ORIGINALMENTE PUBLICADO EM 31/12/2015, LINK REVALIDADO EM 31/12/2019 COM OS MESMÍSSIMOS PLANOS DE FOLGA PARA O ANO VINDOURO
Já imagino a claque tomateira rugindo:
– Pô, Vassily: VALSAS DE STRAUSS?
– Daqui a pouco tu tá postando André Rieu!
– Tá achando que o PQP Bach é lugar pra pai de debutante achar valsinha de quinze anos?
– Que chavãozinho, hein, postar concertinho de ano novo no Ano Novo?
– Você já ouviu música de verdade, Sr. Vassily Genrikhovich???
Ao que replico:
– Mas peraí, gurizada: já viram QUEM ESTÁ REGENDO???
Respeito, senhores: trata-se de Carlos Kleiber, figura enigmática e polêmica, mas – e isso ninguém discute – um dos maiores regentes do século XX. Crescentemente avesso a apresentações e gravações (o que, pressupomos, é bastante inconveniente para um regente), já estava bastante afastado dos palcos quando retornou (porque ele já o tinha feito em 1989) à Grande Sala do Musikverein (Associação de Música) de Viena para conduzir a Filarmônica daquela cidade no tradicional Concerto de Ano Novo de 1992. O ensaio meticuloso e o tremendo comando de Carlos sobre a orquestra garantem que estas peças bastante batidas, mas muito atraentes, soem como se as ouvíssemos pela primeira vez na vida – uma das características do “Estilo Kleiber”.
Sobre o final do ano, sou realmente meio cabreiro acerca das grandes mudanças que todos esperam para os trezentos e sessenta e poucos próximos dias do calendário. Não deixo aqui meus votos, portanto, mas antecipo uma resolução (mais que isso: uma autoimposição!) de Ano Novo: terei que reduzir a frequência de minhas postagens e resenhá-las, se tanto, mais sucintamente. Não que não tenha apreciado demais a oportunidade de postar quase diariamente desde meu ingresso na ademais fabulosa equipe do PQP Bach e de interagir com os poucos de vocês que se dispuseram, além de acessar o que lhes disponibilizo, a deixar-me um “joinha”, um resmungo ou algum pedido. Se desfrutaram de meus esforços um naquinho que seja do que eu desfrutei ao empenhá-los, imagino então que se divertiram.
1992 NEW YEAR’S CONCERT of the 150th Jubilee Year of the WIENER PHILARMONIKER – CARLOS KLEIBER
Carl Otto Ehrenfried NICOLAI (1810-1849)
01 – Die Lustigen Weiber Von Windsor: Abertura
Johann STRAUSS II (1825-1899)
02 – Stadt und Land, Polka Mazur, Op. 322
Josef STRAUSS (1827-1870)
03 – Dorfschwalben aus Österreich, Valsa Op. 164
Johann STRAUSS II
04 – Vergnügungzug, Polca Rápida Op. 281
05 – Der Zigeunerbaron: Abertura
06 – Tausend und Eine Nacht, Valsa Op. 346
07 – Neue Pizzicato-Polka, Op. 449
08 – Persischer Marsch, Op. 289
09 – Tritsch-Tratsch-Polka, Op. 214
Josef STRAUSS
10 – Sphärenklänge, Valsa Op. 235
Johann STRAUSS II
11 – Unter Donner und Blitz, Polca Rápida Op. 324
12 – An der Schöner Blauen Donau, Valsa Op. 314
Johann Baptist STRAUSS (1804-1849)
13 – Radetzky-Marsch, Op. 228
Wiener Philarmoniker
Carlos Kleiber, regência












Prestamos, antes tarde que ainda mais tarde, nossa homenagem ao magnífico Mariss Jansons, que deixou este vale de lágrimas no estrebucho do último novembro. Falo em lágrimas, e também de como Jansons, depois de longa enfermidade, deixou o mundo, antes mesmo de lembrar as duras circunstâncias em que veio a ele: na Letônia ocupada por Hitler, talvez o pior momento no século para se nascer letão e de ventre judeu, um pouco depois de sua mãe escapar do gueto de Riga e de sua liquidação. Cresceu sob a inspiração do pai regente, que sucumbiu a um infarto no palco, e de uma mãe cantora lírica, e seguiu sua formação no mesmo Conservatório de Leningrado em que depois lecionaria, no qual também estudaram Tchaikovsky e Shostakovich, que sempre estariam no cerne de seu repertório. O posto de assistente na Filarmônica local, liderada pelo legendário Mravinsky, trouxe-lhe notoriedade e convites, não sem várias pestanas queimadas por conta de seus opressores de Moscou, para trabalhar e estudar com Karajan e Swarowsky. Sob sua direção (1979-2000), a discreta Filarmônica de Oslo saltou para um patamar com que nunca sonhara entre as orquestras do mundo. Depois de mais de vinte anos a comandá-la, deixou-a para assumir a Sinfônica de Pittsburgh (1997-2004), não sem antes repetir a escrita do pai e infartar no palco, desgraça que só não foi completa porque foi prontamente atendido depois do colapso. Em seguida, encontraria os conjuntos mais importantes de sua formidável carreira: a Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam (2004-2015) e, ainda mais notavelmente, a Sinfônica da Rádio Bávara, que conduziu até o final da vida, e com quem realizou a gravação ao vivo que ora compartilhamos.


Sim, prometi a saideira, e quem melhor para oferecê-la que o responsável por tudo o que lhes alcancei nos últimos dias – sim, ele mesmo, o próprio Dmitri Dmitrievich?

Foi só desistir da busca de muitos anos para que, do nada, me caíssem na mão estes improváveis CDs russos com aquela que, até onde se sabe, foi a primeira versão integral jamais gravada do monumental Op. 87 de Shostakovich.
































