Este é um dos CDs que mais escuto entre todos os que disponho. E olhe que não é pouca coisa! Mas, há algo de especial nele – a música poderosa de Benjamin Britten. Acredito, sem rodeios, que Britten tenha sido o maior compositor inglês de todos os tempos. E olhem que gosto de Purcell, Elgar, Walton, Holst e Vaughan Williams. Mas Britten é imbatível. Sua música é arrebatadora. Consta que Britten ao nascer teria recebido o nome Benjamin por causa de um arroubo pretensioso da mãe. Ela julgava que o compositor seria “o quarto B” da história da música. Os primeiros foram: Bach, Beethoven e Brahms. Suas intenções eram excessivas. Mas não devemos olvidar as habilidades incomuns de Britten para compor. Sua obra é grandiosa. Separei três de suas óperas mais importantes – Peter Grimes, Morte em Veneza e Billy Bud – para postar. Acredito que isso se efetuará em algumas semanas – ou até o final do ano. Uma boa apreciação desse CD tão querido.
Benjamin Britten (1913-1976): Sinfonia da Requiem, Op. 20, Four Sea Interludes, Op. 33a, Passacaglia, Op. 33b e An American Overture
Sinfonia da Requiem, Op. 20
01. I. Lacrymosa
02. II. Dies Irae
03. III. Requiem Aeternam
Four Sea Interludes, Op. 33a
04. I. Dawn
05. II. Sunday Morning
06. III. Moonlight
07. IV. Storm
Passacaglia, Op. 33b
08. Passacaglia, Op. 33b
An American Overture
09. An American Overture
New Zealand Symphony Orchestra
Myer Fredman, regente
Um bom CD, principalmente pelo Britten inicial e o Walton final. Não sei se estou certo ao dizer que a “Sonata” de Walton é uma transcrição de um quarteto seu, mas me parece que sim. Tenho quase certeza. O Guildhall é um conjunto estupendo e convincente, com um maravilhoso som. A Sinfonia Simples, Op. 4, de Britten, é uma obra para orquestra ou quarteto de cordas. Foi escrita finalizada quando o compositor tinha 20 anos, em 1933, mas seus temas foram escritos entre 1923 e 1926, quando Britten era criança. Recebeu sua primeira apresentação em 1934 no Stuart Hall em Norwich, com Britten conduzindo uma orquestra amadora. A peça é dedicada a Audrey Alston, professora de viola de infância de Britten. Bem no início, parece um tango; o segundo movimento é um pizzicato lindo; o terceiro é sentimental, mas muito digno; e o que dizer do último movimento lá do Walton?
Britten / Tippett / Walton: Obras para Orquestra de Cordas (Guildhall / Salter)
Little Music Composed By – Tippett
(10:27)
5 Prelude 1:16
6 Fugue 3:35
7 Air 3:35
8 Finale 1:56
Variations On An Elizabethan Theme (Sellenger’s Round) (15:53)
9 Theme 1:17
10 Variation I
Composed By – Oldham*
0:52
11 Variation II
Composed By – Tippett*
5:09
12 Variation III
Composed By – Berkeley*
1:05
13 Variation IV
Composed By – Britten*
1:44
14 Variation V
Composed By – Searle*
2:37
15 Variation VI
Composed By – Walton*
3:00
Sonata For String Orchestra Composed By – Walton
(26:30)
16 Allegro 7:57
17 Presto 4:23
18 Lento 9:38
19 Allegro Molto 4:21
Leader [Leader/Director] – Robert Salter
Performer – Guildhall String Ensemble
Denise Djokic… O nome pode ser sérvio, mas a moça é uma talentosa violoncelista de Halifax, Nova Escócia, Canadá. Ela tem sido tem sido elogiada em todo o mundo por suas interpretações powerful e seu maiúsculo comando do instrumento. Quando se ouve o disco, duas coisas saltam a nossos ouvidos. O som estupendo de um violoncelo bem tocado e a bela música de Britten, o maior compositor inglês desde… desde… desde Purcell, claro. Este CD é uma esplêndida mistura de força, exatidão e sensibilidade. Coisa rara. Agora, vejam só: Denise foi nomeada pela revista canadense MacLean como um dos “25 canadenses que estão mudando nosso mundo” e a Elle escolheu-a como uma das “Mulheres Mais Poderosas do Canadá”. Para quem não sabe, as Suítes para Violoncelo de Benjamin Britten são uma série de três composições para violoncelo solo, dedicadas a Mstislav Rostropovich. Britten era amigo de Rostrô, assim como de Shosta. Antes de escrever esta sensacionais suítes, Britten já havia composto para Rostrô uma cadência para o Concerto Nº 1 para Violoncelo e Orquestra de Haydn, em 1964. (Vi Rostrô em Buenos Aires tocando este Concerto de Haydn, ho, ho, ho). Rostropovich estreou o trio de obras que lhe dedicou Britten e gravou comercialmente as Suites N° 1 e 2. Na minha opinião, é um CD… IM-PER-DÍ-VEL !!!
Benjamin Britten (1913-1976): Cello Suites
1. Denise Djokic – 1. Cello Suite No. 1, Op. 72: Canto primo: Sostenuto e largamente (2:37)
2. Denise Djokic – 2. Cello Suite No. 1, Op. 72: I. Fuga: Andante moderato (4:20)
3. Denise Djokic – 3. Cello Suite No. 1, Op. 72: II. Lamento: Lento rubato (3:21)
4. Denise Djokic – 4. Cello Suite No. 1, Op. 72: Canto secondo: Sostenuto (1:33)
5. Denise Djokic – 5. Cello Suite No. 1, Op. 72: III. Serenata: Allegretto: pizzicato (2:24)
6. Denise Djokic – 6. Cello Suite No. 1, Op. 72: IV. Marcia: Alla marcia moderato (3:40)
7. Denise Djokic – 7. Cello Suite No. 1, Op. 72: Canto terzo: Sostenuto – 2:50 (2:50)
8. Denise Djokic – 8. Cello Suite No. 1, Op. 72: V. Bordone: Moderato quasi recitativo (3:45)
9. Denise Djokic – 9. Cello Suite No. 1, Op. 72: VI. Moto perpetuo e Canto quarto: Presto (3:41)
10. Denise Djokic – 10. Cello Suite No. 2, Op. 80: I. Declamato: Largo (4:21)
11. Denise Djokic – 11. Cello Suite No. 2, Op. 80: II. Fuga: Andante (4:28)
12. Denise Djokic – 12. Cello Suite No. 2, Op. 80: III. Scherzo: Allegro molto (2:11)
13. Denise Djokic – 13. Cello Suite No. 2, Op. 80: IV. Andante lento (6:05)
14. Denise Djokic – 14. Cello Suite No. 2, Op. 80: V. Ciaccona: Allegro (8:28)
15. Denise Djokic – 15. Cello Suite No. 3, Op. 87: I. Introduzione: Lento (2:47)
16. Denise Djokic – 16. Cello Suite No. 3, Op. 87: II. Marcia: Allegro (1:53)
17. Denise Djokic – 17. Cello Suite No. 3, Op. 87: III. Canto: Con moto (1:29)
18. Denise Djokic – 18. Cello Suite No. 3, Op. 87: IV. Barcarola: Lento (1:48)
19. Denise Djokic – 19. Cello Suite No. 3, Op. 87: V. Dialogo: Allegretto (2:06)
20. Denise Djokic – 20. Cello Suite No. 3, Op. 87: VI. Fuga: Andante espressivo (3:11)
21. Denise Djokic – 21. Cello Suite No. 3, Op. 87: VII. Recitativo: Fantastico (1:26)
22. Denise Djokic – 22. Cello Suite No. 3, Op. 87: VIII. Moto Perpetuo: Presto (0:57)
23. Denise Djokic – 23. Cello Suite No. 3, Op. 87: IX. Passacaglia: Lento solenne (10:22)
Vocês sabem aquele disco consistente? Pois é o caso. São bons concertos de Britten e Walton — o de Britten é bem melhor — , boas interpretações, boa gravação. Nada de arrebentar, mas tudo em seu lugar. Há traços de Shostakovich no concerto de Britten e a tão vilipendiada viola é bem tocada pelo excelente Vengerov no Walton. O concerto de Britten é cheio de íntima agitação e emoção crua, mas também é elegante e lírico. Vengerov faz justiça aos muitos matizes deste trabalho, particularmente a seu final dolorido e solene, o qual é soberbamente interpretado.
B. Britten (1913-1976): Violin Concerto / W. Walton (1902-1983): Viola Concerto
1 Violin Concerto Op.15: I Moderato con moto – 10:05
2 Violin Concerto Op.15: II Vivace – 8:24
3 Violin Concerto Op.15: III Passacaglia – Andante lento (un poco meno mosso) 15:22
4 Viola Concerto: I. Andante comodo 9:47
5 Viola Concerto: II. Vivo, con molto preciso 4:24
6 Viola Concerto: III. Allegro moderato 16:23
Maxim Vengerov
London Symphony Orchestra
Mstislav Rostropovich
Clássica, Simples e ‘em dó maior’ são os nomes de três lindas sinfonias que surgiram ao lado de obras gigantescas do gênero, mas que nunca deixaram de encantar as audiências, desde que se tornaram conhecidas.
Prokofiev escreveu sua Sinfonia Clássica, a primeira de sua carreira, inspirado nas obras de Haydn e Mozart. Ele estudava também regência naqueles dias e as aulas eram sobre como reger as sinfonias de Haydn. Isso deve ter sido ponto de partida para esse ‘exercício de composição’, especialmente para quem compunha essencialmente para piano, durante os fins de 1916 e setembro de 1917. Você deve ter percebido que isso foi exatamente no período em que ocorreu a Revolução de 1917. Veja mais detalhes sobre essa obra nessa interessante página aqui.
