J.S. Bach (1685-1750): Orchestral Transcriptions by Leopold Stokowski (1882-1977)

J.S. Bach (1685-1750): Orchestral Transcriptions by Leopold Stokowski (1882-1977)

Olá pessoal voltei com mais este texto, que é o quinto, em que estamos homenageando a vida e obra do grande maestro Leopold Stokowski. Vamos voltar aos idos e turbulentos anos que compreendem 1912 até 1920. Leopold e sua esposa Olga passaram os verões de 1912, 1913 e 1914 em uma casa nos subúrbios de Munique, onde ele iniciou suas primeiras transcrições orquestrais de Bach. Músicos estavam por toda parte na Baviera durante os meses de verão naqueles anos. Em 28 de junho de 1914, o arquiduque Ferdinand, herdeiro do trono austro-húngaro, foi assassinado, provocando a grande guerra duas semanas depois. Olga e Leopold tiveram uma fuga angustiante, levando apenas algum dinheiro e a partitura da Sinfonia nº 8 de Mahler na mala. Em 1914, Stokowski solicitou cidadania americana recebendo-a em 1915.

Stokowski com a Mary Louise Bok e Edward Bok antes de 1920

Um importante trunfo para o maestro durante a maior parte de seus anos na américa e em particular na Filadélfia não foi apenas os inúmeros admiradores fervorosos que ele atraiu por seu estilo, carisma e boa musicalidade, mas também por seus principais apoiadores. O maior mecenas foi Edward Bok fundamental no apoio financeiro para expandir a orquestra, dar tranquilidade ao maestro para ensaiar além da importante autonomia para escolher o repertório, realizar seus ensaios e seus programas.
Então, em 1917, ocorreria um evento que marcaria a carreira de Leopold Stokowski. Na quarta-feira, 24 de outubro de 1917, Stokowski e a Orquestra da Filadélfia fizeram suas primeiras gravações fonográficas. Eram as Danças Húngaras Brahms número 5 e 6, orquestradas por Albert Parlow. Estes foram os primeiros de mais de 450 lados de gravações acústicas em 78 RPM que Stokowski e a Orquestra fizeram para Victor. As gravações de Stokowski e da Orquestra da Filadélfia foram as primeiras gravações de Victor de uma orquestra sinfônica completa. To be continued…..A capa deste disco é o retrato mais estranho de Stokowski que eu já vi. Foi feito em 1934 por Dorothy Brett. Ela chamou de “Invocação”. Stokowski parece em êxtase como se estivesse participando de um encontro de terceiro grau ou algo parecido (mais apropriado para a capa da revista UFO), porém, contudo, no entanto, se você necessita de algum tipo de prova mostrando que Stokowski atingiu seu ápice sonoro através de algum tipo de poder oculto, este é o retrato certo. Confesso que gostei um “cadinho”, é estranho, mas charmoso.

Leopold Stokowski era um organista antes de ser um maestro e Bach era seu compositor favorito. Portanto, não é de surpreender que, ao longo de sua carreira como regente, Stokowski tenha escolhido transcrever muitas das composições de Bach para orquestra. Criando uma tendência que ficou muito popular: a de maestros transcreverem obras para grande orquestra, na maioria das vezes o pessoal do barroco soa como Tchaikovsky, desvirtuando totalmente do original. Virou modismo na época. Inicialmente, alguns críticos sentiram que Stokowski estava profanando a música de Bach. Mas, ao longo dos anos, as notáveis transcrições de Bach de Stokowski ganharam considerável respeito e vários outros maestros agora as executam. Mas ninguém fez essas transcrições com tanto conhecimento como Stokowski, as gravações deste ábum ilustram brilhantemente. Ouvindo essas peças, você reconhece que o maestro manjava muito das obras para órgão e com criatividade as reescreveu. Este foi o instrumento original de Stokowski quando ele migrou para os Estados Unidos. Naqueles primeiros anos ele frequentemente transcrevia música orquestral para o órgão. Quando veio fazer o contrário, Stokowski criou um som parecido com um órgão só que para orquestra.

Stokowski e a moçada da AAYO em 1941

O que é realmente surpreendente sobre este disco é que, em pouco tempo, Stokowski transformou este jovem conjunto em uma orquestra profissional a “All-American Youth Orchestra” (“Lado A” e Faixa 17 do “Lado B”). Ao longo dos anos, esse período na carreira de Stokowski foi lamentavelmente negligenciado. Stoki gravou a maioria dessas peças no início dos anos 1930, a Orquestra Juvenil oferece uma ou duas cargas adicionais de adrenalina … bem … o brio da juventude, obviamente respondendo com entusiasmo as indicações do maestro. Apesar de algumas sobrecargas nas passagens do fortíssimo e tutti, as gravações soam notavelmente boas. A conhecida “Toccata e Fuga em Re menor” pode ser ouvida com grau de comprometimento mefistofélico dos músicos. “Ein Feste Burg” soa realmente grandioso. A “Passacaglia e a Fuga”, que conclui o programa, também alcançam uma estatura colossal. Era uma cultura musical mais animada naqueles dias inebriantes da primeira metade do século XX. Assim como no post anterior das transcrições de Wagner o pessoal que curte mais a fidelidade das execuções com instrumentos de época podem não gostar, mas não podemos negar a propriedade e autenticidade das transcrições de Stokowski. As gravações estão divididas em “Lado A” com a sonoridade melhor e “Lado B” com o ruído da matriz as vezes atrapalhando muito. De quebra podemos comparar algumas transcrições de Bach que se tornaram febre entre os maestros e compositores na época. Nas faixas de 18 a 23 são gravações mais modernas e sem ruído, são as transcrições de John Barbirolli (1899-1970) faixas18 e 19, Lucien Caillet (1891-1985) faixa 20, Frederick Stock (1872-1942) faixa 21 e Ottorino Respighi (1879-1936) faixa 22.

Vamos colocar as cartas na mesa, sendo sincerão: este disco é principalmente para os aficionados na arte de Stokowski. Quem gosta do Bach “raiz” pode atirar várias pedras. Mas eu acredito que a música clássica teve relativa popularidade na primeira metade do século XX nos EUA por iniciativas como as que Stokowski fez, alterando o original para agradar as massas.

Lado A
J. S. BACH – Orchestral Transcriptions
All-American Youth Orchestra
Por Leopold Stokowski, gravações feitas entre 1931 – 1950

1 – Toccata and Fugue in D Minor
2 – Ein’ feste Burg
3 – Schmelli Song Book BWV 487: Mein Jesu
4 – Little Fugue in G Minor BWV 578
5 – Schmelli Song Book BWV 478: Komm susser Tod
6 – Orchestral Suite No. 3 BWV 1068: Air on the G String
7 – Violin Partita No. 3 BWV 1006: Preludio in E
8 – Cantata No. 156: Arioso
9 – The Well-Tempered Clavier: Prelude in E-Flat Minor
10 – Violin Sonata No. 3 BWV 1003: Andante Sostenuto
11 – Passacaglia and Fugue in C Minor BWV 582

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Lado B
J. S. BACH – Orchestral Transcriptions

Por Leopold Stokowski, gravações Victor 78rpm (faixas 1 a 17)
1 – Chaconne
The Philadelphia Orchestra
Recorded November 30, 1934

2 – Chorale Prelude, “Nun komm der Heiden Heilend”
The Philadelphia Orchestra
Recorded April 7, 1934

3 – Adagio from Toccata in C Minor
The Philadelphia Orchestra
Recorded October 28, 1933

4 – Siciliano (From C Minor Sonata for Violin and Cembalom)
The Philadelphia Orchestra
Recorded October 28, 1933

5 – Komm Süsser Tod (Come Sweet Death) (From “Geistliche Lieder”)
The Philadelphia Orchestra
Recorded October 28, 1933

6 – Sarabande (From Third English Suite for Piano)
The Philadelphia Orchestra
Recorded April 7, 1934

7 – Passacaglia and Fugue in C Minor
The Philadelphia Orchestra
Recorded November 16, 1936

8 – My Soul is Athirst (From Passion according to St. Matthew)
The Philadelphia Orchestra
Recorded November 28, 1936

9 – My Jesus in Gethsemane
The Philadelphia Orchestra
Recorded November 28, 1936

10 – Chorale from Easter Cantata (No. 4 “Christ lag im Todesbanden”)
The Philadelphia Orchestra
Recorded April 4, 1931

11 – Sarabande (from Partita No. 1, in B Minor)
The Philadelphia Orchestra
Recorded November 16, 1936

12 – Sonata in E-flat Major for Pedal Clavier; First Movement
(No. 1 of Six Sonatas composed for Wilhelm Friedemann Bach)
The Philadelphia Orchestra
Recorded in 1936

13 – PALESTRINA: Adoramus Te
The Philadelphia Orchestra
Recorded November 12, 1934

14 – Ich ruf’ zu Dir, Herr Jesu Christ (Chorale Prelude)
The Philadelphia Orchestra
Recorded in November 27, 1939

15 – Prelude and Fugue in E Minor (No. 3 of Acht kleine Praeludium und Fugen, for Organ)
The Philadelphia Orchestra
Recorded in December 12, 1937

16 – St. John Passion: No. 58, Es ist Vollbracht (All is Fullfilled)
The Philadelphia Orchestra
Recorded in October 22, 1934

17 – Passacaglia and Fugue in C Minor
The All-American Orchestra
Recorded July 4, 1941

Por JOHN BARBIROLLI, gravações Columbia 78rpm (faixas 18 e 19)
18 – Sheep May Safely Graze (From “The Birthday Cantata”)
New York Philhamonic
John Barbirolli, conductor
Recorded November 16, 1940

Por DIMITRI MITROPOULOS, gravações Columbia 78rpm (faixa 19)
19 – Fantasia and Fugue in G Minor (Peters Vol. II, No. 4)
Minneapolis Symphony Orchestra
Dimitri Mitropoulos, conductor
Recorded in 1942

Por LUCIEN CAILLET gravações Columbia 78rpm (faixa 20)
20 – Fugue in G Minor
Pittsburgh Symphony Orchestra
Fritz Reiner, conductor
Recorded in 1946

Por FREDERICK STOCK gravações Victor 78rpm (faixa 21)
21 – Prelude and Fugue in E-flat Major (St. Anne)
Chicago Symphony Orchestra
Frederick Stock, conductor
Recorded Dec. 22, 1941

Por HERMAN BOESSENROTH gravações Columbia 78rpm (faixa 22)
22 – Chorale-Prelude, “Wir glauben all’ an einen Gott” (Peters Vol. VII, No. 60)
Minneapolis Symphony Orchestra
Dimitri Mitropoulos, conductor

Por OTTORINO RESPIGHI gravações Victor 78rpm (faixa 23):
23 – Passacaglia and Fugue in C Minor
San Francisco Symphony Orchestra
Pierre Monteux, conductor
Recorded in 1949

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A cara das transcrições

Beethoven (1770-1827): Sinfonia No. 5 / Schubert (1797-1828): Sinfonia No. 8 “Inacabada” – Leopold Stokowski

Beethoven (1770-1827): Sinfonia No. 5 / Schubert (1797-1828): Sinfonia No. 8 “Inacabada” – Leopold Stokowski

Pessoal, depois de um tempão volto a postar algumas grandes gravações do imenso maestro Leopold Stokowski (1882 – 1977). Nesta quarta parte da mini biografia compreende intenso período na carreira do maestro que vai de 1923 até 1940. No início dos anos vinte Leopold se separou de Olga Samaroff e logo se casou novamente, e desta vez com Evangeline Brewster Johnson, filha e herdeira de Robert Wood Johnson, co-fundador da empresa farmacêutica Johnson & Johnson. Ele renovou a orquestra da Filadélfia para poder se expandir para o balé e a ópera. Carismático conseguiu arrecadar fundos e pressionou a oposição do Conselho da Orquestra da Filadélfia e alguns de seus partidários para montar produções do drama musical de Schoenberg “Die glückliche Hand opus 18”, e uma produção de ballet completo de “Le Sacre du Printemps” de Stravinsky em 1930. As três apresentações, com lotação total, dessas duas obras na Filadélfia e na cidade de Nova York esgotaram-se, justificando a aposta de Stokowski de que teriam sucesso. Com muita moral (e dólares) Stokowski alcançou em 1936 um dos objetivos que procurava há pelo menos uma década: o Conselho da Associação de Orquestra concordou com uma excursão transcontinental da Orquestra da Filadélfia. Isso seria financiado pela RCA Victor Records, e incluiria 33 shows em 27 cidades ao longo de 35 dias.

No final dos anos 30, Stokowski levou ao envolvimento da Orquestra da Filadélfia no histórico filme “Fantasia” de Walt Disney. Um encontro casual com Walt Disney resultou em um jantar no “Chasen’s Restaurant” em Hollywood em 1938. Disney delineou seus planos para fazer “O Aprendiz de Feiticeiro” e outros projetos combinando música clássica com animação. Disney ficou surpreso quando o maestro respondeu “Eu gostaria de fazer estre trabalho com você…”. Ter o proeminente maestro voluntário para o projeto era uma oportunidade que a Disney não podia deixar passar. O projeto foi expandido em vários curtas que seriam combinados no “Concert Feature”. Enquanto considerava vários títulos melhores para o projeto, foi o próprio Stokowski que sugeriu o termo musical “fantasia” – um título perfeito para um filme só com música e sem enredo (O Mestre Aviccena já postou AQUI).
Estas gravações tiveram algumas dificuldades técnicas quanto à sincronização, mas Stokowski as aprovou e elas foram usadas no filme final. No entanto, Walt Disney decidiu que o curta-metragem “The Sorcerer’s Apprentice” precisava ser expandido para um filme completo, a fim de ser financeiramente viável. Depois de discutir seleções musicais adicionadas com Stokowski, Disney garantiu os direitos de “Le Sacre du Printemps” em abril de 1938. Em dezembro de 1939, Stravinsky visitou os estúdios da Disney e, embora anos depois tenha sido crítico de “Fantasia”, Stravinsky, na época, parecia favorável. Mais tarde, houve mais críticas às escolhas musicais de Stokowski e Disney, particularmente na edição da música. Por exemplo, a Sinfonia Pastoral de Beethoven foi cortada em 22 minutos. “Fantasia” foi estreada em 1940. Foi amplamente vendido em DVD, em várias versões restauradas. Esta estadia em Hollywood foi tão ativa e produtiva que em março de 1938, Leopold Stokowski e Greta Garbo passaram férias juntinhos na ilha de Capri, na Itália . Será que ele pegou a Greta ? O resultado, claro, foi o divórcio com a herdeira da Johnson & Johnson.
To be continued…..

Beethoven – Sinfonia No. 5
O que dizer da quinta de Beethoven que já não estamos cansados de saber…. Bom ele terminou a composição no início de 1808. A “Quinta Sinfonia” foi executada, pela primeira vez, no dia 22 de dezembro de 1808, no “Theater an der Wien”, por um grupo de músicos angariados para o concerto, sob a regência do próprio Beethoven. Um ouvinte de hoje transportado para a Viena da época se assustaria com a precariedade dos concertos. Viena não tinha orquestras permanentes nem salas de concerto. Os concertos eram realizados nos palácios dos príncipes ou nos teatros, geralmente com acústica precária. Os músicos eram contratados para ocasiões específicas e geralmente executavam as obras com pouquíssimos ensaios, já que os cachês eram, na maioria das vezes, insuficientes para um trabalho artístico detalhado. Um típico concerto do início do século XIX consistia de uma abertura, um concerto, uma sinfonia, árias e cenas de ópera e uma improvisação do solista. O concerto que Beethoven deu naquele dia, além de muito longo, mesmo para os padrões da época, foi longe de ser perfeito. Nele foram estreadas a “Quinta e a Sexta Sinfonias”, a “Fantasia Coral”; o “Concerto para piano nº 4” que também foram executados em público pela primeira vez; quanto à ária de concerto “Ah! Perfido” e movimentos da “Missa em Dó maior” tiveram naquela oportunidade sua primeira execução em Viena; Beethoven ainda se sentou ao piano para uma série de improvisações. Embora o público estivesse acostumado a concertos longos, o concerto de estreia da “Quinta Sinfonia” durou intermináveis quatro horas, em um teatro com sistema de aquecimento estragado. Beethoven havia requisitado o teatro durante todo o ano e lhe deram apenas uma noite morta, três dias antes do Natal. Foi uma noite longa de inverno para o público vienense, que assistiu a um concerto das 18h30 às 22h30 com obras modernas de um compositor ainda pouco conhecido, executadas por uma orquestra que não havia ensaiado suficientemente. O compositor Johann Reichardt, que estava presente ao concerto, escreveu: “O pobre Beethoven, que finalmente realizava seu próprio concerto e conseguia seu primeiro e único pequeno lucro de todo o ano, recebeu, nos ensaios e na apresentação, apenas oposição e praticamente nenhum suporte. Os cantores e a orquestra, compostos dos elementos mais heterogêneos, não conseguiram realizar um único ensaio completo das peças apresentadas.”

