Este é o terceiro CD de Meneses que ora está sendo postado e talvez o mais importante de todos os que o violoncelista recifense gravou pois concretiza um projeto e sem precedentes no país: o de estímulo à produção de um repertório específico para um instrumento.
Diz o release de divulgação do disco:
“Há alguns anos, Antonio Meneses encomendou a compositores brasileiros obras que servissem como uma espécie de preâmbulo para cada uma das seis suítes para violoncelo solo de Johann Sebastian Bach. O objetivo era realizar um prolongamento, guardadas as proporções, da homenagem que Villa-Lobos fizera a Bach nas Bachianas Brasileiras.”
Daí que cada uma das seis primeiras obras – totalmente diferentes entre si na estética – parafraseia uma suíte bachiana. Na segunda metade do álbum, há uma suíte inteira em cinco movimentos, que Meneses pediu especialmente ao conterrâneo pernambucano Clóvis Pereira.
Clóvis, depois de Marlos Nobre, é o maior compositor erudito pernambucano vivo. Embora sua produção não seja muito extensa e seja quase desconhecida fora de seu estado natal, dificilmente decepciona, deixando-se claro que ela segue em maior ou menor grau as linhas do Movimento Armorial.
A parceria Meneses-Clóvis nasceu uma obra antes, com o Concertino para violoncelo e orquestra (2005) – o qual vai ser lançado por Meneses em disco este ano junto com os dois concertos de Haydn -, e deu tão certo que já está sendo escrita uma sonata pra cello e piano, a ter estreia em 2011.
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Antonio Meneses – Suítes brasileiras
1. Etius Melos, de Ronaldo Miranda
2. Cantoria 1 para violoncelo solo, de Marlos Nobre
3. Preambulum, de Almeida Prado
4. Pequena seresta de Bach, de Edino Krieger
5. Preludiando, de Marisa Resende
6. Invocatio nº 1, de Marco Padilha
Suíte macambira, de Clóvis Pereira
7. Overture
8. O canto do cego
9. Dança característica
10. Coco embolado
11. Frevo canzonado
Não sei como ainda não tinha postado esse álbum. Talvez eu devesse ter postado logo depois de ter discutido as três fases de composição de Arvo Pärt no post de Für Alina.
Pois bem, aqui está: Collage über Bach. Obra da fase de transição de Arvo Pärt assim como também é a sinfonia No. 3, que é igualmente sensacional.
Certa vez ouvindo a terceira sinfonia até tive um sonho meio acordado com um balé que se passaria conforme os movimentos dessa sinfonia. Não, não usei nenhuma substância, é só que a música por si só, principalmente a de Pärt, consegue estimular minha mente absurdamente.
Arvo Pärt (1935): Tabula Rasa, Collage über Bach, Symphony No. 30
Tabula Rasa*
01 Ludus
02 Silentium
Collage über Bach
03 Toccata
04 Sarabande
05 Ricercare
Symphony No. 3
06 First Movemente
07 Second Movement
08 Third Movement
1. Que vocês digam nos comentários se vale a pena ou não a postagem dos 153 CDs da obra completa de Bach. Se as respostas forem positivas, este é o primeiro post. Obviamente, não postarei apenas Bach, mas terei sempre em vista a finalização desta série — a qual está fora de catálogo.
2. Que algum de vocês assuma a tarefa de informar, a cada CD, quem são seus intérpretes, quais são os nomes das Cantatas e as faixas, uma a uma. Eu coloco depois no post. Não encontrei esses detalhes na Internet e, como este blog é uma obra a muitas mãos e não ganhamos um tostão com ele, acharia legal se nossos leitores-ouvintes colaborassem com a reconstrução da maior de todas as obras.
Se as duas condições não forem satisfeitas, paro e vou postar outras coisas. Vocês decidem. Abaixo as Cantatas de 1 a 6.
Excelente versão de três peças muito pouco tocadas. “At the grave of Richard Wagner” é comovente. Já as peças de Berg e Webern requerem maior trabalho. Gravação excelente. Divirtam-se. Disco curtíssimo. Como esta apresentação.
Kronos Quartet — At the Grave of Richard Wagner
Franz Liszt (1811 – 1886)
1) At the Grave of Richard Wagner (2:47)
Alban Berg (1885 – 1935)
String Quartet, Op. 3 (19:03)
2) I
3) II
Anton Webern (1883- 1945)
Five Pieces, Op. 5 (10:38)
4) I
5) II
6) III
7) IV
8. V
KRONOS QUARTET:
David Harrington, violin
John Sherba, violin
Hank Dutt, viola
Joan Jeanrenaud, cello
Górecki, Reich e Crumb, o que esses três têm em comum além da contemporaneidade de suas músicas? Nada que eu saiba amiguinhos, a pergunta foi só pra instigar curiosidade mesmo.
Górecki usa elementos minimalistas nesses dois quartetos seus, mas não sei se falta um pouco mais de vísceras que já havia ouvido em outras composições suas ou se o Kronos Quartet “falha na missão”.
Reich é mais interessante, em sua música ele usa o elementos repetitivo e que vai se desenvolvendo aos poucos, embora aqui seja muito mais perceptível do que Music for 18 musicians por exemplo. Ele meio que brinca fazendo um contraponto minimalista e a música muda indo de uma repetição de tema à outro. E cada vez que um ou outro tema volta, ele volta com um elemento diferente. É genial. Ele adiciona umas vozes de radio também, puxando um elemento da eletroacústica, mas faz isso querendo anunciar o espírito de cada fase da música, por exemplo, New York é melancólica, Los Angeles é agitada, e quando volta à repetição New York to Los Angeles, que é meio que uma mistura, ele coloca uns sons de locomotiva. Uma brincadeira interessante. Com certeza uma música cheia de ideias que também é cheia de musicalidade.
Crumb chega pra não deixar pedra sobre pedra. Sua música é coisa que pirados como eu adoram. Ele faz inúmeras brincadeiras com elementos “não musicais”: a batida na madeira, um rangido, um suspiro, uma interjeição, etc. Mas não pense que isso tudo é sem coordenação como uma porcaria pós-moderna qualquer, na verdade ele consegue coordenar tudo isso muito bem, criando uma harmonia surpreendente. Dos três “porquinhos” aqui, ele é o mais criativo. Recomendo ouvir com o som bem alto e com muita atenção, pois a música dele está salpicada de detalhes quase inaudíveis.
Semana que vem trarei Terry Riley o oitavo disco da coleção juntamente com o nono, que trás obras de Alfred Schnittke.