Quando nossos músicos e professores de inclinação clássica (que na minha opinião nada mais são do que falsos clássicos) ouvirem esta sinfonia, começarão a gritar sobre mais um ato atrevido cometido por Prokofiev e que ele não pode nem deixar Mozart em paz em seu túmulo, mas teve que perturbá-lo com suas mãos sujas, espalhando dissonâncias sujas de Prokofiev entre as pérolas clássicas puras – mas meus verdadeiros amigos entenderão que o estilo de minha sinfonia é realmente mozartiano e clássico, e então irão apreciá-lo, e o público provavelmente ficará feliz por ela ser descomplicada e alegre e, claro, aplaudirá. S.P.
Benjamin Britten foi um dos grandes compositores ingleses e o ingleses são especialmente ‘found’ de música para orquestras de cordas. Britten compôs sua Simple Symphony exatamente para uma orquestra de cordas, ainda bem jovem e usando temas que havia composto em sua infância. Eu gosto particularmente dos títulos dos movimentos, a primeira letra do adjetivo igual à do substantivo que lhe segue, como Boisterous Bourrée ou Frolicsome Finale.
Georges Bizet foi um dos maiores talentos musicais vindos ao mundo, mas nos deixou poucas obras, mesmo considerando sua relativamente curta vida. É claro, Carmen é a sua obra prima, mas essa sua Sinfonia em dó maior é mais uma prova de sua genialidade. Foi composta quando ele tinha 17 anos e já era aluno do Conservatório de Paris há 7 anos. Tudo indica que a obra foi criada tendo como exemplo a Sinfonia No. 1 de seu professor, Charles Gounod, enquanto o mesmo a compunha. As notas que estou lendo aqui atestam que a obra do aluno de longe superou a do mestre, mesmo tendo-lhe tomado algumas coisas por emprestado. Fiquei curioso para ouvir a obra do Gounod. Mesmo assim, a Sinfonia de Bizet nunca foi executada durante seus dias e nem chegou a ser por ele mencionada em sua correspondência. Só foi descoberta em 1935 e não deixou de fazer sucesso desde então. A primeira vez que a ouvi foi em um LP no qual Leopold Stokowski regia a National Philharmonic Orchestra e que incluía também a ótima Sinfonia Italiana de Mendelssohn.
Esse disco é uma pequena joia na ótima discografia da Orpheus Chamber Orchestra, aquela que toca sem maestro. Tudo é primoroso, inclusive a capa do disco, da arte de Joan Miró.
CD que vai tranquilamente para a categoria dos imperdíveis.
No início de 1935, Berg recebeu a encomenda de um concerto do violinista Louis Krasner para estrear no Festival de Música Contemporânea que aconteceria no ano seguinte em Barcelona. Envolvido com a produção de sua ópera “Lulu”, Berg titubeou em aceitar a encomenda. Mas a morte prematura de Manon Gropius, filha de sua dileta amiga Alma Mahler e do arquiteto Walter Gropius, mobilizou o compositor a homenagear a jovem que se despedira da vida aos 18 anos, vítima de paralisia-infantil. A obra, que deveria ser o Réquiem de Manon, acaba ser o Réquiem do próprio Berg, que morreu em 24 de dezembro de 1935 com 50 anos, deixando sua “Lulu” incompleta. De fato, sua obra derradeira acabou por ser este Concerto para violino, que ele não viveu o suficiente para vê-lo apresentado por Krasner (o autor da encomenda) em Barcelona em 1936. O concerto é belíssimo e Hope desnuda-lhe toda a emoção para nós.
Menos conhecido, mas do mesmo nível — na minha opinião, melhor — é o concerto de Britten. Ele foi escrito entre 1938 a 1939 e dedicado a Henry Boys, seu antigo professor no Royal College of Music. Foi estreado em Nova York em 29 de março de 1940. Não há pontos fracos nesta obra. Ela é toda perfeita. Amor e guerra se misturam nela. O terceiro movimento (Passacaglia) é um tributo aos soltados voluntários britânicos, alguns deles amigos de Britten, que lutaram contra o franquismo durante a Guerra Civil Espanhola. Foi também durante a escrita deste concerto que o compositor conheceu Peter Pears, tenor que se tornou seu companheiro para toda a vida. O sul-africado Daniel Hope volta a atuar maravilhosamente aqui. O que ele faz nos dois primeiros movimentos é pura magia.
Alban Berg (1885-1935) & Benjamin Britten (1913-1976): Concertos para Violino (Hope, Watkins, BBC)
BERG – Violin Concerto. Dem Gedenken Eines Engels • To The Memory Of An Angel • À La Mémoire D’Un Ange
1 Part I: Andante — Allegretto 12:03
2 Part II: Allegro — Adagio 17:08
BRITTEN – Violin Concerto, Op.15
3 I Moderato Con Moto — Agitato — Tempo Primo 10:44
4 II Vivace — Animando — Largamente — Cadenza 9:01
5 III Passacaglia: Andante Lento 16:01
Composed By – Alban Berg (faixas: 1, 2), Benjamin Britten (faixas: 3 to 5)
Conductor – Paul Watkins
Orchestra – BBC Symphony Orchestra
Violin – Daniel Hope
Admiradores do canto coral, o post de hoje é para vocês. Nada mais, nada menos que uma caixa com 6 cds trazendo o crème de la crème do trabalho que o regente Eric Ericson desenvolveu ao longo de décadas à frente de dois coros na capital sueca: o Coro da Rádio de Estocolmo (hoje Coro da Rádio Sueca) e o Coro de Câmara de Estocolmo, fundado por ele.
Correndo o risco de soar exagerado, essa caixinha é o tipo de coisa que eu botaria na sonda Voyager para que os habitantes extraterrestres do cosmos soubessem que, apesar de ter dado um tanto errado como espécie, a humanidade teve seus momentos de extrema beleza, de uma verdade essencial. Um troço assim como aquele gol do Maradona contra os ingleses em 86, a Annunziata de Antonello da Messina ou o filé à francesa do Degrau.
Não sei bem explicar o porquê, tem alguma coisa na música coral que me pega fundo na alma. Talvez seja algo verdadeiramente animal, instintivo – nos sentimos tocados quando ouvimos nossos semelhantes emitindo sons em conjunto. As Paixões de Bach, a Nona de Beethoven, o Réquiem de Mozart, para ficar só em algumas das mais consagradas páginas do repertório de concerto, todas têm aquele(s) momento(s) em que o coro descortina sua avalanche sonora e a gente se agarra na cadeira, como que soterrado por tamanha beleza, tamanho feito humano. A voz humana tem esse poder, mexe com a gente, sei lá, em nível celular…
Pois esta caixinha de seis discos faz um voo panorâmico amplo, percorrendo mais de cinco séculos de música coral europeia: de Thomas Tallis (1505?-1585) a Krzystof Penderecki (1933-2020). Os seis discos são divididos em dois trios: os três primeiros levam o nome de Cinco Séculos de Música Coral Europeia e trazem obras de: Badings, Bartók, Brahms, Britten, Byrd, Castiglioni, Debussy, Dowland, Edlund, Gastoldi, Gesualdo, Ligeti, Martin, Monteverdi, Morley, Petrassi, Pizzetti, Poulenc, Ravel, Reger, Rossini, Schönberg, R. Strauss e Tallis. Os três restantes, por sua vez, são agrupados como Música Coral Virtuosa e o repertório consiste em Jolivet, Martin, Messiaen, Monteverdi, Dallapiccola, Penderecki, Pizzeti, Poulenc, Reger, R. Strauss e Werle.
O texto de Michael Struck-Schloen sobre o repertório que integra o encarte é bem bom e vale a extensa transcrição, em livre tradução deste blogueiro:
“Cinco séculos de música coral europeia (cds 1 – 3) A seleção estritamente pessoal de Ericson do vasto repertório de música coral europeia dos séculos XVI a XX para a lendária produção de 1978 da Electrola pode surpreender, a princípio, pelas muitas lacunas que contém. Não há nada da audaciosamente complexa música coral do Barroco Protestante, de Schütz a Bach, nem obras do início do período Romântico, quando grandes mestres como Schubert e Mendelssohn contribuíram para a era dourada da tradição coral burguesa. As obras desses discos não foram selecionadas tendo em mente uma completude enciclopédica, mas por sua flexibilidade e brilhantismo, por sua mistura de cores e suas características tonais gerais.
A riqueza e o desenvolvimento da tradição coral europeia são melhor iluminadas quando agrupamos as obras de acordo com sua procedência ao invés de seu período de composição. A música coral europeia foi profundamente influenciada desde o início pelo som e expressão específicos do idioma utilizado; e, no século XIX, as harmonias e ritmos típicos da música tradicional folclórica também começaram a desempenhar um papel importante. As Quatro Canções Folclóricas Eslovacas (1917) e as Canções Folclóricas Húngaras (1930), de Béla Bartók, demonstram bem essa tendência rumo a uma identificação nacional, bem como os primeiros coros Manhã e Noite, de György Ligeti, escritos em 1955, um ano antes de ele escapar do regime comunista de sua Hungria natal.
Os quatro exemplos de música sacra a capella alemã incluídos aqui merecem o título dado por Brahms de Quatro Canções Séries já somente pela escolha do texto. Em uma de inflação tanto da intensidade expressiva como dos recursos musicais utilizados – como demonstrado por Paz na Terra (1907) de Schönberg e o Moteto Alemão (1913) de Richard Strauss para quatro solistas e coral de 16 vozes –, havia também um claro renascimento no interesse por antigos ideais composicionais e estilísticos. Assim, a esparsa ttécnica coral praticada por Schütz e seus contemporâneos foi a principal fonte de inspiração para os Motetos, op. 110 de Max Reger, trabalhando com textos biblicos (1909), ou para Fest- e Gedenksprüche com que um Brahms de 56 anos de idade reconheceu a liberdade que a sua Hamburgo natal o concedeu.
