Franz Schubert (1797-1828): Quinteto "A Truta", D. 677 / Movimento para Quarteto de Cordas D. 703 (Gilels / Amadeus)

Franz Schubert (1797-1828): Quinteto "A Truta", D. 677 / Movimento para Quarteto de Cordas D. 703 (Gilels / Amadeus)

Sim, o fantástico Quinteto para Piano “A Truta” de Schubert!

Como estou meio ocupado, transcrevo um excelente texto explicativo encontrado neste blog:

Esta peça em Lá Maior foi composta quando Schubert tinha apenas 22 anos embora tenha sido publicada em 1829 – um ano após a sua morte.

A peça é composta à volta de um conjunto de variações de um Lied anterior de Schubert Op.32 (D.550) e é formada por cinco andamentos. Tal como em muitas das obras de Schubert podemos criticar uma composição pouco perfeita , como uma espécie de esquisso. A esta obra em particular é frequentemente apontado o facto de existir uma fraca coesão entre andamentos e de serem frequentes longas repetições de material temático com pouca ou nenhuma transformação. A composição do quinteto é pouco usual pela presença do contrabaixo tendo permitido a Schubert a exploração de outras sonoridades.

1º Andamento (Allegro vivace) : Este andamento está escrito na forma de sonata. A explicação sobre o significado deste termo está prometida para um destes dias.

2º Andamento (Andante) : Este andamento está construído com base em diálogos entre instrumentos que por várias vezes parecem estar a terminar mas que depois recomeçam transmitindo algum humor (pela repetição do fim anunciado … )

3º Andamento (Scherzo – Presto) : Este andamento é rápido como o nome indica transmitindo um grande vigor a que se junta um melancólico trio para balancear o andamento.

4º Andamento (Andantino – Allegretto) : Este andamento é baseado em variações sobre a canção de que falámos no início deste post. Cada um dos instrumentos toca a melodia a seu tempo.

5º Andamento (Allegro giusto) : Semelhante na construção ao segundo andamento mas por vezes considerado excessivamente repetitivo (em alguns casos os interpretes optam mesmo por não fazer as repetições marcadas pelo compositor).

Franz Schubert (1797-1828): Quinteto “A Truta”, D. 677, e Movimento para Quarteto de Cordas D. 703

Quintet for Piano, Violin, Viola, Cello and Double-bass in A major, D 667 “The Trout”

1. 1. Allegro vivace – 1. Allegro vivace 13:41
2. 2. Andante – 2. Andante 7:17
3. 3. Scherzo (Presto) – 3. Scherzo (Presto) 4:02
4. 4. Thema – Andantino – Variazioni I-V – Allegretto – 4. Thema – Andantino – Variazioni I-V – Allegretto 8:00
5. 5. Finale (Allegro giusto) – 5. Finale (Allegro giusto) 6:20

6. Quartet Movement in C minor, D 703

Emil Gilels
Amadeus Quartett

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O Quarteto Amadeus espera que a Truta seja imediatamente servida

PQP

F. Schubert (1797-1828): Octeto D. 803 (Academy Of Ancient Music Chamber Ensemble)

F. Schubert (1797-1828): Octeto D. 803 (Academy Of Ancient Music Chamber Ensemble)

Postagem dedicada àquela que foi
a mulher de Schumann,
possivelmente a amante de Brahms,
mas que gosta mesmo é de Schubert.

 

(Notem que o “gosta” da dedicatória está no presente. Quem de vocês conseguirá entender esta dedicatória?)

Concebido como o esboço de uma grande sinfonia, o extraordinário Octeto D. 803 foi escrito durante a primavera de 1824. E realmente o Octeto, com seus inúmeros tutti, tem uma feição um pouco sinfônica, apesar de possuir muitos episódios puramente camarísticos. Mas é uma tremenda música, uma obra que cresce muito, principalmente após o Allegro Vivace.

Poderia postar um septeto agora, né? Talvez o de Beethoven. Ou o de Berwald.

Octeto D. 803 para clarinete, trompa, fagote, quarteto de cordas e contrabaixo

1. Schubert: Octet In F, D 803 – 1. Adagio, Allegro
2. Schubert: Octet In F, D 803 – 2. Adagio
3. Schubert: Octet In F, D 803 – 3. Allegro Vivace
4. Schubert: Octet In F, D 803 – 4. Andante con Variazioni
5. Schubert: Octet In F, D 803 – 5. Menuetto
6. Schubert: Octet In F, D 803 – 6. Andante Molto, Allegro

Academy Of Ancient Music Chamber Ensemble

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Schubert bebendo vinho com amigos. Gravura de Ralph Bruce.

PQP

Klára Würtz Plays Romantic Piano Music – Romantischer Klavierabend ֎

 

Música Romântica

Para Piano

Klára Würtz

 

 

Recebi uma pasta musical que prometia – Concerto para Piano No. 2 de Brahms mais as Quatro Peças para Piano, op. 119 – um total de oito arquivos na pasta, um disco virtual com oito faixas, quatro do concerto e as outras quatro, das lindas peças. O selo holandês Brillant não é assim, uma Brastemp, mas traz ótimas gravações e oferece muitas outras possibilidades além do que costuma ser gravado de novo e de novo. A pianista Karin Lechner pode não ser muito conhecida, mas foi protegida de Martha Argerich e isso não costuma acontecer por nada.  A expectativa pelo disco era alta, mas ao colocar para tocar a música que surgiu foi bem outra. Escondidas atrás das informações sobre a música de Brahms estava um recital para piano, música do período romântico. Pois a deliciosa dúvida imediatamente se pôs – o que e quem estaria tocando? Até parecia um desafio do PQP Bach.

As quatro primeiras faixas eram familiares, melodias bem conhecidas, mas eu não conseguia exatamente descobrir o que estava tocando. Depois de uma segunda audição, algumas cascatas de notas começaram a se revelar. Busquei a confirmação comparando com arquivos do meu acervo (atividade bem divertida) e assim surgiu o primeiro nome – Gnomenreigen, de Liszt. Eu confesso não ter muita paciência com Liszt, mas não faz muito tempo postei dois discos de Murray Perahia e lá estava a confirmação. Daí para descobrir que a faixa quatro era a Valsa Mefisto foi um pulo, pois ela também estava num disco que havia ouvido há pouco, um disco com valsas gravado pelo pianista Vassilis Varvareso. A terceira faixa foi a que mais me iludiu. Eu achava que poderia ser um noturno de Chopin, mas não conseguia nenhuma coincidência. Fui para outra parte do disco e duas faixas descobri de cara. Schubert, Impromptu, só faltou verificar qual deles. O disco mais a mão era uma gravação de Marc-André Hamelin. Logo em seguida a faixa oito, a Primeira Balada de Chopin, linda, como interpretada por Nobuyuki Tsujii. Fui dormir com o placar empatado, quatro a quatro. No outro dia, cedo, outra faixa logo se revelou, Arabesco de Schumann, como não percebi antes? Lá estava a prova, no disco do Fabrizio Chiovetta. Mas essas vitórias empalideciam quando eu pensava na terceira faixa, tão perto, mas tão distante. Dei tratos à bola, mas nada… Neste ponto me ocorreu algo, e você pode até dizer que foi golpe baixo, mas a curiosidade me aguçava e então, apelei: Google Search – Pesquisar uma música – e a peça revelou-se o Sonho de Amor, de Liszt. Como não pude ver antes? Como dizem os gringos, I was barking to the wrong tree, pensando que pudesse ser algo de Chopin. Aí o recital se revelou por inteiro. A primeira peça, o outro estudo de Liszt, também gravado pelo Perahia, Ruídos da Floresta, e a quinta faixa, outra famosíssima, Les Jeux d’eau à la Villa D’Este, que tenho tocada pelos dedos de outro grande pianista, Pierre-Laurent Aimard. De posse do programa, faltava descobrir o pianista, mas com a lista dos nomes das peças, não foi difícil localizar. O Google logo deu o serviço, a pianista é a ótima Klára Würtz, que já teve discos aqui por mim postados, num disco do mesmo selo Brillant, com o sugestivo nome ‘Música Romântica para Piano’. O tal disco da Klára tem, na verdade, mais duas faixas, outra de Chopin, a lindíssima Barcarolle, e uma peça virtuosística de Debussy, L’isle joyeuse. Eu já havia montado um disco paralelo com as peças interpretadas pelos outros pianistas, que havia usado como referência para confirmar as peças do disco misterioso. Gostei tanto da atividade que resolvi postar assim, o romântico recital de Klára Würtz e depois, tudo de novo, com os outros intérpretes. Fica com você ouvir tudo e depois me contar do que gostou mais…

Franz Liszt (1811 – 1886)

  1. Estudo de Concerto No. 1 – Waldesrauschen
  2. Estudo de Concerto No. 2 – Gnomenreigen
  3. Liebestraume, S. 541 / R. 211
  4. Valsa Mefisto No. 1
  5. Années de pèlerinage, Livro 3, S. 163 – No. 4, Les jeux d’eau a la Villa d’Este

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu, D935, No. 3 em si bemol maior

Robert Schumann (1810 – 1856)

  1. Arabeske em dó maior, Op. 18

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

  1. Ballade No. 1 em sol menor, Op. 23
  2. Barcarolle em fá sustendo maior, Op. 60

Claude Debussy (1862 – 1918)

  1. L’isle joyeuse

Klára Würtz, piano

Klara Würtz

Disco Paralelo

Franz Liszt (1811 – 1886)

  1. Estudo de Concerto No. 1 – Waldesrauschen
  2. Estudo de Concerto No. 2 – Gnomenreigen

Murray Perahia, piano

  1. Liebestraume, S. 541 / R. 211

Nobuyuki Tsujii, piano

  1. Valsa Mefisto No. 1

Vassilis Varvareso, piano

  1. Années de pèlerinage, Livro 3, S. 163 – No. 4, Les jeux d’eau a la Villa d’Este

Pierre-Laurent Aimard, piano

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Impromptu, D935, No. 3 em si bemol maior

Marc-André Hamelin, piano

Robert Schumann (1810 – 1856)

  1. Arabeske em dó maior, Op. 18

Fabrizio Chiovetta, piano

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

  1. Ballade No. 1 em sol menor, Op. 23

Nobuyuki Tsujii, piano

  1. Barcarolle em fá sustendo maior, Op. 60

Dong-Hyek Lim, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

  1. L’isle joyeuse

Van Cliburn, piano

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MP3 | 320 KBPS | 181 MB

 

 

 

 

 

 

 

 

 

When chosen Gramophone’s Pick of the Month (May 2022), the review sums up: “Würtz’s performances have disarming freshness which throws our listening emphases away from her and back on to the music.” The Hungarian-born pianist Klára Würtz is based in The Netherlands and is best known for her numerous recordings on Brilliant Classics.

Aproveite!

René Denon

Franz Schubert (1797-1828): Sonata D.574, Sonatina D.385, Fantasie D.934 (Lupu, Goldberg)

Franz Schubert (1797-1828): Sonata D.574, Sonatina D.385, Fantasie D.934 (Lupu, Goldberg)

Apesar dos intérpretes, não chega a ser uma gravação de referência. À exceção da belíssima Fantasia D. 934, é a terceira vez que este repertório aparece no PQP em 2023 e creio esta que seja a pior gravação. Refiro-me à Sonata e à Sonatina, porque a Fantasia é tão linda que a gente esquece da vida. Na verdade, com raras exceções, as gravações dos anos 70 envelheceram mal. Sim, amo Radu Lupu. Acho que o problema aqui seja mesmo o violinista Goldberg. Há certos vibratos que me fazem pensar num corpo pendente após o enforcamento, naquele momento em que as pernas tremem. Hoje, Schubert renasce menos romântico e mais realista do era em 1979.  Temos um cara renovado e, acredito, mais próximo daquele das schubertíadas das quais o compositor participava. Não sabem o que é? A schubertíade ou schubertíada é um evento realizado para celebrar a música de Franz Schubert. Durante a vida de Schubert, esses eventos eram geralmente reuniões informais, não anunciadas, realizadas em casas particulares. As schubertiadas na Viena do início do século 19 eram tipicamente patrocinadas por amigos ricos aficionados da música de Schubert.

Franz Schubert (1797-1828): Music For Violin & Piano (Lupu, Goldberg)

Sonata In A Major D.574
1 I Allegro Moderato 9:37
2 II Scherzo: Presto – Trio 4:00
3 III Andantino 3:44
4 IV Allegro Vivace 5:08

Sonatina In A Minor D.385
5 I Allegro Moderato 6:49
6 II Andante 7:11
7 III Menuetto – Trio 2:16
8 IV Allegro 4:34

Fantasie In C Major D.934
9 I Allegro Moderato 3:30
10 II Allegretto 5:20
11 III Andantino 10:20
12 IV Tempo Primo – Allegro Vivace – Allegretto – Presto 6:16

Piano – Radu Lupu
Violin – Szymon Goldberg

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Szymon Goldberg e Radu Lupu na época em que todo mundo fumava

PQP

Franz Schubert (1797-1828): Sinfonia nº 8 “Inacabada”, e Sinfonia nº 9 “Grande” – Janowsky, Dresdner Philharmonie

As duas obras primas incontestes de Schubert estão em muito boas mãos neste CD que recém saiu dos fornos da Gravadora Pentatone. O experiente maestro Marek Janowski nos traz uma leitura atualizada desta obras tão gravadas, mas tão cheias de possibilidades.