25 Years of the Kronos Quartet [BOX SET 6 and 7/10]
Disc 6
Henryk Górecki (1904-1991):
Quasi una Fantasia, Quartet No. 2, Op. 64
01 I. Largo
02 II. Deciso – Energico (Marcatissimo sempre)
03 III. Arioso: Adagio cantabile
04 IV. Allegro (Sempre con grande passione e molto marcato)
Conheci muitas pessoas legais na rede. Uma das principais é este jovem talentoso que me “admoestou” por não ter escrito nada sobre a morte de Dietrich Fischer-Dieskau. Mas ele não é daqueles caras que apontam o problema sem encaminhar uma solução — os que apenas objetam servem para pouco. Então ele me mandou um arquivo com este CD (que até tenho em casa…) e um texto para a postagem, direto de Praga. É assim que se age! Gostaria de deixar bem clara minha profunda admiração por Gilberto Agostinho, a quem nunca vi e considero amigo.
PQP
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Dietrich Fischer-Dieskau, dono da maior voz masculina de todos os tempos, faleceu há exatamente uma semana atrás. Não foi um acontecimento trágico, muito pelo contrário: o cantor faleceu enquanto dormia, aos 86 anos de idade, em um pequeno vilarejo no sul da Alemanha.
Falar sobre sua morte como uma perda seria uma completa asneira, seria diminuir o que Dieskau fez em vida. Tendo se aposentado no Ano Novo de 1993, ele nos deixou uma imensa discografia — Dieskau é o cantor com o maior número de gravações de todos os tempos! Entre elas, gravações consideradas como definitivas, principalmente quando se trata de Schubert.
Mas se engana quem pensa que Dieskau se destacava somente quando cantava algum Lied de Schubert ou Schumann. Não, suas apresentações em óperas e oratórios são consideradas, no mínimo, geniais. Le miracle Fischer-Dieskau, como os franceses gostavam de chamá-lo, tinha um repertório gigantesco, tendo gravado muita coisa de Bach a Berg. Nas palavras do próprio, ele diz ter “realizado coisas demais…”
Dieskau foi um artista único, com um dom que possivelmente jamais será igualado. E isto tudo está registrado, tudo o que ele fez pode ser usufruído por nós hoje e amanhã. Portanto, aos emocionais e aos que buscam tragédia onde esta não se encontra, eis a minha honesta recomendação: abram uma garrafa de bom vinho, coloquem uma das oito gravações de Winterreise na vitrola, e homenageiem o artista como se deve.
Scriabin nasceu em Moscou. Estudou piano desde criança, tendo aulas com Nikolai Zverev, que foi também professor de Sergei Rachmaninoff. Depois, foi para o Conservatório de Moscou, onde estudou com Anton Arensky, Sergei Taneyev e Vasily Safonov. Tornou-se notável pianista, apesar de que sua pequena mão que cobria pouco mais de uma oitava. Doía tocar, ele afirmava. Scriabin era um humanista, tendo-se interessado na teoria do super-homem de Nietzsche e em teosofia. Ambas as teorias teriam influenciado sua música e pensamento musical. Entre 1909 e 1910 viveu em Bruxelas, onde estudou o movimento teosófico de Delville e se aprofundou em leituras de Helena Blavatsky.
Tudo frescura. Opa! Dane Rudhyar, teósofo e compositor, escreveu que Scriabin seria o pai da música do futuro”… e um antídoto para reacionários como Stravinsky e a Segunda Escola de Viena (Schoenberg e sua Tchurma).
Hipocondríaco, Scriabin morreu em Moscou de septicemia. Antes de sua morte, planejou um trabalho multimídia a ser apresentado no Himalaia, acerca de Armagedon “uma grandiosa síntese religiosa de todas as artes para anunciar o nascimento de um novo mundo”. A obra, “Mysterium”, permaneceu inacabada. Talvez por sorte nossa.
Era amigo de Vyacheslav Molotov, político russo e epônimo do coquetel Molotov.
Seus trabalhos são um desafio extremamente complexo. OK, de acordo, Scriabin deve ter sido um grande chato, mas sua música é do cacete e já estou até arrependido do que escrevi sobre o inacabado Armagedon…. O tal Poema do Êxtase é o máximo! O Concerto é aceitavelzinho, coisa de um Chopin moderno, o que certamente agradará os românticos tardios. Prometeu volta a encorpar o CD.
Boulez dá mais um banho nesta gravação, mas não há novidade nisso. Fui!
Alexander Scriabin (1872-1915): Poème De L’extase / Piano Concerto / Promethée
01. Le Poème de l’extase, Op. 54
02. Concerto for Piano and Orchestra in F sharp minor, Op. 20 I. Allegro
03. Concerto for Piano and Orchestra in F sharp minor, Op. 20 II. Andante
04. Concerto for Piano and Orchestra in F sharp minor, Op. 20 III. Allegro moderato
05. Promethée. Le Poème du Feu, Op. 60
Anatol Ugorski, piano
Chicago Symphony Chorus
Chicago Symphony Orchestra
Pierre Boulez
Arvo Pärt não é o compositor mais fã de obras para piano, ou teclas no geral, como vocês podem perceber. Em um álbum duplo, Jeroen van Veen conseguiu compilar todas as obras para o instrumento, e ainda teve que repetir algumas (risos).
Mesmo sendo poucas, são obras deliciosas. Für Alina vocês já conheciam, assim como Fratres, Pari Intervallo e Spiegel im Spiegel. Aqui todas essas obras estão para piano solo ou para dois pianos (no caso de Fratres, Pari Intervallo,Spiegel im Spiegel e Hymn To a Great City, obras que Jeroen toca com sua mulher, Sandra Van Veen).
A grande maioria das obras de Arvo Pärt são para vozes, ou possuem vozes, seja coro ou solistas, em algum momento. Mesmo assim, quando Pärt resolve fazer obras puramente instrumentais, ele sabe caprichar, como acontece por exemplo em Tabula Rasa.
O que Jeroen faz neste álbum duplo é interessante. No primeiro disco são apenas obras para piano da terceira fase de composição de Arvo Pärt (discuti sobre essas fases aqui). A que todos nós louvamos e adoramos. No segundo disco temos obras da primeira fase, e podemos perceber a influência de Schönberg em alguns momentos da música. Apesar disso, o segundo CD acaba com Für Alina, como se quisesse aliviar os ouvidos dos ouvintes da tensão característica do dodecafonismo que transparece em algumas das músicas da primeira fase de Pärt.
