteriores, me deixado emocionar por um encontro schopenhaueriano com a Arte ante o sofrimento da vida?
“Não”, respondi – e foi um “não” tão cabal, e tanto, e a tal ponto, que hesito até em revisitar as minhas gravações outrora prediletas das Diabelli. Teriam sido elas menos convincentes? Não lhes sei responder. Talvez haja algumas com mais colorido, ademais fundamental para sustentar quase uma hora toda em Dó maior (pois apenas quatro das variações, todas no final da série, não são nessa tonalidade), mas, se aqui a cores não faltam, tampouco Mitsuko-san as exagera. Talvez outras realcem mais os bruscos contrastes de temperamento que permeiam, com sugestões da legendária rabugice do compositor, a maior parte da obra. Uchida, sabiamente, consegue realçar tais contrastes e o abundante humor da partitura sem que isso soe como histrionismo raso. Mais ainda: ela supera sem taquicardias aparentes as medonhas exigências técnicas para nos oferecer uma sequência de tours de force que jamais exaspera e nos deixa, ao final de cada variação, sempre doidos de vontade pelo que vem a seguir (e sua maestria é tamanha que eu convido os leitores-ouvintes a perceberem que até as durações dos intervalos entre as variações parecem escolhidos à perfeição).
Ouço-a uma vez mais, enquanto preparo esta postagem, e ela me reforça a impressão de que esse registro está para esse K-2 (e não Everest, porque é ainda mais repleto de despenhadeiros) da literatura pianística como a lendária gravação de Carlos Kleiber está para a Quinta do renano: uma interpretação reveladora, tão rica em atenção ao detalhe, ao pulso e à arquitetura de uma obra-prima que nos fará ouvir com ouvidos novos, e ainda mais aguçados, tudo o que vier depois.
Mesmo depois de tanta rasgação de seda, não serei capaz de recomendar-lhes essa gravação o bastante. Reconheço que há poucos frutos mais espinhudos dos visionários anos finais da carreira de Beethoven (sim, Grosse Fuge: estou olhando para ti!) e que as Diabelli são de difícil digestão a muitos ouvintes. Convido-os, ainda assim, a arriscar o repasto: talvez o que lhes tenha faltado até hoje, enfim, fosse alguém com os afiados dedos de Uchida para perfurar-lhe a carapaça e remover-lhe os caroços.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Trinta e três variações em Dó maior para piano sobre uma valsa de Anton Diabelli, Op. 120 1 – Tema: Vivace
2 – Variação I: Alla marcia maestoso
3 – Variação II: Poco allegro
4 – Variação III: L’istesso tempo
5 – Variação IV: Un poco più vivace
6 – Variação V: Allegro vivace
7 – Variação VI: Allegro ma non troppo e serioso
8 – Variação VII: Un poco più allegro
9 – Variação VIII: Poco vivace
10 – Variação IX: Allegro pesante e risoluto
11 – Variação X: Presto
12 – Variação XI: Allegretto
13 – Variação XII: Un poco più moto
14 – Variação XIII: Vivace
15 – Variação XIV: Grave e maestoso
16 – Variação XV: Presto scherzando
17 – Variação XVI: Allegro
18 – Variação XVII: Allegro
19 – Variação XVIII: Poco moderato
20 – Variação XIX: Presto
21 – Variação XX: Andante
22 – Variação XXI: Allegro con brio – Meno allegro – Tempo primo
23 – Variação XXII: Allegro molto, alla «Notte e giorno faticar» di Mozart
24 – Variação XXIII: Allegro assai
25 – Variação XXIV: Fughetta (Andante)
26 – Variação XXV: Allegro
27 – Variação XXVI: (Piacevole)
28 – Variação XXVII: Vivace
29 – Variação XXVIII: Allegro
30 – Variação XXIX: Adagio ma non troppo
31 – Variação XXX: Andante, sempre cantabile
32 – Variação XXXI: Largo, molto espressivo
33 – Variação XXXII: Fuga: Allegro
34 – Variação XXXIII: Tempo di Menuetto moderato
O ucraniano Valentin Silvestrov compôs sonatas para piano (aqui) quando mais jovem. A partir mais ou menos de 1990, ele entrou em uma nova fase e escreveu mais de cem peças curtas para piano: entre bagatelas, valsas que não têm nada de dançante, postludiums, noturnos, intermezzos… São obras sérias. Reflexões carregadas. Miniaturas pianísticas, sim, mas não espere nada parecido com as leves bagatelas de Beethoven, as tranquilas canções sem palavras de Mendelssohn ou os risonhos tangos brasileiros de Nazareth.
E sejamos francos: a Deutsche Grammophon não teria lançado um disco inteiro dedicado ao piano de Silvestrov se não fosse a sangrenta guerra na Ucrânia, terra natal do compositor que, desde 2022, vive em Berlim. Eu preferiria viver em um mundo sem guerras. Eu preferiria viver em um mundo onde os esforços se concentrassem para acabar com as guerras ao invés das torcidas dignas de um Coliseu, com gente torcendo, sorridente, pelo time que bombardeia hospitais contra o time que derruba aviões civis.
Em todo caso, o mundo no qual vivemos é este: uma gravadora conservadora como a DG havia no máximo dado um espacinho para Silvestrov entrar comendo pelas beiradas em 2020, em um disco de Grimaud dedicado a Mozart. E antes, em 2018, Silvestrov aparecia com duas Bagatelas em um disco de gatinhos que também incluía uma valsa de Chopin, Gnossiennes de Satie e o Clair de lune de Debussy. Então, se para os executivos da DG, o velho Silvestrov é novidade da qual se pode extrair dinheiro, para Grimaud, Silvestrov é um interesse já há muitos anos. Confesso que agora vejo com mais simpatia a tal Helena que não é de Troia nem de novela da Globo. Achava ela, sei lá, uma dessas que tentam tocar mais rápido como em uma corrida de carros, mas realmente a Grimaud tem bastante originalidade ao escolher seu repertório, não está apenas aderindo a essa moda de tocar o compositor ucraniano. De fato, parece que as bagatelas neste álbum são as do disco de 2018, uma terceira entra aqui, parece inédita, não vi notas explicativas mas tudo bem, nos viramos sem elas. Lançado em 2022 – só em meio digital – a partir de material que a DG já tinha em seus arquivos, o disco de Grimaud tem menos de 32 minutos de música. Então, para não acharem que este blog está de pão-duragem, compartilho mais abaixo um disco mais antigo. E em 2023 Grimaud lançou mais um álbum pela DG, agora dedicado às canções de Silvestrov para piano e voz. Mas este álbum mais recente fica pra outro dia aqui no blog: para os curiosos, PQP já havia postado aqui uma gravação dessas canções pela gravadora ECM.
Hélène Grimaud plays Valentin Silvestrov (2022)
Bagatelles I-XIII
01. Bagatelle I
02. Bagatelle II
03. Bagatelle III
Two Dialogues with Postscript
04. I. Wedding Waltz
05. II. Postlude
06. III. Morning Serenade
07. The Messenger (For Piano Solo)
Hélène Grimaud – piano
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320 kbps
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Como contraponto às curtas obras do período tardio de Silvestrov, o disco lançado em 2007 pela gravadora Koch com a primeira gravação de uma peça que já era muito elogiada pelos entendidos sobre a música de vanguarda do leste europeu: Drama (1971), para piano, violino e violoncelo. Como nas suas sonatas para piano da mesma década, também temos uma linguagem mais experimental. Demandando enorme virtuosismo dos músicos, Silvestrov investiu também em aspectos cênicos nessa obra: os músicos entravam e saíam do palco, algo do tipo, que evidentemente se perde na escuta do CD. A pianista usa técnicas expandidas ou estendidas, ou seja, ela encosta com as mãos nas cordas do piano e outras coisas do tipo, para além do uso das teclas. Como me falou uma vez o querido Ranulfus logo após assistirmos um recital com obras de H. Cowell para piano*, é impressionante o quanto essas sonoridades do piano expandido ainda chamam atenção por soarem inovadoras, embora as obras de Cowell datem dos anos 1920 e as de Silvestrov, dos anos 1970.
Como seu contemporâneo Schnittke, Silvestrov alternava nos anos 1970 entre radicalidade dissonante e momentos mais consonantes, além de citações e pastiche. Peter Quantrill escreveu mais um pouco sobre esta obra e vou pedir desculpas por não traduzir:
A Ukrainian, he is another eastern European Minimalist, though not especially ‘holy’; if he has gods, they are likely to be Webern and Mozart. The latter is remembered in the deep-frozen conventions of Post-Scriptum (composed in 1990), which here receives its second recording. […]
Silvestrov shares an elegiac tendency with his contemporaries Giya Kancheli and Arvo Pärt that can become maudlin. The ten-minute Epitaph for cello and piano is one of several works Silvestrov composed in memory of his wife Larissa, who died in 1999; perhaps there is a fresh desolation that scores over the more weightily pondered Requiem for Larissa, but I hazard that the phrases, at least as played by Yves Dharamraj, are too short-winded to carry lasting weight or impact.
Nevertheless, Silvestrov distinguishes himself with the sharpness of his ears and the freshness of his thinking. The loving adieus of his later music came about through an immersion in the Western avant garde, with Webern as the fountainhead, which unlike Pärt he has not so much disowned as refined. This makes the 45-minute, tripartite Drama for piano trio (1971) a vitally important work, all the more so in this its first recording. For all the prepared-piano sonorities, plucked glissandos and serial harmonies and procedures, the frequency and expressive richness of the gestures create a strong sense of continuity. Played with commendable dedication and a fine awareness of sense and poetry – as it is here – it compels attention.
Valentin Silvestrov – Drama
1-3. Post Scriptum, for violin and piano (1990)
I. Largo 8:45
II. Andantino 3:46
III. Allegro vivace, con moto 2:44
4. Epitaph, for cello and piano (1999)
5-7. Drama (1971)
I. Sonata for violin and piano 18:35
II. Sonata for cello and piano 15:35
III. Trio for violin, cello and piano 10:12
Piano – Jenny Lin
Violin – Cornelius Dufallo
Cello – Yves Dharamraj
World premiere recording. Recorded June 2007 at Avatar Studios, New York
“O enorme sucesso popular que algumas poucas obras de Rachmaninov tiveram em sua vida provavelmente não durará, e os músicos nunca o consideraram com muito favor.”
Assim escreveu o ilustre crítico inglês Eric Blom na quinta edição do Grove’s Dictionary of Music and Musicians, expressando a sabedoria musicológica predominante da época: certamente a história varreria de lado essa estrela pop da sala de concertos.
Essa foi a cara que o Blom fez quando soube que abririamos a postagem com sua afirmação…
Blom was forthright in his opinions. Even more notoriously, he wrote that Rachmaninoff “did not have the individuality of Taneyev or Medtner. Technically he was highly gifted, but also severely limited. His music is … monotonous in texture … The enormous popular success some few of Rakhmaninov’s works had in his lifetime is not likely to last, and musicians never regarded it with much favour”. To this, Harold C. Schonberg, New York critic not immune to snobbery of his own, in his Lives of the Great Composers, responded with equally outspoken unfairness, “It is one of the most outrageously snobbish and even stupid statements ever to be found in a work that is supposed to be an objective reference”.
“É uma das declarações mais escandalosamente esnobes e até estúpidas já encontradas em uma obra que deveria ser uma referência objetiva”.
Pois agora, no final de 2023, ano que viu as comemorações tanto de 150 anos do nascimento quanto as homenagens feitas pelos 80 anos da morte de Rachmaninov, podemos afirmar que ‘o enorme sucesso popular’ que suas obras tiveram em vida perduraram até agora e a história ainda está considerando se tira a vassoura do armário para varrer a estrela pop da sala de concertos.