A Sinfonia Inacabada tem uma áurea de mistério que a cerca. Nunca deixo de me emocionar com aquele início misterioso, tenso, parece que estamos entrando em uma caverna lúgubre, sem saber direito o que iremos encontrar ali dentro. Janowski coloca um pouco de esperança em sua interpretação, tirando assim um pouco daquele ambiente lúgubre, trazendo uma possibilidade de se enxergar uma luz no final do túnel. Para quem gravou todos os grandes românticos do século XIX, incluindo as óperas wagnerianas, o que ouvimos aqui é um romantismo não tão expressivo e intenso. Confesso que sinto falta daquela carga dramática, tão comum em algumas gravações, principalmente no Primeiro Movimento, onde ele explora mais o lado lírico da obra. Dentre todas as versões que já ouvi desta sinfonia, minha escolha sempre recai sobre a velha guarda, como os bom Günter Wand e Karl Böhm. Ainda não ouvi os mais recentes e elogiados registros de René Jacobs, com uma leitura mais historicamente informada, característica deste excelente maestro, e um especialista neste gênero de interpretação.

O maestro Marek Janowsky, junto a Filarmônica de Dresden, nos oferecem uma interpretação segura e correta destas duas obras primas do repertório sinfônico. Tenho certeza de que os senhores irão gostar.

Franz Schubert (1797-1828): Sinfonia nº 8 “Inacabada”, e Sinfonia nº 9 “Grande” – Janowsky, Dresdner Philharmonie

01. Schubert Symphony in B Minor, D. 759 Unfinished I. Allegro moderato
02. Schubert Symphony in B Minor, D. 759 Unfinished II. Andante con moto

03. Schubert Symphony in C Major, D. 944 The Great I. Andante – Allegro, ma non troppo – Più moto
04. Schubert Symphony in C Major, D. 944 The Great II. Andante con moto
05. Schubert Symphony in C Major, D. 944 The Great III. Scherzo. Allegro vivace – Trio
06. Schubert Symphony in C Major, D. 944 The Great IV. Allegro Vivace

Dredsner Philharmonie
Marek Janowsky

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FDP

 

 

 

Franz Schubert (1797-1828): Symphonie Nº 8, D. 759, Symphonie Nº 9, D. 944 (Karajan)

Franz Schubert (1797-1828): Symphonie Nº 8, D. 759, Symphonie Nº 9, D. 944 (Karajan)

Essa gravação realizada pelo Karajan dos anos 60 tem uma característica muito interessante: a alta velocidade com que a 9ª Sinfonia é interpretada. Mas deixa ele, trata-se de Herr Karajan, o maior vendedor de discos da DG. Comentários irônicos diziam que possivelmente o maestro tinha algum compromisso inadiável no dia da gravação da Sinfonia Nº 9, por isso acelerou o tempo dos movimentos, para acabar o quanto antes e não se atrasar. Ou talvez ele quisesse deixar a Grande menor do que ele, quem sabe.

Ironias á parte, o próprio Karajan confessava que se sentia perdido quando interpretava essa obra, pois as indicações deixadas por Schubert na partitura eram muito tênues e muito sujeitas a interpretações. De qualquer forma, trata-se aqui da visão de um regente muito ouvido. Mas há versões melhores como a do CD análogo de Wand ou o de Végh. Ou o de Abbado ou o de Harnoncourt. Ou a do Janowsky, que FDP Bach programou para o próximo dia 27 e você deverá ter a fineza de aguardar.

Franz Schubert (1797-1828): Symphonie Nº 8, D. 759, Symphonie nº 9, D. 944 (Karajan)

Symphonie nº 8 in B Minor, D. 759
1 – Allegro moderato
2 – Andante com moto

Symphony nº 9 in C, D. 944

4 – Andante – Allegro ma non troppo
5 – Andante com moto
6 – Scherzo (Allegro vivace)
7 – Allegro vivace

Berliner Philarmoniker
Herbert von Karajan

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von Karajan preparando seu Schubert

HvK regendo a 9ª de Schubert

PQP

Jenő Jandó (1952 – 2023): Uma Pequena Antologia ֎

Jenő Jandó (1952 – 2023): Uma Pequena Antologia ֎

“De muitas maneiras, Jenő Jandó definiu a abordagem que a Naxos tem para o seu catálogo: inovação, completude, qualidade, abrangência e disponibilidade. A isso pode-se acrescentar talvez a supremacia da obra sobre o ego do intérprete.”

Em 4 de julho de 2023 o mundo da música gravada perdeu um de seus mais prolíficos artistas – Jenő Jandó, pianista húngaro. Nascido em Pécs, em 1º de fevereiro de 1952, começou a carreira como a maioria dos pianistas, ganhando concursos e visibilidade. Atuou também como professor da Academia Franz Liszt de Budapest. O acervo de gravações deixado por Jenő Jandó merece as características listadas na página da Naxos – inovação, completude, qualidade, abrangência e disponibilidade.

Gravou para o selo Hungaroton, mas sua carreira de artista de disco se confunde com a do selo Naxos, para o qual deixou um enorme legado.

Para reverenciar tudo o que ele fez pelos amantes da música, especialmente os menos abastados, reuni nesta postagem quatro de seus discos, tentando dar alguma representatividade à sua extensa e bela obra.

Piano e Orquestra: Neste gênero Jenő Jandó deixou muitas gravações memoráveis, como a Integral dos Concertos para Piano de Mozart, que você encontrará aqui no PQP Bach. Há uma gravação da dobradinha com os concertos de Grieg e Schumann e outro disco espetacular com os Concertos de Bartók. Esse último também está aqui no blog. Como neste ano também reverenciamos o último dos românticos, decidi postar o Concerto No. 2 de Rachmaninov, que vem acompanhado da Rapsódia sobre um tema de Paganini. Música para milhões! Veja os louvores do Penguin Guide sobre esse disco, pela tradução feita pelo Chat PQP: As performances dessas obras por Jenő Jandó são muito recomendáveis. Ele tem a completa medida das idas e vindas, a fluência da fraseologia rachmaninoviana e o movimento lento é romanticamente expansivo, a reprise particularmente bela, assim como o final tem bastante energia e um sentimento lírico maduro. A Rapsódia é interpretada brilhantemente, tão boa quanto qualquer performance no catálogo.

Sergei Rachmaninov (1873 – 1943)

Concerto para Piano No. 2 em dó menor, Op. 18

  1. Moderato
  2. Adagio sostenuto
  3. Allegro scherzando

Rapsódia sobre um tema de Paganini, Op. 43

  1. Rapsódia

Jenő Jandó, piano

Budapest Symphony Orchestra

Giőrgy Lehel, regência

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MP3 | 320 KBPS | 133 MB

 

Piano Solo: Aqui a lista de gravações é imensa. Nomes como Beethoven, Mozart, Bach, Schubert, Haydn, Schumann, Liszt, Scarlatti estão por lá. De Beethoven, Mozart, Haydn e Schubert gravou as integrais das sonatas para piano e outras cositas… De Bach há gravações do Cravo Bem Temperado e das Variações Goldberg. De qualquer forma, para mim, a Integral das Sonatas para Piano de Beethoven merece uma referência, mesmo tendo seus montes e vales, como disse o Conde Vassily. Desta coleção escolhi o disco que foi lançado como o Volume 2, com três sonatas que têm apelidos: Waldstein, Tempest e Les Adieux. Mais uma vez, o Penguin Guide: Jenő Jandó oferece aqui três das famosas sonatas, interpretadas com muito prazer, e elas soam bem agradáveis devido à sua abordagem direta.

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Sonata para Piano No. 21 em dó maior, Op. 53 “Waldstein”

  1. Allegro con brio
  2. Introduzione: Molto Adagio
  3. Rondo: Allegretto Moderato

Sonata para Piano No. 17 em ré menor Op. 31 No. 2 “Tempest”

  1. Largo – Allegro
  2. Adagio
  3. Allegretto

Sonata para Piano No. 26 em mi bemol maior Op. 81a “Les Adieux”

  1. Adagio – Allegro (Les Adieux)
  2. Andante Espressivo (L’Absence)
  3. Vivacissimamente (Le Retour)

Jenő Jandó, piano

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Alguns dias após está postagem ter ido ao ar, recebemos alguns comentários singelos. Entre eles, uma menção a esse disco, que decidi acrescentar à pequena antologia. Vale!

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Sonata para Piano No. 8 em dó menor, Op. 13 ‘Pathetique’

  1. Grave – Allegro di molto e con brio
  2. Adagio cantabile
  3. Rondo: Allegro

Sonata para Piano No. No. 14 em dó sustenido menor, Op. 27 No. 2 ‘Ao Luar’

  1. Adagio sostenuto
  2. Allegretto
  3. Presto agitato

Sonata para Piano No. No. 23 em fá menor, Op. 57 ‘Appassionata’

  1. Allegro assai
  2. Andante con moto
  3. Allegro ma non troppo – Presto

Jenő Jandó, piano

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MP3 | 320 KBPS | 128 MB

Música de Câmara: Jenő era ótimo músico camarístico e há vários discos primorosos nesse gênero. Sonatas para Violino e Piano com Takako Nishizaki, música para violoncelo e piano, de Kodaly, por exemplo, com a violoncelista Maria Kliegel, música para clarinete e piano com o clarinetista Kálmán Berkes. Para essa postagem escolhi uma gravação na qual ele faz parceria com o ótimo Quarteto Kodály, outra instituição da Naxos. Veja os comentários sobre a gravação dos Quintetos com Piano de Schumann e Brahms por esses titulares absolutos do time Naxos. Sobre o Quinteto de Brahms: “Essa ótima gravação da Naxos tem muito a oferecer, mesmo que não inclua a repetição da exposição do primeiro movimento. A execução é ousadamente espontânea e possui muita energia e sentimento expressivo. A abertura do final também possui um certo mistério e, de maneira geral, com uma gravação cheia de corpo e muita presença, isso causa uma forte impressão. Certamente, é uma pechincha.” Sobre o Quinteto de Schumann: “Uma performance fortemente caracterizada do belo Quinteto de Schumann, interpretado por Jenő Jandó e o Quarteto Kodály. Esta é uma interpretação vigorosa, romântica em espírito, e sua espontaneidade é bem transmitida por uma gravação vívida, feita em uma acústica atraente e ressonante.”

Robert Schumann (1810 – 1856)

Quinteto com Piano em mi bemol maior, Op. 44

  1. Allegro Brillante
  2. In Modo D’una Marcia. Un Poco Largamente
  3. Scherzo: Molto Vivace – Trio I – Trio II – L’istesso Tempo
  4. Allegro, Ma Non Troppo

Johannes Brahms (1833 – 1897)

Quinteto com Piano em fá menor, Op. 34

  1. Allegro Non Troppo
  2. Andante, Un Poco Adagio
  3. Scherzo: Allegro – Trio
  4. Finale: Poco Sostenuto – Allegro Non Troppo – Presto, Non Troppo

Jenő Jandó, piano

Kodaly Quartet

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Música Ligeira: Num outro aspecto da música gravada, decidi trazer esse disco com selo Hungaroton, com música mais leve e despretensiosa – típica do período austro-húngaro, que revela outro aspecto da produção deste verdadeiro maratonista do piano que foi Jenő Jandó. O disco contém peças de Rossini e Schubert arranjadas para piano por Liszt. Rossini era frequentador das soirées nas casas dos abastados Aguado e Rothschild, onde ele geralmente acompanhava trechos mais famosos de suas óperas ao piano. Eventualmente ele acabou compondo novas peças para essas ocasiões. Isso deu surgimento a árias e duetos que foram posteriormente publicadas em ciclos, com o nome Soirées musicales. Liszt gostava bastante dessas peças e acabou fazendo arranjos delas para piano, que é o que ouvimos aqui. Já as Soirées de Vienne foram feitas sobre melodias de Schubert e buscam entreter e encantar.

Arranjos de Ferenc Liszt (1811 – 1886)

Composições de Franz Schubert (1797 – 1828)

Soirées De Vienne

  1. 2 Poco Allegro

Arranjos de Ferenc Liszt

Composições de Gioacchino Rossini (1792 – 1868)

Soirées Musicales R.236: Part One

  1. 1 La Promessa (The Promise) – Canzonetta
  2. 5 Il Rimprovero (Reproach) – Canzonetta
  3. 7 La Partenza (Depart) – Canzonetta
  4. 11 L’Orgia (The Orgy) – Arietta
  5. 3 L’Invito (Invitation) – Bolero
  6. 6 La Pastorella Dell’Alpi (The Shepherdess Of The Alps) – Tirolese
  7. 7 La Gita In Gondola (By Gondola) – Barcarola
  8. 8 La Danza (Dance) – Tarantella Napoletana

Arranjos de Ferenc Liszt

Composições de Franz Schubert

Soirées De Vienne

  1. 7 Allegro Spiritoso

Arranjos de Ferenc Liszt

Composições de Gioacchino Rossini

Soirées Musicales R.236: Part Two

  1. 2 La Regata Veneziana (The Venice Regatta) – Notturno
  2. 8 La Pesca (Fishing) – Notturno
  3. 10 Serenata (Serenade) – Notturno
  4. 12 Li Marinari (The Sailors) – Duetto

Arranjos de Ferenc Liszt

Composições de Franz Schubert

Soirées De Vienne

  1. 8 Allegro Con Brio

Jenő Jandó, piano

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Aproveite e celebre a obra desse grande artista!

