Para utilizar um termo técnico, eu diria que este CD é do caraglio. O grande Anner Bylsma dá uma verdadeira aula de como tocar um cello barroco e, aqui sim, as composições são extraordinárias. Ouvi várias vezes este disco que traz em si, incrustada, a definição do termo barroco: pérola irregular a assimétrica. Nada aqui é regular ou certinho. É tudo humano e perfeito. Bylsma vem acompanhado de um esplêndido grupo.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Sonatas for Violoncello & Basso Continuo
1. Sonata No. 1 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 47/I. Largo 3:45
2. Sonata No. 1 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 47/II. Allegro 3:26
3. Sonata No. 1 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 47/III. Largo 2:34
4. Sonata No. 1 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 47/IV. Allegro 1:53
5. Sonata No. 2 in F Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 41/I. Largo 2:29
6. Sonata No. 2 in F Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 41/II. Allegro 2:49
7. Sonata No. 2 in F Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 41/III. Largo 3:56
8. Sonata No. 2 in F Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 41/IV. Allegro 2:20
9. Sonata No. 3 in A minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 43/I. Largo 3:38
10. Sonata No. 3 in A minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 43/II. Allegro 3:41
11. Sonata No. 3 in A minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 43/III. Largo 4:20
12. Sonata No. 3 in A minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 43/IV. Allegro 3:07
13. Sonata No. 4 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 45/I. Largo 3:37
14. Sonata No. 4 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 45/II. Allegro 2:48
15. Sonata No. 4 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 45/III. Largo 4:09
16. Sonata No. 4 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 45/IV. Allegro 2:53
17. Sonata No. 5 in E minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 40/I. Largo 3:09
18. Sonata No. 5 in E minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 40/II. Allegro 3:00
19. Sonata No. 5 in E minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 40/III. Largo 3:15
20. Sonata No. 5 in E minor for Violoncello and Basso Continuo, RV 40/IV. Allegro 2:04
21. Sonata No. 6 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 46/I. Largo 2:31
22. Sonata No. 6 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 46/II. Allegro 2:46
23. Sonata No. 6 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 46/III. Largo 2:02
24. Sonata No. 6 in B-flat Major for Violoncello and Basso Continuo, RV 46/IV. Allegro 2:25
Anner Bylsma, Violoncello – Matteo Goffriller, Venezia, 1693
Francesco Galligioni, Violoncello – Anonymous, Italy, 1700
Ivano Zanenghi, Archlute – Stephen Murphy after Martin Hoffmann, Germany, mid-17th century
Alessandro Sbrogiò, Violone – Anonymous, Germany, late 17th century
Andrea Marcon, Harpsichord & Organ – Harpsichord by William Horn, Brescia after Giusti, Italy, 17th century, Organ by Francesco Zanin, Codroipo Udine
Não que vá mudar a vida de algum de vocês, mas devo começar esta curta pílula de curadoria dizendo que não amo incondicionalmente Vivaldi. Mas seria de uma desonestidade atroz dizer que não amei incondicionalmente este disco.
Ele ganhou como o melhor disco de música barroca de 2009 da respeitável revista Gramophone. Vocês querem que eu diga o que então? Que é ruim? Não é, é bom demais.
Vivaldi, tal como quase todo Mozart, tem aquele problema de ser alegre e feliz e demais quando eu preciso de uma boa dose de drama e sanguinolência, só que este CD traz um repertório tão original que fiquei surpreso. Não tinha ouvido ainda estes concertos escritos sob inspiração francesa, um vício da época. O título do CD é certamente uma brincadeira com o bom filme homônimo de 1971 que tinha Gene Hackman como ator principal e que foi chamado no Brasil de Operação França.
Disco obrigatório para os amantes do barroco.
O Padre Rosso (o Padre Vermelho, pois Vivaldi era ruivo) foi professor de violino num orfanato de moças chamado Ospedale della Pietà em Veneza e teve um conhecido caso com uma de suas alunas, Anna Giraud. Um orfanato de moças… Já imaginaram as possibilidades matemáticas disso? Dizem que ele teve relações com várias alunas. Eram meninas oriundas da Roda dos Expostos ou Roda dos Enjeitados que havia no Ospedale. Tais mecanismos ficavam nas fachadas de instituições religiosas, embutidas na parede, dando para a rua. Consistiam em mecanismos utilizados para abandonar os recém-nascidos indesejados, que assim ficavam ao cuidado da instituição. O mecanismo era uma caixa cilíndrica que girava sobre um eixo vertical com uma portinhola ou apenas uma abertura. Quem desejava abandonar um recém-nascido, colocava ali seu filho e girava o cilindro, dando meia volta. Desta forma, quem abandonava a criança não era visto por quem a recebia. As rodas também serviam para que pessoas piedosas oferecessem anonimamente alimentos e medicamentos a tais casas. As crianças eram normalmente filhas de pessoas pobres, para quem seria um peso receber mais uma boca para alimentar, ou filhas de mães solteiras, nobres ou burguesas, que não desejavam ver descoberta sua gravidez. Vivaldi pegava ou não pegava as menininhas? Mais um conto rodrigueano de a vida como ela é. Há que contrapor a isso a alegria e felicidade de suas obras. Pensem nisso durante a audição deste CD maravilhoso.
Antonio Vivaldi (1678-1741): The French Connection
Concerto for strings & continuo in C major, RV 114
1 Allegro 2:41
2 Adagio 0:24
3 Ciacona 3:09
Bassoon Concerto, for bassoon, strings & continuo in F major, RV 488
4 Allegro non molto 3:11
5 Largo 2:57
6 Allegro 2:19
Violin Concerto, for violin, strings & continuo in C major (“La stravaganza” No. 7), Op. 4/7, RV 185
7 Largo 1:56
8 Allegro 2:13
9 Largo 1:32
10 Allegro 2:22
Flute Concerto, for flute, strings & continuo in G major, RV 438
11 Allegro 3:52
12 Andante 3:26
13 Allegro 3:25
Concerto for strings & continuo in G minor, RV 157
14 Allegro 2:14
15 Largo 1:38
16 Allegro 2:25
Bassoon Concerto, for bassoon, strings & continuo in C major (incomplete), RV 468
17 Allegro 2:35
18 Andante 1:44
Flute Concerto, for flute, strings & continuo in E minor, RV 432
19 Allegro 3:05
Chamber Concerto, for flute, violin, bassoon & continuo in F major, RV 100
20 Allegro 2:40
21 Largo 2:31
22 Allegro 2:39
Concerto for strings & continuo in C minor, RV 119
23 Allegro 2:47
24 Largo 1:33
25 Allegro 1:36
Violin Concerto, for violin, strings & continuo in D major, RV 211
26 Allegro non molto 6:03
27 Larghetto 3:52
28 Allegro 5:52
Katy Bircher (flute)
Peter Whelan (bassoon)
Adrian Chandler (violin, conductor)
La Serenissima
Mais um Vivaldi, e mais uma gravação absolutamente imperdível, com a soprano Sandrine Piau deixando-nos totalmente arrepiados com sua interpretação de “In Furore” e “Laude Pueri”, dois motetos extremamente originais do padre ruivo. Nunca deixo de me emocionar com sua força de interpretação, e com a beleza das obras, e acompanhados pela ótima “Academia Bizantina”, dirigida pelo jovem Ottavio Dantone. Já declarei minha obsessão em possuir toda esta coleção da Naive, que pretende lançar todas as obras de Vivaldi. As capas são lindíssimas, e a produção impecável. Inclusive, alguns outros CDs da série já foram postados aqui, e outros ainda o serão. Quem viver, verá. Além de trazer a maravilhosa Sandrine Piau (aliás, não é ela quem está na foto da capa, como eu erroneamente imaginava até algum tempo atrás), o CD nos traz também três concertos do padre ruivo, belissimamente interpretados pela Accademia Bizantina.
Antonio Vivaldi (1678-1741): In Furore Iustissimae Irae, Rv626, Sinfonia En Si Mineur, Rv169 ‘Al Santo Sepolcro’ , Laudate Pueri, Rv601, Concerto, Rv541, Concerto, Rv286 ‘Per La Solennita Di San Lorenzo’ (Piau, Montanari, Accademia Bizantina, Dantone)
Sinfonia RV169 ‘Al Santo Sepolcro’ In Si Minore
5 Adagio Molto 2:43
6 Allegro Ma Poco 2:20
RV601 ‘Laudate Pueri’ [Salmo 112]
7 Laudate Pueri – Allegro Non Molto 3:06
8 Sit Nomen Domini – Allegro 2:29
9 A Solis Ortu – Andante 3:30
10 Excelsus Super Omnes – Larghetto 3:19
11 Suscitans A Terra – Allegro Molto 2:16
12 Ut Collocet Eum – Allegro 1:43
13 Gloria Patri E Filio – Larghetto 4:02
14 Sicut Erat – Allegro 0:57
15 Amen – Allegro 1:48
Concerto RV541 Per Violino E Organo In Re Minore
16 Allegro 3:50
17 Grave 3:08
18 Allegro Molto 2:09
Concerto RV286 ‘Per La Solennità Di San Lorenzo’ In Fa Maggiore
19 Largo Molto E Spiccato – Andante Molto 5:17
20 Largo 2:44
21 Allegro Non Molto 4:26
Os historicamente informados venceram e o sinal está fechado para nossos pais. Vindo da obscura gravadora Astree Auvidis, o CD que ora lhes apresento é superior ao de nossa última postagem. Sim, aquele era da Philips, tão cheirando a brilho e a cobre, etc., mas inferior. Fazer o quê? Acontece que este aqui é um registro com instrumentos originais e este que vos escreve se acostumou com a sonoridade dos instrumentos de época. Pode parecer que estou brincado, mas não é nada disso. A gente se acostuma ao que é bom e depois vá voltar àquele som sem transparência, vá. Belo disco. Confiram!
Antonio Vivaldi (1678-1741): 7 Concertos para Oboé, Fagote e Cordas (Bernardini, Borras)
Concerto Pour Hautbois En Fa Majeur RV 455
1 Allegro 3:37
2 Largo 2:28
3 Allegro 2:31
Concerto Pour Basson, Cordes Et Basse Continue En La Mineur RV 498
4 Allegro 4:07
5 Larghetto 3:17
6 Allegro 2:31
Concerto Pour Hautbois, Cordes Et Basse Continue En Ré Majeur RV 453
7 Allegro 3:33
8 Largo 1:58
9 Allegro 2:57
Concerto Pour Hautbois, Basson, Cordes Et Basse Continue En Sol Majeur RV 545
10 Andante Molto 3:45
11 Largo 2:42
12 Allegro Molto 3:02
Concerto Pour Basson, Cordes Et Basse Continue
13 Allegro 3:45
14 Largo 3:39
15 Allegro 3:30
Concerto Pour Hautbois, Cordes Et Basse Continue En La Mineur RV 463
16 Allegro 3:27
17 Largo 3:27
18 Allegro 2:53
Concerto Pour Basson, Cordes Et Basse Continue En Fa Majeur RV 488
19 Allegro Non Molto 3:08
20 Largo 3:13
21 Allegro 2:05
Alfredo Bernardini, oboe & dir.