Serguei sorrindo ao ser fotografado com seu chapéu preferido
Veja alguns dos grandes e famosos pianistas que passaram o ano a tocar Rachmaninov: Yuja Wang, Daniil Trifonov, o jovem pianista Alim Beisembayev, acompanhado da Sinfonia of London, regida por John Wilson, e Mikhail Pletnev.
E nem só de Concertos para Piano viveu o artista, como se viu nesses concertos em POA e SP.
Veja também aqui: Cinco bambas do piano homenageando o compositor.
Fazia frio na América também
Se você quer mais, basta Googlar ‘Rachmaninov 2023’ e verá como no mundo todo homenagens não faltaram.
Para essa postagem escolhi dois álbuns com toda a obra para piano e orquestra de Rachmaninov. Um saído do forno, praticamente. O jovem pianista Lukáš Vondráček viu sua ocupadíssima agenda de concertos varrida pelo lockdown da Covid e teve, para nosso grande prazer, a oportunidade de, em parceria com a ótima orquestra de Praga, regida por Tomáš Brauner, gravar a integral dos Concertos para Piano do Sergei. O outro, um clássico: Earl Wild, um virtuose do piano como poucos, acompanhado por uma orquestra real, dirigida pelo improvável Rachmaninov-regente, Jascha Horenstein, mais conhecido por suas interpretações de Bruckner e Mahler. Essa gravação, pasmem, foi feita em Londres, no espaço de uma semana, no Walthamstow Town Hall, em maio de 1965, produzida para a Reader’s Digest pelo lendário Charles Gerhardt. A Royal Philharmonic era a orquestra fundada e dirigida por Beecham, que havia morrido há apenas quatro anos no momento desta gravação e estava em excelente forma. A orquestra, é claro! A edição da postagem leva o selo Chandos.
“Chaque concerto est individualisé, le Premier flamboyant, athlétique (Vondráček m’y rappelle Sergio Fiorentino, mêmes tempos, mêmes accents, même furia débordante dans le Finale), le Deuxième lyrique et sombre jusque dans un Finale incendiaire, et le Troisième telle une immense rhapsodie où la poésie alterne avec des échappées épiques : soudain le piano devient un instrument au sein de l’orchestre, Vondráček et Brauner le pensent non plus comme un concerto, mais comme une symphonie.” “Cada concerto é individualizado, o Primeiro extravagante, atlético (Vondráček lembra-me Sergio Fiorentino, os mesmos tempos, os mesmos sotaques, a mesma fúria transbordante no Finale), o Segundo lírico e afunda-se num Final incendiário, e o Terceiro como uma imensa rapsódia onde a poesia se alterna com fugas épicas: de repente o piano torna-se um instrumento dentro da orquestra, Vondráček e Brauner já não pensam nisso como um concerto, mas como uma sinfonia.” Artalinna, June 2023
“Mais c’est dans la narration exaltée du Concerto No. 3 que le pianiste tchèque se montre à son meilleur, la prise de son restituant la moindre inflexion de ce contour sûr de ses effets. Sans conteste, le sommet du double album.” “Mas é na exaltada narração (interpretação) do Concerto No. 3 que o pianista checo mostra o seu melhor, a gravação sonora reproduz a menor inflexão deste contorno seguro dos seus efeitos. Sem dúvida, o ápice do álbum duplo.”
Diapason, October 2023
Lukáš Vondráček
Such is the luxuriance of sound revealed in these remasterings, it’s difficult to believe the recording date; and such is the quality of the piano playing that it’s easy to understand why Chandos should have wanted to go to such trouble. There aren’t so many Rachmaninov pianists who dare to throw caution to the wind to the extent that Earl Wild does in the outer movements of the First Concerto, fewer still who can keep their technical poise in the process. The improvisatory feel to the lyricism of the slow movement is no less remarkable.
Wild’s panache is every bit as seductive in No 4, and the Paganini Rhapsody is a rare example of a performance faster than the composer’s own – devilishly driven in the early variations and with tension maintained through the following slower ones …
Earl Wild tentando avistar a turma do PQP Bach aplaudindo-o de pé…
A série “Great Pianists of the 20th Century”, lançada em 1999, juntou grandes gravações de 72 pianistas: algumas muito conhecidas e reeditadas como Arrau tocando Beethoven, Larrocha tocando Albéniz etc.; outras que não são tão fáceis de se encontrar, como é o caso da Fantasia de Schumann por Freire ou destas várias gravações feitas por Robert Casadesus entre 1947 e 1963.
A comparação entre os franceses Robert Casadesus e Alfred Cortot serve como ilustração do fato de que grandes figuras artísticas resistem à categorização em “escolas”. Enquanto Cortot buscava nas obras o que era mais romântico e frequentemente se movia por inspirações momentâneas, Casadesus, pelo contrário, buscava projetar a estrutura e a lógica interna de cada obra.
Então Cortot, assim como Guiomar Novaes (brasileira com educação em grande medida francesa), ambos se destacavam em suas interpretações de Chopin e Schumann. Já Casadesus, com sua elegência e clareza – mas também com momentos de brilho pianístico – talvez tenha sido o maior intérprete de Scarlatti e Rameau da sua época. Na mesma Paris onde vivia Casadesus, o crítico musical francês Claude Rostand escrevia sobre Domenico Scarlatti:
Apesar da liberdade, fantasia e humor impulsivo que caracterizam Scarlatti – na alegria como na emoção -, suas sonatas seguem um modelo mais ou menos constante. Nessas centenas de sonatas, as dificuldades técnicas não são objetivos em si mesmos: nenhuma ostentação, muita elegância. Quanto à invenção rítmica, ela é inesgotável, o que torna ainda mais notável o fato das sonatas jamais tatearem a confusão, mas serem sempre de uma naturalidade e transparência jamais igualada. (Rostand, 1950, Les chefs-d’œuvre du piano, tradução especial para este blog)
Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 15 ago 1931
Casadesus também gravou muito Mozart, ausente nesta coleção, e Beethoven, que aparece com uma sonata do seu opus 2 dedicado a Haydn. Ela é tocada aqui com menos arroubos sentimentais do que nas interpretações de Arrau ou Pollini: mesmo no movimento lento “Largo apassionato”, Casadesus privilegia – como antes no Scarlatti – a elegância, característica importante do chamado classicismo vienense.
E Casadesus tocava, claro, a música dos compositores franceses que ele conheceu pessoalmente: Fauré, Debussy, Ravel. Embora o som do Concerto para mão esquerda de Ravel – com o grande maestro Eugene Ormandy – denuncie que a gravação é antiga e em mono (1947), ainda assim é muito interessante ouvirmos um pianista que conheceu bem o compositor: após o primeiro contato em 1922 quando Ravel ouviu Casadesus tocar o Gaspard de la nuit, os dois fizeram uma turnê em 1923 na Espanha e Inglaterra, não tenho certeza se a dois pianos ou se com Ravel regendo. Foram anos de amizade que tornaram Casadesus, por motivos óbvios, um intérprete respeitado das obras de Ravel.
Great Pianists of the Century – Robert Casadesus (1899-1972) CD1 Jean-Philippe Rameau:
1. Gavotte
2. Le Rappel des Oiseaux
3. Les Sauvages
4. Les Niais de Sologne
Johann Sebastian Bach:
5-12. French Suite No. 6 in E, BWV 817
Domenico Scarlatti:
13. Sonata in E, K. 380
14. Sonata in A, K. 533
15. Sonata in D, K. 23
16. Sonata in G, K. 14
17. Sonata in B Minor, K. 27
18. Sonata in D, K. 430
Ludwig van Beethoven:
19-22. Sonata in A, Op. 2 No. 2
CD2 Claude Debussy:
En blanc et noir (For 2 Pianos, with Gaby Casadesus)
1. Avec Emportement
2. Lent. Sombre
3. Scherzando
Gabriel Fauré:
4-9. Dolly Suite, Op. 56
10. Prélude in D-flat, Op. 103 No. 1
11. Prélude in G Minor, Op. 103 No. 3
12. Prélude in D Minor, Op. 103 No. 5
13. Nocturne No. 7 in C-sharp Minor, Op. 74
14. Barcarolle No. 5 in F-sharp Minor, Op. 66
15. Impromptu No. 5 in F-sharp Minor, Op. 102
Maurice Ravel:
16. Piano Concerto in D “For the left hand”
The Philadelphia Orchestra, Conductor: Eugene Ormandy
Creio que eu nunca teria acesso a esse CD se Randy Brecker não tivesse tocado nele. Cheguei nele quando estava atrás da discografia do ótimo trompetista norte americano, que tem uma pequena participação nesta delicada, sincera e singela homenagem que o flautista Herbie Mann faz ao lendário pianista de jazz e compositor, Bill Evans. A curiosidade é que mesmo sendo homenagem a um pianista, os arranjos que Herbie Mann escreveu para essas obras não têm piano. Fica a cargo de uma guitarra, muito bem tocada por Bruce Dumlap, que ficou responsável pela parte harmônica. Um fiel escudeiro de Bill Evans também se faz presente, o baixista Eddie Gomez, e a bateria ficou a cargo de Louis Nash, com algumas intervenções do percussionista Sammy Figueroa. Enfim, um grande CD, tocado por ótimos músicos homenageando seu grande mestre, Bill Evans.
Herbie Mann – Peace Pieces – Music of Bill Evans
01. Peri’s Scope
02. Funkallero
03. Interplay
04. Turn Out The Stars
05. We Will Meet Again
06. Blue in Green
07. Waltz For Debbie
08. Very Early
09. Peace Piece
Herbie Mann – Flute
Randy Brecker – Flugelhorn
Eddie Gomes – Bass
Bruce Dunlap – Guitar
Louis Nash – Drums
Sammy Figueroa – Percussion
Susato foi certamente um nome mágico em minha adolescência. Ouvir música do Renascimento era moda e, em meio daqueles autores anônimos ou de nomes estranhos, o do flamengo Susato era o que mais se repetia. Comecei a notar aquele autor, mas acho que nunca tinha visto ou procurado um CD com obras exclusivamente dele. A música do Renascimento saiu de moda e ele estava esquecido num canto da memória quando vi este CD dando sopa. O grupo de Philip Pickett torna Susato um tanto “sinfônico”, longe daqueles grupinhos dos anos 70, mas é um excelente disco da música do século XVI. Ele foi compositor e editor em Antuérpia. Ele escreveu (e publicou) vários livros de missas e motetos que seguem o estilo polifônico típico da época. Também escreveu dois livros de canções que foram projetadas especificamente para serem cantadas por cantores jovens e inexperientes. Susato também foi um prolífico compositor de música instrumental, e grande parte dela ainda é gravada e tocada hoje. Ele produziu um livro de música para dança em 1551, Het derde musyck boexken… alderhande danserye , composto de peças em arranjos simples, mas artísticos. A maioria dessas peças são formas de dança (alemandes , galliards e assim por diante). Adivinhe o que você ouvirá!
