Johann Sebastian Bach (1685-1750) – As Suítes para Violoncelo Solo – Paul Tortelier (1961)

51duo20ziDL._SY355_Publicada originalmente em novembro de 2015, reativada em dezembro de 2019, atualizada em maio de 2022

Rostropovich pode ter tido mais fama – merecidíssima, aliás, pela assombrosa técnica e enorme musicalidade, pela importância como pedagogo e pedra fundamental de toda uma escola violoncelística, e, como não se bastasse isso tudo, também pelo ser humano formidável que foi -, mas, se vocês fizessem uma enquete entre o panteão do violoncelo do século XX, provavelmente constatariam que o mais querido entre os violoncelistas era o parisiense Paul Tortelier (1914-1990).

Este “violoncelista dos violoncelistas” foi, como Rostropovich, um grande pedagogo e ativista político, além de ávido ciclista e muito bom flautista – em seus encontros com amigos, o violoncelo normalmente calava-se para a flauta falar. Ao contrário do hiperativo, calvo e bonachão Slava, Tortelier era um sujeito de calma proverbial, vasta cabeleira e muito poucas palavras. Rostropovich gargalhava ao contar como eram comparados a Quixote e Panza, e dedicou várias páginas de sua biografia a uma apologia do amigo. Numa delas, conta que ele costumava, ao tocar para amigos as Suítes de J. S. Bach, cantarolar sobre alguns movimentos vocalises improvisados, ao estilo do que Gounod fizera ao transformar um prelúdio do “Cravo bem Temperado” em sua famosa “Ave Maria”, e que sua voz, incrivelmente, impressionava mais do que seu instrumento.

Ainda que Slava muito lamentasse que seu colega não tivesse registrado para a posteridade seu talento como cellista-canoro, nós outros não podemos lamentar: mesmo com a boca fechada, Tortelier deixou-nos essa belíssima gravação das Suítes, repleta do timbre nobre e fraseado elegante que o fizeram tão admirado por seus pares. Ah, e aumentem o volume, porque a EMI resolveu deixar tudo bem baixinho, talvez para que escutemos o mestre no silêncio que merece.

Nota de Vassily em 2022: o texto acima refere-se à gravação de 1961, a primeira das duas que o mestre faria em estúdio. Quando o publicamos originalmente, em 2015, ele fazia parte duma série com todas as gravações que tenho das suítes, e eventualmente chegaria à segunda gravação, feita em 1982, que é muito superior e aclamada como uma das melhores jamais feitas dessas preciosas obras. Para que os leitores-ouvintes também possam conhecê-la e compará-la à irmã mais velha, resolvi também deixá-la disponível.

ooOoo

BACH – LES 6 SUITES POUR VIOLONCELLE – PAUL TORTELIER

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

SEIS SUÍTES PARA VIOLONCELO SOLO, BWV 1007-1012

SUÍTE NO. 1 EM SOL MAIOR, BWV 1007

01 – Prélude
02 – Allemande
03 – Courante
04 – Sarabande
05 – Menuet I & II
06 – Gigue

SUÍTE NO. 2 EM RÉ MENOR, BWV 1008

07 – Prélude
08 – Allemande
09 – Courrante
10 – Sarabande
11 – Menuet I & II
12 – Gigue

SUÍTE NO. 3 EM DÓ MAIOR, BWV 1009

13 – Prélude
14 – Allemande
15 – Courante
16 – Sarabande
17 – Bourrée I & II
18 – Gigue

SUÍTE NO. 4 EM MI BEMOL MAIOR, BWV 1010

01 – Prélude
02 – Allemande
03 – Courante
04 – Sarabande
05 – Bourrée I & II
06 – Gigue

SUÍTE NO. 5 EM DÓ MENOR, BWV 1011

07 – Prélude
08 – Allemande
09 – Courante
10 – Sarabande
11 – Gavotte I & II
12 – Gigue

SUÍTE NO.6 EM RÉ MAIOR, BWV 1012

13 – Prélude
14 – Allemande
15 – Courante
16 – Sarabande
17 – Gavotte I & II
18 – Gigue

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE (gravação de 1961)
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(gravação de 1982)

Paul Tortelier, violoncelo

Paul Tortelier: um violoncelista dos violoncelistas (D. P.)

Vassily Genrikhovich

Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Suítes para Violoncelo Solo – Casals

Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Suítes para Violoncelo Solo – Casals

662603_1_fEstreei aqui no PQP Bach com um relato bastante palavroso do meu primeiro contato com estas obras que amei imediatamente – muito embora, como bem apontaram os leitores-ouvintes, a gravação que o acompanhou não fosse lá grande coisa.

Pretendo, aos poucos, redimir-me e postar por aqui todas as gravações que tenho dessas preciosas suítes. Sim: todas, todinhas, com todos os intérpretes e em todos os arranjos que colecionei ao longo dos anos – o que, na justa medida desse amor incomensurável, é um senhor montão de coisas.

Se hoje dispomos de uma carta tão variada de gravações, e se todo violoncelista que se preza inclui as Suítes de Bach em seu repertório, nós o devemos a um cidadão chamado Pau Carles Salvador Casals i Defilló, catalão de nascimento, que ficou conhecido mundo afora como Pablo Casals.

Casals teve uma longa (96 anos!) e prolífica vida. Depois de estudar piano, violino e flauta, seu primeiro contato com o que deveria ser um violoncelo foi ao assistir um músico itinerante tocando um cabo de vassoura com cordas (!!). Depois de muito insistir com o pai, este lhe construiu um instrumento que tinha uma cabaça como caixa de ressonância (!!!). Foi só aos onze anos que viu um violoncelo de verdade, adquiriu um instrumento de criança e começou a estudá-lo a sério.

Aos treze anos, num sebo próximo ao porto de Barcelona, fez a descoberta mais importante de sua vida: uma surrada partitura das Suítes para violoncelo de Johann Sebastian Bach, até então largamente esquecidas e, se tanto, relegadas a meras peças de estudo. Casals passou os treze anos seguintes a estudá-las meticulosamente antes de criar a coragem de tocá-las em público pela primeira vez. Contrariamente ao costume da época, que era o de incluir em recitais apenas movimentos isolados das obras instrumentais de Bach, Casals fez questão de executar as Suítes integralmente, com todas as repetições indicadas pelo compositor. Ciente de que uma execução inteiramente satisfatória de tais obras geniais escapava à capacidade humana, o grande músico catalão relutou em gravá-las, e só o fez, finalmente, em 1936, quando já tinha sessenta anos.

Além da exigente carreira de solista e pedagogo, Casals ainda teve tempo de ser um ativo camerista (especialmente com o Trio Thibaud-Cortot-Casals), um ardente republicano, ferrenho opositor à ditadura de Francisco Franco, e compositor do Hino das Nações Unidas (com letra – vejam só – de W. H. Auden).

Do exílio voluntário, que prometera encerrar somente após a destituição de Franco, organizou um festival anual de música na cidade catalã de Prades/Prada de Conflent, cujos proventos destinou a um hospital para refugiados catalães espanhóis do regime fascista de Franco [moltes gràcies, David!]. Morreu em 1973, dois anos antes de Franco, e foi sepultado em Porto Rico, terra natal de sua mãe, onde vivera seus últimos anos.

Durante sua vida, Casals foi incensado como um músico de estirpe incomparável, acima de qualquer crítica. De fato, parece difícil criticar um cidadão tão talentoso e engajado, de vida tão longa e rica. No entanto, caem de tacape em cima destas gravações, acusando-as de mal articuladas, apressadas e, mesmo, bizarras. Com os ouvidos repletos de versões modernas, ainda mais aquelas em violoncelo barroco que costumam ser as minhas preferidas, meu primeiro veredito também não foi muito favorável. Durante um bom tempo pensei que a gravação de Casals fosse respeitada tão só pela reverência que bem cabia ao grande homem, como nome fundamental não só do instrumento como também da história de performance dessas obras que são o pináculo de seu repertório.

Pretendia, pois, postar esta versão também por reverência, interesse histórico e, dado seu pioneirismo, por achá-la adequada à abertura desta série. Ao escutá-la novamente, enquanto preparo esta postagem, eu me surpreendi ao apreciá-la. Por mais que o som de Casals não seja opulento, e em que pese a tecnologia de quase oitenta anos atrás, achei que a “abordagem rapsódica” alegada pelos críticos carrega também, entre evidentes deslizes, os frutos de muita musicalidade.

Infelizmente, o som deste álbum da EMI não tem a qualidade daquele lançado pela Naxos anos depois e que ouvi na FM Cultura de Dogville (nos tempos, claro, em que a emissora se prestava a radiodifundir algo de Bach). Se algum dia eu conseguir o álbum da Naxos, substituirei os links.

JOHANN SEBASTIAN BACH (1685-1750)

SEIS SUÍTES PARA VIOLONCELO SOLO, BWV 1007-1012

CD 01

SUÍTE NO. 1 EM SOL MAIOR, BWV 1007

01 – Prélude
02 – Allemande
03 – Courante
04 – Sarabande
05 – Menuet I & II
06 – Gigue

SUÍTE NO. 2 EM RÉ MENOR, BWV 1008

07 – Prélude
08 – Allemande
09 – Courante
10 – Sarabande
11 – Menuet I & II
12 – Gigue

SUÍTE NO. 3 EM DÓ MAIOR, BWV 1009

13 – Prélude
14 – Allemande
15 – Courante
16 – Sarabande
17 – Bourrée I & II
18 – Gigue

 

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CD 02

SUÍTE NO. 4 EM MI BEMOL MAIOR, BWV 1010

01 – Prélude
02 – Allemande
03 – Courante
04 – Sarabande
05 – Bourrée I & II
06 – Gigue

SUÍTE NO. 5 EM DÓ MENOR, BWV 1011

07 – Prélude
08 – Allemande
09 – Courante
10 – Sarabande
11 – Gavotte I & II
12 – Gigue

SUÍTE NO.6 EM RÉ MAIOR, BWV 1012

13 – Prélude
14 – Allemande
15 – Courante
16 – Sarabande
17 – Gavotte I & II
18 – Gigue

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Pau CASALS, violoncelo
Gravado em 1936

Gràcies per tot!
Gràcies per tot!

