.: interlúdio :. Terry Riley (nasc. 1935): Shri Camel (1980)

Riley foi um dos pioneiros do que hoje chamamos minimalismo, mas também sempre esteve próximo do jazz e do improviso, de forma que é difícil saber se o álbum de hoje é um .:interlúdio:. ou não. E isso é só um detalhe, o que importa mesmo é a música, né?

Após ganhar uma certa notoriedade nos anos 1960, Terry Riley fez muitos shows solo tocando teclados em efeitos de overdubs e loops semelhantes aos do álbum A Rainbow in Curved Air (1968). Em alguns casos, com participações especiais notáveis, como a do trompetista Don Cherry (aqui). Gravado em estúdio em 1978, Shri Camel é um álbum que mostra os caminhos pelos quais os improvisos de Riley costumavam passear. Há momentos mais lentos, outros com sons pululando por todos os lados e, em todos os casos, as paisagens sonoras são profundamente originais e seriam copiadas por gente menos talentosa nos anos seguintes.

Terry Riley (nasc. 1935): Shri Camel
listing
1. Anthem of the Trinity – 9:25
2. Celestial Valley – 11:32
3. Across the Lake of the Ancient World – 7:26
4. Desert of Ice – 15:13

Riley – “modified Yamaha YC-45D combo organ tuned in just intonation and augmented with studio digital delay”

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Pleyel

Terry Riley (1935) – 90 anos – In C (na California e no Mali)

Terry Riley no Japão, onde ele vive atualmente

Nascido em 24 de junho de 1935 na California, Terry Riley é certamente um dos quatro ou cinco mais importantes compositores vivos neste planeta. Mas ao contrário de outros vivos ou recentemente falecidos como Sofia Gubaidulina, Arvo Pärt e Valentyn Silvestrov, Riley compôs pouca coisa para as formações usuais no mundo da música de concerto, como orquestra, piano solo, etc. Na verdade ele até tem algumas obras nesse sentido mais comum da palavra “obra”, especialmente para quarteto de cordas após longa colaboração com o Kronos Quartet (postados por PQP e FDP aqui e aqui). Mas durante a maior parte da sua vida, e creio que também a parte mais interessante, ele se dedicou a obras fortemente ligadas ao improviso, ao sabor do momento, seja com teclados e loops de fitas, seja com instrumentos acústicos. Na década de 1970 e 80 ele, como se fosse um jovem estudante, seguia em turnês o cantor indiano Pandit Pran Nath (1918-1996) meio como um aprendiz segue um guru. Riley, então, acaba sendo um pouco esquecido como compositor sério por ter sua vida tão marcada por esse sentido forte do improviso que também é inseparável de outros estadunidenses como John Coltrane e Keith Jarrett (e aqui um parêntese: nós brasileiros seríamos bem estúpidos ao dizermos que esses americanos do norte inventaram a música improvisada do século XX e XXI, é claro que ela está em muitos lugares do planeta, a música escrita europeia é bem mais exceção do que regra).

In C, composta em 1964, é a obra de Terry Riley mais tocada e gravada até hoje. Estreada em San Francisco por um grupo de músicos próximos a Riley, a peça é composta de fragmentos que se misturam de maneira diferente em cada performance: além disso, pode ser tocada por instrumentos diferentes, o que aumenta o sabor único de cada versão. A influência do improviso do jazz sobre um compositor nascido nos EUA é mais ou menos óbvia então nem precisamos explicar mais, né? Em 1967 e 68, In C recebeu as primeiras performances em Nova York e Londres, sendo descrita como hipnótica e altamente original. Em 1969 Alexei Lubimov organizou a estreia da peça na União Soviética e na plateia estava gente como Sofia Gubaidulina e Alfred Schnittke.

Aqui, temos as minhas duas gravações preferidas da obra: a primeira gravada em San Francisco, mesma cidade onde In C havia estreado 25 anos antes. O grupo é conduzido pelo compositor, que também canta. A outra gravação, sem a participação direta de Riley, é mais distante do espírito original, mas tenho certeza de que agradou ao compositor: o grupo é formado majoritariamente por músicos africanos que dão um toque todo especial nas percussões e nas vozes cantadas, mas há também dois ou três europeus, incluindo o veterano Brian Eno.