René Denon

Franz Schubert (1797-1828): Complete Violin Sonatas (Neudauer, Brunner)

Franz Schubert (1797-1828): Complete Violin Sonatas (Neudauer, Brunner)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma Schubertiade ou, aportuguesando, uma Schubertíada é um evento realizado para celebrar a música de Franz Schubert. À princípio era um evento privado, de salão. As Schubertíadas modernas também incluem séries de concertos e festivais. Durante a vida de Schubert, esses eventos eram geralmente reuniões informais e não anunciadas, realizadas em residências particulares. As Schubertiades na Viena do início do século 19 eram tipicamente patrocinadas por amigos ricos e aficionados da música de Schubert. Numerosos recitais foram organizados a partir de 1815 no grande apartamento do jurista e patrono austríaco Ignaz von Sonnleithner. Um amigo de Schubert, Leopold Kupelwieser, afirmou que os mantinha porque “Eu me mimo com uma Schubertiade de vez em quando”. Até aí tudo bem. Mas… Vocês não acham que Schubert escreveu apenas sinfonias para seguir Beethoven e o restante de suas obras para as Schubertíadas? Por que ele escreveu apenas sinfonias e música de câmara, muita música de câmara, onde realmente metia a cara e avaliava o impacto sobre os ouvintes? Cadê os concertos de Schubert? Ah, quero mais schubertíadas na minha vida. Este CD é sublime. E mais não digo.

Franz Schubert (1797-1828): Complete Violin Sonatas (Neudauer, Brunner)

Sonata In G Minor D 408, Nº 3, Op. 137 (16:16)
1 Allegro Giusto 5:02
2 Andante 4:30
3 Menuetto 2:38
4 Allegro Moderato 4:06

Sonata In D Minor D 384, Nº 1, Op. 137 (12:27)
5 Allegro Molto 4:54
6 Andante 4:27
7 Allegro Vivace 4:06

Sonata In Minor D 385, Nº 2, Op. 137 (20:20)
8 Allegro Moderato 6:28
9 Andante 6:52
10 Menuetto. Allegro 2:25
11 Allegro 4:35

Sonata In A Major D 574, Nº 4, Op. 162 (22:09)
12 Allegro Modereato 8:59
13 Scherzo. Presto 4:06
14 Andantino 3:53
15 Allegro Vivace 5:11

Fortepiano – Wolfgang Brunner
Violin – Lena Neudauer

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Uma schubertíada com o próprio

PQP

Schubert (1797 – 1828): Sonata para Piano em lá maior, D. 959 – 3 Minuetos – Arcadi Volodos ֍

Schubert (1797 – 1828): Sonata para Piano em lá maior, D. 959 – 3 Minuetos – Arcadi Volodos ֍

Schubert

Sonata para Piano No. 20, D. 959

3 Minuetos

Arcadi Volodos

 

Volodos has everything – imagination, passion and a phenomenal technique – to carry out his ideas on the piano. His limitless virtuosity, combined with a unique sense of rhythm, color and poetry, makes Volodos the narrator of intense stories and infinite worlds!

Eu ouço música o tempo todo. Enquanto dirijo, quando vou caminhar, sempre que posso no trabalho. Por conta disso, tenho diversas formas de ouvir música: do sistema principal no escritório, na sala de casa, desde o computador ou usando até um velho DVD Player…

O telefone está sempre recheado de coisas que quero ouvir, uma verdadeira caixa de desejos guardados. Mesmo que fique preso em algum elevador, o tédio não me alcançaria, pelo menos não tão rapidamente. Assim, nas noites insones, você sabe, no lugar de contar carneirinhos, ouço música. Mas, à noite, especialmente mais tarde na noite, as coisas ganham outras dimensões. Por exemplo, nada de espelhos! Borges que o diga.

Pois estava eu noite destas, tentando ouvir algo interessante pelo headphone, quando meu desastrado dedo confundiu o aplicativo e alcançou um arquivo que estava adormecido na pasta com as músicas e ouvi, assim às cegas, o andantino desta gravação da Sonata em lá maior de Schubert. Meu Deus, o que foi isso? Começa assim, agarrando a gente pelos ouvidos e vai nos enredando até a irrupção do episódio central, uma erupção de som. Fiquei mesmerizado e, bom, ouvi tudo de novo, agora desde o enorme começo.

Volodos não é um pianista convencional e seus discos são sempre muito interessantes, mesmo que sejam, digamos assim, bastante impregnados de sua personalidade. Ou seja, nada de apagar os arquivos com outras gravações da Sonata, nem pensar em passar adiante os CDs do Pollini ou Kempff ou Brendel, só para mencionar alguns. Mas esse disco é realmente muito especial e se você ainda não ficou convencido das maravilhas que Schubert nos deixou, tente este aqui. Assim, sem mais delongas, vá em frente!

Franz Schubert (1757 – 1828)

Sonata para Piano No. 20 em lá maior, D. 959

  1. Allegro
  2. Andantino
  3. Allegro Vivace
  4. Allegretto

3 Minuetos

  1. Minueto em lá maior, D 334
  2. Minueto em mi maior, D 335
  3. Minueto dó sustenido menor, D 600 com Trio em mi maior, D 610

Arcadi Volodos, piano

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MP3 | 320 KBPS | 128 MB

Every time Arcadi Volodos brings out a new record we are in for a treat. This time he tackles Schubert’s sonata D959, a piece he has been perfecting for years and it shows. The playing is wonderfully intimate, the recording quality superb. The second movement (andante) might be one of the best interpretations I have ever heard. The three minuets (D334, D335 D600) are true gems. The only criticism I have is the short duration. Less than an hour but apart from that 5 stars. [Philip Blackmarr]

Volodos, with his devotion to the work and the subtlety of his phrasing, turns my favorite late Schubert sonata into a magical musical experience, eclipsing even Krystian Zimerman’s wonderful recording.

I wouldn’t go that far, but he may have a point!

Aproveite!

René Denon

Franz Schubert (1797-1828): Trios para Piano nº 1 & 2 (Magaloff, Grumiaux, Fournier)

Schubert é um exemplo de notoriedade póstuma. Não conseguiu se impor como um dos grandes, num período marcado pela reconhecida genialidade de Ludwig van Beethoven (1770-1827).

Chegou a desfrutar de pequena notoriedade nos salões musicais vienenses. Mas foi rejeitado pelas casas de ópera e pela corte dos Habsburgo. Seus insucessos profissionais são quase tão numerosos quanto as partituras que integram o catálogo de todas as suas obras.
Não conseguiu se tornar diretor de um conservatório em Liubliana, nem seduzir Goethe sobre o valor de seus lieder. Jamais assistiu a uma montagem de óperas suas, como “Alfonso und Estrella”. Não se tornou, conforme desejava, o mestre-de-capela-adjunto da corte de Viena, quando se aposentou seu ex-professor e titular do posto, Antonio Salieri. (…) Para completar um cenário existencial que comoveria seus hagiógrafos, ele ainda contraiu sífilis e passou os últimos anos de sua vida com a saúde debilitada. São ingredientes que se aproximam com perfeição da imagem do “gênio pobre e incompreendido, que a posteridade resgatou”.

Só ganharia seu merecido lugar no establishment musical germânico pelas mãos de maestros e compositores, sobretudo Felix Mendelssohn (1809-1847), que souberam apreciar as inovações harmônicas com que ele reinventou algo bastante prezado no século 19: o sentimento.
(O texto acima é de João Batista Natali)

Robert Schumann, outro compositor que participou da reavaliação da obra de Schubert, escreveria em 1836, apenas 8 anos após a morte do austríaco: “Um vislumbre dos trios de Schubert e a agitação e a angústia da existência humana desaparecem.” De fato, nesses dois trios, como em tantas outras obras de Schubert, nada indica esse conjunto de frustrações, pés-na-bunda e doenças que constam na sua biografia. Há nos trios uma certa elegância, um refinamento de quem não quer chorar ou berrar em público, mas expressa os sentimentos lá no fundo, nas entrelinhas.

Pierre Fournier

A gravação dos trios que trago hoje tem ao mesmo tempo a elegância e experiência de grandes intérpretes e o ar de espontaneidade e intimidade das apresentações ao vivo para um público mais ou menos pequeno. Nascidos em 1906 (Fournier), 1912 (Magaloff) e 1921 (Grumiaux), os três eram grandes mestres nos seus instrumentos e eventualmente se juntavam para tocar música de câmara. Sorte nossa que essa noite tão especial tenha sido gravada e depois lançada pela gravadora italiana Arkadia, com uma capa absolutamente aleatória. Aliás, desafio os leitores-ouvintes a encontrarem alguma semelhança entre os trios de Schubert e a crucificação de Jesus.

Arthur Grumiaux

Fournier nasceu em Paris. Magaloff, na Rússia, mas foi ainda criança para Paris, onde estudou com Isidor Philipp, professor também de Guiomar Novaes anos antes. E Grumiaux nasceu na metade francófona da Bélgica. Portanto, os três eram – se me permitem uma generalização para simplificar o argumento – representantes de uma escola francesa que, desde os tempos de Fauré e Debussy, evitava os exageros românticos. Assim, tinham uma certa vocação para tocar obras de compositores da primeira onda do romantismo como Schubert, Chopin (aqui e aqui por Magaloff, na integral muito elogiada por FDP Bach) e Mendelssohn (aqui seu concerto para violino por Grumiaux/Haitink, numa gravação que em 2021 eu chamei de “expressividade sem choradeira”).

Torre art déco em Charleroi, onde Grumiaux estudou no Conservatório

Franz Schubert (1797-1828):
1-4. Piano Trio No. 1, Op. 99
I. Allegro Moderato 14:45
II. Andante Un Poco Mosso 11:01
III. Scherzo. Allegro 6:46
IV. Rondo. Allegro Vivace 9:25

5-8. Piano Trio No. 2, op. 100
I. Allegro 9:38
II. Andante Con Moto 16:03
III. Scherzando. Allegro Moderato 9:27
IV. Allegro Moderato 13:19

Nikita Magaloff – piano
Arthur Grumiaux – violino
Pierre Fournier – violoncelo
Gravado ao vivo em Crissier, Suíça, 18/12/1972

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Nikita Magaloff (1912-1992)

Pleyel

Franz Schubert (1797-1828): Sonatas for Violin & Piano (Biondi / Tverskaya)

Franz Schubert (1797-1828): Sonatas for Violin & Piano (Biondi / Tverskaya)

Estas Sonatas não têm nada a ver com o nome “Sonatinas”, através do qual eram chamadas no passado. Estão mais para “Sonatões”. Schubert era um hábil violinista que escrevia de forma orgânica para um instrumento que conhecia muito bem e isto é encantadoramente evidente aqui. Biondi e Tverskaya tocam, respectivamente, uma cópia moderna de um violino de 1740 e um pianoforte de 1820 que evocam vividamente a atmosfera dessa música. Eles cantam demais, o que significa que seu Schubert é convincente. Poucos compositores inventaram melodias tão belas como ele! A espontaneidade cativante – revigorada pelas elegantes ornamentações de Biondi – revela uma mistura potente de vigor, paixão e, muitas vezes, delicadeza. Um disco essencial para todos os schubertianos.

Franz Schubert (1797-1828): Sonatas for Violin & Piano (Biondi / Tverskaya)

Sonata in A major, op. posth. 162, D.574
1. I. Allegro moderato – 7:57
2. II. Scherzo: presto – 3:49
3. III. Andantino – 4:27
4. IV. Allegro vivace – 4:43

Sonata in D major, op. 137, no.1
5. I. Allegro molto – 4:08
6. II. Andante – 4:23
7. III. Allegro vivace – 3:59

Sonata in A minor op.137, no.2
8. I. Allegro moderato – 9:09
9. II. Andante – 7:37
10. III. Menuetto: allegro – 2:12
11. IV. Allegro – 4:32

Sonata in G minor op.137, no.3
12. I. Allegro giusto – 4:31
13. II. Andante – 7:17
14. III. Menuetto – 2:25
15. IV. Allegro moderato – 5:09

Fabio Biondi – violin
Olga Tverskaya – piano

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Schubert, mostrando como se descansava na primeira metade do século XIX.

PQP

Egon Petri (1881-1962) – His Recordings 1929-42, vol. 3– Chopin, Busoni, Franck, Schubert, Bach, Gluck (2 CDs)

Egon Petri (1881-1962) – His Recordings 1929-42, vol. 3– Chopin, Busoni, Franck, Schubert, Bach, Gluck (2 CDs)

Egon Petri (1881-1962) foi um pianista de cidadania holandesa nascido na Alemanha. Dono de uma técnica refinada, é alguém ainda por ser propriamente redescoberto pelos ouvintes do século XXI. Seu nome não é lembrado e louvado com a atenção que merece, talvez justamente por encarnar uma espécie de forma de tocar que tem algo de arcaica, com raízes profundas no século XIX.

Petri foi um dos discípulos mais dedicados do lendário pianista, compositor e professor italiano Ferruccio Busoni (1866-1924), e um ardoroso defensor de sua música, por toda a vida. Petri acompanhou Busoni à Suíça durante a Primeira Guerra Mundial e posteriormente seguiu o mestre para Berlim, onde também deu aulas. Entre seus alunos estavam Vitya Vronsky (do duo Vronsky & Babin), Gunnar Johansen e o comediante e pianista dinamarquês Victor Borge.