Arvo Pärt (1935): Für Anna Maria – complete piano music – Jeroen van Veen
CD 1
01 Für Alina (1976) [20:18]
02 Variations for the Healing of Arinushka (1977) [5:56]
03 Ukuaru valss (1973, rev. 2010) [2:54]
04 Für Anna Maria (2006) [1:21]
05 Für Alina (1976) [2:41]
06 Pari intervallo* (1976, rev. 2008) [5:26]
07 Hymn to a Great City* (1984, rev. 2004) [5:08]
10 Fratres* (1977, rev. 1980) [11:52]
11 Spiegel im Spiegel *(1978) [9:10]
08 Für Anna Maria (2006) [1:07]
09 Für Alina (1976) [3:15]
CD 2
Vier leichte Tanzstücke ‘musik für kindertheater’ (1956-57) [7:38]
01 I. Der gestiefelte Kater
02 II. Rotkäppchen und der Wolf
03 III. Schmetterlinge
04 IV. Tanz der Entenküken
Sonatina No. 1 (1959) [7:15]
05 I. Allegro
06 II. Larghetto
07 III. Allegro
Sonatina No. 2 (1959) [5:42]
08 I. Allegro energico
09 II. Largo
10 III. Allegro
Partita Op. 2 (1958) [7:18]
11 I. Toccatina
12 II. Fughetta
13 III. Larghetto
14 IV. Ostinato
15 Für Alina (1976) [23:06]
Jeroen van Veen, piano
*Sandra van Veen, segundo piano
Nos próximos dias, se tudo der certo, estaremos recebendo mais um colega no PQP Bach. Começamos a conversar em função de algo realmente preocupante: não quase Pärt em nosso acervo. Neste CD temos o curto Concerto para Violoncelo do compositor, a já antiga Perpetuum Mobile e três Sinfonias. A Nº 1, de 1964, foi escrita em dois movimentos e é poderosa com espetacular uso da percussão e uma fuga no final. A Nº 2 é bizarra com seus patinhos, flautinhas e trompinhas. A Nº 3 é esplêndida, uma espécie de virada no estilo do compositor, que seria completada em Tabula Rasa. Se vai baixar este CD pensando no Pärt contemplativo, esqueça. Aqui é porrada e humor. Coisas de gênio.
Arvo Pärt (1935):
Cello concerto ‘Pro et contra’, Perpetuum mobile, Symphonies Nos. 1-3
Concerto for Violoncello and Orchestra ‘Pro et contra’:
01. I. Maestoso (05:04)
02. II. Largo (00:32)
03. III. Allegro (03:23)
04. Perpetuum Mobile, op.10 (04:20)
Symphony No.1 ‘Polyphonic’:
05. I. Canons (09:50)
06. II. Prelude and Fugue (06:34)
Symphony No.2:
07. I. First Movement (05:24)
08. II. Second Movement (02:27)
09. III. Third Movement (06:07)
Symphony No.3:
10. I. First Movement (06:19)
11. II. Second Movement (06:24)
12. III. Third Movement (08:31)
Frans Helmerson, cello
Bamberger Symphoniker
Neeme Järvi
Sir Thomas Augustine Arne foi um prolífico compositor de música para o palco e importante figura no teatro inglês do século XVIII. É considerado o catalisador para a revitalização da ópera no início dos anos 1730. É muito famoso por ser o autor do hino nacional do Reino Unido, God Save the Queen. Arne foi o único compositor inglês de sua época capaz de competir com sucesso com compositores como Haendel, que era o ponta de lança da cena musical britânica do século XVIII.
Esse CD — de 20 anos atrás — é maravilhoso! Emma Kirkby está no auge de sua voz e vivacidade. E a música de Arne é efetivamente muito boa. Confira!
E daí, magrão?
Thomas Arne (1710-1778): Dr Arne At Vauxhall Gardens
1 Six Cantats, For A voice And Instruments: No. 5 The Morning
2 Sigh No More, Ladies
3 What Tho’ His Guilt
4 Cymon And Iphigenia
5 Six Cantatas, For A Voice And Instruments: No. 3. Frolic And Free
6 Thou Soft Flowing Avon
7 Jenny
8 Winter’s Amusement: The Lover’s Recantation
Emma Kirkby
Richard Morton
Parley of Instruments
Roy Goodman
Vamos brincar de trava língua? Paavo Järvi rege Arvo Pärt também mas nem tão bem quanto Neeme Järvi rege. Tentem dizer isso bem rápido.
Pois é, hoje trago dois álbuns bem semelhantes, ambos focam nas obras de primeira e segunda fase de Arvo Pärt, enquanto suas interpretações também são bastante semelhantes, mas como disse no trava língua, Neeme, que é pai de Paavo, se sai um pouco melhor. Aqui, o filho não superou o pai.
No último post tive a ideia de trazer mais duas interpretações de Collage über Bach pra vocês, assim vocês podem compará-las. Mas não só por isso trago esses álbuns hoje, temos muitas obras pouco conhecidas, a maioria instrumentais, muitas sendo da primeira ou da segunda fase de Arvo Pärt. Mas no álbum COLLAGE temos algumas obras da terceira fase que vocês já conhecem: Summa e Fratres. E a antes inédita aqui no blog, Festina Lente. Neste monte de coisa tem duas obras pouco conhecidas que nem eu conhecia que no caso são Meie aed e Wenn Bach Bienen gezuechtet haette (eita, que nome grande).
A interpretação de Collage über Bach de Neeme Järvi é sensacional. Lembro que quando eu a ouvi pela primeira vez no carro de uma amiga que estava me dando uma carona eu senti como se a ouvisse pela primeira vez. Paavo chega quase no mesmo ponto em sua interpretação, mas não leva o prêmio.
Por algum motivo eu consegui até gostar das duas primeiras sinfonias nestes álbuns, principalmente nas interpretações de Neeme. Talvez eu esteja me tornando mais radical nos meus gostos auditivos. De qualquer forma, elas nunca serão melhores que a terceira sinfonia, que postei semana passada (assim como PQP já havia feito). A terceira sinfonia consegue ser melhor até mesmo que a quarta, que foi composta em 2008, a chamada Los Angeles. Quando eu a trarei para que vocês possam ouvir me perguntam? No futuro meus caros, no futuro…
Arvo Pärt (1935): Collage & Pro et Contra
COLLAGE
Collage sur B-A-C-H
01 I. Tocatta. Preciso
02 II. Sarabande. Lento
03 III. Ricercar. Deciso
04 Summa, for strings
05 Wenn Bach Bienen gezuechtet haette
06 Fratres, for string orchestra and percussion
Symphony No. 2
07 I
08 II
09 III
10 Festina Lente, for string orchestra and harp ad libitum
11 Credo, for piano solo, mixed choir and orchestra*
Philharmonia Orchestra
Neeme Järvi, conductor
Boris Berman, piano*
Como prometido, aqui está. Outra interpretação de Salve Regina, que, como eu havia dito, é melhor que a interpretação feita por Tõnu Kaljuste. Além dessa obra, existem outras coisinhas legais aqui. A obra inicial que dá título ao álbum, Da Pacem Domine, é tremendamente linda, não é a toa que são vários os álbuns com obras de Arvo Pärt em que ela está inserida. An Den Wassern zu Babel, cuja tradução é Pelos Rios da Babilônia, nos lembra em alguns momentos – principalmente durante o solo do baixo – o cantochão tradicional e a influência árabe que eu já tinha discutido anteriormente.