Tielman Susato (c. 1510/15 – depois de 1570): Danserye 1551 (New London Consort, Pickett)
1. Fanfare “La morisque” (4 trumpets, timpani)
2. Pass e Medio / Reprise “Le pingne” (2 violins, 3 viols, harpsichord, 4 lutes)
3. Bergerette “Sans Roch&quo;t / Reprise (2 cornetts, 4 sackbuts, rauschpfeife, 3 shawms, curtal, organ, regal, tabors, side drum, tambourine)
4. Den I. Ronde “Pour quoy” (2 violins, 3 viols, harpsichord, organ, tabors)
5. Den VII. Ronde “Il estoit une fillette” (7 recorders, curtal, organ, 5 guitars, side drum)
6. Den III. Ronde (4 viols, organ, tabors)
7. Den IV. Ronde (cornett, crumhorn, sackbut, curtal, organ, side drum)
8. Den V. Ronde “Wo bistu” (4 racketts, regal)
9. Den VI. Ronde / Saltarelle (violin, 4 viols, 7 recorders, curtal, harpsichord, organ, tabors)
10. Den XI. Ronde / Aliud (2 cornetts, 4 sackbuts, 2 violins, 4 viols, 7 recorders, curtal, regal, organ, harpsichord, 5 guitars, tabors, tambourine)
11. Bergerette “Dont vient cela” / Reprise (4 lutes)
12. Danse de Hercules oft maticine / De Matrigale (4 sorduns, regal, tabor)
13. De post (cornett, alto cornett, tenor cornett, serpent, organ, jingle bells)
14. Les quatre Branles (7 recorders, curtal, organ, 5 guitars, tambourine)
15. Fagot (4 curtals, regal)
16. Den Hoboeckendans (hurdy-gurdy, drone fiddle, cittern, curtal, contrabass viol, rommelpot)
17. Basse danse “Mon Desir” / Reprise “Le cueur est bon” (violin, bass viol, 3 lutes, organ)
18. Den I. Allemainge / Recoupe (cornett, 3 sackbuts, 2 violins, 4 viols, 7 recorders, curtal, organ, harpsichord, 4 lutes, bas drum, tabors)
19. Den II. Allemainge (4 lutes)
20. Den III. Allemainge (2 violins, 2 viols, harpsichord)
21. Den V. Allemainge (4 flutes, 5 guitars)
22. Den VI. Allemainge (4 crumhorns, regal, nakers)
23. Den VII. Allemainge (regal, nakers)
24. Den VIII. Allemainge / Recoupe / Recoupe Aliud (cornett, 3 sackbuts, 2 violins, 4 viols, 7 recorders, curtal, organ, harpsichord, 5 guitars, side drums, tabors)
25. Bergerette “La Brosse” (4 lutes)
26. Pavane “La Bataille” (2 cornetts, 4 sackbuts, serpent, rauschpfeife, 3 shawms, curtal, organ, regal, timpani, side drums)
27. Pavane “Mille regretz” (violin, 4 viols, 3 records, curtal, organ, 4 lutes, tabor)
28. Den II. Gaillarde (rauschpfeife, 3 shawms, curtal, regal, organ, tabor)
29. Den XI. Gaillarde (4 sackbuts, organ, tabor, bass drum)
30. Den IX. Gaillarde (4 flutes, 5 guitars, tabor)
31. Den IV. Gaillarde (violin, 4 viols, harpsichord, tabor)
32. Den VII. Gaillarde (7 recorders, curtal, organ, 5 guitars, tabor)
33. Den X. Gaillarde “Mille ducas” (4 crumhorns, contrabass rackett, regal, organ, tabors)
34. Den III. Gaillarde (2 cornetts, 4 sackbuts, organ, bass drum, tambourine)
35. Den XV. Gaillarde “Le tout” (2 cornetts, 3 sackbuts, 2 violins, 3 viols, 7 recorders, curtal, organ, regal, harpsichord, 5 guitars, tabor, side drum, bass drum, tambourine)
36. Danse du roy / Reprise (2 violins, 3 viols, harpsichord, organ, tabor, tambourine)
37. Entre du fol (gemshorn, rebec, cittern, contrabass viol, rommelpot, shaker)
38. La Morisque (2 cornetts, 4 sackbuts, 2 violins, 4 viols, rauschpfeife, 3 shawms, curtal, 3 recorders, organ, regal, harpsichord, 5 guitars, tabor, jingle bells, tambourine, cymbals)
New London Consort:
Alto Flute – Nancy Hadden
Alto Recorder – Catherine Latham, Pamela Thorby
Bass Flute – Keith McGowan
Bells [Jingle] – Alasdair Malloy
Cittern – Jacob Heringman
Composed By – Tielman Susato
Conductor – Philip Pickett
Cornett – Jeremy West, Michael Harrison (4), Michael Laird (2)
Cornett [Alto] – Michael Laird (2)
Cornett [Tenor] – Paul Nieman
Crumhorn [Alto] – Philip Pickett
Crumhorn [Bass] – Andrew Watts (2)
Crumhorn [Tenor] – Keith McGowan, William Lyons
Cymbal – Tim Barry (2)
Fiddle [Drone] – Pavlo Beznosiuk
Flute [Tenor] – Elizabeth Stanbridge, William Lyons
Gemshorn – Pamela Thorby
Guitar – David Miller (7), Jacob Heringman, Michael Fentross*, Paula Chateauneuf, Tom Finucane
Harpsichord – David Roblou, Paul Nicholson
Hurdy Gurdy – Nigel Eaton
Lute – David Miller (7), Jacob Heringman, Paula Chateauneuf, Tom Finucane
Organ – David Roblou, Richard Egarr
Performer [Alto Sordun] – Philip Pickett
Performer [Bass Curtal] – Andrew Watts (2), Keith McGowan, Penny Pay
Performer [Bass Rackett] – Penny Pay
Performer [Bass Sordun] – Penny Pay
Performer [Basset Rackett] – Andrew Watts (2)
Performer [Contrabass Rackett] – Keith McGowan
Performer [Contrabass Sordun] – Andrew Watts (2)
Performer [Nakers] – Stephen Henderson*
Performer [Rommelpot] – Stephen Henderson*
Performer [Tenor Curtal] – Philip Pickett
Performer [Tenor Rackett] – Philip Pickett
Performer [Tenor Sordun] – Keith McGowan
Rauschpfeife [Sopranino] – Keith McGowan
Rebec – Pavlo Beznosiuk
Recorder [Bass] – Elizabeth Stanbridge, Keith McGowan
Recorder [Contrabass] – Giles Lewin
Recorder [Garklein] – Pamela Thorby
Recorder [Sopranino] – Pamela Thorby
Recorder [Soprano] – Catherine Latham, Elizabeth Stanbridge, Pamela Thorby
Recorder [Tenor] – Penny Pay, William Lyons
Regal – David Roblou
Sackbut [Alto] – David Purser
Sackbut [Bass] – Ronald Bryans*
Sackbut [Tenor/Bass] – Kenneth Hamilton
Sackbut [Tenor] – Paul Nieman
Serpent – Stephen Wick
Shaker – William Lockhart
Shawm [Soprano] – Giles Lewin, William Lyons
Shawm [Tenor] – Penny Pay
Snare [Side Drum] – Alasdair Malloy, John Harrod (2), Norman Taylor (2), Stephen Henderson*, Tim Barry (2)
Tambourine [Tabor] – John Harrod (2), Stephen Henderson*, William Lockhart
Timpani – Stephen Henderson*, William Lockhart
Trumpet – Michael Harrison (4), Michael Laird (2), Phillip Bainbridge, Stephen Keavy
Viol [Bass] – Joanna Levine, Mark Levy
Viol [Tenor] – Susanna Pell
Violin [Renaissance] – Pavlo Beznosiuk, Rachel Podger
Violone [Contrabass Viol] – Peter McCarthy
Alguém aí já deve ter notado que eu adoro John Surman. E é grande o número de downloads a cada postagem. O homem é mesmo espantoso. Este trabalho é muito mais jazzístico do que os últimos que postei. Não obstante, Surman segue interessado na música folclórica e religiosa da Inglaterra, mas desta vez dá-lhe outra feição. A banda é toda inglesa. O disco começa calma e livremente, com Canticle with response, de clara influência religiosa, e A distant spring. Fecha da mesma forma, com a totalmente improvisada Triptych, quase 15 minutos de interação altamente inteligente e empática entre os quatro músicos. No meio do disco há música vigorosa, incluindo Tess — Surman é um grande leitor, fã de Thomas Hardy — e Across the Bridge. Surman é sempre lírico e apaixonado. Muito estimulante. Dá-lhe.
John Surman Quartet: Stranger Than Fiction
1. Canticle With Response 6:09
2. A Distant Spring 7:42
3. Tess 6:39
4. Promising Horizons * 5:30
5. Across The Bridge 7:52
6. Moonshine Dancer 6:42
7. Running Sands 9:07
8. Triptych * 14:43
composed by Surman except * by Surman/Taylor/Laurence/Marshall
recorded December 1993, Rainbow Studio, Oslo
John Surman, baritone and soprano saxophones, alto and bass clarinets;
John Taylor, piano;
Chris Laurence, bass;
John Marshall, drums
Esta gravação foi encontrada por aí; não lembro onde. Trata-se de uma conversão de LP para MP3 tal quais muitas do Avicenna. E trata-se também de um tesouro. O divertido K. 522 é tão famoso quanto raro e a interpretação do grande Rudolf Barshai com a Orquestra de Câmara de Moscou vale o resgate. OK, o som não é tudo aquilo, mas e daí? O Divertimento K. 136 é bem mais gravado e é a melhor companhia para a genial brincadeira de Mozart. Uma joia para os pequepianos. Barshai foi um enorme regente. Confiram!
W.A.Mozart – Musical Joke K522, Divertimento No.1 in D K136
LP Conversion | MP3-320kbps
Contents:
W.A.Mozart (1756-1791)
Side 1
Musical Joke ‘The village musicians sextet’ (Village Symphony) in F major K.522
– 1. Allegro
– 2. Menuetto (Maestoso) – Trio
– 3. Adagio cantabile
– 4. Presto
Side 2
Divertimento No.1 for the string orchestra in D major K.136
– 1. Allegro
– 2. Andante
– 3. Presto
Melodija 1980
Há oitenta anos, Antonio Guedes Barbosa nascia na capital da Paraíba. Sua trajetória, desde sua João Pessoa – lá na proa das Américas, onde o sol lhes nasce primeiro – até os mais míticos palcos do mundo, foi desgraçadamente interrompida pelo infarto que o tirou de nós e de sua arte antes que completasse cinquenta anos.
Além de queridas lembranças para quem o conheceu como familiar ou amigo, da gratidão de quem o teve como professor, e da impressão mais profunda em quem teve o privilégio de escutá-lo ao vivo, Antonio legou-nos um pequeno tesouro discográfico, que resgatamos lenta e devotamente ao longo da série de publicações que já lhe consagramos por aqui.
Quando a começamos, e nisso já se vão mais de oito anos, não o fizemos sem resmungos. O mestre pessoense do teclado, afinal, de interpretações tão lapidares e som granítico, parecia esquecido. Depois que lançamos a primeira publicação, os comentários que recebemos foram unânimes em apontar-lhe tanto a grandeza quanto o inexplicável oblívio – para espanto até de um certo rapaz nova-iorquino, de sobrenome Perahia, que, segundo consta, também toca direitinho o piano.
Desde então, felizmente, algo mudou. O mundo e o som, por óbvio, seguem tristes sem Antonio, assim como tristes seguimos nós a imaginar – porque isso é tudo o que podemos, infelizmente – as belezas tantas que ele teria cometido ao longo desses trinta anos. Entre um lamento e outro, no entanto, fomos trazendo sua discografia, que estava toda fora de catálogo, para o acervo deste blog, até que ela fosse quase (mais sobre esse “quase” logo adiante) toda resgatada e disponibilizada aqui – o que jamais teríamos conseguido sem a colaboração decisiva de alguns de seus fãs no Brasil e no exterior, que preferem permanecer anônimos, e a quem nunca conseguiremos ser gratos o bastante.
Melhor ainda: a família do Mestre confiou o acervo do artista ao Instituto Piano Brasileiro (ainda não apoia o IPB? Pois faça-o JÁ!), que o está digitalizando com o zelo customeiro para, sob a curadoria de seu diretor, Alexandre Dias, disponibilizá-lo para o público. Por ora, o mundo que tanto pranteia o Mestre já pode se assombrar com a playlist de gravações inéditas divulgadas pelo IPB, que prova que o repertório dele era ainda mais vasto e complexo do que já se sabia.
Para celebrar os oitenta anos de Antonio, rendo-lhe uma homenagem que corrige um lapso e alcança-lhes um presente.
O lapso que corrijo foi o de ter, presunçosamente, dado por completa a tarefa de publicar a discografia do Mestre. Tolinho que sou, chamei de epílogo o capítulo XIII da série, para só perceber que errara feio, que errara rude, e que faltara aquela sua gravação mais difícil de encontrar, cuja raridade só reflete o contexto invulgar, com toques de esdruxulidade, em que foi feita.