Schubert – Sinfonia No. 8 “Inacabada”
Esta sinfonia é a mais romântica de todas as sinfonias de Schubert. Foi escrita em outubro de 1822, mais ou menos na mesma época em que o compositor foi diagnosticado com sífilis, mais impressionante ainda, e totalmente consistente com o silêncio de Schubert sobre o assunto, ele nos dá um pouco de sua música mais pessoal, angustiada e intimista – música de natureza nunca antes associada com o meio muito ‘popular’ da sinfonia. Esta situação é inteiramente consistente com a escuridão, pungência e violentas erupções de protestos angustiados que caracterizam ambos os movimentos da Sinfonia “Inacabada”. Qualquer que seja a explicação, os dois movimentos concluídos complementam-se perfeitamente e, juntos, constituem uma das supremos obras-primas da história da música. Esta é outra obra que para mim traz uma grande recordação: no início dos anos 80, ainda criança, eu via meu pai chegar do trabalho toda sexta feira e colocar exatamente este LP para ouvir a oitava de Schubert, se deitava no tapete da sala ao lado da “Radio Vitrola Valvulada Telefunken” fechava os olhos e entrava numa espécie de transe. Acabava a música ele se levantava e ia tomar banho. Quem viveu aquela época sabe da grande recessão que o Brasil passava. Ele trabalhava numa grande montadora de veículos que tinha cerca de 30.000 funcionários e deveria reduzir o quadro à metade até o fim do ano. Depois mais calmo ele contava as histórias para minha mãe como esta: “… hoje vi vários amigos e pais de família chorando desesperados após serem mandados embora…”. Esta música acalmava o que chamamos hoje de stress (mas na época ele chegava era puto mesmo).

Acredito que a interpretação deste Beethoven do Stoki é bastante tradicional, mas o Schubert é muito tenso e dramático, espetacular, ambos gravados em setembro de 1969 no Walthamstow Assembly Hall, Londres, com a London Philharmonic Orchestra. Stokowski tinha 87 anos na época da gravação, idoso, mas com controle total dos seus movimentos, seus olhos e as mãos mágicas sem a batuta, transmitindo suas emoções para a orquestra. É interessante ver seu arranjo e sua técnica para criar o “Som Stokowski”. O desempenho destas sinfonias é impecável.

Deleitem-se amigos !

Beethoven – Sinfonia No. 5
1 – Allegro Con Brio
2 – Andante Con Moto
3 – Allegro
4 – Allegro

Schubert – Sinfonia No. 8 “Inacabada”
5 – Allegro Moderato
6 – Andante Con Moto

London Philharmonic Orchestra
Leopold Stokowski
Recorded: 9 and 10 September 1969
Recording Venue: Walthamstow Assembly Hall, London

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E ai Greta, bora para a praia ?

Ammiratore

Cláudio Santoro (1919-1989): Sinfonia n.º 6 (1958). Radamés Gnattali (1906-1988): Sinfonia Popular n.º 1 (1956)

Cláudio Santoro (1919-1989): Sinfonia n.º 6 (1958). Radamés Gnattali (1906-1988): Sinfonia Popular n.º 1 (1956)

100 anos atrás, no dia 23/11/1919, nascia em Manaus o compositor e maestro Claudio Santoro!

Em homenagem, subo novamente esta excelente performance da OSB, na época em que tinha músicos do quilate da flautista Odette Ernest Dias (ainda em atividade!), do fagotista Noel Devos (1929-2018) e recebia maestros convidados como o próprio Santoro. As madeiras são um destaque nessas duas sinfonias brasileiras. As notas da contracapa do disco, porém, não são do mesmo nível da orquestra: falam que a sinfonia de Santoro tem movimentos “que se tornam sucessivamente acelerados”, quando na verdade a ordem é a mais tradicional possível: I allegro, II lento, III allegro com humor, IV allegro serioso. Santoro e Gnattali seguem essa ordem bastante comum mas os temas e orquestrações não têm nada de comum. Fiquem com a postagem original do Ranulfus, em que ele descreve duas das melhores sinfonias brasileiras. Achei uma nova digitalização, com menos chiados do LP, recomendo que baixem as duas e façam suas comparações!

Faz poucos dias (27/07) postei uma digitalização feita em casa do Concerto para dois violões, oboé e cordas de Radamés Gnattali, e aí resolvi aproveitar o embalo e digitalizar a obra de mais peso que tenho desse compositor: a Sinfonia Popular, de 1956.

Por umas conversas com o CVL fiquei com a impressão de que ele compôs toda uma série de peças sob esse nome, mas no disco esta aparece sem número, então suspeito que seja a primeira. [Depois da postagem, o leitor Vinícius confirmou e deu a data de composição das demais: 1969 (2ª e 3ª – me parece interessante que bem no ano de lançamento deste disco!), 1974-75 (4ª) e 1983 (5ª). Valeu, Vinícius!]

A edição é do antológico selo Festa, que se empenhou em documentar a produção brasileira de concerto dos anos 50 e 60. Foi lançado em 1969, infelizmente ainda em mono – o que reduz drasticamente a percepção das vozes internas da massa sonora. A execução é da Sinfônica Brasileira (OSB) sobre regência do Cláudio Santoro, autor da sinfonia do outro lado.

Nascido em Porto Alegre, Radamés Gnattali (‘nhátali’) viveu principalmente no Rio, onde suscedeu Pixinguinha como arranjador da orquestra da gravadora Victor. Vocês vão reparar: o espírito do rádio brasileiro em meados do século 20 deve demais à sonoridade da orquestração de Gnattali.

Não vou me aprofundar em análises, só quero dizer que gosto muito dos seus trechos em contraponto (fugatos), que mostram que sabia mais que manejar massas espetaculosas para levantar cantores. E que me parece notável o seu movimento lento (Estensivo con fantasia), inteiramente baseado no pregão baiano “Olhe a flor da noite”. Até estranho que não tenha virado um standard.

Se o gaúcho Gnattali foi o mais popular e midiático dos nossos sinfonistas, talvez o amazonense Cláudio Santoro tenha sido o mais erudito e tecnicamente refinado dos nossos compositores. Sei que o CVL lhe tem fortes ressalvas, mas ainda não tive chance de aprofundar a conversa.

Talvez tenha a ver com o fato de Santoro ser vários compositores em um: nos anos 40 adotou a técnica dodecafônica, cujos resultados na maior parte – confesso – ainda hoje me parecem duros de ouvir e não sei se um dia serão menos. Mas, comunista militante, a partir de 1948 opta pelos caminhos do “realismo socialista”, voltando porém aos caminhos experimentais nos anos 60 e 70. Foi nosso compositor de sinfonias mais prolífico, sendo a primeira de 1940 e a décima-quarta de 1989, seu último ano de vida.

A Sexta Sinfonia, regida aqui pelo autor, é de 1958 e usa material temático caracteristicamente brasileiro – porém de modo muito menos óbvio e infinitamente mais complexo que o de Gnattali (não estou dizendo que melhor… nem pior!). Além disso, em vários momentos me recorda Shostakóvitch – não sei se vocês vão concordar.

Como já respondi a um leitor no outro post, fora esta sinfonia tenho pouquíssima coisa de Santoro, sobretudo peças curtas, em discos que já planejava digitalizar e postar ao longo dos próximos um ou dois semestres – mas para quem quiser ver outras coisas, e logo, há um volume considerável de obras suas no blog Música Brasileira de Concerto (agora linkado também na coluna ao lado) .

Radamés Gnattali: Sinfonia Popular [n.º 1] (1956)
01 Allegro moderato 6:07
02 Estensivo con fantasia 6:44
03 Con spirito 5:11
04 Allegro 6:03

Cláudio Santoro: Sinfonia n.º 6 (1958)
05 Allegro grazioso e vivo 4:27
06 Andante molto 5:29
07 Allegro vivo 2:40
08 Allegro deciso – final 6:10

Orquestra Sinfônica Brasileira regida por Cláudio Santoro

BAIXE AQUI VERSÃO 1 – download here
Digitalizado por Prosper Alpanus, som com menos chiados do vinil

BAIXE AQUI VERSÃO 2 – download here
Gravação em vinil (mono): Festa, 1969
Digitalizado por Ranulfus em jul.2010, com mais chiados mas talvez com menos perda de qualidade sonora

Maestro Radamés
Maestro Santoro

Ranulfus

John Williams (1932): Across the Stars – Anne-Sophie Mutter

John Williams (1932): Across the Stars – Anne-Sophie Mutter

Este excelente álbum que ora compartilho com os amigos do PQPBach, Across the Stars, é o resultado da colaboração de duas divindades musicais, a violinista Anne-Sophie Mutter (1963) e o compositor John Williams (1932). A origem exata desta colaboração não é clara, mas a gênese do projeto começou despretensiosamente quando Mutter foi apresentada a Williams pelo o maestro Andre Previn (1929 – 2019). Uma semente foi plantada e o que originalmente não passaria de alguns arranjos, no entanto, floresceu. Os ótimos frutos estão neste espetacular CD e o que temos é um conjunto de pequenas peças de concerto para violino e orquestra solo, são arranjos da música cinematográfica de Williams reescritos sob medida para o violino da talentosa Anne-Sophie. O álbum é apaixonadamente construído e divertido de ouvir. São peças ótimas que mostram tanto Williams quanto Mutter no seu melhor. A The Recording Arts Orchestra of Los Angeles também está no seu melhor, acompanhando equilibradamente a incrível Anne-Sophie. A faixa “Luke and Leia” é emocionante. Outro tema bem legal é o “ Hedwig’s Theme ”dos filmes da franquia de Harry Potter, John e Mutter descrevem a música como “Harry Potter se encontra com Paginini”. O que dizer da Lista de Schindler? Mutter está simplesmente maravilhosa e a vontade com seu querido Stradivarius !!!

Se fecharmos os olhos, desligando a percepção de que são temas de cinema, as peças formam um adorável “concertino”.

A sinergia entre os dois podem ser lidas na página da Mutter e transcrevi algumas frases: “Existe apenas um John Williams”, disse Anne-Sophie Mutter. “O que ele escreve é extraordinário. Toda vez que vou a um de seus filmes e há violino ou violoncelo, eu penso que gostaria de tocar estas músicas! E agora tenho suas maravilhosas transcrições de todos esses temas icônicos.” John Williams escreve que Mutter “não é alguém a quem você diz não” e acrescenta : “Trabalhar com Anne-Sophie nesta gravação foi pura inspiração. Ela trouxe uma grande vibração a esses temas que todos os fãs de cinema conhecem, a sua interpretação tem sido uma grande alegria para mim como compositor.”

Vale a pena entrar no site da Anne-Sophie Mutter e ver as entrevistas CLIQUE AQUI

Um CD agradável de ouvir !

Across the Stars
1. Rey’s Theme – from STAR WARS: THE FORCE AWAKENS
2. Yoda’s Theme – from STAR WARS: THE EMPIRE STRIKES BACK
3. Hedwig’s Theme – from HARRY POTTER AND THE PHILOSOPHER’S STONE
4. Across the Stars (Love Theme) – from STAR WARS: ATTACK OF THE CLONES
5. Donnybrook Fair – from FAR AND AWAY
6. Sayuri’s Theme – from MEMOIRS OF A GEISHA
7. Night Journeys – from DRACULA
8. Theme – from SABRINA
9. The Duel – from THE ADVENTURES OF TINTIN: THE SECRET OF THE UNICORN
10. Luke and Leia – from STAR WARS: RETURN OF THE JEDI
11. Nice to Be Around – from CINDERELLA LIBERTY
12. Theme – from SCHINDLER’S LIST

Anne-Sophie Mutter, violino
The Recording Arts Orchestra of Los Angeles
John Williams

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Turminha talentosa fazendo pose na sala de ensaios do PQP

Ammiratore

.:interlúdio:. Andrew Lloyd Webber (1948): VARIATIONS (1978)

.:interlúdio:. Andrew Lloyd Webber (1948): VARIATIONS (1978)

Se eu dissesse “Andrew Lloyd Webber é um dos principais compositores ingleses do fim do século 20”, não duvido que alguém dissesse: “ah, mas ele é um compositor de musicais, não de música séria”.

Bom, a palavra “compositor” significa apenas que o sujeito compõe, não contém em si nenhuma obrigação de que o objeto composto seja isto ou aquilo, e não dá pra negar que esse sujeito vem compondo uma quantidade enorme de música desde 1965 – e música que não me parece pior que a de um monte de compositores admitidos no cânone convencional do “sério”. E confesso que gosto bastante deste divertimento puramente instrumental que ele compôs em 1977 – uma exceção numa obra onde a palavra e a voz são praticamente onipresentes.

Vocês sabem de quem eu estou falando, né? Do sujeito que em 1970 estourou com Jesus Christ Superstar, que pretendia ser a “primeira ópera rock” — mas a Tommy da banda The Who acabou saindo antes (além de ser, talvez, mais legitimamente rock). De um modo ou de outro, JC Superstar ficou dez anos contínuos em cartaz em Londres; nesse meio tempo virou filme (1973), logo depois do que o Andrew atacou de Evita (1976), Cats (1981), e mais tarde The Phantom of the Opera, Sunset Boulevard etc. etc.

No meio disso tudo, esta peça puramente instrumental teria sido composta para… pagar uma aposta de futebol perdida para o seu irmão Julian Lloyd Webber, cellista clássico.

A prenda exigida por Julian foi justamente que Andrew compusesse uma peça para cello e banda de rock… mas é bom não esquecer que isso foi em tempos em que a palavra “rock” estava significando sobretudo a experimentação de emprego dos primeiros sintetizadores (Moog, Arp etc.) por grupos como Pink Floyd ou com pretensões classicizantes como Emerson Lake & Palmer.

Enfim, não sei por quê, Andrew resolveu repetir a seu modo um argumento (digamos assim) de Rachmaninoff: compor um conjunto de 24 variações sobre o tema do Capricho para violino nº 24 de Paganini. No caso de Rachmaninoff saiu a Rapsódia sobre um Tema de Paganini op.43 (1934), para piano e orquestra. Andrew também fez uma introdução, apresentou o tema, mas acrescentou só 23 variações… entremeadas com algumas variações de suas próprias variações.

Que rótulo caberia nessa música? Sei lá, o que menos me interessa são rótulos… O fato é que as tais variações correram mundo — tanto que mesmo se nunca tiver ouvido falar delas com certeza reconhecerá trechos.

Além disso, em 1990 gravou-se uma versão para cello e orquestra, novamente com Julian no solo, e com Lorin Maazel, nada menos, regendo a London Philharmonic Orchestra — num disco que inclui ainda uma peça do pai de Andrew, o também compositor William Lloyd Webber. Mas esse disco eu nunca ouvi, não posso dizer nada a não ser que existe…

A propósito, já falei demais, né? Vamos logo à música:

Andrew Lloyd Webber: VARIATIONS (1978)
para cello solo e banda de rock

Introduction
Theme (Paganini Caprice in A minor No. 24) and Variations 1-4
Variations 5 and 6
Variation 7
Variation 8
Variation 9
Variation 10
Variations 11-15 (including the Tributes)
Variation 16
Variations 13-14 Varied (listed as 14-15)
Variation 17
Variation 18
Variations 19, 20 and 5 Varied (listed as 6)
Variations 21 and 22
Variation 23

Julian Lloyd Webber – cello
Don Airey – Grand Piano, ARP Odyssey, Minimoog, Solina String Ensemble,
Fender Rhodes Piano
Rod Argent – Grand Piano, Minimog, Roland RS-202, Yamaha CS-80
Gary Moore – Gibson Les Paul, Rickenbacker electric 12 string Guitar,
Guild acoustic, Fender Stratocaster
Barbara Thompson – Flute, Alto Flute, Alto & Tenor Saxophone
Jon Hiseman – Arbiter Auto-Tune drums, Paiste cymbals & gongs, Percussion
John Mole – Fender Precision Bass, Hayman fretless bass guitar
Additional performers: Dave Caddick, Phil Collins, Herbie Flowers,
Bill Le Sage, Andrew Lloyd Webber

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Andrew Lloyd Webber: heavy metal, pero no mucho

Ranulfus

Richard Strauss (1864-1949): Salomé, Op. 54

Richard Strauss (1864-1949): Salomé, Op. 54

Uma das grandes óperas – definitivamente aqui no pqpbach. Salomé é uma escuta obrigatória, uma mistura irresistível de religião, sexo, decadência, exotismo e crueldade que até Cecil B. DeMille poderia ter invejado. Na minha opinião, essa é a maior obra-prima de Strauss. Salomé mudou a paisagem musical para sempre quando apareceu nos primeiros anos do século XX. Deixando atrás de si um considerável número de poemas sinfônicos, Richard Strauss (1864 – 1949) voltou-se, uma vez mais, para o campo operístico, em 1903, a fim de escrever um dos seus espetáculos líricos mais escandalosos – Salomé -, partitura que concluiu em 1905. Baseando-se em texto de Oscar Wide – conhecido por suas obras carregadas de simbolismo -, Strauss concebeu um espetáculo revolucionário, que soa moderno ainda hoje. O avanço máximo do compositor em direção à música do século XX: violência da orquestra, ousadias harmônicas, exploração de toda a extensão das vozes, tema sombrio e trágico. A Obra de Strauss que mais influenciou os contemporâneos Bartók, Prokofiev e Berg.

Baseada na genial criação de Wilde. Nesta ópera Strauss conseguiu despejar uma ansiedade poderosa, mais dramática, que tira a respiração; em 90 minutos, desenrola-se um único ato, uma tragédia de sombria paixão. Salomé provocava em 9 de dezembro de 1905 dia da estreia em Dresden, Alemanha, uma tempestade de opiniões; apesar do frio de inverno que fazia nas ruas de Dresden em dezembro de 1905, o público que compareceu à ópera da cidade deve ter sentido até calor, com tudo o que viu e ouviu tão logo as cortinas se abriram para a encenação da nova peça de Richard Strauss.