A mais importante revolução na história da música vocal entre a Renascença e Schönberg foi a introdução na Itália, por volta de 1600, do canto solo dramático. Esse novo estilo, que atendia pelo despretensioso nome de “monodia”, pavimentou o caminho para o gênero inteiramente novo da ópera, e também diminuiu gradativamente a importância do coral de múltiplas vozes ao norte dos Alpes. Dessa forma, os madrigais de Gesualdo e Monteverdi, com suas harmonias distintas, são na verdade música solo em conjunto, fazendo deles terreno fértil para grupos vocais ágeis e esguios como o Coro de Câmara de Estocolmo. Enquanto as extravagantes Péchés de ma vieillesse de Rossini foram escritas para quarteto e octeto vocais, o quarteto desacompanhado teve que esperar até o século XX para ser redescoberto como um meio expressivo em si mesmo. Ildebrando Pizzeti faz uma referência deliberada ao contraponto renascentista em suas duas canções Sappho, de 1964, enquanto seu conterrâneo Goffredo Petrassi explora uma ampla gama de técnicas corais modernas, de glissandi ilustrativos ao caos dissonante, em seus corais Nonsense (publicados em 1952) baseados em versos de Edward Lear.
Em uma época em que uma carga expansiva e sobrecarregada de som era a ordem do dia no trabalho coral alemão, compositores franceses ofereceram narrativas caprichosas e a poesia colorida da natureza. As Trois Chansons (1915) de Maurice Ravel, com textos dele mesmo, são uma mistura cativante de atrevida sabedoria popular e engenhosa simplicidade, enquanto Debussy incorpora antigos textos franceses em uma linearidade arcaica em suas Trois Chansons de Charles d´Orléans (1904). As Chansons bretonnes do compositor holandês Henk Badings são brilhantes estudos vocais no idioma francês, enquanto os coros Ariel do grande compositor suíço Frank Martin são importantes estudos preliminares para sua ópera A Tempestade. Não bastassem esses belos trabalhos, é a cantata para 12 vozes A Figura Humana (1943), de Francis Poulenc, a obra-prima do grupo francês: oito complexos movimentos corais a partir de textos do poeta comunista francês Paul Eluards que são o grito pessoal de protesto do compositor contra a ocupação nazista na França.
A Itália não foi o único reduto da música vocal no limiar do Barroco: a Inglaterra também manteve um alto nível em seus diversos esplendorosos corais de catedrais e na exclusiva Capela Real em Londres. O grande Thomas Tallis e seu pupilo William Byrd foram ambos membros da Capela Real, e Tallis serviu sob nada menos que quatro monarcas: Henrique VIII, Eduardo VI, Maria I e Elizabeth I. Enquanto a fama de Tallis reside em sua música coral de ingenuidade contrapuntística e grande destreza técnica, Byrd e seu pupilo Thomas Morley possuíam um alcance mais amplo, escrevendo refinadas séries de madrigais em estilo italiano. Esses, ao lado das canções usualmente melancólicas de John Dowland (“Semper Dowland, semper dolens“), representam o florescer supremo da música vocal elizabetana. Após a música vocal inglesa atingir seu pico barroco com as obras de Henry Purcell, o “sceptrd` Isle” teve que esperar até o século XX com o compositor Benjamin Britten para renovar a bela tradição coral do país com peças como seu Hino para Santa Cecília (1942).
As obras do pós-guerra incluídas nessa seleção não se prestam a serem rotuladas em nenhum escaninho nacional. Elegi, do compositor e professor sueco Lars Edlund, a intrincada Lux aeterna (1966) para 16 vozes de György Ligeti e Gyro de Niccolò Castiglione representam a vanguarda internacional no período posterior à Segunda Guerra Mundial, em que estilos individuais contavam mais que escolas locais.
Música coral virtuosa (cds 4 – 6) Música coral virtuosa: o título da lendária produção da Electrola lançada em 1978 não foi escolhido apenas para ressaltar a perfeição técnica de tirar o fôlego do Coro da Rádio de Estocolmo e de seu irmão, o Coro de Câmara de Estocolmo. O termo “virtuoso” também se aplica ao repertório gravado: as peças corais italianas do cd 4 são ampla evidência dos tesouros aguardando descoberta por alguém com ouvidos tão sensíveis como Eric Ericson.
A abertura aqui fica por conta de Claudio Monteverdi, cuja Sestina, de 1614, sobre a morte de uma soprano da corte de Mantua ergue o sarrafo no que se refere ao estilo vocal italiano e à riqueza harmônica. Como muitos compositores italianos do século XX, de Gian Francesco Malipiero a Luca Lombardi, Luigi Dallapiccola sentiu-se em dívida para com o novo e expressivo estilo vocal introduzido por Monteverdi. Os dois primeiros corais de seus Sei cori di Michelangelo il Giovane (1933-36) apresentam, em sagaz antítese, os coros das esposas infelizes (malmaritate) e o dos maridos infelizes (malammogliati). Mais heterogêneos em estilo são os três coros que Ildebrando Pizzetti dedicaram ao Papa Pio DII em 1943, para marcar seu 25º jubileu como sumo pontífice. O noturno no poema Cade la sera de D´Annunzio se desdobra em largos arcos que preenchem o espaço tonal, enquanto os textos bíblicos inspiram Pizzetti a um estilo mais arcaico e austero.
Lars Johan Werle, que chefiou por muitos anos o departamento de música de câmara da Rádio Sueca, apresentou um cartão de visitas em nome da música coral sueca contemporânea – que somente desenvolveu uma tradição autônoma sob a influência de Ericson e seus corais – com seus Prelúdios Náuticos de 1970. O compositor adorna a combinação do tratamento experimental das vozes com idéias precisas sobre articulação e a transformação do texto em música com expressões marítimas. Em contraste com este virtuoso estudo, Krzystof Penderecki escreveu seu Stabat Mater em 1962, no antigo estilo de música sacra funeral. O gênio altamente individual com que Penderecki procede da abertura com sinos em uníssono, atravessando uma intrincada polifonia tecida por três corais de 16 vozes, até o casto, luminoso acorde em puro ré maior do Gloria lhe renderam o status de um dos principais compositores jovens da Polônia na estreia de sua Paixão de São Lucas, em 1966, da qual o Stabat Mater faz parte.
Um dos focos das atividades dos dois corais, ao lado da música italiana de Gabrieli a Dallapiccola, sempre foi o repertório alemão a capella do Romantismo tardio, cujos antípodas característicos foram Max Reger e Richard Srauss. Enquanto Reger trabalhou para promover uma renovação da música litúrgica protestante no espírito de Bach, como fica evidente em seus Acht Gesänge (“Oito hinos”) de 1914, Strauss enxergava no coral de múltiplas vozes um equivalente vocal do grandioso entrelaçamento de seu estilo instrumental. Essa tendência da música coral de Strauss está documentada nessas duas peças, separadas por quase quatro décadas: sua adaptação para o poema Der Abend (“A noite”, de 1897), de Friedrich Schiller, e a caprichosamente ocasional Die Göttin im Putzzimmer (“A deusa no quarto de limpeza”), de 1935, com seus ecos da bucólica ópera Daphne, de Strauss.
Nessa jornada de descoberta ao longo da música coral europeia do século XX, é sobre as obras-primas francesas de Poulanc e Jolivet, e particularmente de Messiaen e Martin, que os dois corais de Estocolmo lançaram uma nova luz. O espectro expressivo dos ciclos apresentados aqui é inegavelmente impressionante. Enquanto em 1936 – muito após o Grupo dos Seis ter rompido – Poulenc voltou mais uma vez à poesia de Apollinaire e Eluard em suas Sept chansons, André Jolivet combinou textos sacros egípcios, indianos, chineses, hebreus e gregos em seu Epithalame, escrito em 1953 para celebrar seu vigésimo aniversário de casamento de uma forma mística. Naquele mesmo 1936, Olivier Messiaen, então com 28 anos, juntou-se a Jolivet e Daniel Lesur para criar o grupo Jeune France (“França jovem”), mas logo partiria novamente em seu idiossincrático caminho, alternando entre catolicismo, técnicas avant-garde e uma filosofia totalizante da natureza. Em termos de conteúdo, os Cinq Rechants de Messiaen, ligados entre si por refrões (rechants), representam um homólogo vocal de sua Sinfonia Turangalîla, que parte da história de Tristão e Isolda para criar uma mitologia de amor, natureza e morte. Frank Martin, nascido em Genebra, por sua vez, considerou sua Missa (1922-6) como algo “que diz respeito apenas a mim e Deus”. É música de pureza espiritual e arcaica, cuja estreia Martin autorizou apenas quarenta anos depois de sua composição.”
Obs.: para não deixar esse post ainda mais comprido, a lista completa de movimentos, intérpretes e afins está fotografada, dentro do arquivo de download.
*******
Five centuries of European choral music
Disco 1 Johannes Brahms (1833-1897) Fest. und Gedenksprüche, op. 109
Max Reger (1873-1916) O Tod, wie bitter bist du, op 110/3
Arnold Schönberg (1874-1951) Friede auf Erden, op. 13
Richard Strauss (1864-1949) Deutsche Motette, op. 62
Lars Edlund (1922-2013) Elegi
Béla Bartók (1881-1945) Vier slowakische Volkslieder
Disco 2 Béla Bartók (1881-1945) Ungarische Volkslieder
György Ligeti (1923-2006) Morgen Nacht Lux aeterna
Um disco extraordinário! Mas o canadense Kerson Leong não escapou das ironias do grupo do PQP Bach no WhatsApp. Disseram que Kerson, no Brasil, seria nome de borracheiro ou de centroavante brasileiro ruim, algo como Kersinho, com cabelo platinado e sobrancelhas de designer. Então, anos depois, surgiria uma versão genérica que não vingaria muito, o Kersinho Mineiro. Aqui no RS, tivemos o Joleno, atacante de lado. Perguntaram pra ele a origem do nome e ele respondeu que sua mãe gostava dos Bítus.