Um certo alguém pela internet pegou umas cenas do filme Sátántangó de Béla Tarr, juntou com Salve Regina de Arvo Pärt e fez um belíssimo vídeo que transmite toda a espiritualidade da música. E, talvez, não só desta música em específico, como também o espirito geral da música de Arvo Pärt…
Arvo Pärt (1935): Da Pacem
01 Da Pacem Domine
02 Salve Regina
Zwei slawische Psalmen:
03 I. Psalm 117
04 II. Psalm 131
05 Magnificat
06 An Den Wassern zu Babel
Tiit Kogerman, tenor
Aarne Talvik, baixo
07 Dopo la vittoria
08 Nunc dimittis
09 Littlemore Tractus
Estonian Philharmonic Chamber Choir
Christopher Bowers-Broadbent, orgão (faixas 2, 6, 9)
Kaia Urb, soprano (5, 6, 8)
Paul Hillier, regente
Caminhando uma noite qualquer por Nova York nos anos 40 ou 50, você podia acabar caindo em um clube – digamos, Minton’s ou Five Spot – e dar de cara com músicos como Monk, Coltrane e Dizzy Gillespie cozinhando revoluções no jazz. Rio de Janeiro, começo dos anos 60, se passasse pelo pequeno Beco das Garrafas, a sensação não seria diferente: jovens estudados em discos americanos injetavam novas possibilidades na bossa nova criando o samba-jazz.
São Paulo, 2010, por uma rua do Centro ou Pinheiros, momento parece oferecer efervescência similar. Jovens na faixa dos vinte e algo se juntam em diversas formações e dezenas de grupos, tocam em cada vez mais casas dedicadas ao gênero, para um público cada vez maior e mais interessado e trazem novas idéias ao jazz feito na cidade.
Continuando uma tradição paulistana que já viveu momentos de auge nos bares do Centro como Baiúca e Juão Sebastião Bar na década de 50 e pequenos bares como Supremo Musical nos anos 00, hoje você pode sair em qualquer dia da semana e ouvir música criada no calor do momento.
É uma excelente notícia. Fazemos música de tantos estilos, porque não o jazz? Ora bolas. Deveria ser fácil sair à noite para ocupar um bom bar de jazz. Pelo jeito, em SP isso está se tornando possível. No vilarejo onde moro, infelizmente, isso não passa de sonho. Ficarei invejando.
(Os leitores estão convidados a usar os comentários para dar suas dicas locais de jazz, se houver. E eu faço votos que haja.)
——
Sem nenhuma relação aparente, mas pra não fazer um post sem música, deixo um disquinho fantástico. (Que sempre começo ouvindo pelo lado B. Mania.) Quem quiser um review, pode ler aqui, do AMG; quem gosta de efemérides pode viajar na imaginação. O álbum foi gravado em duas sessões, 14 e 15 de maio de 1957, ou seja: praticamente aniversariando. (É uma bobagem, mas acrescenta um certo sabor. Ou sou só eu?)
Art Blakey’s Jazz Messengers with Thelonious Monk /1958 (V2)
A
01 Evidence (Monk)
02 In Walked Bud (Monk)
03 Blue Monk (Monk)
B
04 I Mean You (Monk, Hawkins)
05 Rhythm-A-Ning (Monk)
06 Purple Shades (Griffin)
Bonus tracks (edição de 1999)
07 Evidence [alt take]
08 Blue Monk [alt take]
09 I Mean You [alt take]
Art Blakey: drums
Thelonious Monk: piano
Johnny Griffin: tenor saxophone
Bill Hardman: trumpet
Spanky DeBrest: bass
Produzido por Nesuhi Ertegün para a Atlantic
Eloy Arósio é um de nossos leitores ouvintes. Ele nos enviou uma obra para ser postada no PQP Bach. Abaixo, publicamos uma explicação acerca de sua música e de seu processo criativo. Sei pouquíssimo a respeito do Eloy, que não á das pessoas mais presentes na redes sociais ou no e-mail. À princípio, ele não tinha dado um título a sua música. Quando lhe solicitei, ele respondeu: Op.1 – Piano Solo. Educadamente, ele pediu para que eu colocasse o nome da cada movimento com sua tonalidade ao lado. O nome deles eu tinha, mas o tom eu só tinha o do Prelúdio. Apesar do estilo meio macambúzio desta introdução, não pensem que estou reclamando de algo, apenas acho estranho… Espero que ele nos dê os esclarecimentos faltantes nos comentários. Aguardemos. Abaixo uma apresentação escrita por ele.
.oOo.
Olá! Meu nome é Eloy Arósio. Sou um compositor autodidata e compartilho através do P.Q.P. Bach minha primeira obra. Agradeço pelo espaço cedido.
Por ser autodidata, minha obra é muito empírica. Por isso, não há nada nela de teoria num sentido mais pragmático. Ela é guiada por uma abstração de sentido (linguagem). Compus melodias e contrapontos que buscam a música em nível emocional em vez de sistemas para o intelecto e a academia. Apesar disto, tenho intenções intelectuais com a música, mas em segundo plano.
Criei algo que é tanto baseado em minhas influências e origens. Espero que possam excluir o mecânico da música.
Gostaria de entrar em contato com os instrumentistas profissionais que apreciarem meu trabalho. Deixo meus contatos, como minha vida passa por uma situação delicada, deixo qualquer tipo de contato, pois não sei onde estarei amanhã.
Eloy Arósio (1988): Op. 1 – Piano Solo
I. Largo Meno Mosso
II. Prelúdio – Dó Maior
III. Fuga
Durante quase trezentos anos os ingleses foram tiranizados com a maior TORTURA e CENSURA a qual um povo foi submetido. Como se não bastasse a MEDONHA RAINHA VITÓRIA — , eles eram obrigados a ingerir COMIDA INTRAGÁVEL e a OUVIR MÚSICA RUIM. Imaginem um povo que foi de tal modo cerceado que nada, mas absolutamente nada, houve entre PURCELL e BRITTEN.
POBRES INGLESES, ABANDONADOS NAQUELA ILHA ÚMIDA SEM MÚSICA!
A CENSURA apenas valia para os NATIVOS, pois aos COMPOSITORES IMPORTADOS era permitido FLANAREM LIVREMENTE compondo obras-primas, casos de HANDEL e HAYDN.
Porém, houve um cidadão que conseguiu FURAR O BLOQUEIO imposto pela censura pré e pós vitoriana compondo a ÚNICA OBRA DE VERDADEIRA ARTE MUSICAL daquele sofrido país insular. É com o coração na mão e peito CONFRANGIDO que anuncio a grande ópera ARTAXERXES, composta pelo DESTEMIDO e INCONFORMADO Thomas ARNE, o qual, cansado das MULHERES HORROROSAS, da COMIDA VOMITANTE e, PRESCIENTE, já prevendo a música LASTIMÁVEL de ELGAR e NYMAN, logrou mover a ilha em DIREÇÃO À BOA MÚSICA.