Gustave Moreau

O cenário mostrava um palácio real oriental dos tempos de Jesus Cristo. João Batista, um dos personagens, era prisioneiro do rei Herodes em um lúgubre cárcere subterrâneo. Salomé, filha adotiva de Herodes, apaixona-se por João, jogando-se intempestivamente em seus braços, mas sendo por ele bruscamente repelida. Vendo que seus encantos não surtem resultado, exige a morte do profeta; Salomé dança então a “dança dos sete véus” e, ao deixar cair o último dos véus, provoca em Herodes um entusiasmo sem precedentes. O poderoso rei pergunta então a ela qual das suas vontades deve ser satisfeita: “O que você quer, Salomé?” – “Quero a cabeça de João Batista”, responde ela. No final, o rei acabou cedendo e o público de Dresden presenciou uma das cenas mais horrendas já representadas em uma ópera até então: Salomé travando com a cabeça decepada de seu amado um longo, louco e desesperado “diálogo”. Ela debocha de João Batista morto. Um vento sinistro se ergue sôbre o quente deserto noturno, e a lua se esconde por trás de nuvens tormentosas, enquanto Salomé mantém um diálogo com os olhos mortos do profeta … “O segrêdo do amor é maior que o segrêdo da morte …” , implora por seu olhar, sua atenção e termina fazendo amor e beijando os lábios ensanguentados daquele que veio preparar a vinda de Cristo. Repugnado, Herodes ordena que matassem também Salomé.

O público, entusiasmado, aplaudiu freneticamente o espetáculo, fazendo com que os cantores e atores voltassem 36 vezes ao palco. Escândalo, decadência e perversão eram exatamente os temas cultuados naquele “fin de siècle”, capaz de agradar uma plateia que dá valor a encenações de vanguarda. Strauss excede aqui a sensualidade da música de “Tristão”, a paixão de “Carmen”, e acrescenta um elemento demoníaco jamais ouvido, que gela o sangue nas veias. Iluminam-se com a linguagem musical abismos de alma que, aproximadamente na mesma época, são investigados pela jovem escola psicanalítica.

A primeira Salomé Maud Allan

Sua representação de uma adolescente cujo despertar sexual leva à obsessão e à necrofilia fez o nome de Strauss como compositor de ópera. O interesse de Strauss pela peça foi despertado em 1902, quando Anton Lindner, um poeta austríaco, enviou-lhe uma cópia, juntamente com um libreto parcialmente redigido. Strauss, preferindo a tradução alemã padrão do original de Wilde, rejeitou o pedido do poeta para uma colaboração, mas imediatamente começou a elaborar um libreto próprio. O elenco inicialmente protestou que a música não era indetectável. Então a Salomé original – a esposa do burgomestre de Dresden – recusou-se a cooperar por razões morais, apenas recuando quando Strauss ameaçou levar a estreia para outro lugar. A ópera se deparou com problemas de censura em Viena, Londres e Nova York.

O poder da ópera deriva da capacidade de Strauss de entrar no mundo emocional de sua heroína, ao mesmo tempo em que capta a monstruosidade inerente de suas ações. O crescente lirismo de grande parte da música, combinado com a própria linha vocal extática de Salomé, identifica sua experiência inequivocamente como “amor”. No entanto, as dissonâncias desgastantes que sustentam o arrebatamento melódico a cada momento são um lembrete da narrativa muitas vezes repulsiva, da qual Strauss nunca nos permite escapar. Salomé continua a ser a história de amor mais alarmante já escrita, e uma das experiências mais extremas que a música clássica tem a oferecer.

Resumo – Salomé (Cross, Milton – As Famosas Óperas)
Libreto de Hedwig Lachmann
Baseado no poema dramático de Oscar Wilde – “Salomé”

Fortemente influenciado por Wagner, Strauss usa a técnica do motivo condutor, identificando os principais motivos do drama com uma característica frase musical, e também o método da superposição da linha vocal num fluxo ininterrupto de acompanhamento orquestral. Toda a ação de “Salomé” transcorre em uma única cena. A um lado, a entrada do salão de banquetes do palácio de Herodes. Do outro lado, um maciço portão. No centro do terraço, a boca de um poço grande, a masmorra onde está confinado Jokanaan. É noite, e o terraço está banhado por um pálido luar. De inicio, ouvimos o motivo de Salomé, e depois a voz de Narraboth, que está conversando com um pajem. O capitão dirige um olhar cobiçoso para o salão de banquete, onde Salomé está festejando com Herodes e sua corte, e fica deslumbrado com a beleza dela. O pajem o adverte que não olhe assim tão ardentemente, pois seguramente poderão advir terríveis consequências. Mas o ardente Narraboth não pode deixar de olhar para a Princesa. De repente, das profundezas do poço vem a voz de Jokanaan, repetindo os versos da profecia das Escrituras, “Nach mir wird Einer kommen der ist starker als ich” (“Depois de mim virá outro mais poderoso do que eu”). Alguns soldados se aproximam e conversam sobre o prisioneiro, dizendo que ele é um santo homem e um profeta. Ninguém, entretanto, observa um soldado, consegue entender o significado de suas estranhas palavras.

Logo depois, surge Salomé. Cansada e confusa, diz que não consegue mais suportar o olhar de Herodes ou a brutal orgia dos convidados. O ar frio da noite gradualmente a acalma e, mirando a Lua, descreve suavemente sua casta beleza. A voz de Jokanaan interrompe seu sonho. Irritada, Salomé pergunta aos soldados quem está gritando aquelas palavras tão estranhas, e eles respondem que é o profeta. Narraboth se aproxima, e tenta distrair sua atenção, sugerindo que ela descanse no jardim. Enquanto isso, um escravo informa-a de que Herodes deseja a sua volta à mesa do banquete, mas ela, com imitação, declara que não voltará.
Ignorando o pedido de Narraboth para que ela volte, Salomé continua a interrogar os soldados sobre o prisioneiro. Ela Ihes pergunta se ele é velho, e eles respondem que é um jovem. A Princesa ouve em tenso silêncio quando o implacável Jokanaan faz ouvir outra vez sua voz, e então ela diz que deseja falar ao profeta. Um dos soldados lhe diz que Herodes declarou que ninguém, nem mesmo o Alto Sacerdote, pode falar com o prisioneiro. Não dando qualquer importância a esta advertência, Salomé ordena aos soldados que tragam o profeta à sua presença. Vai até o poço e olha para as suas profundezas escuras. Altiva ela repete a ordem, mas os trêmulos soldados respondem que não podem obedecer.

Sedutoramente aproximando-se de Narraboth, ela tenta fasciná-lo para leva-lo a apoiar seu pedido. Se ele atender aos desejos dela, diz a Princesa com voz ardente, talvez ela lhe atire uma flor, ou lhe dirija um sorriso no dia seguinte quando passar pelo seu posto. Cedendo ao encanto dos pedidos sedutores, Narraboth ordena que o profeta seja trazido ali. Há um interlúdio musical, durante qual a música elabora o expressivo tema da profecia associado com Jokanaan. A cobertura gradeada do poço é removida e surge o profeta, uma majestosa figura num traje rústico de peregrino.

Em tons vibrantes, Jokanaan profere estranhas palavras de imprecação. Salomé, recuando de espanto, pergunta a Narraboth qual o significado das palavras do profeta, mas ele não sabe lhe responder. Depois, o profeta irrompe numa terrível denúncia a Herodiade, acusando-a de ser a encarnação do mal e da depravação, uma mulher cujos pecados mancham o próprio mundo. De início, Salomé fica horrorizada, mas depois fica fascinada, e não consegue desviar os olhos da face dele. Desesperado, Narraboth pede que ela o deixe, mas Salomé apenas responde que precisa olhar mais de perto para o profeta.

Olhando-a com altivo desdém, Jokanaan pergunta aos soldados quem é aquela mulher. Salomé lhe responde que é a filha de Herodiade. O profeta lhe ordena asperamente que saia, mas Salomé, com os olhos fixos no rosto dele, diz que a voz dele é música para seus ouvidos. Quando ele a exorta a ir para o deserto e buscar a redenção, ela responde louvando a beleza de seu corpo. Ela gaba seu cabelo e sua boca, e, então, voluptuosamente, pede-lhe um beijo. Narrabotb, louco de ciúme, se coloca entre Salomé e Jokanaan, e se apunhala. A Princesa nem mesmo olha quando ele cai. Jokanaan pede-lhe que vá buscar o Redentor nas praias da Galiléia, e ajoelhe-se a seus pés para pedir-lhe perdão pelos seus pecados. A única resposta da jovem é uma frenética súplica por um beijo. Apostrofando que ela é amaldiçoada, o profeta se vira, e desce para a masmorra. Quando a grade é recolocada sobre o poço, Salomé olha para as profundezas com uma expressão de feroz triunfo.

Surgem Herodes e Herodiade, seguidos pelos seus embriagados e glutões cortesãos. O Rei se dirige a Salomé, e suas maneiras ardentes traem sua paixão por ela. De maneira decisiva, Herodiade o recrimina por olhar de modo tão ardente a sua enteada. Herodes, não se preocupando com as palavras dela, exclama a Lua é como uma mulher louca desejo. Subitamente, ele escorrega numa poça de sangue e recua ao ver o corpo Narraboth. Um soldado o informa e o capitão se suicidou. Lembrando-se de que o sírio olhava tão ardentemente para Salomé, ordena que o corpo seja levado para fora.

Com o acompanhamento orquestral pintando vivamente o som de um vento cortante, Herodes, cheio de medo, murmura que asas poderosas estão batendo no ar à sua volta. Herodiade, olhando para ele com gélido desprezo, observa que ele parece doente. Recobrando-se, Herodes retruca que é Salomé que tem uma aparência doentia. Lisonjeador, ele convida a Princesa a comer e beber em sua companhia, mas ela delicadamente recusa. Herodiade exulta por causa da decepção do Rei por ter sido desprezado.

Das profundezas da masmorra vem a voz de Jokanaan advertindo que a hora está próxima, enquanto Herodiade, com fúria, ordena aos soldados que o calem. Quando Herodes protesta, ela zomba dele, dizendo que o rei tem medo do profeta, que ele deveria ser entregue aos judeus. Os cinco judeus, então, se aproximam, e pedem que Jokanaan Ihes seja entregue. Bruscamente, Herodes recusa, dizendo que o prisioneiro é um santo homem que viu a Deus. Enquanto isso, os judeus denunciam veemente Jokanaan como um blasfemo, protestando que ninguém, desde Elias, viu a Deus. Herodes os contradiz, seguindo-se uma longa e envolvente discussão teológica. Ela é construída por um coro marcantemente dramático.

No seu clímax, irrompe a voz de Jokanaan profetizando a vinda do Salvador. Dois nazarenos começam a discutir alguns dos milagres que foram realizados pelo seu misterioso líder, um dos mais notáveis foi a ressurreição de um morto. Nesse ponto, Herodes fica alarmado, e então, agitado, declara que aquele terrível milagre será proibido por decreto real. Jokanaan prediz agora o fim trágico de Herodiade, e o dia terrível do ajuste de contas que dentro em breve raiará para os reis da Terra. Louco de raiva, Herodiade ordena que seu acusador seja silenciado.

Maud Allan Danca dos sete véus

Herodes, que está olhando ardentemente para Salomé, pede-lhe que dance para ele. A Rainba a proíbe de dançar, e Salomé hesita. O Rei, entretanto, pede-lhe, e procura tentá-la, oferecendo- lhe dar qualquer coisa que ela peça. A despeito dos furiosos protestos de Herodiade, Salomé concorda, mas primeiro força Herodes a jurar que ele fará o que ela desejar. Com o sinistro tema do vento cortante soando outra vez na orquestra, Herodes, com voz trêmula, diz que ouviu o som de asas. Seus temores crescentes o levam a um paroxismo, e ele arranca a coroa de rosas de sua cabeça, gritando que elas estão queimando como uma coroa de fogo. Cai para trás exausto. A voz de Jokanaan, repetindo sua sombria profecia da perdição, continua como uma torrente incansável. Nesse ínterim, escravos preparam Salomé para sua dança, e então ela leva a cabo a “Dança dos Sete Véus”. (Em algumas produções, ela é realizada por uma dançarina em lugar da cantora).

Após seu selvagem clímax, ela para, por um momento, como encantada, na boca do poço, e depois se arremessa aos pés de Herodes. Em ardente êxtase, ele lhe pede que expresse seu desejo. Uma simples nota muito aguda é tocada pelas cordas quando Salomé começa a falar. Com venenosa doçura, ela pede a cabeça de Jokanaan numa bandeja de prata.

Herodes grita com incrível terror, enquanto Herdiade aplaude sua filha como sua digna representante. Aterrado, Herodes lhe oferece suas joias preciosas, seus pavões, o manto do Alto Sacerdote, o véu do santuário, suplicando-lhe que não peça a cabeça do santo homem de Deus. Salomé está irredutível, e com selvagem intensidade repete seu pedido. Abatido pelo medo e desespero, Herodes cai para trás na cadeira, como se tivesse desmaiado. Rapidamente, Herodiade tira do dedo dele o anel da execução, e o dá a um soldado, que o entrega a um carrasco. Herodes volta a si, verifica que o anel foi retirado de seu deda e diz que sua retirada provocará terrível desgraça.

Debruçada sobre o poço, Salomé observa o carrasco descer, e depois ouve atentamente. Quando ela não escuta nada, furiosamente ordena ao carrasco que cumpra sua tarefa, amaldiçoando-o pelo atraso. Através da escuridão, surge subitamente o braço do carrasco emergindo do poço, segurando a bandeja com a cabeça decapitada. Segurando-a, Salomé inicia sua terrível canção de paixão sensual frustrada, “Ah! Duwolltest mich nicht deinem Mund kussen lassen!” Em vida, ele não deixou que ela lhe beijasse na boca, ela grita, mas agora vai beijá-la. 0s olhos que a miravam com ódio estão fechados para sempre, e a língua que tão altivamente a denunciava está silenciosa. Mas ela ainda vive, exulta Salomé, e depois, acariciando a cabeça, outra vez louva o corpo de Jokanaan.

Herodes, louco de terror diante daquela monstruosa visão, volta-se para sair. Salomé murmura que agora, afinal ela beijou a boca do profeta. O tem um gosto amargo, confessa. Em louca exaltação, grita outra vez que beijou a boca de Jokanaan, e neste momento um raio de luar atravessa as nuvens, e a ilumina. Herodes se volta, olha-a com terrível horror, e então ordena que seus soldados a matem. Eles esmagam Salomé sob seus escudos. Cai o pano.

Pessoal, abrem-se as cortinas e preparem-se para se deliciar com as interpretações de Salomé. São gravações incríveis !!!!!

Jessye Norman é uma Salomé impressionante, uma artista fantástica. Ela tem um grande poder em sua voz quando a partitura exige. Sua voz enorme e exuberante voa sobre a orquestra, pois Strauss sonhava apenas em ouvir o papel cantado – para mim uma de suas maiores gravações de muitas grandes gravações. Norman e Ozawa trazem para essa leitura sons que nunca ouvi em outras apresentações. Richard Leech como Narraboth é brilhante para esta performance, jovem, ardente e suave, transmitindo completamente sua obsessão desesperada com a princesa venenosa. A grande Herodias, de voz áspera, de Kerstin Witt, é poderosamente vocalizado e adequadamente desdenhoso. E James Morris sensacional quando é ouvido na cisterna, canta um Jokanaan bastante viril e erótico, que dá vida a todo o drama. Altamente recomendado!

Jessye Norman – Salomé
James Morris – Jokanaan
Walter Raffeiner – Herodes
Kerstin Witt – Herodias
Richard Leech – Narraboth

Staatskapelle Dresden
Seiji Ozawa

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Quando cheguei a esta gravação de Salome, já na época do mp3, não pude tirá-la da lista de reprodução por semanas a fio. Esta capa do velho Lp com a foto escandalosamente chocante da Nilsson, parecendo um pôster de parede dos cinemas decadentes do centrão (foi eleita uma das 10 piores capas de todos os tempos), não esconde o cast maravilhoso da melhor gravação já feita da ópera de Strauss (na minha modesta opinião). Nilsson era um Salome incrível. A enorme voz sobrevoava facilmente a Filarmônica de Viena, sob o rugido da direção do mestre Solti. Não consigo imaginar nenhuma outra interpretação de Salomé liderando esse desempenho milagroso. Ouça os sons heróicos de Eberhard Wächter, como Jokanaan, depois passe para a grande cena de Salomé quando a cabeça de Jokanaan lhe é apresentada em uma bandeja de prata. A imagem do palco ganha vida e a imaginação aumenta à medida que Nilsson se move por esse território psicologicamente acidentado e emerge triunfante em sua loucura no final. Solti prova mais uma vez que ele era capaz de passar de um rugido a um sussurro mágico entendendo todas as sutilezas e os detalhes da partitura. O elenco é insuperável. Herodes, de Gerhard Stolze, e Herodias, de Grace Hoffman, são pessoas palidamente vis e decadentes. O belo teor de Waldemar Kmentt transmite perfeitamente o jovem soldado doente de amor, Narraboth. Sob a forte direção de Solti, a poderosa Filarmônica de Viena apresenta uma performance cintilante da ambiciosa partitura de Strauss, que é basicamente um poema sinfônico com vozes. Todos os cantores fazem o possível para acompanhar: não há lugar para sutileza nesta ópera. Ninguém jamais confundirá a matriarca Birgit Nilsson por uma gatinha sexual, mas ela toca todas as notas certas como uma pirralha mimada petulante, uma virgem adolescente cujo despertar sexual toma a forma de uma atração literalmente fatal por um homem santo. Eberhard Wachter é um Jokanaan adequadamente santo e Waldemar Kmentt canta lindamente como Narraboth, mas Gerhard Stolze rouba o show como um Herodes deliciosamente desequilibrado. Stolze não era Caruso, mas como ator cantor ele tinha poucos ou nenhum par. Solti deixa a vulgaridade da partitura falar por si, sem nenhuma tentativa de bom gosto. Se você quiser ouvir Salome como deveria ser ouvido, rude, arrepiante, esta é a gravação.

1- Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 1 – “Wie schön ist die Prinzessin Salome heute Nacht!”
2 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 1 – “Nach mir wird Einer kommen”
3 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 2 – “Ich will nicht bleiben”
4 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 2 – “Siehe, der Herr ist gekommen”
5 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 2 – “Jauchze nicht, du Land Palästina”
6 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 2 – “Du wirst das für mich tun”
7 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 3 – “Wo ist er, dessen Sündenbecher jetzt voll ist?”
8 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 3 – “Jochanaan! Ich bin verliebt in deinen Leib”
9 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 3 – “Wird dir nicht bange, Tochter der Herodias?”
10 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Wo ist Salome?”
11 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Es ist kalt hier”
12 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Salome, komm, trink Wein mit mir”
13 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Siehe, die Zeit ist gekommen”
14 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Wahrhaftig, Herr, es wäre besser, ihn in unsre Hände zu geben!”
15 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Siehe, der Tag ist nahe”
16 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Eine Menge Menschen wird sich gegen sie sammeln”
17 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Tanz für Mich, Salome”
18 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – Salome’s Dance of the Seven Veils
19 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Ah! Herrlich! Wundervoll, wundervoll!”
20 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Still, sprich nicht zu mir!”
21 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Salome, bedenk, was du tun willst”
22 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Man soll ihr geben, was sie verlangt!”
23 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Es ist kein Laut zu vernehmen”
24 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Ah! Du wolltest mich nicht deinen Mund”
25 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Sie ist ein Ungeheuer, deine Tochter”
26 -Salome, Op.54, TrV 215 / Scene 4 – “Ah! Ich habe deinen Mund geküsst, Jochanaan”

Birgit Nilsson – Salomé
Eberhard Wächter – Jokanaan
Gerhard Stolze – Herodes
Grace Hoffmann – Herodias
Waldemar Kmentt – Narraboth

Wiener Philharmoniker
Sir Georg Solti

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Esta gravação de Sinopoli chamou minha atenção, com Studer cantando Salomé. Primeiro tenho que comentar que o som gravado é fantástico. A música é tratada como um todo (uma leitura totalmente diferente da de Solti). A interpretação é impecável, com todas as nuances sendo ouvidas, algo que você não consegue ouvir com facilidade em outras versões. O Maestro Giuseppe Sinopoli, nesta Salomé de 1990 é soberbo, a condução magistral e o som digital combinam-se para torná-lo uma das primeiras escolha para o recém-chegado ao psicodrama de Strauss. A Cheryl Studer também está impecável. Ela consegue soar como a adolescente demente que o papel exige. Uma Salome incomum e feminina. Especialmente quando comparado com Birgit Nilsson ou Jessye Norman, Studer não tem poder no registro superior (não tem aquele vozeirão que sobra nas duas colegas), mas eu acho que seu som é certamente mais sedutor do que dos outros dois sopranos. Além disso, sua voz brilhante é sutilmente sombreada em todas as nuances do texto. Bryn Terfel é o Jokanaan mais convincente em disco. Acho que Hiesterman poderia ser mais firme como Herodes que é um papel crucial. Leonie Rysanek dá conta do recado como Herodiades. Clemens Bieber está bem como Narraboth. Uma coisa que tenho certeza, porém, é a qualidade dessa gravação, assim como o som puro. É absolutamente lindo, e as vozes e a orquestra têm presença e estão conectadas. Baixe agora …. você não ficará desapontado !!

Disc1
1 – Salome, Op.54 / Scene 1 – “Wie schön ist die Prinzessin Salome heute Nacht!”
2 – Salome, Op.54 / Scene 1 – “Nach mir wird Einer kommen”
3 – Salome, Op.54 / Scene 2 – “Ich will nicht bleiben”
4 – Salome, Op.54 / Scene 2 – “Siehe, der Herr ist gekommen”
5 – Salome, Op.54 / Scene 2 – “Jauchze nicht, du Land Palästina”
6 – Salome, Op.54 / Scene 2 – Laßt den Propheten herauskommen
7 – Salome, Op.54 / Scene 3 – “Wo ist er, dessen Sündenbecher jetzt voll ist?”
8 – Salome, Op.54 / Scene 3 – “Er ist schrecklich”
9 – Salome, Op.54 / Scene 3 – “Wer ist dies Weib, das mich ansieht?”
10 -Salome, Op.54 / Scene 3 – “Zurück, Tochter Sodoms!”
11 -Salome, Op.54 / Scene 3 – Dein Leib ist grauenvoll
12 -Salome, Op.54 / Scene 3 – “Zurück, Tochter Sodoms!”
13 -Salome, Op.54 / Scene 3 – “Niemals, Tochter Babylons,Tochter Sodoms,…Niemals “N
14 -Salome, Op.54 / Scene 3 – “Wird dir nicht bange, Tochter der Herodias?”
15 -Salome, Op.54 / Scene 3 – “Lass mich deinen Mund küssen, Jochanaan!”
16 -Salome, Op.54 / Scene 3 – “Du bist verflucht”
17 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Wo ist Salome?”
18 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Salome, komm, trink Wein mit mir”
19 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Siehe, die Zeit ist gekommen”
20 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Wahrhaftig, Herr, es wäre besser, ihn in unsre Hände zu geben!”
21 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Siehe, der Tah ist nahe”
22 -Salome, Op.54 / Scene 4 – O über dieses geile Weib, die Tochter Babylons

Disc2
01 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Tanz für Mich, Salome”
02 -Salome, Op.54 / Scene 4 – Salome’s Dance Of The Seven Veils
03 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Ah! Herrlich! Wundervoll, wundervoll!”
04 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Salome, ich beschwöre dich”
05 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Salome, bedenk, was du tun willst”
06 -Salome, Op.54 / Scene 4 – Gib mir den Kopf des Jochanaan!
07 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Es ist kein Laut zu vernehmen”
08 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Ah! Du wolltest mich nicht deinen Mund”
09 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Sie ist ein Ungeheuer, deine Tochter”
10 -Salome, Op.54 / Scene 4 – “Ah! Ich habe deinen Mund geküsst, Jochanaan”

Cheryl Studer – Salomé
Bryn Terfel – Jokanaan
Clemens Bieber – Narraboth
Horst Hiestermann – Herodes
Leonie Rysanek – Herodiades

Orchester der Deutschen Oper Berlin
Giuseppe Sinopoli

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Strauss feliz em 1945

AMMIRATORE

In memoriam Jessye Norman (1945-2019) – Wagner (1813-1883): Wesendonk Lieder; Tristan & Isolde: Prelude & Liebestod

In memoriam Jessye Norman (1945-2019) – Wagner (1813-1883): Wesendonk Lieder; Tristan & Isolde: Prelude & Liebestod

Jessye Norman (15 de setembro 1945 – 30 de setembro 2019), se foi. A majestosa soprano americana que trouxe aos palcos uma voz suntuosa e cintilante cantou diversos papéis de extrema relevância. Ela ganhou nada menos do que cinco prêmios Grammy, quatro por suas gravações e uma por conquistas ao longo da vida. Em 1984 ganhou o prêmio competindo no “Best Classical Vocal Soloist Performance” com o álbum “Ravel: Songs Of Maurice Ravel”. Em 1988 ganhou com a melhor gravação de ópera com “Wagner: Lohengrin”. Em 1989 papou a estatueta com mais um álbum (Best Opera Recording) com “Wagner: Die Walkuere ” E em 1998 levou o “Best Opera Recording” com “Bartók: Bluebeard’s Castle”. Em 2006 a estatueta veio com “Lifetime Achievement Award”.

Norman é inquestionavelmente uma excelente cantora. Sua performance neste singelo CD é emocionante sobretudo na gravação do Liebestod de Tristan e Isolda. Norman está arrebatadora. Tantas cores. Sua entonação é gigantesca. Este é um disco sensacional. A voz de Norman é adequada para Wagner e a grandeza de sua voz é evidente nessa performance. Eu podia ouvir o Liebestod repetidamente. O clímax da peça dará arrepios, é uma música muito poderosa e Norman e Colin Davis são bastante sensíveis à dinâmica, fraseado e ritmo. Este disco mostra ao máximo a beleza da voz de Norman.

Neste LINK tem uma postagem que fizemos do Parsifal no fim de 2018 em que a Jessye está fenomenal !!!!

Ah, lágrimas em meus olhos ao postar agora! Descansa bela heroína dos palcos. No outro plano, cheio de talentosas almas que por aqui passaram, os deuses receberão com muita música e festança esta mulher que foi uma das mais belas vozes que tivemos o prazer de ouvir. Obrigado Jessye!

Wagner (1813-1883): Wesendonk Lieder; Tristan & Isolde: Prelude & Liebestod Jessye Norman

1 – Wagner: Tristan und Isolde, WWV 90 – Prelude to Act 1. Langsam und smachtend
2 – Wagner: Tristan und Isolde, WWV 90 / Act 3 – “Mild und leise wie er lächelt” (Isoldes Liebestod)
3 – Wagner: Wesendonck Lieder, WWV 91 – Der Engel
4 – Wagner: Wesendonck Lieder, WWV 91 – Stehe still
5 – Wagner: Wesendonck Lieder, WWV 91 – Im Treibhaus
6 – Wagner: Wesendonck Lieder, WWV 91 – Schmerzen
7 – Wagner: Wesendonck Lieder, WWV 91 – Träume
by Jessye Norman and London Symphony Orchestra and Sir Colin Davis

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Ammiratore

W. A. Mozart (1756-1791) – Concertos para Piano Nº 15, 16, 17 e 18 (Brendel/Marriner/St Martin in the Fields)

É impressionante pensar que em um ano, Mozart compôs seis concertos e, mais ainda, se pensarmos que não havia uma receita de bolo a seguir: foram concertos inovadores em comparação com os anteriores. Como estamos indo de trás pra frente, hoje o dia é do 15º ao 18º, todos compostos em 1784.

O Concerto nº 15 já começa quebrando paradigmas, com o oboé e o fagote tocando sozinhos, para só no terceiro compasso os violinos e violas entrarem. As partes das madeiras nos concertos de Mozart, a partir deste 15º, ganham independência em relação às cordas. É um concerto com uma atmosfera bucólica, pastoral, um pouco como um dos quadros de Watteau (1684-1721),  pintor francês que representa como poucos o Antigo Regime naquelas cenas campestres onde os aristocratas se divertiam sem se preocupar com o dia de amanhã. As paisagens campestres bucólicas de Watteau são palco de festas e encontros, formando retratos vivos de uma época considerada decadente mas extremamente elegante e requintada.

A flauta em “Accord Parfait” de Watteau

O Concerto 17 é outro que também combina com essa elegância bucólica do mundo pré-Revolução. Flauta, oboé e fagote fazem uma entrada surpresa no 4º compasso, algo que seria impensável nos concertos de juventude de Mozart. Como escreveu Aaron Copland, o oboé tem um som algo pastoral, enquanto o fagote, nos seus registros mais graves, é capaz de um staccato bem-humorado, que tem um efeito quase cômico.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Concerto para piano e orquestra n. 15 em Si Bemol Maior, KV. 450
1. Allegro
2. Andante
3. Allegro

Concerto para piano e orquestra n. 16 em Ré Maior, KV. 451
1. Allegro
2. Andante
3. Allegro di Molto

Concerto para piano e orquestra n. 17 em Sol Maior, KV. 453
1. Allegro
2. Andante
3. Allegretto – Finale (presto)

Concerto para piano e orquestra n. 18 em Si Bemol maior, KV. 456
1. Allegro Vivace
2. Andante un poco sustenuto
3. Allegro Vivace

Academy of St. Martin in the Fields
Alfred Brendel, Piano
Sir Neville Marriner, regência

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Baixe aqui o 1º mov. do Concerto 15, que faltou no link que estava até dia 24/9.

Pleyel

W. A. Mozart (1756-1791) – Concertos para Piano Nº 19, 20 e 21(Brendel/Marriner/St Martin in the Fields)

Imaginem só a cena: 1790, coroação de Leopoldo II como imperador do Sacro-Império Germânico, toda a pompa e circunstância na frente de incontáveis príncipes, duques e similares daquelas dezenas de reinos que formariam a Alemanha, todos querendo se impor para evitar o destino de Luís XVI, que ainda não tinha perdido a cabeça mas estava quase lá. Agora imaginem se a orquestra começasse a tocar a introdução densa, sombria e misteriosa do Concerto nº 20. Seria desastre garantido. Se introduzisse o sério tema do Concerto nº 21, apesar da indicação allegro maestoso, também não sei se os duques e os cardeais iriam aprovar.

O Concerto nº 19, que o acadêmico inglês A. Hutchings descreve como “atlético, combinando graça e vigor”, também é considerado o “outro” concerto da coroação, pois foi tocado por Wolfgang, junto com o nº 26, na coroação de Leopoldo II como imperador do Sacro-Império Germânico em 1790. O 20 e o 21, que o acompanham aqui, são bem diferentes e dificilmente seriam convenientes para aquela ocasião majestosa enquanto a Revolução Francesa espreitava. O Concerto nº 19 foi escrito em dezembro de 1784 e os dois seguintes, em fevereiro e março de 1785 (!).Essa sequência impressionante de concertos acompanha o período provavelmente de maior sucesso de Mozart com o público vienense.

Após as muitas viagens que Mozart fez quando criança, é quase certo que uma das razões para sua permanência em Viena a partir de 1781 foi a grande liberdade de opinião que vigorava naquela cidade. Segundo o padre que foi seu professor de direito, José II era um estudante “interessado pelas ideias novas, pelos ‘direitos humanos’ e pelo bem-estar do povo”.

Muito diferente era a situação em outros reinos: na França, por exemplo, quase todas as obras de Voltaire (1694-1778) eram proibidas, sendo publicadas na Holanda ou na Suíça e depois entrando clandestinamente em território francês.

A muitas e muitas léguas, no Brasil, a impressão de qualquer obra era quase impossível, por causa da necessidade das licenças da Inquisição e do Conselho Ultramarino em Portugal. É bom lembrar que só em 1821 se dá a extinção formal da inquisição em Portugal e no Brasil.

Após a Revolução Francesa, a liberdade geral que se vivia em Viena foi pro brejo. Nesses períodos de inquietude, os artistas são os primeiros a terem suas asinhas cortadas. Haydn, por exemplo, teve de ir pra Londres para continuar compondo suas obras orquestrais, mas lá também teve um contratempo: sua ópera L’anima del filosofo, ossia Orfeo ed Euridice (A Alma do Filósofo, ou Orfeu e Eurídice) não teve a licença do rei e só foi estreada muitos anos depois, quanto Haydn já tinha morrido.

Mas voltemos a Mozart. Nessa época, então, ele vivia o auge do seu sucesso de público e crítica: amigo de Haydn, que o respeitava enormemente, brilhando nos palcos de Viena, o que mais ele poderia querer? Talvez inventar um novo tipo de concerto para piano, após os seus dezenove anteriores, todos em tons maiores?

Isso ele fez com o Concerto nº 20, em ré menor. Na mesma tonalidade da famosa ária da Rainha da Noite, o concerto já começa com um clima misterioso e noturno que dura até o final. A popularidade deste concerto pode ser julgada pela lista de compositores que escreveram cadências para ele, provavelmente ao interpretá-lo eles mesmos ao piano:

  • Ludwig van Beethoven (1770-1827), que chegou a Viena Em 1792, já com 21 anos de idade, mudou-se definitivamente para Viena em 1792 (apenas um ano após a morte, na cidade, de Mozart),
  • Johann Nepomuk Hummel (1778-1837), que também era criança-prodígio, foi aluno de Mozart por dois anos e publicou um dos principais tratados sobre o pianoforte em 1828,
  • Franz Xaver Mozart (1791-1844), filho de Wolfgang,
  • Clara Schumann (1819-1896) e Johannes Brahms (1833-1897), que dispensam apresentações.

Será que os célebres concertos românticos em tons menores, como o de Schumann, os dois de Chopin e o de Grieg, existiriam sem o ré menor de Mozart?

O Concerto nº 21, em dó maior, é menos inovador mas também muito popular, especialmente o movimento lento.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Concerto para piano e orquestra n. 19 em Fá maior, KV. 459
1. Allegro vivace
2. Allegretto
3. Allegro assai

Concerto para piano e orquestra n. 20 em Ré Menor, KV. 466
1. Allegro
2. Romance
3. Rondo (Allegro Assai)

Concerto para piano e orquestra n. 21 em Dó maior, KV. 467
1. Allegro maestoso
2. Andante
3. Allegro vivace assai

Academy of St. Martin in the Fields
Alfred Brendel, Piano
Sir Neville Marriner, regência

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PS: link novo no Mediafire. O Mega.nz está fora do ar no Brasil.