Vassily Genrikhovich

A Quieta Arte das Tangentes – Keith Jarrett (1945) – Book of Ways (1987)

Book_of_WaysNossa série sobre clavicórdios traz o mago Keith Jarrett improvisando por um bom tempo num deles. Se houvesse uma delegacia especializada em maus tratos a instrumentos frágeis, talvez pudéssemos denunciar Jarrett – não pelo produto de sua improvisação, que é muito bom, mas pela pouca delicadeza com que, muitas vezes, percute as delicadas tangentes. Os leitores-ouvintes acostumados à sua magia pianística perceberão que boa parte do primeiro volume soa como uma “aclimatação” ao timbre e aos recursos peculiares ao clavicórdio – e que a coisa decola, mesmo, no segundo volume.

BOOK OF WAYS – KEITH JARRETT

DISCO 1

01 – No. 1
02 – No. 2
03 – No. 3
04 – No. 4
05 – No. 5
06 – No. 6
07 – No. 7
08 – No. 8
09 – No. 9
10 – No. 10

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DISCO 2

01 – No. 1
02 – No. 2
03 – No. 3
04 – No. 4
05 – No. 5
06 – No. 6
07 – No. 7
08 – No. 8
09 – No. 9

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Keith Jarrett, clavicórdio

Keith Jarrett num ano ignoto - s julgar pela "vibe",, tenho um *leve* palpite de que nos anos 70
Hey, Keith: sabe aquela velha foto dos anos 70 que não queres mostrar pros netos? GOTCHA.

Vassily Genrikhovich

A Quatro Mãos: Franz Schubert (1797-1828) – Grand Duo – Variações – Marchas Militares – Daniel Barenboim e Radu Lupu

MI0001003013Qualquer oportunidade de ouvir um pianista tão maravilhoso e pouco afeito a gravações quanto Radu Lupu é uma preciosidade que não se pode desperdiçar – ainda mais quando ele está, como aqui, a tocar Schubert, de quem é um dos maiores intérpretes. Acompanhado do incansável e multiúso [corrigido, Fábio!] Daniel Barenboim, Lupu brinda-nos com uma generosa porção da obra do vienense para duo pianístico. O filé, claro, é a Sonata em Dó maior, conhecida como “Grand Duo”, praticamente uma sinfonia para piano a quatro mãos.

Ainda que a combinação entre dois músicos de personalidades tão diferentes possa-nos fazer presumir o contrário, o duo Lupu-Barenboim dá muita liga, embora seja bem fácil, para quem conhece suas respectivas gravações, identificar a quem cabe cada uma das partes. O cantabile de Lupu e a limpidez de sua execução sempre o denunciam, enquanto o enérgico Barenboim – grande admirador de seu colega romeno – segue reverentemente o mestre.

Daniel Barenboim & Radu Lupu – SCHUBERT
Grand Duo – Variations D813 – Marches Militaires

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)

Três Marchas Militares para piano a quatro mãos, D. 733 (Op. 51)
01 – No. 1 em Ré maior: Allegro vivace
02 – No. 2 em Sol maior: Allegro molto moderato
03 – No. 3 em Mi bemol maior: Allegro moderato

Oito Variações em Lá bemol maior sobre um Tema Original, D. 813 (Op. 35)
04 – Allegretto

Sonata em Dó maior para piano a quatro mãos, D. 812 (Op. Post. 140), “Grand Duo”
05 – Allegro moderato
06 – Andante
07 – Scherzo: Allegro vivace
08 – Allegro vivace

Radu Lupu e Daniel Barenboim, piano

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"Pereira" e "Lobo"
Barenboim e Lupu, “Pereira” e “Lobo”

Vassily Genrikhovich

Richard Strauss (1864-1949) – Don Quixote – Till Eulenspiegel – Meneses – Karajan

Richard Strauss (1864-1949) – Don Quixote – Till Eulenspiegel – Meneses – Karajan

R-2064102-1261856655.jpegÉ bem sabido que Herr von Karajan não é unanimidade aqui na equipe do PQP. Ainda assim, acho suas gravações de Strauss soberbas, e esta sua terceira versão para o “Don Quixote’, meu poema sinfônico favorito do bávaro, é a melhor delas.

Nas gravações anteriores, com Rostropovich e Pierre Fournier, o caráter era mais concertístico, com ênfase no solista. Nesta, o recifense Antonio Meneses e os solistas Wolfram Christ e Leon Spierer incorporam-se mais à grande massa sonora da Filarmônica de Berlim (acrescida de uma máquina de vento!) com resultados melhores. O som suntuoso e megatrabalhado de Karajan, que muitas vezes falha miseravelmente, especialmente no repertório barroco e clássico, serve aqui muito bem a complicada partitura com que Strauss acompanha as desventuras do Cavalheiro da Triste Figura e seu escudeiro Sancho Panza, representados respectivamente pelo violoncelo e viola solistas.

Pablo Picasso, 1955
Pablo Picasso, 1955

A gravação de “As Alegres Travessuras de Till Eulenspiegel”, que fecha o CD, apesar de boa, pareceu-me redondinha demais. Faltou-lhe, acho, um pouquinho do delírio do Quixote.

Richard Georg STRAUSS (1864-1949)

01-12 – Don Quixote, Variações Fantásticas sobre um Tema de Caráter Cavaleiresco, Op. 35

01 – Introdução: Mäßiges Zeitmaß. Thema mäßig. “Don Quichotte verliert über der Lektüre der Ritterromane seinen Verstand und beschließt, selbst fahrender Ritter zu werden” (“Dom Quixote perde sua sanidade após ler romances sobre cavaleiros, e decide tornar-se um cavaleiro-errante”) – Tema: Mäßig. “Don Quichotte, der Ritter von der traurigen Gestalt” (“Dom Quixote, o Cavaleiro da Triste Figura”) – Maggiore: “Sancho Panza”
02 – Variation I: Gemächlich. “Abenteuer an den Windmühlen” (“Aventura nos Moinhos de Vento”)
03 – Variation II: Kriegerisch. “Der siegreiche Kampf gegen das Heer des großen Kaisers Alifanfaron” (“A Luta Vitoriosa contra o Exército do Grande Imperador Alifanfarrão”)
04 – Variation III: Mäßiges Zeitmaß. “Gespräch zwischen Ritter und Knappen” (“Diálogo entre Cavaleiro e Escudeiro”)
05 – Variation IV: Etwas breiter. “Unglückliches Abenteuer mit einer Prozession von Büßern” (“Aventura Infeliz com uma Procissão de Peregrinos”)
06 – Variation V: Sehr langsam. “Die Waffenwache” (“A Vigília do Cavaleiro”)
07 – Variation VI: Schnell. “Begegnung mit Dulzinea” (“Encontro com Dulcineia”)
08 – Variation VII: Ein wenig ruhiger als vorher. “Der Ritt durch die Luft” (“A Cavalgada pelo Ar”)
09 – Variation VIII: Gemächlich. “Die unglückliche Fahrt auf dem venezianischen Nachen” (“A Aventura Infeliz na Gôndola Veneziana”)
10 – Variation IX: Schnell und stürmisch. “Kampf gegen vermeintliche Zauberer” (“Batalha com os Magos”)
11 – Variation X: Viel breiter. “Zweikampf mit dem Ritter vom blanken Mond” (“Duelo contra o Cavaleiro da Lua Branca”)
12 – Finale: Sehr ruhig. “Wieder zur Besinnung gekommen” (“Voltando aos seus sentidos” – Morte de Dom Quixote)

Antonio Meneses, violoncelo
Wolfram Christ, viola
Leon Spierer, violino
Orquestra Filarmônica de Berlim
Herbert von Karajan, regência

13 – Till Eulenspiegels lustige Streiche (“As Alegres Travessuras de Till Eulenspiegel”), após uma velha lenda picaresca – em forma de rondó, Op. 28

Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan, regência

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Não é todo dia que se tem ajoelhado a seus pés o Generalmusikdirektor. Bravo, Antonio!

Vassily Genrikhovich

 

A Família das Cordas: Zoltán Kodály (1882-1967) – Sonata para violoncelo solo – Duo para violino e violoncelo – János Starker

61mGSh+SZ5L._SL1107_Se alguém aí achava que a série “A Família das Cordas” traria mais uma interpretação das Suítes de Bach no violoncelo, haha, se enganou. O que trazemos é a demoníaca, espumante, lúbrica Sonata para violoncelo solo de Zoltán Kodály, que carrega tanto a distinção de conseguir dizer algo num nicho em que as Suítes de Bach reinam supremas há séculos, quanto a de parecer esgotar todas as capacidades técnicas do instrumento, bem como o próprio instrumento, partindo-lhe as cordas e incendiando a crina dos arcos.

O intérprete aqui é o colosso János Starker (1924-2013), conterrâneo do compositor, e longamente associado a essa sonata. Ele gravou-a diversas vezes e tocou-a diante do próprio Kodály em várias ocasiões (a primeira com meros quinze anos – sim, eu lhes disse que o homem era um colosso). Na última, em 1967, Kodály disse a Starker que, se ele corrigisse detalhes agógicos no terceiro movimento, sua performance seria “Bíblica”. Starker o fez e, em 1970, realizou a gravação considerada definitiva da obra – precisamente esta que eu ora alcanço a vocês.

Completam o álbum um duo para violino e violoncelo, também da lavra de Kodály, e as variações do violoncelista Hans Bottermund sobre o tema do Capricho no. 24 de Paganini, que Starker fez questão de adaptar para seu gosto e virtuosismo, complicando-as ainda mais. Comparando-as com apocalíptica Sonata op. 8, elas parecem um couvert e o cafezinho.