O invulgar? Reunirem-se num mesmo palco, em 1979, a Orquestra Sinfônica Brasileira, sob seu titular Isaac Karabtchevsky, e cinco dos maiores pianistas brasileiros – Antonio, Arthur Moreira Lima, Nelson Freire, João Carlos Martins e Jacques Klein -, e todos tocarem o raríssimo arranjo para seis pianos, provavelmente feito por Czerny, do Héxameron que Liszt compôs em colaboração com o restante do panteão pianístico parisiense de sua época.
O toque esdrúxulo? Que o sexto piano fosse tocado não por um concertista, e sim por Paulo Maluf, então governador de São Paulo, que, instigado por uma récita desse arranjo do Héxameron no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em novembro de 1979, resolveu organizar uma outra no Anhembi. E foi além, modificando o rol de solistas: substituiu Yara Bernette e Fernando Lopes, que tinham tocado no Rio, por seu amigo, o grande João Carlos Martins, e por ele próprio, tocando seus solos num arranjo em que as dificuldades pianísticas sobraram para Arthur Moreira Lima.
É ouvir para crer.
Franz LISZT (1811-1886)
Hexaméron, Morceau de concert, sobre a Marcha de “I Puritani” de Bellini, S. 392 composto em colaboração com Sigismond THALBERG (1812-1871), Johann Peter PIXIS (1788-1874), Heinrich HERZ (1803-1888), Carl CZERNY (1791-1857) e Fryderyk CHOPIN (1810-1849)
1 – Introduction: Extremement lent (Liszt)
2 – Tema: Allegro marziale (transcrito por Liszt)
3 – Variation I: Ben marcato (Thalberg)
4 – Variation II: Moderato (Liszt)
5 – Variation III: di bravura (Pixis)
6 – Ritornello (Liszt)
7 – Variation IV: Legato e grazioso (Herz)
8 – Variation V: Vivo e brillante (Czerny)
9 – Fuocoso molto energico; Lento quasi recitativo (Liszt)
10 – Variation VI: Largo (Chopin)
11 – Coda (Liszt)
12 – Finale: Molto vivace quasi prestissimo (Liszt)
Antonio Guedes Barbosa (2, 3, 12), Arthur Moreira Lima (1, 2, 4, 9, 10, 11, 12), , Jacques Klein (2, 8, 12), João Carlos Martins (2, 5, 12), Nelson Freire (2, 7, 12), Paulo Salim Maluf (2, 10, 12), pianos Orquestra Sinfônica Brasileira
Isaac Karatchevsky, regência
Gravado no Palácio das Convenções do Anhembi (SP) em 15 de dezembro de 1979.
Encontre o estranho no ninho (e, sim, erraram o nome de Antonio)
Por fim, o presente.
Numa discografia tão pequena, inda que fabulosa, como a de Antonio, chama atenção que ele nos tenha legado duas integrais das mazurcas de Chopin. Suas leituras delas são realmente impressionantes e demonstram sua maestria sobre as complexidades rítmicas dessa aparentemente ingênua dança polonesa, uma Costa dos Esqueletos musical em que já naufragaram tantos virtuoses.
Esqueçam, no entanto, minha desimportante opinião, e atentem para as desses dois rapazes:
“Estimado Sr. Rodrigues [Presidente da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro], Escrevo-lhe com o propósito de comunicar-lhe direta e pessoalmente minha opinião, reiterada publicamente várias vezes, sobre Antonio Barbosa, a quem considero entre os cinco maiores pianistas de sua geração. Seria muito conveniente e necessário que as autoridades e instituições oficiais do Brasil dessem toda sua a ajuda a este extraordinário artista – do qual seu país natal pode sentir-se legitimamente orgulhoso -, contribuindo assim para impulsionar sua carreira num nível internacional.
Cordialmente,
Claudio Arrau”
“A quem possa interessar: ouvi pessoalmente Antonio Barbosa tocar as mazurcas de Chopin, e gostei muito mesmo de sua interpretação.
Sinto que sua interpretação dessas peças merece uma grande gravação.
Sinceramente, Vladimir Horowitz”
Alguém resolveu lhes dar ouvidos, e, para nossa alegria, a primeira gravação de Antonio a tocar as mazurcas aconteceria naquele mesmo 1983 em que o tal Arrau se manifestou. A alegria, no entanto, teve algo de agridoce, dada a distribuição muito limitada do álbum triplo, do qual restam alguns poucos exemplares, quase invariavelmente muito deteriorados. Hoje, quarenta anos depois de seu lançamento, temos o prazer de devolver à alegria sua plena doçura, compartilhando uma restauração primorosa da gravação do Mestre, a quem homenageamos com admiração e saudades imorredouras nos oitenta anos de seu nascimento.
Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
AS 51 MAZURCAS
LP 1
Quatro Mazurcas para piano, Op. 6 1 – No. 1 em Fá sustenido menor
2 – No. 2 em Dó sustenido menor
3 – No. 3 em Mi maior
4 – No. 4 em Mi bemol menor
Cinco Mazurcas para piano, Op. 7
5 – No. 1 em Si maior
6 – No. 2 em Lá menor
7 – No. 3 em Fá menor
8 – No. 4 em Lá bemol maior
9 – No. 5 em Dó Maior
Quatro Mazurcas para piano, Op. 17
10 – No. 1 em Si maior
11 – No. 2 em Mi menor
12 – No. 3 em Lá bemol maior
13 – No. 4 em Lá menor
Quatro Mazurcas para piano, Op. 24 14 – No. 1 em Sol menor
15 – No. 2 em Dó maior
16 – No. 3 em Lá bemol maior
17 – No. 4 em Si bemol menor
Das Três Mazurcas para piano, Op. 56
1 – No. 2 em Dó maior
2 – No. 3 em Dó menor
Três Mazurcas para piano, Op. 59 3 – No. 1 em Lá menor
4 – No. 2 em Lá bemol maior
5 – No. 3 em Fá sustenido menor Três Mazurcas para piano, Op. 63 6 – No. 1 em Si maior
7– No. 2 em Fá menor
8 – No. 3 em Dó sustenido menor
9 – Mazurca em Lá menor, Op. póstumo
10 – Mazurca em Lá menor, ‘Notre Temps’
Quatro Mazurcas para piano, Op. 67 11 – No. 1 em Sol maior
12 – No. 2 em Sol menor
13 – No. 3 em Dó maior
14 – No. 4 em Lá menor
Quatro Mazurcas para piano, Op. 68 15 – No. 1 em Dó maior
16 – No. 2 em Lá menor
17– No. 3 em Fá maior
18 – No. 4 em Fá maior
Antonio Guedes Barbosa, piano
Gravações feitas no Estúdio Intersom (São Paulo), em 1983
LPs distribuídos em 1983, em circulação limitada, pela Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Todas as imagens usadas nesta publicação provêm do acervo do artista, doado por sua família ao Instituto Piano Brasileiro, que gentilmente autorizou sua divulgação.
Antes que nos chamem de mentirosos, assumimos que a discografia de Antonio ainda não está completa aqui no PQP Bach: pelos motivos aqui expostos, esta segunda de suas duas leituras das Bachianas Brasileiras n° 4 de Villa-Lobos só pode ser ouvida em outros sítios, como o acima. Mas não desistiremos – voltaremos ao assunto em 2030 [gargalhada insana]
O que caracteriza o que chamamos música espanhola em palavras é elusivo, mas evidente nos sons musicais. E o fascínio por música espanhola é universal. Basta lembrar do Capricho Espanhol ou de Carmen.
Domenico Scarlatti e Luigi Boccherini são compositores que devem grande parte de suas reputações exatamente por terem vivido e produzido o melhor de sua arte na Espanha.
Os compositores franceses do século XIX e XX influenciaram e foram influenciados pela música espanhola. Basta pensar nos compositores-pianistas Manuel de Falla, Isaac Albéniz e Enrique Granados.
Eu adoro este tipo de música. O LP Danzas Españolas, de Granados, interpretadas por Alicia de Larrocha quase furou e desde então, sempre que vejo um disco com esse tipo de repertório vou logo investigar.
O pianista Luis López nasceu em Tenerife e começou seus estudos no Conservatório Superior de Canárias e aperfeiçoou-se na Polônia. Este disco é muito recente e traz peças de Granados e Albéniz. A produção – o som – e o programa do disco são excelentes. As Valsas Poéticas são deslumbrantes e as outras peças muito bem escolhidas.
Acrescentei ao disco da postagem uma coleção de faixas de um disco antigo, gravado pela pianista brasileira Magda Tagliaferro. A única peça em comum com aquelas do primeiro disco é uma peça de Goyescas, Quejas o la Maja y el Ruiseñor, mas há uma grande afinidade no repertório e ouvir interpretações tão diferentes é fascinante.
Espero que goste das peças e que a audição seja um estímulo para que você explore esse tipo de repertório.
Enrique Granados (1867 – 1916)
8 Valses poéticos
Introducción. Vivace molto
1, Melódico
2, Tempo de vals noble
3, Tempo de vals lento
4, Allegro humoristico
5, Allegretto
6, Quasi ad libitum
7, Vivo
8a Coda. Presto
8b, Tempo dil primero vals
Capricho Español, Op. 39
Capricho Español
Goyescas
Quejas o la Maja y el Ruiseñor
Isaac Albeniz (1860 – 1909)
Iberia, Cahier 1
El Puerto
Evocación
Iberia, Cahier 2
Almería
Luis López, piano
Luis López interpreta estas 8 Valsas Poéticas com rigor e inspiração, com uma sensibilidade magistral e pulso determinado. Ele completa os silêncios com intenção declarada e minucioso. Como se cada frase, cada silêncio, cada momento de som fosse uma eternidade que surge da mais distante inspiração poética.
It is difficult to think of a more irrepressible virtuoso pianist than Brazillian born but Paris based Magda Tagliaferro…a pianist who revelled in music of a facile but endearing charm.
Um dos melhores e mais belos discos que já ouvi! Algo verdadeiramente incrível! O barroco francês é período curioso, onde se encontram uma maioria de obras bastante entediantes misturadas a outras pepitas sensacionais. A obra de abertura La Sonnerie é um ostinato levado à frente por um Corelli enlouquecido. Talvez a melhor peça do CD seja Tombeau De Monsieur De Lully, obra absolutamente sentida e bela, mas que também parece fazer referências ao terrível caráter de Lully. O MAK, com seu líder Reinhard Goebel, são um dos pioneiros da Música Historicamente Informada e dá um show à parte neste CD de 1979.
Marais / Rebel / Couperin / Leclair: Le Parnasse Français (Goebel / MAK)
1 La Sonnerie De Sainte-Geneviève Du Mont De Paris
Composed By – Marin Marais
7:50
Sonate << La Sultane >>
Composed By – François Couperin
(11:43)
7 1. Gravement 4:53
8 2. Gaiement 1:55
9 3. Air (Tendrement) – Gravement 3:05
10 4. Légèrement – Vivement 1:50
Sonate À La Marésienne
Composed By – Marin Marais
(13:53)
11 1. Un Peu Grave 1:47
12 2. Légèrement 1:39
13 3. Un Peu Gai 1:37
14 4. Sarabande 2:27
15 5. Très Vivement – 2:05
16 Gravement 2:06
17 6. Gigue 2:12
Le Parnasse français: maquete de um projeto abandonado de monumento de Évrard Titon du Tillet para os jardins de Versalhes. Bronze e madeira, ambiente altivo 3 m. Realizado por Louis Garnier, Simon Curé e Augustin Pajou. Museu do Castelo de Versalhes, Inv: 6023. Terminado em 1762.