Os ingleses — TODOS REFUGIADOS NA LITERATURA — ficaram ABISMADOS com Artaxerxes e — após décadas de MÚSICA DE MERDA e COMIDA PODRE — mal puderam AVALIAR a obra que lhes chegara pelas artes deste ARNE não-SAKNUSSEN.
É com extremo ORGULHO que PQP BACH lhes apresenta a REDENÇÃO de todo um povo amordaçado… O resto vocês já aprenderam.
É como se, em plena MISÉRIA GASTRONÔMICA, lhes aparecesse sem maior aviso NIGELLA — uma CHEF que, como se não lhe bastasse a COMIDA, ainda fosse TESUDA e GOSTOSA. Ou seja, uma novidade DE CABO A RABO!
Thomas ARNE e seu ARTAXERXES foi isso, uma Nigella Lawson em meio aos rosbifes sem tempero da FEIOSA Rainha Vitória. E baixem logo este grande CD, antes que eu me IRRITE.
Thomas Augustin Arne: Artaxerxes
Disc: 1
1. Artaxerxes: Overture: Poco piu che andante – Larghetto – Gavotta
2. Artaxerxes: Act 1, Recit: Still Silence Reigns Around (Mandane)
3. Artaxerxes: Act 1, Duettino: Fair Aurora, Pr’ythee Stay (Mandane, Arbaces)
4. Artaxerxes: Act 1, Recit: Alas, Thou Know’st That For My Love Of Thee (Arbaces)
5. Artaxerxes: Act 1, Air: Adieu, Thou Lovely Youth (Mandane)
6. Artaxerxes: Act 1, Recit: O Cruel Parting! (Mandane)
7. Artaxerxes: Act 1, Air: Amid A Thousand Racking Woes (Arbaces)
8. Artaxerxes: Act 1, Recit: Be Firm My Heart (Artabanes)
9. Artaxerxes: Act 1, Air: Behold, On Lethe’s Dismal Strand (Artabanes)
10. Artaxerxes: Act 1, Recit: Stay, Artaxerxes, Stay (Semira)
11. Artaxerxes: Act 1, Air: Fair Semira, Lovely Maid (Artaxerxes)
12. Artaxerxes: Act 1, Recit: I Fear Some Dread Disaster (Semira)
13. Artaxerxes: Act 1, Air: When Real Joys We Miss (Rimenes)
14. Artaxerxes: Act 1, Recit: Ye Gods, Protectors Of The Persian Empire (Semira)
15. Artaxerxes: Act 1, Air: How Hard Is The Fate (Semira)
16. Artaxerxes: Act 1, Recit: Where Do I Fly? (Mandane)
17. Artaxerxes: Act 1, Air: Thy Father! Away, I Renounce The Soft Claim (Artabanes)
18. Artaxerxes: Act 1, Recit: Ye Cruel Gods, What Crime Have I Committed? (Arbaces)
19. Artaxerxes: Act 1, Air: Acquit Thee Of This Foul Offence (Semira)
20. Artaxerxes: Act 1, Recit: Appearance, I Must Own, Is Strong Against Me (Arbaces)
21. Artaxerxes: Act 1, Air: O Too Lovely, Too Unkind (Arbaces)
22. Artaxerxes: Act 1, Recit (Accomp): Dear And Beloved Shade Of My Dead Father (Mandane)
23. Artaxerxes: Act 1, Air: Fly, Soft Ideas, Fly (Mandane)
24. Artaxerxes: Act 2, Recit: Guards, Speed Ye To The Tower (Artaxerxes)
25. Artaxerxes: Act 2, Air: In Infancy, Our Hopes An Fears (Artaxerxes)
26. Artaxerxes: Act 2, Recit: So Far My Great Resolve Succeeds (Artabanes)
27. Artaxerxes: Act 2, Air: Disdainful You Fly Me (Arbaces)
28. Artaxerxes: Act 2, Recit: Why, My Dear Friend, So Pensive, So Inactive? (Rimenes)
29. Artaxerxes: Act 2, Air: To Sigh And Complain (Rimenes)
30. Artaxerxes: Act 2, Recit: How Many Links To Dire Misfortune’s Chain! (Semira)
31. Artaxerxes: Act 2, Air: If O’er The Cruel Tyrant Love (Mandane)
32. Artaxerxes: Act 2, Recit: Which Fatal Evil Shall I First Oppose? (Semira)
33. Artaxerxes: Act 2, Air: If The River’s Swelling Waves (Semira)
Disc: 2
1. Artaxerxes: Act 2, Recit: Ye Solid Pillars Of The Persian Empire (Artaxerxes)
2. Artaxerxes: Act 2, Air: By That Belov’d Embrace (Arbaces)
3. Artaxerxes: Act 2, Recit: Ah Me! At Poor Arbaces Parting (Mandane)
4. Artaxerxes: Act 2, Air: Monster, Away! (Mandane)
5. Artaxerxes: Act 2, Recit: See, Lov’d Semira! (Artaxerxes)
6. Artaxerxes: Act 2, Air: Thou, Like The Glorious Sun (Artabanes)
7. Artaxerxes: Act 3, Arietta: Why Is Death For Ever Late (Arbaces)
8. Artaxerxes: Act 3, Recit: Arbaces! (Artaxerxes)
9. Artaxerxes: Act 3, Air: Water Parted From The Sea (Arbaces)
10. Artaxerxes: Act 3, Recit: That Front, Secure In Conscious Innocence (Artaxerxes)
11. Artaxerxes: Act 3, Air: Tho’ Oft A Cloud, With Envious Shade (Artaxerxes)
12. Artaxerxes: Act 3, Recit: My Son, Arbaces – Where Art Thou Retir’d? (Artabanes)
13. Artaxerxes: Act 3, Air: O Let The Danger Of A Son (Rimenes)
14. Artaxerxes: Act 3, Recit (Accomp): Ye Adverse Gods! (Artabanes)
15. Artaxerxes: Act 3, Air: O, Much Lov’d Son, If Death (Artabanes)
16. Artaxerxes: Act 3, Recit: Perhaps The King Releas’d Arbaces (Mandane)
17. Artaxerxes: Act 3, Air: Let Not Rage Thy Bosom Firing (Mandane)
18. Artaxerxes: Act 3, Recit: What Have I Done! Alas, I Vainly Thought (Semira)
19. Artaxerxes: Act 3, Air: ‘Tis Not True, That In Our Grief (Semira)
20. Artaxerxes: Act 3, Recit: Nor Here My Searching Eyes Can Find Mandane (Arbaces)
21. Artaxerxes: Act 3, Duetto: For Thee I Live, My Dearest (Arbaces, Mandane)
22. Artaxerxes: Act 3, Recit: To You, My People, Much Belov’d, I Offer (Artaxerxes)
23. Artaxerxes: Act 3, Air: The Soldier, Tir’d Of War’s Alarms (Mandane)
24. Artaxerxes: Act 3, Recit: Behold My King, Arbaces At Thy Feet (Arbaces)
25. Artaxerxes: Act 3, Chorus: Live To Us, To Empire Live
Artaxerxes – CHRISTOPHER ROBSON countertenor
Arrabanes – IAN PARTRIDGE tenor
Arbaces – PATRICIA SPENCE mezzo soprano
Rimenes – RICHARD EDGAR-WILSON tenor
Mandane – CATHERINE BOTT soprano
Semira – PHILIPPA HYDE soprano
Chorus – COLIN CAMPBELL, CHARLES GIBBS bass
Para variar, mais um CD sensacional da Hyperion, desta vez sobre o grande Thomas Arne, compositor obscuro mas do qual gosto muito. Arne é um sujeito inventivo e que merece o foco da gravadora e os registros luxuosos (e respeitosos) da The Parley of Instruments Baroque Orchestra. Sua música é espalhafatosa, surpreendente e, bem, ele tem problemas para combinar o som delicado do cravo com sua super instrumentação. Mas isso é motivo de risadas e prazer para nós, ouvintes.