Em 1927 ele se estabeleceu em Zakopane, na Polônia, dedicando-se ao ensino e a gravações. Ele viveu lá até 1939, quando escapou às pressas literalmente na véspera da invasão alemã, em setembro daquele ano. Petri então passou a dar aulas na Cornell University, em Ithaca, e mais tarde no Mills College, em Oakland. Ele se naturalizaria americano nos anos 50, e teve entre seus pupilos em solo americano o brilhante pianista inglês John Ogdon (1937-89), aquele que dividiu o primeiro lugar do Concurso Tchaikovsky com Vladimir Ashkenazy em 1962 (as finais deste concurso foram lançadas em disco e logo mais vão pintar aqui no PQP).

As gravações presentes neste disco duplo são deste trágico período, em que Petri teve que cruzar um oceano para sobreviver, realizadas entre 1938 e 1942. São testemunhos sonoros de uma época e de uma filosofia musical e pianística.

Duas curiosidades desimportantes sobre Busoni. A primeira é que o nome completo dele é, no mínimo, pomposo: Dante Michelangelo Benvenuto Ferruccio Busoni. A segunda é que ele está enterrado no Friedhof Schöneberg III, também conhecido como Friedhof Stubenrauchstraße, mesmo endereço em que também desfrutam o repouso eterno a atriz Marlene Dietrich e o fotógrafo Helmut Newton.

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CD 1

1 – SCHUBERT-TAUSIG: Andante & Variations
2 a 25 – CHOPIN: Preludes, op. 28
26 a 28 – FRANCK: Prélude, choral et fugue

CD 2

1 – GLUCK-SGAMBATI: Mélodie
2 – J. S. BACH-PETRI: Menuet
3 – J. S. BACH-BUSONI: Ich ruf’ zu dir, Herr Jesu Christ
4 – J. S. BACH-BUSONI: In dir ist Freude
5 – J. S. BACH-BUSONI: Wachet auf, ruft uns die Stimme
6 – J. S. BACH-BUSONI: Nun freut euch, lieben Christen gemein
7 – BUSONI: Fantasia after J. S. Bach
8 – BUSONI: Serenade (Mozart, Don Giovanni)
9 – BUSONI: An die Jugend, no. 3
10 – BUSONI: Sonatina no. 3
11 – BUSONI: Sonatina no. 6
12 – BUSONI: Indianisches Tagebuch
13 – BUSONI: Albumblatt no. 3
14 – BUSONI: Elegie no. 2

Karlheinz

J. S. Bach / Brahms / Chopin / Rachmaninov / Domenico Scarlatti / Schubert / Schumann: Yara Bernette – Encores – Semana do Dia Internacional da Mulher

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio com obras do gênio brasileiro, pelos motivos expostos AQUI


Uma semana de celebrações por conta do Dia da Mulher não poderia deixar de prestar reverência a um território específico de excelência no nosso panorama musical: o piano. A galeria de pianistas brasileiras é uma verdadeira constelação que atravessa gerações: Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Cristina Ortiz, Eliane Rodrigues, Erika Ribeiro, Diana Kacso, Linda Bustani, Clara Sverner, Menininha Lobo, Mariinha Fleury, Anna Stella Chic, Eudóxia de Barros, Felicja Blumental (nascida na Polônia, naturalizada brasileira), Rosana Martins…

Entre elas, uma estrela brilha com particular intensidade, por conta de sua sonoridade singular: estamos falando de Yara Bernette (1920-2002), uma artista de carreira tão impecável quanto longeva: foram mais de 4.000 concertos e recitais, ao longo de quase sete décadas. Uma vida inteira dedicada ao instrumento.

O verbete dedicado a ela na Enciclopédia do Instituto do Piano Brasileiro, escrito por Marcia Pozzani, está bem completo e rico em informações – vale a leitura. Para atiçar um pouco a curiosidade, no entanto, deixo um trecho de uma crônica escrita por Tarsila do Amaral (recolhida no livro Tarsila Cronista, organizado por Aracy Amaral e publicado pela Edusp em 2001). Ela relata uma história contada para ela pela própria Yara, quando se vira em apuros ao estar sem uma partitura para um concerto no Canadá. É um delicioso relato do frisson causado pela pianista, que a levaria inclusive até a glória de ter o selo dourado da Deutsche Grammophon estampado na capa de seus discos:

       ” (…) Nisso bate alguém na porta. Aparece um velhinho simpático – o maior crítico musical do Canadá – com uma música na mão e diz: “Miss Bernette, desculpe incomodá-la justamente agora, mas estou curioso por saber se a ‘Chaconne’ que a senhora vai tocar é desta edição”. Yara Bernette diz ao anjo que os céus lhe enviaram: “Peço-lhe deixar aqui a música. No primeiro intervalo conversaremos”. Deu-se o milagre. E o mais interessante é que o crítico não costumava levar música aos concertos. Apenas abriu a primeira página, foi chamada para o palco. Nunca tocou tão bem como naquela noite. O crítico musical, A. A. Alldrick, que a salvara sem o saber, dedicou-lhe excepcionalmente dois artigos ao invés de um, como de costume, afirmando no Winnipeg Free Press: “O recital de Yara Bernette foi um acontecimento fascinante… Yara Bernette é obviamente uma artista do calibre de ‘uma entre mil’. 
       Ao terminar a narrativa a grande pianista me diz: “Desde então, sinto que existe na minha carreira artística uma proteção divina”.
       Mais tarde num de seus inúmeros concertos, dizia o crítico Irving Kolodin no New York Sun: “Miss Bernette, prendendo a atenção dos ouvintes, fez com que a versão da ‘Chaconne’ de Bach  por Busoni valesse a pena de ser ouvida. Isso acontece uma vez por temporada e essa vez coube a Miss Bernette na sua execução definitiva”.
       Na sua tournée pelo México, disse o crítico musical do Excelsior: “Há muito não ouvíamos uma pianista do seu calibre, e também há muito tempo nenhum outro pianista havia interessado tanto os críticos nem obtido tantos elogios”.
       O New York Post exclama: “Tirem os chapéus, senhores! Miss Bernette é a última e irresistível palavra”, enquanto o New York Sun comenta: “Talentos pianísticos deste calibre têm raros similares”. (…)”

Flavio de Carvalho, “Retrato de Yara Bernette”, óleo sobre tela, 1951

O disco que apresento nesse post – gravado em 1995, já nos últimos anos de vida de Yara, no auge de sua maturidade – evoca essas antigas turnês, já que reúne uma série de peças que ela costumava tocar como bis (ou encore, em francês) em seus concertos e recitais. São peças emblemáticas do repertório pianístico, que refletem as preferências da artista. As interpretações são puro deleite; é um disco a que retorno, de tempos em tempos, há muitos anos.

Lançado em comemoração pelos 75 anos da pianista, o álbum foi gravado em fevereiro de 1995 no Teatro Cultura Artística, no centro de São Paulo, em um dos Steinways que faziam parte do acervo da casa. Tragicamente, o piano queimou junto com o teatro no dantesco incêndio que o consumiu em 17 de agosto de 2008. São, portanto, memórias fonográficas de um tempo que um universo que já nos deixou.

Áudio da apresentação de Yara Bernette na TV Excelsior, em 1961, tocando Debussy e Chopin. Créditos, como de praxe, para o espetacular Instituto Piano Brasileiro

Viva Yara Bernette!

Karlheinz

 

1. Domenico Scarlatti (transcr. Carl Tausig) – Pastorale
2. Domenico Paradies – Sonata em Lá – Tocata
3. J. S. Bach (transcr. W. Kempff) – Sonata BWV 1.031 – Siciliano
4. Felix Mendelssohn – Rondó Capriccioso, op. 14
5. Felix Mendelssohn – Scherzo, op. 16 no. 2
6. Robert Schumann – Cenas Infantis, op. 15 no. 7 – Rêverie
7. Robert Schumann – Cenas da Floresta, op. 82 no. 7 – O pássaro profeta
8. Johannes Brahms – Intermezzo, op. 117 no. 2
9. Frederic Chopin – Mazurka, op. 7 no. 3
10. Frederic Chopin – Mazurka, op. 17 no. 4
11. Frederic Chopin – Mazurka, op. 24 no. 4
12. Frederic Chopin – Estudo póstumo no. 1
13. Frederic Chopin – Noturno, op. 48 no. 1
14. Frederic Chopin (transcr. Franz Liszt) – Canção polonesa, op. 74 no. 5 – Minhas alegrias
15. Claude Debussy – Segundo Caderno – Prelúdio no. 7 – La Terrasse des Audiences du Clair de Lune
16. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 5
17. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 10
18. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 12
19. Heitor Villa-Lobos – Suíte Prole do Bebê no. 1 – O Polichinelo

Yara Bernette, piano

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Diversos Compositores – Antologia de Intérpretes Femininas – Semana do Dia Internacional da Mulher

Diversos Compositores – Antologia de Intérpretes Femininas – Semana do Dia Internacional da Mulher

Ji Su Jung, percussionista

Marin Alsop, regente

Maria João Pires, pianista

Gina Bachauer, pianista

 

Nesta postagem especial preparada para homenagear as mulheres nesta semana do Dia Universal da Mulher, escolhi algumas excelentes intérpretes que representam a enorme e inestimável contribuição delas para a música.

Ji Su Jung

Começamos nosso programa com o Concerto para Marimba, escrito pelo jovem compositor norte-americano Kevin Puts. A solista chama-se Ji Su Jung, que foi a primeira percussionista a ganhar a prestigiosa bolsa Avery Fisher Career Grant. Formada pelo Peabody Institute, da Johns Hopkins University, e pela Yale School of Music, Ji Su Jung é agora uma solista requisitada universalmente e professora do Curtis Institute of Music e do Peabody Institute.

Marin Alsop

Sobre o Concerto, o compositor explicou como surgiu a inspiração: A melodia da abertura do Concerto foi provavelmente inspirada quando ouvi o aquecimento de um pianista no placo do Teatro Eastman enquanto por lá passava a caminho da aula. A tonalidade de mi bemol maior sempre me foi muito próxima devido à sua riqueza e também por aparecer com frequência nas obras de Mozart, em particular em dois de seus concertos para piano, que de certa forma serviram como modelo para a minha peça.

Ji Su Jung é acompanhada pela Baltimore Symphony Orchestra, regida pela maestrina Marin Alsop, que foi uma das primeiras a interpretar as obras de Kevin Puts.

M-J Pires

Como eu gosto muito de ouvir o piano, na sequência teremos uma linda Sonata de Schubert interpretada pela maravilhosa pianista Maria João Pires.

Com uma carreira longa e de excelente qualidade, passou pelas gravadoras Denon e Erato e tem sido uma das estrelas do selo amarelo, Deutsche Grammophon. Esta sonata de Schubert é uma das mais belas e faz parte de um lançamento que reúne algumas obras de Schubert gravadas por Maria João Pires.

Gina Bachauer

Para a última etapa da nossa compilação escolhi uma artista que chamou a atenção exatamente por desempenhar um papel que estava quase exclusivamente dominado por homens, interpretando grandes concertos para piano, como o Concerto em si bemol maior, de Brahms, o Concerto de Grieg, Concerto em mi bemol maior de Liszt e o Concerto em si bemol maior, de Tchaikovsky. Gina Bachauer nasceu em Atenas, de pais estrangeiros, e iniciou sua carreira na Grécia. Estudou em Paris com Alfred Cortot e nos anos 1930 trabalhou na França e na Suíça com Rachmaninov em seus Concertos para Piano. Ela tornou-se uma expoente nestes concertos, especialmente no de No. 3. Suas gravações para o selo Mercury são bastante conhecidas. Aqui podemos ouvir suas interpretações de algumas peças solo de Debussy e atuando como solista de um concerto de Mozart. A orquestra da gravação foi fundada pelo seu regente, Alec Sherman que foi o segundo marido de Gina Bachauer.

Kevin Puts (Nascido em 1972)

Concerto para Marimba (1997, ver. 2021)

  1. Flowing
  2. Broad and deliberate
  3. With energy

Ji Su Jung, marimba

Baltimore Symphony Orchestra

Marin Alsop

Franz Schubert (1757 – 1828)

Sonata para piano em lá maior, D. 664

  1. Allegro moderato
  2. Andante
  3. Allegro

Maria João Pires, piano

Claude Debussy (1862 – 1918)

Pour le piano

  1. Prélude
  2. Sarabande
  3. Toccata

Prelúdios

  1. La cathédrale engloutie
  2. Bruyères
  3. Danseuses de Delphes

Gina Bachauer, piano

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Concerto para piano No. 17 em dó maior, K. 453

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Allegretto

Gina Bachauer, piano

London Orchestra

Alec Sherman

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MP3 | 320 KBPS | 268 MB

Maria-João Pires

Viva as mulheres!