As obras para piano presentes neste disco representam duas décadas de exploração das possibilidades do instrumento através de diersos modos de expressão criativa. Por vezes virtuosísticas, por vezes reservadas e discretas, as partituras de João Pedro Oliveira são sempre exigentes nas suas subtilezas. In tempore (2000) é a primeira de três obras para piano e fita, resultando em notável demonstração dos recursos alargados que o uso da electrónica oferece. O compositor descreve a obra como um “jogo com o tempo”, mas pode também ser ouvida como um jogo com a identidade dos meios acústico e electrónico. Em Pirâmides de cristal (1993), as delicadas instruções e pedal e as indicações de dinâmica contribuem para evocar as estruturas de cristal e as texturas transparentes sugeridas pelo título. Talvez por Oliveira ter sido organista, parece haver sugestões de Olivier Messiaen (e talvez de Pierre Boulez tardio) na irregularidade rítmica, nos trilos, afloramentos, que surgem em acordes impositivos, simultaneamente dissonantes e fantasmagoricamente ressunantes. O interesse do compositor pela auto-similitude dos fractais pode agir como guia da obra: percebemo-lo através de uma simetris aproximada à medida que a peça se constrói através de picos de intensidade e retrocessos em sucessiva ondulação. Ao longo da componente electrónica de Mosaic (2010), o intérprete tanto toca piano como toy piano, acrescentando um tipo outro de interação à construção da obra. Oliveira reporta esta partitura às artes visuais, fazendo notar como em cada uma das pequenas pedras que compõem um mosaico está, geralmente, uma só cor, sem em si possuírem significado independente, antes revelando o seu papel e propósito quando vistos no contexto de um todo, como parte de uma imagem maior. Uma sensação de fragmentação vai surgindo clara e convincentemente, e as imagens ténues que emergem das partes parecem sempre arriscar-se a cair em mil pedaços através de soluções que nos movem com surpresa e emoção. (Do encarte do disco)
–\\–
Stockhausen disse certa vez que tinha um ódio da música no tempo 4/4 porque ela evocava memórias da música de marcha interminável tocada nas rádios durante a guerra. (segundo Simon Behrman)
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“A orquestração de Messiaen era um leque de cores, de timbres. Mesmo o piano, o piano! Você não vai achar que isso é Debussy, porque não é. Ele tem alguma coisa de Debussy, mas é mais um Villa-Lobos da Prole nº2. A tal ponto que, quando eu estava com Messiaen, de 1969 a 73, várias vezes Mindinha Villa-Lobos ia à classe de Messiaen (…) e trazia os LPs como presentes (Mandú Sarará, as Serestas, A Prole 2). (…) Ele guardava isso e organizava (…) o caos vem de Villa-Lobos” (Almeida Prado, 2003 – aqui)
É verdade que o caos de Villa-Lobos, de Messiaen e de Stockhausen está presente na música para piano de J. P. Oliveira, nascido em 1959 em Lisboa (reler com o “naschido” típico do sotaque de Lisboa). Não estão presentes as síncopes do Villa-Lobos dos Chôros e Cirandas. É música sem aquela cadência dançante de obras pianísticas como as do Villa e, antes dele, as que Nazareth publicava com subtítulos como “tango carnavalesco” e “polka-lundú”. Esse lado carnavalesco tão brasileiro não aparece na música do português Oliveira, que é sempre séria. Ou então eu é que não entendi a piada, o que é sempre possível e aumenta a graça da piada para quem percebe do que se trata.
Ana Cláudia de Assis, sem dúvida, entendeu para onde aponta a retórica de Oliveira, que ela provavelmente conheceu pessoalmente com alguma intimidade, já que o português viveu longos anos em Belo Horizonte. Ela defende bem essa música de padrões simétricos e coloridos inesperados.
João Pedro Oliveira (nasc. 1959):
1. In tempore (piano e electrónica)
2. Pirâmides de cristal
3. Mosaic (piano, toy piano e electrónica)
4. Bagatela
5. Looking into the mirror (piano e electrónica)
6. ff (Frozen Fred)
7. ff (Frozen Ferenc)
8. ff (Frozen Franz)
Ana Cláudia Assis, piano
Gravado na Universidade Federal de Minas Gerais -UFMG (Belo Horizonte, Brasil, 2016 e 2019, faixas 2 e 4-8) e na Universidade do Aveiro (Portugal, 2010 e 2012, faixas 1 e 3)
Esta postagem é uma reverência aos 400 anos da morte de William Byrd
William Byrd morreu há quatrocentos anos, em 1623, depois de ter vivido 83 anos. Nos nossos dias isso é considerado um feito, imagine há tantos séculos. E olhe que William era católico vivendo na Inglaterra, durante o período do surgimento da Igreja Anglicana – um ambiente no qual se misturavam religião e assuntos de estado, com conspirações ocorrendo em cada esquina.
Byrd foi organista da Lincoln Cathedral a partir de 1563 e tornou-se músico da Chapel Royal, assumindo o lugar de Robert Parsons, em 1572, servindo assim, ao lado de Thomas Tallis e outros, a Igreja Anglicana. Ao mesmo tempo era membro ativo da comunidade católica e recebia a patronagem de importantes aristocratas católicos. Em termos de música sacra, enquanto na Igreja Católica os ofícios eram em latim e a música elaborada, na Igreja Anglicana usava-se o inglês e a música que se esperava devia ser simples, uma nota para cada vogal. É claro que em certas circunstâncias esperava-se alguma coisa mais elaborada e até uns certos latins…
Mas para Byrd, essa vida dupla tornou-se mais perigosa durante a década de 1580, ao longo da qual houve tentativas de destronar a rainha Elizabeth I, para coroar em seu lugar sua prima Maria Stuart. Além disso, em 1585 morreu Thomas Tallis, que era figura importante na vida de Byrd. Eles dividiam direito de publicação de música entre outras coisas. Byrd e sua família passaram diversos perrengues, chegando a ser investigado, pagando multas por não atender aos ofícios da igreja, passando por prisão domiciliar. Safava-se por ter costas-quentes e numa ocasião até por intervenção da rainha, que gostava de música e queria exibir, pelo menos nas devidas ocasiões, pompa e esplendor. E nisso, esses músicos eram realmente espetaculares, dominavam a arte como poucos. Há um moteto de Thomas Tallis, Spem in alium, para 40 vozes. É pouco ou quer mais? Os músicos da Chapel Royal, como Robert Parsons, John Sheppard e William Mundy, produziram música mais elaborada, os serviços, que faziam as vezes das missas no caso católico. Mas Tallis e Byrd só produziram serviços bastante simples, seguindo à risca as determinações do Arcebispo…
É por isso que a obra dessa publicação, The Great Service, coloca um certo mistério na história. Apesar de deter poder de publicação, essa obra não foi publicada durante a vida do compositor. Por volta de 1594 Byrd diminuiu suas atividades na Chapel Royal e mudou-se com a família para uma pequena vila em Essex, ficando próximo de um rico dono de terras na região, Petre, que era católico. Isso tudo não impediu que Byrd continuasse a produzir música que servisse a Igreja Anglicana e The Great Service pode ter sido um projeto que seguiu à publicação das Missas para Três, Quatro e Cinco Vozes, dando continuidade à tradição de obras desse escopo escritas por outros compositores, como William Mundy e Robert Parsons. A obra é composta para um coro de cinco partes, dividido em Decani e Cantoris (nomes dados às duas tendas de coro em que as duas divisões do coro ficavam de frente uma para a outra do outro lado do corredor). Algumas seções são marcadas para grupos de solistas, rotuladas como “verso” e contrastando com as seções “completas”. O coro era normalmente dobrado pelo órgão (como as partes sobreviventes do órgão deixam claro) e provavelmente às vezes por instrumentos de sopro altos (cornetts e sackbuts), uma prática que causou muito indignação entre os puritanos da época. Sua sobrevivência deve-se principalmente a conjuntos incompletos de livros parciais do coro da igreja, bem como três partes contemporâneas do órgão. Ao reunir vários manuscritos, os estudiosos se deram com um texto praticamente completo, embora a primeira parte do Contratenor Decani do Venite ainda esteja faltando. Devido ao seu escopo, a obra deve ter ficado limitada à Chapel Royal.
As partes do Grande Serviço são sete: três formam as Matinas (Morning Prayers), duas formam a Comunhão (Communion), e mais duas formam as Vésperas (Evensong):
Venite
Te Deum
Benedictus
Kyrie
Creed
Magnificat
Nunc dimitts
Eu escolhi quatro gravações, duas das quais eu ouço já há muitos anos. A primeira é a mais antiga, com o coro do King’s College, sob a direção de Stephen Cleobury é de 1987 e foi publicada na saudosa série Reflexe, da EMI. Essa é uma gravação muito interessante que apresenta as partes da obra com alguns pequenos números entre elas, colocando-as como em uma liturgia. Para completar, dois anthems, o primeiro deles falando da Rainha Elizabeth.
Depois consegui um disco com a gravação de The Tallis Scholars, com direção de Peter Phillips. Essa interpretação também é de 1987 (meu Deus, o tempo voa…) e parece mais alinhada com as práticas de época. Originalmente foi lançada pelo selo Gimell Records e hoje deve estar sob controle de algum selo universal… Ela apresenta os movimentos seguidos sem qualquer outro número. O Kyrie, que dura perto de dois minutos, não aparece nesse disco, que termina com três Anthems, dois deles também fazem parte do disco anterior. A capa traz um retrato da Rainha Elizabeth I.
As outras duas gravações são mais recentes, de 2011 e 2018, e trazem a obra num contexto mais litúrgico. Os libretos com muita informação e o texto cantado constam nos arquivos nesses casos e podem fazer a experiência de ouvir essas gravações ainda mais enriquecedora. No caso da gravação mais recente, feita pelo selo Linn Records, há trechos de texto falado, recitados por um famoso personagem inglês. Se precisar decifrar quem é o dono da voz, sugiro contratar um bom detetive…
William Byrd (1540 – 1623)
The Great Service
The Morning Service
I Venite
II Te Deum
III Benedictus
Communion
IV Kyrie
Creed
The Evening Service
Vocals [Cantor] – Robert Graham-Campbell
I Introit “Lift Up Your Hands” (Psalm 24)
II First Preces
Psalm 47 “O Clap Your Hands”
III Magnificat
IV Nunc Dimittis
V Responses
Prayers
Collects
Anthems
VI Anthem “O Lord Make Thy Servant Elizabeth”
VII Anthem “Sing Joyfully Unto God Our Strength” (Psalm 81,1-4)
Recorded At – Chapel Of King’s College, Cambridge
Alto Vocals – Anthony Musson, Benjamin Phillips (2), Stephen Hilton (2)
Bass Vocals – Gavin Carr, Lawrence Whitehead (2)
Choir – The Choir Of King’s College, Cambridge*
Directed By – Stephen Cleobury
Tenor Vocals – Christopher Cullen (2), Christopher Walker (2), Robert Graham-Campbell
Treble Vocals – Graham Green (5), Thomas Elias
Recorded: 13.-14 XII. 1985, King’s College Chapel, Cambridge.
The music in the Great Service is of unparalleled proportions and inexhaustible variety; Byrd vividly represents the text at every opportunity stimulating the listener’s imagination. The Great Service encapsulates the canticles that were sung during the services of Matins and Evensong, which made up an important part of the Book of Common Prayer.
Este álbum triplo de 2023 já ganhou vários e merecidos prêmios. Kirill Petrenko, o novo regente da Filarmônica de Berlim, dá uma aula de como interpretar seu grande conterrâneo Shostakovich. O milagre que ele faz está nos detalhes que vão, pouco a pouco, iluminando as partituras. Kirill Petrenko é realmente genial, uma grande escolha dos músicos da Filarmônica.
