A obra prima de Stravinsky dispensa apresentações. A novidade aqui é esta fantástica versão para dois pianos, com arranjo do próprio compositor, que, segundo seus biógrafos, primeiro escrevia as peças para o piano e depois a transcrevia para a orquestra. O piano era seu principal instrumento de trabalho. Ah, creio que tanto o Concerto para dois piano solos quanto as outras obras estão estreando aqui no PQPBach.
Dois grandes pianistas da atualidade se encarregam de interpretá-las nesta gravação, Leif Ove Andsnes, norueguês, e o canadense Marc-André Hamelin, que conhecemos por suas incursões na obra de Haydn e de Mozart. Com certeza, dois dos maiores pianistas da atualidade, músicos experientes, pois esta empreitada é para poucos. O criterioso trabalho de produção do excelente selo Hyperion torna tudo ainda mais especial.
Sim, eu sinto falta do barulho da orquestra, dos efeitos especiais, daquele caos sonoro. Mas lembro os senhores que o arranjo é do próprio compositor. Ouçam com atenção, e depois podem fazer as devidas comparações com sua versão orquestral favorita. A ‘Sagração da Primavera’ é uma das maiores composições do século XX, e vale a pena conhecer todas as possibilidades de interpretação. Lembro de ter trazido para os senhores a impressionante transcrição que o músico de jazz Larry Coryell fez para violão com cordas de aço. Quando puder, reposto este CD.
01 The Rite of Spring – Part 1, Introduction
02 The Rite of Spring – Part 1, Augurs of Spring (Dances of the Young Girls)
03 The Rite of Spring – Part 1, Game of Abduction
04 The Rite of Spring – Part 1, Spring Rounds
05 The Rite of Spring – Part 1, Game of the Two Rival Tribes
06 The Rite of Spring – Part 1, Procession of the Oldest and Wisest One
07 The Rite of Spring – Part 1, The Kiss of the Earth
08 The Rite of Spring – Part 1, Dancing Out of the Earth
09 The Rite of Spring – Part 2, Introduction
10 The Rite of Spring – Part 2, Mystic Circle of the Young Girls
11 The Rite of Spring – Part 2, Glorification of the Chosen One
12 The Rite of Spring – Part 2, Evocation of the Ancestors
13 The Rite of Spring – Part 2, Ritual Action of the Ancestors
14 The Rite of Spring – Part 2, Sacrificial Dance
15 Concerto for Two Solo Pianos – Con moto
16 Concerto for Two Solo Pianos – Notturno. Adagietto
17 Concerto for Two Solo Pianos – Quattro variazioni
18 Concerto for Two Solo Pianos – Preludio e fuga
19 Madrid
20 Tango
21 Circus Polka
A sinfonia, após Beethoven, se tornou uma forma épica, apropriada para grandes obras afirmativas de sentimentos românticos, espirituais ou trágicos. Não é à toa que, no período imediatamente antes, durante e após a longa 2ª Guerra Mundial, abundam sinfonias de peso: do lado comunista do mundo, as de Shostakovich, Prokofiev e Lutoslaswki; do lado ocidental, a Sinfonia Litúrgica de Honegger, composta entre 1945 e 46, é a mais célebre por expressar a tragédia daquele período, com uma pontinha de esperança quand même.
O próprio Honegger escreveu um extenso programa para a sinfonia, deixando explícita a conexão da música com os horrores da guerra e o desejo de paz. “Eu quis simbolizar a reação do homem moderno contra a maré da barbárie, da estupidez, do sofrimento…”, escreveu o compositor. Como sabemos, o homem que não conhece a história está condenado a repeti-la.
Herbert von Karajan, que regia muito pouca música do século XX, colocou esta sinfonia no seu repertório habitual e foi um dos maiores intérpretes dela, assim como da 2ª sinfonia, para cordas e trompete, escrita durante a guerra. Como escreveram dois comentaristas da Amazon:
It’s never really been out of fashion amongst some to denigrate von Karajan for being smooth and suave when he should be rough and ready, etc. etc. In any event, when he was personally sold on a piece, and championed it in the concert hall, there were few rivals. The Honegger 3rd (and 2nd, really) was one such piece. And yes, Karajan’s magician’s way of getting the Berlin Philharmonic into, and becoming, the piece is certainly in evidence here.
To call the strings impeccable in Symphony 2, (composed 1941), is an understatement, this is the Berlin Philharmonic we’re talking about, under Karajan they were by far the finest strings in the world. Hell, they were the best orchestra in the world, period. Symphony 3, “Liturgique”, (composed 1945-46), receives a one of a kind, supreme reading as well. It is nigh-definitive, the dies irae passionate, the adagio suitably expansive and moving, the final dona nobis pacem stunning in its virtuosity. Just like the second symphony this music was inspired by World War II and there’s plenty of tragic emotion in the work.
Honegger: Symphony No.2 For Trumpet And Strings (1941)
1. I: Molto moderato – allegro
2. II: Adagio mesto
3. III: Vivace, non troppo Honegger: Symphony No.3, “Liturgique” (1946)
4. I: “Dies Irae” – Allegro marcato
5. II: “De Profundis Clamavi” – Adagio
6. III: “Dona Nobis Pacem” – Andante Stravinsky: Concerto In D For String Orchestra, “Basler” (1946)
7. I: Vivace
8. II: Arioso. Andantino
9. III: Rondo. Allegro
Berliner Philharmoniker, Herbert von Karajan
CVL nos avisou que faz, hoje, quarenta anos da morte de Igor Stravinsky (esta postagem é originalmente de 6 de abril de 2011), uma das maiores personalidades da música do século XX.
Oedipus Rex foi escrito no período neoclássico de Stravinsky. O libreto da peça foi concebido por Jean Cocteau. A obra é baseada na tragédia homônima de Sofócles. Já a Sinfonia dos Salmos foi “composta em 1930, foi o resultado da encomenda que lha havia feito Sergei Koussevitzky para celebrar o 50º aniversario da Orquestra Sinfônica de Boston. Para evitar as conotações ligadas à tradição romântica, utilizou meios alheios ao gênero: coro infantil e masculino a quatro vozes e uma peculiar orquestra que incluía metal, madeira, dois pianos, percussão e uma secção de cordas reduzida, pois eliminou violinos e violas. Uma estranha sonoridade de claros e nítidos perfis onde domina a instrumentação arcaica, acentuada pelos frequentes ostinati que articulam numerosos trechos. No uso do latim, na combinação de modelos ligados à tradição ocidental e ao âmbito cultural russo-ortodoxo, há um desejo de superar a interpretação pessoal-expressiva e de alcançar certa objetividade, projetos que se materializam numa das criações mais importantes da música religiosa de nosso século. O começo é áspero, um seco acorde em Mi menor introduz a prece a Deus, omnipotente e distante. Fagotes e oboés são interrompidos pelo mesmo acorde que reaparecerá ao longo do movimento. O piano e a trompa os substituem e as cordas expõem o tema com que entrará o coro, “Exaudi orationem meam”, sobre o fundo das madeiras (fagotes, oboés, corno inglês). Este tema é retomado pelos contraltos, após uma breve passagem executada pelas flautas e oboés. Reaparece o acorde e entram os tenores e sopranos, com o acompanhamento dos dois pianos. De novo o acorde e , então somente com os instrumentos de sopro, desenvolve-se uma seção que leva ao crescendo e ao qual se une o resto dos instrumentos. Com as repetições de “remite mihi” o final discorre até o Sol. A parte central é um canto de esperança. O prelúdio, na seção de sopro, mostra as inauditas complexidades contrapontísticas que Stravinsky condensa neste movimento, construído como uma dupla fuga vocal e instrumental, em perfeito e denso equilíbrio, onde se combinam os mais estritos desenvolvimentos e inversões com tratamentos canônicos pessoais, registrados na estrutura polifônica. Depois da introdução, o coro, num clima tranqüilo começa sua declamação, “Expectus expectavi dominus”. Após uma passagem a capella e outra instrumental, todos os integrantes se unem fortissimo, para piano sobre “Sperabunt in Domino”. O salmo 150 é a base do canto de louvor final. O Dó menor de “aleluia” é levado, numa rápida modulação, ao Dó maior. As vozes entoam o primeiro versículo, criando, com suas repetições e com a trama instrumental, uma hipnótica sensação. A respeito do trecho seguinte, mais rápido, Stravinsky comentou que lhe fora sugerido “pela visão do carro de Elias subindo ao céu”. Esta vivaz seção, na qual ressalta um potente ostinati instrumental, guarda em seu centro uma passagem mais tranquila, que preludia a coda final, num ritmo de três por dois, e constitui “um hino sublime, quase imóvel, onde o tempo da música se une ao da eternidade”. Fonte.
Igor Stravinsky (1882-1971) – Oedipus Rex e Symphonie de Psaumes
Oedipus Rex
01. Prologue. Acte I
02. Acte II. Epilogue
Symphonie de Psaumes
03. I. Exaudi orationem meam, Domine
04. II. Exspectans exspectavi Dominum
05. III. Alleluia, laudate Dominum
Czech Philharmonic Chorus And Orchestra
Karel Ancerl, regente
Por certo vocês já perceberam minha predileção pelo piano. Os compositores que se destacam por compor para este instrumento são sempre meus preferidos, especialmente aqueles que escreviam para piano antes que este fosse inventado e também por aqueles que desconstruíam seus primeiros protótipos com o exclusivo intuito de torná-los aquilo para o qual deveriam existir…
Quando encontro um disco que reúne repertório destes compositores interpretado por algum artista promissor, que traz uma certa ousadia ou um novo olhar para estas obras, não deixo de ouvir vezes e vezes. E foi isto o que aconteceu com este disco da postagem.
Dia destes postei um disco da Anne Queffélec interpretando a obra que abre este disco – Miroirs. Temos aqui uma outra espetacular interpretação, agora com a jovem e talentosíssima pianista italiana – Beatrice Rana. A moça é filha de pianistas profissionais e confessa que ficou chocada ao saber, ainda mais jovem, que as outras pessoas raramente têm pianos em suas casas.