Ji Su Jung

Beethoven (1770-1827) & Schubert (1797-1828): Sonatas Kreutzer & Arpeggione – Bruno Philippe, violoncelo & Tanguy de Williencourt, piano ֍

Beethoven (1770-1827) & Schubert (1797-1828): Sonatas Kreutzer & Arpeggione – Bruno Philippe, violoncelo & Tanguy de Williencourt, piano ֍

Beethoven

Sonata Kreutzer

Schubert

Sonata Arpeggione

Bruno Philippe, violoncelo

Tanguy de Williencourt, piano

A Sonata Kreutzer poderia ter sido chamada Sonata Bridgetower, não fosse uma linda tarde de concertos seguido de grandes comemorações regadas ao bom vinho do Reno em uma famosa taverna nos arredores de Viena onde os ânimos voláteis se tornam facilmente incendiáveis. Bastou um comentário menos airoso feito (infelizmente) pelo violinista inglês sobre uma certa senhorinha que andava a fazer suspirar o inspirado compositor e pianista agora já cidadão vienense. Uma amizade que nascera de admiração profissional seguida de certas identificações pessoais foi pelos ares, por um comentário leviano de um, mas imperdoável para o outro.

George Bridgetower

A Sonata havia sido composta por Beethoven tendo em mente o violinista virtuose George Bridgetower que visitava Viena nos idos de 1803, ele que crescera ali por perto, na Corte de Esterházy, fora até aluno de Haydn e agora era famoso e se estabelecera em Londres. Nessa visita andava de boas com o Ludovico, tocando seus quartetos e até dando seus pitacos na parte de violino da sonata que juntos tocaram pela primeira vez.

A história é boa e merece ser mais elucidada. George Bridgetower havia sido criança prodígio, filho de mãe alemã e de pai originário de Barbados. O casal se encontrou na Polônia, mas mudou-se posteriormente para a Corte de Esterházy. A combinação de genes era realmente feliz para a música. O filho Joseph tornou-se violoncelista e George aprendeu a tocar o violino desde a mais tenra idade. Aos dez anos já fazia tours pelas cidades europeias e sua ascendências certamente era explorada para atrair ainda maior audiência. Era apresentado como Príncipe Africano e há notícias de ter sido fantasiado com roupas turcas, que na época era algo muito exótico.

Houve até uma dedicação jocosa feita pelo Ludovico: ‘Sonata mulattica composta per il mulato Brischdauer, gran pazzo e compositore mulattico’. A inscrição mostra como os laços entre Ludovico e George eram estreitos.

Cara de Carl num dia que o Ludovico estava ‘de boas’…

De qualquer forma, o nome Sonata Kreutzer pegou, mesmo que o tal violinista Kreutzer nunca tenha encarado a obra, que é realmente espevitada. Mas o que temos neste disco não exatamente aquela peça que pode ser ouvida nas interpretações intensas de Jascha Heifetz ou de Isabelle Faust, mas sim um transcrição feita para violoncelo e piano, pelo arranjador (oficial) de Luduvico, o fiel Carl Czerny. O jovem violoncelista Bruno Philippe tem todas as credenciais de virtuose para encarar a empreitada você já conhece de outra postagem, com as Suítes para Violoncelo de Bach.

Depois desse embate, piano e violoncelo, as peças de Schubert se sobressaem pelo lirismo e beleza encantadora. Arpeggione é o nome de um instrumento – uma guitarra tocada com arco – criação de um lutier vienense, que caiu rapidamente em esquecimento, mas não sem antes inspirar Schubert a compor a Sonata, em 1824. A Sonata renasceu, publicada em 1871 e caiu nas graças de violoncelistas e violistas de bom gosto. Há inúmeras gravações espetaculares disponíveis: Rostropovich/Britten, Maisky/Argerich e entre as gerações mais novas, Queyras/Tharaud, Capuçon/Braley, sem esquecer a prata da casa: Antonio Meneses…

Para completar esse lindo disco os jovens intrépidos intérpretes Bruno Philippe e Tanguy de Williencourt apresentam as transcrições de três Lieder (canções) de Schubert. Duas delas, Nacht und Träume e Der Jüngling und der Tod fazem a transição entre a Kreutzer e a Arpeggione. Fechando o cortejo a transcrição de uma das mais lindas canções da coleção Schwanengesang, Ständchen (Serenata).

Tanguy R Bruno ‘in action’…

Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

Sonata para violino e piano No. 9 ‘À Kreutzer’, op. 47, em lá maior

transcrição para violoncelo e piano por Carl Czerny (1791 – 1857)
  1. Adagio sostenuto – Presto
  2. Andante con variazioni
  3. Finale – Presto

Franz Schubert (1797 – 1828)

Nacht und Träume, D. 827

  1. transcrição para violoncelo e piano

Der Jüngling und der Tod, D. 545

  1. transcrição para violoncelo e piano

Sonata para arpeggione e piano, D821, em lá menor

  1. Allegro moderato
  2. Adagio
  3. Allegretto

Ständchen, D. 889

  1. transcrição para violocelo e piano

Bruno Philippe, violoncelo

Tanguy de Williencourt, piano

Faixa extra: Ständchen, D. 889

Roderick Williams, barítono

Iain Burnside, piano

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FLAC | 353 MB

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MP3 | 320 KBPS | 196 MB

Tanguy e Bruno em foto de modelo de confecções em jeans…

O disco já é ‘velho’, de 2017, e Bruno Philippe já apareceu por aqui em produção mais recente, mas aposto que você não vai reclamar, se ouvir atentamente…

Aproveite!
René Denon

Franz Schubert (1797-1828): Sinfonias Nº 8 (Inacabada) e Nº 9 (A Grande) (Savall)

Franz Schubert (1797-1828): Sinfonias Nº 8 (Inacabada) e Nº 9 (A Grande) (Savall)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Savall tem o toque de Midas. Neste CD, ele lança o seu primeiro álbum de Schubert, na sequência de uma gravação das sinfonias completas de Beethoven que muito contribuiu para renovar a nossa visão do repertório romântico inicial. O maestro catalão apresenta uma gravação liberta do peso das tradições passadas para sublinhar a dinâmica, o equilíbrio de secções e os timbres que se impõem neste repertório. Jordi Savall decidiu intitular este álbum de Transfiguração, porque, como ele explica, sempre nos surpreendemos com a capacidade de Schubert de atingir essa dimensão essencialmente interna e espiritual, esse tipo de Transfiguração, que ele simplesmente resume da seguinte forma em seu diário em 1824: “Minha produção é fruto do meu conhecimento musical e da minha dor” ou, para citar um poema que escreveu um pouco antes: “Quando eu queria cantar o amor, virava dor. Quando eu quis cantar a dor, ela se transformava em amor.”

Franz Schubert (1797-1828): Sinfonias Nº 8 (Inacabada) e Nº 9 (A Grande) (Savall)

1. Symphony No. 8 in B Minor, D. 759 ‘Unfinished’: I. Allegro moderato (14:41)
2. Symphony No. 8 in B Minor, D. 759 ‘Unfinished’: II. Andante con moto (09:57)

3. Symphony No. 9 in C Major D. 944 ‘The Great’: I. Andante · Allegro ma non troppo – Più mosso (15:26)
4. Symphony No. 9 in C Major D. 944 ‘The Great’: II. Andante con moto (13:55)
5. Symphony No. 9 in C Major D. 944 ‘The Great’: III. Allegro vivace – Trio – Scherzo da capo (16:27)
6. Symphony No. 9 in C Major D. 944 ‘The Great’: IV. Allegro vivace (15:27)

Le Concert des Nations
Jordi Savall

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Jordi Midas Savall

PQP

Schubert (1797–1828): Quinteto de Cordas em dó maior, D. 956 & Quartettsatz, D. 703 – Brodsky Quartet & Laura van der Heijden ֍

Schubert (1797–1828): Quinteto de Cordas em dó maior, D. 956 & Quartettsatz, D. 703 – Brodsky Quartet & Laura van der Heijden ֍

Schubert

Quinteto de Cordas, D. 956

& Quartettsatz, D. 703

Brodsky Quartet

Laura van der Heijden, violoncelo

Eu sempre me pergunto – até quando as pessoas seguirão ouvindo música como essa da postagem? Parece não haver mais tempo na vida das pessoas para tão longa música. Só o primeiro movimento do quinteto toma mais de 21 minutos.

Eu, que busco seguir o mandamento de ouvir a peça toda, uma vez iniciada uma audição, já tenho considerado trocar a letra por ‘ouvir o movimento todo’, dada a profusão de ofertas e considerando que os dias, como na canção, parecem tornar-se cada vez mais curtos.

Mas eu não resisto a um novo disco com o Quinteto de Schubert, como foi o caso deste. E gostei tanto que o ouvi até o fim e sempre dá vontade de ouvir de novo. Adoro essa maneira de Schubert parecer recomeçar de novo e de novo. Enfim, adivinhe o que está tocando agora, enquanto escrevo estas mal traçadas?

Laura, ainda jovem…

O disco é todo inglês, uma vez que o Quarteto Brodsky está baseado em Londres e comemora este ano (2022) 50 anos de apresentações. O quinto elemento é uma jovem e mais do que promissora violoncelista inglesa, Laura van der Heijden. O selo CHANDOS é British to the core.

A diferença de idades – de gerações – pode ter trazido uma rara felicidade ao disco, que além da qualidade artística, oferece uma produção excelente.

O que dizer da peça? Certamente é facilmente citada nas famosas listas de ‘as melhores 100 peças de música clássica’ ou ‘peças que levaria para uma ilha deserta’.

Na lista (famigerada e politicamente incorreta) do Otto Maria Carpeaux, é a peça de câmara do ano 1828 e acompanha apenas mais dois Quintetos de Cordas, ambos de Mozart, que usam uma segunda viola, não um segundo violoncelo. As peças de Mozart são Quinteto em sol menor, K. 516 (1787) e Quinteto em mi bemol maior, K. 614 (1791). Depois, só o Sexteto de Schoenberg, o Verklaerte Nacht, de 1899.

Um enorme Allegro, ma non troppo, de 21 minutos, que finge que acaba, apenas para recomeçar no próximo compasso, um Adagio profundo (o coração da peça, para muitos críticos) de 14 minutos seguidos de um Scherzo e terminando num quase dançante Allegretto. Nem dá para dizer que Schubert morreria algumas semanas depois de tê-lo terminado.

O disco é arrematado por uma linda interpretação de um primeiro movimento para algum enorme quarteto de cordas, que Schubert também (pena…) nunca terminou, o Quartettsatz.

Franz Schubert (1797 – 1828)

Quinteto de Cordas em dó maior, D. 956

  1. Allegro ma non troppo
  2. Adagio
  3. Scherzo
  4. Allegretto

Quarteto de Cordas No. 12 em dó menor, D. 703

  1. Allegro assai

Laura van der Heijden, violoncelo (D. 956)

Brodsky Quartet

              Krysia Osostowicz, violino

              Ian Belton, violino

              Paul Cassidy, viola

              Jacqueline Thomas, violoncelo

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MP3 | 320 KBPS | 155 MB

Quarteto Brodsky pousando para o lambe-lambe oficial do PQP Bach

Schubert’s String Quintet is one of those timeless and universal works, like Beethoven’s late quartets, which can be interpreted in so many different ways and yet be equally valid.

Celebrating its fiftieth anniversary in 2022, the Brodsky Quartet has performed more than 3000 concerts on the major concert stages of the world and has released more than seventy recordings. A natural curiosity and insatiable desire to explore have propelled the group in many artistic directions and continue to ensure it not only a place at the very forefront of the international chamber music scene but also a rich and varied musical existence. As they comment in their booklet note: ‘It seems fitting to mark the milestone by recording this epic and most celebrated of chamber works, Schubert’s String Quintet in C major, a piece which we have lived with since childhood, and which we have played with a long line of illustrious cellists. One of our earliest performances took place with Terence Weil, our mentor at college, at his retirement concert, just as we were starting out on our professional journey. Now the wonderful young Laura van der Heijden, who comes to this recording with a maturity which belies her years, represents with respect to us a similar age gap, proving that age is insignificant where there is a meeting of musical minds. Now we look forward to whatever our sixth decade might bring.’

Laura adorando conhecer o Jardim do PQP Bach, no Tibau

With all the external factors happening in the world we live in, this performance enables us to stop for a brief moment and let its moments of stillness and tranquility create a sense of hope as we ponder and our hearts are warmed.

Aproveite!

René Denon

Franz Schubert (1797-1828): Winterreise (Mammel / Schoonderwoerd)

Franz Schubert (1797-1828): Winterreise (Mammel / Schoonderwoerd)

Uma Winterreise apenas aceitável. Os melhores intérpretes — incluindo, entre os tenores, Peter Schreier, Ian Bostridge e Christoph Prégardien — tornam a viagem íntima através da paisagem coberta de neve uma experiência catártica. Hans Jörg Mammel, cuja carreira tem sido em grande parte na música antiga, tem grande sensibilidade, mas nunca prende ou assombra a imaginação. Sua voz leve e monocromática às vezes fica crua e “uivante” e sua expressão varia do queixoso ao levemente indignado. Na melhor das hipóteses, pode-se dizer que Mammel dá uma performance de tocante inocência. Mas para este esplêndido ciclo de experiências complexas e perturbadoras, isso não é suficiente.

Winterreise (Viagem de Inverno) é um ciclo de 24 lieder composto em 1827 por Franz Schubert sobre poemas de Wilhelm Müller. Foi o segundo dos três ciclos de canções escritos pelo compositor (sendo o primeiro Die schöne Müllerin — A Bela Moleira — e o terceiro Schwanengesang — O Canto do Cisne). Segundo o próprio Schubert, Winterreise era o seu preferido. Foi escrito originalmente para tenor, mas é frequentemente transposto para outras vozes, Fischer-Dieskau que o diga.