Kirill Petrenko descreve a Oitava Sinfonia de Dmitri Shostakovich como um “grande drama psicológico”. O compositor escreveu-a enquanto a sua vida estava em perigo durante a Segunda Guerra Mundial: entre uma existência entre bombas nazistas e a censura stalinista. A Nona e a Décima também dão testemunho vívido do confronto de Shostakovich com o regime – e da sua auto-afirmação. Musicalmente, cada uma das três sinfonias é um mundo à parte – o que as une é o desejo de liberdade: num caso sussurrado a portas fechadas, noutro ironicamente distorcido, noutro gritado. A Oitava de Shostakovich entregou uma tragédia de sorriso forçado à autoridade ávida por hinos patrióticos. E apesar de toda a camuflagem, a obra foi proibida depois de alguns anos.
Com a sua Nona Sinfonia, o compositor deu então uma reviravolta surpreendente, de modo que teve de permanecer silencioso como sinfonista até depois da morte de Stalin – para sobreviver. Não só o significado tradicional do número 9, a NONA, mas também pelo fato de a guerra ter sido vencida, tendo levado o povo e os funcionários da União Soviética a esperar por uma grande celebração heróica. Em vez da redenção no final da guerra, Shostakovich viu as inúmeras vítimas – e a aproximação da próxima catástrofe. No tom distanciado da Primeira Escola Vienense e com uma alegria grotesca, a sua Nona Escola retrata um mundo circense que erguia um espelho distorcido do regime.
A Décima foi publicada após um hiato de oito anos, imediatamente após a morte de Stalin. Kirill Petrenko chama à obra em que o compositor se torna protagonista de a “libertação no seu trabalho artístico depois da Quinta”: o seu monograma em notas – DSCH – triunfa numa batalha feroz sobre a poderosa maquinaria da ditadura. A esperança de liberdade que está no final desta sinfonia tem grande atualidade como mensagem musical.
Este CD de 1985 é um discreto clássico da discografia bachiana. As Invenções e Sinfonias de Bach fazem parte da formação de todo tecladista. Valiosa instrução técnica e soberba originalidade são alguns de seus atributos. Escrita para seu filho mais velho, Wilhelm Friedmann (nascido em 1710), a diversidade temática e a ampla gama de ideias musicais são infinitas, um verdadeiro oceano. Esta versão de Kenneth Gilbert é linda. Bach intitulou a coleção:
Instrução direta para os amantes do cravo, especialmente àqueles desejosos de aprender. São mostrados de maneira clara não apenas (1) como aprender a tocar duas vozes claramente, mas também, após progresso adicional (2) a lidar corretamente e bem com três partes obrigatórias, além disso, ao mesmo tempo, a obter não apenas boas ideias, mas também executá-las bem. Acima de tudo, o aluno alcançará um estilo de tocar cantabile e, assim, adquirirá um forte gosto de composição.
Os dois grupos de 15 peças são organizados em ordem crescente de tonalidade , cada grupo abrangendo oito tonalidades maiores e sete tonalidades menores .
J. S. Bach (1685-1750): Inventionen & Sinfonien (The Two-Part And Three-Part Inventions) (K. Gilbert)
Fifteen Two-Part Inventions, BWV 772–786
1 Two-Part Invention In C Major BWV 772 1:31
2 Two-Part Invention In C Minor BWV 773 1:50
3 Two-Part Invention In D Major BWV 774 1:22
4 Two-Part Invention In D Minor BWV 775 0:58
5 Two-Part Invention In E Flat Major BWV 776 1:36
6 Two-Part Invention In E Major BWV 777 3:44
7 Two-Part Invention In E Minor BWV 778 1:31
8 Two-Part Invention In F Major BWV 779 0:58
9 Two-Part Invention In F Minor BWV 780 1:41
10 Two-Part Invention In G Major BWV 781 1:03
11 Two-Part Invention In G Minor BWV 782 1:11
12 Two-Part Invention In A Major BWV 783 1:44
13 Two-Part Invention In A Minor BWV 784 1:12
14 Two-Part Invention In B Flat Major BWV 785 1:35
15 Two-Part Invention In B Minor BWV 786 1:11
Fifteen Sinfonias (Three-Part Inventions), BWV 787–801
16 Three-Part Invention In C Major BWV 787 1:14
17 Three-Part Invention In C Minor BWV 788 2:14
18 Three-Part Invention In D Major BWV 789 1:34
19 Three-Part Invention In D Minor BWV 790 1:50
20 Three-Part Invention In E Flat Major BWV 791 2:06
21 Three-Part Invention In E Major BWV 792 1:15
22 Three-Part Invention In E Minor BWV 793 2:20
23 Three-Part Invention In F Major BWV 794 1:11
24 Three-Part Invention In F Minor BWV 795 3:09
25 Three-Part Invention In G Major BWV 796 1:09
26 Three-Part Invention In G Minor BWV 797 2:15
27 Three-Part Invention In A Major BWV 798 1:34
28 Three-Part Invention In A Minor BWV 799 1:53
29 Three-Part Invention In B Flat Major BWV 800 1:49
30 Three-Part Invention In B Minor BWV 801 1:37
Você ainda não viu Uma passagem para a Índia, do David Lean? Então veja, pois o filme é ótimo. Na história se opõem duas culturas: os ingleses tentando manter seus hábitos em um ambiente impregnado de sabores, cheiros e cores exóticas, muito diferentes das que eles conheciam na terrinha deles. O filme originou de um livro escrito por Edward Morgan Forster – E.M. Forster. É uma linda história que descreve esta colisão de culturas, da qual as duas saem modificadas.
O disco desta postagem traz um paralelo sonoro a esse tipo de situação, mas remonta a um período anterior àquela descrita no filme – Calcutá, 1789. O programa descreve o que pode ter sido um concerto realizado em Calcutá naquela época.
Calcutá fica na província de Bengala e foi fundada em 1609 como um posto de troca pela Companhia Britânica das Índias Orientais. A cidade se tornou um cruzamento de culturas, o Ocidente se encontra com o Oriente, gerando uma colorida fusão de comidas, música e artes em geral. Por volta de 1780, a colônia inglesa residente em Calcutá era da ordem de 4000 pessoas. Entre eles, os nababos, ricos representantes do comércio onde permaneciam anos ou mesmo décadas e se cercavam de uma pequena corte, com músicos, cozinheiro e artistas.
Neste ambiente também floresciam empresários musicais, tais como William Hamilton Bird, que organizavam concertos com subscrição e que apresentavam até mesmo Oratórios. O gosto musical era afinado com o que se ouvia em Londres, onde reinava a dupla germânica formada por Carl Friedrich Abel e Johann Christian Bach, o Bach inglês. Músicos das gerações anteriores, como Purcell e Handel também constavam nos programas. É claro que a música era adaptada às disponibilidades locais. Aqui temos quartetos e quintetos com oboé, flauta, cordas e cravo. Mas o que mais coloriu o disco, assim como deve ter feito nos concertos daquela época, são os números musicais com influência da cultura local.
As mulheres desses altos funcionários da Companhia das Índias eram educadas e sabiam tocar cravo. Os nomes de duas delas aparecem no libreto. São as amigas Sophia Plowden, de Lucknow, e Margaret Fowke, de Benares. Elas assistiam a espetáculos de música e dança dos artistas locais e depois arranjavam para cravo aquelas peças que mais gostavam. Algumas dessas árias coletadas foram arranjadas e publicadas por William Hamilton Bird. Todo esse material está reunido na Coleção Fitzwilliam, em Cambridge.
Assim como deve ter ocorrido nos concertos em Calcutá, temos essas pioneiras peças de world music, que funcionam como interlúdios para as peças ocidentais, nas quais brilham também os instrumentos locais, como a tabla e o sitar. A primeira faixa é realmente fascinante. Inicia com solo no cravo e é uma transcrição de uma ária hindustani, ao qual se juntam os instrumentos locais, assim como flauta, oboé, violino violoncelo, numa verdadeira jam session que vale o download.
Tradicional
Sakia (ária hindustani) (Arr. para grupo de câmera feito por Notturna)
Johann Christian Bach (1735 – 1782)
Quinteto para flauta, oboé, violino, violoncelo e cravo, Op. 22, No. 2
Allegro commodo
Tempo di minuetto
Quinteto para flauta, oboé, violino, violoncelo e cravo, Op. 22, No. 1
Andantino
George Frideric Handel (1685 – 1759)
Sonata em sol maior para oboé, dois violinos e b. c. – ‘My song shall be away’
Largo e staccato
Allegro
Adagio
Allegro
Henry Purcell (1659 – 1695)
(Arr. para grupo de câmera feito por Notturna)
If love’s a sweet passion (de The Fairy Queen, Z628)
Parte do elenco do filme de D. Lean relaxando no palácio do PQP Bach em Mumbai
Calcutá 1789 é um retrato fascinante da vida musical do século 18 na Índia durante o período colonial britânico.
Sob a direção de Christopher Palameta, o programa combina música tradicional indiana com obras de Purcell, Handel, J.C. Bach e C. F. Abel.
Aos instrumentistas de época de Notturna juntam-se os sons voluptuosos do sitar, tocado por Uwe Neumann, e da tabla, tocada por Shawn Mativetsky.
Inspirada em um programa de concertos de 1789 descoberto nos arquivos de Calcutá, a gravação reconstrói o rico intercâmbio cultural que se desenvolveu entre músicos indianos e ingleses que foram trazidos para a Índia como parte da comitiva da Companhia Britânica das Índias Orientais.
Aproveite!
René Denon
O Dep. de Artes do PQP Bach forneceu esta ilustração para a postagem… acho que eles se confundiram um pouco. Quel cul t’as!
Muita gente tem pedido a repostagem destes concertos de Violino de Mozart com o Carmignola e com o Claudio Abbado, postagem de uns três anos atrás, creio. Porém, no momento, não é possível fazer esta repostagem pelo simples fato de não ter mais este cd, devido a diversos problemas que tive nos últimos tempos com meu computador pessoal, onde ele estava armazenado.
Para os mais necessitados, digamos assim, por uma gravação histórica, resolvi tirar do baú esta gravação do Simon Standage, nos tempos em que ele era o spalla da “Academy of Ancient Music”, nos bons tempos do Christopher Hogwood. Esta gravação foi realizada em 1987, e o Standage ainda não tinha criado seu excelente conjunto “Colegium Musicum 90” . Sua parceria com o Hogwood nos anos 80 rendeu gravações antológicas, alimentando mais o comércio das gravações de orquestras que tocavam com instrumentos de época. Nesta gravação específica, o violino de Standage é uma réplica de um Stradivarius de 1703.
Adoro estes concertos, já devo tê-los ouvido umas cinquenta vezes cada um. Gosto muito das gravações do Oistrakh, realizadas ainda nos anos 60, se não me engano, e entre as recentes, a Julia Fischer fez um trabalho extraordinário. Não posso esquecer de nossa eterna musa, Anne-Sophie Mutter que há uns 5 anos atrás regravou os cinco concertos, além da Sinfonia Concertante.
Um detalhe interessante: as cadenzas são do próprio Standage. O homem não é fraco não, como diziam na minha terra.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Os Concertos para Violino (Standage / Hogwood)
CD 1
1 Violin Concerto n°1, in B Flat major, K. 207 – I – Allegro moderato
2 II – Adagio
3 III – Presto
4 Violin Concerto n°2, in D major, K. 211 – I – Allegro moderato
5 – II – Andante
6 – III – Rondeau
7 – Violin Concerto in G Major, K. 216 – I – Allegro
8 – II – Adagio
9 – III – Rondeau: Allegro
10 – Rondo in B Flat Major, K. 269
CD 2
1 – Violin Concerto n° 4, in D Major, K. 218 – I – Allegro
2 – II – Andante Cantabile
3 – III – Rondeau: Andante grazioso
4 – Violin Concerto n°5, in D Major, K. 219 – I – Allegro aperto
5 – II – Adagio
6 – III – Rondeau: Tempo de menuetto
7 – Adagio in E major, K. 261
8 – Rondo in C Major, K. 373
Simon Standage – Violin
The Academy of Ancient Music
Christopher Hogwood – Director
Tem uma história curiosa esta obra que está entre as mais importantes de meu pai, Johann Sebastian Bach. Porém, antes dela, um detalhe pessoal: tenho sete gravações da Oferenda Musical. Fico um pouco desconcertado pelo fato de que as três melhores estejam em discos de vinil. Não ouvi ninguém executar melhor esta obra do que Hermann Scherchen em 1964 ou Karl Münchinger em 1976 ou o Musica Antiqua de Köln nos anos 70 ou 80. Não obstante, a gravação que apresento aqui para vocês é bastante boa. Vamos às muitas curiosidades da obra. O texto abaixo foi retirado da Wikipedia. Fiz alguns cortes e pequenas correções.