Pleyel

Beethoven (1770-1827): Die Ruinen von Athen / König Stephan / Prometheus Overture – Geza Oberfrank

Beethoven (1770-1827): Die Ruinen von Athen / König Stephan / Prometheus Overture – Geza Oberfrank

Amigos, aqui temos um Beethoven (1770-1827) quase que desconhecido. A música incidental que o mestre de Bonn compôs sobre o texto patriótico do autor vienense August von Kotzebue (1761-1819), foram escritas para a inauguração de um novo teatro em Peste. A primeira “Die Ruinen von Athen”, para a qual Beethoven escreveu uma abertura e oito números dramáticos como seu Opus 113; a segunda “König Stephan”, Opus 117, uma abertura e mais nove números musicais. Apesar de algumas ideias bacanas e de alguns surpreendentes efeitos sonoros, nenhuma dessas obras se aproxima de seu mais alto padrão.
À medida que as guerras napoleônicas reviravam a Europa do século XIX, membros da nobreza e da aristocracia daquela época estavam com menos escolhas de locais para passar as férias de verão. Uma das opções, porque estava em território neutro, era Teplitz (hoje na República Checa) tornou-se o destino para numerosos aristocratas vienenses e cidadãos mais abastados. Foi aqui, no verão de 1811, que Beethoven rapidamente compôs as partituras incidentais para “König Stephan”, op. 117 e “Die Ruinen von Athen”, op. 113 enquanto se recuperava de problemas de saúde. Ambas as obras foram encomendadas para a abertura do novo teatro imperial em Peste em 10 de fevereiro de 1812. A ocasião foi patriótica, e apesar de “König Stephan” ser ostensivamente uma homenagem a um antigo rei húngaro (subtítulo da obra é “Primeiro Benfeitor da Hungria”) , na verdade, é uma homenagem (puxada de saco mesmo) ao então Kaiser austro-húngaro Francisco I. Em 1808, o imperador encomendou a construção de um grande teatro em Budapeste, para aliviar as derrotas sofridas para as tropas napoleônicas e avivar os sentimentos nacionalistas no povão, além de celebrar a lealdade Hungria para com a monarquia austríaca. A época do evento de comemoração a peça “König Stephan” foi o prólogo e “Die Ruinen von Athen” o epílogo.
De quebra o CD nos traz uma versão da abertura “Die Geschöpfe des Prometheus”, op.43.

As Ruinas

Die Ruinen von Athen, incidental music Op.113/114 (1811 rev. 1822)
Como mencionamos acima a música foi escrita para a inauguração do novo teatro em Peste (vale lembrar que a capital da Hungria é dividida pelo Danúbio, a metade baixa é Peste e a metade alta Buda). Uma segunda abertura foi escrita em 1822 para a mesma peça. Foi composta especificamente para a reabertura do Teatro de Viena em Josefstadt em 1822. Talvez a música mais conhecida das Ruínas de Atenas seja a Marcha Turca , um tema popular, mesmo as pessoas que não são ávidos ouvintes de música clássica estão familiarizados. Beethoven em sua genialidade orquestrou as “seis variações sobre um tema original, op. 76” e utilizou na obra como “Marcha turca” (coloquei estas variações também no arquivo de download).
Sobre a peça, trata-se de um tema histórico das lutas de um povo por sua independência nacional, que atendia aos desejos dos governantes, terminando com a glorificação da casa dos Habsburgos. A deusa da antiguidade Minerva, despertada de um sono de dois mil anos, escuta a conversa de um casal grego que se queixa da miséria de seu povo oprimido pelos turcos e perda de sua capital. Ela incita os gregos à vingança e é conduzida por Mercúrio a Peste, onde assiste à inauguração do novo teatro e à procissão triunfal de Tália e Melpone. Júpiter coloca entre as estátuas das duas o busto do Imperador Franz, que é coroado por Minerva. Beethoven inclui na abertura peças centrais das cenas (entre outras o prólogo cromático ao dueto do casal grego, no qual se pode reconhecer a ideia de Beethoven sobre música grega da antiguidade) personificando o tipo de música de ópera que, separadamente da sequência de cenas da peça, é muito executada em salas de concerto.

1.Overture: Andante con moto. Allegro, ma non troppo
2.Chorus: Tochter des mächtigen Zeus
3.Duet: Ohne Verschulden Knechtschaft dulden
4.Chorus of Dervishes: Du hast in deines Armels Falten
5.Marcia alla turca: Vivace (‘Turkish March’)
6. Melodrama
7.March and Chorus: Schmückt die Altäre
8.Recitative: Mit reger Freude die nie erkaltet
9.Chorus: Heil unserm König, Heil!

Sandor Solyom-Nagy Baritone,
Margit Laszlo Soprano,
Geza Oberfrank Conductor,
Hungarian Radio and Television Chorus Choir,
Budapest Philharmonic Orchestra Orchestra

10. Beethoven Variacoes op 76, piano Sviatoslav Richter

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König Stephan, Op. 117

O Rei Stephan

O título refere-se ao rei Estêvão I, fundador do reino da Hungria no ano 1000. A peça exalta as conquistas do rei. Também comemora a esperança em novos tempos de confiança e prosperidade. “Saúde aos nossos netos, eles vão olhar, / o que o espírito profético reconheceu! / Torna-se sua confiança infantil / a coroa mais linda de diamantes! / Dando caridade, diariamente novo, / o rei paga em um futuro distante / a fidelidade imutável, / seu povo é grato a ele! / Salve aos nossos reis! Salve ao rei! “

1.Overture
2.Chor: Ruhend von seinen Taten; Seid mir gegrüßt an dieses Thrones Stufe
3.Chor: Auf dunklem Irrweg in finstern Hainen; Fürst! Mich sandten die Edlen im Heere
4.Victory March
5.Chor: Wo die Unschuld Blumen streute
6.Chor: Eine neue strahlende Sonne
7.Priestly March – Heil unserm Konige! (Chorus)

Sandor Solyom-Nagy Baritone,
Margit Laszlo Soprano,
Geza Oberfrank Conductor,
Hungarian Radio and Television Chorus Choir,
Budapest Philharmonic Orchestra Orchestra

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Die Geschöpfe des Prometheus, op.43
Geza Oberfrank Conductor,
Hungarian Radio and Television Chorus Choir,
Budapest Philharmonic Orchestra Orchestra

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” There is no real intelligence without kindness. I don’t recognize another greatness other than kindness.” Ludwig Van Beethoven

Ammiratore

Alban Berg (1885-1935) & Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concertos para Violino

Alban Berg (1885-1935) & Ludwig van Beethoven (1770-1827): Concertos para Violino

Como bem coloca o historiador Eric Hobsbawm, o século XIX só acaba em 1914 com o início da 1ª guerra imperialista. Na música, seu último suspiro no ocidente europeu se dá com as obras de Mahler, Richard Strauss e outros românticos tardios. A geração seguinte, como Debussy e Stravinsky, embora formados na antiga “escola” do romantismo, fariam a transição para os novos tempos, tentando criar uma música nova que se libertasse dos padrões românticos, cujos limites de desenvolvimento já haviam sido atingidos.

Seria um desses compositores de transição que iria causar o maior rompimento com a música ocidental até então. Arnold Schoenberg, contraditoriamente, estava preocupado em manter a supremacia que a música alemã detinha até ali. Extremamente conservador, totalmente alinhado com a tradição musical alemã, Schoenberg sairia na frente na fundação de uma nova escola que encerrará não só o domínio da música alemã sobre a tradição da música ocidental, mas do domínio de qualquer escola. Buscando criar um novo paradigma já conservador em sua própria concepção, daria as bases para os compositores mais vanguardistas do século XX: aqueles ligados ao dodecafonismo e ao serialismo.

A segunda escola de Viena, iniciada por Schoenberg, teria dois discípulos, Alban Berg e Anton Webern. Berg, mais moderado, será o “mestre da transição mínima”, tentando juntar elementos do romantismo tardio com o dodecafonismo. Já Webern vai levar os ensinamentos de Schoenberg ao limite, dando as bases para o posterior serialismo integral. No geral, a música da segunda escola de Viena nada mais é do que a música do tempo em que o velho morreu mas o novo ainda não pode nascer. Isto é, uma música de um tempo de transformações sociais inacabadas, ainda em conflito, deixando os indivíduos criadores (artistas), numa confusão completa, sem um paradigma.

Em 1935, Berg recebe a encomenda de um concerto para violino. Apesar de a rejeitar num primeiro momento, devido a sua dedicação exclusiva à finalização da ópera Lulu, posteriormente Berg aceita a encomenda, principalmente pelo alto valor que seria pago pela obra. Sem saber exatamente como serão as formas gerais deste concerto, fica sabendo da morte de Manon Gropius, filha de Alma Mahler e Walter Gropius. Este acontecimento pessoal definirá o conteúdo íntimo de seu concerto. Berg, que conhecia a filha do casal desde tenra idade, profundamente afetado, coloca a dedicatória da obra “à memória de um anjo“.

Na obra, a homenagem fúnebre da obra fica evidente por duas características:
Primeiro, pelo tema de Es ist genug (É o bastante), da cantata O Ewigkeit du Donnerwort (BWV 60) de Bach, que é explorado em alguns momentos da obra, mas, principalmente, no final. Segundo, pela melodia folclórica da Caríntia, talvez em homenagem à mãe de Webern, Amalie Webern, que fora enterrada na região, e onde Berg escreve o concerto. Mas essas citações, embora elucidativas, não esgotam o caráter “fúnebre” da obra. Se pensarmos que todo o concerto evoca, transfigura e reapresenta esses elementos musicais e tantos outros, vemos, além da capacidade criativa de Berg, a própria indefinição social universal  daquele tempo que se expressava mesmo na mais particular de suas obras. E aí está o maior mérito da obra: conseguir exprimir no particular, o movimento de uma transformação universal da música e da própria sociedade europeia.

Por tais conteúdos podemos dizer que o concerto para violino de Berg é, praticamente, um “concerto fúnebre”, que faria, voluntária e involuntariamente, homenagem a quatro mortes: primeiro, a de Manon Gropius, segundo, à mãe de Webern, terceiro, ao próprio Berg (que morreria não muito tempo depois de completada a obra), e, finalmente, à morte da civilização burguesa europeia, que entraria em seu maior período de reação e contrarrevolução em toda sua história.

Escrevendo em plena Áustria pré-nazista, surpreende um pouco o aparente alheamento de Berg enquanto compositor dos acontecimentos de sua época. A Áustria só seria anexada à Alemanha em 1938, mas desde a ascensão de Hitler ao poder em 1932, fascistas e nazistas em todo o mundo já haviam se infiltrado em governos favoráveis à extrema-direita ou tomado o poder por eleições ou golpes. Para ter uma ideia do clima que já rondava a Europa, basta saber que desde 1932 muitos artistas já haviam imigrado para os Estados Unidos, inclusive o antigo mestre de Berg, Schoenberg, que tinha ascendência judia. Berg, sendo um compositor da alta classe média austríaca e bem posicionado socialmente, provavelmente não tinha preocupações de ordem política em seu dia a dia.

Talvez esse próprio alheamento tenha lhe possibilitado ser um dos melhores compositores de sua época, tomando o distanciamento necessário para exprimir o que lhe era particular através do universal. Trazendo o universal de uma maneira particular. E de uma maneira particular que exprimisse o próprio sentimento do presente em seu movimento incerto para o futuro. Como diz um de seus alunos, Theodor Adorno, numa passagem:

“In some of its simplest, intellectually most irritating passages, for instance the two-fold quotation of the Carinthian folk song, the Violin Concerto acquires an almost heartbreaking emotive power unlike almost anything else Berg ever wrote. He was granted something accorded only the very greatest artists: access to that sphere, most comparable with Balzac, in which the lower realm, the not quite fully formed, suddenly becomes the highest. . . . The way, however, in which the imagerie of the nineteenth century stirs within Berg is forward-looking. Nowhere in this music is it a matter of restoring a familiar idiom or of alluding to a childhood to which he seeks a return. Berg’s memory embraced death. Only in the sense that the past is retrieved as something irretrievable, through its own death, does it become part of the present.(fonte, grifo meu)

É interesse notar o que Adorno diz aqui. Os elementos do século XIX que Berg traz em seu concerto não buscam um retorno, mas um avanço. Em nenhuma parte Berg procura um retorno a um passado ideal ou ao retorno do que era familiar ou tradicional. Toda rememoração é uma forma de aceitação do que está morto, algo que não tem volta, mas que ainda é parte do presente. Esta síntese do Adorno coloca Berg como o principal compositor da segunda escola de Viena, na medida em que Berg consegue, como ninguém, sintetizar em sua “transição mínima” este momento onde o velho morreu mas o novo ainda não pode nascer.

Seu concerto para violino é praticamente sua última obra. Poucas semanas depois, acometido por uma infeção sanguínea, Berg faleceria. Sua ópera Lulu, um grande marco do repertório operístico ocidental, ficaria inacabada. Mas seu concerto para violino se tornaria um grande marco do repertório para violino solo. Um dos maiores nomes da música moderna burguesa, Alban Berg, deixaria a vida, mas entraria para a história da música ocidental em lugar de destaque por esta e por outras obras.

Para terminar, fiquem com os versos finais de Es ist genug:

Es ist genug,
Herr, wenn es dir gefällt,
so spanne mich doch aus.
Mein Jesus kömmt!
Nun gute Nacht, o Welt!
Ich fahr ins Himmelshaus,
ich fahre sicher hin mit Frieden;
Mein feuchter Jammer bleibt darnieden.
Es ist genug!

Tradução livre:

É o bastante,
Senhor, se a ti lhe satisfaz,
Então dai me a liberdade final.
Meu Jesus vens!
Dou-lhe boa noite, ó mundo.
Vou-me à casa celestial.
Tenho certeza que vou com paz.
Meus sombrios sofrimentos deixados para trás.
É o bastante!

Berg & Beethoven: Violin concertos

Alban Berg (1885-1935):
Violin concerto “to the memory of an angel”:
01 I. Andante – Allegretto
02 II. Allegro – Adagio

Ludwig van Beethoven (1770-1827):
Violin concerto in D major, Op. 61
03 I. Allegro ma non troppo – Adagio
04 II. Larghetto
05 III. Rondo allegro

Orchestra Mozart
Claudio Abbado, conductor
Isabelle Faust, violin

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Alban Berg ou Oscar Wilde?

Luke

Richard Wagner (1813-1883): Orchestral Masterpieces – Leopold Stokowski

Vamos continuar neste post, para o deleite dos amigos do blog, com a terceira parte da saga do grande maestro Leopold Stokowski (1882-1977) voltemos ao ano de 1896, tudo começou quando o garoto de treze anos entra para o coro da Igreja St. Marylebone e foi admitido no Royal College of Music. Já em 1898, aos dezesseis anos, foi admitido como membro do Royal College of Organists. Tornou-se organista assistente de Sir Henry Walford Davies (1869-1941) em The Temple Church, Londres. Em 1900, Stokowski formou o coro da Igreja Anglicana Santa Maria, Charing Cross Road, e lá também tocou o órgão. Então, de 1902 a 1905, Stokowski foi organista e mestre de coro na Igreja Anglicana de St. James, em Piccadilly, Londres. A partir desta posição como organista e mestre de coro na Igreja Anglicana, em 1905, Stokowski foi recrutado para se tornar organista na Igreja Episcopal de São Bartolomeu em Nova York, na Madison Avenue e 44th Street. O jovem desenvolveu uma respeitável reputação musical em Nova York e conheceu uma série de personalidades importantes, incluindo sua futura esposa, Olga Samaroff (1882-1948). Stokowski também realizou uma série de transcrições de obras orquestrais das sinfonias de Tchaikovsky, de antigos compositores como Byrd e Palestrina, e de óperas de vários compositores, incluindo Wagner em 1907. Mas Stokowski estava determinado a dirigir uma orquestra sua ou um grupo orquestral. Em 1908, ele renunciou à posição de organista e na primavera daquele ano, ele e sua esposa Olga partiram para a Europa, com Stokowski determinado a encontrar um novo começo.

Stokowski em 1910

O jovem Leopold, apesar da falta de experiência em nunca ter conduzido uma orquestra sinfônica profissional, um ano depois de deixar o posto de organista na Igreja Episcopal de São Bartolomeu em Nova York, nomeado maestro da Orquestra Sinfônica de Cincinnati, foi o começo de sua carreira estelar. Como poderia uma transformação tão notável acontecer? Na biografia do maestro o escritor Chasins afirma que a esposa Olga Samaroff havia se encontrado “por acaso” com Bettie Holmes, presidente da diretoria da Associação da Orquestra Sinfônica de Cincinnati. A orquestra estava procurando um maestro para liderar a sinfônica que eles tinham acabado de restabelecer. Olga Samaroff sugeriu Leopold Stokowski. Isso o levou a ser entrevistado pelo Conselho de Cincinnati em 22 de abril de 1909. Aprovado, Stokowski conduziu seu primeiro concerto com a Cincinnati Symphony Orchestra em 26 de novembro de 1909 no Music Hall. Ele estreou com a abertura de “A Flauta Mágica”, de Mozart, a “Quinta Sinfonia” de Beethoven e “Ride of the Valkyries”, de Wagner. Foi um sucesso imediato, particularmente pelo impacto do seu carisma. Durante o período em Cincinnati de 1909 a 1912, Stokowski trabalhou assiduamente na melhoria de suas habilidades de condução e na construção de um repertório de obras que ele dominava. Embora ele tenha chegado a Cincinnati praticamente sem experiência na condução de uma orquestra sinfônica, seu profundo talento artístico e habilidades de liderança natural levaram a um sucesso rápido.

Primiere Ciccinati

Stokowski também mostrou desde o início uma busca pelo novo e inovador. Mesmo desde os primeiros concertos de Cincinnati, ele programava obras de compositores vivos, e seu mix de programação era estimulante. Ele também procurou expandir continuamente a temporada da orquestra viajando para outras cidades.