Ravel e Stravinsky eram muito diferentes, mas tinham grande respeito um pelo outro. O ‘língua de trapo’ do Igor chamou Maurice de ‘o relojeiro suíço’ da música – é claro, caricaturando a obsessão de Ravel com a perfeição de suas peças. Mas também disse que Maurice fora o único que entendera sua música logo após o furor que foi a estreia de sua Sagração da Primavera. Além de Miroirs, o disco tem duas obras de Stravinsky. Alguns trechos do Oiseau de Feu transcritas para piano por Guido Agosti, um pianista que foi aluno de Ferruccio Busoni, entre outros, e três movimentos de Petrouchka, do próprio Stravinsky. Há uma gravação destes movimentos feita por Maurizio Pollini que é extraordinária, mas hoje o dia é da bela Beatrice.
Para completar o pacote, La Valse, de Maurice Ravel. Você verá que uma orquestra não cabe em um piano, mas quase. Além disso, não é hora de ficar procurando defeitos, agarre o par mais próximo e aproveite este disco espetacular!
Ah, a bela Beatrice é capa da Gramophone, recebeu loas de todas as partes e teve um disco com as Variações Goldberg postado aqui pelo próprio PQP Bach. Então, ande, baixe logo o álbum, escute muitas vezes e venha logo aqui dizer que gostou. Pode clicar no ‘LEAVE A COMMENT’, bem em baixo do nome do compositor, no alto da nossa página, para dizer, mesmo com poucas e mal traçadas linhas, que gostou!
Depois de aparecerem nesta série em companhias diferentes, Martha Argerich e Daniel Barenboim voltam num aclamado recital na Philarmonie de Berlim. Os dois grandes músicos portenhos conheceram-se em sua cidade natal, enquanto eram as mais famosas crianças-prodígio de Buenos Aires. Os estudos e a família levaram Argerich para Viena, ao passo que Barenboim tomou o rumo de Israel. Reuniram-se depois, já mundialmente famosos, e em muitas ocasiões Daniel conduziu orquestras para solos de Martha. Suas aparições como duo pianístico são bem mais raras, e este recital de 2014, em que a Philarmonie transbordou de cadeiras extras, foi o primeiro do gênero em mais de quinze anos. O programa é um clássico: a graciosa Sonata para dois pianos de Mozart e as Variações de Schubert abrindo as cortinas para a furiosa Sagração da Primavera de Stravinsky, depois da qual, parece, nada mais cabe tocar. A caprichada gravação foi lançada pelo interessante selo Peral, do próprio Barenboim, dedicado inteiramente ao lançamento fonográfico de seus trabalhos como pianista e regente via internet – e, para quem não sabe, “peral” em espanhol significa “pereira”, que em alemão é “Birnbaum” e, em iídiche, “Barenboim”.
MARTHA ARGERICH – DANIEL BARENBOIM – PIANO DUOS
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Sonata em Ré maior para dois pianos, K. 448
01 – Allegro con spirito
02 – Andante
03 – Allegro molto
Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
04 – Variações sobre um Tema Original em Lá bemol maior, K. 813
Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971)
La Sacre du Printemps, em versão para dois pianos do próprio compositor
05 – Primeira parte: A Adoração da Terra
06 – Segunda parte: O Sacrifício
“Fred Astaire e Ginger Rogers transpostos da pista de dança para o teclado“.
Só este veredito acerca do trabalho do duo pianístico de Greg Anderson e Elizabeth Joy Roe já bastaria, cauteloso que sou acerca das sensibilidades da ala ultrarradical de nossos leitores-ouvintes, para colocar um sinal de .:interlúdio:. na frente do título. O duo Anderson & Roe, afinal, é jovem, bem-apessoado, bastante performático nos palcos, faz sucesso entre públicos que jamais sonhariam em escutar música para dois pianistas e, sacrilégio talvez maior ainda, usam amplamente a internet para granjearem sua fama.
Não coloquei qualquer ressalva .:interlúdica:., incluí os jovens em meio a gravações de Argerich, Barenboim e Lupu, e já ouço, por isso, os tomates zunindo em minha direção. Apresso-me em alcançar-lhes o contraponto: estes dois egressos da Juilliard School são excelentes pianistas, ótimos arranjadores e, de quebra, ainda têm um sensacional trabalho de duo. Vê-los tocando (e convido os leitores-ouvintes a explorarem a cybersfera para tanto) é se embasbacar com a precisão com que esses jovens dividem um teclado, entrecruzando as mãos de maneiras que não parecem fisiologicamente plausíveis, e a clareza que mantêm linhas melódicas que mesmo grandes pianistas deixam nubladas. Talvez falte um tanto de “peso” a este CD, que, à exceção da boa interpretação para a “Sagração da Primavera” de Stravinsky, é um bonito balaio de gatos composto tão só de transcrições e paráfrases de curtas obras alheias. O duo lançou posteriormente álbuns mais coesos, entre os quais um primoroso “The Art of Bach” que, depois que eu sair da base da pilha de pedras, eu postarei para vocês se os bramidos nas caixas de comentários não forem tão ferozes.
ANDERSON & ROE – REIMAGINE
01 – “Danse Macabre (remix)”, sobre “Dança Macabra, Poema Sinfônico Op. 40 de Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
02 – “The Swan”, sobre “O Cisne” de “O Carnaval dos Animais”de Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
03 – “A New Account of the Blue Danube Waltzes”, baseado em “An die schönen blauen Donau”, Op. 314 de Johann STRAUSS, filho (1825-1899)
04 – “The Cat’s Fugue”, sobre o tema da Sonata em Sol menor, K. 40, “A Fuga do Gato”, de Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
05 – Libertango, sobre obra de Astor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)
06 – “The Cuckoo in Sussex”, sobre “Le Coucou” de Louis-Claude DAQUIN (1694-1772)
07 – “Erbarme dich”, sobre ária da “Paixão segundo Mateus” de Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971)
A Sagração da Primavera, para dois pianos
08 – Introduction to Part I
09 – The Augurs of Spring
10 – Ritual of Abduction
11 – Spring Rounds
12 – Ritual of the Two Rival Tribes
13 – Procession of the Oldest
14 – The Kiss of the Earth
15 – The Dancing Out of the Earth
16 – Introduction to Part II
17 – Mystic Circle of the Young Girls
18 – Glorification of the Chosen One
19 – Evocation of the Ancestors
20 – Ritual Actions of the Ancestors
21 – Sacrificial Dance
Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
22 – Danse Macabre, Op. 40 (arranjo de Anderson & Roe)
Greg Anderson e Elizabeth Joy Roe, pianos e arranjos
Meu interesse em instrumentos musicais já me levou a tocar alguns deles em graus de sucesso que variam do sofrível ao ridículo. Minha experiência com todos, em especial os metais e as cordas, levou-me a admirar sobremaneira a dedicação dos instrumentistas para ajustarem suas bocas e dedos àqueles teimosos aparatos, extraindo deles não só sons agradáveis e condizentes com a intenção de um compositor, mas, o que é ainda mais impressionante, sem sucumbirem no processo.
Se acho uma façanha ser um virtuose de um instrumento que se toca tocando, que se pode dizer de um instrumento que se toca sem que se o toque?
Para mim, amigos, magia negra. Para o resto do mundo, é o assombroso teremim.
ooOoo
Inventado pelo físico russo Léon Theremin (Lev Termen, para os íntimos), este pioneiro entre os instrumentos eletrônicos é controlado pela posição das mãos do intérprete em relação a duas antenas: uma que regula a frequência, outra para o volume. O peculiar timbre resultante, já descrito como o de um “violoncelo perdido em neblina espessa, chorando por não saber como voltar para casa”, soa de melancólico a decididamente fantasmagórico. Não é à toa, portanto, que o teremim seja figurinha fácil de trilhas sonoras de filmes que abordam o incomum, o bizarro, e o inacreditável.
Parece difícil, e é mesmo. Por isso, talvez, passada a curiosidade inicial, o incrível instrumento de Theremin tenha ficado meio esquecido, e certamente limado de todos os círculos de música “séria”, até a entrada em cena de uma certa Clara Rockmore.
Nascida Klara Reisenberg em Vilnius (Lituânia), foi uma criança-prodígio no violino e chegou a estudar com Leopold Auer (sim, o professor de Heifetz; sim, o sujeito que esnobou o Concerto de Tchaikovsky) no Conservatório de São Petersburgo. Problemas de saúde fizeram-na abandonar o violino e a Música como um todo até encontrar, já nos Estados Unidos, o inventor Theremin. Trabalharam juntos no aperfeiçoamento do instrumento como meio de expressão artística. Foram tão próximos que Léon, que não era bobo, nem nada, lhe propôs casamento. Klara deu-lhe o fora, casou-se com um certo Rockmore, passou a chamar-se Clara e, emprestando ao teremim sua extraordinária musicalidade, transformou-se em sua primeira virtuose.
O vídeo acima, apesar do som precário, dá a vocês uma melhor ideia do que lhes tento dizer (além, claro,de ser deliciosamente funéreo!). O timbre, como já falamos, talvez seja um gosto adquirido, mas é assombrosa a expressividade que Rockmore obtém sem nada tocar além do éter. Se vocês perceberem, ao contrário da maior parte dos instrumentos, dos quais os silêncios são obtidos tão só pela suspensão da emissão do som, as pausas no teremim também têm que ser produzidas, através da ação a mão do volume (no caso de Rockmore, a esquerda).
Espero que, vencendo a natural estranheza, vocês possam apreciar a complicada arte desta virtuose incomum.
THE ART OF THE THEREMIN – CLARA ROCKMORE
Sergey VasilyevichRACHMANINOV (1873-1943)
01 – Canções, Op. 34 – no. 14: Vocalise
02 – Romances, Op. 4 – no. 4: “Ne poj, krasavitsa” [NOTA DO AUTOR: conhecida como “Canção de Grusia”, não se refere a qualquer pessoa, mas sim à região caucasiana da Geórgia, que tem este nome em russo]
Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
03 – O Carnaval dos Animais – no. 13: O Cisne
Manuel de FALLA y Matheu (1876-1946)
04 – El Amor Brujo – Pantomima
Yosif YuliyevichAKHRON (1886-1943)
05 – Melodia hebreia, Op. 33
Henryk WIENIAWSKI (1835-1880)
06 – Concerto para violino no. 2 em Ré menor, Op. 22 – Romance
A voz da soprano Sabine Devieilhe é o grande destaque deste belíssimo CD. E é ela quem o apresenta:
“Este álbum veio através do meu desejo de gravar Lakmé, um papel que tem sido muito querido para o meu coração desde que eu o fiz pela primeira vez no palco em 2012.