Josep Borras, basson
L’Armonia et l’Inventione
Serei culpado de heresia, mas falemos sério. Esse CD, quando comparado com as gravações historicamente informadas, é inferior. Não é que seja ruim, longe disso, é que a transparência dos instrumentos originais é imbatível. Eu tenho este disco em vinil — o Ranulfus e o FDP devem ter também. Holliger em seu auge e o I Musici no mesmo nível, mas, para ouvidos atualizados, apesar do notável equilíbrio obtido pelo excelente Holliger e do perfeito senso de estilo, não funciona mais. O próximo CD que vou postar é também de Concertos de Vivaldi para Oboé — outro repertório — e é melhor. Aguardem!
Antonio Vivaldi (1678-1741): 5 Concertos para oboé e um para oboé e fagote (Holliger, Thunemann, I Musici)
Concerto RV 452 In C For Oboe, Strings And Continuo (6:17)
A1 Allegro
A2 Adagio
A3 Allegro
Concerto RV 454 In D minor For Oboe, Strings, And Continuo (8:11)
A4 Allegro
A5 Largo
A6 Allegro
Concerto RV 545 In G For Oboe, Bassoon, Strings, And Continuo (9:56)
B1 Andante Molto
B2 Largo
B3 Allegro Molto
Concerto RV 446 In C For Oboe, Strings, And Continuo (8:38)
B4 Allegro
B5 Adagio
B6 Allegro
Bassoon – Klaus Thunemann (tracks: B1 to B3)
Composed By – Antonio Vivaldi
Oboe – Heinz Holliger
Orchestra – I Musici
Painting – Antonio Canaletto*
Uma gravação de As Quatro Estações melhor do que esta de Carmignola + Marcon vai ser difícil…. Dia destes postei Haydn, com seu magnífico oratório “As Estações”, em homenagem à mudança de estação. Como ainda estamos vivenciando essa mudança de estação resolvi trazer essa gravação que particularmente é a minha favorita dentre as tantas existentes no mercado atualmente. Carmignola é um dos grandes violinistas da atualidade, e um dos maiores especialistas no violino barroco, e contando com a cumplicidade de Andrea Marcon e a excelente Venice Baroque Orquestra, dá um show de talento, versatilidade e técnica. Tudo bem, ele comete algumas liberdades que podem assustar alguns fãs mais fanáticos de Vivaldi, mas adoro esse CD em seu conjunto.
Para se ouvir em uma manhã como a de hoje, tipicamente de outono: temperatura agradável, sol ainda não tão forte e um ventinho frio, que nos deixa com vontade de voltar para a cama.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Le quattro stagioni + 3 Concerti (Carmignola, Venice Baroque Orchestra, Marcon)
La Primavera • Spring • Der Frühling • Le Printemps – Concerto No. 1 In E Major, Op. 8, No. 1, RV 269 (E-Dur / En Mi Majeur / In Mi Maggiore)
I. Allegro 3:19
II. Largo 2:18
III. Allegro 3:36
L’Estate • Summer • Der Sommer • L’Été – Concerto No. 2 In G Minor, Op. 8, No. 2, RV 315 (G-Moll / En Sol Mineur / In Sol Minore)
I. Allegro Non Molto 4:57
II. Adagio 2:18
III. Presto 2:15
L’Autunno • Autumn • Der Herbst • L’Automne – Concerto No. 3 In F Major, Op. 8, No. 3, RV 293 (F-Dur / En Fa Majeur / In Fa Maggiore)
I. Allegro 4:34
II. Allegro Molto 3:21
III. Allegro 2:49
L’Inverno • Winter • Der Winter • L’Hiver – Concerto No. 4 In F Minor, Op. 8, No. 4, RV 297 (F-Moll / En Fa Mineur / In Fa Minore)
I. Allegro Non Molto 3:04
II. Largo 1:47
III. Allegro 2:39
3 Violin Concertos (Premiere Recording):
Concerto In E-Flat Major, RV 257 (Es-Dur / En Mi Bémol Majeur / In Mi Bemolle Maggiore)
I. Andante Molto E Quasi Allegro 4:25
II. Adagio 2:32
III. Allegro 2:58
Concerto In B-Flat Major, RV 376 (B-Dur / En Si Bémol Majeur / In Si Bemolle Maggiore)
I. Larghetto. Andante 4:25
II. Andante 2:24
III. Allegro 2:56
Concerto In D Major, RV 211 (D-Dur / En Ré Majeur / In Re Maggiore)
I. Allegro Non Molto 5:15
II. Larghetto 3:22
III. Allegro 5:29
Giuliano Carmignola – Baroque Violin
Andrea Marcon – Harpsichord, Organ & Conductor
Venice Baroque Orquestra
Este disco é recente, foi produzido o ano passado, e é repleto de concertos duplos compostos pelo Padre Vermelho.
Esses concertos eram compostos para ocasiões especiais – festas religiosas – e são cheios de grandeur, esperavam impressionar suas audiências mais do que os concertos para um instrumento solista. E certamente o faziam, caso fossem interpretados assim como o são aqui, com flair e maestria, pela excelente La Serenissima e seu fundador, Adrian Chandler.
A maioria dos concertos são para pares de instrumentos solistas: dois violoncelos, duas flautas, dois violinos ou dois oboés. No entanto, o primeiro concerto do disco é ainda mais suntuoso, empregando seis solistas: dois violinos, dois oboés e duas flautas doce. Fechando o cortejo com chave de ouro temos o famoso Concerto Il Proteo ò il Mondo al Roverscio para violino, violoncelo, duas flautas, dois oboés e cravo, além das cordas e contínuo.
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto for 2 violins, 2 oboes, 2 recorders, strings & continuo in C Major, RV 557
Allegro non molto
Largo
Allegro non molto
Concerto for 2 cellos, strings & continuo in G Minor, RV 531
Allegro
Largo
Allegro
Concerto for 2 flutes, strings & continuo in C Major, RV 533
Allegro molto
Largo
Allegro
Concerto for 2 violins, strings & continuo in G Major, RV 516
Allegro molto
Andante
Allegro
Concerto for 2 oboes, strings & continuo in C Major, RV 534
Allegro
Largo
Allegro
Concerto for 2 violins, strings & continuo in B-Flat Major, RV 524
Allegro
Andante
Allegro
Concerto Il Proteo ò il Mondo al Roverscio for violin, cello, 2 flutes, 2 oboes, harpsichord, strings & continuo in F Major, RV 572
A follow up to their album Vivaldi X2, this new offering from baroque specialists Las Serenissima combines further double concerti by Antonio Vivaldi with works for violin, cello, oboe, recorder and continuo. The previous album received rave reviews including Recording of the Month from BBC Music Magazine. These are some of Vivaldi’s most colourful and joyful works, and with director Adrian Chandler at the helm listeners can look forward to further baroque excellence from this dynamic ensemble. [Signum]
… after being obsessed by the composer and his musical world for more than 30 years, Chandler by now is almost Vivaldi incarnate…The playing style is forthright without being strident, and the notes are dispatched without the quirky additions (folksy improvisations, stamped feet) beloved of free spirits such as Nigel Kennedy. [The Times – August 2024]
Capa ilustrativa, pois não sei de onde saiu este bom CD.
FDP Bach continua sua saga rampaliana, trazendo para seus ouvintes/leitores mais deste gigante francês, Jena Pierre Rampal. Neste cd, ele toca Vivaldi, Bach e TelemanN. Prestem muita atenção na facilidade com que ele aparentemente toca. Há momentos em que pensamos, poxa, mas quando é que este cara respira… feeling único, com uma técnica fantástica. Enjoy.
Antonio Vivaldi (1678-1741), Johann Sebastian Bach (1685-1750), George Phillip Telemann (1681-1767): Concertos e Suíte (Rampal)
Antonio Vivaldi (1678-1741) –
1. Concerto For Flute & Orchestra in D Major, Op. 10, No. 3, RV 428 ‘Ill gardellino’ : I. Allegro
2. Concerto For Flute & Orchestra in D Major, Op. 10, No. 3, RV 428 ‘Ill gardellino’ : II. Largo
3. Concerto For Flute & Orchestra in D Major, Op. 10, No. 3, RV 428 ‘Ill gardellino’ : III. Alegro
4. Concerto for Flute & Orchestra in F Major, Op. 10, No. 1, RV 433 ‘La tempesta di mar’: I. Allegro
5. Concerto for Flute & Orchestra in F Major, Op. 10, No. 1, RV 433 ‘La tempesta di mar’ : II. Largo
6. Concerto for Flute & Orchestra in F Major, Op. 10, No. 1, RV 433 ‘La tempesta di mar’ : III. Presto
Performed by I Solisti Veneti
with Jean-Pierre Rampal, Dorothy Linell, Isaac Stern, Daniele Roi
Conducted by Claudio Scimone
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
7. Concerto for Flute, Strings and Basso continuo in G minor , BWV 1056: I. …
8. Concerto for Flute, Strings and Basso continuo in G minor , BWV 1056: II. Largo
9. Concerto for Flute, Strings and Basso continuo in G minor , BWV 1056: III. Presto
10. Concerto for Flute, Strings and Bass continuo in C Major, BWV 1055: I. Allegro
11. Concerto for Flute, Strings and Bass continuo in C Major, BWV 1055: II. Larghetto
12. Concerto for Flute, Strings and Bass continuo in C Major, BWV 1055: III. Allegro ma non
tanto
Performed by Prague Ars Rediviva Orchestra
with Frantisek Slama, Jean-Pierre Rampal, Isaac Stern, Frantisek Posta, Josef Hala
Conducted by Milan Munclinger
George Phillip Telleman (1681-1767)
13. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Ouverture
14. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Les Plaisirs
15. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Air a l’italien
16. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Menuets I & II
17. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Rejouissance
18. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Passepieds I & II
19. Suite for Flute & Orchestra in A minor: Polonaise
with Isaac Stern, Jerusalem Music Centre Chamber Orchestra
Conducted by Jean-Pierre Rampal
Acho verdadeiramente estranho que ninguém tenha reclamado de meu recente barroquismo. Já disse que vou postando o que vou ouvindo e costumo por passar fases em que parece que apenas um tipo de sonoridade me satisfaz. O que fazer? A Tafelmusik é uma orquestra atlética e alongada. Todos tem abdômen de tanquinho. Tem ritmo, imposição e força; mas não chega a um grau de sensibilidade e sutileza que agrade a este experiente ouvinte. Seu som é redondo, talvez demais. O que quero dizer é que a Tafel é ótima para Vivaldi. Os movimentos rápidos são arrebatadores, nos lentos falta aquela delicadeza que só os verdadeiramente grandes conseguem. A presença de Anner Bylsma é — sempre e sempre — muito bem-vinda. O cara é um monstro. Que violoncelista!