Terry Riley: In C
25th anniversary Concert

Recorded in San Francisco, USA (1990)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE


Terry Riley: In C
Africa Express

Recorded in Bamako, Mali and Berlin, Germany (2014)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Terry Riley tomando champagne – será que ele vai comemorar os 90 com uma taça? Talvez duas…

Pleyel

Terry Riley (1935): Salome Dances for Peace (Kronos Quartet)

Terry Riley (1935): Salome Dances for Peace (Kronos Quartet)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Dia desses, alguns membros do PQP estavam, com seus nomes civis, conversando animadamente entre outras pessoas no Facebook. E descobrimos algo curioso: a gente não gosta muito de Philip Glass. Pior: eu e Ranulfus somos decididamente hostis ao brilho sem graça do americano dentuço. Só para ficar na cena norte-americana, citei três caras realmente geniais: Adams, Reich e Riley. Estes não tem nada a ver com o Paulo Coelho do minimalismo. E eu disse que lançaria um torpedo no PQP Bach. Está aqui.

Vocês estão frente a um quarteto de cordas de 120 minutos — é um álbum duplo — , com 23 movimentos divididos em 5 seções da melhor música do século XX. Ah, não acredita? Vá ouvir!

Após quase 20 anos de vida, Salome Dances for Peace parece ser a obra-prima de Riley. In C recebe muito mais performances, mas Salomé é um trabalho mais profundo e mostra um compositor incrivelmente criativo e inspirado.

Salomé foi encomendada pelo Kronos Quartet, intérpretes desta gravação. Como muitas peças de Riley, é uma obra programática que envolve elementos da mitologia. O uso da mitologia é tipico de Riley. Mas se o programa é interessante, o trabalho para tranquilamente em pé sem ele.

As peças, mesmo as de mais intrincada composição, incluem improvisação. Riley conseguiu integrar os momentos de improviso ​​e os compostos de forma perfeita, mal se nota o que são uns e outros. (Mérito também do Kronoa, claro). E é surpreendente que, mesmo que os temas e ritmos sejam diferentes, o efeito global seja o mesmo. bartokiano, eu diria.

O estranho (e legal) é que mesmo que soe a Bartók, nunca é austero. Salomé é uma dança de alegria de um dos compositores mais alegres do século 20.

Terry Riley (1935): Salome Dances for Peace (Kronos Quartet)

I. Anthem of the Great Spirit
1) The Summons
2) Peace Dance
3) Fanfare in the Minimal Kingdom
4) Ceremonial Night Race
5) At the Ancient Aztec Corn Races Salome Meets Wild Talker
6) More Ceremonial Races
7) Oldtimer at the Races
8. Half Wolf Dances Mad in Moonlight

II. Conquest of the War Demons
9) Way of the Warrior
10) Salome and Half Wolf Descend Through the Gates to the Undeworld
11) Breakthrough to the Realm of the War Demons
12) Combat Dance
13) Salome Re-enacts for Half Wolf Her Deeds of Valor
14) Discovery of Peace
15) The Underworld Arising

III. The Gift
1) Echoes of Primordial Time
2) Mongolian Winds

IV. The Ecstasy
3) Processional
4) Seduction of the Bear Father
5) The Gathering
6) At the Summit
7) Recessional

V. Good Medicine
8. Good Medicine Dance

KRONOS QUARTET:
David Harrington, violin
John Sherba, violin
Hank Dutt, viola
Joan Jeanrenaud, cello

Tempo total: 1h58min33

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Terry Riley

PQP

Terry Riley (1935) – Sunrise of the Planetary Dream Collector – Kronos Quartet

Estou já há alguns meses ensaiando a postagem deste belíssimo CD do Kronos Quartet, espero que agora saia. O texto abaixo foi livremente traduzido do booklet do CD:

“Chovia insistentemente naquele dia em 1980, quando o Kronos Quartet foi até Sierra Foothills para receber o ‘Sunrise of the Planetary Dream Collector’, primeira obra que Terry Riley compusera para o jovem grupo. A viagem de carro de San Francisco até a casa de Terry e Ann Riley no Sri Moonshine Ranch leva apenas algumas horas. A jornada do Kronos até aquele ponto, porém, já estava alguns anos em desenvolvimento. (…)

(…) O pessoal do Kronos Quartet conheceu Riley enquanto eles estavam ensaiando ‘Traveling Music’, uma peça de David Harrington. Acontece que Riley e Benshoof foram estudantes juntos na San Francisco State University, então curioso ele parou para ouvir o ensaio do quarteto. Harrington, que “ouviu quartetos” na música de Riley, estava ansioso para que ele escrevesse algo para eles. Harrington cortejou o compositor implacavelmente. Riley, no entanto, teve muitas dúvidas. Ele havia abandonado a composição escrita mais de uma década antes. Estava insatisfeito com a natureza artificial da notação musical, que lhe parecia fossilizar o pensamento musical. (…) Em vez disso, Riley se dedicou a improvisações. Riley acreditava que suas idéias musicais nunca foram destinadas a alcançar um estado acabado, mas estavam destinadas a evoluir continuamente.”