Para este personagem de Lakmé, Leo Delibés compôs algumas das mais belas músicas já compostas para soprano coloratura. Sua abordagem artística era essencialmente francesa, pois sempre fazia da voz o centro das atenções, com uma orquestração que às vezes é diáfana (quando uma heroína recita uma oração) e às vezes deslumbrante (nos grandes duetos amorosos).
Foi esse trabalho que despertou meu amor pela ópera francesa do século XIX. Mas Lakmé também surgiu no contexto de artistas europeus, tornando-se mais abertos a influências de terras distantes. Os ouvidos ocidentais estavam ansiosos por fazer viagens musicais e poéticas, e as pessoas eram cada vez mais receptivas a perfumes de longe.” Esta sua apresentação em sua íntegra se encontra no booklet que está anexado ao arquivo.
Dois momentos memoráveis deste CD é a magnífica ”Viens, Mallika’, com a ‘Duo das Flores’, uma das mais belas árias já compostas, e ‘La Romance d’Ariel” de Debussy. A voz de Sabine Devieilhe é alguma coisa de outro mundo. Tenho certeza que os senhores irão amar este CD.
1 Messager Madame Chrysanthème, Act 3 ‘Le jour sous le soleil béni’ (Madame Chrysanthème)
2 Debussy Pelléas et Mélisande, Act 3 ‘Mes longs cheveux descendent’ (Mélisande)
3 Delibes Lakmé, Act 2 ‘Où va la jeune Hindoue’ (Lakmé)
4 Delage 4 poèmes hindous – I. Madras
5 Delage 4 poèmes hindous – II. Lahore
6 Delage 4 poèmes hindous – III. Bénarès
7 Delage 4 poèmes hindous – IV. Jeypur
8 Debussy La Romance d’Ariel
9 Delibes Lakmé, Act 1 ‘Viens, Mallika’ (Lakmé, Mallika)
10 Stravinsky Le Rossignol, Act 2 ‘Ah, joie, emplis mon coeur’ (Le Rossignol)
11 Thomas Hamlet, Act 4 ‘À vos jeux, mes amis’ (Ophélie)
12 Berlioz La mort d’Ophélie
13 Massenet Thaïs, Act 2 ‘Celle qui vient est plus belle’ (La Charmeuse, Crobyle, Myrtale)
14 Koechlin Le voyage
15 Delibes Lakmé, Act 3 ‘Tu m’as donné le plus doux rêve’ (Lakmé)
O disco perfeito. Ou quase, não fora a presença de Webern… Mesmo assim, é um dos que levaria para a ilha deserta. Os três movimentos de Petruschka e a Sonata de Prokofiev foram gravados em 1971 e a notável Sonata de Boulez e as Variações de Webern são de 1976. Eram dois discos, viraram um CD. Um grande CD que é reeditado e reeditado pela DG, que o publicou nas Legendary Recordings da gravadora.
Meu Deus – e notem que sou ateu! – o que Pollini faz na Petruschka e nas Sonatas de Prokofiev e Boulez só pode ser explicado pelo diabo. Já na obrinha de Webern, o diabo tem mais é que explicar a existência destas variações… Porém, meu caro Pollini, eu te perdôo tudo neste mundo e tu podes até tocar toda a obrinha de menos de duas horas de Webern que eu não me importo.
Bom, vocês sabem que Pollini é meu pianista preferido. Não sou muito original nisto. Abaixo, duas notícias sobre ele.
Retirada daqui: Maurizio Pollini nasceu em 1942 em Milão e estudou piano com Carlo Lonati e Carlo Vidusso. Depois de vencer o Concurso Internacional Chopin de Varsóvia em 1960, percorreu uma destacada carreira internacional, apresentando-se nas mais importantes salas de concerto e festivais, colaborando com as mais prestigiadas orquestras e com maestros de renome, como Karl Böhm, Sergiu Celibidache, Herbert von Karajan, Claudio Abbado, Pierre Boulez, Riccardo Chailly, Zubin Mehta, Wolfgang Sawallisch, e Riccardo Muti, entre muitos outros.
Em 1987, após a interpretação dos concertos para piano de Beethoven, em Nova Iorque, Maurizio Pollini foi galardoado pela Orquestra Filarmónica de Viena com o prestigiado Ehrenring. Em 1996 recebeu o prémio Ernst-von-Siemens, em Munique, e em 1999 o prémio A Life for Music – Arthur Rubinstein, em Veneza. No ano 2000, foi distinguido com o prémio Arturo Benedetti Michelangeli, em Milão.
Em 1995, Maurizio Pollini abriu o festival que a cidade de Tóquio dedicou a Pierre Boulez. No mesmo ano e em 1999, organizou e interpretou os seus próprios ciclos de concertos e recitais no Festival de Salzburgo, seguindo-se o Carnegie Hall de Nova Iorque (em 1999-2000 e 2000-2001), a Cité de la Musique, em Paris, e Tóquio (ambos em 2002) e o Parco della Musica, em Roma (Março de 2003). Reflectindo o vasto leque das sua preferências musicais, a programação escolhida para estes eventos incluiu música orquestral e de câmara, abarcando compositores desde Gesualdo e Monteverdi até aos contemporâneos. No Verão de 2004, foi o «Artist Étoile» do Festival Internacional de Lucerna, dando um recital e concertos com orquestra sob a direcção de Claudio Abbado e Pierre Boulez.
O repertório de Maurizio Pollini estende-se de Johann Sebastian Bach até aos compositores contemporâneos (incluindo estreias de obras de Nono, Manzoni e Sciarrino) tendo, como componente central, o ciclo integral das sonatas de Beethoven, que o pianista apresentou em Berlim, Munique, Milão, Nova Iorque, Londres, Viena e Paris.
Maurizio Pollini gravou numerosos discos dedicados ao repertório clássico, romântico e contemporâneo. Neste último domínio, possui uma extensa discografia dedicada à obra pianística de Schönberg, Berg, Webern, Nono, Manzoni, Boulez e Stockhausen, que foi largamente aclamada pela crítica e que constitui um testemunho eloquente da grande paixão que o intérprete nutre pela música do século XX.
A recente gravação dos Nocturnos de Chopin foi também recebida com grande entusiasmo pelo público e pelos críticos: em 2007 ganhou um Grammy na categoria de «Melhor Interpretação solista». Em 2006 recebeu os prémios Echo (Alemanha), «Choc» da revista Le Monde de la Musique, e Diapason d’Or de l’Année (França).
Sua primeira gravação pela Deutsche Grammophon: “Três Movimentos de Petrushka” de Stravinsky e a Sonata nº 7 de Prokofiev, feita em 1971, é o início de uma notável discografia.
Pollini é artista de grande refinamento, de alto rigor técnico e extremamente intelectual. A música contemporânea tem sido parte do repertório de Pollini desde que este pianista começou a sua carreira de concertista internacional.
Arnold Schoenberg teve seu centenário de nascimento comemorado em 1974.No mesmo ano, em Londres, Pollini tocou a integral das obras para piano deste compositor. Berg, Webern, Pierre Boulez e até mesmo Stockhausen tem lugar no repertório deste pianista.
Em 1987, toca os cinco Concertos de Beethoven com a Orquestra Filarmônica de Viena, sob a regência de Claudio Abbado. Pollini apresenta o ciclo completo das 32 sonatas de Beethoven em 1993-94 em Berlim, Munique, Nova Iorque, Milão, Paris, Londres e Viena.
Em 2001, sua gravação das Variações Diabelli de Beethoven , ganha o prêmio ” Diapason d’or”.
Igor Stravinsky (1882-1971) – Petruschka
1. Three movements ‘Petruschka’ – Danse russe. Allegro giusto 2:34
2. Three movements ‘Petruschka’ – Chez Pétrouchka 4:17
3. Three movements ‘Petruschka’ – La semaine grasse. Con Moto – Allegretto – Tempo giusto – Agitato 8:29
Sergei Prokofiev (1891-1953) – Sonata Nro. 7
4. Piano Sonata No.7 in B flat, Op.83 – 1. Allegro inquieto – Andantino – Allegro inquieto – Andantino – Allegro inquieto 7:37
5. Piano Sonata No.7 in B flat, Op.83 – 2. Andante caloroso – Poco più animato – Più largamente – un poco agitato – Tempo I 6:12
6. Piano Sonata No.7 in B flat, Op.83 – 3. Precipitato 3:17
Anton Webern (1883-1945) – Variações
7. Piano Variations, Op.27 – 1. Sehr mässig 1:59
8. Piano Variations, Op.27 – 2. Sehr schnell 0:40
9. Piano Variations, Op.27 – 3. Ruhig, fliessend 3:29
Pierre Boulez (1925) – Segunda Sonata
10. Piano Sonata No.2 – 1. Extrèmement rapide 6:09
11. Piano Sonata No.2 – 2. Lent 11:04
12. Piano Sonata No.2 – 3. Modéré, presque vif 2:14
13. Piano Sonata No.2 – 4. Vif 10:12
Se o Divertimento de Stravinsky não é lá essas coisas, as Sonatas de Ravel e Prokofiev são das melhores coisas escritas para violino e piano no século XX.
O baixinho Ravel escreveu sua Sonata Nº 2 para Violino e Piano entre 1923 a 1927. Ele foi inspirado pela música norte-americana — leia-se jazz e blues. Acontece que a clássica banda de blues de W.C. Handy exibiu o estilo do blues de St. Louis em Paris. Ravel ouviu e foi enfeitiçado. Meu deus, ouçam a maravilha que é o movimento Blues desta Sonata. Elementos de jazz também podem ser encontrados no Concerto para a Mão Esquerda e outros trabalhos.