STARKER PLAYS KODÁLY

Hans BOTTERMUND (1892-1949)
arranjo de János Starker (1924-2013)

01 – Variações sobre um tema de Paganini, para violoncelo solo

Zoltán KODÁLY (1882-1967)

Sonata para violoncelo solo, Op. 8

02 – Allegro maestoso ma appassionato
03 – Adagio con gran espressione
04 – Allegro molto vivace

János Starker, violoncelo

Zoltán KODÁLY

Duo para violino e violoncelo, Op. 7

05 – Allegro serioso, non troppo
06 – Adagio
07 – Maestoso e largamente, ma non troppo lento

Josef Gingold, violino
János Starker, violoncelo

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Finale da Sonata de Kodály
Finale da Sonata de Kodály

 

Vassily Genrikhovich

Ainda mais Cordas: o Chitarrone (Johann Sebastian Bach – Três Suítes para violoncelo solo tocadas no chitarrone – Juan Carlos Rivera)

61g4CAY4J2LMantendo firme nossa tradição de publicar a cada sexta-feira uma nova gravação das inestimáveis Suítes para violoncelo solo de Johann Sebastian Bach, e enquanto prometemos material para pelo menos mais oitenta sextas-feiras, trazemos ao PQP Bach um instrumento que, provavelmente, seja desconhecido para a maior parte de vocês: o chitarrone.

Ok, talvez seja desconhecido só pelo nome: o chitarrone é essencialmente o mesmo que uma tiorba/teorba. A principal diferença é que, assim como a tiorba é o alaúde baixo, o chitarrone é o baixo de uma guitarra italiana – aquela com a caixa de ressonância convexa, diferentemente da espanhola, que tem o fundo chato. Depois de um longo período como sinônimos (o frontispício de algumas obras indicava-as para “Chitarone, ò Tiorba che si dica”), com alguns estultos piorando ainda mais a confusão ao chamarem o chitarrone de “teorbo italiano”, o termo tiorba/teorba foi ganhando preferência e chitarrone/guitarrón/guitarrão acabou denominando instrumentos completamente diferentes.

O espanhol Juan Carlos Rivera toca o que, definitivamente, é um chitarrone, pois foi assim assinado por seu luthier, de timbre delicado como o do alaúde. Talvez lhe faltasse intensidade para uma suíte clamorosa como, por exemplo, a sexta em Ré maior, mas nestas três primeiras o resultado é muito bonito. Silenciem o recinto, ponham as crianças e o gato (a não ser que se aquietem!) para fora da sala, e caprichem no volume.

Johann Sebastian Bach – Suites BWV 1007, 1008, 1009 
Juan Carlos Rivera, Chitarrone

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Suíte no. 2 em Ré menor, BWV 1008

01 – Prélude
02 – Allemande
03 – Courante
04 – Sarabande
05 – Menuet I-II
06 – Gigue

Suíte no. 1 em Sol maior, BWV 1007

07 – Prélude
08 – Allemande
09 – Courante
10 – Sarabande
11 – Menuet I-II
12 – Gigue

Suíte no. 3 em Dó menor, BWV 1009

13 – Prélude
14 – Allemande
15 – Courante
16 – Sarabande
17 – Bourrée I-II
18 – Gigue

Juan Carlos Rivera, chitarrone

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Este no, ¡gracias!
Este no, ¡gracias!

 

Ainda mais Cordas: o Cimbalom (Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Variações Goldberg em dulcimers – Szakály – Farkas)

151Achar um nome inambíguo em português para este instrumento é um pouquinho complicado. Seu nome húngaro (cimbalom) remete tanto ao italiano cembalo (“cravo”, coisa que ele não é) quanto ao grego “kymbalon” (“pratos” de percussão – não, tampouco). Há quem o chame de “cítara”, com a qual guarda semelhança superficial, mas esta se toca com plectros. Em inglês, ele é chamado de “Hungarian hammered dulcimer”, porque é um dulcimer (que, por sua vez, deriva do saltério através do santur persa) cujas cordas são percutidas com baquetas. Um cimbalom, pois, vem a ser um dulcimer de concerto, do tamanho de um piano pequeno, apoiado em quatro pés, com extensão maior e um pedal de abafamento. Independentemente do nome que lhe escolhamos, ele é essencial à música de várias regiões da Europa Central e fundamental à música folclórica húngara, de tal maneira que há uma cátedra de cimbalom na conceituada Academia de Música Ferenc Liszt em Budapest, onde se formaram e lecionam as duas musicistas que ouvirão nesta gravação.

Sim, o cabeludo sentado é Liszt
Sim, o cabeludo sentado é Liszt

Se tocar as Goldberg em qualquer instrumento é uma temeridade considerável, abrir mão do conforto das teclas e tocar esta obra-prima com baquetas parece-me insano. Claro que a gente não pode esperar um produto semelhante ao de uma gravação feita ao teclado, e que as variações mais rápidas escancaram as grandes dificuldades de articulação que o cimbalom traz ao executante. Ainda assim, nem que pelo inusitado, é um CD muito interessante.

Recomendo fortemente aos que forem a Budapest que garimpem o acervo da Hungaroton local, repleto de pérolas que, uma a uma, deixarei por aqui – e que esqueçam o sítio internacional, a não ser que dominem o diabólico magiar!

JOHANN SEBASTIAN BACH – GOLDBERG-VARIATIONEN ON TWO CIMBALOMS
ÁGNES SZÁKALY – RÓZSA FARKAS

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Ária com diversas Variações para cravo com dois manuais, BWV 988, “Variações Goldberg”

01 – Aria
02 – Variação no. 1 a 1 Clav.
03 – Variação no. 2 a 1 Clav.
04 – Variação no. 3 a 1 Clav. – Canone All’Unisuono
05 – Variação no. 4 a 1 Clav.
06 – Variação no. 5 a 1 ovvero 2 Clav.
07 – Variação no. 6 a 1 Clav. – Canone alla Seconda
08 – Variação no. 7 a 1 ovvero 2 Clav.
09 – Variação no. 8 a 2 Clav.
10 – Variação no. 9 a 1 Clav. – Canone alla Terza
11 – Variação no. 10 a 1 Clav. – Fughetta
12 – Variação no. 11 a 2 Clav.
13 – Variação no. 12 – Canone alla Quarta
14 – Variação no. 13 a 2 Clav.
15 – Variação no. 14 a 2 Clav.
16 – Variação no. 15 a 1 Clav. – Canone alla Quinta – Andante
17 – Variação no. 16 – Ouverture a 1 Clav.
18 – Variação no. 17 a 2 Clav.
19 – Variação no. 18 a 1 Clav. – Canone alla Sesta
20 – Variação no. 19 a 1 Clav.
21 – Variação no. 20 a 2 Clav.
22 – Variação no. 21 – Canone alla Settima
23 – Variação no. 22 a 1 Clav. – Alla Breve
24 – Variação no. 23 a 2 Clav.
25 – Variação no. 24 a 1 Clav. – Canone all’Ottava
26 – Variação no. 25 a 2 Clav.
27 – Variação no. 26 a 2 Clav.
28 – Variação no. 27 a  Clav. – Canone alla Nona
29 – Variação no. 28 a 2 Clav.
30 – Variação no. 29 a 1 ovvero 2 Clav.
31 – Variação no. 30 a 1 Clav. – Quodlibet
32 – Aria da capo

Ágnes Szákaly e Rózsa Farkas, cimbaloms

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Uma graciosa dulcimerista (ou cimbalomista) em ação
Uma graciosa dulcimerista (ou cimbalista) em ação

 

Vassily Genrikhovich

A Quatro Mãos: Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Franz Schubert (1797-1828) – Igor Stravinsky (1882-1971) – Duos para piano – Martha Argerich e Daniel Barenboim

81i-IsCDEEL._SL1400_Depois de aparecerem nesta série em companhias diferentes, Martha Argerich e Daniel Barenboim voltam num aclamado recital na Philarmonie de Berlim. Os dois grandes músicos portenhos conheceram-se em sua cidade natal, enquanto eram as mais famosas crianças-prodígio de Buenos Aires. Os estudos e a família levaram Argerich para Viena, ao passo que Barenboim tomou o rumo de Israel. Reuniram-se depois, já mundialmente famosos, e em muitas ocasiões Daniel conduziu orquestras para solos de Martha. Suas aparições como duo pianístico são bem mais raras, e este recital de 2014, em que a Philarmonie transbordou de cadeiras extras, foi o primeiro do gênero em mais de quinze anos. O programa é um clássico: a graciosa Sonata para dois pianos de Mozart e as Variações de Schubert abrindo as cortinas para a furiosa Sagração da Primavera de Stravinsky, depois da qual, parece, nada mais cabe tocar. A caprichada gravação foi lançada pelo interessante selo Peral, do próprio Barenboim, dedicado inteiramente ao lançamento fonográfico de seus trabalhos como pianista e regente via internet  – e, para quem não sabe, “peral” em espanhol significa “pereira”, que em alemão é “Birnbaum” e, em iídiche, “Barenboim”.

MARTHA ARGERICH – DANIEL BARENBOIM – PIANO DUOS

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)

Sonata em Ré maior para dois pianos, K. 448
01 – Allegro con spirito
02 – Andante
03 – Allegro molto

Franz Peter SCHUBERT (1797-1828)

04 – Variações sobre um Tema Original em Lá bemol maior, K. 813

Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971)

La Sacre du Printemps, em versão para dois pianos do próprio compositor
05 – Primeira parte: A Adoração da Terra
06 – Segunda parte: O Sacrifício

Martha Argerich e Daniel Barenboim, pianos

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Martha e Daniel, ontem e hoje
Martha e Daniel, ontem e hoje

Vassily Genrikhovich

A Quatro Mãos: Johannes Brahms (1833-1897) – Obras para dois pianos – Martha Argerich e Alexandre Rabinovitch

MI0000962114NOTA DE VASSILY: sem perceber, acabei fazendo uma postagem sobre um disco já postado – erro capital que, no talião PQPiano, significa punição compulsória de suspensão por ganchos e banho de piche, que, com agravantes (como, no meu caso, fazê-lo com um disco já postado pelo patrão PQP), acrescenta também a tortura, esta sim insuportável, de audições forçadas perpétuas de André Rieu. Na tentativa de evitar este fim horrível, redimo-me e remeto as senhoras e senhores para postagem original do patrão, cujo link eu reativei. Miserere mei, PQP!