O texto do booklet é bem mais completo, claro, traduzi livremente apenas alguns parágrafos iniciais, apenas para mostrar aos senhores do que se trata este CD. Não ouço muito a música moderna, e a conheço menos ainda. Mas acompanho, mesmo que de longe, a carreira do Kronos Quartet nas últimas décadas. Nos anos 80 este conjunto causou um frisson no meio musical, e ouvi-lo virou meio que ‘Cult’. Como sempre fui meio que avesso a modismos e modernismos, então de certa forma não prestei muito mais atenção neles.

Mas tenho de reconhecer que este CD é muito interessante, com belíssimos momentos. Riley é um compositor brilhante, para muitos, o maior compositor norte americano vivo.
Para os que não conhecem nem Terry Riley e muito menos o Kronos Quartet, e tem interesse em novas sonoridades e possibilidades, esta é uma bela introdução.

1. Sunrise of the Planetary Dream Collector
2. One Earth, One People, One Love
From Sun Rings
3. Cry of a Lady
with Le Mystère des Voix Bulgares
Dora Hristova, conductor

4. G Song
5. Lacrymosa – Remembering Kevin

Cadenza on the Night Plain
6. Introduction
7. Cadenza: Violin I
8. Where Was Wisdom When We Went West?
9. Cadenza: Viola
10. March of the Old Timers Reefer Division
11. Cadenza: Violin II
12. Tuning to Rolling Thunder
13. The Night Cry of Black Buffalo Woman
14. Cadenza: Cello
15. Gathering of the Spiral Clan
16. Captain Jack Has the Last Word

KRONOS QUARTET David Harrington, VIOLIN
John Sherba, VIOLIN
Hank Dutt, VIOLA
Sunny Yang, CELLO (1–2)
Joan Jeanrenaud, CELLO (3–4, 6–16)
Jennifer Culp, CELLO (5)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (MP3)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (FLAC)

Terry Riley (1935): The Cusp of Magic

Terry Riley (1935): The Cusp of Magic

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Terry Riley está ao lado de Reich e Adams como os maiores compositores norte-americanos contemporâneos. Ele também é minimalista, mas seus padrões de repetição são bem diferentes. Para seu 70º aniversário, o Quarteto Kronos encomendou-lhe uma peça e ele decidiu incluir nela o instrumentista Wu Man que toca pipa (instrumento de cordas chinês, pesquise aí) e canta, além de tocar  tambor, chocalho, vários brinquedos e sintetizador. É a peça mais eclética que Riley escreveu para o Kronos. Ele supera a si mesmo incluindo world music, estilos ocidentais e instrumentos excêntricos. O título The Cusp of Magic refere-se ao solstício de verão. Cada um dos seus seis movimentos tem um programa associado ao fenômeno, e os movimentos externos são evocações de rituais religiosos da América do Norte. As paisagens sonoras são, sim, alucinógenas, sobrepondo-se e evoluindo caleidoscopicamente. Os movimentos são musicalmente muito diferenciados, ainda que repletos de justaposições e confrontos sonoros. Apesar de seu extremo ecletismo, a peça tem integralidade e propósitos que nunca parecem aleatórios. O ouvinte está claramente nas mãos de um compositor que está no controle da situação. A linguagem harmônica de Riley é em grande parte tonal e, para o ouvinte atento à sua estética, a música é poderosa, evocativa, assustadora e simplesmente adorável. Não é preciso dizer que o Kronos Quartet e Wu Man se jogam de todo coração na música de Riley, tocando (e cantando) com verdadeira paixão. O som da Nonesuch é limpo, com grande senso de presença.