Antonio Vivaldi (1678-1741): Eleven Concertos (Bylsma, Tafelmusik, Lamon)
Concerto For Strings In G Minor, RV 157 (5:49)
Allegro
Largo
Allegro
Concerto For Violoncello And Strings In D Major, RV 403 (6:48)
Allegro
Andantino E Spiritoso
Allegro
Concerto For Strings In G Minor, RV 152 (5:16)
Allegro Molto
Andante Molto
Allegro Molto
Concerto For Violoncello And Strings In B Minor, RV 424 (9:16)
Allegro Non Molto
Largo
Allegro
Concerto For Strings In D Minor, RV 127 (3:53)
Allegro
Largo
Allegro
Concerto For 2 Violins, 2 Violoncellos And Strings In D Major, RV 564 (9:43)
Allegro
Largo
Allegro
Concerto For 2 Oboes And Strings In D Minor, RV 535 (8:49)
Largo / Allegro
Largo
Allegro Molto
Concerto For Violoncello And Strings In A Minor, RV 419 (7:52)
Allegro
Andante
Allegro
Concerto For Violoncello, Bassoon And Strings In E Minor, RV 409 (5:51)
Adagio / Allegro Molto
Allegro / Adagio
Allegro
Concerto For 2 Oboes, 2 Violins, Bassoon And Strings In C Major, RV 557 (8:37)
Allegro Non Molto
Largo
Allegro Non Molto
Concerto For Strings In G Major “Alla Rustica”, RV 151 (3:51)
Presto
Adagio
Allegro
Tafelmusik
Jeanne Lamon, musical director
Anner Bylsma, cello
Os pedidos para obras para piccolo foram tão insistentes, que resolvi colaborar. Mas que não se pense que o atendimento às solicitações serão tão frequentes e imediatas. Casualmente, FDP Bach recém havia conseguido este velho e bom CD com obras para piccolo e orquestra. Por isso resolveu atender a solicitação.
Dentre as inúmeras e infrutíferas tentativas de se tornar músico, ou pelo menos de aprender a tocar um instrumento, FDP Bach se aventurou pelo mundo da flauta. Não a transversal, com a qual nunca conseguiu sequer pegar a embocadura, e sim aquele singelo e equivocadamente considerado simplório instrumento chamado de flauta doce. Se não me engano sua afinação era em Mi. Enfim, aprender até que aprendeu um pouco, graças à insistência de uma freira, professora de música onde FDP estudou em uma época do século passado… Enfim, até chegamos a ensaiar uma apresentação em um evento qualquer, mas FDP não teve coragem, e desistiu… nosso pai deve ter se revirado na tumba, tanto de raiva quanto de vergonha. E por falar em Albinoni, até hoje arrisco assoprar na velha Yamaha (sim, ainda a tenho) aquele tradicional adágio, assim como uma despudorada e desavergonhada versão do Jesus, Alegria dos Homens, a tradicional Cantata BWV 140 de nosso pai… Até que toco direitinho… Mas sem público, por favor…
Gravação curiosa essa que estou liberando… Confesso que fui enganado, mas depois considerei esse equívoco até que bom. Afinal, o nome que mais chama atenção na capa é o de Jean Pierre Rampal, ao qual já dediquei algumas postagens, mestre soberano deste instrumento maravilhoso. Mas o que chamo de equívoco é o fato de que Rampal nessa gravação apenas é o regente da Orchestre National de France. O solista se chama Jean-Louis Beaumadier, do qual nunca tinha ouvido falar até então. E o dito cujo toca muito bem… Também, imagina a pressão de tocar flauta ao lado do maior flautista do século XX, um dos maiores instrumentistas do século… E o que é pior, ou melhor, dependendo do ponto de vista, tendo-o como orientador… Sua interpretação, tanto dos concertos para piccolo de Vivaldi, quanto as fantasias para flauta de Telemann, é segura, correta, sem equívocos. Um belo resultado, um CD agadabilíssimo de se ouvir.. FDP espera que seus ouvintes/leitores sintam-se tão recompensados quanto ele ao ouvirem essas obras.
Inicio com esta postagem algo que eu e Clara Schumann nomeamos como Festival Barroco… Vivaldis, Telemanns, Handels, nosso pai Bach, claro, nossos irmãos CPE e Wilhelm, com certeza estarão presentes… mas chega de blá, blá, blá…
Recadinho de PQP, que acaba de reativar este link: Gostei mais das Fantasias de Telemann no final do CD do que dos concertos do Padre Vermelho…
Antonio Vivaldi (1678-1741): Concerti per Piccolo, P.78, P.83, P.79 e P.77 / Georg Phillip Telemann: Sept Fantasies (Beaumadier, Rampal)
01 Antonio Vivaldi – Concerto pour piccolo en do majeur P.78- 1. Allegro
02 Antonio Vivaldi – Concerto pour piccolo en do majeur P.78- 2. Largo
03 Antonio Vivaldi – Concerto pour piccolo en do majeur P.78- 3. Allegro molto
04 Antonio Vivaldi – Concerto pour piccolo en la mineur P.83- 1. Allegro
05 Antonio Vivaldi – Concerto pour piccolo en la mineur P.83- 2. Larghetto
06 Antonio Vivaldi – Concerto pour piccolo en la mineur P.83- 3. Allegro
07 Antonio Vivaldi- Concerto pour piccolo en do majeur P.79- 1. Allegro non molto
08 Antonio Vivaldi – Concerto pour piccolo en do majeur P.79- 2. Largo
09 Antonio Vivaldi – Concerto pour piccolo en do majeur P.79- 3. Allegro molto
10 Antonio Vivaldi – Concerto pour flute en la mineur P.77- 1. Allegro molto
11 Antonio Vivaldi – Concerto pour flute en la mineur P.77- 2. Largo
12 Antonio Vivaldi – Concerto pour flute en la mineur P.77- 3. Allegro molto
13 Georg P. Telemann – Fantaisie No.1 en la majeur (Vivace-Adagio-Allegro)
14 Georg P. Telemann – Fantaisie No.2 en la majeur (Grace-Vivace-Adagio-Allegro)
15 Georg P. Telemann – Fantaisie No.4 en si bémol majeur (Andante-Allegro-Presto)
16 Georg P. Telemann – Fantaisie No.5 en do majeur (Presto-Largo-Presto-Largo-Allegro-Allegro)
17 Georg P. Telemann – Fantaisie No.8 en mi mineur (Largo-Spirituoso-Allegro)
18 Georg P. Telemann – Fantaisie No.9 en mi majeur (Affettuoso-Allegro-Grave-Vivace)
19 Georg P. Telemann – Fantaisie No.12 en sol mineur (Grave-Allegro-Grave-Allegro-Dolce-Allegro-Rondeau (presto)
Orchestre National de France
Jean-Pierre Rampal – Conductor
Jean-Louis Beaumadier – Flute, picollo Haynes
O dia de hoje, 28 de julho, marca a data de morte de Antonio Vivaldi e de Johann Sebastian Bach — mais detalhes e coincidências entre os dois maiores mestres do barroco estão neste link. Então, farei duas postagens bem consistentes, uma de cada um deles. A de Bach entrará ali pelo meio da tarde, certo?
L’Estro Armonico (A Inspíração Harmônica, em italiano), Op. 3, é uma coleção de doze concertos para 1, 2 e 4 violinos escritos por Antonio Vivaldi em 1711. Foram obras que se tornaram logo muito famosas chegando a atingir Bach, tanto que ele transcreveu vários destes concertos para o cravo e o órgão. Ele, seus filhos legítimos e seus alunos costumavam tocá-los em saraus e nas aulas. Eu, pobre ilegítimo, o 21º filho, nunca pude tocá-los. Me dá uma tristeza! Ouçam como são belos! Dá vontade da mandar tomar no cu aquele russo nanico que disse que Vivaldi fez 477 vezes o mesmo concerto. É o que farei: “Ei, Stravinsky, vai tomar no cu!”.
O disco é razoável, boa orquestra de som antiquado, ante-diluviano. O CD deve ter décadas. Mas traz todo o Op. 3. Legal, né?
Vivaldi – L’estro armonico, Op.3 – Virtuosi di Roma
CD1
Concerto No. 1 D-dur, RV 549
01. I: Allegro [0:03:10.70]
02. II: Largo e spiccato [0:03:49.45]
03. III: Allegro [0:02:32.60]
Franco Gulli, Edmondo Malanotte, Mario Benvenuti, Alberto Poltronieri, violins
Edgar Moreau já fez sua estreia aqui no blog como camarista, tocando violoncelo em um disco que achei lindo, com peças de Claude Debussy, acompanhado de uma turma de peso. (Aqui…)
Nesta postagem a proposta é outra e o disco é mais antigo, foi o segundo disco do violoncelista, uma coleção de concertos que abrange os períodos barroco e clássico, mas com uma ‘pegada’ mais barroca, com interpretações virtuosísticas e cheias de fantasia, mas também com lindos momentos de ‘galenteios’.
Haydn e Boccherini são compositores do período clássico, enquanto Vivaldi e os menos conhecidos Platti e Graziani são barrocos, se bem que nessa transição é melhor não rotular as coisas tão taxativamente. No momento estou ouvindo o movimento lento do concerto de Grazini, um belíssimo Larghetto grazioso com portamento!
Carlo Graziani, nascido na cidade italiana de Asti por volta de 1710, foi um dos primeiros virtuosos do violoncelo. Viajado, em 1747 ele estava em Paris, depois em Londres, onde tocou com Mozart, em seus 7 anos, em 1764. Graziani se casou com uma cantora de ópera italiana e o casal mudou-se para Frankfurt. Foi contratado pelo príncipe herdeiro do trono da Prússia, que se tornaria Frederico Guilherme II, como seu professor de violoncelo. Aposentou-se da corte prussiana em 1773, sendo sucedido por Jean-Pierre Duport, mas continuou a trabalhar para Frederico Guilherme II com uma pensão muito generosa. Deixou muitos conjuntos de sonatas e vários concertos para seu instrumento.
Giovanni Benedetto Platti era oboísta, mas também um músico muito versátil, pois dominava o violino, cravo, violoncelo, flauta e composição. Com essas características foi contratado pelo Príncipe Arcebispo Johann Philipp Franz von Schönborn, cujo irmão, o Conde Rudolph Franz Erwein von Schönborn era violoncelista amador. O Conde tinha uma coleção de sonatas e concertos de violoncelo, entre eles obras de Vivaldi escritas para ele. Ainda estão na coleção do castelo do Conde, em Wiesentheid, os autógrafos de 22 concertos para violoncelo de Platti, muitos deles comissionados pelo Conde.
Partes da crítica da Gramophone: In fact, Moreau’s ‘giovincello’ qualities are what this disc is all about. The balance is engineered so as to place his singing, silkily intense and muscular tone absolutely in the foreground, along with the sound of his fingerboard and his gasps of exertion. […] the Vivaldi’s dramatic final movement is the perfect vehicle for Moreau’s en pointe virtuosity, while the aria-like central movement of Graziani’s concerto leaves us in no doubt as to his ability to sculpt extended phrases with poetry and sense of line.
Na verdade, as qualidades de ‘giovincello’ de Moreau são a essência deste disco. O equilíbrio é projetado de forma a colocar seu tom cantante, sedosamente intenso e muscular absolutamente em primeiro plano, junto com o som dos seus movimentos de dedos e seus suspiros de esforço. […] o dramático movimento final de Vivaldi é o veículo perfeito para o seu virtuosismo, enquanto o movimento central do Concerto de Graziani, semelhante a uma ária, não nos deixa dúvidas quanto à sua capacidade de esculpir frases extensas com poesia e sentido de linha.
Prezados, como estarei viajando no final de semana, minha contribuição para o blog está sendo postada h0je, quinta feira. E começarei com Vivaldi. Mas não se trata de qualquer Vivaldi, e sim de um Vivaldi interpretado por nossa musa inspiradora, com sua voz angelical, Emma Kirkby. Já postei duas outras obras com esta maravilhosa soprano inglesa, especialista no repertório renascentista e barroco. Neste CD Kirkby interpreta Motetos e a Magnificat do padre ruivo. Peças maravilhosas, sensíveis e que mostram o domínio que a sardenta Kirby tem de sua voz. Falar de Vivaldi é chover no molhado. Nunca conheci alguém que dissesse não gostar de sua música. Espero que gostem tanto quanto eu gostei.