Curioso duo: Argerich, que dispensa apresentações (e, se você acabou de chegar ao planeta e precisar delas, basta dizer que ela é, para muitos, a maior pianista viva), e Alexandre Rabinovitch-Barakovsky, pioneiro da composição minimalista, regente e, descobri só comprando a gravação, bom pianista.

Fazer um duo com Argerich não é para qualquer um, claro, e Rabinovitch dá conta do recado. Em minha insignificante opinião, entretanto, o trabalho de Argerich em duo é (se é que se pode dizer isso de uma artista tão sensacional) o ponto, assim digamos, menos forte em sua carreira. Não me entendam mal: sou tiete irremediável de Martha, só acho que sua força mercurial torna seu piano pouco miscível ao conjunto intrincado e coeso que é necessário à música para duo. Felizmente, não é o caso desta gravação – ainda que em sua capa, estranhamente, os músicos se deem as costas.

BRAHMS – HAYDN VARIATIONS – WALTZES – SONATA IN F MINOR
MARTHA ARGERICH – ALEXANDRE RABINOVITCH

Johannes BRAHMS (1833-1897)

Variações sobre um Tema de Joseph Haydn para dois pianos, Op. 56b
01 – Chorale St. Antoni: Andante
02 – Var. I: Andante con moto
03 – Var. II: Vivace
04 – Var. III: Con moto
05 – Var. IV: Andante
06 – Var. V: Poco presto
07 – Var. VI: Vivace
08 – Var. VII: Grazioso
09 – Var. VIII: Poco presto
10 – Finale: Andante

Sonata em Fá menor para dois pianos, Op. 34b
11 – Allegro non troppo
12 – Andante, un poco Adagio
13 – Scherzo: Allegro – Trio
14 – Finale: Poco sostenuto – Allegro non troppo

Cinco Valsas para dois pianos, Op. 39b
15 – No. 1 em Si maior: Tempo giusto
16 – No. 2 em Mi maior
17 – No. 3 em Si menor
18 – No. 4 em Sol sustenido menor
19 – No. 5 em Lá bemol maior

Martha Argerich e Alexandre Rabinovitch, pianos

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Trecho do documentário “Nelson Freire”, de João Moreira Salles, em que uma dengosa e quase ronronante Martha fala (em português!) de sua longa amizade e parceria com o pianista mineiro.

Vassily Genrikhovich

A Quatro Mãos: Piano Brasileiro a Quatro Mãos – Duo Kaplan-Parente (Série Discos Marcus Pereira)

capaA intensa atividade do duo pianístico formado por José Alberto Kaplan e Gerardo Parente – ex-professores da Universidade Federal da Paraíba – também gerou este álbum lançado pelo precioso selo Discos Marcus Pereira. O repertório, bastante incomum, é aparentemente uma gota do imenso e inexplorado repertório brasileiro para quatro mãos. Aos que me cobram novas postagens do Discos Marcus Pereira, e em particular àqueles que me fizeram pedidos específicos, prometo para breve novos .:interlúdios:. com blocos de quatro ou cinco discos. Só lhes peço paciência, e que guardem os tomates, pois subi ao servidor muito mais coisas do que o tempo que tenho me permite postar. Fazemos o PQP Bach por puro amor, nas poucas horas livres, e sem nada ganharmos por isso – e, de quebra, ainda levamos algumas pedradas.

Sim, isso dói. E, sim, aceitamos abraços carinhosos ali na caixa de comentários.

PIANO BRASILEIRO A QUATRO MÃOS – DUO KAPLAN-PARENTE

Francisco Paulo MIGNONE 
01 – Lundu

José Alberto KAPLAN
02 – Duas Modinhas: Azulão (sobre canção de Jayme Ovalle) e Casinha Pequenina (tradicional)

Octavio MAUL
03 – Duas Miniaturas: Cirandinha e Polka Antiga

Aylton ESCOBAR
04 – Seresta opus um

Osvaldo LACERDA
05 – Brasiliana no. 4

Aloysio de ALENCAR PINTO
06 – Sarau de Sinhá: Schottisch – Polca – Romance – Contradança – Valsa – Noturno – Capricho – Lundu – Recitativo – Galope

Duo Kaplan-Parente
José Roberto Kaplan e Gerardo Parente, piano

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Duo Kaplan-Parente, aqui disposto como Parente-Kaplan.
Duo Kaplan-Parente (ou, aqui, Parente-Kaplan)

Vassily Genrikhovich

 

A Quatro Mãos: Reimagine – Anderson & Roe Piano Duo

71nqPbHmeIL._SX355_Fred Astaire e Ginger Rogers transpostos da pista de dança para o teclado“.

Só este veredito acerca do trabalho do duo pianístico de Greg Anderson e Elizabeth Joy Roe já bastaria, cauteloso que sou acerca das sensibilidades da ala ultrarradical de nossos leitores-ouvintes, para colocar um sinal de .:interlúdio:. na frente do título. O duo Anderson & Roe, afinal, é jovem, bem-apessoado, bastante performático nos palcos, faz sucesso entre públicos que jamais sonhariam em escutar música para dois pianistas e, sacrilégio talvez maior ainda, usam amplamente a internet para granjearem sua fama.

Não coloquei qualquer ressalva .:interlúdica:., incluí os jovens em meio a gravações de Argerich, Barenboim e Lupu, e já ouço, por isso, os tomates zunindo em minha direção. Apresso-me em alcançar-lhes o contraponto: estes dois egressos da Juilliard School são excelentes pianistas, ótimos arranjadores e, de quebra, ainda têm um sensacional trabalho de duo. Vê-los tocando (e convido os leitores-ouvintes a explorarem a cybersfera para tanto) é se embasbacar com a precisão com que esses jovens dividem um teclado, entrecruzando as mãos de maneiras que não parecem fisiologicamente plausíveis, e a clareza que mantêm linhas melódicas que mesmo grandes pianistas deixam nubladas. Talvez falte um tanto de “peso” a este CD, que, à exceção da boa interpretação para a “Sagração da Primavera” de Stravinsky, é um bonito balaio de gatos composto tão só de transcrições e paráfrases de curtas obras alheias. O duo lançou posteriormente álbuns mais coesos, entre os quais um primoroso “The Art of Bach” que, depois que eu sair da base da pilha de pedras, eu postarei para vocês se os bramidos nas caixas de comentários não forem tão ferozes.

ANDERSON & ROE – REIMAGINE

01 – “Danse Macabre (remix)”, sobre “Dança Macabra, Poema Sinfônico Op. 40 de Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)

02 – “The Swan”, sobre “O Cisne” de “O Carnaval dos Animais”de Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)

03 – “A New Account of the Blue Danube Waltzes”, baseado em “An die schönen blauen Donau”, Op. 314 de Johann STRAUSS, filho (1825-1899)

04 – “The Cat’s Fugue”, sobre o tema da Sonata em Sol menor, K. 40, “A Fuga do Gato”, de Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)

05 – Libertango, sobre obra de Astor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)

06 – “The Cuckoo in Sussex”, sobre “Le Coucou” de Louis-Claude DAQUIN (1694-1772)

07 – “Erbarme dich”, sobre ária da “Paixão segundo Mateus” de Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Igor Fyodorovich STRAVINSKY (1882-1971)

A Sagração da Primavera, para dois pianos
08 – Introduction to Part I
09 – The Augurs of Spring
10 – Ritual of Abduction
11 – Spring Rounds
12 – Ritual of the Two Rival Tribes
13 – Procession of the Oldest
14 – The Kiss of the Earth
15 – The Dancing Out of the Earth
16 – Introduction to Part II
17 – Mystic Circle of the Young Girls
18 – Glorification of the Chosen One
19 – Evocation of the Ancestors
20 – Ritual Actions of the Ancestors
21 – Sacrificial Dance

Charles-Camille SAINT-SAËNS (1835-1921)
22 – Danse Macabre, Op. 40 (arranjo de Anderson & Roe)

Greg Anderson e Elizabeth Joy Roe, pianos e arranjos

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Eu disse que eles eram performáticos!
Eu disse que eles eram performáticos!

 

Vassily Genrikhovich

O Mestre Esquecido, capítulo VI (Beethoven – Sonatas Op. 53 “Waldstein” e Op. 109 – Antonio Guedes Barbosa)


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PUBLICADO ORIGINALMENTE EM 17/10/2015

Emergimos brevemente da latrina do Hades para saudá-los – olá, tudo bem, como vão? – e para publicar a contribuição de nosso leitor Raymond Pratt, que gentilmente nos alcançou uma ripagem em melhores condições que a nossa e, mais ainda, a disponibilizou em arquivos .flac, sem perdas.
Thank you once again, Mr. Pratt, for your priceless contribution!
E para o Hades voltamos. Mandarei postais!

Vassily [18/3/2016]

Nosso patrão PQP costuma usar a sensacional Sonata “Waldstein” como um “termômetro” para as interpretações das demais sonatas de Beethoven. Se um pianista convence na “Waldstein”, diz ele, convencerá nas demais sonatas.