Terry Riley (1935): The Cusp of Magic

1 The Cusp Of Magic 10:04

2 Buddha’s Bedroom 10:33
Vocals – Wu Man

3 The Nursery 5:10
Vocals – Wu Man

4 Royal Wedding 6:14

5 Emily And Alice 4:09
Vocals – Elisabeth Commanday

6 Prayer Circle 6:41

Cello, Toy – Jeffrey Zeigler
Ensemble – Kronos Quartet
Pipa, Toy, Vocals – Wu Man
Vocals – Elisabeth Commanday
Viola, Toy – Hank Dutt
Violin, Bass Drum, Rattle [Peyote], Toy – David Harrington
Violin, Toy – John Sherba

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Não, não é um padre ortodoxo nem um sábio chinês, é Terry Riley

PQP

Terry Riley (1935): Cadenza On The Night Plain — Alfred Schnittke (1934-1998): Quartetos 2 e 4 — Kronos Quartet 25 anos [8 e 9/10]

Terry Riley (1935): Cadenza On The Night Plain — Alfred Schnittke (1934-1998): Quartetos 2 e 4 — Kronos Quartet 25 anos [8 e 9/10]

cover (2)

  • Repost de 4 de Fevereiro de 2016

Temos aqui hoje o estadunidense Terry Riley e o russo Alfred Schnittke. Não, calma, não estamos na guerra fria.

Cadenza On The Night Plain é ótima. Podemos perceber facilmente a influência indiana na música de Riley, embora isso as vezes se restrinja às pequenas dissonâncias resultantes das diferenças de escalas entre as notas do sistema tonal indiano. G music dá uma pausa trazendo elementos do Jazz num formato tipicamente ocidental. A melodia é deliciosa e repete com pequenas variações. É o minimalismo de Riley.

cover (2)

Já em Schnittke temos muitas vísceras. O criador do poliestilismo não perdoa. O que é poliestilismo? Eu explico pra vocês. Poliestilismo é a técnica que numa única obra mescla diferentes estilos de composição, como por exemplo, barroco e romântico, ou barroco e dodecafonismo, ou clássico, romântico e minimalista todos juntos, entre outras combinações possíveis. Talvez alguma mente perspicaz pergunte: Ok, mas qual a diferença disso do collage? Bem, o collage utiliza trechos inteiros de músicas já prontas de diferentes compositores de diferentes épocas, o que pode tornar a harmonia bastante precária. É possível criar uma obra inteira sem fazer nada se o compositor for demasiadamente picareta. Já no poliestilismo o compositor precisa compor novas coisas em cada estilo e harmonizá-las numa música só, o que dá mais liberdade para criação e torna mais fácil criar uma harmonia, mas ao mesmo tempo demanda um conhecimento enorme das diferentes técnicas. Em poucas notas o compositor pode atravessar séculos inteiros.

Embora aqui, amigos, vocês sentirão pouco dessa técnica de Schnittke, já que o formato de quarteto é muito mais rígido em sua estrutura. Se quiserem perceber mais o poliestilismo, recomendo os concertos grossos.

Semana que vem trarei o último álbum da coleção com Peter Sculthorpe, P. Q. Phan e Kevin Volans. Alguém conhece esses caras?

25 Years of the Kronos Quartet [BOX SET 8 and 9/10]

Disc 8

Terry Riley (1935):

Cadenza On The Night Plain
01 Introduction
02 Cadenza: Violin
03 Where Was Wisdom When We Went West?
04 Cadenza: Viola
05 March of the Old Timers Reefer Division
06 Cadenza: Violin II
07 Tuning to Rolling Thunder
08 The Night Cry of Black Buffalo Woman
09 Cadenza: Cello
10 Gathering of the Spiral Clan
11 Captain Jack Has the Last Word

12 G Song

Salome Dances for Peace – excerpts
13 III. The Gift: Echoes of Primordial Time
14 III. The Gift: Mongolian Winds
15 V; Good Medicine: Good Medicine Dance

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Disc 9

Alfred Schnittke (1934-1998):

Quartet No. 2
01 I. Moderato
02 II. Agitato
03 III. Mesto
04 IV. Moderato

Quartet No. 4
05 I. Lento
06 II. Allegro
07 III. Lento
08 IV. Vivace
09 V. Lento

10 Collected Songs Where Every Verse Is Filled With Grief

Kronos Quartet:
David Harrington, violin
John Sherba, violin
Hank Dutt, viola
Joan Jeanrenaud, cello

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Kronos Quartet fazendo música do jeito techno-hippie de Terry Riley.
Kronos Quartet fazendo música do jeito techno-hippie de Terry Riley.

Luke