A notável Sonata Nº 2 para Violino e Piano, Op. 94a, de Prokofiev, foi baseada em sua irmã gêmea para Flauta e Piano (1942) e arranjada para violino em 1943, quando Prokofiev vivia em Perm, nos Montes Urais, um abrigo remoto para artistas soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial. Prokofiev transformou o trabalho em uma sonata de violino por sugestão de seu célebre amigo, o violinista David Oistrakh. Minha mulher, que é uma violinista russa, toca maravilhosamente bem esta obra-prima.
Igor Stravinsky (1882-1971): Divertimento | Maurice Ravel (1875-1937): Sonata Nº 2 para Violino e Piano | Sergei Prokofiev (1891-1953): Sonata para Violino e Piano
Oedipus Rex é uma “ópera-oratório segundo Sófocles”, de Igor Stravinsky, para orquestra, narrador, solistas e coro masculino. O libreto, baseado na tragédia de Sófocles, foi escrito por Jean Cocteau em francês e depois traduzido pelo abade Jean Daniélou para o latim. A narração, no entanto, é sempre no idioma da plateia. Oedipus Rex foi escrito no início do período neoclássico de Stravinsky e é considerado um dos melhores trabalhos desta fase da carreira do compositor. Ele havia considerado usar o grego antigo, mas acabou se decidindo pelo latim. A estreia aconteceu em Paris em 1927 no formato de concerto, mas pode ter o formato de ópera.
Igor Stravinsky (1882-1971): Oedipus Rex
1 Prologue: “Spectateurs! Vous Allez Entendre Une Version Latine D’ Oedipe-Roi” 0:49
2 Act I: “Caedit Nos Pestis” 3:24
3 Act I: Liberi Vos Liberabo 3:26
4 Act I: Respondit Deus 3:07
5 Act I: Non Reperias Vetus Scelus 3:28
6 Act I: Oedipe Interroge La Fontaine de Verite 2:21
7 Act I: Dicere Non Possum 2:25
8 Act I: Rex Peremptor Regis Est – Invidia Fortunam Odit 3:11
9 Act I: Gloria! 1:09
10 Act II: La Dispute Des Princes Attire Jocaste 0:54
11 Act II: Gloria! 1:10
12 Act II: Nonn’ Erubescite, Reges 4:20
13 Act II: Ne Probentur Oracula 2:20
14 Act II: Cave Oracula! – Trivium, Trivium 1:27
15 Act II: Oracula Mentiuntur 2:01
16 Act II: Le Témoin Du Meurtre Sort de L’ombre 0:30
17 Act II: Adest Omniscius Pastor 2:24
18 Act II: Oportebat Tacere 1:31
19 Act II: Nonne Monstrum Rescituri 1:21
20 Act II: In Monte Reppertus Est 1:00
21 Act II: Natus Sum Quo Nefastum Est 0:46
22 Act II: Et Maintenant, Vous Allez Entendre 1:18
23 Act II: Divum Iocastea Caput Mortuum! 3:04
24 Act II: Ekke! Regem Oedipoda 2:21
Baritone Vocals [Creon/messenger] – Simon Estes
Bass Vocals [Tiresias] – Hans Sotin
Choir – The Eric Ericson Chamber Choir*, Orphei Drängar, Swedish Radio Choir*
Narrator – Patrice Chéreau
Soprano Vocals [Jocasta] – Anne Sofie Von Otter
Tenor Vocals [Oedipus] – Vinson Cole
Tenor Vocals [shepherd] – Nicolai Gedda
Swedish Radio Symphony Orchestra*
Esa-Pekka Salonen
Completando a série das gravações dedicadas a Rachmaninov pela dupla Gergiev / Matsuev, trago para os senhores o Primeiro Concerto, que segundo consta, o jovem Sergey compôs aos dezessete anos de idade, e mais tarde veio a revisá-lo.
Dos quatro concertos que Rach talvez este seja o mais “simples”, se o compararmos com seus outros três companheiros. Mas mesmo assim já identificamos nele alguns elementos que já mostram a assinatura do compositor.
Para aqueles que querem ampliar os seus conhecimentos da lingua russa, o libreto em anexo lhes dará essa possibilidade, para os que não tem a mínima noção daquela língua, também tem texto em inglês.
01. Rachmaninov Piano Concerto No.1 – I. Vivace
02. Rachmaninov Piano Concerto No.1 – II. Andante
03. Rachmaninov Piano Concerto No.1 – III. Allegro vivace
04. Stravinsky Capriccio – I. Presto
05. Stravinsky Capriccio – II. Andante rapsodico
06. Stravinsky Capriccio – III. Allegro capriccioso ma tempo giusto
07. Shchedrin Piano Concerto No.2 – I. Dialogues Tempo rubato
08. Shchedrin Piano Concerto No.2 – II. Improvisations Allegro
09. Shchedrin Piano Concerto No.2 – III. Contrasts Andante – Allegro
Denis Matsuev – Piano
Mariinsky Orchestra
Valery Gergiev – Conductor
A inteligente e agradável música neoclássica de Stravinsky pelas mãos de dois especialistas, Salonen e Crossley. Por neoclassicismo entende-se um retorno à música do passado, particularmente à música dos séculos XVII e XVIII, através de seus modelos formais e estruturas melódicas e rítmicas. Mas isso se dá não como imitação ou recriação, mas com a criação de novos modelos a partir de referências passadas. O neoclassicismo surge como uma reação ao carácter exacerbadamente emocional da música do século XIX, buscando o caráter mais racional nos períodos clássico e barroco. As obras de Stravinsky entre 1920 e 1952 fazem uma revisitação destes períodos, aos quais junta as influências da música popular como o jazz, o ragtime e ainda de compositores do séc. XIX. (Parcialmente copiado daqui).
Capriccio For Piano & Orchestra (1949 Version)
1 I – Presto 6:39
2 II – Andante Rapsodico 5:11
3 III – Allegro Capriccioso Ma Tempo Giusto
4 Symphonies Of Wind Instruments (1947 Version) 8:41
Concerto For Piano & Wind Instruments (1950 Version)
5 I – Largo; Allegro 7:07
6 II -Largo 7:02
7 III – Allegro 4:56
Movements For Piano & Orchestra
8 I – ♪=110 2:49
9 II – ♩=52 1:20
10 III – ♪=72 0:57
11 IV = ♪=80 1:49
12 V – ♪=104 1:52
Orchestra – London Sinfonietta
Piano – Paul Crossley
Conductor – Esa-Pekka Salonen
Eu não sou apaixonado por O Pássaro de Fogo, mas a maioria acha que é a peça é fundamental na obras de Stravinsky. Então tá, eu me curvo. L’Oiseau de feu (1910) é um balé de Igor Stravinsky baseado em contos populares russos sobre um pássaro mágico brilhante que é tanto uma bênção como uma perdição para o seu captor. A música foi pela primeira vez apresentada como balé pelos Ballets Russes de Sergei Diaghilev e foi a primeira das produções da companhia feita com música especialmente composta para ela. O Pássaro tem significado histórico por ser a peça que deu a Stravinsky o primeiro grande êxito, e por ter sido o início de uma colaboração entre Diaghilev e Stravinsky de que iria também resultar nas obras-primas Petrushka e A Sagração da Primavera. Jeu de cartes (Jogo de Cartas) é outro balé de Igor Stravinsky, composto em 1936-37, com libreto do compositor em colaboração com M. Malaieff e coreografia de George Balanchine. O balé foi estreado pelo American Ballet no Metropolitan Opera House, em Nova York, em 27 de abril de 1937, com a condução do compositor. A ideia é o pôquer. Diferentemente de O Pássaro, Jogo de Cartas foi escrito durante o período neoclássico de Stravinsky, iniciado pelo maravilhoso Pulcinella, lá por 1920.
The Firebird • Der Feuervogel • L’Oiseau De Feu (Complete Original 1910 Version)
1 Introduction (Molto Moderato) 2:59 Tableau I:
2 Kashchei’s Enchanted Garden 1:39
3 The Firebird Appears, Pursued By Prince Ivan (Allegro Assai) 2:15
4 Dance Of The Firebird 1:23
5 The Firebird Is Captured By Prince Ivan 0:52
6 The Firebird’s Pleading (Adagio) 6:02
7 Appearance Of The Thirteen Enchanted Princesses 2:21
8 The Princesses Play With The Golden Apples (Scherzo: Allegretto) 2:15
9 Prince Ivan Suddenly Appears (Larghetto) 1:07
10 Khorovod (Round Dance) Of The Princesses (Moderato) 4:51
11 Day Break (Più Mosso) 1:24
12 Prince Ivan Enters Kashchei’s Palace. Fairy Carillon. Kashchei’s Guardian-Monsters Appear And Capture Prince Ivan 1:16
13 Arrival Of Kashchei The Immortal (Sostenuto) 1:08
14 Dialogue Between Kashchei And Prince Ivan (Poco Meno Mosso) 1:07
15 The Princesses Intercede (Andantino Dolente) 1:10
16 The Firebird Appears 0:32
17 Dance Of Kashchei’s Court, Bewitched By The Firebird (Allegro) 0:44
18 Infernal Dance Of Kashchei’s Subjects (Allegro Feroce) 4:22
19 Lullaby (The Firebird) 2:44
20 Kashchei Awakens 1:07 Tableau II:
21 Death Of Kashchei 1:19
22 The Palace And Creatures Of Kashchei Disappear. The Petrified Knights Come To Life. General Rejoicing. 3:07
Jeu De Cartes
23 First Deal 5:16
24 Second Deal 9:19
25 Third Deal 7:41
Apollon Musagète (Apolo, líder das Musas) é um bailado em duas cenas de Igor Stravinsky, encomendado por Elizabeth Sprague Coolidge e composto entre 1927 e 1928. Na década de 1950, o título da obra foi abreviado para Apollo.