Olga foi um ingrediente chave no sucesso inicial da carreira de Stokowski. Durante esse período pré-guerra, Stokowski e Olga Samaroff também passariam os verões na Baviera em sua vila em Munique, imersos nos festivais culturais ativos de verão e na vida social. Munique nos verões naquela época era uma “Meca” musical na Europa. Este foi provavelmente o tempo mais feliz de Olga e Leopold juntos. Enquanto isso, em Cincinnati, Stokowski teve uma mistura de sucessos e rejeições da diretoria da orquestra, procurando expandir as turnês, inclusive para Nova York, e acrescentando músicos. Em março de 1912, depois de aumentar progressivamente os confrontos com a diretoria, Stokowski pediu para ser liberado dos dois anos restantes de seu contrato em Cincinnati. As más línguas da época suspeitaram que ele já estava de olho em outro estado, a Filadélfia. De fato a 13 de junho de 1912 Stokowski assina com a Orquestra da Filadélfia e em 8 de outubro de 1912, Stokowski realizou seu primeiro ensaio com a Orquestra da Filadélfia, seguido rapidamente pelo primeiro concerto em 12 de outubro. Durante o restante da década, Stokowski procurou substituir os músicos antigos da orquestra por jovens de mente aberta. Um aspecto de desempenho que ele parece ter perseguido desde o começo foi um estilo de performance flexível e menos rígido, do qual sua preferência pelos instrumentos de cordas é um diferencial. Estas renovações nos músicos ele aplicou em toda sua carreira e com qualquer orquestra com a qual ele entrou em contato.

Esta gravação de Stokowski conduzindo as obras de Wagner que ora compartilho com os amigos é um bom exemplo de como o maestro reescrevia obras originais, esta prática entre alguns grandes regentes era muito comum e se encaixava no gosto da época, hoje se busca pelo original, com instrumentos originais de época preferencialmente. Esta seleção da Fase 4 reúne cerca de uma hora de trechos orquestrais e populares das óperas de Wagner gravados em estúdio em 1966, quando o regente tinha 84 anos, além de uma faixa de 1972 “Meistersinger Prelude” que é ao vivo. Os resultados são amplos, românticos e emocionantes. O estilo predominante aqui é extrovertido e não sutil. A faixa do “Meistersinger” de 1972, feito quando ele tinha 90 anos, nos traz de volta ao som orquestral original, sem trechos reescritos. Devo dizer que Stokowski está magnifico. A abertura das Valkyries é emocionante e divertida, pelo destaque ao flautim (não sei se propositalmente feito pelo maestro, ou uma falha do engenheiro de som… sei lá, mas que ficou diferente ficou). Mas, à medida que avançamos as faixas, o Wagner de Stokowski se torna cada vez mais extravagante. O arranjo, o som acústico e o ritmo do maestro são perfeitos ao que ele nos propõe, em vez de apenas soar como mais uma “performance”. Muito interessante, assim como no post anterior da sinfonia de Beethoven, o som estéreo da Fase 4 que está em todo o lugar. Stokowski usa e abusa dos efeitos e nos oferece seus deliciosos truques. Acho um erro comparar estas gravações, por exemplo, com Furtwangler, Karajan ou Solti. É uma proposta diferente, original. Stokowski tem o foco em salões cheios e dar espetáculo àqueles que não tem o costume de cultuar a chamada Música Clássica. Os fãs puritanos de Wagner podem dar uma boa risada e levar numa boa, só isso. A qualidade do gênio Stokowski eu admiro muito.

É uma releitura genial e magistral de Wagner, apenas ouça ignorando o puritanismo.

Wagner: Orchestral Masterpieces

1. The Ride of the Valkyries – Die Walkure
2. Dawn and Siegfried’s Rhine Journey – Barry Tuckwell/Gotterdammerung
3. Siegfried’s Death and Funeral Music – Gotterdammerung
4. Entrance of the gods into Valhalla – Das Rheingoldi
5. Forest Murmurs – Siegfried
6. Prelude – Die Meistersinger

London Symphony Orchestra
Leopold Stokowski
Faixas 1-5: Recorded in Kingsway Hall, London, 26 august 1966
Faixa 6: Recorded in the Royal Festival Hall, London, june 1972

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Leopold, dando uma geral no Órgão do Salão de Concertos do PQP.

Ammiratore

Beethoven (1770-1827): Sinfonia Nº 9 Coral – Leopold Stokowski (1882-1977)

Beethoven (1770-1827): Sinfonia Nº 9 Coral – Leopold Stokowski (1882-1977)

Esta é a segunda postagem em homenagem ao maestro Leopold Anthony Stokowski que nasceu em 18 de abril de 1882 em Marylebone, uma área do centro-norte de Londres. Considerado o maestro mais extravagante do século 20. O cara era tão famoso por seus efeitos chamativos quanto por sua produção musical. Embora sempre aclamado tecnicamente como um grande maestro, ele foi, até recentemente, desprezado por intelectuais e críticos “sérios” por ser um maestro que muitas vezes barateava e alterava a música original por aceitação popular. Como era moda entre alguns dos maestros da primeira metade do século XX, ele re-orquestrava grandes obras-primas com frequência, fazendo por exemplo Bach soar como Tchaikovsky, e ele frequentemente cortava partituras e reescrevia seus finais. Hoje há um novo respeito por suas orquestrações e pelo rico som que ele obteve de suas orquestras.

Ele foi, até a época de Leonard Bernstein , um dos mais populares, bem como um dos melhores, maestros do século XX. Seu trabalho na rádio e gravações o tornaram, junto com o maestro Arturo Toscanini , um nome familiar, mesmo entre aqueles que nunca haviam assistido a um concerto clássico.

Nas próximas postagens faremos uma breve biografia , baseado no site oficial do maestro (www.stokowski.org). Porque agora compartilharei e tentarei tecer um despretensioso texto com os amigos do blog sobre “a maior das sinfonias”….

“All Men shall be Brothers…”, “Todos os homens devem ser irmãos …” assim está escrito em letras garrafais na capa original do meu velho e de todos o mais querido LP.

Em 1818, depois de ter completado a Sonata Hammerklavier, Beethoven começou a rascunhar uma sinfonia em Ré menor, conseguindo escrever algum material para o primeiro movimento, acrescentando algumas anotações especulativas para os outros três. O primeiro movimento veio antes; depois os outros cresceram lentamente, na ordem, entre a primavera de 1823 e o final do ano; uma parte do trabalho foi feita durante os retiros de verão de Beethoven em Hetzendorf e Baden, e o restante depois do seu retorno a Viena, em outubro. A elaboração do final em sua forma definitiva exigiu um extenso trabalho antes que a melodia fosse encontrada, e as diferentes versões que Beethoven tentou em seus rascunhos mostram os muitos estágios do trabalho que teve para chegar à melodia principal, que parece ser, em sua forma final, um protótipo de simplicidade melódica. A ideia de Beethoven de musicar o poema de Schiller é mencionada por um conhecido de Bonn já em 1793; cinco anos mais tarde, Beethoven escreveu rapidamente um rascunho para as palavras “Muss ein lieber Vater wohnen” (“Certamente habita um Pai amado”) do primeiro coro da “Ode”. Sua Fantasia coral, de 1808, antecipa o final da Nona combinando o coro e a orquestra num conjunto de variações que culminam numa melodia natural sobre um texto edificante e benigno acerca de” Fried und Frade” (“paz e alegria”). A “Ode a Alegria” de Schiller (1759 – 1805) havia obcecado a mente de Beethoven por trinta anos; encontrou nela a glorificação poética do humanismo e dos ideais progressistas da Revolução Francesa, tão arraigados em seu espírito.

No “Caderno de Conversação” de Beethoven seu amigo Schindler escreveu o sentimento da turbulência que envolvia a política e a moral da época: “… Antes da Revolução Francesa havia grade liberdade de pensamento e liberdade política. A revolução tornou o governo e a nobreza desacreditados perante as pessoas comuns, o que levou à atual repressão…. Os regimes, como são agora constituídos, não estão de acordo com as necessidades da época; consequentemente, eles terão que mudar ou se tornar mais condescendentes, ou seja, tomar-se um pouco diferentes.”

Schiller e Beethoven

É nesse cenário que devemos considerar a decisão de Beethoven, em 1821-24, de retomar sua velha ideia de compor sobre o poema de Schiller a “Ode a alegria” e de apresentá-lo não como uma canção solo para ser ouvida nos salões privados dos amantes da música, mas como um hino que pudesse ser apresentado na sala de concerto, na maior proporção possível, e na maioria dos ambientes públicos, a mais pública das composições. Seu plano posterior, tornar essa melodia o clímax de uma grande sinfonia, lembra remotamente o uso que Haydn fez do seu famoso hino “Gott erhalte Franz den Kaiser”, integrando-o como um movimento lento com variações em seu Quarteto em Dó maior no 3, Opus 76, composto em 1797, apenas alguns meses depois de ter escrito o próprio hino. Nessa nova sinfonia, centralizada na “Ode a alegria” de Schiiler, Beethoven queria deixar um monumento público dos seus sentimentos liberais, para a posteridade. Sua decisão de elaborar uma grande obra para transmitir a visão utópica do poeta sobre a irmandade humana é uma declaração de apoio aos princípios de democracia, numa época em que a ação política direta, em relação a esses princípios, era difícil e perigosa. A seu modo, a sinfonia lhe permitiu realizar o que Shelley queria dizer quando chamou os poetas de “os legisladores não reconhecidos do mundo”.

A Nona, em meu ponto de vista, foi escrita para reviver um idealismo perdido. Ela representava uma forte afirmação política, feita num tempo em que as possibilidades práticas de realizar os ideais de fraternidade universal tinham sido virtualmente extintas pelos regimes pós-napoleônicos. A decisão de Beethoven de completar a obra com o poema de Schiller pretendeu, assim, corrigir o equilíbrio, enviar uma mensagem de esperança para o futuro e proclamar essa mensagem para o mundo. Musicando estrofes selecionadas, Beethoven escolheu textos que iriam enfatizar primeiro a fraternidade humana entrando no reino da santidade em busca da alegria, depois a voz do compositor (como, antes dele, a do poeta), que apaixonadamente abraça as multidões e as incita a olhar para o alto: “irmãos, acima da abóbada estrelada do céu, um Pai amado deve habitar”.

Beethoven a concluiu doze anos depois da “Oitava”. Sua elaboração foi precedida por vários anos de depressão e total desespero. Um período em que quase nada produziu. Em grande parte, a extraordinária visão universal de Beethoven surgiu da tragédia privada. Nas últimas duas décadas, Beethoven tornou-se inteiramente surdo, a pior perda possível para um músico e um que constantemente o mergulhou no desespero. No entanto, apesar de uma maldição pessoal, sua aflição tornou-se um benefício gigantesco para a humanidade, pois o libertou do reino do som real e permitiu que ele ouvisse em um nível que os outros não podiam sequer começar a imaginar.

A grande obra estava pronta para sua apresentação de estreia – um evento muito esperado em Viena – em 9 de maio de 1824, juntamente com a abertura “A consagração da casa”, e os três movimentos da “Missa Solemnis”. Esse foi o famoso concerto no qual um Beethoven surdo precisou ser virado para a plateia, que o ovacionava ruidosamente. A imersão de Beethoven em um mundo próprio foi aparente nesta estreia. Ele ficou tão absorto em si mesmo que continuou a bater os compassos para o maestro muito tempo depois que a peça terminou – somente quando um dos solistas pegou em seu braço e o virou para encarar a plateia ele percebeu o que estava acontecendo. Só assim pode fazer uma respeitosa reverência ao público em agradecimento.

Ela pode ser claramente vista como a mais ampla expressão musical de Beethoven, daquilo que ele disse para a desconhecida Emilie M. numa carta de 1812: que “a arte não tem limites”, que o artista se esforça incessantemente porque “ainda não alcançou o ponto que o seu melhor gênio só ilumina como uma estrela distante”. Ao utilizar a “Ode à alegria” de Schiller para se dirigir diretamente à humanidade como um todo, Beethoven transmite a luta individual e de milhões para abrir seu caminho experimentando desde a tragédia até o idealismo e para preservar a imagem da fraternidade humana como uma defesa contra a escuridão.

Para citar um amargo crítico, “…esta sinfonia sobreviveu a despeito do fato de que “o cânone” se tornou o ossificado objeto de uma genuflexão automática, inteiramente perturbada,…, os avanços técnicos e estilísticos de Beethoven há muito tempo foram absorvidos e amplamente sobrepujados pela linguagem moderna”. Ao que eu poderia responder que o “cânone” pode ter ossificado a mente dos críticos devido à superexposição, mas seus ossos possuem a estranha capacidade de recuperar carne e sangue quando novas gerações têm acesso às suas melhores obras e interpretações e se comovem com a inteligência dos antigos e os valores humanos que elas incorporam.

Sinfonia No.9 em ré menor, op.125 – Coral

O primeiro movimento da última sinfonia de Beethoven inicia-se de forma original e totalmente novo para a época. Maynard Solomon cita o “senso de expectativa, logo a ser cumprido por uma aceleração na vida, … um enigma a ser resolvido no resto da peça”. Nenhuma sinfonia antes desta havia iniciado com pura atmosfera de suspense, em que o compositor obscurece e depois evoca os três elementos básicos da música – tonalidade, ritmo e melodia – que ele deliberadamente deixa em aberto a todas as possibilidades. O mais antigo e misterioso intervalo da música, A (lá) e E (mi), sugere A maior ou menor. A orquestra soa como um tremolo sem ritmo. Esse é apenas o primeiro meio minuto! Todo o primeiro movimento é uma viagem extremamente dramática, mas coesa, através da exposição, desenvolvimento e recapitulação da forma de sonata estabelecida. Beethoven encerra com uma coda apropriada que retorna ao mistério da introdução do tema inicial.

O segundo movimento, um scherzo, combina brilhantemente a tensão nervosa e explosões alegres. Embora muitas vezes ofuscada pelos outros movimentos, ela também começa com uma inovação surpreendente de tímpanos sendo usados não apenas em seu papel habitual de reforço rítmico, mas como um solo melódico. A libertação que Beethoven introduziu para este instrumento anteriormente coadjuvante indubitavelmente inspirou Berlioz (em sua Symphonie Fantastique), Mahler (sua Sexta Sinfonia), Stravinsky (seu Rito da Primavera) e tantos outros, e possivelmente pavimentou o caminho para usos improvisados. Outro grande avanço foi o uso da pausa (silêncio) como elemento musical – dos oito compassos do tema, quatro não contêm notas. O conceito de tratar o som e a calma como componentes musicais iguais é completamente moderno para a época e uma base essencial para o minimalismo e a música aleatória.

O terceiro movimento é o mais formal e convencional dos quatro, um devaneio adorável e melancólico de variações de dois temas complementares que acalma a plateia para a complexidade emocional do movimento final.

O milagre do quarto movimento talvez seja a realização mais significativa do compositor e a mais profunda prova de seu gênio – Beethoven pega uma sacola de ideias aparentemente aleatórias e não-relacionada e consegue integrá-las em uma estrutura que não é apenas totalmente coesa, mas imensamente enriquecida pela diversidade de seus componentes (e assim simbolicamente ilustra seu tema da universalidade da humanidade). De fato, Beethoven não desafia, mas transcende a racionalidade.


Ó, amigos, não esses sons!
Em vez disso, cantemos algo mais
Agradável e alegre

Alegre! Alegre!

Alegria, formosa centelha divina
Filha do Elíseo
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce voo se detém

Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!

Sim, e também aquele que chame de sua
Apenas uma só alma no mundo
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza
Todos os bons, todos os maus
Seguem seu rastro de rosas

Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!

Alegremente, como seus sóis voem
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos
Alegremente como o herói diante da vitória

Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado
Milhões, vocês estão ajoelhados diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do Céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora!

Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Alegria, formosa centelha divina
Filha do Elíseo
Alegria, formosa centelha divina, centelha divina !

De todas as obras de Beethoven, a Nona sinfonia tem tido o impacto mais amplo, e o espectro mais variado de interpretações. Desde o tempo de Beethoven até os nossos dias, gerações de eruditos, músicos, artistas e críticos deram um passo à frente para dar voz a suas interpretações, muitos deles focalizando somente a “Ode”, em vez de a sinfonia como um todo.

Esta foi a primeira gravação da Sinfonia número 9 de Beethoven que possuí, dada por um querido tio italiano (Paschoal) que adorava samba. Este disco tem a falha horrível de dividir o terceiro movimento entre os lados “A” e “B” . A música, claro, é subjetiva, e muitos fatores podem afetar nossas decisões o fato é que ainda depois de mais de quarenta anos desde a minha primeira audição deste vinil é a performance que mais gosto. Mas isso realmente não importa, cada um de nós tem sua própria nostalgia. Há excelentes gravações desta obra, som digital, orquestras afiadas, regentes modernos e talentosos tantas vezes postados aqui no blog (esta versão AQUI do amigo fdpbach por exemplo). Leopold, no entanto, ainda traz aos meus ouvidos todo o poder, intensidade e amplitude que se poderia desejar, e os últimos momentos da sinfonia – momentos que costumo usar como um desempate quando se trata de julgar uma performance – é para mim a melhor. Eu absolutamente amo do começo ao fim o velho LP.

A interpretação de Stokowski da 9ª sinfonia de Beethoven tem muitos bons momentos e é uma adição valiosa a qualquer coleção de Beethoven. É incrivelmente leve e claro, especialmente para um regente que tinha 85 anos quando o gravou; Stokowski gera nobreza e grandeza sem nunca se arrastar. O coro e os solistas são excelentes: Heather Harper é vibrante e apaixonada. Sempre é um prazer ouvir os tons ricos de Heather Watt, Alexander Young é surpreendentemente incisivo para uma voz tenor e Donald McIntyre uma torre de força.

Aumentem o volume do aparelho e viajem nesta magnífica interpretação de Leopold Stokowski !

Sinfonia No.9 em ré menor, op.125 – Coral
02 – Beethoven – Symphony No.9 in D minor, op.125 ‘Choral’ I. Allegro ma non troppo, un poco maestoso
03 – Beethoven – Symphony No.9 in D minor, op.125 ‘Choral’ II. Molto vivace, Scherzo
04 – Beethoven – Symphony No.9 in D minor, op.125 ‘Choral’ III. Adagio molto e cantabile
05 – Beethoven – Symphony No.9 in D minor, op.125 ‘Choral’ IV. Presto

Leopold Stokowski regendo a Orquestra Sinfonica de Londres e Coro
Coro: John Alldis
Heather Harper, Soprano;
Helen Watts, Contralto;
Alexander Young, Tenor;
Donald McIntre, Baixo.
Recorded at Kingsway Hall, London on 20th-21st September 1967
Disco – 1970, The Decca Record Company Limited, London

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“Todos os homens devem ser irmãos …” Quem sabe Beethoven, quem sabe….