Mas o CD é sensacional. Não consigo imaginar um Concerto para Violino de que goste mais do que deste de Britten. Esse emparelhamento incomum com Bruch é uma reflexão sobre a jornada de um extremo de expressão a outro. O In Memoriam é a ponte perfeita entre eles. Após o jogo, Kersinho falou à imprensa na zona mista: “Foi uma grande vitória do nosso time. O Britten expressa uma experiência crua e exposta, enquanto o Bruch é reconfortante. Depois dos últimos anos em que o mundo passou por muitas dificuldades e incertezas devido à pandemia, guerra e crise, gravar este álbum em Londres em janeiro de 2022 com a Philharmonia Orchestra e Patrick Hahn foi um momento profundamente catártico. É com espírito de catarse que ofereço este álbum.”
(A primeira frase da declaração do atleta é uma intromissão deste que vos escreve).
B. Britten (1913-1976) & M. Bruch (1838-1920): Violin Concertos (Kersoden Leong / Philharmonia Orchestra / Patrick Hahn)
01. Britten: Violin Concerto in D Minor, Op. 15: I. Moderato con moto – Agitato – Tempo primo
02. Britten: Violin Concerto in D Minor, Op. 15: II. Vivace – Animando – Largamente – Cadenza
03. Britten: Violin Concerto in D Minor, Op. 15: III. Passacaglia – Andante lento (Un poco meno mosso)
04. Bruch: In Memoriam, Op. 65
05. Bruch: Violin Concerto No.1 in G Minor, Op. 26: I. Vorspiel. Allegro moderato
06. Bruch: Violin Concerto No.1 in G Minor, Op. 26: II. Adagio
07. Bruch: Violin Concerto No.1 in G Minor, Op. 26: III. Finale. Allegro energico
Kerson Leong, violino
Philharmonia Orchestra
Patrick Hahn
O húngaro Miklós Perényi é reconhecido como um dos grandes violoncelistas da sua geração, com um som distinto, matizado, acompanhado de uma musicalidade extraordinária. Aqui ele dá o seu primeiro recital a solo para a ECM, interpretando obras notáveis de Bach, Britten e Ligeti. O CD veio logo após sua brilhante atuação, ao lado de András Schiff, nas premiadas gravações da Música Completa para Piano e Violoncelo de Beethoven. Perényi interpreta a Terceira Suíte de Benjamin Britten para violoncelo solo, op. 97 (1971) e a Suite n.º 6 de Johann Sebastian Bach em ré maior, BWV 1012, tornando clara a sua interligação histórica e temática. Britten escreveu suas suítes para violoncelo para Mstislav Rostropovich, inspirado por ouvi-lo tocar as suítes de Bach. Rostropovich saudou todas as suítes de violoncelo de Britten como obras-primas, mas destacou a Terceira (escrita em 1971) para um elogio especial: “puro gênio”, em suas palavras. Na obra, Britten cita fragmentos de melodias de canções folclóricas russas que emergem plenamente no movimento final. Neste disco, a última suíte para violoncelo de Bach segue a de Britten, e o Bach de Perényi dança com elegância e energia. O álbum termina com um retorno à Hungria e à Sonata para violoncelo solo de Gyorgy Ligeti de 1948-1953. Ligeti lançou a peça para publicação apenas em 1979, então ela figura na cronologia antes e depois de Britten. Trata-se de uma obra poderosa e sincera de um compositor que estudou violoncelo.
Britten, Bach, Ligeti: Peças para Violocelo Solo (Perényi)
Benjamin Britten: Third Suite op. 87 (1971)
01 Introduzione. Lento 2:15
02 Marcia. Allegro 1:34
03 Canto. Con moto 1:08
04 Barcarola. Lento 1:12
05 Dialogo. Allegretto 1:09
06 Fuga. Andante espressivo 2:32
07 Recitativo. Fantastico 1:09
08 Moto perpetuo. Presto 0:51
09 Passacaglia. Lento solenne 8:33
Johann Sebastian Bach: Suite VI D-Dur BWV 1012
10 Prélude 5:31
11 Allemande 6:34
12 Courante 3:50
13 Sarabande 5:42
14 Gavotte I – II 4:32
15 Gigue 3:46
György Ligeti: Sonata (1948/53)
16 Dialogo. Adagio, rubato, cantabile 3:59
17 Capriccio. Presto con slancio 3:35
Quando nasci veio um anjo safado, o chato dum querubim, e decretou que eu tava predestinado, a ser errado assim… Pois é, nesta quadra da minha vida, prefiro ouvir o Concerto de Britten ao de Beethoven — que já ouvi centenas de vezes. (Calma, não estou fazendo juízo de valor, tá?). Para piorar, dizem meus ouvidos que Janine Jansen gosta mais de tocar o inglês. Mas apenas uma impressão. Aliás, ela é uma supercraque. Tem a rara habilidade de comunicar enquanto nos engana… Pois parece tocar de maneira apenas correta, mas as pequenas variações de cor e ênfase transmitem uma sensação de intensa vida interior que vai nos envolvendo. Não sei se me expliquei bem. Seu Beethoven é convincente e, no Britten, ela trata de mostrar o lado mais interessante e desconfortável do trabalho. Os ritmos irregulares e os contrastes do Vivace central são claramente delineados e, na Passacaglia, Jansen constrói um grau doloroso de intensidade e desespero. Fui completamente conquistado pelo Britten da moça. Apaixonantemente intenso no movimento de abertura, adequadamente malévolo em todo o Scherzo inspirado em Prokofiev e dolorosamente comovente nos compassos finais da Passacaglia. Sua interpretação é notável no Beethoven — bem dentro da tradição romântica — e ela se mostra uma defensora apaixonada do trabalho ainda negligenciado de Britten. A regência e a colaboração de Paavo Järvi não pode ser esquecida. Confiram!
Logo após ouvir este CD pela terceira vez, comentei por aí:
Janine Jansen não é somente uma violinista genial como montou um excelente repertório alternativo no qual se tornou especialista. Assim, como ela tomou conta de divulgar o excelente e desconhecido Quinteto para Piano e Cordas de Bartók, ela leva no bolso uma interpretação sensacional do Concerto para Violino de Benjamin Britten, Op. 15. São duas obras pouco divulgadas e muitíssimos boas, onde a holandesa acaba reinando. Tudo fora do mainstream. É claro que ela também toca os Concertões mais famosos (Beethoven, Brahms, Tchaikovsky, etc.), mas é bonito ver Jansen insistindo com obras diferentes e ótimas. Isso abre horizontes para nós. Eu? Um ano depois de ouvir intensivamente o Quinteto de Bartók, estou em loop no Concerto de Britten. No YouTube e em CD, não consigo parar de ouvir e ver.
(E ninguém me tira da cabeça que Shostakovich não deu uma boa olhada neste concerto de Britten de 1939 antes de compor seu Op. 77, de 1947. Não teve cópia nenhuma, mas há coincidências e ambos os concertos têm passacaglias…Anos depois, eles se tornariam grandes amigos).
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concerto para Violino, Op. 61 / Benjamin Britten (1913-1976): Concerto para Violino, Op. 15 (Jansen / Järvi)
Violin Concerto In D Major, Op. 61 • Ré Majeur • D-Dur
Cadenza [Cadenzas] – Fritz Kreisler
Composed By – Ludwig van Beethoven
Violin – Janine Jansen
Orchestra – Die Deutsche Kammerphilharmonie Bremen*
Conductor – Paavo Järvi
CD-1 I Allegro Ma Non Troppo 22:56
CD-2 II Larghetto — 8:20
CD-3 III Rondo: Allegro 9:25
Violin Concerto, Op. 15
Composed By – Benjamin Britten
Violin – Janine Jansen
Orchestra – London Symphony Orchestra*
Conductor – Paavo Järvi
CD-4 I Moderato Con Moto 9:31
CD-5 II Vivace — Cadenza — 8:35
CD-6 III Passacaglia: Andante Lento 14:29
Atentem para a data da postagem original. É de 2011.
O maestro Yan Pascal Tortelier tem um currículo respeitável. Não havia escutado nada ainda sob a sua condução. Sou sabedor de que, após os problemas com John Neschling, em 2009, Tortelier foi contratado para ser o regente titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Tortelier é francês de nascimento. Mas já teve a oportunidade de conduzir importantes orquestras como a de Londres, São Francisco, Montréal, Paris e São Petersburgo. Vale ressaltar que o seu principal protagonismo foi à frente da orquestra da BBC de Londres. Seu trabalho na BBC lhe rendeu uma láurea (inclusive, as peças regidas neste post estão a cargo da sinfônica inglesa). A primeira impressão foi positiva. As três peças (broadcastings) que surgem nesta postagem, deixaram-me feliz. Conhecia somente o concerto para violino de Britten, compositor que se sempre provoca admiração e surpresa quando o escuto. A suíte de Bridge também provocou uma impressão de contentamento. Fato importante é que Frank Bridge foi professor de Britten, o maior compositor inglês de todos os tempos (em minha humilde opinião). Lutoslawski, por sua vez, com sua linguagem áspera, continua a ser um desafio. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!