Faz todo sentido, se levarmos em conta o brilho e expressividade dessa obra que nunca enfada, assim como as medonhas dificuldades técnicas que ela impõe ao solista. A interpretação de Barbosa é reminiscente daquela de Horowitz, de quem era amigo e fã incondicional. Já a Sonata Op. 109, escrita como que na “ressaca” na colossal “Hammerklavier”, com aquele início tão peculiar que nos dá a impressão de já estarmos no meio do movimento, é tão boa que nos faz lamentar que nosso Mestre Esquecido não tenha vivido o bastante para aventurar-se nas outras sonatas tardias do Ludovico.

Sobre a conversão de LP para Mp3, cabe uma breve nota: Barbosa preferiu executar attacca (sem pausas significativas entre um movimento e outro) não só os dois últimos movimentos da “Waldstein”, como também os dois primeiros do Op. 109. Em respeito a sua escolha, os movimentos tocados “attacca” foram postos juntos na mesma faixa.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano no. 21 em Dó maior, Op. 53, “Waldstein”

01 – Allegro con brio

02 – Introduzione: Adagio molto – Rondo: Allegretto moderato – Prestissimo

Sonata para piano no. 30 em Mi maior, Op. 109

03 – Vivace ma non troppo. Adagio espressivo – Prestissimo

04 – Gesangvoll, mit innigster Empfindung. Andante molto cantabile ed espressivo.

Antonio Guedes Barbosa, piano
(LP do selo Connoisseur Society, nunca lançado no Brasil)

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Além das gravações desta série que tão orgulhosamente lhes alcançamos, Barbosa já aparecera por aqui interpretando "Rios", de Almeida Prado, que lhe foi dedicada. Para acessar a postagem original do colega Itadakimasu, clique na imagem.
Além das gravações desta série que tão orgulhosamente lhes alcançamos, Barbosa já aparecera por aqui interpretando “Rios”, de Almeida Prado, que lhe foi dedicada. Para acessar a postagem original do colega Itadakimasu (sem as Bachianas Brasileiras no. 4, pois Villa-Lobos é proibido por aqui), clique na imagem.

Vassily Genrikhovich [revalidado em 15/1/2021]

Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Switched-on Bach 2000 – Wendy Carlos (1992)

frontConsiderando o grande número de downloads (ou deveria chamá-los “descargas”, “baixadas” ou “descarregamentos”?) da série “Switched-on Boxed Set” que divulgamos na semana passada, para desespero ainda maior dos que detestam sintetizadores, e também para o de alguns fãs do Moog primitivo, trazemos este álbum lançado por Wendy Carlos em comemoração ao Jubileu de Prata de seu estrondoso sucesso “Switched-on Bach”, dando uma nova roupagem ao repertório do clássico álbum de 1968: sintetizadores modernos, som digital e, mais ainda, temperamento desigual.

Aprecio muito o efeito que as sutis diferenças de afinação trazem para as engenhosas “orquestrações” de Carlos – que, aliás, continuam basicamente as mesmas, incluindo a bonita escolha dos timbres de madeiras para a célebre Ária da Suíte no. 3.

A crítica execrou o álbum, e os fãs do “Switched-on Bach” original também chiaram. Claro que estes têm o direito de estranhar, pois as paletas acessíveis a Carlos, que eram de escolha bem limitada em 1968, tinham expandido consideravelmente, e os timbres peculiares à gravação original estavam radicalmente modificados. Como artista e pesquisadora incansável que ela é, e sempre demonstrou ser, vejo méritos, coragem e desprendimento em sua empreitada de reler seu álbum clássico e abordar Bach sem as limitações técnicas do passado, para, assim, tentar atingir algo mais próximo do seu ideal artístico.

Este álbum foi-nos gentilmente cedido por um fiel leitor-ouvinte que escolheu identificar-se como Papai Noel e, assim, deixar seu retumbante ho-ho-ho a nós outros. Salve, Noel!

SWITCHED-ON BACH 2000 – WENDY CARLOS

Wendy CARLOS (1939)

01 – Happy 25th, S-OB

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

02 – “Wir danken dir, Gott, wir danken dir”, Cantata BWV 29 – Sinfonia

03 – Suíte no. 3 em Ré maior para orquestra, BWV 1068 – Aria

04 – Invenção a duas vozes no. 8 em Fá maior, BWV 779

05 – Invenção a duas vozes no. 14 em Si bemol maior, BWV 784

06 – Invenção a duas vozes no. 4 em Ré menor, BWV 775

07 – “Herz und Mund und Tat und Leben”, Cantata BWV 147 – Coral: “Jesus bleibet meine Freunde”

O Cravo bem Temperado, livro I – Prelúdio e Fuga em Mi bemol maior, BWV 852
08 – Prelúdio
09 – Fuga

O Cravo bem Temperado, livro I – Prelúdio e Fuga em Dó menor, BWV 847
10 – Prelúdio
11 – Fuga

12 – “Wachet auf, ruft uns die Stimme”, Prelúdio-Coral BWV 645

Concerto de Brandenburg no. 3 em Sol maior, BWV 1048

13 – Allegro
14 – Cadenza: Andante
15 – Allegro

FAIXA-BÔNUS:
16 – Toccata e Fuga em Ré menor, BWV 565

Wendy Carlos, sintetizadores e arranjos

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A incansável e inesgotável Wendy Carlos, em foto de 2014.
A incansável, inesgotável Wendy, em foto de 2014.

Vassily Genrikhovich

Switched-on Boxed Set (4 de 4): Switched-on Brandenburgs (1979) – Wendy Carlos

51ZRMWXNYBLCinco anos depois de “Switched-on Bach II”, Wendy Carlos concluiu sua tetralogia bachiana e completou a série dos Concertos de Brandenburg, gravando os de números 1, 2 e 6. Somados àqueles já lançados nos álbuns anteriores (e incluindo uma nova cadenza, mais sóbria, para o Concerto no. 3), o resultado foi o duplo “Switched-on Brandenburgs” em que, mais uma vez, impressionam a realização impecável e a clareza com que soam as partes na “orquestração” de Carlos. No entanto, aos ouvintes contemporâneos, e em especial aos fãs do “Switched-on Bach” original, os timbres do Moog já não soam tão invulgares. O veredito da filha de um leitor-ouvinte foi “música de videogame, papai” – o que só atesta as doses suprafisiológicas de música sintetizada, tanto boa quanto terrível, a que o cidadão médio é exposto desde cedo, e cotidianamente.

SWITCHED-ON  BOXED SET – SWITCHED-ON BRANDENBURGS (1979)

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Concerto de Brandenburg no. 1 em Fá maior, BWV 1046
01 – Allegro
02 – Adagio
03 – Allegro
04 – Menuetto – Trio I – Polacca – Trio II

Concerto de Brandenburg no. 2 em Fá maior, BWV 1047
05 – Allegro
06 – Andante
07 – Allegro assai

Concerto de Brandenburg no. 6 em Si bemol maior, BWV 1051
08 – Allegro
09 – Adagio ma non tanto
10 – Allegro

Wendy Carlos, sintetizador

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Carlos, Carlos & Carlos

Vassily Genrikhovich

Switched-on Boxed Set (3 de 4): Switched-on Bach II (1974) – Wendy Carlos

R-216552-1308173871.jpegCinco anos depois de “The Well-Tempered Synthesizer”, Wendy Carlos voltou à carga com um álbum que pretendeu batizar com outros nomes, mas que os capi da Columbia decidiram chamar de “Switched-on Bach II”, para tentar surfar nas ondas ainda fortes do  fenômeno “Switched-On Bach”, lançado seis anos antes. A fórmula é bastante semelhante à do original: excertos célebres e obras curtas de J. S. Bach, e um dos Concertos de Brandenburg para arrematar o disco. O desenvolvimento tecnológico do sintetizador Moog é muito evidente na gravação, que soa claramente mais “moderna” que “Switched-on Bach”, e de tal maneira que Carlos tentou, com bastante sucesso, emular os sons dos instrumentos originais no Concerto de Brandenburg no. 5. Apesar da interpretação ser muito transparente e bonita, tirando de letra inclusive a difícil cadenza para cravo do primeiro movimento, ainda prefiro os timbres frescos e bizarros das gravações anteriores, que aqui aparecem mais proeminentemente nas duas Invenções a duas vozes, nas miniaturas do Pequeno Livro de Anna Magdalena e na Fuga em Sol menor.

SWITCHED-ON BOXED SET: SWITCHED-ON BACH II

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

01 – Suíte no. 2 em Si menor para orquestra, BWV 1067 – Badinerie
02 – Suíte no. 2 em Si menor para orquestra, BWV 1067 – Menuet
03 – Suíte no. 2 em Si menor para orquestra, BWV 1067 – Bourrée
04 – Invenção a duas vozes no. 13 em Lá menor, BWV 784
05 – Invenção a duas vozes no. 12 em Si bemol maior, BWV 783
06 – “Was mir behagt, ist nur die muntre Jagd”, Cantata BWV 208 – Ária: “Schafe können sicher weiden” (“Sheep may safely graze”)
07 – O Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach – Musette em Ré maior, BWV Anh. 126
08 – O Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach – Minueto em Sol maior
09 – O Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach – Bist du bei mir, BWV 508
10 – O Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach – Marcha em Ré maior, BWV Anh. 122
11 – Pequena Fuga para órgão em Sol menor, BWV 578
12 – Concerto de Brandenburg no. 5 em Ré maior, BWV 1050 – Allegro
13 – Concerto de Brandenburg no. 5 em Ré maior, BWV 1050 – Affettuoso
14 – Concerto de Brandenburg no. 5 em Ré maior, BWV 1050 – Allegro

Wendy Carlos, sintetizador Moog

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“Moça, pra que serve aquele fiozinho?”