Sir Thomas Augustine Arne foi um compositor de óperas — já postamos a sensacional Artaxerxes, de sua autoria — , violinista e tecladista britânico.
Foi um prolífico compositor de música para palco, importante figura no teatro Inglês do século XVIII é considerado o catalisador para a revitalização da ópera no início dos anos 1730. Arne foi o único compositor inglês nativo de seu tempo capaz de competir com sucesso com compositores como Georg Friedrich Handel, que monopolizava a cena musical britânica durante o século XVIII.
Divirtam-se.
Thomas Arne (1710-1787): Six Favourite Concertos
Harpsichord Concerto in C major
1 Movement 1: Largo ma con spirito [1’06]
2 Movement 2: Andante [4’57]
3 Movement 3: Allegro [2’13]
4 Movement 4: Minuetto [5’08]
Paul Nicholson (harpsichord)
Organ Concerto in G najor
5 Movement 1: Allegro [4’26]
6 Movement 2: Slow [1’00]
7 Movement 3: Moderato [0’41]
8 Movement 4: Allegro [2’15]
9 Movement 5: Giga. Allegro con spirito [3’07]
Paul Nicholson (organ)
Piano Concerto in A major
10 Movement 1: Con spirito [6’13]
11 Movement 2: Con spirito [2’04]
12 Movement 3: Minuetto [3’14]
13 Movement 4: Moderato [5’02]
Paul Nicholson (piano)
Organ Concerto in B flat major
14 Movement 1: Largo, ma con spirito [5’51]
15 Movement 2: Minuetto [2’19]
16 Movement 3: Giga. Moderato [3’13]
Paul Nicholson (organ)
Harpsichord Concerto in G minor
17 Movement 1: Largo [2’21]
18 Movement 2: Allegro spirito [3’39]
19 Movement 3: Adagio [1’19]
20 Movement 4: Vivace [4’39]
Paul Nicholson (harpsichord)
Piano Concerto in B flat major
21 Movement 1: Allegro moderato [6’12]
22 Movement 2: Largo – Veloce [1’58]
23 Movement 3: Allegro [1’25]Paul Nicholson (piano)
24 Movement 4: Minuetto [2’14]
Paul Nicholson (piano)
The Parley of Instruments Baroque Orchestra
Paul Nicholson
Aqui não tem eufemismo, paenas uma bela metáfora. Roubado de estranhos (ou estrangeiros), é um álbum onde o compositor Jun Miyake “rouba” referências, estilos, palavras, artistas, etc. das mais diferentes culturas e povos pelo mundo. Mas não se preocupe, não vira uma salada, mas sim uma das mais belas homenagens à pluralidade de culturas que alguém já fez.
A linguagem é o mote deste álbum. A linguagem oral é impecavelmente explorada na sua máxima beleza (o canto) e é mesclada com outras formas de linguagem: a musical e a escrita. Quero dizer, é quase como uma linguagem assumisse a forma da outra. É tudo muito poético, lírico e musical.
Podemos sentir entre uma faixa e outra as referências de Jun Myiake: o jazz, a bossa nova, a banda sinfônica, o samba, o folk eslavo, etc. São referências demais que eu mal consigo captar.
Para os amantes e conhecedores de diversas culturas — que sei que povoam esse blog em abundância — este álbum é um tesouro. Vamos desde um belíssimo poema em português cantado com o português brasileiro de Arto Lidsay, até para uma faixa onde ouvimos um búlgaro cantado por um coral que acompanha uma leve guinada à música árabe.
O álbum termina com a cultura do próprio compositor, a japonesa, e nos brinda com uma leve nostalgia do tipo que sentimos ao ver um pôr-do-sol. Sim, ótima ideia, termine de ouvir esse álbum assistindo a beleza nostálgica de um crepúsculo.
Jun Miyake (1958): Stolen From Strangers
01 Alviverde
02 O FIM
03 tHe heRe aNd afTer
04 Turn Back
05 abandon sight
06 Le Voyage Solitaire
07 Easturn
08 Le mec dans un train
09 est-ce que tu peux me voir?
10 Outros Escuros
11 Overture ~ but the rainbow is so far away
12 Niji wa Tohku
Arto Lindsay
Lisa Papineau
Vinicius Cantuaria
Dhafer Youssef
Arthur H.
Bulgarian Symphony Orchestra
Bulgarian Choir
Deyan Pavlov, conductor
Um CD perfeito, impecável. Registro ao vivo do concerto apresentado pelos pianistas no Festival de Salzburgo em 2009, este Salzburg é uma enorme demonstração não apenas de talento, mas da integração entre dois artistas de primeiríssima linha. Argerich e Freire são grandes amigos, talvez mais do que isso, e têm há anos estas peças em seu repertório. Apresentaram-nas em Porto Alegre faz uns oito anos e, quando dos autógrafos, levei um vinil com parte daquele repertório gravado pelos dois. A capa (abaixo) era quente, com Martha e Nélson encarando-se como se fossem se atirar um sobre o outro. Martha olhou a capa, pôs a mão sobre a boca, olhou para mim, olhou para a capa e escreveu algo assim: “Mira, yo no era la bruja que soy hoy!”. Me entregou o disco com um enorme sorriso e perguntou se eu tinha gostado do concerto. Respondi com a obviedade esperada. Li a dedicatória. Gaguejei, mas saiu alguma coisa como “Imagina, tu não és e nunca serás uma bruxa!”. Ao lado, Freire leu a dedicatória de Martha, sorriu e apenas assinou ao lado. Tenho o disco até hoje, claro, é uma das minhas poucas relíquias.