08 – Concerto in g, RV157 – 1. Allegro
09 – 2. Largo
10 – 3. Allegro
11 – Concerto alla rustica in G, RV151 – 1. Presto
12 – 2. Adagio
13 – 3. Allegro
14 – Motet, RV680 – 1. Lungi dal vago volto
15 – 2. Augelletti, voi col canto
16 – 3. Allegrezza, mio core
17 – 4. Mi stringerai si, si
18 – 1. Magnificat anima mea Dominum
19 – 2. Et exsultavit spiritus meus in Deo
20 – 3. Et misericordia eius a progenie
21 – 4. Fecit potentiam in brachio suo
22 – 5. Esurientes implevit bonis
23 – 6. Suscepit Israel puerum suum
24 – 7. Sicut locutus est ad patres
25 – 8. Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto
Tafelmusik Baroque Orchestra Conducted by Jeanne Lamon
Emma Kirkby – soprano
A série The Originals, da DG, costuma ser tiro certo. Apesar da absoluta confusão do repertório, este CD é maravilhosamente bem interpretado pelos Oistrakh em diversas formações orquestrais. As obras são tão díspares entre si que dá vontade de ouvir tudo separadamente. Mas, enfim, eram outros tempos e ninguém morria por falta de coerência. Posto este CD por ele ter sido uma audição habitual na casa de meus pais (os outros). É um disco muito alegre do começo ao fim. De certa forma, proporciona um contraste muito caloroso com a preferência contemporânea por performances de época para a maioria destas peças. (Nota: eu AMO e PREFIRO performances de época!). Prezo especialmente os duetos de Wieniawski porque raramente são gravadas. O que é mais legal é que muitas dessas peças são populares entre estudantes de violino, e ter dois violinistas estelares tocando-as é muito gostoso de ouvir.
Bach / Jiří Benda / Händel / Sarasate / Vivaldi / Wieniawski: Obras para Violino(s) com David & Igor Oistrakh
Obras para Violino(s) com David & Igor Oistrakh
Antonio Vivaldi:
1. Concerto grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, Op.3/8 , RV 522 – 1. Allegro 3:58
2. Concerto grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, Op.3/8 , RV 522 – 2. Larghetto 4:24
3. Concerto grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, Op.3/8 , RV 522 – 3. Allegro 4:00
J. S. Bach:
4. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 1. Adagio 4:29
5. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 2. Allabreve 2:53
6. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 3. Alla breve 2:35
7. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 4. Presto 4:56
G.F. Handel:
8. Trio Sonata for 2 Flutes and Continuo in G minor, Op.2, No.6, HWV 391 – 1. Andante – Allegro 5:12
9. Trio Sonata for 2 Flutes and Continuo in G minor, Op.2, No.6, HWV 391 – 2. Arioso 3:36
10. Trio Sonata for 2 Flutes and Continuo in G minor, Op.2, No.6, HWV 391 – 3. Allegro 2:01
J. G. Benda:
11. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano – 1. Moderato 6:37
12. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano – 2. Largo 5:27
13. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano – 3. Allegro 2:42
H. Wieniawski:
14. Etudes-Caprices for 2 violins, Op.18 – No.2 in E flat major 5:14
15. Etudes-Caprices for 2 violins, Op.18 – No.5 in E major 1:55
16. Etudes-Caprices for 2 violins, Op.18 – No.4 in A minor 1:31
P. de Sarasate:
17. Navarra for two violins, Op.33
David Oistrakh (Conductor, Violin),
Igor Oistrakh (Violin)
Franz Konwitschny (Conductor),
Gewandhaus Orchestra
Royal Philharmonic Orchestra e outros
Com a confessada intenção de demonstrar como nosso blog é foda, programei um Festival Fasch para hoje. Tá bom, este é um disco com Fasch, mas os próximos três serão exclusivamente de Johann Friedrich. Fasch é bom pra caraglio, vocês verão. E compreenderão que este blog fodão quer apenas lhe dar prazer ao introduzir Fasch em sua vida. Esse CD é da Harmonia Mundi e só o fato de ser com a Camerata Köln já deveria bastar para deixar excitado qualquer pequepiano que se preze. A ligação que há entre estes concertos barrocos é clara: eles estão no mesmo CD. Não há Cristo que vá me convencer da lógica de enfiar Vivaldi, Fasch, Marcello e mano Johann Christian no mesmo saco. OK, Fasch era fã de Vivaldi e de Telemann, que não está no disco… Vão tomar no cu. Mas o disco é do caraglio, repito. Muita atenção para a versão abusiva ma non troppo para o célebre concerto de Marcello.
Vivaldi, Marcello, Quantz, J. C. Bach, Fasch – Florilegium Musicale (Camerata Köln)
# Chamber Concerto (“La notte”), for flute or violin, 2 violins, bassoon & continuo in G minor, RV 104
Composed by Antonio Vivaldi
with Cologne Camerata
1. La Notte
2. Fantasmi
3. Il Sonno
4. Allegro
# Concerto for oboe, strings & continuo in D minor, SF. 935
Composed by Alessandro Marcello
with Cologne Camerata
5. Andante
6. Adagio
7. Allegro
# Trio in C
Composed by Johann Joachim Quantz
with Cologne Camerata
8. Affettuoso
9. Alla breve
10. Larghetto
11. Vivace
# Quintet for flute, oboe, violin, cello & keyboard in D major, Op. 22/1, CW B76 (T. 304/6)
Composed by Johann Christian Bach
with Cologne Camerata
12. Allegro
13. Andantino
14. Allegro assai
# Quartet for 2 oboes, obbligato basson & continuo in D minor, FaschWV N:d2
Composed by Johann Friedrich Fasch
with Cologne Camerata
15. Largo
16. Allegro
17. Largo
18. Allegro
# Piccolo (Flautino) Concerto, for piccolo (or recorder/flute), strings & continuo in C major, RV 444
Composed by Antonio Vivaldi
with Cologne Camerata
19. Allegro non molto
20. Largo
21. Allegro molto
Disco luminoso esse, como essa manhã de domingo em Camboinhas, ótimo para se ouvir antes da final de um dos mais charmosos torneios de tênis da temporada de saibro na Europa.
Quanto ao tênis, a quadra onde se dará o jogo fica num cenário de tirar o fôlego, com vista para o mar e as marinas repletas de iates.
Lançado em novembro do ano passado, o disco ganhou rave reviews, inclusive da sisuda revista britânica Gramophone. Mas, pudera, o espetacular Avi Avital e seu bandolim é acompanhado pela orquestra barroca Il Giardino Armonico conjunto excelente regido pelo genial Giovani Antonini.
Se essa manhã houvesse ocorrido perto de 50 anos atrás, o disco seria outro e teria chegado as minhas mãos em outra mídia, por outras formas, a tv nem seria colorida e certamente esporte não seria tênis. Mas, o prazer com a música ainda sim seria intenso.
Definitivamente o disco a que me remeteu essa gravação, com Narciso Yepes, hoje soa datado, mesmo se considerarmos que o repertório diferente, apesar de similar.
Mas para quê ficar falando de velhos de tempos se hoje temos Avi Avital para iluminar ainda mais amanhã de domingo.
Bom, agora, com licença, pois o jogo está ótimo!
ANTONIO VIVALDI (1678–1741)
Concerto for 4 Mandolins, Strings and Basso continuo in B minor after “L’estro armonico” op. 3 no. 10 / RV 580 for four violins
All four solo parts played by Avi Avital
Allegro
Largo – Larghetto – Adagio – Largo
Allegro
JOHANN SEBASTIAN BACH (1685–1750)
Concerto for Mandolin, Recorder, Strings and Basso continuo in D minor after BWV 1060R in C minor for violin and oboe
Allegro
Adagio
Allegro
EMANUELE BARBELLA (1718–1777)
Concerto for Mandolin, Strings and Basso continuo in D major
Allegro
Andantino
Giga. Allegro
attr. GIOVANNI PAISIELLO (1740–1816)
Concerto for Mandolin, Strings and Basso continuo in E flat major
Allegro moderato
Larghetto grazioso
Giga. Allegro
JOHANN NEPOMUK HUMMEL (1778–1837)
Concerto for Mandolin and Orchestra in G major
Allegro moderato e grazioso
Andante con variazioni
Rondo
Avi Avital, mandolin
Il Giardino Armonico
Giovanni Antonini recorder & conductor
Recorded: 2022-11
Recording Venue: Euregio Kulturzentrum, Gustav Mahler Saal, Toblach
Com seu álbum ‘Concertos’ o carismático bandolinista Avi Avital realiza um sonho e colabora com o renomado conjunto de instrumentos históricos ‘Il Giardino Armonico’ e seu maestro e fundador Giovanni Antonini. Juntos, eles interpretam três concertos para bandolim de Emanuele Barbella, Giovanni Paisiello e Johann Nepomuk Hummel, bem como arranjos de concertos de J. S. Bach e Vivaldi.
Avital’s seemingly effortless virtuosity and quasi-improvisatory flights in this audibly genial collaboration will send you on your way rejoicing. — Gramophone Magazine, February 2024
O primeiro concerto do disco, de Vivaldi, para quatro violinos, é aquele que Bach transcreveu para quatro cravos, para tocar com seus filhos, na Academia do Café Zimmermann!
Visitar Veneza por uns dias é sonho de muitos turistas amantes das artes tanto hoje quanto nos séculos passados. Além do cenário diferente de todas as outras cidades da Europa, com seus canais no lugar de ruas, seus museus, igrejas e inúmeros palácios com um universo de belezas a ser visto.
A Basílica de San Marco, com seus degraus de pedra gastos pelos inúmeros passos de visitantes desde os dias de Monteverdi, a Piazza San Marco com sua vastidão e imponência, o Grande Canal… só isso já vale metade da viagem.
Além da arquitetura e das artes expostas nos museus, os viajantes buscavam também a música de Veneza, sublime, maravilhosa.
E a música de Vivaldi, desde seus primeiros concertos, representa essa riqueza cultural mais do que qualquer outra.
Pois não é que andávamos aqui no blog distantes, esquecidos do Padre Vermelho até que esse álbum de concertos com muitos instrumentos cruzou meu caminho. Me animei com o som logo de cara e como o disco continuou tocando sem que nenhuma vontade de o interromper irrompeu no meu sistema, acabei o considerando para uma postagem. Fui atrás de informações sobre o conjunto Musica ad Rhenum, que é de Amsterdam e toca com instrumentos de época, e só ouvi boas coisas. O flautista que o dirige, Jed Wentz, tem vários discos editados pelo selo Brillante e merece atenção e audição.
Pois vamos então começar por aqui… uma belezura de álbum, com uma documentação rica e uma variedade sonora impressionante.