Vassily Genrikhovich

 

Switched-on Boxed Set (2 de 4): The Well-Tempered Synthesizer (1969) – Wendy Carlos

bach-portada 2O sucesso mastodôntico de “Switched-on Bach” trouxe não só os holofotes para a ademais mui discreta Wendy Carlos, como também a pressão dos executivos da Columbia para que produzisse (“cuspisse”, segundo ela própria) um novo álbum arrasa-quarteirões. A ideia dos tubarões fonográficos era, claro, um outro disco dedicado a Bach, mas a laboriosa e criativa Wendy tinha outros planos, que incorporavam os novos módulos desenvolvidos em colaboração com Robert Moog para o sintetizador – incluindo o recurso spectrum follower, que permitia incluir vocalizações, ouvidas na segunda seleção de Monteverdi e, posteriormente, nos trechos da Nona Sinfonia de Beethoven incluídos na trilha sonora de Carlos para “A Laranja Mecânica” de Stanley Kubrick.

O resultado do trabalho de Moog, Wendy, e de sua produtora e co-intérprete Rachel Elkind foi “The Well-Tempered Synthesizer” (“O Sintetizador bem Temperado”), lançado em 1969, um ano depois de “Switched-on Bach”. Apesar de bem aceito por parte da crítica (pois os puristas, naturalmente, detestaram), as vendas não foram nem de longe semelhantes às do predecessor. Glenn Gould, que, como dissemos, virara tiete de Wendy, escreveu as notas que acompanharam o disco, em que taxativamente afirmava que “a realização de Carlos do Quarto Concerto de Brandenburgo, é, para colocá-lo com franqueza, a melhor interpretação de qualquer dos Brandenburgos – ao vivo, enlatada, ou intuída – que eu jamais ouvi”. Os pastiches também não paravam de brotar, lançando mão de todos os trocadilhos possíveis com “Switched-on”. Um deles foi lançado pela própria Columbia: “Switched-off Bach”, que incluía as mesmas seleções do célebre disco de 1968, executada com instrumentos convencionais.

Carlos levaria cinco anos para voltar a Bach, dedicando o ínterim a trabalhos autorais (“Sonic Seasonings”, somente com composições originais) e à realização da trilha sonora para “A Laranja Mecânica” de Kubrick, realizador cricri e perfeccionista de quem Wendy ainda musicaria “O Iluminado”, em 1980.

SWITCHED-ON  BOXED SET – THE WELL-TEMPERED SYNTHESIZER

Claudio Giovanni Antonio MONTEVERDI (1567-1643)
01 – Suíte da ópera “Orfeo”: toccata – ritornello I – coro I – ritornello II – coro II – ritornello II

Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
02 – Sonata em Sol maior, L. 209/K. 455
03 – Sonata em Ré maior, L. 164/K. 491

Georg Friedrich HÄNDEL (1685-1759)
Música Aquática, Suíte em Fá maior, HWV 348
04 – Bourrée
05 – Aria
06 – Allegro deciso

Giuseppe Domenico SCARLATTI
07 – Sonata em Mi maior, L. 430/K. 531
08 – Sonata em Ré maior, L. 465/K. 96

Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Concerto de Brandenburg no. 4 em Sol maior, BWV 1049
09 – Allegro
10 – Andante
11 – Presto

Claudio Giovanni Antonio MONTEVERDI
12 – Vésperas (1610) – Domine ad adjuvandum

13 – Teste de alinhamento de estéreo

14 – Experimentos (em inglês, narração de Wendy Carlos)

Wendy Carlos, sintetizador Moog (em colaboração com Rachel Elkind)

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A produtora Rachel Elkind e Wendy Carlos (na época, ainda, legalmente chamada Walter Carlos)
A produtora Rachel Elkind e Wendy Carlos (na época, ainda, legalmente chamada Walter)

Vassily Genrikhovich

Switched-on Boxed Set (1 de 4): Switched-on Bach (1968) – Wendy Carlos

imagesSe não levei pedrada com todo Glenn Gould que postei mês passado, será agora que minha carcaça receberá, em uma só prestação, todo o monolito que merece sobre si: música de Bach, o Demiurgo da Música, tocada num sintetizador.

Não é qualquer sintetizador, claro, nem um intérprete qualquer: é o pioneiro Moog de Wendy Carlos, que tanto colaborou para seu desenvolvimento ao lado de seu inventor, Robert Moog, como deu-lhe um senhor cavalo de batalha na forma do estrondoso sucesso dessa gravação.

Ninguém na Columbia levava muito a sério o obstinado trabalho de Carlos, dotada de formação privilegiada para a empreitada: pianista e compositora, com diplomas em Música e Física e estudos sob Vladimir Ussachevsky, um dos pioneiros da música eletrônica. A natureza monofônica do sintetizador Moog tornava qualquer acorde frugal um exaustivo trabalho de overdubbing, e todos os crescendos e decrescendos eram frutos de meticulosa filtragem e ajustes. Ainda assim, Carlos e seus colaboradores fizeram questão de gravar Bach nota por nota, sem outros aditivos. A honrosa exceção foi o segundo movimento do Concerto de Brandenburg no. 3, para o qual Bach forneceu somente uma sucinta cadência de dois acordes, por talvez esperar que o cravista do contínuo improvisasse a sua própria, e na qual Carlos insere efeitos de “virtuosidade eletrônica” que não considerou apropriados às outras faixas do disco. Em 1979, ao relançar este Concerto como parte de “Switched-on Brandenburgs”, ela, arrependida do que considerou um excesso, incluiu uma outra cadenza, mais sóbria.

O sucesso do álbum, lançado com pouquíssimo alarde, foi tremendo, e “Switched-on Bach” tornou-se a primeira gravação de música clássica a chegar ao topo das paradas desde a triunfal estreia de Glenn Gould com as “Variações Goldberg” em 1955. Gould, aliás, virou tiete de Carlos, talvez porque o trabalho dela trouxesse não só a clareza e transparência na realização das partes polifônicas, que eram parte importante do ideal artístico do canadense, e também porque era o produto de exasperante atividade de estúdio, que Gould tinha como cenário ideal para fazer música, já que abandonara os palcos ainda nos anos 60.

Talvez os leitores-ouvintes tenham impressão diferente da minha, mas eu sou um eterno fascinado por esta gravação que não envelhece. Desde a cintilância da abertura com a Sinfonia da Cantata no. 29, passando por Invenções a Duas Vozes transparentes e pela célebre Ária da Suíte no. 3 com timbres de madeiras, e concluindo com um Concerto de Brandenburgo tão sui generis que se pode até suspeitar da fidelidade estrita ao original bachiano, este “Switched-on Bach” – relançado numa caprichada edição remasterizada e meticulosamente comentada por Carlos em áudio e no encarte – ainda soa sanguíneo e fresco como um dos mais importantes álbuns da história fonográfica.

SWITCHED-ON BOXED SET: SWITCHED-ON BACH

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

01 – “Wir danken dir, Gott, wir danken dir”, Cantata BWV 29 – Sinfonia

02 – Suíte no. 3 em Ré maior para orquestra, BWV 1068 – Aria

03 – Invenção a duas vozes no. 8 em Fá maior, BWV 779

04 – Invenção a duas vozes no. 14 em Si bemol maior, BWV 784

05 – Invenção a duas vozes no. 4 em Ré menor, BWV 775

06 – “Herz und Mund und Tat und Leben”, Cantata BWV 147 – Coral: “Jesus bleibet meine Freunde”

07 – O Cravo bem Temperado, livro I – Prelúdio e Fuga em Mi bemol maior, BWV 852

08 – O Cravo bem Temperado, livro I – Prelúdio e Fuga em Dó menor, BWV 847

09 – “Wachet auf, ruft uns die Stimme”, Prelúdio-Coral BWV 645

10 – Concerto de Brandenburg no. 3 em Sol maior, BWV 1048 – Allegro

11 – Concerto de Brandenburg no. 3 em Sol maior, BWV 1048 – Adagio [cadenza de 1968]

12 – Concerto de Brandenburg no. 3 em Sol maior, BWV 1048 – Allegro

13 –  Concerto de Brandenburg no. 3 em Sol maior, BWV 1048 – Adagio [cadenza de 1979]

14 – Experimentos iniciais (em inglês, narração de Wendy Carlos)

Wendy Carlos, sintetizador Moog (em colaboração com Rachel Elkind e Benjamin Folkman)

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A expectativa sobre "Switched-on Bach" era tão pequena que a Columbia aprovou uma capa que deixou Carlos indignada: um Bach rubicundo e caricato a ouvir, com expressão chocada ou indignada, algo com fones de ouvidos conectados à ENTRADA, e não à saída, de um sintetizador Moog. Com o LP rapidamente esgotado, Carlos conseguiu colocar nas novas tiragens uma capa diferente, com Bach em pé e olhar menos esdrúxulo.
A expectativa sobre “Switched-on Bach” era tão pequena que a Columbia aprovou uma capa que deixou Carlos possessa: um Bach rubicundo e caricato a ouvir, com expressão chocada ou indignada, algo com fones de ouvidos conectados à ENTRADA, e não à saída, de um sintetizador Moog. Com o LP rapidamente esgotado, Carlos conseguiu colocar nas novas tiragens uma capa diferente, com Bach em pé e olhar menos esdrúxulo.

Vassily Genrikhovich

A Quieta Arte das Tangentes – Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Invenções, Sinfonias e Duetos – Jaroslav Tůma

f10076O tecladista tcheco Jaroslav Tůma (que já escutamos ao órgão acompanhando uma violinista de aspecto um tanto feroz) possui uma interessante coleção de instrumentos que, aos poucos, vai apresentando ao mundo em gravações. Este clavicórdio feito por J. Schiedmaier em 1789 e afinado em temperamento desigual (Kirnberger III) foi resgatado de um museu decadente do interior da Boêmia. Muito danificado por negligência e pelo uso insensato por parte de amadores (imagino quantas crianças alopradas não lhe deram manotaços, e quantas mãos pesadas não tocaram “Bife” nele!), acabou restaurado meticulosamente, mas ainda manteve alguns sons de “marcenaria”. Esta coleção de Invenções a duas, três (Sinfonias) e quatro (Duetos) vozes, demonstrações em dificuldade crescente da fluência de Bach no uso de recursos imitativos do contraponto, soa muito clara no clavicórdio de Tůma, e sua interpretação é tão convincente que parece querer dar razão a quem defende que este não só era o instrumento de teclado preferido de Bach, como também aquele que ele tinha em mente ao escrever estas miniaturas.