Alexander Scriabin (1872-1915): The Complete Piano Sonatas

Alexander Scriabin (1872-1915): The Complete Piano Sonatas

Não há experiência mais interessante e encantadora que perceber o desenvolvimento de Beethoven nas suas 32 sonatas para piano. Elas descrevem praticamente todas as fases técnicas e pessoais na carreira do compositor. Algo que chega próximo disso é a audição das 10 sonatas para piano do compositor russo Alexander Scriabin. Ouça a sonata n.1 e depois a n.10, dois compositores completamente distintos.

Nas primeiras três sonatas sentimos uma forte influência de Chopin, mas não o Chopin delicado das valsas e noturnos, e sim dos estudos e das duas últimas sonatas, o Chopin revolucionário. Eu já considero a primeira sonata para piano op.6 uma obra-prima. Ela tem quatro movimentos e é a mais longa de suas sonatas. O primeiro movimento (allegro con fuoco) já arrebata a atenção do ouvinte. O quarto movimento, uma marcha fúnebre em homenagem a Chopin, é uma das coisas mais lindas já escritas.

A sonata n.2 op.19 é chamada de sonata-fantasia, pois tem dois movimentos (lento-rápido) praticamente ligados. Um início melancólico com um movimento final arrebatador. Essa obra foi meu primeiro contato com a música de Scriabin, e ainda guardo na memória a época e lugar que ouvi.

A sonata n.3 op.23 talvez seja a obra, entre as demais, cujos temas são mais memoráveis. O movimento andante é sublime. Na sonata n.4 op.40 descobrimos uma sonoridade quase jazzística (Bill Evans?). Poderia ser tocada em qualquer bar “blue note” de esquina e seria muito bem recebida pela tribo do Jazz.

A partir da sonata n.5 op.53 já ouviremos um compositor que, independentemente da escola de Schoenberg, também estava explorando, no mesmo período, os limites do tonalismo. As sonatas também começam a ter apenas um só movimento.

Nesse período (pós-1903) a vida do compositor estava mudando completamente. Scriabin abandonou a mulher e quatro filhos. Partiu com a amante para Paris. Além disso, estava obcecado com as delirantes idéias teosóficas. Suas sonatas também são um reflexo dessas atividades metafísicas. A sonata n.7 op.64 chamada de White Mass é uma experiência mística. Harmonia dificílima, praticamente música atonal. A três últimas sonatas também atingem um ponto que nenhum outro compositor depois dele superou. Nem mesmo as sonatas de Prokofiev …

Devo confessar que apesar da extraordinária interpretação do pianista Marc-André Hamelin, ainda acho os registros feitos por Horowitz insuperáveis (infelizmente ele nunca gravou a integral) .

obs: Pode aparecer o nome do pianista Murray Mclachlan no seu player, mas acredite, a gravação é do Marc-André Hamelin.

Alexander Scriabin (1872-1915): The Complete Piano Sonatas

CD1:

1-4. Piano Sonata n.1, op.6
5-6. Piano Sonata n.2 (sonata-fantasy), op.19
7-10. Piano Sonata n.3, op.23
11. Fantasie op.28
12-13. Piano Sonata n.4, op.30

CD2:

1. Piano Sonata n.5, op.53
2. Piano Sonata n.6, op.62
3. Piano Sonata n.7, op.64
4. Piano Sonata n.8, op.66
5. Piano Sonata n.9, op.68
6. Piano Sonata n.10, op.70
7. Sonata-Fantaise (1886)

Performed by Marc-André Hamelin

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Marc-André Hamelin testando pianos na Sala Especial de Teclados do PQP Bach

CDF

W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nº 23 e 24 (Brendel/Marriner/St Martin in the Fields)

W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nº 23 e 24 (Brendel/Marriner/St Martin in the Fields)

“É uma revolta? – Não, Majestade, é uma revolução.”  (diálogo entre Luís XVI e o duque de La Rochefoucauld no dia 14 ou 15 de julho de 1789)

O músico, maestro e escritor autríaco Nikolaus Harnoncourt (1929-2016) disse uma vez: “A expressão historicamente informado me dá enjoo”. Ele se considerava “não informado, mas curioso”. Pois bem, sejamos curiosos.

A ideia de que algumas tonalidades eram apropriadas para expressar certos tipos de humor ou características psicológicas era universalmente aceita nos séculos 17 e 18, em parte por causa do temperamento desigual, que fazia com que as terças e quintas de cada tom fossem notavelmente diferentes. Isso se torna menos relevante com o temperamento uniforme, aquele que Bach “defendia” ao publicar o Cravo bem temperado.
A época da Revolução Francesa e da Revolução Industrial é também a época de uma mudança profunda nos gostos. O mundo da música barroca se caracterizava pelo temperamento desigual e por desigualdades também no ritmo e na articulação. Esse período revolucionário coincidiu com a popularização da ideologia do desenvolvimento e do progresso, que ocuparam até nossa bandeira brasileira. Esse conjunto de valores acompanha a uniformidade da produção industrial e da linha reta. É um mundo completamente diferente do anterior: uma revolução estética. Vejam por exemplo a caligrafia de Bach e de Mozart em partituras escritas pela mão dos compositores. Bach parece se divertir desenhando curvas elegantes, enquanto Mozart prefere a linha reta. É um golpe baixo naqueles que acham a música do pai de P.Q.P. um tanto quadrada ou uniforme… quem acha isso, me desculpe, mas está com pouca curiosidade.

Sonata para violino BWV 1001, pelas mãos de Bach. Niemeyer gostaria de ver essas curvas!
Concerto para piano nº 24, pelas mãos de Mozart

Resumindo: até meados do século 18, as desigualdades entre tonalidades dão a cada composição uma “cor” diferente, como se dizia na época. Por outro lado, era muito difícil modular (trocar de tonalidade durante a execução). Na música de Mozart e Beethoven, a escolha dos tons ainda tem uma grande importância, mesmo se as razões são mais culturais do que propriamente acústicas. E as modulações são abundantes.

Para os franceses Jean-Philippe Rameau (Tratado de Harmonia, 1722) e M. Charpentier (Regras de composição, 1690), o tom lá maior é alegre e camponês, enquanto para o alemão Christian Schubart (Ideias sobre a estética da música, séc.18), ele contém declarações de amor inocente, alegria juvenil. O Concerto nº 23 de Mozart, em lá maior, realmente é menos heroico e grandioso que os outros concertos de 1986, ele tem um caráter mais brilhante e bucólico como o 15º e o 17º concertos, mas com a presença do clarinete, que só aparece do 22º ao 24º.
O Concerto nº 24 é em dó menor, tonalidade que para Charpentier é obscura e triste e, para Rameau e Schubart, combina com lamentos de amor infeliz. Para Mozart, porém, essa tonalidade já apresenta o caráter de ombra, termo italiano usado para as cenas de ópera em que aparecem oráculos, demônios, bruxas ou fantasmas. Não por acaso, Beethoven ficaria muito associado ao dó menor em suas composições mais sombrias ou misteriosas: Sonata Patética, Sinfonia nº 5 (o tan-tan-tan-tan do “destino”), Sonata op.111, etc.

Outra obra de Beethoven em dó menor é o Concerto para piano nº3, em que o tema inicial que é quase um plágio do 24 de Mozart. E realmente não é uma coincidência: Beethoven teria dito a um amigo, ao ouvir este concerto nº 24: “nós nunca vamos conseguir fazer algo assim”. Na Beethoven-Haus em Bonn, há vários cadernos de Beethoven em que ele estudava os concertos de Mozart, cheios de anotações.

Last but not least, fiquem com a postagem original de P.Q.P., que descreve o pianista Alfred Brendel melhor do que eu conseguiria.

Antes que alguém tente algo mais violento, aí vão mais dois concertos para piano de Mozart. Nestas gravações, Brendel alcança aquele pontinho exato entre a pura alegria de tocar Mozart e o abismo representado por uma interpretação superficial. A naturalidade e a categoria com que o pianista permanece nesta posição é para qualquer um – aí sim! – abismar-se. A foto abaixo foi-me mostrada pela mais querida das amigas e não posso me furtar de mostrá-la a nossos leitores-ouvintes. Ah, com nossa exatidão habitual, informamos que o nome da gata de Brendel é Minnie.
P.Q.P. Bach.

Piano Concerto nº 23, K. 488, em lá maior
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Allegro Assai

Piano Concerto nº 24, K. 491, em dó menor
1 – Allegro
2 – Larghetto
3 – Allegretto

Academy of Saint Martin in the Fields
Alfred Brendel – Piano
Neville Marriner – Conductor

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Brendel E Minnie ReduzidaPleyel

W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nº 22 e 25 (Brendel/Marriner/St Martin in the Fields)

230 anos da queda da Bastilha!

Como foi dito na postagem de ontem, é interessante notar até que ponto a ascensão e o declínio da popularidade de Mozart em Viena coincidem com a ascensão e declínio das ideias iluministas no Império Austríaco. Os concertos que trago hoje, no aniversário de 230 anos do dia 14 de julho de 1789, mostram um Mozart no age da sua fama, compondo para orquestras grandes – para os padrões da época – e arrebatando as plateias vienenses com seu virtuosismo ao piano. Não há cadências escritas por Mozart para esses concertos (assim como para o 20, 21, 24 e o 26) provavelmente porque o compositor estreava os concertos, improvisava as cadências e não tinha tempo para compô-las para seus alunos tocarem. Vale ressaltar que, na época, qualquer pianista respeitável improvisava suas próprias cadências, ler a cadência e tocá-la nota por nota era coisa de iniciantes.

O tom mi bemol maior frequentemente era usado em obras impactantes e grandiloquentes como o Concerto Imperador e a Sinfonia Heroica de Beethoven. No Concerto nº 22 (1785) de Mozart, o sentimento heroico ocupa tdo o 1º moviemnto, desde o tema do primeiro compasso, enquanto os outros dois movimentos alternam entre momentos lentos e momentos heroicos: o 2º, lento e em dó menor, tem uma passagem rápida em dó maior no meio, enquanto o 3º, rápido, tem uma passagem lenta no meio. Esse procedimento simétrico é idêntico ao do Concerto nº 9 “jeunehomme”, também em mi bemol maior, e é um tipo de simetria que vemos, por exemplo, nas obras de Bartók, que sempre têm número ímpar de movimentos espelhados dessa forma.

O Concerto nº 25 é o mais longo de Mozart, um dos mais expansivos também em termos de orquestração e uso do piano. O tema principal do Concerto nº 25 (1786) tem uma grande semelhança com a Marselhesa, hino nacional francês, composto em 1792 pelo oficial do exército revolucionário francês Rouget de Lisle. Coincidência ou não, um hino para órgão composto em 1787 lembra ainda mais a harmonia da Marselhesa, enquanto o concerto 25 lembra mais o ritmo, então fica uma séria dúvida se o militar francês não cometia seus plágios aqui e ali… Ou se trataria apenas do “espírito da época” (Zeitgeist) ou, nas palavras de Jung, da sincronicidade?

Dúvidas e suposições à parte, temos aqui dois concertos do “Mozart heroico”, que precede em muitos sentidos o “Beethoven heroico”, aquele que tanta gente associou ao “espírito da Revolução”.

Concerto para piano e orquestra n. 22 em Mi bemol maior, KV. 482
1. Allegro
2. Andante
3. Allegro (Rondó)

Concerto para piano e orquestra n. 25 em Dó Maior, KV. 503
1. Allegro maestoso
2. Andante
3. Allegretto

Academy of St. Martin in the Fields
Alfred Brendel, Piano
Sir Neville Marriner, regência

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Pleyel

Antonio Salieri (1750-1825): Aberturas

Antonio Salieri (1750-1825): Aberturas

Salieri é um caso de incompreensão. A importância do compositor para a música do século XIX foi considerável.  Mas sua relevância foi minimizada em decorrência de boatos históricos. Sua música, entretanto, foi bastante conhecida à época em que o compositor viveu. Salieri não foi, historicamente, o sujeito invejoso e mesquinho retratado pelo cinema — mais precisamente no filme Amadeus (1984), de Milos Forman. O compositor gozou de um prestígio social considerável. Foi preceptor de Liszt, Mozart, Schubert, Meyerbeer, Beethoven, Hummel, entre outros. Esse quadro pintado por mim é uma pequena amostra do talento de Salieri. Sim, ele não possui o talento de Mozart, Haydn, Beethoven ou mesmo Hummel, mas merece ser conhecido por aquilo que fez. Não deixe de ouvir!

Antonio Salieri (1750-1825): Aberturas

01 – La secchia rapita
02 – Les Danaides
03 – Palmira Regina di Persia
04 – La fiera di Venezia
05 – Axur Re d’Ormus
06 – La Grotta di Trofonio
07 – Ouverture in Re maggiore
08 – Europa Riconosciuta
09 – Variazioni sulla Follia di Spagna

Moldavian National Symphony Orchestra
Silvano Frontalini, regente

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Antonio_Salieri (pintura de Joseph Willibrord Mähler)

Carlinus

Leopold Stokowski (1882-1977): Native Brazilian Music

Leopold Stokowski (1882-1977): Native Brazilian Music

Nos idos de 1940, em plena segunda guerra mundial, os EUA estavam empenhados em realizar a chamada “Política da Boa Vizinhança” iniciada ainda em meados da década de 30. Um dos ramos deste projeto era basicamente integrar a cultura entre as Américas, e assim, no verão americano de 1940, o Maestro Leopold Stokowski (1882-1977) embarcou no navio S.S. Uruguay com sua orquestra a “All-American Youth Orchestra” e zarpou para uma turnê de Boa Vizinhança ao Brasil, Argentina, Uruguai, e alguns países da América Central. Seu primeiro porto de escala foi o Rio de Janeiro.

 

HVL ao piano ao lado de Magda Tagliaferro

Dono de uma inconfundível cabeleira prateada o britânico, de pai polonês e mãe irlandesa, desembarcou no cais do porto do Rio às 18h30 do dia 7 de agosto de 1940. A recepção foi liderada por Villa-Lobos, que, na companhia da pianista Magda Tagliaferro, velha conhecida de ambos, recebeu o amigo Stokowski com um abraço efusivo. Eles se conheceram na Paris dos anos 1920, e desde então, envolvidos com a criação e a promoção da música erudita moderna, estabeleceram uma amizade duradoura. Antes da turnê pelas Américas, o maestro vinha trocando cartas com Villa sobre um dos intentos de sua visita (integral da carta no fim do texto), e solicitou sua ajuda para recolher e gravar “a mais legítima música popular brasileira”. O maestro explicou que, devido ao seu grande interesse pela música do Brasil, ele iria pagar todas as despesas envolvidas e até especificou os tipos de música que desejava: sambas, batucadas, marchas de rancho, macumba, emboladas, etc. As gravações propostas estavam destinadas a lançamento pela Columbia Records. Elas também seriam tocadas em um congresso folclórico pan-americano que estava por vir (e que nunca aconteceu).

Villa-Lobos atendeu ao pedido do maestro e recorreu ao seus amigos, os sambistas Donga, Cartola e Zé Espinguela, que convocaram a nata dos músicos do Rio. Talvez apenas um homem da estatura de Villa-Lobos e suas ligações com os mundos do choro e do samba poderia ter reunido tal “Dream Team” do Samba para Stokowski. De fato, qualquer cartaz anunciando o seguinte rol seria um item de colecionador avidamente procurado hoje, (eu pelo menos não achei nada, nenhum cartaz do dia na net…).

Donga, Stoki e HVL

Em uma grande cerimônia, subiram ao S.S. Uruguay, em agosto de 1940, nomes como Pixinguinha, Donga e João da Baiana, a Santíssima Trindade do Samba – maiores representantes da primeira geração de sambistas do Rio. Também estiveram lá Cartola, ao lado de sua Estação Primeira e um coro de pastoras da Mangueira; Zé da Zilda, um dos primeiros sambistas “de morro”, provenientes das Escolas de Samba, a fazer sucesso “no asfalto”; Jararaca e Ratinho, mestres da embolada; Luiz Americano, saxofonista e chorão, um dos pioneiros no uso do instrumento na música popular brasileira; e Zé Espinguela, macumbeiro, figura de suma importância para o meio cultural da época.

As gravações transcorreram durante toda a madrugada de 8 para 9 de agosto, algumas poucas horas após a atracação do S.S. Uruguay. O convés do navio, frequentado por Stokowski, dirigentes da NBC/RCA por jovens instrumentistas dos Estados Unidos, foi tomado por dezenas de músicos do Rio, alguns deles em traje de carnaval, pois se acreditava que haveria filmagem (também o que nunca aconteceu).