Antonio Vivaldi (1678 – 1741)
Concerto for Violin, Organ, Strings and Continuo in C Major, “Il rosignuolo”, RV 335a
Allegro
Largo
Allegro
Concerto for 2 Traversos, Strings and Continuo in C Major, RV 533
Allegro molto
Largo
Allegro
Concerto for Violin, Organ, Strings and Continuo in D Minor, RV 541
Allegro
Grave
Allegro
Concerto for Traverso, 2 Violins, Violoncello and Continuo in G Minor, RV 107
Allegro
Largo
Allegro
Concerto for Violin, Violoncello, Organ, Strings and Continuo in C Major, RV 554a
Allegro
Andante
Allegro
Concerto for Recorder, Strings and Continuo in C Minor, RV 441
Allegro non molto
Largo
Allegro
Concerto for Violoncello, Strings and Continuo in G Minor, RV 417
Allegro
Andante
Allegro
Concerto for Traverso, Organ, Strings and Continuo in F Major, RV 767
Alla breve
Larghetto
Allegro
Concerto for Strings and Continuo in G Major, “Alla rustica”, RV 151
Presto
Adagio
Allegro
Concerto for Traverso, Strings and Continuo in D Major, “Il cardellino”, Op. 10 No. 3, RV 428
Allegro
Cantabile
Allegro
Concerto for Violin, Organ, Strings and Continuo in C Minor, RV 766
Allegro
Largo
Allegro
Sonata for Violin, Traverso and Organ in C Major, RV 779
Andante
Allegro
Largo e cantabile
Allegro
Concerto for Traverso, Violin, Violoncello and Continuo in D Major, RV 92
Allegro
Aria
Allegro
Concerto for Violin, Strings and Continuo in G Minor, RV 155
Adagio
Allegro
Largo
Allegro
Concerto for Traverso, Strings and Continuo in D Major, RV 783
Allegro
Largo
Allegro
Concerto for Violin, Organ, Strings and Continuo in F Major, RV 542
Momento “The Book is on the Table”: “Musica ad Rhenum lets music-making be always an exciting adventure. It is fun, it grants joy of life, gives courage to be spontaneous, and awakens one’s own creativity.”
“All of the pieces tested the musicians’ expressive and technical abilities. The results were triumphant blends of refinement and bold personality.”
Eis um CD para ouvirmos sem nos cansar, mesmo que seja em um sábado de manhã, envolvido na faxina semanal da casa, tal a qualidade dos músicos envolvidos, e claro, a qualidade das obras interpretadas. Temos aqui um grupo de músicos especializados nesse repertório, liderados pela excepcional flautista Dorothée Oberlinger. Em outras palavras, gente que vive e respira o barroco vinte e quatro horas por dia, sem excessos ou virtuosismos extremos, e que nos oferece um Vivaldi muito atual, mesmo seguindo a linha do historicamente interpretado. Oberlinger se utiliza de instrumentos construídos baseados em modelos dos séculos XVII e XVIII.
Sugiro a leitura do livreto que segue em anexo ao arquivo, que traz uma contextualização histórica das obras gravadas e demais informações técnicas.
Antonio Vivaldi – Concerto per Flauto e Flautino – Dorothée Oberlinger, Sonatori de La Gioiosa Marca
Concerto in re maggiore «La Pastorella» rv 95 per flauto, due violini, violoncello e b.c. (c/e/g)
1 Allegro
2 Largo
3 Allegro
Concerto in sol maggiore rv 101 per flauto, due violini, violoncello e b.c. (b/c/f)
4 […]
5 Largo
6 Allegro
Concerto in la minore rv 108 per flauto, due violini e b.c. (a/c/f)
7 Allegro
8 Largo
Concerto in do maggiore rv 444 per flautino, due violini, viola e b.c. (a/b/c/f)
10 Allegro non molto
11 Largo
12 Allegro molto
Concerto in sol maggiore rv 443 per flautino, due violini, viola e b.c. (a/b/c/f)
13 […]
14 Largo
15 Allegro molto
Concerti per flauto e flautino, archi e basso continuo A 334
16 Allegro ma non molto tutti gl’istromenti sordini
17 Cantabile*
18 Largo e cantabile
19 Allegro
Concerto in si bemolle maggiore «Conca» rv 163 per due violini, viola e b.c. (a/b/c/f)
20 […] / Allegro molto
21 Andante**
22 Allegro
DOROTHEE OBERLINGER flauti dritti
SONATORI DE LA GIOIOSA MARCA
Amour Fou é um título talvez provocativo para um disco, assim como a sua capa, mas ao ouvir suas canções você entenderá. E a ideia de reunir canções falando de amor, de paixão, compostas ao longo de vários séculos e por compositores das mais diversas culturas, é ótima.
Temos assim um disco que pede para ser desfrutado a dois, com tempo de sobra, que isso sempre é bom. Mas, não importa como você o ouça, seja no sistemão de som da sala de estar, seja no compacto do seu ambiente de leituras, ou mesmo ao headphone com o ipod ou celular, não deixe de enredar-se e deliciar-se com essas maravilhosas canções.
Entremeadas às canções temos uns poucos números instrumentais, mas sempre no espírito apaixonado. Muitas canções são em francês que o pessoal do disco é de Montreal, mas também há umas em italiano e em inglês. A mais antiga é de compositor anônimo do século XIII e fecha o disco. O desfile continua passando pela Itália de Monteverdi e Vivaldi, Inglaterra de Thomas Campion, Purcell. Os franceses vão de Fauré, que abre o disco com a maravilhosa Au bord de l’eau, e também Blavet, Ballard, Clérambault, dos mais antigos, mas também os mais recentes Barbara e Jacques Brel. Eu descobri a espetacular, maravilhosa Barbara, que já passou para minha playlist. Tanto que escolhi ilustrar a lista dos compositores a seguir apenas com uma imagem dela…
Veja alguns versos dessas canções…
« Amour, le départ d’un amant a comblé mes douleurs, mais malgré tant de maux, si tu me le ramènes, je te pardonne tes rigueurs. »
« Amor, a partida de um amante me encheu de dor, mas apesar de tantos males, se você o trouxer de volta, eu lhe perdôo seus rigores. »
« Passo di pena in pena come la navicella ch’in quest’in quell’altr’onda urtando và. »
« Vou passando de tristeza em tristeza como o barquinho que se vai a bater de onda em onda. »
« Ton image me hante, je te parle tout bas, et j’ai le mal d’amour, et j’ai le mal de toi. »
« Sua imagem me persegue, falo com você baixinho e estou apaixonada, e estou farta de você. »
Quando você escolher alguns versos significativos, mande para mim…
Lista de Canções e Peças
Gabriel Fauré (1845–1924)
Au bord de l’eau, Op. 8 No. 1 (Prudhomme)
Claudio Giovanni Antonio Monteverdi (1567–1643)
Pur ti miro (de L’Incoronazione di Poppea)
Antonio Vivaldi (1678–1741)
Passo di pene in pena (da Cantate Amor hai vinto, RV651)
Michel Blavet (1700 – 1768), Jean-Baptiste de Bousset (1662 – 1725)
Airs sérieux et à boire par Monsieur Bousset, XVIe Livre: Pourquoy doux rossignol ? (Arr. para conjunto de câmara por Grégoire Jeay)
Jean Philippe Rameau (1683–1764)
La Cupis, em ré menor (Instrumental)
Barbara (1930 – 1997)
Dis, quand reviendras-tu?
Christophe Ballard (1641 – 1715)
Brunettes ou Petits airs tendres, avec les doubles et la basse-continue, mêlés de chansons à danser, Tome I: J’avois crû qu’en vous aimant (Arr. para conjunto de câmara por Grégoire Jeay)
George Frideric Handel (1685-1759)
Sonate pour flûte no 2 en mi mineur, HWV 375, « Halle »: IV. Menuet (Instrumental)
Thomas Campion (1567–1620)
Fain Would I Wed a Fair Young Man
It fell on a summer’s day
John Bartlet (fl.1606, d.1610)
Of all the Birds that I do know
Carl Friedrich Abel (1723-87)
27 pièces pour basse de viole – Le manuscrit Drexel 5871: No. 20: [Arpeggio] en ré mineur, WK 205 (Instrumental)
Claudio Giovanni Antonio Monteverdi (1567–1643)
Si dolce e’l tormento, SV332
Louis-Nicolas Clérambault (1676-1749)
Recueil d’airs variés: Amour, cruel amour
Jacques Brel (1929 – 1978)
Ne me quitte pas
Giuseppe Sammartini (1695-1750)
Sonata quarta pour flûte et basse continue: Allegro (Instrumental)
Na coluna ‘The Book is on the Table’ de hoje: “It’s like a brandy distillate, absolutely transparent … Her name is Myriam Leblanc and in my opinion she has been one of the most beautiful voices, perhaps the most beautiful, to come out of the Quebec breeding ground in the past 10 years …”
Christophe Huss, Samedi et rien d’autre, December 2020
O grupo da genial Amandine Beyer chama-se Gli Incogniti, que significa Os Desconhecidos ou Os Incógnitos. Parece uma brincadeira meio boba, mas vocês têm que saber mais da história da humanidade, meus amados leitores.
A Accademia degli Incogniti (Academia dos Desconhecidos, ou Incógnitos), também chamada de Academia Loredaniana, foi uma sociedade erudita de intelectuais livres pensadores, principalmente nobres, que influenciou significativamente a vida cultural e política de Veneza de meados do século XVII . A sociedade foi fundada em 1630 por Giovanni Francesco Loredan e Guido Casoni. A sociedade incluía historiadores, poetas e libretistas. A academia atraiu para si as principais figuras literárias de Veneza e outras de fora que simpatizavam com um programa libertino e com a independência política e cultural de Veneza. O nome ‘Incogniti’ alude ao uso de máscaras em muitas reuniões, além de se referir a subterfúgios como obras anônimas, alegorias e ironia, a fim de desviar a censura religiosa. Segundo a historiadora Ellen Rosand, a academia, fazendo jus ao seu nome, geralmente funcionava nos bastidores. Os membros muitas vezes escreviam numa linguagem secreta e frequentemente publicavam os seus trabalhos anonimamente.
O espírito libertino da academia foi fortalecido pelo naturalismo aristotélico (ligado às correntes céticas e epicuristas) ensinado na Universidade de Pádua, frequentado pelas classes altas venezianas. A sua filosofia geral era que nada é cognoscível além do mundo natural ao qual temos acesso apenas pela razão. Mais: eles defendiam que a alma era mortal e que os prazeres dos sentidos e a satisfação dos instintos sexuais faziam parte da vida natural. Maquiavel influenciou-os ao formular uma visão da religião como um produto da história humana, e não como uma revelação divina, exercida por uma elite com o propósito de controle social. Não é de surpreender que os censores frequentemente colocassem obras Incogniti no Index. Essas obras incluíam composições satíricas em prosa e versos, histórias bíblicas transformadas em romances de aventura erótica, coleções de novelas elogiando os instintos naturais e o prazer, narrativas históricas (muitas vezes antipapais) e uma série de gêneros muitas vezes híbridos, misturando elementos históricos, alegóricos, epistolares e picarescos. Dando continuidade a uma prática estabelecida por Aretino, os autores Incogniti escreveram num idioma simples, vivo e contemporâneo, geralmente desprovido da bagagem clássica e do vocabulário arcaico tão em voga na época. Eles escreviam sobre temas de interesse contemporâneo para o maior número possível de leitores. Muitos de seus escritos satíricos eram anônimos, com datas e locais de publicação falsos e, portanto, deliberadamente clandestinos. Os escritos históricos da academia foram inspirados em Paolo Sarpi, bem como em Maquiavel e Guicciardini, sempre expondo o funcionamento da tirania e, assim, alertando os leitores para os abusos de poder, tanto políticos quanto religiosos. A Accademia degli Incogniti foi particularmente ativa na promoção do teatro musical em Veneza a partir da década de 1630, fundando o seu próprio teatro, o Teatro Novíssimo, que floresceu entre 1641 e 1645. Nos seus libretos para dramas musicais, os intelectuais iconoclastas da academia estabeleceram um tom que era frequentemente franco, chocante e amoral. Entre esses libretistas estavam Giacomo Badoaro, que escreveu Il ritorno d’Ulisse in patria para Claudio Monteverdi, e Giovanni Francesco Busenello, que forneceu a Monteverdi o libreto para a última e maior obra operística do compositor, L’incoronazione di Poppea. Embora a academia seja frequentemente descrita como um grupo de “libertinos céticos exaltando um tipo peculiarmente veneziano de imoralidade”, Loredan era um respeitado senador da República de Veneza. Outros membros também serviram à República como senadores ou vereadores, e a academia permaneceu um centro não oficial de poder político durante várias décadas. Sua influência começou a diminuir no final da década de 1650 e, em 1661, deixou de se reunir.