J. S. BACH – INVENTIONS, SINFONIAS AND DUETS

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Invenções a duas vozes

01 – Em Dó maior, BWV 772
02 – Em Dó menor, BWV 773
03 – Em Ré maior, BWV 774
04 – Em Ré menor, BWV 775
05 – Em Mi bemol maior, BWV 776
06 – Em Mi maior, BWV 777
07 – Em Mi menor, BWV 778
08 – Em Fá maior, BWV 779
09 – Em Fá menor, BWV 780
10 – Em Sol maior, BWV 781
11 – Em Sol menor, BWV 782
12 – Em Lá maior, BWV 783
13 – Em Lá menor, BWV 784
14 – Em Si bemol maior, BWV 785
15 – Em Si menor, BWV 786

Sinfonias (Invenções a três vozes):

16 – Em Dó maior, BWV 787
17 – Em Dó menor, BWV 788
18 – Em Ré maior, BWV 789
19 – Em Ré menor, BWV 790
20 – Em Mi bemol maior, BWV 791
21 – Em Mi maior, BWV 792
22 – Em Mi menor, BWV 793
23 – Em Fá maior, BWV 794
24 – Em Fá menor, BWV 795
25 – Em Sol maior, BWV 796
26 – Em Sol menor, BWV 797
27 – Em Lá maior, BWV 798
28 – Em Lá menor, BWV 799
29 – Em Si bemol maior, BWV 800
30 – Em Si menor, BWV 801

Duetos (a quatro vozes):

31 – No. 1 em Mi menor, BWV 802
32 – No. 2 em Fá maior, BWV 803
33 – No. 3 em Sol maior, BWV 804
34 – No. 4 em Lá menor, BWV 805

Jaroslav Tůma, clavicórdio

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A propósito: aquele "ů" no sobrenome de Tůma pronuncia-se como um "u" bem longo - aprendam bem a lição para quando eu postar Martinů
A propósito: aquele “ů” no sobrenome de Tůma pronuncia-se como um “u” bem longo – aprendam bem a lição para quando eu postar Martinů

Vassily Genrikhovich

A Quieta Arte das Tangentes – Georg Friedrich Händel (1685-1759) – The Secret Handel – Christopher Hogwood

61R8DBz-zyL._SL1000_Mais um da série de álbuns com Hogwood ao clavicórdio. Händel foi notório devoto do instrumento, e sobrevivem quase cinquenta clavicórdios que, em algum momento, foram tocados por ele ou lhe pertenceram. A seleção de repertório para este álbum parece-me mais rica do que a do álbum dedicado a Bach, além de longa a ponto de exigir dois CDs. A obra mais conhecida dos leitores-ouvintes, e que ganharia a alcunha de “The Harmonious Blacksmith” (“O Ferreiro Harmonioso”) ao encerraria a Suíte para teclado em Mi maior, surge aqui numa versão preliminar, com o título “Ária e Variações”, na tonalidade de Sol maior. Há também duas seleções de outros compositores (Johann Philipp Krieger e Friedrich Wilhelm Zachow), cujas obras fizeram parte dos cadernos de exercícios do jovem estudante Händel, e que mais tarde cederiam os temas para peças de sua própria lavra.

THE SECRET HÄNDEL – CHRISTOPHER HOGWOOD

CD1

Georg Friedrich HÄNDEL (1685-1759)

Suíte no. 3 em Ré maior`, HWV 428 (versão de Gottlieb Muffat)
01 – Prélude
02 – Allegro
03 – Allemande
04 – Courante
05 – Aria con variazioni
06 – Presto

07 – Ária com Variações em Sol maior, HWV 430/4a
08 – Fuga em Dó menor, HWV 610

Suíte para dois teclados em Dó menor, HWV 446*
09 – Allemande
10 – Courante
11 – Sarabande
12 – Chaconne

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CD 2

Georg Friedrich HÄNDEL (1685-1759)

Três Minuetos em Lá maior
01 – HWV 545
02 – HWV 547
03 – HWV 546

04 – Ária em Fá maior, da “Música Aquática”, HWV 464
05 – Bourrée e Hornpipe em Fá maior, da “Música Aquática”

Johann Philipp KRIEGER (1649-1725)
06 – Ária e Variações em Si bemol maior

Georg Friedrich HÄNDEL
07 – Ária em Si bemol maior, HWV 469
08 – Concerto em Sol maior, HWV 487
09 – Ária, HWV 467
10 – Andante em Sol maior, HWV 487
11 – Allemande em Si menor, HWV 479
12 – Courante em Si menor, HWV 489

Friedrich Wilhelm ZACHOW (1663-1712)
13 – Sarabande em Si menor

Georg Friedrich HÄNDEL
14 – Gigue em Si menor
15 – “Jesu meine Freude”, Coral HWV 480
16 – Chaconne em Sol maior, HWV 435

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Christopher Hogwood, clavicórdio
* Derek Adlam, clavicórdio

Procurei vigorosamente uma imagem bem bonita do Georg Friedrich para ilustrar a postagem. Como veem, fracassei.
Procurei vigorosamente uma imagem bem bonita do Georg Friedrich para ilustrar a postagem.
Como veem, fracassei.

Vassily Genrikhovich

A Quieta Arte das Tangentes – Johann Sebastian Bach (1685-1750) – The Secret Bach – Christopher Hogwood

51dMqS6BIkL._SS280Nossa microssérie da semana será dedicada ao clavicórdio, instrumento de teclado cujas cordas são percutidas por tangentes (daí o título), produzindo um som tão delicado quanto quase inaudível (sim, o título).

Essa delicadeza e, talvez, tibiez do timbre do clavicórdio inviabilizam sua integração a qualquer conjunto instrumental. Por outro lado, a percussão por tangentes diretamente ligadas às teclas e, por extensão, aos dedos do executante permite que este tenha controle sobre a dinâmica (algo impensável num teclado de cravo, por exemplo) e, mais ainda, lhe permite imprimir um discreto vibrato às notas. Essas peculiaridades tornam seu som muito atraente, ainda que tenhamos que nos resignar a escutá-lo em recitais e álbuns solo e, frequentemente, colocar no máximo o volume dos alto-falantes.

Instrumento de custo relativamente baixo, de fácil manutenção e muito portátil, o clavicórdio gozou de imensa popularidade nos séculos XVII e XVII, em especial para a prática privada de música, entre músicos itinerantes (como era o caso de Händel, que encontrarão amanhã) e onde quer que houvesse pouco espaço disponível.

Nossa série começa com o álbum “The Secret Bach”, em que o versátil Christopher Hogwood interpreta obras do Demiurgo no mais quieto dos instrumentos do teclado. Para nós outros, acostumados com o timbre brilhante do cravo ou mesmo com o som volumoso de um piano de tensas cordas de aço, escutá-las tocadas com tangentes pode requerer alguma “aclimatação” – além, é claro, do já referido ajuste do volume dos alto-falantes. Os pontos altos, para mim, são as peças de abertura (uma versão preliminar da Fantasia Cromática e Fuga em Ré menor) e de encerramento (um arranjo para teclado da Partita no. 2 para violino solo – sim, aquela encerrada pela monumental Chacona). O que vem entre elas são peças curtas que, se comparadas àquelas que mencionamos, empalidecem bastante.

THE SECRET BACH – CHRISTOPHER HOGWOOD

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Fantasia Cromática e Fuga em Ré menor, BWV 903a (versão preliminar, do manuscrito Rust)
01 – Fantasia
02 – Fuga

03 – Adágio em Sol maior, BWV 968
04 – Fuga em Sol menor, BWV 1000
05 – Allemande em Sol menor
06 – Minueto no. 1, BWV 841
07 – Minueto no. 3, BWV 843
08-16 – Partite diverse sopra il Corale ‘O Gott, du frommer Gott”, BWV 767

Partita em Lá menor, baseada na Partita no. 2 em Ré menor para violino solo, BWV 1004
17 – Allemanda
18 – Corrente
19 – Sarabanda
20 – Giga
21 – Ciacoona

Christopher Hogwood, clavicórdio

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Maestro, compositor, musicólogo, cravista, pianista, organista, clavicordista: o multiúso Christopher Hogwood (1941-2014)
Maestro, compositor, musicólogo, cravista, pianista, organista, clavicordista: o multiúso Christopher Hogwood (1941-2014)

Vassily Genrikhovich

Musica Antiqua Bohemica – Heinrich Ignaz Franz Biber (1644-1704): Sonatas dos Mistérios (ou do Rosário) – Gabriela Demeterová

51V1yFiGA1LEmbora tido por muitos como austríaco, Biber nasceu na cidadezinha boêmia de (cuidado a língua!) Stráž pod Ralskem, ou Wartenberg, o que o torna elegível para inclusão nesta série, ainda que não encontremos qualquer registro da forma tcheca de seu nome, que seria (a língua, cuidado com ela!) Jindřich Ignác František Biber.

Provavelmente o maior violinista de seu tempo, Biber trabalhou em Graz e na simpática sopa de diacríticos que é Kroměříž antes de chegar à corte de Salzburg, onde consolidou sua fama e fortuna. Foi um compositor muito inventivo para diversos conjuntos instrumentais, e suas obras para violino eram tidas como o suprassumo do virtuosismo em sua época.