Johannes Brahms (1833-1897) — Variations on a Theme by Haydn, ‘St Antoni Chorale’, Op. 56b
1. Variations On A Theme By Haydn,”St. Anthony Variations”, Op. 56b – Chorale St. Antoni: Andante 2:01
2. Variations On A Theme By Haydn, ”St. Anthony Variations”, Op. 56b – Var. I: Andante Con Moto (Poco Più Animato) 1:01
3. Variations On A Theme By Haydn, ”St. Anthony Variations”, Op. 56b – Var. II: Più Vivace 0:57
4. Variations On A Theme By Haydn, ”St. Anthony Variations”, Op. 56b – Var. III: Con Moto 1:45
5. Variations On A Theme By Haydn, ”St. Anthony Variations”, Op. 56b – Var. IV: Andante Con Moto 1:45
6. Variations On A Theme By Haydn, ”St. Anthony Variations”, Op. 56b – Var. V: Poco Presto (Vivace) 0:53
7. Variations On A Theme By Haydn, ”St. Anthony Variations”, Op. 56b – Var. VI: Vivace 1:15
8. Variations On A Theme By Haydn, ”St. Anthony Variations”, Op. 56b – Var. VII: Grazioso Martha Argerich 2:47
9. Variations On A Theme By Haydn, “St. Anthony Variations”, Op. 56b – Var. VIII: Poco Presto 0:49
10. Variations On A Theme By Haydn, ”St. Anthony Variations”, Op. 56b – Finale: Andante 3:55
Sergei Rachmaninov (1873-1943) — Symphonic Dances, Op. 45
11. Symphonic Dances, Op.45 – Two Pianos – 1. Non Allegro 11:17
12. Symphonic Dances, Op.45 – Two Pianos – 2. Andante Con Moto (Tempo Di Valse) 8:11
13. Symphonic Dances, Op.45 – Two Pianos – 3. Lento Assai – Allegro Vivace 12:30
Franz Schubert (1797-1828) — Rondo for Piano 4 hands in A major, D 951 “Grand Rondo”
14. Grand Rondeau In A Major, D 951 – Allegretto Quasi Andantino 11:10
Maurice Ravel (1875-1937) — La valse
15. La Valse – Poème Choréographique – La Valse – Poème Choréographique 12:09
Este é aquele CD que chamo de consistente. Ele cumpre sua função. São 8 boas aberturas barrocas, bem alegres e brilhantes. A interpretação é estupenda. Hogwood não erra nunca. Mas não passa disso. Aqui, Arne não “magica”, não é original, torna-se tão previsível quanto as críticas de Veja à quaisquer esquerdas, mesmo a mais débil. Faz mais ou menos uma semana, ouvi o disco com prazer. Passadas duas horas, já tinha esquecido dele. Entenderam?
Thomas Arne (1710-1778): Eight Overtures
1. Overture No.3 in G 5:07
2. Overture No.1 in E minor 8:06
3. Overture No.2 in A major 6:19
4. Overture No.4 in F major 7:11
5. Overture No.5 in D major 7:08
6. Overture No.6 in B flat major 6:25
7. Overture No.7 in D major 6:13
8. Overture No.8 in G minor 9:05
Até agora esse é o melhor álbum da coleção. Três compositores bem exóticos, Osvaldo Golijov da Argentina, Sofia Gubaidulina da Rússia e Franghiz Ali-Zadeh, compositora nascida no Azerbaijão.
A obra que mais gostei foi a de Golijov. Coincidentemente estava ouvindo um CD do Piazzolla antes de ouvi-lo. Não se enganem, a música deles nada se assemelham.
A música de Golijov, talvez por sua família ser emigrada da Romênia e serem judeus, possui uma forte identidade oriental, mais exatamente árabe/hebraica. Claro, essa foi a primeira e única música que ouvi dele, talvez ele não siga essa tendência em outras obras, mas o que podemos sentir aqui é intensamente prazeroso de tão exótico.
Depois temos Sofia Gubaidulina, num quarteto arrasador que de forma muito interessante, usa gravações do próprio quarteto executante durante a execução. É quase um trio de quartetos feito pelo mesmo quarteto. Duas “execuções”, não da mesma música, mas de outras partes da música são gravadas, enquanto a terceira é executada ao vivo. É claro que aqui não vai fazer diferença, já que ouviremos tudo gravado. De qualquer forma, o Kronos Quartet, como lhes é de costume, executa essa dificílima obra com maestria.
Por fim temos a compositora Franghiz Ali-Zadeh, com a obra Mugam Sayagi. “No estilo de mugam” (tradução literal de mugam sayagi) é uma tentativa bem sucedida da compositora de trazer elementos da cultura musical de seu país e ao mesmo tempo fazer música avant-garde.
Sobre este álbum eu resumiria dizendo que é o tipo de música que dá vontade de sair distribuindo por aí para mostrar como que a música contemporânea é boa e consegue ser muito mais interessante que alguns clássicos.
Semana que vem trarei o sexto álbum da coleção com Henryk Górecki, e o sétimo álbum com Steve Reich e George Crumb.
25 Years of the Kronos Quartet [BOX SET 5/10]
Osvaldo Golijov (1960):
The dreams and Prayers of Isaac the Blind
01 Prelude
02 I. Agitato – Con fuoco – Maestoso – Senza misura, oscilante
03 II. Teneramente – Ruvido – Presto
04 III. Calmo, sospeso – Allego pesante
05. Postlude: Lento, liberamente
Sofia Gubaidulina (1931):
06 Quartet No. 4
Franghiz Ali-Zadeh (1947):
07 Mugam Sayagi
Kronos Quartet:
David Harrington, violin
John Sherba, violin
Hank Dutt, viola
Joan Jeanrenaud, cello
David Krakauer, clarinet, bass clarinet, basset horn
Como sou uma pessoa original, gosto dos argentinos, principalmente quando o assunto não é futebol. Mas em 2008 certo blog hermano resolveu postar apenas o Trio Nº 1 de Arensky. O segundo não interessa. OK, interessa muito pouco, mas… Qual é a deles? Postar um CD pela metade!?!?
Pois em verdade vos digo que o Trio Nº 1 de Arensky é uma obra-prima como poucas. Ele é daqueles compositores de apenas uma obra, mas QUE OBRA, senhores. FDP BACH IRÁ ADORAR a elegância do romantismo impecável deste russo que morreu jovem sob os efeitos da bebida, deixando credores em todas as mesas de jogos de São Petersburgo, Moscou e Helsinki. Francamente, Anton!
A interpretação do Beaux Arts é um capítulo à parte, sendo este tão perfeito que nem ouso falar a respeito.
Arensky: Trio No. 1 In D, Op. 32
1. Allegro Moderato – Adagio 12:41
2. Scherzo, Allegro Molto 6:05
3. Elegia, Adagio 6:47
4. Finale. Allegro Non Troppo – Adagio – Allegro Molto 6:05
Muito bom CD. São dois lindíssimos concertos, interpretados magnificamente por Arabella Steinbacher. O de Berg é uma homenagem póstuma a Manon Gropius, filha de Alma Mahler e Walter Gropius, morta na adolescência (não conferi), e recebeu a alcunha de “À Memória de um Anjo”. O de Beethoven é uma das referências do gênero, talvez a maior delas. A junção é estranha, mas compreensível. O critério foi a qualidade e o bom gosto de alguém, provavelmente de Arabella. Ela e a orquestra de Colônia fazem um esplêndido trabalho que todo pequepiano deve conferir. Com interpretações de rara sensibilidade, Arabella dá um show no Larghetto do Concerto de Beethoven.