Foi coreografado e estreado em 27 de abril de 1928 pela companhia de Adolph Bolm, em Washington, D.C., mas o autor ignorou esta estreia, pois havia vendido os direitos para os Ballets Russes de Sergei Diaghilev, estreando na Europa em 12 de junho de 1928, no Teatro Sarah Bernhardt, em Paris, com coreografia de George Balanchine, cenário de André Bauchant e figurino de Coco Chanel.
A história está centrada em Apolo, que é visitado pelas musas Terpsícore, Polímnia e Calíope. O deus ensina-lhes as suas artes, conduzindo-as ao Parnaso, numa reinvenção da tradição dos mitos clássicos. A música é executada por uma orquestra de cordas de 34 instrumentos, e a obra tem uma feição intencionalmente classicista.
O Concerto in D para orquestra de cordas foi composto em Hollywood entre o início de 1946 e estreado em 8 de agosto do mesmo ano. A grana veio de Paul Sacher para celebrar o vigésimo aniversário do Basler Kammerorchester, e por esta razão é por vezes referido como o Concerto “Basileia”.
A Cantata de Igor Stravinsky é uma obra para soprano, tenor, coro feminino e conjunto instrumental (de duas flautas, oboé, cor anglais) e foi composta de abril de 1951 a agosto de 1952.
Tudo aqui, mas tudíssimo mesmo, é do período neoclássico de Strava. O trabalho de Salonen é impecável. Eu gosto moderadamente das obras.
Igor Stravinsky (1882-1971): Apollon Musagète • Concerto In D • Cantata
Apollo (Apollon Musagète) — Ballet In Two Scenes (1947 Revised Version) First Scene (Prologue)
1 Apollo’s Birth 5:18 Apollo (Apollon Musagète) — Ballet In Two Scenes (1947 Revised Version) Second Scene
2 Apollo’s Variation (Apollo And The Muses) 2:45
3 Pas D’action (Apollo And The Three Muses: Calliope, Polyhymnia, And Terpsichore) 3:37
4 Calliope’s Variation (Alexandrine) 1:18
5 Polyhymnia’s Variation 1:14
6 Terpsichore’s Variation 1:35
7 Apollo’s Variation 2:42
8 Pas De Deux (Apollo And Terpsichore) 2:33
9 Coda (Apollo And The Muses) 3:04
10 Apotheosis 3:25
Concerto In D For String Orchestra (1946 Revised Version)
11 I. Vivace 5:43
12 II. Arioso: Andantino 2:33
13 III. Rondo: Allegro 3:26
Baita disco. Todas obras FUNDAMENTAIS do século XX, retiradas da fase neoclássica de Strava. Pulcinella é uma obra-prima, mas o Octeto, o Ragtime e Renard não ficam muito atrás. Abaixo, copio dois textos sobre Pulcinella publicados aqui.
A Suite Pulcinella, com sua elegância e originalidade, é o coroamento da fase em que Stravinsky permaneceu retirado em seu refúgio na Suíça, quando dedicou-se particularmente à criação de uma grande e inspirada série de obras de câmara. Isto se deu um ano antes de sua mudança para Paris. Terminada a 20 de abril de 1920 e estreada com enorme sucesso a 15 de maio do mesmo ano, Pulcinella nasceu não só da encomenda de Sergei Diaghilev para o seu balé russo, mas foi também a realização, para Stravinsky, de um antigo sonho de trabalhar com Picasso, com quem há muito se identificava esteticamente. Já de seus encontros com o genial pintor espanhol nos idos de 1917, em Roma e Nápoles (onde Stravinsky estivera para reger Pássaro de Fogo e Fogos de Artifício com o balé russo), nascera o acordo entre os dois de trabalharem juntos no resgate de antigas aquarelas italianas para o palco das “commedia dell”arte” renascentistas. A encomenda de Diaghilev vinha de encontro a uma fase em que Stravinsky se ocupava intensamente com música antiga. Diaghilev sabia disso e não perdeu a oportunidade de se aproveitar destas condições favoráveis ao descobrir, em Nápoles e Londres, a música de Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736), que o encantou e seduziu. A ela juntou o texto escolhido de um compêndio composto por várias comédias do folclore napolitano, manuscrito datado de 1700 e encontrado em Nápoles, do qual foram excluídos os nomes dos autores. O texto chamava-se Os Quatro Pulcinellas Iguais e contava a história de Pulcinella, um rapaz aventureiro, amado por todas as moças do lugar e odiado pelos noivos destas. Então três destes enciumados rapazes se fantasiaram de Pulcinella e se apresentaram às suas noivas como tal, aproveitando-se da situação para atacar e se ver livre do que eles achavam ser o verdadeiro Pulcinella. Só que aquele que eles deixam estirado no chão como morto, pensando com isto terem se livrado de seu rival, não era outro senão um sósia que Pulcinella colocara em seu lugar ao perceber toda a trama. Pulcinella, então, fantasia-se de mágico, faz uma cena como que ressuscitando o morto e acaba casando os três noivos com três das noivas, tomando para si próprio a Pimpinella como mulher, a quem ele queria. Para o balé de oito cenas, Stravinsky escreveu 15 números musicais, que contaram não só com a sua genialidade, mas também com a de Picasso – que se encarregou dos cenários e dos costumes, a de Massine, responsável pela coreografia, e a de Diaghilev, dirigindo o balé russo. A Suite Pulcinella é uma forma concertante, portanto reduzida, do balé, a qual teve sua revisão definitiva em 1949.
Outro comentário
Em 1919, Diaghilev, o diretor dos Ballets Russes de Paris, concebe um novo projeto: Pulcinella (Polichinelo), um espetáculo com personagens da Commedia Dell”Arte. O cenário e os figurinos acabaram sendo realizados por Picasso e a música por Stravinsky, baseada em temas atribuídos a Pergolesi (1710-1736). A música de Stravinsky até então era marcada pela inspiração na arte popular russa, em obras como Pribaoutki, Sagração da Primavera e Petruchka, as duas últimas também em colaboração com Diaghilev. Pulcinella tem um valor simbólico na trajetória do compositor, caracterizando o momento em que ele passa a olhar para o passado. Ouvimos aqui uma recriação de obras caídas no esquecimento, de compositores do século XVIII, entre eles Giovanni Baptista Pergolesi, Alessandro Parisotti, Domenico Gallo, Carlo Ignazio Monza e Unico Wilhelm van Wassenaer. As melodias e harmonias originais são mantidas intactas, assim como a duração e a estrutura das peças. Stravinsky opera basicamente com o timbre, procurando novas cores harmônicas e redistribuindo o material original numa orquestração “caleidoscópica”. Em seu livro Stravinsky, Boucourechliev define este processo: “Neoclássica, Pulcinella não o é: trata-se de uma obra propriamente clássica, inteiramente composta, ou antes, recomposta a partir de músicas existentes”. Para Stravinsky, esta peça marca uma descoberta do passado que o nortearia dali por diante. A partir daí, ele faria novas recriações, baseando-se em obras de Gesualdo, Bach e Tchaikovsky, por exemplo. Mas Pulcinella tem também um significado no contexto da música do século XX. Ao mesmo tempo em que ouvimos um grande criador, uma sutilíssima invenção timbrística, ouvimos também a substituição do presente pelo passado na criação. Um crítico diria: “Em todas essas composições planeja o artesanato mais perfeito, unido ao mais inatual dos anacronismos. (…) A rigor, os retornos sucessivos de Stravinsky não significam outra coisa que a incapacidade de escrever música nova, criando seu próprio estilo”. Hoje, após tantos anos, podemos ver que as tentativas de outros compositores de escrever “música nova”, mesmo de altíssima qualidade, também não resolveram o beco sem saída da música erudita no século XX. Este trágico século deixou uma marca profunda também nesta arte. Será necessário compor hoje música do passado para criar algo de belo?
Pulcinella (1965 Revised Edition) – Ballet In One Act. (For Small Orchestra With Three Solo Voices. After Giambattista Pergolesi and others)
1 Overture. Allegro Moderato 2:02
2 Serenata. Larghetto 2:43
3 Scherzino. Allegro 5:48
4 Ancora Poco Meno 2:04
5 Allegro Assai 1:53
6 Allegro (Alla Breve) 2:11
7 Andante 4:00
8 Presto 1:33
9 Allegro – Alla Breve 1:17
10 Tarantella 1:12
11 Andantino 2:53
12 Allegro 0:52
13 Gavotta Con Due Variazioni. Allegro Moderato 3:47
14 Vivo 1:26
15 Tempo Di Minuetto. Molto Moderato 2:33
16 Allegro Assai 1:57
Bass Vocals – John Tomlinson (2)
Soprano Vocals – Yvonne Kenny
Tenor Vocals – John Aler
17 Ragtime For Eleven Instruments (1918) 4:23
Renard The Fox – A Burlesque Tale In Song And Dance
18 Marche 0:59
19 Allegro 0:57
20 Meno Mosso 3:27
21 (Salto Mortale) 0:40
22 Con Brio 2:03
23 Meno Mosso 2:27
24 (Salto Mortale) 0:44
25 Moderato 0:55
26 Scherzando 1:00
27 Poco Meno Mosso 1:04
28 Vivo 1:16
29 Marche 0:26
Baritone Vocals – David Wilson-Johnson
Bass Vocals – John Tomlinson (2)
Tenor Vocals [1st Tenor] – John Aler
Tenor Vocals [2nd Tenor] – Nigel Robson
Octet For Wind Instruments (Revised 1952 Version) (13:66)
30 Sinfonia. Lento – Allegro Moderato 3:39
31 Tema Con Variazioni. Andantino 7:09
32 Finale (Tempo Giusto) 3:18
O sensacional Petrouchka é um balé burlesco cuja música foi composta por Igor Stravinsky e coreografado por Michel Fokine. Foi escrito entre 1910 e 11 e revisado em 1947. Petrouchka foi montado pela primeira vez pela companhia russa de balé de Serguei Diaguilev em Paris, em 13 de junho de 1911. Vaslav Nijinski encarnou Petrouchka. A história é sobre um fantoche tradicional russo, feito da palha e com um saco de serragem como corpo que acaba por tomar vida e ter a capacidade amar, uma história que se assemelha um pouco a de Pinocchio. Petrouchka conta a história de amor de inveja de três bonecos. Os três ganham vida graças ao Charlatão. Petrouchka ama a Bailarina, mas ela o rejeita. A Bailarina prefere o Mouro. Petrouchka fica furioso e desafia o Mouro. No duelo, o Mouro acaba matando Petrouchka, cujo fantasma se levanta sobre o teatro de bonecos quando a noite cai. Ele desafia o Charlatão, que acaba o matando pela segunda vez. Stravinsky é tão genial que a coisa funciona fantasticamente mesmo sem o balé. Basta ouvir. É uma obra muito popular em zonas mais civilizadas do planeta.