Winterreise
1 Gute Nacht 5:35
2 Die Wetterfahne 1:33
3 Gefrorne Tränen 2:17
4 Erstarrung 2:36
5 Der Lindenbaum 4:34
6 Wasserflut 4:25
7 Auf Dem Flusse 3:10
8 Rückblick 2:10
9 Irrlicht 2:41
10 Rast 3:21
11 Frühlingstraum 3:35
12 Einsamkeit 2:44
13 Die Post 2:23
14 Der Greise Kopf 2:36
15 Die Krähe 1:42
16 Letzte Hoffnung 2:01
17 Im Dorfe 3:20
18 Der Stürmische Morgen 0:52
19 Täuschung 1:18
20 Der Wegweiser 4:00
21 Das Wirtshaus 4:13
22 Mut 1:23
23 Die Nebensonnen 2:48
24 Der Leiermann 3:14

Fortepiano [Johann Fritz, Ca 1810] – Arthur Schoonderwoerd
Tenor Vocals – Hans Jörg Mammel

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Nem imagino de quem seja esta gravura, mas sei que você não votará em Bolsonaro depois de amanhã. Nenhuma pessoa culta deve fazê-lo.

PQP

Franz Schubert (1797-1828) – Quarteto de Cordas “A Morte e a Donzela” – Orlando Quartet

Foi muito emocionante ouvir novamente esta gravação do Quarteto ‘A Morte e a Donzela’ de Schubert, uma das obras mais importantes do compositor com o competentíssimo conjunto “Orlando Quartet”. Esse LP foi minha trilha sonora durante determinada época de minha vida, serviu como suporte para aguentar certas rasteiras que levei na minha juventude, amores não correspondidos, etc.

Curiosamente, nunca havia tido contato com essa gravação em CD, até que o colega René Denon gentilmente me repassou em formato digital, e é ela que trago para os senhores. E não temo em afirmar que ela continua me trazendo as mesmas sensações, e uma série de lembranças também me vem a cabeça, lembrando aquela fase de minha vida tão confusa. Mas vamos ao que viemos:

Der Tod und das Mädchen” é o título que Schubert deu ao seu Quarteto nº 14, e é uma de suas obras de câmara mais interpretadas. Foi composta em 1824, quando o compositor já estava sabendo que havia contraído sífilis, doença que o levaria a morte alguns anos mais tarde. O tema de seu segundo m0vimento, um ‘Andante com Moto’ já havia sido utilizado por Schubert em um Lied escrito em 1817.  Mesmo tendo sido composta em 1824, ela só foi publicada em 1831, três anos após a morte do compositor. 

Uma análise mais detalhada da obra pode ser encontrada em português na Wikipédia.

String Quartet No. 14 In D Minor «Death And The Maiden»
1. Allegro 12:04
2. Andante Con Moto 14:45
3. Scherzo (Allegro Molto) 4:05
4. Presto – Prestissimo 9:20

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César Franck (1822–1890) & Alfred Cortot (1877–1962) – Música para Piano e Arranjos Diversos – He Yue, piano (CD1) & Domenico Codispoti, piano (CD2) ֍

César Franck (1822–1890) & Alfred Cortot (1877–1962) – Música para Piano e Arranjos Diversos – He Yue, piano (CD1) & Domenico Codispoti, piano (CD2) ֍

Os três homens não poderiam ser mais diferentes, nos aspectos e temperamentos… Apesar de cada um ter já um nome firmado como solista de seu próprio instrumento, quando se reuniam formavam um conjunto notável, pela maneira como se completavam musicalmente, recriando com rara espontaneidade as obras para trio com piano. Tanto que seu exemplo ajudou a firmar este tipo de conjunto. Esse famoso trio costumava reunir-se com regularidade para ensaiar, estudar novas peças, mas também para falar de literatura, pintura, dança e, é claro, música. Mas eis que em certa ocasião, lá se foi o violoncelista para sua natal Catalunha por uns tempos, deixando o pianista e o violinista às voltas com sonatas, incluindo a famosa Sonata de César Franck. Pois foi assim, num destes dias, o pianista chegou mais cedo e o violinista atrasou mais do que o costume. O pianista, para não se entediar, começou, de brincadeira, a tocar a sonata TODA. Isso mesmo, não apenas a pouco trivial parte do piano, mas, assim cantando com o teclado, ia incluindo também a parte do violino. Bom, o pianista era um bamba e quando o violinista ouviu um trecho, foi logo prometendo nunca mais se atrasar – pois que senão você fará o recital sozinho, disse ele.

P. Casals, J. Thibaud e A. Cortot

Confesso ter imaginado isso tudo, mas que a história é plausível, ah, isso é. O trio a que me refiro era formado por Alfred Cortot (piano), Jacques Thibaud (violino) e Pablo Casals (violoncelo). O trio foi formado em 1905 e esteve ativo por décadas. Há registros dos três e, também, de Cortot e Thibaud tocando a tal Sonata de César Franck. Mas a postagem de hoje trata principalmente do pianista, regente e arranjador Alfred Cortot.

Como geralmente faço, estava revirando umas pilhas de discos que temos acumulados aqui no vault do PQP Bach Coop. em busca de coisas que goste ou de que possa vir a gostar. Acabei encontrando um disco que apesar de bem interessante, não chegou à postagem. Teve, no entanto, o mérito de indicar este arranjo – transcrição – da Sonata para Violino de César Franck para piano solo, feito por Alfred Cortot. Sai em busca de outras gravações e encontrei mais três discos com a peça. Depois de trocentas audições, dois deles acabaram entrando para a postagem. Eu nem sou assim um ouvinte assíduo das peças de Franck, acho que sua Sinfonia fica muito tempo taxiando antes de decolar e tal. Mas a Sonata para Violino, essa merece lugar de destaque. Minha gravação referência é a feita por Kyung-Wha Chung (violino) e Radu Lupu (piano), mas há muitas outras, excelentes.

No primeiro disco escolhido para a postagem, interpretados pelo ótimo pianista He Yue, encontramos um punhado de transcrições para piano de obras de diversos compositores, feitas por Cortot. As escolhas das fontes revelam dois aspectos das atividades ligadas ao piano. A de professor, que se preocupava com o aspecto técnico. Para ele, a música da Bach era muito importante na formação de um pianista. Esse aspecto está aqui na forma de uma transcrição da Toccata e Fuga em ré menor BWV 565. Imagino se o Capitão Nemo conhecia essa…

Mas Cortot também tinha um olho na audiência. Veja quais dois maravilhosos Lieder ele escolheu para transcrever: Wiegenlied, uma canção de ninar, de Brahms, e Heidenröslein, um dos maiores sucessos de Schubert. O Largo do Concerto em fá menor de Bach também tem uma dessas marcantes melodias, que gruda na memória da gente. Há também os desafios para qualquer pianista, dar conta sozinho de música que foi concebida para conjuntos maiores, como a Suíte Dolly, de Gabriel Fauré, escrita para duo de piano, o Largo da Sonata para Violoncelo de Chopin e a Sonata de César Franck, que completa o disco e foi a motivação para a postagem.

O segundo disco oferece música escrita originalmente apenas por César Franck, incluindo a tal transcrição para piano solo da Sonata para violino e piano feita por Cortot. Aqui uma interpretação um pouco diferente, talvez mais contida do que o virtuosismo do He Yue, mas o som produzido por Domenico Codispoti é muito bonito e não lhe falta virtuosismo e brilho quando chega a hora disso. A outra peça é uma transcrição para piano de um Prelúdio, Fuga e Variações escrito para órgão, feita por Harold Bauer. Bauer é também um ótimo personagem para se descobrir, mas hoje a postagem é do Cortot. Fechando o disco, uma outra peça notável de Franck, o Prelúdio Coral e Fuga, escrito para piano. Esta peça é figurinha carimbada nos álbuns de vários grandes pianistas, como Stephen Hough, Murray Perahia ou Evgeny Kissin. (Não perca, em breve, no seu PQP Bach mais próximo…)

Disco 1

Música transcrita para piano por

Alfred Cortot (1877 – 1962)

escrita originalmente por:

Gabriel Fauré (1893 – 1897)

Suíte Dolly, Op. 56

  1. Berceuse
  2. Mi-a-ou: Allegro vivo
  3. Le jardin de Dolly: Andantino
  4. Kitty-valse: Tempo di valse
  5. Tendresse: Andante
  6. Le pas espagnol: Allegro

Johann Sebastian Bach (1685 -1750)

  1. Toccata e Fugue em ré menor, BWV565

Johannes Brahms (1833 – 1897)

  1. Wiegenlied, Op. 49 No. 4 (Lullaby)

Johann Sebastian Bach (1685 -1750)

Concerto para Cravo em fá menor, BWV 1056:

  1. Largo

Frédéric Chopin (1810 – 1849)

Sonata para violoncelo em sol menor, Op. 65

  1. Largo

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Heidenröslein, D257

César Franck (1822 – 1890)

Sonata para violino em lá maior

  1. Allegretto ben moderato
  2. Allegro
  3. Recitativo – Fantasia: Ben moderato – molto lento
  4. Allegretto poco mosso

He Yue, piano

Gravação: 27, 28 de outubro de 2012

Music Hall, Gu Lang Yu Piano School, Central Music Conservatory, Xiamen City, China

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FLAC |214 MB

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MP3 | 320 KBPS | 143 MB

Legendary pianist Alfred Cortot’s distinguished reputation as an educator is demonstrated in these magnificent arrangements of chamber music for solo piano. They cover every aspect of technique and expression, from Bach’s demanding Toccata and Fugue in D minor to Fauré’s delectable Dolly Suite and the grand scale of Franck’s Violin Sonata. Award-winning pianist He Yue is a young and rising star of the Chinese musical firmament.

Disco 2

César Franck (1822 – 1890)

Sonata para violino em lá maior (Arranjo de Alfred Cortot)

  1. Allegretto ben moderato
  2. Allegro
  3. Recitativo – Fantasia: Ben moderato – molto lento
  4. Allegretto poco mosso

Prelúdio, Fuga e Variações Op. 18 (Arranjo de Harold Bauer)

  1. Prelúdio
  2. Fuga
  3. Variações

Prelúdio, Coral e Fuga

  1. Prelúdio
  2. Coral
  3. Fuga

Domenico Codispoti, piano

Gravação: outubro de 2012

I Musicanti Studio, Roma

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FLAC |201 MB

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MP3 | 320 KBPS | 149 MB

This CD contains the CD premiere of the transcription for piano solo of the Franck violin sonata, made by Alfred Cortot, a fascinating pianistic tour de force, the new pianistic textures giving a special sonority to the unique harmonies of this master piece. The Prélude, fugue et variation is originally an organ work, and is transcribed for piano by the famous pianist Harold Bauer. The Prélude, chorale et fugue is Franck’s pianistic pièce de résistance, although also here the influence of Franck the organist is never far away. An excellent new recording by Italian pianist Domenico Codispoti, playing with a beautiful blend of grandeur and intimacy, and a wonderful transparency (listen to the canonic 4-th movement of the violin sonata!).

Aproveite!

René Denon

Alfred testando um piano Pleyel da coleção do PQP Bach…

Schubert (1797–1828): Música para Violino e Piano – Suyoen Kim & Dong-Hyek Lim ֎

Schubert (1797–1828): Música para Violino e Piano – Suyoen Kim & Dong-Hyek Lim ֎

Schubert

Sonata para Violino D. 574

Rondó D. 895

Fantasia D. 934

Suyeon Kim, violino

Dong-Hyek Lim, piano

Aqui em casa adoramos os encontros e desencontros do Chefe Hong e da Senhora Dentista – Hong Du-sik, o faz tudo de Gongjin, cidade costeira da Coréia do Sul e Yoon Hye-jin, dentista que se transferiu para a pequena cidade. O resto do elenco é muito divertido. Mi-seon é a ‘miga’ de Hye-jin e faz com o policial Choi Eun-chul um par à la Papagena-Papageno, mas aqui é a Mi-seon a líder da dupla, pois o policial Eun-chul é a pessoa mais tímida na face da terra.

A Papagena-Mi-seon e seu par…
A simpática Senhora Gam-ri

A terceira idade também está presente, como a sábia e simpática Senhora Kim Gam-ri, que tem a figura de avó-funcional do Tamino da série, o faz-tudo Du-sik.

 

Mas por que estou mencionando isto tudo nesta postagem de Schubert? Bem, por nada… é que eu gostei do disco e gosto bastante da K-série, que assisto com minha querida, que ao ver a capa do disco no painel multimídia do carro em nossa última viagem, quis logo saber se Suyoen Kim e Dong-Hyek Lim seriam os protagonistas de alguma nova K-série…

Suyoen Kim

Suyoen Kim é coreana, mas nasceu em Münster, na Alemanha. Começou a tocar violino muito cedo e tornou-se a mais jovem estudante em uma escola de música alemã ao ser admitida como aluna externa na Detmold Musikhochschule. Aos 16 anos já dava concertos com famosas orquestras e participava de competições internacionais.

Ela já fez uma visita aqui ao PQP Bach ao acompanhar Sumi Jo em umas árias de Bach.