Claro que descobri tudo isso ouvindo uma entrevista de Amadine Beyer no YouTube. Aliás, Beyer é encantadora e, muito antes da Guerra atual de Israel contra o Hamas, expunha suas opiniões sempre com graça e firmeza.
.oOo.
Mas fomos longe demais em nossa explicação. Temos que agora dizer que estes 4 discos são joias que devem ser ouvidas. É música da melhor qualidade, tocada com alegria, verve e sensibilidade únicas, mostrando a maturidade da música historicamente informada. O CD já tem dez anos e o tempo não o prejudicou, pelo contrário. E o som é maravilhoso. Que gravação!
Comparar Vivaldi e Corelli não faz muito sentido. Os dois compositores são totalmente diferentes. Vivaldi é pura luz e alegria, Corelli é mais decoroso e lírico. São grandes compositores do barroco italiano que tanto amamos e é muito bom ouvi-los juntos.
Antonio Vivaldi: The Four Seasons And Other Concertos
Concerto For Two Violins & Cello RV578a in G minor
1-1 I. Adagio E Spiccato 1:25
1-2 II. Allegro 2:21
1-3 III. Largo E Spiccato 2:45
1-4 IV. Allegro 1:57
Concerto For Violin RV 372 in B flat Major “Per Signora Chiara”
1-5 I. Allegro Molto E Spiritoso 5:09
1-6 II. Largo Ma Non Molto 3:04
1-7 III. Allegro 4:14
“La Primavera” Concerto For Violin Op. 8 No.1 RV 269 in E Major
1-8 I. Allegro 3:18
1-9 II. Largo 2:15
1-10 III. Allegro 3:34
“L’estate” Concerto For Violin Op. 8 No.1 RV 315 in G minor
1-11 I. Allegro Non Molto 4:45
1-12 II. Adagio 2:00
1-13 III. Presto 2:41
“L’autunno” Concerto For Violin Op. 8 No. 3 RV 293 In F Major
1-14 I. Allegro 4:39
1-15 II. Adagio Molto 3:19
1-16 III. Allegro 3:02
“L’inverno” Concerto For Violin Op. 8 No. 4 RV 297 in F Major
1-17 I. Allegro Non Molto 3:09
1-18 II. Largo 1:42
1-19 III. Allegro 3:09
Concerto For Violin RV 390 in B minor
1-20 I. Andante Molto 1:00
1-21 II. Allegro Non Molto 5:12
1-22 III. Larghetto 2:26
1-23 IV. Allegro 3:56
Antonio Vivaldi: ‘Nouova Stagione’ – Concerti
Concerto For Violin & Organ RV 808 in C Major
2-1 I. Allegro 4:16
2-2 II. Largo 2:41
2-3 III. Allegro 3:35
Concerto For Cello RV 420 in A minor
2-4 I. Andante 3:56
2-5 II. Adagio 3:18
2-6 III. Allegro 3:32
Concerto For Traverso RV in E minor
2-7 I. Allegro 2:37
2-8 II. Andante [RV 438] 2:41
2-9 III. Allegro 2:15
Concerto For Violin RV 194 in C Major
2-10 I. Allegro Mà Poco 3:57
2-11 II. Largo 2:22
2-12 III. Allegro 2:08
Concerto For Traverso RV 440 in A minor
2-13 I. Allegro Non Molto 2:53
2-14 II. Larghetto 2:12
2-15 III. Allegro 3:05
Concerto For Cello RV 403 in D Major
2-16 I. Allegro 2:54
2-17 II. Andante E Spiritoso 2:10
2-18 III. Allegro 2:22
Concerto For Violin RV 235 in D minor
2-19 I. Allegro Non Molto 4:29
2-20 II. Adagio 3:32
2-21 III. Allegro 3:23
Concerto For Violin & Organ After RV 517 in G minor
2-22 I. Allegro 3:28
2-23 II. Andante 1:56
2-24 III. Allegro 3:07
Arcangelo Corelli: The Complete Concerti Grossi Op. VI
Concerto Da Chiesa Op. VI No. 7 in D Major
3-1 Vivace – Allegro – Adagio 2:25
3-2 Allegro 1:45
3-3 Andante – Largo 2:39
3-4 Allegro – Adagio
3-5 Vivace 1:03
Concerto Da Camera Op. VI No. 9 in F Major
3-6 Preludio: Largo 1:33
3-7 Allemagna: Allegro 2:31
3-8 Corrente: Vivace 1:27
3-9 Gavotta: Allegro 0:40
3-10 Adagio 0:47
3-11 Minuetto: Vivace 1:27
Sinfonia, WoO 1, To The Oratorio Santa Beatrice d’Este in D minor
3-12 Grave 1:55
3-13 Allegro – Adagio 2:09
3-14 Largo Assai 3:22
3-15 Vivace 1:38
Concerto Da Chiesa Op. VI No. 4 in D Major
3-16 Adagio – Allegro 3:17
3-17 Adagio 2:11
3-18 Vivace 0:54
3-19 Allegro – Allegro 2:49
Concerto Da Camera Op. VI No. 11 in B-flat Major
3-20 Preludio: Andante Largo 2:41
3-21 Allemanda: Allegro 2:19
3-22 Adagio 0:40
3-23 Andante Largo 1:32
3-24 Sarabanda: Largo 0:57
3-25 Giga: Vivace 0:58
Concerto Da Chiesa Op. VI No. 2 in F Major
3-26 Vivace – Allegro – Adagio – Vivace – Allegro – Adagio – Largo Andante 4:07
3-27 Allegro – Adagio 1:44
3-28 Grave – Andante Largo 2:05
3-29 Allegro 2:13
Concerto Da Chiesa Op. VI No. 8 in G minor, “Fatto Per La Notte Di Natale”
3-30 Vivace – Grave 1:31
3-31 Allegro 2:01
3-32 Adagio – Allegro – Adagio 3:19
3-33 Vivace 1:03
3-34 Allegro – Pastorale: Largo 5:30
Concerto Da Chiesa Op. VI No. 6 in F Major
4-1 Adagio 2:18
4-2 Allegro 1:49
4-3 Largo 3:36
4-4 Vivace 2:08
4-5 Allegro 2:46
Sonata A Quattro in G minor, WoO 2
4-6 Adagio – Andante Largo 1:19
4-7 Allegro 1:29
4-8 Grave 2:08
4-9 Presto 1:01
4-10 Vivace 0:59
Concerto Da Camera Op. VI No. 10 in C Major
4-11 Preludio: Andante Largo 2:34
4-12 Allemanda: Allegro 2:09
4-13 Adagio 0:57
4-14 Corrente: Vivace 2:26
4-15 Allegro 2:14
4-16 Minuetto: Vivace 1:32
Concerto Da Chiesa Op. VI No. 5 in B-flat Major
4-17 Adagio – Allegro – Adagio 3:21
4-18 Adagio 1:45
4-19 Allegro – Adagio 1:52
4-20 Largo 1:05
4-21 Allegro 2:04
Concerto Da Camera Op. VI No. 12 in F Major
4-22 Preludio: Adagio 2:46
4-23 Allegro 2:16
4-24 Adagio 2:08
4-25 Sarabanda: Vivace 0:49
4-26 Giga: Allegro 2:30
Concerto Da Chiesa Op. VI No. 3 in C minor
4-27 Largo 2:09
4-28 Allegro – Adagio 1:56
4-29 Grave 1:50
4-30 Vivace 2:06
4-31 Allegro 2:01
Concerto Da Chiesa Op. VI No. 1 in D Major
4-32 Largo – Allegro – Adagio – Allegro – Adagio – Allegro – Adagio 2:28
4-33 Largo – Allegro 2:24
4-34 Largo 3:31
4-35 Allegro – Adagio 1:40
4-36 Allegro 2:06
Bassoon – Maria Crisol (faixas: 2-1 to 2-24)
Cello – Marco Ceccato, Rebeca Ferri* (faixas: 2-1 to 2-24, 3-1 to 4-36)
Composed By – Antonio Vivaldi (faixas: 1-1 to 2-24), Arcangelo Corelli (faixas: 3-1 to 4-36)
Double Bass – Roberto Bevilacqua (faixas: 3-1 to 4-36)
Flute [Traverse] – Manuel Granatiero (faixas: 2-1 to 2-24)
Lute – Francesco Romano (faixas: 3-1 to 4-36)
Organ, Harpsichord – Anna Fontana, Violaine Cochard (faixas: 3-1 to 4-36)
Theorbo – Francesco Romano (faixas: 1-1 to 1-23), Ronaldo Lopes (faixas: 3-1 to 4-36)
Viola – Marta Páramo*, Ottavia Rausa (faixas: 3-1 to 4-36)
Violin – Alba Roca, Bérengère Maillard (faixas: 1-1 to 1-23), Flavio Losco, Helena Zemanová (faixas: 3-1 to 4-36), María José Pámpano (faixas: 3-1 to 4-36), Patrizio Germone (faixas: 3-1 to 4-36), Sabela García (faixas: 3-1 to 4-36), Yoko Kawakubo (faixas: 3-1 to 4-36) Violin [Soloist], Concertmistress – Amandine Beyer
Violone – Baldomero Barciela
Um CD que junta vários compositores italianos do século XVIII. Todas as obras são para oboés ou fagotes solistas. Após a primeira surpresa pela bela sonoridade alcançada pelos intérpretes, a coisa cai em plana mesmice. O Sans Souci é o grande destaque do trabalho, soltando bons ventos para todos os lados, só que os compositores não ajudam. O curioso é que Vivaldi perdeu-se em meio a seus contemporâneos e não consegui diferenciá-lo dos Lottiplattimontanari durante a audição do CD. O século XVIII italiano está lotado de bons compositores, mas acho que a maioria privilegiava o violino, não é verdade, Vivaldi? O conhecimento dos instrumentos de sopro durante a “Era do Iluminismo” era escasso, particularmente em contraste com os instrumentos de corda. De qualquer forma, a sonoridade é tão bonita que nem chegamos a notar a falta da boa música. Acho que vale a pena conferir.