Como se isso tudo não bastasse, ainda lhe sobrava estilo
Como se isso tudo não bastasse, o cara ainda esbanjava estilo

A reputação dessas Sonatas dos Mistérios (ou do Rosário) só fez crescer desde sua publicação em 1905, mais de duzentos anos após a morte do compositor. Cada uma das quinze sonatas para violino e órgão refere-se a um dos Mistérios do rosário católico (cinco gozosos, cinco dolorosos e cinco gloriosos), com um programa mais sugerido do que puramente descrito musicalmente (em vivo contraste com sua “Sonata Representativa”, que também postaremos aqui). Além de raspar o fundo do tacho da técnica violinística disponível na época, Biber usou e abusou do recurso da scordatura, que consiste na alteração da afinação do violino de maneira a obter efeitos colorísticos e ressonâncias indisponíveis na afinação padrão.

Notação das indicações de scordatura para cada uma das Sonatas dos Mistérios de Biber. Apenas a primeira e última peça (a Sonata I e a Passacaglia) utilizam a afinação normal (Sol-Ré-Lá-Mi)
Notação das indicações de scordatura para cada uma das Sonatas dos Mistérios de Biber. Notem que apenas a primeira e última peça (a Sonata I e a Passacaglia) utilizam a afinação padrão (Sol-Ré-Lá-Mi)

A série é concluída por uma solene passacaglia, uma das mais antigas obras para violino solo. Ela foi muito difundida, em cópias manuscritas, ainda durante a vida do compositor, e considerada o pináculo de toda literatura violinística até que Sebastian Bach e sua monumental Chacona acenassem para Biber lá bem do alto. A solista Gabriela Demeterová – que, ao vivo, tem aparência bem mais amistosa que a garota de olhar dardejante que aparece nas fotos de divulgação – faz a perigosa travessia violinística com muita competência e sem qualquer incidente, acompanhada pelo versátil Jaroslav Tůma, que, verão vocês em publicações futuras, toca todos os teclados imagináveis.

BIBER – MYSTERY SONATAS

Heinrich Ignaz Franz von BIBER (1644-1704)

Sonatas para a Glorificação dos Quinze Mistérios da Vida de Maria e de Cristo

DISCO 1

Sonata I: Anunciação do Nascimento de Cristo pelo Arcanjo Gabriel (modo dórico)
01 – Praeludium
02 – Variatio. Aria: Allegro
03 – Finale

Sonata II: Visitação de Maria por Isabel (Lá maior)
04 – Sonata
05 – Allemande
06 – Presto

Sonata III: Nascimento de Cristo, Adoração dos Pastores (Si menor)
07 – Sonata
08 – Courante
09 – Double
10 – Courante (da capo)
11 – Adagio

Sonata IV: Apresentação de Cristo no Templo (modo dórico)
12 – Ciaccona

Sonata V: Jesus aos Doze Anos no Templo (Lá maior)
13 – Praeludium
14 – Allemande
15 – Gigue
16 – Sarabande
17 – Double
18 – Sarabande (da capo)

Sonata VI: O Sofrimento de Cristo no Monte das Oliveiras (Dó menor)
19 – Lamento
20 – Adagio

Sonata VII: A Flagelação de Cristo (Fá maior)
21 – Allemande
22 – Variation
23 – Sarabande

24 – Passacaglia para violino solo

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DISCO 2

Sonata VIII: A Coroação com Espinhos (Si menor)
01 – Sonata
02 – Presto
03 – Gigue
04 – Double I
05 – Gigue (da capo)
06 – Double II
07 – Gigue (da capo)

Sonata IX: Jesus carrega a Cruz (Lá menor)
08 – Grave
09 – Corrente
10 – Double I
11 – Double II
12 – Finale

Sonata X: A Crucificação (Sol menor)
13 – Praeludium
14 – Aria con variazioni

Sonata XI: A Ressurreição (Sol maior)
15 – Sonata
16 – Adagio
17 – Andante

Sonata XII: A Ascensão de Cristo (Dó maior)
18 – Intrada
19 – Aria
20 – Allemanda
21 – Courante
22 – Double
23 – Courante (da capo)

Sonata XIII: A Descida do Espírito Santo (Ré menor)
24 – Sonata
25 – Gavotte
26 – Gigue
27 – Sarabande

Sonata XIV: A Assunção de Maria (Ré maior)
28 – Allegro maestoso
29 – Aria (Ciaccona)
30 – Gigue

Sonata XV: A Coroação de Maria (Dó maior)
31 – Sonata
32 – Aria con variazioni
33 – Canzone
34 – Sarabande
35 – Variation

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Gabriela Demeterová, violino
Jaroslav Tůma, órgão

Gabriela Demeterová, antes e depois do dardo tranquilizante
Gabriela Demeterová, antes e depois do dardo tranquilizante

Vassily Genrikhovich

Ainda mais Cordas: o Sarod e o Sitar (Ravi Shankar e Ali Akbar Khan – Ragas)

712cGonq0FL._SL1092_Encerramos esta série sobre as cordas com dois dos maiores músicos do século XX.

O sitarista Ravi Shankar (1920-2012) dispensa apresentações, até porque já foi devidamente apresentado aqui no PQP Bach e fará (a julgar pelo grande número de downloads) muitas outras aparições por aqui. Ali Akbar Khan foi o maior mestre moderno do sarod -espécie de alaúde indiano, que tem as mesmas 18 ou 19 cordas do oud persa (e como vocês são espertos, já tiveram o clique: oudal-oud – alaúde), embora tanto Khan quanto Shankar modestamente atribuíssem esta distinção, e também a de maior músico que jamais existiu, ao legendário Allauddin Khan (1862-1972), pai do primeiro e guru do segundo. A doçura solene do sarod e o timbre lisérgico do sitar garantem, a despeito da qualidade subótima de gravação, um dos mais eletrizantes álbuns de toda a música.

RAGAS – RAVI SHANKAR – ALI AKBAR KHAN

01 – Raga Palas Kafi
02 – Raga Bilashkani Todi

Ali Akbar Khan, sarod
Ravi Shankar, sitar
Kanall Dutta, tabla
Nodu Mullick e Ashish Kumar
, tamboura

03 – Raga Ramdas Malhar
04 – Raga Malika

Ali Akbar Khan,
sarod
Tabla e tamboura
– músicos não-creditados

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Shankar e Ali Akbar sob o olhar suserano do guru Allauddin Khan
Shankar e Ali Akbar sob o olhar suserano (e aparentemente vivo) do guru Allauddin Khan

Vassily Genrikhovich

 

Musica Antiqua Bohemica – František Brixi (1732-1771): Concertos para órgão e orquestra – Věra Heřmanová

su3741-2Já ouviram falar de Brixi? Eu não tinha, até ouvir dois destes concertos tocados pela mesma Věra Heřmanová e uma competente orquestra de estudantes na maravilhosa Igreja de São Nicolau (Svatý Mikuláš), joia barroca na margem direita do Vltava em Praga. Após o concerto, a simpática organista vendeu-me este CD e autografou-o com uma dedicatória em tcheco que ainda não decifrei. Mesmo afogado na sopa de letrinhas, gostei muito da gravação. O organista Brixi, foi mestre de capela da Catedral de São Vito (aquela que ainda hoje reina imponente no alto do Castelo de Praga) sabia escrever com brilho para seu instrumento e tirar bom proveito dos necessariamente pequenos conjuntos que acompanhavam o solista (que não poderiam, ademais, ser muito grandes, dada a acústica altamente ressonante das igrejas tchecas). O estilo de Brixi, mezzo clássico, mezzo barroco, é bem típico do período em que viveu.

BRIXI – ORGAN CONCERTOS

František Xaver BRIXI (1732-1771)

Concerto em Fá maior para órgão, duas trompas, cordas e baixo contínuo
01 – Allegro moderato
02 – Adagio
03 – Allegro assai

Concerto em Dó maior para órgão, dois clarins, cordas e baixo contínuo
04 – Allegro moderato
05 – Adagio
06 – Alla breve

Concerto em Sol maior para órgão, duas trompas, cordas e baixo contínuo
07 – Allegro moderato
08 – Adagio
09 – Allegro molto

Concerto em Ré maior para órgão, dois clarins, cordas e baixo contínuo
10 – Allegro moderato
11 – Andante molto
12 – Allegro

Věra Heřmanová, órgão
Capella Regia Musicalis, com instrumentos originais
Robert Hugo, regência

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A simpática Věra Heřmanová: ótima ao tocar, críptica ao escrever.
Věra Heřmanová: ótima ao tocar, críptica ao escrever

Vassily Genrikhovich

Ainda mais Cordas: a Kora e a Harpa (Clychau Dibon – Seckou Keita e Catrin Finch)

917pB7tJJPL._SL1500_Da kora, a harpa mandê, já falamos aqui, , e acolá – e o senegalês Seckou Keita é um dos seus maiores virtuoses. Da galesa Catrin Finch, talvez a melhor harpista da atualidade, já tivemos uma gravação maravilhosa da versão harpística das Variações Goldberg que, segundo contou-me um passarinho, voltará em breve ao PQP Bach. Falando em passarinho, “dibon” é o nome de uma ave da África Ocidental cujo canto é tão famoso que deu nome a uma das 21 cordas da kora. Somem-se a elas as 47 cordas da harpa da galesa (“clychau” significa “sinos” em galês – e se acham esse nome difícil é porque vocês ainda nada viram) e, a partir de tradições aparentemente muito distintas (que o excelente encarte do disco trata de mostrar quão próximas são), o que se obtém é uma gravação sensacional, muito estimulante, e de verve surpreendente para um duo de instrumentos com tanta reputação de quase quietude.

CLYCHAU DIBON – CATRIN FINCH & SECKOU KEITA

01 – Genedigaeth koring-bato
02 – Future Strings
03 – Bamba
04 – Les Bras de Mer
05 – Robert Ap Huw meets Nialing Sonko
06 – Ceffylau
07 – Llongau térou-bi

Seckou Keita, kora
Catrin Finch, harpa

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Senegal e Gales, galesa e senegalês.
Senegal e Gales, galesa e senegalês.

Vassily Genrikhovich