Frank Bridge (1879-1941) – The Sea-Suite For Orchestra
01. 1. Seascape (Allegro ben moderato)
02. 2. Sea-foam (Allegro vivo)
03. 3. Moonlight (Adagio ma non troppo)
04. 4. Storm (Allegro energico)
Benjamin Britten (1913-1976) – Violin concerto, op. 15
05. I. Moderato Con Moto-
06. II. Vivace-Cadenza-
07. III. Passacaglia Andante Lento (Un Poco Meno Mosso)
Dabiel Hope, violin
Witold Lutoslawski (1913-1994) – Concerto for Orchestra
08. I. Intrada: Allegro maestoso
09. II. Capriccio notturno e arioso: Vivace
10. III. Passacaglia, toccata e corale: Andante con moto
Achei um bom disco. Só. Sem entusiasmo. Engraçado que a excelente Chandos dá maior destaque à Cello Symphony — peça que avalio como bem chatinha, ainda mais se comparada com os Four Sea Interludes —, do que às duas restantes. Cello Symphony é uma música forte e áspera, às vezes impossível de separar da personalidade do violoncelista para quem foi escrita, Mstislav Rostropovich, embora a abordagem de Watkins seja mais introspectiva do que a do grande russo. Os Sea Interludes de Peter Grimes são tocados com grande sutileza orquestral, e a suíte menos ouvida de Gloriana consegue um equilíbrio perfeito entre o próprio mundo musical de Britten e o elizabetano que evoca. O trabalho de Gardner e da BBC Philharmonic é sensacional, quem não ajuda é Britten. Há grande equilíbrio orquestral e clareza de cada seção da orquestra. Um trabalho notável sobre músicas mais ou menos.
Benjamin Britten (1913-1976): Symphonic Suite From ‘Gloriana’ / Cello Symphony / Four Sea Interludes From ‘Peter Grimes’ (Gardner)
Symphonic Suite From ‘Gloriana’, Op. 53a 25:19
1 I. The Tournament. Very Lively – Slowly 4:11
2 II. The Lute Song. Very Freely 4:24
3 III. The Courtly Dances. March – Coranto – Pavane – 9:26
4 IV. Gloriana Moritura. Quick – Very Slow 7:17
Symphony For Cello And Orchestra, Op. 68 34:48
5 I. Allegro Maestoso 12:31
6 II. Presto Inquieto 3:49
7 III. Adagio – Cadenza Ad Lib 10:42
8 IV. Passacaglia. Andante Allegro 7:26
Four Sea Interludes From ‘Peter Grimes’, Op. 33a 16:05
9 I. Dawn. Lento E Tranquillo 3:29
10 II. Sunday Morning. Allegro Spiritoso 3:36
11 III. Moonlight. Andante Comodo E Rubato 4:24
12 IV. Storm. Presto Con Fuoco 4:35
Cello – Paul Watkins (3) (tracks: 5 to 8)
Conductor – Edward Gardner
Orchestra – BBC Philharmonic
Tenor Vocals – Robert Murray (6) (tracks: 1 to 4)
Sir Thomas Sean Connery deixou-nos no finalzinho do mês passado, e, tão logo soube da má notícia, lembrei de trazer-lhes este pequenino disco.
A comoção das legiões de fãs com sua morte foi tão grande quanto o reaceso rechaço à sua inaceitável e tantas vezes reiterada opinião quanto a bater em mulheres – opinião que, claro, eu não corroboro e que vigorosamente condeno. Enquanto aproveito para recondená-la, e por vivermos tempos em que nenhum óbvio é mais ululante, esclareço que não pretendo aqui tecer loas ao espancador de mulheres, e sim celebrar o legado artístico do ator icônico, dono duma voz inconfundível e de distinto sotaque que, algumas vezes, soltou no cinema:
E é com a voz que Connery aparece nesta nossa homenagem, acompanhado por Antál Dorati e a Royal Philarmonic, em duas figurinhas fáceis do repertório para narrador e orquestra: “Pedro e o Lobo”, de Prokofiev, numa versão em inglês atenuada das cores soviéticas do original (no primeiro esboço, Pedro era um jovem pioneiro de Lênin), e no “Guia dos Jovens para Orquestra”, de Britten, uma adaptação duma obra em variações sobre um tema da música de cena de Purcell para a peça “Abdelazer”, de Aphra Behn. Dorati, um verdadeiro monstro de eficiência, sai-se bem como sempre (e em especial na música para “Tenente Kijé”, também inclusa no disco), e a voz de Connery é tão clássica que não tenho como lhe fazer críticas, e mesmo a forma hilária com que ele pronuncia a palavra “brass” para se referir aos metais inunda a narração de charme.
Pedro e o Lobo (Petya i volk), Conto de Fadas Sinfônico para Crianças, Op. 67
1 – This is the story of Peter and the Wolf
2 – It was early morning
3 – Grandfather led him back to the house
4 – Now this is how things stood
5 – And now, the victory parade
Sean Connery, narrador Royal Philarmonic Orchestra Antal Doráti, regência
Suíte “Tenente Kijé” (Poruchik Kizhe), da trilha sonora do filme de Aleksandr Faintsimmer, Op. 60
6 – O nascimento de Kijé
7 – Romance
8 – Casamento de Kijé
9 – Troika
10 – O funeral de Kijé
Royal Philarmonic Orchestra Antal Doráti, regência
Edward Benjamin BRITTEN (1913-1976)
Variações e fuga sobre um tema de Purcell, para orquestra, Op. 34 (The Young Person’s Guide To The Orchestra), Op. 34
11 – Introduction
12 – Let us hear each instrument play a variation
13 – The highest instruments in the string family
14 – We now come to the brass family
15 – The percussion family
16 – You have heard the whole orchestra in sections
Sean Connery, narrador Royal Philarmonic Orchestra Antal Doráti, regência
Quando aqueles dedos da mão direita começaram a curvar-se teimosamente, Leon Fleisher, então com trinta e poucos anos e a requisitada agenda cheia para talvez mais trinta, não imaginava que eles lhe davam os primeiros sinais de um então inominado problema que, eventualmente, o faria perder completamente o controle dos movimentos da mão direita.
Após submeter-se sem sucesso a diversos tratamentos experimentais – muitos deles com o grande pianista e tremendo amigo Gary Graffman, sobre cuja mão direita também recaiu a mesma desgraça -, Fleisher não se deu por vencido e, sem abandonar a busca por uma cura, passou a explorar o repertório escrito para a mão esquerda dos pianistas, gravando-o e levando-o em turnês pelo planeta.
O compositor William Bolcom homenageou Graffman e Fleisher, amigos e companheiros de infortúnio, compondo um concerto para dois pianos tocados com a mão esquerda, cuja estreia mundial corresponde à gravação do vídeo acima
A maior parte desse significativo repertório deve-se a um só homem: o pianista vienense Paul Wittgenstein, que perdera o braço direito em combate na Primeira Guerra Mundial e, admiravelmente, retomou sua carreira artística após o armistício. Obstinado e, não menos importante, muito endinheirado, fez três ciclos de encomendas a compositores renomados para que lhe criassem obras executáveis somente com a mão esquerda. O primeiro ciclo, nos anos 20, viu surgirem obras de Erich Wolfgang Korngold, Richard Strauss, Bohuslav Martinů e Franz Schmidt. O segundo, nos anos 30, incluiu Maurice Ravel e Sergei Prokofiev. Por fim, entre 1940-45, depois de fugir do Nazismo e radicar-se nos Estados Unidos, Wittgenstein solicitou obras aos ingleses Benjamin Britten e Norman Demuth.
O pianista pagava bem e exigia muito, de modo que as estreias das obras e os direitos de longa data sobre sua execução ficavam, contratualmente, sob sua responsabilidade. Ademais, contrariando o “pagando bem, que mal tem?” com que certamente aquela grana toda sorria naqueles bicudos tempos de guerra na Europa, os compositores não ganharam muitos mimos de Wittgenstein. O concerto de Prokofiev – que ouvirão a seguir – foi devolvido com um agradecimento e a ressalva de que o dedicatário não entendera “uma só nota dele” e que, enquanto a iluminação não viesse, ele não o tocaria. O concertino de Martinů foi também devolvido, o que foi sorte melhor que a Klaviermusik de Paul Hindemith, que Wittgenstein estudou e, sem entender tchongas, escondeu tão bem entre seus papeis que a peça só foi encontrada depois da morte de sua esposa, em 2001. Três anos depois de redescoberta, e oitenta anos após sua composição, a Klaviermusik foi pela primeira vez ouvida em público, estreada por nosso homenageado, Leon Fleisher, em 2004.
Entre toda a, chamemo-la assim, “Wittgensteiniana” para a mão esquerda, o concerto de Ravel é certamente a obra mais célebre. Concebido em um só movimento com seções contrastantes, e iniciando com um sensacional solo de contrafagote, ele distingue-se pela intrincada escritura pianística que emula, com muito sucesso, a impressão dum pianista a tocar com dez dedos. Consta que, ao ouvi-lo tocado pelo dedicatário, Ravel enfureceu-se com alterações arbitrárias que este fizera na orquestração e, pior ainda, com vários cortes, e nunca mais falou com Wittgenstein. Este, pelo jeito um homem de poucas papas na língua, também levou uma carga de azia para o normalmente pacífico Benjamin Britten, que não levou tanta fé em suas “Diversions” quanto deveria e, talvez contaminado pela pentelhância do pianista, acabou por não promover sua obra mesmo depois da morte do encomendante. É uma pena, porque é uma composição muito bem trabalhada que, assim como o concerto de Prokofiev, não busca imitar o efeito de duas mãos a tocarem, e sim explorar o teclado como um novo meio.
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937)
Concerto para piano e orquestra em Ré maior, para a mão esquerda
1 – Lento – Andante – Allegro – Tempo 1˚
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Concerto para piano e orquestra no. 4 em Si bemol maior, Op. 53, para a mão esquerda
2 – Vivace
3 – Andante
4 – Moderato
5 – Vivace
Benjamin BRITTEN (1913-1976)
Diversions, para piano (mão esquerda) e orquestra, Op. 21
6 – Theme. Maestoso
7 – Var. 1: Recitative. L’Istesso Tempo
8 – Var. 2: Romance. Allegretto mosso
9 – Var. 3: March. Allegro con Brio
10 – Var. 4: Arabesque. Allegretto
11 – Var. 5: Chant. Andante solennemente
12 – Var. 6: Nocturne. Andante piacevole
13 – Var. 7: Badinerie. Grave
14 – Var. 8: Burlesque. Molto moderato
15 – Var. 9a: Toccata I. Allegro
16 – Var. 9b: Toccata II. L’Istesso tempo
17 – Var. 10: Adagio
18 – Finale – Tarantella. Presto Con Fuoco
Leon Fleisher, piano Boston Symphony Orchestra Seiji Ozawa, regência
Além da notável carreira concertística com obras para a mão esquerda, Leon Fleisher distinguiu-se como pedagogo. Era muito querido por sua postura amável, que buscava contribuir com o aperfeiçoamento de seus estudantes sem moldar-lhes o estilo a seu próprio. Sugiro fortemente àqueles que entendem inglês que acompanhem esta masterclass em que a extraordinária Yuja Wang – então com 17 anos e aluna de Gary Graffman, grande amigo de Fleisher – desenvolve sua interpretação duma das mais sublimes sonatas de Schubert através de gentis contribuições do mestre.