Já Orpheus é de outra fase de Strava. Trata-se de um balé neoclássico escrito em colaboração com o coreógrafo George Balanchine em Hollywood em 1947. A música é chatinha, ainda mais depois de ouvir Petrouchka…
Salonen e a Philharmonia são os campeões neste repertório.
Igor Stravinsky (1882-1971): Petrouchka / Orpheus
1. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – The Shrove-tide Fair
2. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Russian Dance
3. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Petrushka
4. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – The Blackamoor
5. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Waltz
6. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – The Shrove-tide Fair (towards evening)
7. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Wet-Nurses’ Dance
8. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Peasant with Bear
9. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Gypsies and a Rake Vendor
10. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Dance of the Coachmen
11. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Masqueraders
12. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – The Scuffle (Blackamoor and Petrushka)
13. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Death of Petrushka
14. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Police and the Juggler
15. Petrouchka – Burlesque in Four Scenes (1947 version) – Apparition of Petrushka’s Double
16. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Orpheus
17. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Air de danse
18. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Dance of the Angle of Death
19. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Interlude
20. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Dance of the Furies
21. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Air de danse
22. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Interlude
23. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Air de danse
24. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Pas d’action
25. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Pas de deux
26. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Interlude
27. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Pas d’action
28. Orpheus – Ballet in Three Scenes – Orpheus’ Apothesis
Estava quente em Paris na noite de dia 29 de maio de 1913. Durante o dia, os termômetros chegaram aos 30 graus, temperatura anormal para a primavera parisiense. Ao final da tarde, uma multidão acotovelava-se na frente do Théâtre des Champs-Élysées, onde o Balé Russo de Serguei Diághilev faria uma apresentação de gala. O público era heterogêneo, conforme descreveu Jean Cocteau:
Uma plateia da alta sociedade, elegante, de vestidos decotados, pérolas, penas na cabeça, plumas de avestruz, ternos escuros, cartolas […] ao lado, os intelectuais estetas faziam de tudo para demonstrar seu ódio a estes “elegantes”, que sentariam nos camarotes […] havia ali mil nuances de esnobismo, superesnobismo e contraesnobismo.
Todos sabiam que o empresário Diághilev gostava de escândalos. Afinal, eram lucrativos. Em comunicado à imprensa, ele dissera que preparara um novo frisson que, sem dúvida, inspiraria acalorados debates. Falava sério. O programa daquela noite começava com o inofensivo As Sílfides, drama com melodias de Chopin arranjadas para orquestra por Stravinsky. Era um antigo número do Balé Russo. Após os aplausos, as luzes se apagaram e um fagote começou a emitir notas agudas, entoando uma melodia que depois foi abraçada e continuada por outros instrumentos de sopro. E, quando entrou a segunda parte, a música enlouqueceu totalmente, ao menos para os ouvidos da plateia de 100 anos atrás.
O ritmo. Havia uma pulsação constante, mas os acentos eram inteiramente aleatórios, imprevisíveis, dentro e fora do compasso. Quando se deve bater o pezinho?
um dois três quatro cinco seis sete oito
um dois três quatro cinco seis sete oito
um dois três quatro cinco seis sete oito
um dois três quatro cinco seis sete oito
Quando ouviu aquilo pela primeira vez, até Diághilev ficou assustado. “Vai continuar assim por muito tempo?”, ele perguntou ao autor da obra, Igor Stravinsky. “Até o fim, meu caro”. A coreografia de Nijínsky trocava o gestual clássico e os dançarinos nas pontas do pés por mulheres dançando com os pés para dentro e outras esquisitices. Vendo hoje, parece mais uma brincadeira. Os dançarinos tremem, sacodem-se, sapateiam, dão saltos e giram pelo palco como numa dança de roda primitiva, eslava. Por trás, uma paisagem com colinas e árvores de cores brilhantes que, com a dança e a música, tornam-se pagãs.
O vídeo a seguir é de uma apresentação da Sagração da Primavera no Teatro Marinsky de São Petersburgo, com a coreografia de Nijinsky remontada por Millicent Hodson e a regência de Valery Gergiev:
Na época, os mais ricos e conservadores acomodavam-se nos camarotes. Mas não que demonstrassem alguma finesse. Quando o ritmo acelerou, começaram a vir de lá urros de desaprovação. Em resposta, os raivosos intelectuais da plateia berravam mandando-os calar a boca; afinal apenas desejavam silêncio para fruir o balé. Era a uma representação da luta de classes: “Calem a boca, suas putas do seizième!”, gritavam em provocação às damas da alta sociedade do décimo sexto arrondissement. Se havia um sacrifício no palco, havia uma guerra na plateia. A escritora Gertrude Stein esteve lá: “Após a curta introdução, não se podia mais ouvir o som da música. Minha atenção estava fixada em um homem que, no camarote ao lado, ameaçava outro com sua bengala. Por fim, usando a bengala, acabou esmagando a cartola do que discordava”.
O filme Coco Chanel & Igor Stravinsky (2010), de Jan Kounen, mostra um pouco da confusão da estreia da Sagração da Primavera:
Depois desta estreia, o espetáculo foi repetido e logo os ouvintes parisienses descobriram que a linguagem da Sagração não estava tão distante de sua sensibilidade: tratava-se de canções folclóricas de melodias simples com acordes nada incomuns mas usados de forma diferente, ritmo mutante e irresistível. Logo, as vaias foram substituídas por aplausos e, nas apresentações seguintes, Stravinsky e Nijinsky voltaram ao palco três ou quatro vezes para receberem ovações. No ano seguinte, foi marcada uma apresentação em concerto. Os jornais falaram em “aplausos efusivos” e “adoração febril”. Era a vitória de uma postura anti-romântica. Leonard Bernstein fala em início do modernismo. Outros, estão provavelmente corretos ao citar que a Sagração fugira finalmente da semântica germânica e dera espaço para o surgimento dos nacionalismos musicais, os quais tiveram seus rebentos em todo o mundo, incluindo a música de Villa-Lobos no Brasil.
O enredo da Sagração não era nada convencional: numa Rússia primitiva, uma virgem é escolhida e deve dançar até morrer num ritual de sacrifício à primavera que se inicia. A invenção foi do próprio Stravinsky. Nenhum povo pagão, com exceção dos astecas, exigia o sacrifício de jovens. Ou seja, aquilo nunca ocorrera na Rússia. Para o palco, Diághilev queria uma atuação ousada. No ano anterior, Nijinsky já havia causado grande escândalo em Paris com a coreografia de L’après-midi d’un faune, baseado na obra de Debussy. Ou seja: o empresário sabia bem o que estava fazendo. Diághilev já tinha contratado Stravinsky para fazer a música de outros dois balés: O Pássaro de Fogo (1910) e Petrushka (1911). O trabalho seguinte seria uma certa Primavera Sagrada. Vendo-se agora (primeiro vídeo, acima), a coreografia mais parece um provocativo e quase infantil simulacro de dança, inteiramente diferente das dramáticas montagens posteriores, como a de Pina Bausch (último vídeo, abaixo).
Stravinsky terminou a composição em março de 1913. Pierre Monteux, que depois se tornaria uma grande estrela da música erudita, detestara a música, mas foi o regente que conduziu a orquestra na estreia da obra. Aliás, a citada estreia em concerto também foi sob sua direção, prova de que os conceitos podem mudar rapidamente. Ou não. Anos depois, ele confessou que nunca tinha gostado daquela música, mas que foi convencido por Diághilev a regê-la. “É uma obra-prima, Monteux! Ela vai revolucionar a música e o fará famoso, pois é você quem vai conduzi-la”, dizia o homem que desconfiava dos ritmos da Sagração. Os músicos da orquestra não pensavam diferente do regente: achavam que aquilo era uma loucura absoluta. O fagotista do solo inicial estava especialmente contrariado pelo tratamento “ridículo” que a partitura lhe impunha.
No ocidente, a Sagração tornou-se imediatamente obra fundamental e exemplar. As plateias mais afeitas ao moderno ficaram encantadas não somente com sua fúria, mas com a precisão e clareza. Aqueles que desejavam sepultar de vez o romantismo elogiavam o predomínio dos metais e madeiras e a redução da presença das cordas. Principalmente dos violinos, os tradicionais cantores de melodias ardentes. Porém, na Rússia revolucionária, a Sagração foi considerada um modismo barulhento e a fama de Stravinsky no exterior – comparada à hostilidade russa – foi decisiva no rompimento de laços do compositor com a terra natal.
A comprovação da universalidade da Sagração não veio somente dos compositores e amantes da música erudita: os músicos de jazz gostaram demais daquele compositor que falava numa língua parecida com a deles. Para dar um exemplo curioso, Charlie “Bird” Parker incorporou a primeiras notas da Sagração à Salt peanuts e, certa vez, enquanto se apresentava, avistou Stravinsky numa das mesas do Birdland de Nova Iorque. Imediatamente, incluiu um tema do Pássaro de Fogo em seu solo sobre um tema de sua autoria, Koko, o que acabou fazendo com que o compositor cuspisse seu uísque de volta no copo, tão grande o susto.