Lotti / Platti / Vivaldi / Brescianello / Steffani / Montanari: Del Sonar Pitoresco (Ensemble Barocco Sans Souci)
Lotti : Sonata a quattro for two oboes, bassoon & b.c.
1 I. Adagio
2 II. Allegro
3 III. Adagio
4 IV. Allegro
Platti: Sonata in G Major for Oboe, obbligato bassoon & b.c
5 I. Adagio
6 II. Allegro
7 III. Largo
8 IV. Allegro
Vivaldi: Trio Sonata RV81 in G minor for two oboes & b.c
9 I. Allegro
10 II. Largo
11 III. Allegro
Brescianello: Concerto for oboe, obbligato bassoon & b.c
12 I. Largo
13 II. Allegro
14 III. Largo
15 IV. Allegro
Steffani: Aria “Chomigioia” for two oboes & b.c
16 Chomigioia: Aria
Lotti: “Echo” Sonata a 4 for two oboes, obbligato bassoon and b.c
17 I. Echo
18 II. Adagio
19 III. Allegro – Presto
Platti: Sonata in C minor for oboe, obbligato bassoon and b.c
20 I. Adagio
21 II. Allegro
22 III. Mesto
23 IV. Allegro
Montanari: Sonata in C for two oboes and b.c
24 I. Adagio
25 II. Allegro
26 III. Vivace
“L’Imperatore”, o 51º título da Edição Vivaldi da gravadora francesa Naïve, ficou a cargo do excelente violinista Riccardo Minasi e da orquestra barroca Il Pomo d’Oro o. Este CD é o quarto de uma série de 12, dedicada aos concertos para violino cujos manuscritos estão guardados na Biblioteca Nacional de Turim. É um empreendimento completista, mas cada um desses álbuns tem sido pelo menos interessante. Todos os concertos aqui presentes foram compostos rapidamente, dedicados ou executados diante de Carlos VI (1685-1740), soberano do Império Habsburgo, conhecido como patrono e apaixonado pela música. Mas não há sinal de pressa nestes notáveis e até revolucionários concertos para violino. Esta série de 7 concertos dão uma visão geral da arte completa de Vivaldi como compositor e violinista: grande invenção, expressão, energia e virtuosismo. Cada um dos movimentos lentos parece mais bizarro do que o anterior, e todos eles têm gestos expansivos, quase operísticos, que se prestam lindamente às performances de instrumentos de época do violinista Riccardo Minasi e do Il Pomo d’Oro. Minasi é um dos principais violinistas barrocos italianos e também é maestro. O resultado é quase um lançamento essencial de Vivaldi, por mais desconhecido que o repertório possa ser. Nesse CD, eu apenas conhecia o “L’amoroso”, que é realmente belíssimo.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Concerti Per Violino IV “L’imperatore” (Il Pomo d’Oro, Minasi)
Concerto RV 331 In Sol Minore
1 Allegro 4:27
2 Largo 4:34
3 Allegro 3:55
Concerto RV 171 In Do Maggiore Per S.M.C.C.
4 Allegro 3:42
5 Largo 1:58
6 Allegro Non Molto 3:19
Concerto RV 391 In Si Minore Op. 9 n° 12 (Violino Scordato)
7 Allegro Non Molto 4:41
8 Largo 3:10
9 Allegro 3:37
Concerto RV 271 In Mi Maggiore “L’amoroso”
10 Allegro 4:02
11 Cantabile 2:47
12 Allegro 3:20
Concerto RV 327 In Sol Minore
13 Allegro Mà Non Molto 3:30
14 Largo 3:50
15 Allegro 3:31
Concerto RV 263a In Mi Maggiore
16 Allegro 4:32
17 Largo 2:47
18 Allegro Non Molto 3:04
Concerto RV 181 In Do Maggiore
19 Allegro 3:28
20 Largo 2:52
21 Allegro 3:25
22 Allegro (Versione Alternativa Dall’ Op. IX No. 1, RV 181a) 2:35
Cello – Ludovico Minasi, Marco Ceccato
Contrabass – Davide Nava
Ensemble – Il Pomo d’Oro
Harp – Margreth Köll
Harpsichord [Clavicembalo], Organ – Andrea Perugi, Giulia Nuti (2)
Viola – Enrico Parizzi, Giulio D’Alessio, Pablo De Pedro*
Violin – Alfia Bakieva, Boris Begelman, Laura Corolla, Laura Mirri, Mauro Lopes Ferreira, Valerio Losito
Violin, Directed By – Riccardo Minasi
Comecemos, então, muito antes de Vivaldi: houve um tempo, longo tempo, em que por muitos séculos Veneza mandava no comércio de boa parte do Mediterrâneo, fazia comércio com bizantinos, turcos, persas, sírios, judeus e outros povos… O mosaico acima, de 1200 e pouco, retrata a Basilica di San Marco recebendo – em festa! – o corpo do evangelista São Marcos, que venezianos tomaram dos cristãos coptas da antiquíssima Igreja de Alexandria (que se mantinha após a islamização do Egito, mas fraca politicamente e representando uma minoria social, minoria que ainda corresponde a milhões de pessoas, 10% ou um pouco menos da população do Egito de hoje). O mosaico tem uma incongruência histórica: em cima do portal central com seu Cristo e o emblema IC XC (Jesus Cristo), podem ser vistos os quatro cavalos roubados de Constantinopla em 1204. Clique na imagem para ver os cavalos melhor. Napoleão depois levaria os cavalos para Paris mas o Congresso de Viena (1815) os devolveria. Ou seja, como fizeram Napoleão e ingleses no Egito e Atenas, antes o fez Veneza: roubou com base no princípio básico segundo o qual “quem pode, pode; quem não pode, se sacode!” (Como vovó já dizia…)
Não foi na imensa Basilica di San Marco que Vivaldi trabalhou, aliás em seu tempo ela talvez já fosse musicalmente pouco respeitada, apesar de toda a beleza dos mosaicos brilhantes e tesouros roubados. Mas em dois concertos gravados neste álbum temos uma característica musical que foi desenvolvida cerca de cem anos antes em San Marco: são concerti a due cori, ou seja, nos quais os músicos se dividem em dois grupos, um de cada lado da igreja, com o público no centro, é claro. Essa forma espacial e conceitual é bastante diferente daquela que se consolidou no estilo chamado de “teatro italiano”, que tem como característica a nítida separação entre o público e o palco, com este último na frente, em um tablado mais alto. Existem outras formas, além do público atrás (teatro italiano) ou no meio (due cori): por exemplo nas arenas greco-romanas e nos atuais estádios de futebol, o público fica em torno do espetáculo. Cada uma dessas organizações espaciais resulta em relações sujeito-objeto diferentes, é assunto para várias horas de conversa tomando bons vinhos. Retomemos o essencial: Vivaldi passou alguns períodos fora de Veneza e depois voltou a trabalhar no Ospedale della Pietà, encontrando o lugar reformado: em 1724 a igreja se adaptou arquitetônica e musicalmente ao formato com dois coros (ou duas orquestras na linguagem de hoje), aquele que em San Marco já era comum desde 1600! E assim podemos ter certeza de que os dois concertos per la Santissima Assunzione di Maria Vergine foram compostos quando Vivaldi já tinha cerca de 50 anos, representando o seu estilo maduro.
Os demais concertos do álbum, associados a outras festas cristãs, são anteriores. O primeiro deles provavelmente é o RV 212, para a “festa da santa língua de Santo Antônio de Pádua”, em fevereiro de 1712, quando Vivaldi morava naquela cidade. Nascido em Lisboa e morto em Pádua (Padova), seguidor de São Francisco, Santo Antônio foi canonizado pouco após sua morte em 1231: grande orador, sua língua incorruptível (“mumificada” de alguma forma) é venerada na Basílica dedicada a este santo em Pádua, 3ª maior cidade na região do Vêneto atrás de Veneza e Verona. Normalmente quando se fala em Santo Antônio nas línguas neo-latinas, é dele que se fala, enquanto em outros lugares o nome se refere sobretudo ao eremita Santo Antônio, que viveu no deserto no século IV e sofreu as famosas tentações retratadas por Hieronymus Bosch, Salvador Dalí e tantos outros pintores de imaginação fértil.
O Concerto em ré maior apelidado Grosso Mogul não parece ter sido assim nomeado por Vivaldi, o nome aparece apenas nas partituras desse concerto que circularam na Alemanha. J.S. Bach gostava tanto dele que fez uma transcrição para órgão (BWV 594). Na partitura original, ao invés de “Grosso Mogul” (título do imperador muçulmano que mandava em boa parte da Índia, da dinastia que fez o Taj Mahal em 1653), consta a sigla RBDV, cujo significado é desconhecido mas, segundo o professor Reinhard Strohm, o V deve se referir a ela, novamente ela, a Virgem Maria. Com suas cadências longas, difíceis e impressionantes, o concerto provavelmente data do primeiro momento de fama de Vivaldi em Veneza, por volta de 1713: após períodos em Brescia, Pádua e Vicenza, ele voltou para sua cidade natal em meio a muitas celebrações após as vitórias militares contra os turcos. Além de solar em seus concertos para violino, Vivaldi também estreou naquela época como compositor de oratórios com um de nome grandioso: “A vitória naval prevista por Sua Santidade o Papa Pio V”, referência a uma outra vitória de Veneza e aliados contra o Império Turco Otomano (em 1572, veja o quadro de Veronese aqui).
Antonio Vivaldi (1678-1741):
1-3 – Concerto “Per la Solennità della S. Lingua di S. Antonio di Padova” in D Major, RV 212
4-6 – Concerto “Il Riposo – Per il Santo Natale” in E Major, RV 270
7-9 – Concerto “Per la Solennità di S. Lorenzo” in F Major, RV 286
10-12 – Concerto in due Cori “Per la Santissima Assunzione di Maria Vergine” in D Major, RV 582
13-15 – Concerto in due Cori “Per la Santissima Assunzione di Maria Vergine” in C Major, RV 581
16-18 – Concerto “LDBV” (“Grosso Mogul”) in D Major, RV 208
Giuliano Carmignola, violino principale
Sonatori de la Gioiosa Marca
Recorded: Chiesa San Vigilio Col San Martino, Treviso, Veneto, Italia, 1996
Um post-scriptum em outro tom menos celebratório: as línguas estrangeiras são interessantes para desnaturalizar o que ouvimos desde sempre. “Virgem Maria” é uma expressão tão banal quanto “cruz credo”, mas lendo que em italiano dois desses concertos eram dedicados à “Assunzione di Maria Vergine” me salta aos olhos a grosseria, a fofoca que é associar, como se diz “Alexandre o Grande”, “Maria, a Virgem”. Uma preocupação com a virgindade – nunca a dos homens, claro – que me lembra aqueles que hoje em dia ficam se preocupando com banheiro unissex ou se autointitulando “imbrochável”.
No mesmo século 18 em que Vivaldi viveu, os arquivos da inquisição na América portuguesa registram casos de padres acusados de, durante a confissão, “apalpar os seios das mulheres, meter suas mãos por debaixo das saias, beijá-las, agarrá-las”, perguntar “se queriam pecar com eles”, se tinham “vaso [vagina] grande ou pequeno” e, “ouvindo confissões de mulheres casadas, perguntavam até sobre o tamanho do pênis dos maridos” (cito aqui o historiador Ronaldo Vainfas, Moralidades Brasílicas, 1997).