O concerto de Walton foi encomendado pelo violoncelista russo Gregor Piatigorsky, cuja reputação como intérprete foi tal que a ele foram dedicadas obras de ninguém menos do que Stravinsky, Prokofiev e Hindemith. Embora o concerto não tenha sido muito bem recebido pelos críticos após a sua primeira apresentação, é o resultado da singular sensibilidade estética de Walton — um romantismo antiquado no período do pós-guerra. O desempenho de Wispelwey desloca-se sem esforço através das fortes passagens rítmicas e dos momentos de serenidade exigidos pela composição. O CD também inclui três composições para violoncelo solo: a Suíte Nº 1 de Bloch, a Sonata de Ligeti para violoncelo solo e a Passacaglia de Walton. A função se encerra com a Ciaccona de Britten, que deixa claro porque Wispelwey é considerado um dos principais intérpretes de Britten.
Walton / Bloch / Ligeti / Britten: Works for Cello
WALTON Cello Concerto
1 I Moderato 8.59
2 II Allegro appassionato 6.38
3 III Tema ed improvvisazioni 15.29
Sydney Symphony
Jeffrey Tate
Pieter Wispelwey toca um cello de 1760 de Giovanni Battista Guadagnini
BLOCH Suite no.1 for solo cello
4 Prelude 3.31
5 Allegro 2.27
6 Canzona 3.43
7 Allegro 2.21
LIGETI Sonata for solo cello
8 I Dialogo. Adagio, rubato, cantabile 4.30
9 II Capriccio. Presto con slancio 3.47
10 WALTON 10 Passacaglia for solo cello 6.59
11 BRITTEN Ciaconna from Cello Suite no.2 7.02
Cello 1698 Antonio Stradivarius ‘Magg’
Um belo CD de Bernstein com a Filarmônica de Nova Iorque. O maestro teve longa e prolífica relação com a orquestra. E Britten é um dos melhores compositores do século XX. Porém, curiosamente, Leonard Bernstein praticamente ignorou a obra de Benjamin Britten e vice-versa. Isto é muito ruim porque os fragmentos dos raros encontros entre eles são simplesmente brilhantes. O desempenho de Bernstein na Suíte é sensacional. O mesmo vale para os excertos de Peter Grimes e para as Variações. Mas uma das maiores obras do século XX, em minha opinião, é a Passacaglia, que mora no meu coração. Aqui, ela está LINDA. Um disco para se ouvir com muita atenção.
Benjamin Britten (1913-1976): Variations & Fugue / Peter Grimes (excertos com a Passacaglia) / Suite on English Folk Themes
Variations And Fugue On A Theme Of Purcell, Op. 34 “The Young Person’s Guide To The Orchestra” (Without Spoken Text)
1 Theme. Allegro Maestoso E Largamente 3:00
2 Variations A. Presto / B. Lento / C. Moderato / D. Allegro Alla Marcia 3:12
3 Variations E. Brillante – Alla Polacca / F. Meno Mosso / G. (No Tempo Marking) / H. Cominciando Lento Ma Poco A Poco Accelerando 3:29
4 Variations I. Maestoso / J. L’Istesso Tempo / K. Vivace / L. Allegro Pomposo / M. Moderato 5:03
5 Fugue. Allegro Molto 2:39
Four Sea Interludes, Op. 33a from “Peter Grimes”
6 I. Dawn. Lento E Tranquillo 3:38
7 II. Sunday Morning. Allegro Spiritoso 3:45
8 III. Moonlight. Andante Comodo E Rubato 5:07
9 IV. Storm. Presto Con Fuoco – Molto Animato – Largamente – Tempo I 4:16
Suite On English Folk Tunes “A Time There Was…:, Op. 90
11 I. “Cakes And Ale”. Fast And Rough 2:24
12 II. “The Bitter Withy”. Allegretto 2:48
13 III. “Hankin Booby”. Heavily 2:19
14 IV. “Hunt The Squirrel”. Fast And Gay 1:20
15 V. “Lord Melbourne”. Slow And Languid
A Sinfonia No. 4 em dó menor de Shostakovich foi feita em 1936, momento auge dos Grandes Expurgos ocorridos de 1934 a 1939, durante os chamados Processos de Moscou. Depois da consolidação do poder nazista em 1933, a Alemanha começara o desenvolvimento de sua indústria de guerra, preparando-se para a futura guerra contra a União Soviética, sua maior inimiga. Diante desse perigo externo, ainda havia o “perigo interno”, o crescimento da oposição de esquerda ao stalinismo por parte dos bolchevique-leninistas (trotskistas) na União Soviética. Muito da agitação dos opositores de esquerda ao stalinismo dessa época vêm do fôlego proporcionado pela Revolução Espanhola que se inicia em 1936, e também pela continuidade da Revolução Chinesa no sucesso da Longa Marcha, além do próprio perigo do nazismo que crescia. Diante disso, Stálin foi obrigado a tomar duas medidas: prender, executar e perseguir todos os perigos em potencial dentro e fora da União Soviética, inclusive executando todos os dirigentes do Partido Comunista e boa parte de seus militantes (executando também militantes revolucionários anarquistas e bolchevique-leninistas na Espanha), e, por outro lado, buscar um acordo com a Alemanha na fé de que a diplomacia impediria o ataque iminente (que foi firmado em 1939 no Pacto de Ribbentrop-Molotov).
No meio dessa conturbada conjuntura, Shostakovich, bebendo ainda dos ventos criativos da década anterior, estudava Mahler, e lançara sua ópera Lady Macbeth de Mtsensk, baseada na novela homônima de Leskov, fazendo imenso sucesso no mundo inteiro.
E foi através do jornal Pravda que Shostakovich, no meio de toda essa turbulência, ficou sabendo que sua ópera Lady Macbeth era atacada como “barulho ao invés de música”. Sua quarta sinfonia buscava dar um fôlego criativo para fora dos limites das duas sinfonias anteriores que se detinham sob a estética do realismo socialista. Além disso, a quarta sinfonia é quase uma apresentação do resultado de seus estudos sobre Mahler. Shosta termina a obra, mas impede a estreia que estaria marcada para dezembro de 1936.
ESCUTANDO A 4ª SINFONIA
Essa obra não se assemelha às sinfonias de Mahler apenas por todo o cromatismo tonal, mas também pelo tamanho da orquestra: 125 músicos. A duração também: por volta de 60 minutos.
Primeiro Movimento (Allegretto poco moderato – Presto)
o tema A se desenvolve por um longo tempo, numa tensão tão infinita que até Mahler ficaria espantado; ao fim, no que parece que será o clímax do início do movimento, temos uma quebra pela percussão, que inicia aos poucos, juntos a um solo de viola um novo tema, um tema B, até que é substituído pelo fagote que canta o tema A junto ao ritmo percussivo dos pizzicatos. Acaba inconclusivo, agudo e grave ao mesmo tempo, como se uma contradição imanente à música apenas se retirasse de cena, para cedo ou tarde, retornar…
Segundo Movimento (Moderato con moto)
Shostakovich aqui demonstra sua capacidade de fazer nascer de uma grande tensão algo libertador, como se a própria tensão estivesse prenhe de sua resolução. Apesar do começo com um tema dançante e lamentoso, já ao meio do movimento, após aparecimento aqui e ali de motivos do tema A do primeiro movimento, a futura resolução no terceiro movimento surge grandiosa, mas rapidamente desaparece; quase como se fosse um ensaio geral do que estaria por vir.
Após variações nas cordas, as flautas surgem repetindo o tema A deste movimento, que é interrompido brevemente pelas cordas, mas o tema retorna, variando, em meio aos metais que surgem com o tema B deste movimento. A harmonia vez ou outra beira outros tons, assim como fazia Mahler. Novamente, entre variações do tema A, o tema B surge nos metais, enquanto nas flautas se mantêm o tema A. É quase como uma briga entre metais e madeiras que sofre uma dura intervenção nas cordas do ritmo compassado do motivo do tema que finalizará a sinfonia no terceiro movimento. Os tímpanos também intervém, e tudo volta à “normalidade”. Isso ocorre ao final dos três minutos. Em seguida, o tema A retorna nas cordas em sua forma original, como uma dança lamentosa. Varia por um longo tempo nos violinos e violas, repete-se nos cellos, e se interrompem. As flautas entram em cena com o tema, variando-o a beira da dissonância, criando uma harmonia quase que “alienígena”, que vai ficando extremamente tensa até que os metais surjam novamente com o tema B, ao que acompanham as flautas. As cordas fazem o “baixo-contínuo”, e toda orquestra agora está engolfada por este tema. Um fagote solista faz a transição para o final do movimento, que termina com uma percussão que beira os dois temas sem se definir.
Terceiro Movimento (Largo – Allegro)
O terceiro movimento inicia com uma melodia grave surgindo nas madeiras e outro mais agudo surge no oboé e se repete nas flautas. Essa melodia, uma marcha fúnebre, tem uma gravidade semelhante à que tem o terceiro movimento da 1ª Sinfonia de Mahler, parecendo um tema folclórico. Os contrabaixos repetem-se no fundo como um coração batendo, enquanto as cordas leve e lentamente repetem o motivo deste movimento final; os sopros respondem; metais reclamam um tom grave e uma percussão delicada toca levemente. Lá, nos fundos, algum metal repete lentamente o motivo deste tema final. A delicada percussão do xilofone (ou vibrafone?) se mantém até o fim da sinfonia, com o grave dos contrabaixos constante, batendo como um coração, provavelmente inspirado no final da Patética de Tchaikovsky, encerrando a sinfonia num sombrio desfecho.