Passados 100 anos, a Sagração é ouvida como uma peculiar e clássica peça do repertório. Ela pode ser ouvida e vista em concertos — a Ospa vai tocá-la em outubro — e em balés no mundo inteiro. Talvez a mais extraordinária versão em balé seja a célebre coreografia criada pela alemã Pina Bausch, cujo vídeo completo disponibilizamos abaixo:
Considerando que a Sagração da Primavera combina com modernidade, vamos atravessar o ritmo e, para finalizar, inserir três frases informais de uma brasileiríssima opinião deixada no Facebook pelo melômano Isaías Malta que, na última quarta-feira, dia dos 100 anos da estreia, dialogava conosco sobre a obra:
Música que despedaça o nosso senso de ritmo, aliás, sacoleja um ritmo próprio, primal, que é a anarquização do ritmo. Diz-se que Schoenberg dissolveu a melodia e Stravinsky desconstruiu o ritmo. Se tudo isso é verdade, também é verdade que Tom Jobim, juntando os cacos, adoçou o que foi quebrado e gingou o despedaçado.
Salonen Conducts Stravinsky
The Rite of Spring:
1 Part I, The Adoration of the Earth – Introduction 3:23
2 Part I, The Adoration of the Earth – The Auguries of Spring 2:47
3 Part I, The Adoration of the Earth – Game of Abduction 1:15
4 Part I, The Adoration of the Earth – Spring Round Dances 3:47
5 Part I, The Adoration of the Earth – Games of the Rival Tribes 1:40
6 Part I, The Adoration of the Earth – Procession of the Oldest-and-Wisest 0:36
7 Part I, The Adoration of the Earth – The Oldest-and-Wisest 0:16
8 Part I, The Adoration of the Earth – Dance of the Earth 1:10
9 Part II, The Sacrifice – Introduction 4:14
10 Part II, The Sacrifice – Mystical Circles of the Young Girls 2:58
11 Part II, The Sacrifice – Glorification of the Chosen One 1:29
12 Part II, The Sacrifice – Evocation of the Ancestors 0:40
13 Part II, The Sacrifice – Ritual Action of the Ancestors 3:28
14 Part II, The Sacrifice – Sacrificial Dance – The Chosen Victim 4:20
Symphony in Three Movements:
15 I. 9:11
16 II. Andante 5:38
17 Interlude 0:22
18 III. Con moto 5:48
David Oistrakh empunha novamente seu Stradivarius e nos traz três petardos do repertório do violino do século XX. Nem preciso dizer que vale cada minuto da audição deste CD. Oistrakh era um especialista nestes concertos, tendo realizado gravações históricas e imperdíveis dos mesmos.
Sergei Prokofiev (1891-1953) – Violin Concertos nº 1 & 2, Igor Stravinsky (1882-1971) – Violin Concerto in D Major – David Oistrakh, Berliner-Sinfonie Orchester, Kurt Sanderling
1. Prokofieff Violinkonzert Nr. 1. I. Andantino
2. II. Scherzo. Vivacissimo
3. III. Moderato
4. Violinkonzert Nr. 2. I. Allegro moderato
5. II. Andante assai
6. III. Allegro, ben marcato
7. Strawinsky Konzert in D-dur. I. Toccata
8. II. Aria 1
9. III. Aria 2
10. IV. Capriccio
David Oistrakh – Violin
Berliner Sinfonie-Orchester
Kurt Sanderling – Conductor
Resolvi quebrar o gelo duplamente – postar algo depois de tanto tempo e compartilhar minha mais nova aquisição stravinskyana, pois eu, especificamente, jamais tinha disponibilizado aqui no blog um álbum só com obras de Igor Stravinsky.
Estava louco atrás desse cd e finalmente consegui por as mãos nele. Não, não se trata de novos arranjos para as obras do meu amado tio. Optei por colocar os nomes dos regentes ao lado das devidas obras no título da postagem, para diferenciar das outras.
Depois de ouvir as gravações de René Leibowitz para algumas obras de Mussorgsky, fiquei fascinado e andei feito desesperado procurando por gravações do regente francês, principalmente, por causa de suas impactantes interpretações. Aliado a isso, temos o selo Chesky que é conhecido pela excelente qualidade de áudio. Diante desse quadro, talvez eu tenha superestimado a presente gravação da Sagração da Primavera, mas ainda que não tenha me agradado completamente, trata-se de um registro respeitável e vale muito a pena conferir.
Não esperava muita coisa da interpretação de Petrouchka por Oscar Danon, até porque eu nunca tinha ouvido falar no cara, porém, a gravação não deixou nada a desejar. É excelente! Baixe sem medo e aproveite, pois não se trata de um registro que se encontra em qualquer esquina, sendo talvez o único link para tal álbum em toda Internet.
Uma ótima audição!
.oOo.
Stravinsky – Petrushka & The Rite of Spring
Petrushka “Burlesque Scenes in four tableaux”
Tableau I: The Shrove-tide Fair
01 Beginning (0:54)
02 The Crowds (4:23)
03 The Charlatan’s Booth (2:00)
04 Russian Dance (2:47)
05 Tableau II: Petrushka’s Room (4:17)
Tableau III: The Moor’s Room
06 Beginning (2:38)
07 Dance of the Ballerina (0:43)
08 Waltz (Ballerina and the Moor) (2:53)
Tableau IV: The Shrove-tide Fair (near evening)
09 Beginning (1:09)
10 Dance of the Nursemaids (2:38)
11 Dance of the Peasant and Bear (1:43)
12 Dance of the Gyspy Girls (0:54)
13 Dance of the Coachmen and Grooms (2:01)
14 The Masqueraders (2:16)
15 The Conclusion (Petrushka’s Death) (2:51)
Royal Philharmonic Orchestra
Oscar Danon
The Rite Of Spring “Pictures of Pagan Russia”
Part I: The Adoration of the Earth
16 Introduction (3:46)
17 Dances of the Young Girls (3:05)
18 Mock abduction (1:34)
19 Spring Round Dances (4:04)
20 Games of the Rival Tribes (2:06)
21 Procession of the Wise Elder (0:44)
22 Adoration of the Earth (The Wise Elder) (0:26)
23 Dance of the Earth (1:09)
Part II: The Sacrifice
24 Introduction (5:08)
25 Mystical Circles of the Young Girls (2:48)
26 Glorification of the Chosen Victim (1:34)
27 Summoning of the Ancients (0:44)
28 Ritual of Ancients (3:38)
29 Sacrificial Dance (The Chosen Victim) (4:45)
A gravação que ora vos trago foi realizada pelo grande maestro alemão Klaus Tenstedt durante o período em que foi Diretor Artístico da Filarmônica de Londres. E que gravação, senhores. Segundo informações, Tenstedt não era muito afeito à música de ballet, mas rendeu-se à estas duas obras, ‘Petrouchka’ e ‘O Pássaro de Fogo’. Veio a falecer logo após a realização destas gravações.
As notas abaixo foram retiradas do booklet do CD:
“No balé russo clássico, o coreógrafo era rei: a música vinha mais abaixo na lista de prioridades. Então, é um sinal do radicalismo criativo dos ‘Ballets Russes’ de Diaghilev que Petrushka foi concebido por seu compositor. Stravinsky lembrou que no verão de 1910, enquanto se recuperava após a estreia de The Firebird, “eu queria me refrescar compondo uma peça orquestral na qual o piano tocaria a parte mais importante”.
Eu tinha em mente uma imagem distinta de um fantoche, subitamente dotado de vida, exasperando a paciência da orquestra com cascatas diabólicas de arpejos.
Quando Diaghilev visitou Stravinsky na Suíça pouco depois, ele foi cativado e imediatamente persuadiu Stravinsky a expandir a ideia em um balé de corpo inteiro. “Nós estabelecemos a cena da ação: a feira, com suas multidões, seus estandes, o pequeno teatro tradicional, o caráter do mago com todos os seus truques; e a vinda da vida dos bonecos ”, lembrou Stravinsky.”
1. Petrushka_ Tableau 1, The Shrovetide Fair
2. Petrushka_ Tableau 2, Petrushka’s Room
3. Petrushka_ Tableau 3, The Moor’s Room
4. Petrushka_ Tableau 4, The Shrovetide Fair (Evening)
5. The Firebird Suite_ I. Introduction
6. The Firebird Suite_ II. The Firebird and Its Dance
7. The Firebird Suite_ III. Variation of the Firebird
8. The Firebird Suite_ IV. Ring Dance of the Princesses
9. The Firebird Suite_ V. Infernal Dance of King Kashchey
10. The Firebird Suite_ VI. Lullaby
11. The Firebird Suite_ VII. Finale
London Philharmonic Orchestra
Klaus Tenstedt – Conductor
Vamos dar prosseguimento a esta bela caixa das Irmãs Labèque, intitulada ‘Sisters’, desta vez com Stravinsky e Debussy. Curiosamente não temos ‘A Sagração da Primavera”, geralmente presente nestas gravações de obras de Stravinsky para dois pianos. Não lembro se elas gravaram essa obra.
Sempre é bom ouvir Stravinsky, não acham? Mas achei que o pessoal da Deutsche Grammophon foi um tanto quanto displicente nesta coleção. As coisas estão meio misturadas, parecem estar ali aleatoriamente . Olhem o caso do CD anterior, onde tem a versão para dois pianos da ‘Rhapsody in Blue’, do Gershwin, gravação esta que me apresentou as irmâs Labèque há trinta anos atrás, enfim, esta gravação encerra um CD dedicado a Ravel. Como não tenho o booklet original, não consigo identificar os critérios e seleção, se é que existiu algum.