Dong-Hyek Lim

O pianista Dong-Hyek Lim também estudou na Alemanha, na Hochschule für Musik de Hanover e aperfeiçoou-se na Julliard School com Emanuel Ax. Dong-Hyek Lim é um dos muitos pianistas que receberam atenção e apoio no início de suas carreiras da especialíssima Martha Argerich. Esta é a primeira aparição dele aqui no blog, mas esperamos recebe-lo com mais frequência de agora em diante.

Enquanto isso, aproveitem este disco com música para violino e piano no mestre Schubert, pois que esse repertório não é muito vasto e relativamente pouco explorado.

A Sonata foi composta em 1828, junto com outras três sonatinas, enquanto o Rondó e a Fantasia são do último período de Schubert. Ele as compôs para o violinista Josef Slavík e pianista Carl Maria von Bocklet, que as interpretaram em 1827 ou 1828, mas antes da morte de Schubert.

Franz Schubert (1797 – 1828)

Sonata para Violino e Piano em lá maior, D.574
  1. Allegro Moderato
  2. Scherzo (Presto)
  3. Andantino
  4. Allegro Vivace
Rondo em si menor, D. 895, Op. 70
  1. Andante
  2. Allegro
Fantasia em dó maior, para Violino e Piano D.934
  1. Andante Molto
  2. Allegretto
  3. Andantino
  4. Allegro Vivace – Allegretto – Presto

Dong-Hyek Lim, piano

Suyoen Kim, violino

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FLAC | 355 MB

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MP3 | 320 KBPS | 162 MB

Sobre a Fantasia: Harriet Smith compares recordings of Schubert’s Fantasie for Violin & Piano in C major, D934. It’s a piece which baffled its audience when it was premiered in 1828, because it was much longer and more complexly structured than the conservative Viennese audience was used to. Despite using a recognisable melody of one of Schubert’s own songs in its central variation movement, a contemporary review remarked that the piece took rather more time and concentration than “a Viennese is prepared to devote to pleasures of the mind.” Great virtuosity is required from both violin & piano, so which duo of performers will come out on top?

Veja o que disse Dong-Hyek Lim sobre a música de Schubert, a propósito de outro de seus discos: I feel privileged that I can now present my thoughts and ideas about Schubert.

Aproveite!

René Denon

A cara que o Dong-Hyek fez quando lhe perguntamos se ele assiste as K-séries…

¡Larga vida a la Reina! – Carte Blanche [Martha Argerich, 81 anos]


Nossa Rainha completou hoje 81 anos, antes que eu completasse a tarefa de lhe prestar homenagem pelas oitenta primaveras. Vá lá que a intenção original, que era a de tão só trazer um apanhado geral do que de mais significativo ela legou a cada década, expandiu por demais seu escopo e acabou por se tornar um tremendo trampo que desembocará numa discografia completa de Marthinha. E venha lá, também, que não é nem o hábito deste blogue, nem condizente com o tempo de que disponho, promover um imenso derramamento de gravações a cada poucos dias. Ainda assim, e enquanto lhes prometo que As Idades de Marthinha em breve estarão completas, desejo redimir-me junto à homenageada. Para isso, e na falta de qualquer lançamento com gravações inéditas desde seu último aniversário, alcanço-lhes um álbum duplo lançado em 2015, mas gravado naquele que ora nos parece incrivelmente distante 2007, durante o Festival de Verbier, Suíça.

Carte Blanche é o registro duma luxuosa noite de recitais para a qual Martha teve carta branca (e os xerloques de plantão já deduziram o porquê do título) para escolher quem quisesse para com ela tocar. Ao abrir os trabalhos, a Rainha adotou a praxe de rodear-se de músicos bálticos para tocar trios com piano, ainda que, em lugar do violinista habitué, o letão Gidon Kremer, seja o lituano Julian Rachlin que se some à dona da festa e ao outro letão quase compulsório, o violoncelista Mischa Maisky, para uma leitura marcante do trio “Fantasma” de Beethoven. Em seguida, a anfitriã abre uma raríssima exceção à sua moratória de recitais solo (tão rara que eu só a posso atribuir ao cancelamento de última hora de algum convidado) para recriar, com aquele estilo espontâneo, quase improvisatório que lhe é tão peculiar, as Cenas Infantis de Schumann. Quando ela termina, Lang Lang senta-se a seu lado e começam a tocar uma peça improvável para o repertório de ambos, o Rondó a quatro mãos de Schubert. Parece faltar um tanto de entendimento entre eles (quem ouvir Martha e Barenboim tocando a mesma peça concordará), o que talvez não deva surpreender num duo de músicos de tanta verve e impulsividade. Tudo melhora – e demais – na peça seguinte, a Mamãe Gansa de Ravel, em que a verve e impulsividade supracitadas vêm bem a calhar para encerrar de maneira estimulante a obra e seu Jardim Feérico. Não tenho muito a falar de bom do item seguinte, a Arpeggione de Schubert, na qual o brilhante Yuri Bashmet parece padecer, pela imprecisão de sua performance, do mal que muitas vezes aflige os grandes instrumentistas quando se dedicam à regência: se falta de tempo, ou de estudo, ou de ambos, deixo para vocês me dizerem. Na continuação, a irresistível sonata no. 1 de Bártok está ótima, por menos acostumados que estejamos a ouvir o timbre redondinho, caloroso de Renaud Capuçon a serviço dos ferrenhos ataques bartokianos às cordas e à mesmice rítmica. Os trabalhos se encerram com uma estimulante interpretação daquele cavalo de batalha dos recitais de Martha e Nelson Freire, as Variações Paganini de Lutosławski, com a venezuelana Gabriela Montero no lugar de nosso saudoso compatriota. Como bis, à guisa de cafezinho e petit four, Gabriela dá uma palhinha de sua impressionante capacidade de improvisação (confiram no YouTube, que vale a pena!) e faz a batidíssima “Parabéns a você” passar por vários ritmos e roupagens para homenagear a pianista Lily Maisky, filha de Mischa, que estava de aniversário no dia da Carte Blanche – mas é claro que os xerloques também já se deram conta de que eu desejei que, enquanto ouvíssemos Montero, nós todos déssemos os parabéns à Rainha.


Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Dos Dois trios para piano, violino e violoncelo, Op. 70 – no. 1 em Ré maior, “Fantasma”
1 – Allegro vivace e con brio
2 – Largo assai ed espressivo
3 – Presto

Martha Argerich, piano
Julian Rachlin, violino
Mischa Maisky, violoncelo

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Kinderszenen, para piano, Op. 15
4 – Von fremden Ländern und Menschen
5 – Kuriose Geschichte
6 – Hasche-Mann
7 – Bittendes Kind
8 – Glückes genug
9 – Wichtige Begebenheit
10 – Träumerei
11 – Am Kamin
12 – Ritter vom Steckenpferd
13 – Fast zu ernst
14 – Fürchtenmachen
15 – Kind im Einschlummern
16 – Der Dichter spricht

Martha Argerich, piano

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)
Rondó em Lá maior para piano a quatro mãos, D. 951, “Grand Rondeau”
17 – Allegretto quasi andantino

Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
Ma Mère l’Oye, suíte para piano a quatro mãos, M. 62
18 – Pavane de la Belle au Bois Dormant: Lent
19 – Petit Poucet: Très modéré
20 – Laideronnette, Impératrice des Pagodes: Mouvement de Marche
21 – Les Entretiens de la Belle et de la Bête: Mouvement de Valse très modéré
22 – Le Jardin Féerique: Lent et Grave

Martha Argerich e Lang Lang, piano

Franz SCHUBERT
Sonata para arpeggione e piano em Lá menor, D. 821
(transcrita para viola e piano)
23 – Allegro moderato
24 – Adagio
25 – Allegretto

Yuri Bashmet, viola
Martha Argerich, piano

Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945)
Sonata para violino e piano no. 1, Sz. 75
26 – Allegro appassionato
27 – Adagio
28 -Allegro

Renaud Capuçon, violino
Martha Argerich, piano

Witold Roman LUTOSŁAWSKI (1913-1994)
Variações sobre um tema de Paganini, para dois pianos
29 –  Tema – Variações I-XII – Coda

Martha Argerich e Gabriela Montero, pianos

Gabriela MONTERO (1970)
30 – Improvisação sobre “Parabéns a você”

Gabriela Montero, piano

Gravado ao vivo em 27 de julho de 2007, durante o Festival de Verbier, Suíça

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Vassily

Haydn: Sonatas nos. 32, 37, 49 / Schubert: Impromptus D. 935 / Encores by Rameau, Chopin, Griboyedov, Debussy (Sokolov, piano)

Grigory Sokolov tocando Haydn e Schubert no salão do antigo palácio dos Esterházy, onde Haydn viveu e tocou por boa parte de três décadas, numa gravação ao vivo feita em um único dia, sem truques de estúdio posteriores? É claro que é IM-PER-DÍ-VEL!

Um disco novo de Sokolov – que há décadas não entra num estúdio e só consente, vez que outra, lançamentos comerciais das gravações de seus recitais – é sempre um evento tremendo, e nossa postagem de hoje, fazendo eco a essa excepcionalidade, será repartida entre dois autores. Assim, Vassily comentará o corpo principal do recital, e Pleyel, seus generosos bises, que são quase um programa à parte.

Vassily:
O profundo respeito com que Grigory Sokolov empenha sua virtuosidade a serviço dos compositores tem, nesse recital, uma camada adicional de reverência. Afinal, poucos locais são mais haydnianos que a Haydnsaal, esplendorosamente barroca e acusticamente perfeita, no coração do Palácio Esterházy de Eisenstadt, onde o Mestre de Rohrau passou parte significativa de seus trinta anos como Kapellmeister dos príncipes, e na vizinhança da capela da Bergkirche em que repousa para sempre.

Joseph de butuca [foto de Vassily]

Por reverência, também, Sokolov inicia o recital a tocar sem interrupções três das sonatas para piano de Haydn – todas em tonalidades menores -, pedindo à audiência que se abstenha de aplaudir entre uma peça e outra. O que ouvimos, sem qualquer surpresa, é pianismo de primeira: fraseado meticuloso, articulação precisa, rico colorido timbrístico. Há, sobretudo, respeito: atento às indicações Moderato, Sokolov furta-se à prestidigitação que infesta muitas leituras desse repertório e saboreia a realização de cada frase. Ouvintes acostumados a um Haydn mais temperamental e sublinhado por rompantes de humor, como o das notáveis gravações de Brendel (aqui e ali) e Lewis ( e acolá), poderão ter a impressão de frigidez. Quem ama o piano, e principalmente aqueles que já tentaram tirar dele qualquer som que preste, ficará embevecido: as três sonatas passam voando, e a gravação é tão boa que precisamos da torrente de aplausos da plateia e de umas poucas e desimportantes derrapadas do mestre para nos lembrarmos de que ela foi feita ao vivo.

A Haydnsaal sem Sokolov [foto de Vassily]

A escolha de obras de Schubert para prosseguir o recital também foi reverente ao Mestre de Rohrau: em outubro de 1828, Eisenstadt foi o destino de uma curta peregrinação de Franz, acompanhado de seu irmão, ao túmulo de Haydn na Bergkirche, na última das poucas vezes em que deixou Viena, onde morreria no mês seguinte. Essa intersecção melancólica entre os rumos de Schubert e a cidade reflete-se na leitura constrita e pianisticamente maravilhosa dos improvisos, D. 935. Depois de voltar a ouvir a gravação que deles fez Radu Lupu (a minha favorita) para escrever sua eulogia, na semana passada, senti falta de um tanto de calidez ao retornar à interpretação de Sokolov. Não é uma queixa, todavia: a moderação, mais uma vez, permite-lhe burilar cada peça e liberar comedidamente a tensão, em especial nos dois primeiros improvisos, que remetem ao Schubert transcendental das últimas sonatas para piano. O terceiro, na forma de variações, é notável pela naturalidade com que a execução propõe ao tema suas várias roupagens – uma transformação gradual, e não uma comédia de episódios, como só conseguem os grandes pianistas -, enquanto no quarto, com a indicação Allegro scherzando, Sokolov despende energia como que para fazer o ouvintes pularem da cadeira, ao final do recital.

A Bergkirche em Eisenstadt [foto de Vassily]

Pleyel:
Os bises dos recitais de Sokolov foram se tornando lendários entre os fanáticos por piano da Europa – e digo da Europa porque Sokolov não é muito de viajar e, ao que consta, não tem visto americano [nota de Vassily: nem britânico].

Se pensarmos em alguns pianistas mais ou menos da geração de Sokolov e igualmente geniais, lembraremos que Martha Argerich só toca sozinha por obrigação, fazendo como bis peças curtinhas, quase sempre as mesmas: um Scarlatti, um Schumann ou um Chopin, contrastando com seu imenso repertório de música de câmara. E que Maurizio Pollini costuma deixar plateias boquiabertas ao tocar de bis alguns dos estudos mais difíceis e impressionantes de Chopin, além da Balada nº 1. Enquanto nos recitais de Antonio Guedes Barbosa eram as valsas do polonês que apareciam como brinde.

Mais parecidos com os bises de Sokolov eram os de Nelson Freire: algumas peças virtuosísticas e brilhantes (Villa-Lobos: O Ginete do Pierrozinho, Debussy: Poissons d’or) mas sobretudo pequenas imersões saborosas no mundo sonoro de compositores raramente ouvidos nas salas de concerto. No caso de Freire, além de seu bis mais frequente, a Melodia da ópera Orfeu de Gluck em arranjo de Sgambati, ele também cultivava pequenas flores como um Noturno do polonês Paderewski e a inocente Jeunes filles au jardin do catalão Mompou.