O Tema do Rei
A coleção tem sua origem num encontro entre Bach e Frederico II em 7 de Maio de 1747. O encontro, que se deu na residência do rei em Potsdam, foi conseqüência do filho de Bach, Carl Philipp Emanuel Bach estar ali trabalhando como músico da corte. Frederico queria mostrar a Bach uma novidade. O pianoforte foi inventado uns poucos anos antes e o rei possuia esse instrumento experimetal, alegadamente o primeiro que Bach viu. Bach, que era bem conhecido por seu talento na arte da improvisação, recebeu um tema, o Thema Regium (“tema do rei”), para improvisar uma fuga.
Ao que parece, a proposta de Frederico, na realidade era para humilhar o velho Bach, pois o tema fornecido fora construído de tal forma que imaginava-se impossível aplicar a ele as regras da polifonia. Inicialmente Frederico ordenou que Bach improvisasse sobre o tema uma fuga a três vozes, o que para espanto do Rei e admiração de todos os presentes Bach fez de imediato. Insatisfeito, o Rei mandou que ele, desta feita, improvisasse uma fuga a seis vozes, uma tarefa considerada impossível por todos, inclusive os os músicos do Rei, os melhores e os mais competentes da época. Bach, que então contava com 62 anos, e que mal chegara de viagem e fora convocado ao palácio sem ter tido tempo de descansar, se desculpou alegando exaustão da viagem, e em 15 dias mandou para o Rei -impressa – sua resposta ao desafio na forma da Oferenda Musical.
Que Bach entendeu o objetivo escuso por trás da proposta do Rei é mais ou menos evidente (embora não possa ser provado) pelo nome que ele deu ao conjunto de peças, já que em alemão Opfer não significa apenas Oferenda, mas também pode significar uma oferta de uma vítima em sacrifício.
Estrutura, instrumentação
Na sua forma final, A Oferenda Musical compreende:
– Dois ricercares escritos em tantas pautas quanto o número de vozes:
– um ricercar a 6 (fuga a seis vozes)
– um ricercar a 3 (fuga a três vozes)
Dez cânones:
– Canones diversi super Thema Regium:
– 2 Cânones a 2
– Cânone a 2, per motum contrarium
– Cânone a 2, per augmentationem, contrario motu
– Cânone a 2, per tonos
– Cânone perpetuus
– Fuga canônica
– Cânone a 2 Quaerendo invenietis
– Cânone a 4
– Cânone perpetuus, contrario motu
Sonata sopr’il Soggetto Reale – uma sonata trio em quatro movimentos, para flauta, um instrumento que Frederico tocava:
– Largo
– Allegro
– Andante
– Allegro
Além da sonata trio, escrita para flauta, violino e baixo contínuo, as demais peças não têm indicações sobre a instrumentação a ser utilizada.
Os ricercares e os cânones têm sido executados de diversas maneiras. Os ricercari são, com freqüência, executados ao teclado. Um conjunto de músicos de câmara, alternando os grupos de instrumentos e utilizando uma instrumentação semelhante à da sonata trio comumente interpreta os cânones. Mas também existem gravações com um ou mais instrumentos de tecla (piano, cravo) e instrumentações maiores, como uma orquestra.
Como a versão impressa dá a impressão de ser organizada para diminuir o número de “viradas” de página, a ordem das peças pretendida por Bach (se alguma ordem era pretendida) é incerta embora seja costume iniciar a obra com o Ricercare a 3 e tocar a sonata trio no final. Comumente se interpretam juntos os Canones super Thema Regium.
Enigmas
Alguns dos cânones da Oferenda Musical são representados na partitura original por não mais do que pequena melodia monódica com alguns compassos, junto com uma uma inscrição enigmática, em Latim, colocada acima da melodia. Estes trechos são normalmente chamados de ‘fugas-enigma’ (algumas vezes, de maneira mais apropriada, chamadas de cânones-enigma). Esperava-se que, resolvendo os enigmas, os executantes interpretassem a música como uma obra com várias partes (uma obra com várias melodias entrelaçadas). Tem sido argumentado que alguns destes enigmas têm mais de uma solução possível, embora atualmente, a maioria das edições impressas da partitura apresentem apenas uma solução mais ou menos “padronizada”, de modo que os intérpretes podem executar a obra sem se preocupar com o latim ou com o enigma.
Um dos cânones-enigma, in augmentationem, isto é, com o tamanho (a duração) das notas aumentada, tem a inscrição: Notulis crescentibus crescat Fortuna Regis (possa a fortuna do rei aumentar como o tamanho das notas), enquanto que um cânone modulante que termina num tom maior do que o tom em que começou, tem a inscrição: Ascendenteque Modulationis ascendat Gloria Regis (que a glória do rei aumente como uma modulação ascendente).
Como foi recebida
Sabe-se pouco a respeito da reação de Frederico com relação à partitura a ele dedicada, se ele tentou resolver os enigmas ou se ele tocou a parte da flauta da sonata trio. Frederico era conhecido por não gostar de música complicada e logo depois da visita de Bach ele entrou numa campanha militar, portanto é possível que o presente não tenha sido bem recebido. Adaptações e citações do século XX Arranjos: O “Ricercar a 6” sofreu diversos arranjos, tendo sido Anton Webern o seu arranjador mais importante, o qual, em 1935, escreveu uma versão para pequena orquestra notável por seu estilo Klangfarbenmelodie, isto é, linhas melódicas que passam de um instrumento para outro depois de um pequeno número de notas, cada nota recebendo a “coloração tonal” do instrumento em que é executada:
Sofia Gubaidulina mais tarde utilizou o Tema Real da Oferenda Musical em seu concerto para violino Ofertorium. Orquestrado conforme um arranjo semelhante ao de Webern, o tema é desconstruído nota a nota através de uma série de variações, e é reconstruído na forma de um hino da Igreja Ortodoxa Russa.
Bart Berman compôs três novos cânones baseados no Tema Real, que foram publicados em 1978 como um suplemento especial de feriado do jornal musical holandês Mens en Melodie (publicado por Elsevier).
1 Ricercar a 3 05:33
2 Canon perpetuus super Thema Regium 01:19
3 Canon 2. a 2 Violini in unisono 00:47
4 Canon 3. a 2 per Motum contrarium 01:08
5 Canon 4. a 2 per Augmentationem, contrario Motu 03:04
6 Canon 5. a 2: Canon circularis per Tonos 02:54
7 Sonata sopra il Soggetto Reale: Largo 07:23
8 Sonata sopra il Soggetto Reale: Allegro 06:08
9 Sonata sopra il Soggetto Reale: Andante 03:25
10 Sonata sopra ill Soggetto Reale: Allegro 03:03
11 Canon a 4 06:20
12 Fuga canonica in Epidiapente 01:58
13 Canon a 2 Quaerendo invenietis: I 01:43
14 Canon a 2 Quaerendo invenietis: II 01:11
15 Canon a 2 Quaerendo invenietis: III 01:10
16 Canon a 2 Quaerendo invenietis: IV 01:37
17 Canon 1. a 2: Canon cancrizans 00:50
18 Canon perpetuus a Flauto traverso, Violino e Basso continuo 02:28
19 Ricercar a 6 07:11
Christian Benda, cello
Sebastian Benda, harpsichord
Nils Thilo Kramer, flute
Ariane Pfister, violin
Capella Istropolitana, conducted by Christian Benda
O concerto de Schnittke (1990) é triste e desolado. com bastante dissonância. A forma de tocar de Alexander Ivashkin é impressionante. Ele comanda um pesadelo inquietante com sons de arrepiar os cabelos. O violoncelo é imponente, até pela forma com que foi gravado. Eu preferiria ouvir mais a orquestra, especialmente porque ela está repleta de detalhes. A sepultura cavada é avassaladora e o amado cravo do compositor aparece aqui. A passacaglia final é o mais longo dos cinco movimentos e baseia-se num tema da sua música para o filme Agonia. É lindo e desesperado. Em suma, neste concerto, Schnittke vence fácil os escandinavos no jogo sombrio. Não adianta, este é o Schnittke pós-AVC de 1985, ele perdeu toda a muita alegria que tinha. Ele nos joga num redemoinho depressivo.
Na breve e divertida Sommernachtstraum (1985, antes do AVC), ele faz chover notas dissonantes. É um Mozart deslizando para frente e para trás no tempo, derretendo através de espelhos e perdido em algum circo enlouquecido do mundo interior de Schnittke. Impossível não rir disso. É hilário e deveria ser uma famosa peça de concerto se o conservadorismo e a falta de humor não grassassem tanto.
O elemento de dissonância é forte nestas obras, mas o sentido de melodia nunca está longe. Este CD é para ouvidos exigentes, prontos para desafios.
Alfred Schnittke (1934-1998): (K)ein Sommernachtstraum / Cello Concerto No. 2 (Ivashkin, Russian State Symphony Orch, Polyansky)
Cello Concerto No. 2 (42:00)
1 I Moderato – 3:20
2 II Allegro 9:34
3 III Lento – 8:26
4 IV Allegretto Mino – 4:34
5 V Grave 16:05
6 (K)ein Sommernachtstraum – (Not) A Midsummer Night’s Dream 10:37
Cello – Alexander Ivashkin
Composed By – Alfred Schnittke
Conductor – Valeri Polyansky
Orchestra – Russian State Symphony Orchestra
Quem leu a obra-prima O Resto é Ruído, de Alex Ross, sabe que, por algum motivo, o público inglês e o norte-americano amam Sibelius apaixonadamente. Então, não chega ser surpreendente que a excelente orquestra da BBC se dedicasse ao compositor finlandês com tanto esmero, ainda mais se regida por um finlandês como Storgårds. Como deveria soar a música orquestral de Sibelius? Essas sinfonias são despedidas românticas tardias ou declarações visionárias e progressistas? Não temos respostas. Este ciclo antes suntuosamente gravado por nomes como Bernstein e Rattle merece ser ouvidos, e os aventureiros deveriam procurar também as gravações dos 1970 de Gennadi Rozhdestvensky com metais russos sensacionais. Cada uma das sete sinfonias ocupa um mundo sonoro muito distinto e, como acontece com Mahler, é difícil encontrar um maestro que acerte em todas. A propensão de Storgårds por tempos rápidos e texturas limpas rende enormes dividendos para seu registro e acho que você deve ouvir tudo com atenção — vale muito a pena. A caixa da Chandos inclui as transcrições de Timo Virtanen para três fragmentos recentemente desenterrados que podem ter feito parte daquilo que seria a muito aguardada — a vã espera durou décadas! — 8ª Sinfonia de Sibelius. São pouco mais do que fragmentos, mas o primeiro é particularmente magnífico, um dos melhores trechos de Sibelius que você ouvirá. Dizem que a oitava nunca saiu porque Sibelius bebia muito. Mas ele viveu 91 anos…
“Esta bebedeira – em si uma ocupação excepcionalmente agradável – foi longe demais”, Sibelius escreveu essas palavras em 1907, quando duas décadas de farras finalmente começavam a cobrar seu preço. Além de beber regularmente grandes quantidades de álcool — uma pintura famosa que coloco abaixo, O Simpósio, de Akseli Gallen-Kallela, mostra o compositor, sentado com seus companheiros, decididamente bebum durante uma sessão de álcool e rock n’ roll –, Sibelius também era um conhecedor de charutos finos, um hábito que pode ter aprendido com seu pai.