Quero crer que esses padres que se aproveitavam das confissões para novos pecados tenham sido minoria no século de Vivaldi (no fundo, jamais saberemos porque o que foi denunciado e anotado são gotas d’água no oceano ou ao menos na lagoa). Também creio que precisamente essa minoria de padres que apalpavam as mulheres no escuro – e/ou se informavam sobre seus maridos com vistas a pecados futuros – foram precisamente aqueles que mais se preocupavam com a virgindade de Maria.
Vivaldi compunha como quem bebe água: são centenas de concertos, muitas óperas, obras sacras, além de muita coisa que se perdeu na noite dos anos. Neste disco, o conjunto La Risonanza – que também gravou todas as muitas cantatas italianas de Händel – apresenta uma serenata do padre veneziano que não rezava missas: mas não pensem que esse nome serenata significasse algo como canções amorosas, nada disso: veremos mais abaixo que se trata de uma obra homenageando grandes figuras poderosas em Veneza e na França.
J.S. Bach também compôs várias obras seculares para ocasiões especiais, hoje comumente chamadas cantatas embora, ao que parece, ele não usasse tanto o termo: entre as que não se perderam, temos a homenagem funeral à esposa de Augusto III, eleitor da Saxônia (BWV 198), várias cantatas para puxar o saco deste mesmo Augusto ou ainda o nascimento do filho deste… Uma cantata para um casamento que não se tem certeza de quem foi (BWV 202), uma outra para celebrar a nomeação do novo professor de Direito Romano da Universidade de Leipzig (BWV 207). Nesta última, ele pegou emprestados trechos do 1º Concerto de Brandenburgo: essa prática do autoplágio também era comum nas obras vocais de Vivaldi e nesta Senna festeggiante ele pegou emprestadas melodias de sua ópera Giustino (1724), além de enxertar uma passagem de Antonio Lotti (1667-1740) – seu contemporâneo, também veneziano – na Ouverture instrumental da segunda parte.
O libreto do disco defende essa prática, lembrando que esse tipo de música muitas vezes era encenada uma única vez e o compositor podia querer tirar uma ária ou passagem instrumental do esquecimento: “Vivaldi, como Handel, era cuidadoso e talentoso na arte dos empréstimos, preocupado não só em poupar seu tempo e esforço mas também em estender a vida de seus melhores trechos musicais.” E no caso dessa “Senna festeggiante”, o nome próprio faz referência a ele mesmo, o rio Sena que corta as cidades de Paris e Rouen. (“La Senna”, ou “La Seine” em francês, enquanto Roma é cortada por “il Tevere”: essa alternância entre masculinos e femininos mostra que esses nomes dos rios estão ancorados em tradições regionais muito mais antigas do que a razão fria e calculista dos dicionaristas.)
A serenata, encenada em Veneza em 1726, foi provavelmente encomendada pelo embaixador francês naquela cidade e servia para puxar o saco de três homens célebres: o próprio embaixador, o Cardinal Ottoboni – membro da aristocracia veneziana e envolvido em assuntos diplomáticos com Paris e Roma – e finalmente, acima desses na hierarquia da época, o rei Louis XV, avô do outro Luís que teria a cabeça cortada bem depois. A história não tem o drama típico das óperas: com personagens mais ideais do que reais (a/o Sena, a Virtude e a Idade de Ouro), parece mais um diálogo de Platão, autor que, como se sabe, havia sido redescobrido entre os italianos desde o Renascimento.
Esse resumo do libreto aparece com mais detalhes nos trechos abaixo. Antes, mais um parêntese: Vivaldi provavelmente usava no dia a dia o dialeto do Vêneto, ainda vivo em muitas famílias locais. E para comunicações com diplomatas, estrangeiros etc. usava o italiano mais padrão, espécie de língua franca, usada também nas óperas e serenatas. Vamos às palavras de Michael Talbot no libreto do disco:
Três obras sobreviventes de Vivaldi pertencem a um interessante gênero vocal secular, muito cultivado no fim do século 17 e maior parte do 18, comumente conhecido como a serenata. A descrição alternativa desse tipo de obra como “cantata dramática” explica sua essência: uma obra vocal (logo, cantata) e dramática, nos termos da época, por se estruturar em um diálogo entre dois ou mais personagens nomeados.
O termo serenata deriva não de sera (noite), esta etimologia é um engano, o termo vem de sereno e reflete o fato de que essas obras era normalmente montadas não em teatros com cenários, mas em locais mais informais onde ou a plateia ou os músicos, ou todos eles, ficavam a céu aberto.
Serenatas costumava ser o ponto alto de elaboradas festas [nota do Pleyel: o termo italiano “festa” aparece no texto em inglês, o que é sintomático sobre a vida inglesa] comemorando algum evento significativo na vida de uma pessoa ou família importante, como um nascimento, aniversátio, casamento, visita ou tratado de paz. Serenatas costumavam ter cantores solistas e uma orquestra com cordas e continuo, às vezes aumentada com sopros; um coro separado era uma raridade. Aqui, Vivaldi emprega os três cantores nos poucos movimentos de “coro”. Seus enredos são conversas calmas entre as dramatis personae ao invés de uma sequência de eventos cheios de ação.
La Senna festeggiante é fruto da relação, de 1724 a 1729, entre Vivaldi e o embaixados francês em Veneza, Jacques-Vincent Languet, comte de Gergy. Os embaixadores costumavam, no dia 25 de agosto, fazer uma festa comemorativa do dia de São Luis [rei francês (1214-1270) canonizado por ter ido fazer guerra com muçulmanos em cruzadas]. Foi provavelmente em 1726 que Vivaldi compôs esta serenata: o ano pode ser estabelecido pelas características do papel usado no manuscrito,que foi copiado pelo pai do compositor, Giovanni Battista Vivaldi (com algumas inserções na letra de Antonio Vivaldi), mas também pelos padrões de empréstimos e relações entre a serenata e outras obras.
Menos de um ano antes, dia 12 de setembro de 1725, Vivaldi escrevera uma serenata menor, a duas vozes (RV 687) para celebrar o casamento de Louis XV com a princesa polonesa Maria Leszczynska. Em 1726 havia motivos para uma obra mais elaborada, homenageando a França além do monarca: a visita do Cardeal Pietro Ottoboni, protetor das artes e membro do patriciato veneziano, que atuava à época como represenante dos interesses franceses em Roma. Seu triunfal retorno em 1726 marcava a normalização das relações diplomáticas entre Veneza e França.
O libretto, por Lalli (parceiro frequente de Vivaldi) adota um esquema comum para serenatas da época: dois personagens alegóricos, L’Età dell’oro e La Virtù, caminham por uma paisagem triste em busca da felicidade perdida. Então, encontram La Senna, que promete a felicidade, e o clima fica mais alegre a partr daí. No segundo ato, se dirigem diretamente ao rei da França com elogios e orações.
Vivaldi insere, em alguns trechos, elementos musicais do estilo francês, que não aparecem em quase nenhuma de suas outras obras. Além de ritmos típicos que à época eram chamados “alla francese” nas partituras, há também inflexões harmônicas e melódicas tipicamente francesas sobratudo na Ouvertur (é como escreveu Giovanni Battista Vivaldi) que abre o segundo ato. Mas, mesmo com esses detalhes, a maior parte da obra é de estilo sobretudo italiano.
Na orquestração, temos o estilo de escrita para cordas típico de Vivaldi. Oboés e flautas doces aparecem como strumenti di rinforzo em apenas alguns movimentos, ficando calados na maior parte deles. Com exceção das suas óperas, La Senna festeggiante é a mais ambiciosa obra secular de Vivaldi a ter sobrevivido, um equivalente do que é, na obra sacra, o oratório Juditha triumphans.
As encomendas para o embaixador Languet não pararam aí: em 1727 ele escreveu uma serenata e um Te Deum para marcar o nascimento de duas princesas reais. Mas logo depois o compositor viajou para a Áustria e Boêmia e as encomendas do embaixador iriam para Albinoni. Quando voltou a Veneza, Languet não estava mais por lá. Então La Senna festeggiante é o principal testemunho da sua alta reputação na França após a publicação, em 1725, das Quattro stagioni.
Antonio Vivaldi (1678-1741):
La Senna festeggiante – Serenata a tre, RV 693, Venezia, 1726
Yetzabel Arias Fernández, soprano (l’Età dell’oro)
Martín Oro, alto (la Virtù)
Sergio Foresti, bass (la Senna)
La Risonanza:
Yanina Yacubsohn, Hélène Mourot, oboes
Isabel Lehmann, Thera de Clerck, recorders
Carlo Lazzaroni, Silvia Colli, Renata Spotti, Elena Telò, violins i
Mauro Lopes, Ulrike Slowik, Giacomo Trevisani, violins ii
Livia Baldi, Elena Confortini, violas
Caterina Dell’Agnello, Claudia Poz, cellos
Davide Nava, double bass
Fabio Bonizzoni, harpsichord & direction
Recorded in Saint Michel en Thiérache, France, 2011
Começo com esta postagem a trazer as gravações que a violinista inglesa, Rachel Podger, fez da obra de Antonio Vivaldi. A moça é um ‘monxtro’, como dizem cá pelas terras litorâneas do sul, principalmente na Ilha de Santa Catarina. Tem um pleno domínio do violino barroco, que toca com maestria. Sem medo, a coloco entre as maiores especialistas em interpretação historicamente informada, ao lado de outra excepcional violinista, Armandine Beyer.
Esta gravação das indefectíveis “Quatro Estações” é um primor de execução e criatividade. Difícil ficarmos indiferentes à ela. A própria sonoridade do instrumento de Podger é diferente, o som é mais rústico, mais cru.
Peço licença para citar o editorialista da amazon.com :
“A nova gravação de Podger visa acertar o relógio – reorientando os ingredientes que tornam The Four Seasons tão especial e lembrando os ouvintes do notável frescor da invenção de Vivaldi.”
E é exatamente este o destaque que pode se dar a esta gravação: frescor e inovação em sua execução, nos apresentando uma obra revigorada. Nem perderia mais tempo apresentando este CD tão especial, mas preciso falar da última obra executada, Concerto Il Grosso Mogul RV 208, com seu incrível Allegro final, com uma incrível cadenza de cinco minutos de duração, onde Lady Podger explora e expõe toda a sua técnica e virtuosismo. Repetindo os manezinhos da Ilha de Santa Catarina, diria com toda convicção: ‘Lady Podger, éx um monxtro’ …
Espero que apreciem.
Le Quattro Stagioni
Concerto No. 1 La Primavera – Spring Op. 8 No. 1 RV 269
1 Allegro
2 Largo E Pianissimo
3 Allegro
Concerto No. 2 L’Estate – Summer Op. 8 No. 2 RV 315
4 Allegro Mà Non Molto
5 Adagio
6 Presto
Concerto No. 3 L’Autunno – Autumn Op. 8 No. 3 RV 293
7 Allegro
8 Adagio Molto
9 Allegro
Concerto No. 4 L’Inverno – Winter Op. 8 No. 4 RV 297
10 Allegro Non Molto
11 Largo
12 Allegro
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Il Riposo Per Il S.S. Natale RV 270
13 Allegro
14 Adagio
15 Allegro
Concerto L’Amoroso RV 271
16 Allegro
17 Cantabile
18 Allegro
Concerto Il Grosso Mogul RV 208
19 Allegro
20 Grave
21 Allegro