1. Stravinsky Concerto pour 2 pianos solo – 1. Con moto
2. Stravinsky Concerto pour 2 pianos solo – 2. Notturno
3. Stravinsky Concerto pour 2 pianos solo – 3. Quattro Variazioni. Variation I
4. Stravinsky Concerto pour 2 pianos solo – 4. Quattro Variazioni. Variation II
5. Stravinsky Concerto pour 2 pianos solo – 5. Quattro Variazioni. Variation III
6. Stravinsky Concerto pour 2 pianos solo – 6. Quattro Variazioni. Variation IV
7. Stravinsky Concerto pour 2 pianos solo – 7. Prélude
8. Stravinsky Concerto pour 2 pianos solo – 8. Fugue
9. Debussy En blanc et noir, L.134 – 1. Avec emportement
10. Debussy En blanc et noir, L.134 – 2. Lent. Sombre
11. Debussy En blanc et noir, L.134 – 3. Scherzando
12. Stravinsky 5 Easy Pieces for Piano Duet – 1. Andante
13. Stravinsky 5 Easy Pieces for Piano Duet – 2. Española
14. Stravinsky 5 Easy Pieces for Piano Duet – 3. Balalaïka
15. Stravinsky 5 Easy Pieces for Piano Duet – 4. Napolitana
16. Stravinsky 5 Easy Pieces for Piano Duet – 5. Galop
17. Stravinsky Three Easy Pieces (for Piano Four-Hands) – I. March
18. Stravinsky Three Easy Pieces (for Piano Four-Hands) – II. Waltz
19. Stravinsky Three Easy Pieces (for Piano Four-Hands) – III. Polka
20. Stravinsky Ragtime
21. Stravinsky Les cinq doigts – Eight Very Easy Pieces on Five Notes – 4. Larghetto
22. Stravinsky Les cinq doigts – Eight Very Easy Pieces on Five Notes – 5. Moderato
23. Stravinsky Les cinq doigts – Eight Very Easy Pieces on Five Notes – 6. Lento
24. Stravinsky Valse des fleurs, pour piano 4 mains
25. Stravinsky Tango, pour deux pianos
Les Noces (em português: As Núpcias; em russo: Свадебка) é um balé com cantores (cantata dançada) de Igor Stravinsky. Estreou em 13 de junho de 1923 pela Ballets Russes no Théâtre de la Gaîté-Lyrique, com coreografia de Bronislava Nijinska e condução por Ernest Ansermet.
Descrevendo a preparação duma festa camponesa de casamento típica da Rússia, a obra combina o folclore russo, ritmos irregulares, a sensibilidade modernista ou cubista. Está dividida em duas partes, quatro cenas: na primeira parte, a bênção da noiva (ou, na casa da noiva), a bênção do noivo (ou, na casa do noivo) e a saída da noiva; na segunda parte, a festa de casamento. Les Noces marca a transição do período russo para o neoclássico de Stravinsky.
Em 1913, Stravinsky começou a compor Les Noces sob comissão de Sergei Diaguilev. Escreveu o libreto por conta própria a partir de letras de canções russas de casamento coletadas por Pyotr Kireevsky (1911). As partituras para voz foram completadas na Suíça em meados de 1917. Durante seu desenvolvimento, a orquestração foi alterada dramaticamente. Foi primeiramente concebida para uma orquestra sinfônica estendida, à usada em A Sagração da Primavera, passou por diversas variações, incluindo a adição de uma pianola, címbalos e um harmônio. Terminada em 1919, essa versão da obra só estreou em 1981 em Paris, conduzida por Pierre Boulez. Entretanto, essa versão foi abandonada. A estrutura final foi finalmente montada em torno de 1921, resultando em soprano, mezzosoprano, tenor, baixo, coral misto, e dois grupos de instrumentos de percussão, e quatro pianos.
A influência da música de Les Noces é identificada em obras de Philip Glass, John Adams (Short Ride in a Fast Machine), George Antheil (Ballet mecanique), Carl Orff (Carmina Burana) e Leonard Bernstein (West Side Story). Por exemplo, em Carmina Burana também se destaca o coral, uma percussão rica na orquestra e harmonias que seguem os ritmos acentuados das vozes. Melodias extensas são substituídas por formas básicas que geram efeitos de abandono repentino.
Igor Stravinsky (1882-1871) – Les Noces III (The Wedding), ballet in 4 tableaux for vocal soloists, chorus, 4 pianos & percussion e Mass, for chorus & double wind quintet
Les Noces III (The Wedding), ballet in 4 tableaux for vocal soloists, chorus, 4 pianos & percussion
01. Svadebka: First Tableau
02. Svadebka: Second Tableau
03. Svadebka: Third Tableau
04. Svadebka: Fourth Tableau
Mass, for chorus & double wind quintet
05. Mass: Kyrie
06. Mass: Gloria
07. Mass: Credo
08. Mass: Sanctus
09. Mass: Agnus Dei
English Bach Festival Chorus English Bach Percussion Ensemble
Trinity Boys’ Choir
Leonard Bernstein, regente
Martha Argerich, piano
Krystian Zimerman, piano
Cyprien Katsaris, piano
Homero Francesch, piano
Anny Mory, soprano
Patricia Parker, mezzo-soprano
John Mitchinson, tenor
Paul Hudson, bass
Um sensacional álbum triplo que reúne gravações dos anos 90 de música moderna por Anne-Sophie Mutter e diversas orquestras. Tudo é um primor, a começar pelo Concerto neoclássico de Stravinsky. Aliás, cada um dos CDs inicia com uma obra-prima. Há o já citado Concerto de Strava, o belíssimo e insuperável Concerto Nº 2 para Violino e Orquestra de Bartók e o não menos de Berg. Este último tem a triste alcunha de “À Memória de um Anjo”. É que Berg recebeu a notícia da morte de Manon Gropius, filha do arquiteto Walter Gropius e de Alma Mahler. Manon faleceu aos 18 anos, vítima de poliomielite. Naquele momento, Berg estava finalizando o Concerto. Ele então transformou-se num tributo à memória da adolescente e também em um réquiem para si mesmo, que morreria logo depois de compô-lo. O restante tem menos história, mas não é de jogar fora, imagina! Destaque para obras de Lutoslawski, Moret e Rihm, compostas especialmente “Para Anne-Sophie Mutter”. Te mete com ela, rapaz! (Bem, adoraria que ela se metesse comigo).
Anne-Sophie Mutter Modern: Works by Stravinsky / Lutoslawski / Bartók / Moret / Berg / Rihm
Disc 1
Concerto en ré
Composed By – Igor Stravinsky
Conductor – Paul Sacher
Orchestra – Philharmonia Orchestra
1 1. Toccata 5:51
2 2. Aria I 4:09
3 3. Aria II 5:13
4 4. Capriccio 5:49
Partita (“For Anne Sophie Mutter”)
Composed By – Witold Lutoslawski
Piano – Phillip Moll
5 1. Allegro giusto 4:14
6 2. Ad libitum 1:12
7 3. Largo 6:22
8 4. Ad libitum 0:47
9 5. Presto 3:51
Chain 2 (“For Paul Sacher”)
Composed By – Witold Lutoslawski
Conductor – Witold Lutoslawski
Orchestra – BBC Symphony Orchestra
10 1. Ad libitum 3:48
11 2. A battuta 4:58
12 3. Ad libitum 4:58
13 4. A battuta – Ad libitum – A battuta 4:27
Disc 2
Violinkonzert Nr. 2
Composed By – Béla Bartók
Conductor – Seiji Ozawa
Orchestra – Boston Symphony Orchestra
1 1. Allegro non troppo 16:16
2 2. Andante tranquilo – Allegro scherzando – Tempo I 9:58
3 3. Allegro molto 12:13
En rêve (“pour Anne Sophie Mutter”)
Composed By – Norbert Moret
Conductor – Seiji Ozawa
Orchestra – Boston Symphony Orchestra
4 1. Lumière vaporeuse. Mystérieux et envoŭtant 7:13
5 2. Dialogue avec l’Etoile 5:44
6 3. Azur fascinant (Sérénade tessinoise). Exubérant, un air de fête
Disc 3
Violinkonzert (“To the memory of an angel”)
Composed By – Alban Berg
Conductor – James Levine
Orchestra – The Chicago Symphony Orchestra
1 I. Andante – Allegretto 11:31
2 II. Allegro – Adagio 16:12
“Gesungene Zeit” (“Time Chant”) – Dedicated To Anne-Sophie Mutter
Composed By – Wolfgang Rihm
Conductor – James Levine
Orchestra – The Chicago Symphony Orchestra
3 [Anfang / beginning / début / inizio] 14:27
4 [Takt / bar / mesure / battuta 179] 9:56
Esse é um CD imperdível. Para começar a brincadeira, Poulenc. Por experiência própria, posso dizer que essa sonata é difícil pra caramba. Exige muita técnica do clarinetista, que é claro é muito bom. A sonata de Saint-Saens tem um daqueles temas que entram na sua cabeça e não saem mais. Saens opta por não mostrar o lado mecânico do instrumento, mas sim o lado melódico. Tanto é que até para o piano é fácil.
Quase todos os compositores são do século 20, o que deixa a coisa muito legal. Ouvindo o CD vc tem a nítida impressão de que os compositores querem tirar ao máximo do instrumento, seja melodicamente, seja mecanicamente.
Enfim. Ouça e depois diga o que achou do disco. Boa audição,
CD1 Francis Poulenc – Sonata for Clarinet and Piano
01 – Allegro Tristamente
02 – Romanzza
03 – Allegro com Fuoco Claude Debussy – Première Rapsodie for Clarinet and Piano
04 – Lento, Moderement animé, Scherzando anime Camille Saint-Säens – Sonata for Clarinet and Piano
05 – Allegreto
06 – Allegro Animato
07 – Lento
08 – Molto Allegro – Allegreto Henri Büsser – Pastorale
09 – Andante – Allegro Igor Stravinsky – Three pieces for Clarinet Solo
10 – Molto Tranquillo
11 – Vivace
12 – Vivacíssimo Bohuslav Martinu – Sonatina for Clarinet and Piano
13 – Moderato
14 – Andante
15 – Poco Allegro Malcolm Arnold – Sonatine for Clarinet and Piano
16 – Allegro com Brio
17 – Andantino
18 – Furioso
CD2 Carl Maria Von Weber- Grand Duo Concertanto
01 – Allegro con Fuoco
02 – Andante con Moto
03 – Rondo – Allegro Harald Genzmer – Sonatine, for Clarinet and Piano
04 – Lento – Allegro
05 – Adagio
06 – Vivace Robert Schumann – Fantasiestück for Clarinet and Piano
07 – Zart und Mit Asdruck
08 – Lebhaft
09 – Rash und mit Feuer Alban Berg – Vier Stücke
10 – Mässig
11 – Sehr Langsam
12 – Sehr Rasch
13 – Langsam Felix Mendelssohn-Bartholdy – Sonata for Clarinet and Piano
14 – Adagio – Allegro Moderato
15 – Andante
16 – Allegro Moderato