Alban Berg (1885-1935) e Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concertos para Violino
Beethoven
3.1. Violin Concerto in D major, Op. 61: Allegro ma non troppo
4.2.Violin Concerto in D major, Op. 61: Larghetto
5.3 Violin Concerto in D major, Op. 61: Rondo: Allegro
Arabella Steinbacher, violino
WDR Symphony Orchestra, Colonia
Andris Nelsons
Este é o tipo de gravação histórica que faz a alegria de F.D.P. Bach. Este registro do I Musici data de 1966. Os 12 Concerti Grossi, Op.6, são uma coleção concertos escritos por Arcangelo Corelli, organizados para publicação em 1708. Aqui estão alguns dos melhores exemplos do estilo barroco. Os Concerti Grossi são Concertos para um grupo concertino de dois violinos e violoncelo e um grupo ripieno de 2 violinos, violoncelo e contínuo. Os primeiros oito são da chiesa enquanto que os quatro últimos são da camera.
Arcangelo Corelli (1653-1713): The Complete Concerto Grossi Op.6 (I Musici)
01. No.1 in D – Largo – Allegro (2:51)
02. No.1 in D – Largo Allegro (3:33)
03. No.1 in D – Largo (3:44)
04. No.1 in D – Allegro (1:51)
05. No.1 in D – Allegro (2:17)
06. No.2 in F – Vivace – Allegro – Adagio – Vivace – Allegro – Largo andante (4:31)
07. No.2 in F – Allegro (1:54)
08. No.2 in F – Grave – Andante largo (1:58)
09. No.2 in F – Allegro (2:20)
10. No.3 in C minor – Largo (2:16)
11. No.3 in C minor – Allegro (2:25)
12. No.3 in C minor – Grave (2:07)
13. No.3 in C minor – Vivace (2:25)
14. No.3 in C minor – Allegro (2:43)
15. No.4 in D – Adagio – Allegro (3:35)
16. No.4 in D – Adagio (2:11)
17. No.4 in D – Vivace (1:09)
18. No.4 in D – Allegro (2:44)
19. No.4 in D – Allegro (0:49)
20. No.5 in B flat – Adagio – Allegro (3:32)
21. No.5 in B flat – Adagio (2:05)
22. No.5 in B flat – Allegro (2:09)
23. No.5 in B flat – Largo (1:08)
24. No.5 in B flat – Allegro (2:36)
25. No.6 in F – Adagio (1:59)
26. No.6 in F – Allegro (2:04)
27. No.6 in F – Largo (4:24)
28. No.6 in F – Vivace (2:19)
29. No.6 in F – Allegro (3:23)
01. No.7 in D – Vivace – Allegro – Adagio (2:52)
02. No.7 in D – Allegro (2:01)
03. No.7 in D – Andante largo (3:22)
04. No.7 in D – Allegro (1:15)
05. No.7 in D – Vivace (1:23)
06. No.8 in G minor – Vivace – Grave (1:58)
07. No.8 in G minor – Allegro (2:35)
08. No.8 in G minor – Adagio – Allegro – Adagio (3:35)
09. No.8 in G minor – Vivace (1:21)
10. No.8 in G minor – Allegro (2:31)
11. No.8 in G minor – Pastorale – Largo (4:32)
12. No.9 in F – Preludio. Largo (1:41)
13. No.9 in F – Allemanda. Allegro (2:57)
14. No.9 in F – Corrente. Vivace (1:53)
15. No.9 in F – Gavotta. Allegro (1:05)
16. No.9 in F – Adagio (1:04)
17. No.9 in F – Minuetto. Vivace (2:03)
18. No.10 in C – Preludio. Andante largo (2:37)
19. No.10 in C – Allemanda. Allegro (3:00)
20. No.10 in C – Adagio (1:16)
21. No.10 in C – Corrente. Vivace (2:54)
22. No.10 in C – Allegro (3:08)
23. No.10 in C – Minuetto. Vivace (1:55)
24. No.11 in B flat – Preludio. Andante largo (2:37)
25. No.11 in B flat – Allemanda. Allegro (2:54)
26. No.11 in B flat – Adagio – Andante largo (2:22)
27. No.11 in B flat – Sarabanda. Largo (1:35)
28. No.11 in B flat – Giga. Vivace (1:27)
29. No.12 in F – Preludio. Adagio (2:31)
30. No.12 in F – Allegro (2:40)
31. No.12 in F – Adagio (2:25)
32. No.12 in F – Sarabanda. Vivace (1:09)
33. No.12 in F – Giga. Allegro (3:08)
Felix Ayo & Arnaldo apostoli: violins
Enzo Altobelli: violoncello
Maria Teresa Garatti: harsipchord
I Musici
Hoje temos aqui dois compositores estadunidenses, Morton Feldman e Philip Glass, que na coleção de 10 CDs dos 25 anos do Kronos Quartet ganharam um CD inteiro cada um.
Morton Feldman eu conheço pouco e acredito que o post que o PQP fez com essa mesma gravação já tenha dito bastante sobre a obra Piano and String Quartet.
Já de Philip Glass eu diria que sua música é mais empolgante. A música de Feldman, por estar recheada de ideias, lhe falta espírito (no sentido sentimental do termo). Não é uma música que conquista facilmente, é boa para fazer pensar, mas não tanto para sentir. Já em Philip Glass podemos apreciar os acordes repetitivos e pouco criativos, embora cativantes.
Uns dizem que Glass teve um bom debut mas que aos poucos foi caindo de nível, talvez por suas numerosas colaborações com artistas populares. Mas se até Pavarotti deu dessas, porque Glass seria apedrejado por isso? E por que isso seria condenável? Nunca cheguei a conhecer sua música em profundidade. Além dos quartetos presentes aqui – os quais apreciei bastante, principalmente o 3 e o 5 – já ouvi a ópera Akhnaten e o segundo concerto para violino, e todas essas obras eu gostei. Glass não se diz um minimalista, mas sem medo podemos dizer que sua música possui elementos da mesma. Atualmente ele se considera um neoclássico, e pode até ser, mas não seria um neoclassico ao nível do que foi Stravinsky em sua segunda fase por exemplo. O que podemos dizer com certeza é que dos compositores contemporâneos, por seus erros ou falhas, ele influenciou muita gente, e consegue atrair muita gente a procurar por mais música contemporânea também.
Na próxima semana trarei o quinto álbum da coleção com Osvaldo Golijov, Sofia Gubaidulina e Franghiz Ali-Zadeh.
25 Years of the Kronos Quartet [BOX SET: disc 3 and 4/10]