No caso de Sokolov, uma figurinha fácil em seus bises, mas rara nos de outros grandes pianistas, é o barroco francês de Rameau: mais do que uma oportunidade de impressionar o público após o programa principal, o pianista parece buscar aqui uma chance de mostrar, em apenas 3 minutos, um mundo sonoro bastante diferente daqueles de Haydn e Schubert. Mas este último reaparece logo depois com uma melodia húngara, seguida de um dos prelúdios mais lentos do grupo de 24 de Chopin. A intenção parece ser a de transportar o público por atmosferas contrastantes, como nos bises de seu famoso recital em Salzburgo também lançado pela DG, em que Sokolov misturou dois poemas de Scriabin e duas mazurkas de Chopin, tocados alternados, para finalizar com uma outra peça curta de Rameau e um coral de Bach.

Na Haydnsaal em 2018, o bis de Sokolov prossegue com um daqueles nomes que dificilmente ouvimos na parte principal do recital: aqui é um contemporâneo quase exato de Schubert, Alexander Griboyedov (1795-1829), compositor russo que estudou com o irlandês John Field, o primeiro a compor noturnos para piano. E após a valsa mais ou menos previsível de Griboyedov, vem um dos prelúdios mais introspectivos de Debussy, um dos mais improváveis para finalizar um recital que teve como prato principal as sonatas de Haydn.

Grigory Sokolov:

Joseph Haydn:
Sonata No.32 in G minor Hob.XVI:44
Sonata No.47 in B minor Hob.XVI:32
Sonata No.49 in C-sharp minor Hob.XVI:36

Franz Schubert:
4 Impromptus op. posth.142 D 935

Encores
F. Schubert: Impromptu A-Flat major op.90 No.4 D 899
J.-F. Rameau: “Le Rappel des oiseaux”
F. Schubert: “Ungarische Melodie” D 817
F. Chopin: Prelude D-Flat major op.28 No.15
A. Griboyedov: Waltz E minor
C. Debussy: “Des pas sur la neige”, Prelude from Book 1 No.6 (L 117 No.6)

Recorded on August 10, 2018
Haydnsaal at Schloss Esterházy in Eisenstadt, Austria

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O outro Palácio Esterházy, em Fertőd, Hungria: não deve ser barato pra manter né?

Pleyel/Vassily

In memoriam Radu Lupu (1945-2022)

O som e o mundo perderam Radu Lupu no último dia 17, e novamente vejo-me aqui a tentar homenagear, com minha escrita capenga, alguém que era tremendamente mais do que ela. E, se não podemos dizer que a morte nos privou de um artista que ainda teria o que nos legar – pois o Mestre, que não gravava havia décadas, escolhera deixar os palcos há três anos -, eu reconheço que seu desaparecimento frustrou a nesguinha de esperança que eu ainda tinha de ouvi-lo ao vivo. Quem teve esse privilégio – entre eles, muitos de seus colegas de instrumento, que invariavelmente o idolatravam – conta que ninguém, vivo ou morto, se comparava a Lupu.

 

(Lupu) transcende qualquer questão técnica ou musical e cria uma certa magia que ele evoca na sala de concertos. Ele consegue criar uma atmosfera muito íntima”

(Kirill Gerstein)


[Lupu] tem o dom incomum de iluminar tudo que ele toca com rara inteligência musical”

(András Schiff)


Lupu tem o raro dom de deixar a música falar por si mesma”

(Nikolai Lugansky)

As eulogias que recebeu nos últimos dias não foram menos enfáticas. A minha preferida é


Surreal e sensível”

 

… que chega bem perto de definir o Mestre que, no entanto, era muito inseguro acerca de suas tremendas capacidades. Ao amigo Kirill Gerstein, afirmou que não era realmente um pianista, mas que sabia “tocar frases musicais”. A um produtor, tascou: “você gosta de boa articulação? Ouça Perahia“! À insegurança, que o fazia odiar estúdios de gravação e a perenidade de seus registros, somava-se um perfeccionismo notório, ainda que mais preocupado com a coerência da narrativa musical do que com a perfeição nota a nota: o mesmo produtor que foi mandado ouvir Perahia afirmou, em sua eulogia, que “suas gravações quase sempre foram sensacionalmente bem recebidas, mas tendo ouvido os takes que ele rejeitou, só posso recomendar que, se você encontrar suas gravações ao vivo, é nelas que você ouvirá o autêntico Lupu”.

(o Mestre, infelizmente, não se deixava gravar ao vivo – a não ser que o desobedecessem, como foi no caso dessa gravação do concerto no. 27 de Amadeus que o Pleyel conseguiu, e que FDP Bach publicou ontem, juntamente com, vejam só, um disco do duo Lupu-Perahia)

Um “pianista dos pianistas”? Provavelmente, a julgar pelos tantos nomes célebres que se apinhavam em seu camarim nos raríssimos recitais, e pela frequência com que sua figura hirsuta e brahmsiana, mas também sorridente e bonachona, aparecia nas redes sociais de outros músicos menos afeitos à reclusão, como vemos acima. E também aos completos diletantes, aos tocadoresdepiano como eu, Lupu soava como nenhum outro: era, mais que músico maiúsculo, um consumado poeta do piano. Se não acreditam em mim, hão de se convencer por este punhado de gravações que ora lhes alcanço, que se juntará ao outro punhado que já existia aqui no PQP Bach, e que não estará muito longe de formar a discografia completa desse gênio tão bissexto aos estúdios. A primeira, com os improvisos de Schubert, foi a que me tornou lupumaníaco para sempre: nunca escutei qualquer gravação que se lhe comparasse. A segunda, com a impressionante sonata que Brahms escreveu aos tenros 20 anos, já tinha sido recomendada até pelo patrão, mas ainda não aparecera aqui. Completo meu tributo a mostrar-lhes outros veios do talento do Mestre: seu camerismo nos quintetos para piano e sopros de Mozart e Beethoven; prestando um acompanhamento de luxo para Barbara Hendricks num belo CD com Lieder de Schubert, que faz par com outro que o chefinho já postara aqui; e como concertista, tocando um Primeiro de Brahms cheio de nuances que, como sói acontecer sob seus dedos, soa igual a nenhum outro.

In memoriam Radu Lupu (Galaţi, Romênia, 30/11/1945 – Lausanne, Suíça, 17/4/2022)


Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)

Improvisos para piano, D. 899 (Op. 90)
1 – No. 1 em Dó menor: Allegro molto moderato
2 – No. 2 em Mi bemol maior: Allegro
3 – No. 3 em Sol bemol maior: Andante
4 – No. 4 em Lá bemol maior: Allegretto

Improvisos para piano, D.935 (Op. 142)
5 – No. 1 em Fá menor: Allegro moderato
6 – No. 2 em Lá bemol maior: Allegretto
7 – No. 3 em Si bemol maior: Tema e variações
8 – No. 4 em Fá menor: Allegro scherzando

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Johannes BRAHMS (1833-1897)

Sonata para piano no. 3 em Fá menor, Op. 5
1 – Allegro maestoso
2 – Andante espressivo
3 – Scherzo. Allegro energic
4 – Intermezzo. Andante molto
5 – Allegro moderato ma rubato

6 – Tema e Variações em Ré menor (arranjo do Sexteto para cordas em Si bemol maior, Op. 18)

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Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Quinteto em Mi bemol maior para piano e sopros, K. 452
1 – Largo – Allegro moderato
2 – Larghetto
3 – Rondo: Allegretto

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Quinteto em Mi bemol maior para piano e sopros, Op. 16
4 – Grave – Allegro ma non troppo
5 – Andante cantabile
6 – Rondo: Allegro ma non troppo

Han de Vries, oboé
George Pieterson, clarinete
Vicente Zarzo, trompa
Brian Pollard, fagote

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Franz SCHUBERT

De Schwanengesang, D. 957
1 – No. 1: Liebesbotschaft (Rellstab)
2 – No. 2: Ständchen (Rellstab)

3 – Lachen und weinen, D. 777 (Rückert)

De Refrainlieder, D. 866
4 – No. 3: Die Männer sind mechant! (Seidl)

5 – Auf dem Strom, D. 943 (Rellstab)
com Bruno Schneider, trompa

6 – Sehnsucht, D. 879 (Seidl)
7 – An den Mond, D. 193 (Hölty)
8 – Versunken, D. 715 (Goethe)

9 – Der Hirt Auf Dem Felsen, D. 965 (von Chézy/Müller)
com Sabine Meyer, clarinete

10 – Du liebst mich nicht, D. 756  (von Platen-Hallermünde)
11 – Die Liebe hat gelogen, D. 751 (von Platen-Hallermünde)
12 – Die junge Nonne, D. 828 (Jachelutta)
13 – Klaglied, D. 23  (Rochlitz)
14 – Ellen’s Dritter Gesang (Ave Maria), D. 839 (Scott)

De Zwei Szenen aus dem Schauspiel ‘Lacrimas’, D. 857:
15 – No. 1: Delphine (Schütz)

16 – Heidenröslein, D. 257 (Goethe)

Barbara Hendricks, soprano

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Johannes BRAHMS

Concerto para piano e orquestra no. 1 em Ré menor, Op. 15
1 – Maestoso
2 – Adagio
3 – Rondo: Allegro non troppo

London Philharmonic Orchestra
Edo de Waart, regência

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Radu Lupu, piano


Para completar a homenagem, restaurei alguns links com o precioso som de Lupu, que estavam inativos…

Edvard Grieg – Piano Concerto in A minor, op. 16, Robert Schumann – Piano Concerto in A Minor, op. 54 – Radu Lupu, London Symphony Orchestra, André Previn

Cesar Franck – Sonata in A Major for Violin & Piano, Claude Debussy – Sonata for Violin & Piano – Kyung Wha Chung and Radu Lupu

… e lhes recomendo fortemente esta postagem do colega René Denon, com um Schumann para a eternidade:

Schumann (1810-1856): Peças para Piano – Radu Lupu

Radu Lupu por Reinhold Möller, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=117004371

Vassily

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Sonata in D Major for Two Pianos, K. 448, Franz Schubert (1797-1828): Fantasia, Op. 103, D.940 – Radu Lupu, Murray Perahia

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IN MEMORIAM – RADU LUPU (1945-2022) – Então é assim: aos poucos nossos ídolos estão morrendo, e isso é muito triste. Lembro quando ouvi esse CD (ainda em LP) pela primeira vez e o quanto gostava dele. Foi na casa de um amigo, que também o elogiou bastante, dizendo que eu tinha de ouvi-lo. Alguns anos depois tive acesso ao CD. O famoso crítico Norman Lebrecht em seu obituário colocou que seu Schubert era transcedental, e ouvindo novamente depois de alguns anos, tenho de concordar, assim como sua definição de que Lupu e que era um músico surreal e sensivel. E acrescenta mais embaixo do texto que ele era inimitável. Ouçam com atenção, e verão que é difícil não concordarmos. Um dos melhores discos de meu acervo. Radu Lupu lançou poucos discos, mas os que lançou são verdadeiras pérolas. Valem cada minuto de sua audição. Lembro que essa postagem é de 2013. Apenas atualizei o link. 

Outras belíssimas gravações de Lupu podem ser encontradas aqui

O colega Pleyel nos repassou este concerto aqui, gravado ao vivo:

Mozart: Konzert für Klavier und Orchester Nr. 27 B-Dur KV 595
Radu Lupu, Klavier
Radio-Symphonie-Orchester Berlin
Riccardo Chailly
07 Dezember 1986 – Berlin, Großer Sendesaal im Haus des Rundfunks
re-broadcast 30.08.2020, DVB-S, FLAC
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(Postagem de 2013) Uma pequena pausa nas postagens de Liszt para trazer este belíssimo CD, cinco estrelas unânimes entre os clientes da amazon, um CD que a CBS/Sony nunca deixou faltar em seu catálogo desde seu lançamento, creio que em 1987. Murray Perahia e Radu Lupu estão absolutamente perfeitos, no apogeu de suas carreiras, ao executarem estas duas peças, principalmente na Fantasia para Piano a Quatro Mãos, creio que a obra schubertiana favorita do Monge Ranulfus. E a Sonata de Mozart também está impecável na execução, na qualidade do som, no tempo, enfim, é para se ouvir dezenas de vezes sem se cansar. Coisa de gente grande. Aliás, fazia tempo que eu não ouvia um cd, ou postava um CD com tanto entusiasmo.

P.S  – Claro que ele leva o selo de qualidade do PQPBach: IM-PER-DÍ-VEL !!!

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791):
01 – Sonata for Two Pianos in D major, K. 375a-448 – I. Allegro con spirito
02 – Sonata for Two Pianos in D major, K. 375a-448 – II. Andante
03 – Sonata for Two Pianos in D major, K. 375a-448 – III. Molto allegro
Franz Schubert (1797-1828):
04 – Fantasia for Piano, Four Hands in F minor D 940 – Allegro molto moderato – Largo – Allegro vivace – Con delicatezza

Radu Lupu, Murray Perahia – Pianos

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FDPBach

Radu+LupuMurray+Perahia+radulupumurrayperahia
Retrato de Dois Grandes Artistas Enquanto Jovens