Sibelius fundou um clube de bebidas (ou para beber) em Helsinque. Ele bebia álcool para se fortalecer antes de realizar uma apresentação e era conhecido por desaparecer por dias seguidos. A última página de seu diário traz uma lista de compras de conhaque, champanhe e gim. Certa vez, Sibelius mudou-se para o campo para tentar abandonar seus hábitos de beber e fumar. Ele escreveu: “o isolamento e a solidão estão me levando ao desespero!”. Repito: viveu 91 anos, quase 92.
Jean Sibelius (1865-1957): As Sinfonias Completas e 3 fragmentos tardios (Storgårds, BBC)
Symphony No. 1 In E Minor Op. 39
1-01 I Andante Ma Non Troppo-Allegro Energico 11:16
1-02 II Andante (Ma Non Troppo Lento) 9:21
1-03 III Scherzo, Allegro 5:07
1-04 IV Finale (Quasi Una Fantasia) 12:41
Symphony No. 4 In A Minor Op. 63
1-05 I Tempo Molto Moderato, Quasi Adagio 9:19
1-06 II Allegro Molto Vivace 5:01
1-07 III Il Tempo Largo 10:54
1-08 IV Allegro 9:26
Three Late Fragments
1-09 HUL 1325 1:09
1-10 HUL 1326/9 0:15
1-11 HUL 1327/2. Allegro moderato 1:13
Symphony No. 2 In D Major Op. 43
2-01 I Allegretto 10:12
2-02 II Tempo Andante, Ma Rubato 15:05
2-03 III Vivacissimo 6:06
2-04 IV Finale, Allegro Moderato 14:14
Symphony No. 5 In E Flat Major Op. 82
2-05 I Tempo Molto Moderato-Allegro Moderato 14:03
2-06 II Andante Mosso, Quasi Allegretto 8:44
2-07 III Allegro Molto 9:37
Symphony No. 3 In C Major Op. 52
3-01 I Allegro Moderato 10:17
3-02 II Andantino Con Moto, Quasi Allegretto 9:48
3-03 III Moderato-Allegro 8:43
Symphony No. 6 In D Minor Op. 104
3-04 I Allegro Molto Moderato 8:48
3-05 II Allegretto Moderato 5:27
3-06 III Poco Vivace 3:45
3-07 IV Allegro Molto 10:04
Symphony No. 7 In C Major Op. 105
3-08 Adagio 9:40
3-09 Vivacissimo – Adagio 2:52
3-10 Allegro Molto Moderato – Allegro Moderato 4:03
3-11 Vivace – Presto 5:35
Neste surpreendente disco é percorrido o caminho inverso do que vimos recentemente por aqui – uma orquestração do Quarteto para Piano e Cordas No. 1, com o festivo e impetuoso Presto alla zingarese final. Apresentados aqui, temos o tal Quarteto em sol menor op. 25, na sua versão original, e ao seu lado, um arranjo da Sinfonia No. 3 para a mesma formação – piano e cordas – feito pelo arranjador e compositor Andreas N. Tarkmann (nascido em 1956).
Andreas N Tarkmann
Arranjos de obras escritas originalmente para orquestra adaptadas para conjuntos menores ou mesmo para piano eram comuns na época anterior à música gravada, pois permitia que a música fosse apreciada ou por amadores ou mais facilmente executada. Há uma versão para trio com piano da Sinfonia No. 2 de Beethoven. Arnold Schoenberg arranjou a Canção da Terra, de Mahler, para um conjunto bem menor de instrumentos e, como você já deve saber, orquestrou o Quarteto No. 1.
Notos Quartett fotografado pela equipe de mídia do PQP Bach que é especializada em grupos de música pop…
A novidade aqui deve-se ao fato de que este arranjo da sinfonia de Brahms foi feito recentemente para o Notos Quartett pelo versátil e prolífico Andreas Tarkmann. A crítica do disco no The Guardian começa com a retórica pergunta: por que ouvir uma versão para um conjunto de câmara se há tantas gravações excelentes da versão para orquestra? Ao final chega-se à conclusão que é necessário realmente ouvir o disco para crer que o quarteto arranjado é tão bom quanto o escrito por Brahms. Como eu sempre gostei do Quarteto Cigano, ouvi o disco muitas vezes… e adorei. Vamos, dê uma chance ao jovem grupo musical e seu arranjador. Aposto uma cocada como você vai gostar. Depois me conte…
Deu a maior trabalheira levar esses espelhos todos até o bosque do PQP Bach…
Parte da crítica que pode ser lida na íntegra aqui: […] listen to what the Notos players do with the Piano Quartet No. 1. This is a stupendous performance, which entirely gets the point of Brahms’s youthful energy and ambition. Antonia Köster’s piano playing is suitably aristocratic without being overwhelming, the ensemble between her and the three string players is clean, detailed, delicate as required, and miraculously, elastically organic; Sindri Lederer’s violin tone is opulent and beautifully voiced; Andrea Burger’s viola playing is ideal for this sort of repertoire; and Philip Graham endows the cello part with rich lyricism. Together they have worked out the work’s accumulative strengths, and the result is breathtaking. I’m still reeling from the sheer power of the Andante’s middle section. Highly recommended.
[…] ouça o que os músicos do Notos fazem com o Quarteto de Piano No. 1. Esta é uma performance estupenda, que atinge inteiramente a energia e a ambição juvenil de Brahms. O piano de Antonia Köster é adequadamente aristocrático sem ser avassalador, o conjunto entre ela e os três tocadores de cordas é limpo, detalhado, delicado conforme necessário e, milagrosamente, elasticamente orgânico; O tom de violino de Sindri Lederer é opulento e lindamente dublado; A viola de Andrea Burger é ideal para esse tipo de repertório; e Philip Graham dota a parte do violoncelo de rico lirismo. Juntos, eles trabalharam os pontos fortes acumulados do trabalho e o resultado é de tirar o fôlego. Ainda estou me recuperando do poder absoluto da seção central do Andante. Altamente recomendado.
Certa vez, há algumas décadas, uma namorada, vendo que eu também era tarado por Bach, resolveu me dar todas as Cantatas pelo Helmuth Rilling. Gostei, ainda mais que não existiam as integrais de hoje (a do pugilista Gardiner, a de Suzuki, a de Koopman, a coleção da Netherlands Bach Society, a da Bachstiftung… Ah, a de Harnoncourt-Leonhardt me parecia meio anêmica — aliás, até hoje parece anêmica a este amante do historicamente informado) e que Rilling dava de dez na coleção parcial de Richter. E, ainda hoje, muitas vezes pego na estante um CD aleatório da coleção para ouvir. Bem, nesta manhã peguei um e me apaixonei por este que é o volume 53 da série. Já tinha me apaixonado por outros, mas este é bom também. Destaque para a presença do tenor catarinense Aldo Baldin na gravação. Prova de que havia vida inteligente em SC antes de todos se tornarem bolsonaristas.
Importamte: saibam que Rilling permanece vivo aos 90 anos e, parece-me, ainda ativo.
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 47, 149 e 169 (Rilling)
1 Who Himself Exalteth, He Shall Be Made To Be Humble, Cantata BWV 47: 1. Chor – Arleen Auger/Phileppe Huttenlocher
2 Who Himself Exalteth, He Shall Be Made To Be Humble, Cantata BWV 47: 2. Aria – Arleen Auger
3 Who Himself Exalteth, He Shall Be Made To Be Humble, Cantata BWV 47: 3. Recitative – Philippe Huttenlocher
4 Who Himself Exalteth, He Shall Be Made To Be Humble, Cantata BWV 47: 4. Aria – Philippe Huttenlocher
5 Who Himself Exalteth, He Shall Be Made To Be Humble, Cantata BWV 47: 5. Chor – Arleen Auger/Phileppe Huttenlocher
6 They Sing Now Of Triumph With Joy, Cantata BWV 149: 1. Chor – Arleen Auger/Mechthild Georg/Aldo Baldin/Philippe Huttenlocher
7 They Sing Now Of Triumph With Joy, Cantata BWV 149: 2. Aria – Philippe Huttenlocher
8 They Sing Now Of Triumph With Joy, Cantata BWV 149: 3. Recitative – Mechthild Georg
9 They Sing Now Of Triumph With Joy, Cantata BWV 149: 4. Aria – Arleen Auger
10 They Sing Now Of Triumph With Joy, Cantata BWV 149: 5. Recitative – Aldo Baldin
11 They Sing Now Of Triumph With Joy, Cantata BWV 149: 6. Aria – Mechthild Georg/Aldo Baldin
12 They Sing Now Of Triumph With Joy, Cantata BWV 149: 7. Chor – Arleen Auger/Mechthild Georg/Aldo Baldin/Philippe Huttenlocher
13 God All Alone My Heart Shall Master, Cantata BWV 169: 1. Sinf – Helmuth Rilling
14 God All Alone My Heart Shall Master, Cantata BWV 169: 2. Arioso And Recitative – Carolyn Watkinson
15 God All Alone My Heart Shall Master, Cantata BWV 169: 3. Aria – Carolyn Watkinson
16 God All Alone My Heart Shall Master, Cantata BWV 169: 4. Recitative – Helmuth Rilling
17 God All Alone My Heart Shall Master, Cantata BWV 169: 5. Aria – Carolyn Watkinson
18 God All Alone My Heart Shall Master, Cantata BWV 169: 6. Recitative – Carolyn Watkinson
19 God All Alone My Heart Shall Master, Cantata BWV 169: 7. Chor – Arleen Auger/Mechthild Georg/Aldo Baldin/Philippe Huttenlocher
Soprano: Arleen Augér
Alto: Mechthild Georg
Tenor: Aldo Baldin
Baixo: Philippe Huttenlocher
Gächinger Kantorei Stuttgart
Bach-Collegium Stuttgart
Helmuth Rilling
Este CD da ótima violonista Sharon Isbin já tem mais de dez anos, doze para ser mais exato. Mas é de uma qualidade única. Até pouco tempo atrás eram poucas as mulheres solistas deste instrumento tão peculiar e masculino que é o violão. Felizmente, nos dias de hoje esse número cresceu.
Sharon Isbin fez as tarefas de casa direitinho. Estudou até mesmo com Rosalyn Tureck, uma das grandes especialistas em Bach no século XX. Tureck inclusive está por trás deste CD, auxiliando Isbin na sua concepção e edição das obras aqui interpretadas.
Enfim, para quem gosta do instrumento, sugiro sua audição com atenção. Bach explorou todos os recursos disponíveis do alaúde, e Isbin transpôs com grande habilidade e maestria para o violão. Sugiro os senhores darem uma olhada em sua página pessoal para melhor a conhecerem.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Complete Lute Suites (Sharon Isbin)
Suite BWV 1006a In E Major · E-Dur · Mi Majeur (17:08)
1 Prelude 4:23
2 Loure 2:45
3 Gavotte En Rondeau 3:11
4 Menuet I & II (Da Capo Menuet I) 2:57
5 Bourrée 1:55
6 Gigue 1:58
Suite BWV 995 In G Minor Performed In A Minor· A-Moll · La Mineur (21:34)
7.1 Prelude:
7.2 Trés Vite 6:45
8 Allemande 3:31
9 Courante 2:07
10 Sarabande 4:15
11 Gavotte I & II (En Rondeau) 2:41
12 Gigue 2:15
Suite BWV 996 In E Minor · E-Moll · Mi Mineur (17:28)
13.1 Praeludio: Passaggio
13.2 Presto 2:59
14 Allemande 3:09
15 Courante 2:24
16 Sarabande 4:46
17 Bourrée 1:20
18 Gigue 2:51
Suite BWV 997 In C Minor Performed In A Minor · A-Moll · La Mineur (22:12)
19 Prelude 3:10
20 Fugue 8:12
21 Sarabande 5:28
22 Gigue 2:43
23 Double 2:39