O INTERPRETE
A interpretação de Rattle é tipicamente inglesa: bem definida e comportada, dando ênfase nas danças, tornando as fanfarras dos metais quase em “valsas”. Falta algo da visceralidade misturada com a rigidez teuto-eslava dos russos, como se pode ouvir na interpretação de Kondrashin. O ponto forte de Rattle é a melodiosidade: sua rigorosidade inglesa ajuda a manter as melodias principais da sinfonia bem definidas, tornando-as empolgantes. Além disso, como todo bom inglês, sabe lidar bem com os metais.
FUNERAL RUSSO
A prova de que os ingleses são bons com os metais está na obra seguinte, o “Funeral Russo”, de Britten. Apesar de ser sua única obra com este arranjo, ele se sai muito bem. Pega a famosa canção “Tu caíste, como vítima, na luta!”, e a transforma numa quase-fanfarra de metais e percussão.
Essa canção, muito conhecida na Rússia, foi escrita em 1878. Foi cantada principalmente na Revolução de 1905, após o massacre do Domingo Sangrento realizado pelo Czar, e foi novamente recuperada em 1917, na marcha de março feita em Petrogrado em homenagem às vítimas da Revolução de Fevereiro. Graças às revoluções de 1917, ela se tornou mundialmente famosa, sendo cantada mesmo durante os protestos no ano de 1968 pela Europa. O próprio Shostakovich coloca essa canção no terceiro movimento (o Adagio) de sua 11ª Sinfonia. Foi muito utilizada também em filmes, como no “Encouraçado Potemkin” de Eisenstein, e também no filme soviético de 1935 “A Juventude de Maxim”.
Vejam esta bela cena do filme com a letra da música em português:
É interessante o que Britten faz com a obra: intercala a canção com uma fanfarra militar, quase que burlesca, que não tem muito a ver com a Rússia, nem com a canção. Mas tem muito a ver com Mahler e com o próprio Shostakovich (ambos utilizavam marchas militares de forma séria e também como paródia em suas sinfonias), e também com o momento em que Britten escrevia a obra, 1936: ascensão do fascismo na Alemanha e na Itália, Revolução na Espanha e na China, Processos de Moscou na URSS, etc.
Em síntese, ambas as obras conseguem sintetizar o espírito da primeira parte do século XX: fúria, terror, suspense, pesar, esperança. São obras sublimes, e o álbum é muito inteligente ao juntar as duas.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Symphony No. 4 in C minor op. 43; Benjamin Britten (1913-1976): Russian Funeral
Dmitri Shostakovich (1906-1975):
Symphony No. 4 in C minor opus 43
01 I. Allegretto poco moderato-Presto-(Tempo I)
02 II. Moderato con moto
03 III. Largo-Allegro
Benjamin Britten (1913-1976):
Russian Funeral
04 Russian Funeral (for brass and percussion) – Andante alla marcia – Un pochissimo animando – Tempo primo piu maestoso
City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle, conductor
Elgar é Elgar, quem não conhece suas fortes e melodiosas marchas que grudam na cabeça da gente? An Orkney Wedding, With Sunrise, de Davies, é uma música convencional, até chatinha, mas o final com gaita de foles é muito bonito. Three Screaming Popes, de Turnage, é muito legal, modernoso e bom. A Brittania de MacMillan tem muito humor. E Britten é o melhor compositor inglês desde Purcell. O saldo do disco é bastante positivo. A orquestra de Atlanta é uma amiga batuta.
Elgar / Davies / Turnage / MacMillan / Britten: Britannia
1 – Sir Edward Elgar “Pomp And Circumstance” March No. 4 4:33
2 – Sir Peter Maxwell Davies* An Orkney Wedding, With Sunrise 13:15
3 – Mark-Anthony Turnage Three Screaming Popes 15:54
4 – James MacMillan Britannia 12:30
–Benjamin Britten Sinfonia Da Requiem
5 – Lacrymosa 8:09
6 – Dies Irae 4:58
7 – Requiem Aeternam 6:05
8 – Sir Edward Elgar “Pomp And Circumstance” March No. 1 5:40
“Britten foi o maior compositor inglês depois de Purcell”, essa frase ouvida inúmeras vezes, é bastante justa. Não quero dizer com isso que estou desmerecendo os inúmeros compositores ingleses do século XX, mas a audição de Elgar, Vaugham Williams, Tippet, Bax… considerados gênios pelos ingleses, requer uma boa vontade por parte do ouvinte, e em certos momentos, é bem verdade que somos recompensados por isso (por exemplo: pedaços da sinfonia n.1 e o concerto para violino de Elgar, a sinfonia n.4 de Willians,…). Com Britten, não precisamos ser complacentes. Talentosíssimo compositor de óperas, entre as melhores produzidas na segunda metade do século XX, Britten não fez parte do “progresso” na música, aliás, detestava Schoenberg e Cia. Adorava Shostakovich, com quem nutriu uma amizade duradoura. Fez inúmeras visitas ao amigo na Rússia. E assim como o russo, resolveu explorar as possibilidades no mundo tonal. Mas tolice dizer, que por esse motivo, a originalidade lhe faltava. Bastam duas notas e já sabemos que foi escrito por Britten. Não canso de recomendar o compositor inglês para aqueles ouvintes pouco adaptáveis as manobras do modernismo. E o primeiro disco que recomendo é este que agora vos trago. Apesar de não ser perfeito nas interpretações, ele traz um pequeno retrato do mundo de Britten.
No primeiro disco encontramos Four Sea Interludes, que são as principais passagens orquestrais da sua mais importante ópera Peter Grimes (para quem deseja ouvir toda peça, recomendo o registro com Vickers e Colin Davis da Philips). Música tão envolvente que sentimos o cheiro da maresia. A suíte de sua ópera Death in Veneza (a última ópera do compositor) é uma peça difícil para o iniciante em Britten. No segundo disco só encontramos pérolas inestimáveis desse grande compositor. Variations on a Theme by Frank Bridge é um dos orgulhos da Inglaterra, assim como a Simple Symphony, que é um clássico inquestionável (a versão para quarteto de cordas é minha preferida).
Benjamin Britten (1913 – 1976): Orchestral Works
Disco 1:
1 – 4. Sea Interludes (4) from Peter Grimes, for orchestra, Op. 33a
5. Passacaglia, for orchestra, Op. 33b (from “Peter Grimes”)
6. Young Apollo, for piano, string quartet & strings, Op. 16 (withdrawn by composer)
7. Death in Venice, opera, Op. 88 Suite
Disco 2:
1 – 11.Variations on a Theme by Frank Bridge, for strings, Op. 10
12 – 22. Lachrymae, reflections on a song of Dowland, for viola & string orchestra, Op. 48a
23 – 26. Simple Symphony, for string orchestra, Op. 4
Performed by I Musici de Montreal
Conducted by Yuli Turovsky
Benjamin Britten foi autenticamente um grande compositor num país que ama a música, mas que estava agarrado no pincel desde Purcell e a presença de Handel. No entremeio, houve equívocos com Elgar e outros menos votados.
Britten era um compositor muito especial. De refinada cultura e bom gosto literário, Britten, coisa inédita, PREOCUPAVA-SE QUE SUAS ÓPERAS TIVESSEM BONS TEXTOS. E obtinha isto de seus colaboradores. Foi companheiro de toda vida do tenor Peter Pears, para quem escreveu suas maiores obras, como Serenade for Tenor, Horn and Strings, os Cânticos, às óperas Peter Grimes e Albert Herring (papéis título), The Beggar’s Opera (Macheath), Owen Wingrave (Sir Philip Wingrave), Billy Budd (Captain Vere), The Turn of the Screw (Quint), Death in Venice (Aschenbach) e as três Church Parables.
Em 1962, ao final da reconstrução da Catedral de Coventry, Britten foi encarregado de escrever a música para a consagração do novo templo, surgindo assim o War Requiem, que seria interpretado por Peter Pears (sempre ele), o alemão Dietrich Fischer-Dieskau e a russa Galina Vichnevskaia — cuja participação seria negada pela União Soviética. Esta gravação, com a presença de Galina, mulher de Rostropovich, já foi postada aqui no PQP, mas… vá saber onde enfiei! Era também a época em que Britten começara a visitar a URSS frequentemente, quer na qualidade de intérprete, quer na de regente. Nestes anos, escreveu muitas peças para violoncelo, onde se inclui a Sinfonia para Violoncelo e Orquestra e a Suíte para Violoncelo Solo. O motivo? Era amicíssimo de Rostropovich, a quem dedicou várias obras e gravou alguns discos. Também conhecia Shostakovich, a quem sempre visitava na URSS.
Benjamin Britten (1913-1976): War Requiem
1. Requiem aeternam 9:23
2. Dies irae 27:47
3. Offertorium 9:51
4. Sanctus 11:04
5. Agnus Dei 3:09
6. Libera me 23:07
George McPhee; Thomas Randle; Lynda Russell; Michael Volle
Scottish Festival Chorus; St. Mary’s Episcopal Cathedral Choristers, Edinburgh
BBC Scottish Symphony Orchestra
Martyn Brabbins
Um notável disco do professor, compositor e celista húngaro Miklós Perényi. Como eu disse um dia, um violoncelo solitário é a porta de entrada para a alma de vários compositores. E, à medida que mais violoncelistas gravam álbuns solo, parece haver uma demanda crescente por um repertório maior além do punhado de peças que geralmente são interpretadas. Compositores, mexam-se! Há demanda! Para este disco de 2012, Miklós Perényi escolheu três obras que demonstram não apenas combinarem perfeitamente entre si, mas a necessidade de mais peças. As obras de Bach e de Ligeti são conhecidas obra-primas, a de Britten é uma grata surpresa. Que música, meus amigos! Perény é claramente um mestre e ele toca os três trabalhos com compromisso, conhecimento e vitalidade.
Benjamin Britten — Third Suite for Cello, Op. 87
1 Introduzione: Lento 2:16
2 Marcia: Allegro 1:34
3 Canto: Con moto 1:09
4 Barcarola: Lento 1:13
5 Dialogo: Allegretto 1:10
6 Fuga: Andante espressivo 2:32
7 Recitativo: Fantastico 1:09
8 Moto perpetuo: Presto 0:51
9 Passacaglia: Lento solenne 8:33
Johann Sebastian Bach — Suite for Cello Solo No. 6 in D, BWV 1012
10 Prélude 5:32
11 Allemande 6:34
12 Courante 3:51
13 Sarabande 5:43
14 Gavotte 1 – 2 4:32
15 Gigue 3:47
György Ligeti — Sonata for Solo Cello
16 Dialogo: Adagio, rubato, cantabile 4:00
17 Capriccio: Presto con slancio 3:35
Este CD não me sai da cabeça desde o início da semana. Já pude ouvi-lo por diversas vezes. O fato é que a Sinfonia para Cello e orquestra do inglês Benjamim Britten é perturbadoramente incrível. Não me canso de ouvir. E mais: é regido pelo próprio Britten e tem no cello nada mais nada menos do que Rostropovich. Ou seja, não se trata de qualquer registro. Deve ser por isso que ele me fisgou. É um CD com intenções diferenciadas. De um lado temos um Britten visceral e do outro temos Haydn com o seu já conhecido Concerto para Cello e orquestra. Ouça este CD e tire suas próprias conclusões!
Benjamim Britten (1913-1976) – Sinfonia para Cello e Orquestra, Op.68
01 Britten – Symphony for Cello & Orchestra – I. Allegro maestoso
02 Britten – Symphony for Cello & Orchestra – II. Presto inquieto
03 Britten – Symphony for Cello & Orchestra – III. & IV
Joseph Haydn (1732-1809) – Concerto para Cello e Orquestra in C
04 Haydn – Cello Concerto in C – I. Moderato
05 Haydn – Cello Concerto in C – II. Adagio
06 Haydn – Cello Concerto in C – III. Allegro molto
The English Chamber Orchestra
Mstilav Rostropovich, cello
Benjamim Britten, regente
Este álbum reúne dois CDs de música moderna para violoncelo solo interpretados por Emmanuelle Bertrand. No passado recente, ambos foram lançados em separado. O primeiro disco é a estreia de Bertrand na Harmonia Mundi. Ele apresenta obras de Dutilleux, Crumb, Henze, Ligeti e Bacri. O segundo, lançado sob o título Le violoncelle parle (o violoncelo fala), inclui suítes para violoncelo solo de Britten e Cassadó e a monumental Sonata de Kodaly para violoncelo solo. Nas mãos de Bertrand, o violoncelo realmente “fala” e nos leva direto ao coração de uma linguagem ainda não compreendida por todos. “Não gostam agora? Gostarão mais tarde”, diria Beethoven. Muitas das peças foram dedicadas a Bertrand, mas damos destaque especial para Itinérance, onde a violoncelista canta — sim, com a voz. É óbvio que o compositor Pascal Amoyel sabia da bela voz da violoncelista.
Emmanuelle Bertrand – Le violoncelle au XXe siècle
Disc 1
Henri Dutilleux [1916-2013]
Trois strophes sur le nom de SACHER (1976-82)
1 I. Un poco indeciso / A tempo 4’02
2 II. Andante sostenuto 3’21
3 III. Vivace – Calmo – A tempo 3’14
Hans Werner Henze [1926-2012]
Sérénade (1949)
4 I. Adagio rubato 0’58
5 II. Poco allegretto 0’50
6 III. Pastorale 0’42
7 IV. Andante con moto. Rubato 0’59
8 V. Vivace 0’42
9 VI. Tango 1’16
10 VII. Allegro marciale 0’42
11 VIII. Allegretto 0’44
12 IX. Menuett 1’04
George Crumb [1929]
Sonate (1955)
13 I. Fantasia. Andante espressivo e con molto rubato 4’16
14 II. Tema pastorale con variazioni. Tema : Grazioso e dlicato Var. I : Un poco più animato. Var. II : Allegro possibile e sempre pizzicato. Var. III : Poco adagio e molto espressivo 5’01
15 III. Toccata. Largo e drammatico. Allegro vivace 2’31
György Ligeti [1923-2006]
Sonate (1948-53)
16 I. Dialogo. Adagio, rubato, cantabile 5’18
17 II. Capriccio. Presto con slancio – Sostenuto – Presto 5’10
Nicolas Bacri [1961]
Suite n°4 op.50 (1994-96)
dédiée à Emmanuelle Bertrand
18 I. Preludio. Adagio 4’35
19 II. Sonata gioconda. Presto volante, etc. 2’43
20 III. Intermezzo improvvisato. Adagio lamentoso 4’02
21 IV. Sonata seria. Andante maestoso 4’56
Disc 2
Benjamin Britten [1913-1976]
Suite for solo violoncello no.3 op.87 (1971) in C minor / ut mineur / e-moll
1 I. Introduzione. Lento 2’15
2 II. Marcia. Allegro 1’44
3 III. Canto. Con moto 1’20
4 IV. Barcarola. Lento 1’19
5 V. Dialogo. Allegretto 1’27
6 VI. Fuga. Andante espressivo 2’48
7 VII. Recitativo. Fantastico 1’27
8 VIII. Moto perpetuo. Presto 0’55
9 IX. Passacaglia. Lento solenne 8’32
Gaspar Cassadó [1897-1966]
Suite for solo violoncello (1926)
10 I. Preludio-Fantasia. Andante 6’06
11 II. Sardana (Danza). Allegro giusto 4’09
12 III. Intermezzo e danza finale. Lento ma non troppo 5’23
Pascal Amoyel [1971]
13 Itinérance (2003). Lento. Prégnant, du fond des âges 10’35
Zoltán Kodály [1882-1967]
Sonata for solo violoncello op.8 (1915)
14 I. Allegro maestoso ma appassionato 9’13
15 II. Adagio 12’50
16 III. Allegro molto vivace 11’46
Nicolas Bacri [1961]
17. Suite No. 4 pour violoncelle seul, Op. 50: V. Postludio – Adagio (2:36)
Emmanuelle Bertrand, violoncelo e também voz em Itinérance
Um excelente disco dedicado a um repertório meio raro de se encontrar. Britten dá um banho de talento nestes brilhantes e estranhos quartetos de cordas. O homem de Aldeburgh era profundamente literário e isto fica claro nestes belíssimos trabalhos de uma forma que… não sei explicar. Ouçam o terceiro quarteto, por exemplo: ele parece terminar com uma pergunta. É inquietante e não resolvido. Foi escrito durante a última visita de Britten a Veneza. Ele é assombrado pelo espírito, personagens e algumas citações musicais de sua última ópera, Morte em Veneza. Como apreender a emoção do romance de Thoman Mann? Olha, Britten tinha a chave para fazê-lo.
Benjamin Britten (1913-1976): String Quartets Nos. 1, 3 & Alla marcia
1 String Quartet No. 1 in D Major, Op. 25: I. Andante sostenuto – Allegro vivo 8:36
2 String Quartet No. 1 in D Major, Op. 25: II. Allegretto con slancio 3:01
3 String Quartet No. 1 in D Major, Op. 25: III. Andante calmo 10:17
4 String Quartet No. 1 in D Major, Op. 25: IV. Molto vivace 4:01
5 Alla marcia 3:26
6 String Quartet No. 3, Op. 94: I. Duets: With moderate movement 5:25
7 String Quartet No. 3, Op. 94: II. Ostinato: Very fast 3:08
8 String Quartet No. 3, Op. 94: III. Solo: Very calm – Lively 5:37
9 String Quartet No. 3, Op. 94: IV. Burlesque: Fast 2:17
10 String Quartet No. 3, Op. 94: V. Recitative and passacaglia (La serenissima): Slow 9:48
Estamos elegendo uma nova musa no PQPBach: Vilde Frang. Não vamos afirmar que esteja ocupando o lugar de Mullova, ou de Mutter, mas está aos poucos galgando os degraus parar chegar lá, ainda mais depois de lançar este discaço com os concertos de Britten e de Korngold.
Frang está totalmente a vontade tocando estas obras. Expõe uma emotividade latente, que permeia todo o concerto, principalmente o de Korngold, diga-se de passagem, e muitas vezes parece que estamos assistindo a um filme hollywoodiano dos anos 40 ou 50, quando o compositor era um exilado nas terras americanas, e compunha para os filmes produzidos nos estúdios de Hollywood.
Este CD é bem recente, foi lançado no final de fevereiro, e já conquistou cinco estrelas entre os clientes da amazon, e creio que aqui não será diferente.
Benjamin Britten (1913-1976), Eric Wolfgang Korngold (1897-1957) – Violin Concerto
01. Korngold -Violin Concerto in D Major Op. 35 I Moderato nobile
02. Violin Concerto in D Major Op. 35 II Romanze
03. Violin Concerto in D Major Op. 35 III Allegro assai vivace
04. Britten – Violin Concerto in D Minor, Op. 15 I Moderato con moto – Agitato – Tempo primo
05. Violin Concerto in D Minor, Op. 15 II Vivace – Animando – Largamente – Cadenza
06. Violin Concerto in D Minor, Op. 15 III Passacaglia – Andante lento (Un poco meno mosso)
Vilde Frang – Violin
Frankfurt Radio Symphony
James Gaffigan – Conductor