Musicos da AAYO

Em seu livro “Todo Tempo que Eu Viver” (Rio de Janeiro, Corisco Edições, 1988), o cineasta Roberto Moura citou uma reportagem que apareceu no jornal A Noite em 8 de agosto de 1940:
“[…] O salão de música do S.S. Uruguai em toda sua existência talvez não tenha abrigado tantas celebridades como o fez ontem à noite. […]. As 22 horas, começou a concentração dos conjuntos, escolas de samba, orquestra, gente que ia cantar e gente que ia ouvir. Nesse último grupo, o próprio comandante do navio, que logo tomou lugar em uma cômoda poltrona, de onde acompanhou todo o desfile. Pixinguinha, Jararaca, Ratinho, Luís Americano, Augusto Calheiros, Donga, Zé Espinguela, Mauro César, João da Baiana, Janir Martins, Uma ala do Saudade do Cordão [sic], que tanto sucesso alcançou no último carnaval, a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, o compositor David Nasser, toda essa gente fala, comenta, discute, até que tem início a trabalho das gravações. À medida que os ponteiros dos relógios correm, os passageiros do Uruguai voltam dos seus passeios pela cidade e vão tomando lugar no vasto salão. E os grupos se sucedem diante do microfone na tarefa das gravações. Já passava muito da meia-noite quando chegaram os maestros Stokowski e Villa-Lobos. Os fotógrafos se movimentam, na ânsia de colher os melhores flagrantes, mas o famoso regente de Filadélfia foge discretamente das objetivas. Por fim, desaparece de vez do salão. E, assim, de número em número, passa a noite e já é a madrugada que surge. O salão de música do Uruguai ainda cheio. Agora, a maior parte da platéia é constituída dos elementos da “All American Youth Orchestra”, que, curiosos, procuram conhecer os instrumentos típicos. Na sexta-feira, 9 de agosto, com pelo menos quarenta músicas gravadas (alguns dizem uma centena), Stokowski deu adeus ao Rio de Janeiro e partiu para São Paulo. O que ele deu aos músicos por seu trabalho? Apenas seus cumprimentos entusiasmados.”

A Columbia Records lançou as gravações de Stokowski feitas no S.S. Uruguay no inicio de 1942 sob o título “Native Brazilian Music”. Das oficiais quarenta músicas gravadas, apenas dezessete viram a luz do dia, em dois álbuns, cada um contendo quatro discos 78-RPM. As notas na contracapa anunciavam:
“Aqui neste álbum da Columbia Discos você tem a autêntica música do Brazil… Magnificamente tocada por músicos nativos… Selecionados e gravados sob a supervisão pessoal de Leopold Stokowski. Estas expressivas gravações foram feitas durante a excursão pela América do Sul do maestro Stokowski com a All American Orchestra. Em vários pontos da Excursão, o doutor Stokowski ouviu o folclore nativo e a música popular interpretados por músicos dos nossos bons vizinhos. Para a gravação, escolheu o que concluiu ser o melhor e o mais típico”.

A maioria dos músicos morreu sem nunca ter ouvido as gravações. Poucos foram pagos por elas. Cartola, por exemplo, recebeu uns míseros 1.500 réis, o suficiente para comprar três maços de cigarro baratos, um ano e meio depois das gravações. Em uma entrevista dada a Sérgio Cabral em 1974, Cartola disse que finalmente ouviu “Quem Me Vê Sorrir” — sua primeira gravação cantando — na casa de Lúcio Rangel uns bons vinte anos depois das sessões no S.S. Uruguay. Dois outros participantes da mesma gravação, Aluísio Dias (1911–1991) e Dona Neuma Gonçalves Silva, tiveram de esperar até 1980 para ouvi-la em fita. Dona Neuma (1922–2000) era a filha do presidente da Mangueira Saturnino Gonçalves, e grande dama do samba, tinha em 1940 apenas 18 anos e foi uma das pastoras que forneceram o acompanhamento vocal eletrizante em “Quem Me Vê Sorrir”.
Em uma entrevista de 1981 para o cineasta Roberto Moura, Dona Neuma ainda lembrava com simplicidade e carinho os detalhes a comida deliciosa servida a bordo do S.S. Uruguay 41 anos antes: “…. assim, eu ainda era criança, mas os coroas que foram, foram a fim de comer, tinha muita coisa boa pra gente comer, aí foi a primeira vez que nós comemos peru com abacaxi, carne de porco com ameixa, um jantar luxuoso. Gravamos, depois da festa é que teve a recepção. […] Foi tudo no mesmo dia. Foi rápido. Foi de tarde mas o samba rolou até de manhã. Eu dormi no convés do navio, que gostoso lá. […] Tinha um tipo de uma aletria com presunto, queijo, sei lá, não era macarrão era aletria, mas muito bem feita, soltinha, não ficou aquela lama não, que a gente faz uma aletria, muito bem feita, não sei como é que eles cozinharam aquilo, mas ficou soltinha, acho que eles fizeram o molho depois cozinharam o macarrão ali dentro, deram uma sacudidela que ficou soltinho, uma delícia, mas eu só queria comer, sabe? Comer e andar pelo navio. […] Era um navio bonito. […] Era um salão bonito, tinha um palco, nós cantamos num palco, ele regendo. Ele regia a nós, tinha uma orquestra e a bateria nossa. […] Ele regia a orquestra, depois veio e regeu a bateria e a gente. Nós já sabíamos porque o maestro Villa-Lobos ensinou os gestos da mão, como ia, se fosse levantando, se fosse levantar, todos os gestos nós sabíamos, ensinados pelo maestro Villa-Lobos. Ele ensinava aqui, na escola, em todo lugar, porque o maestro que nós conhecíamos naquela época foi o Villa-Lobos, foi ele. Ele vinha aqui no morro muito, porque ele era amigão do Cartola….”

A Columbia nunca lançou “Native Brazilian Music” no Brasil, e até hoje, as únicas cópias conhecias poderiam ser contadas nos dedos de uma mão. Nem o governo do Brasil nem qualquer outra entidade brasileira fez algum esforço para recuperar estas gravações. Em 1987, durante o centenário de Villa-Lobos, o Museu Villa-Lobos (MVL) no Rio de Janeiro lançou as 17 faixas de Native Brazilian Music em um LP produzido por Suetônio Valença, Marcelo Rodolfo, e Jairo Severiano, com notas do musicólogo Ary Vasconcelos (encarte junto com as faixas no download). A música foi transferida não a partir das matrizes originais, cujo paradeiro (se sobreviveram) continuou desconhecido, mas a partir de discos 78 rpm doados pelo colecionador Flávio Silva. Estes dois albuns contendo 4 discos 78 rpm cada, com 17 faixas no total, devem constar entre os mais importantes discos brasileiros em qualquer época, porém, foram lançados apenas…nos USA! Das 40 músicas gravadas, a Columbia lançou somente 17. Que outros tesouro mais se perderam ?

Vou parar por aqui. Quando os jornalistas, os políticos, os artistas leram as impressões e comentários dos jornalistas Americanos a coisa do “políticamente correto” e “boa vizinhança” ficou meio que “à deriva”, virou uma grande “quizumba”,  quase um problema diplomático. Coisas do tipo: “… o Brazil é muito bonito, uma grande tribo. Os nativos são gente qua andam e dançam sem roupa, alegres e alheios a grande guerra eropéia…..”. Bom como brasileiros nós nem precisamos nos esforçar para saber as respostas que foram dadas, e as respostas das respostas e por ai vai… Fora o mal-estar dos outros grandes artistas que ficaram de fora do evento sem terem sido convidados. Sobrou para o Villa explicar por que não convidou Siclano e Beltrano. Internamente entre os músicos da época houve muita ciumeira. Talvez esta seja uma explicação próxima do “porque” a Columbia jamais lançou esta pérola em terras Tupiniquins.

Integral da Carta do Villa para o Stokowski:

Rio de Janeiro, 16 de julho de 1940
“Caro Sr. Stokowski
Recebi sua carta do dia 3 do corrente e me apressei para responder para expressar todo o prazer que tive ao saber de sua visita iminente ao Brasil.
Estou verdadeiramente encantado com os seus planos para intercâmbio folclórico entre as nações dos continentes americanos por intermédio de discos.
Você pode contar comigo, pois farei tudo que me for possível para satisfazê-lo, correspondendo à confiança que você depositou em mim.
Estou mandando em anexo um plano das gravações que devem ser feitas por cantores populares (oriundos dos estados mais típicos dos Estados [do Brasil] e que vivem nos ambientes da Capital), vestidos em roupas típicas, se for necessário para filmagem.
Para mobilizar estes elementos, o seguinte é necessário:
1) – Seu consentimento em uma resposta urgente para
iniciar a convocação destes elementos nos próximos dez dias;
2) – A garantia de 500 dólares para despesas gerais;
isto é, a estes músicos, que devemos pagar para
reuni-los, que é uma coisa muito difícil;
3) – As cópias dos discos gravados devem permanecer no Rio,
mesmo aqueles que serão gravados nos países americanos;
Se você estiver de acordo com o plano apresentado abaixo, seria mais conveniente se você enviasse o mais rápido possível instruções para a Embaixada dos Estados Unidos da América do Norte do Brasil, para que haja um entendimento material com o organizador dos elementos típicos que irão servir em sua gravação planejada, pois eu não tenho os meios materiais para o empreendimento. No entanto, eu poderia organizá-los e coordená-los com prazer.
Quanto à parte artística de sua excelente orquestra de jovens americanos, eu devo lembrá-lo de que, para o maior sucesso possível e para a simpatia e interesse da nova geração brasileira, deve-se organizar programas principalmente com música moderna, e incluir em cada concerto um compositor brasileiro, de sua escolha, e outro dos Estados Unidos. Como você, eu tenho um grande interesse na troca da música artística entre os dois Continentes.
Aguardando sua resposta urgente, eu peço a você, Caro Senhor, para aceitar a confiança de meus sentimentos mais distintos,
H-Villa-Lobos
Avenida Almirante Barroso, 81 – Edifício Andorinha, 5° and.
s/ 534 – Rio de Janeiro, Brasil”

Nas gravações de Stokowski, Pixinguinha tocou sua flauta brilhante em muitas faixas, e cantou um dueto com Jararaca.

 

 

 

O conjunto regional de Donga forneceu muitos dos acompanhamentos nas gravações de Stokowski.

 

 

João da Bahiana – Por muitos anos o mais importante percussionista no Brasil, ele é tido como o responsável por introduzir o pandeiro no samba e no choro e transformou a faca e prato em instrumento rítmico.

 

 

 

Cartola – Nas sessões de Stokowski, onde ele fez suas primeiras gravações cantadas, Cartola foi acompanhado pelo compositor/violonista da Mangueira Aluísio Dias e um grupo de percussionistas da Mangueira.

 

 

Zé Espinguela—José Gomes da Costa (1901–1944). Pai-de-santo e importante pioneiro do samba. Quando o samba ainda era ilegal, Espinguela recebeu rodas de samba em sua casa seguidas das cerimônias de macumba. Encabeçou o Bloco dos Arengueiros no morro da Mangueira (primeiro desfile de Carnaval: 1927), do qual surgiram os sete fundadores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, dentre eles Espinguela. Inventou a competição de escolas de samba em 1929. Popularmente conhecido como Pai Alufá, ele foi acompanhado nas gravações de Stokowski pelo grupo vocal-instrumental-de dança que geralmente tocava em suas festas, fossem elas sagradas ou profanas. Estas foram as únicas gravações cantadas feitas por Espinguela, também conhecido como José ou Zé Spinelli.

O S.S. Uruguay atracado na Praça Mauá no Rio de Janeiro. Foi um dos três navios de Boa Vizinhança pertencentes à American Republics Line e operado pela Moore-McCormack Lines. Em maio de 1939, o Uruguay trouxe Carmen Miranda para Nova York pela primeira vez.

 

 

Estaremos nas próximas postagens fazendo uma singela homenagem ao grande Maestro Leopold Stokowski, esta é a primeira de sete.

Apreciem e divulguem esta preciosidade ! Quem sabe um dia ainda aparece as outras 23 faixas gravadas…. o material do álbum de 1987 está em “pdf” junto com a música no “download”.

Native Brazilian Music

1 – Macumba de Oxóssi ( Donga, José Espinguela e Grupo Pai Alufá)
Está assinada por Donga e Espinguela. Essa macumba “with vocal ensemble” como explica a mesma etiqueta, foi gravada pelo Grupo de Pai Alufá. Como se sabe, Oxóssi é o orixá dos caçadores, sendo sincretizado, no Rio de Janeiro, como São Sebastião, e como São Jorge, na Bahia. Seu símbolo é o arco e flecha, dançando com essa arma em uma das mãos e com um erukerê (uma espécie de espanador feito com rabos de boi) na outra. O Grupo do Pai Alufá era um conjunto vocal-instrumental coreográfico dirigido por Zé Espinguela e que animava as festas deste, fossem elas sagradas (macumbas) ou profanas (sessões de samba e de chula). A voz solista é do próprio Espinguela.

2 – Macumba de Iansã (Donga, José Espinguela e Grupo Pai Alufá)
Outra macumba de Donga e Espinguela, gravada pelo mesmo grupo e com Espinguela como solista. Iansã, orixá feminino, esposa de Xangô, é sincretizada como Santa Bárbara. Dança geralmente com um alfange e um eruxim de rabo de cavalo.

Estas faixas (1 e 2) foram os únicos registros feitos por Espinguela em sua vida

3 – Ranchinho Desfeito (Donga, De Castro e Souza, David Nasser)
Uma antiga composição de Donga, letra de De Castro e Souza, ocupa a terceira faixa do nosso LP do primeiro álbum americano. Joel Nascimento canta com o Regional de Donga. Pixinguinha, então com 42 anos, “rouba” porém o fonograma com empolgante atuação na flauta.

4 – Caboclo do mato (de Getúlio marinho, com João da Bahiana, Jair Martins e Jararaca)
“Samba with vocal ensemble” está no selo do disco. Presentes nesta faixa o pandeiro de João e a flauta de Pixinguinha. A voz feminina – que repete “din, din, din, Aruama” – é provavelmente de Janir Martins.

5 – Seu Mané Luís (de Donga, com Zé da Zilda e Janir Martins)
Janir Martins dialoga com Donga neste “samba with vocal duet”. No acompanhamento, mais uma vez, o regional de Donga, com Pixinguinha à flauta.

6 – Bambo do bambu (de Donga, com Jararaca e Ratinho)
Jararaca e Ratinho cantam a embolada assinada por Donga. Nesse autêntico “destrava a lingua”, Ratinho, embola-se e tem a sua travada antes da hora…O violão sensacional que encerra a gravação é de Laurindo de Almeida.

7 – Sapo no saco (de Jararaca, com Jararaca e Ratinho)
Novamente Jararaca e Ratinho, agora na embolada Sapo no saco, de ambos, um clássico do gênero. Uma das raras composições deste repertório já gravadas anteriormente, Sapo no saco foi lançado em disco por Jararaca em abril de 1929.

8 – Que quere que quê (de João da Baiana, Donga e Pixinga, com João da Bahiana e Janir Martins)
Macumba carnavalesca de Donga, João da Bahiana e Pixinguinha. O pandeiro de João da Bahiana e a flauta de Pixinguinha, mais uma vez, roubam a cena

9 – Zé Barbino (de Pixinguinha e Jararaca)
A peça que abre o lado “b” do LP é um maracatu estilizado escrito a quatro mãos por Pixinguinha e Jararaca e gravado em dupla pelos próprios autores. Trata-se ainda de um dos raros fonogramas em que Pixinguinha atua como cantor.

10 – Tocando pra você (Luiz Americano)
Momento extraordinário nas sessões de gravação realizadas a bordo do navio Uruguai foi este em que Luís Americano, acompanhado de regional, executou ao clarinete o seu deslumbrante choro Tocando pra você, que traz João da Bahiana ao pandeiro

11 – Passarinho bateu asas (de Donga, com Zé da Zilda)
No navio, coube a Zé da Zilda a interpretação. Mais uma vez, destaca-se no acompanhamento a flauta de Pixinguinha.

12 – Pelo telefone (de Donga, Mauro de Almeida, com Zé da Zilda)
“Pelo Telefone” é um dos sambas mais emblemáticos (foi primeira música registrada como ‘samba’ no Brasil) da história da música popular brasileira . “Zamba with vocal chorus” diz o selo do disco. Só que este “zamba” não é um samba qualquer, mas justamente o primeiro a celebrizar-se como tal. Pixinguinha tem aqui nova atuação extraordinária.

13 – Quem me vê sorrir ( de Cartola e Carlos Cachaça, com Cartola e Coro da Mangueira)
Outro ponto culminante dos dois álbuns Columbia: Cartola acompanhado pelo “Mangueira Chorus” (é como se encontra no disco) canta seu samba Quem me vê sorrir, letra de Carlos Cachaça (Carlos Moreira de Castro). Carlos, aliás, era para ter ido também ao navio Uruguai, mas justamente na noite da gravação teve plantão na Central do Brasil, onde trabalhava. Este seria, possivelmente, o mais antigo registro gravado da voz de Cartola.

14 e 15 – Teiru e Nozani-ná (Música Folclorica, adaptada po HVL, com Quarteto do Coral Orfeão HVL)
Um quarteto de professores do Orfeão Villa-Lobos canta estas duas composições de Heitor Villa-Lobos: Teiru, canto fúnebre pela morte de um cacique foi recolhido por Roquete Pinto em 1912 entre os Parecis. É de 1926, sendo o segundo dos Tres Poemas Indigenas. Nazoani-ná (Ameríndio) é uma das Canções Típicas Brasileiras, de 1919. O coro do Orfeão está designado no disco por “Brazilian Indian Singers”…

16 – Cantiga de festa (de Donga e José Espinguela, com Zé Espinguela e Grupo Pai Alufá)
Zé Espinguela e Donga assinam mais esta corima, cantada pelo primeiro com o apoio do Grupo Pai Alufá.

17 -Canidé Ioune (Música Folclórica adaptada por HVL)
Canidé Ioune é o primeiro dos Tres Poemas Indígenas, de Villa-Lobos. Está baseado em um tema indígena recolhido pelo viajante Jean de Léry em 1553. Para interpretá-lo voltam os “Brazilian Indian Singers”, isto é, os professores do Orfeão.

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Stokowski e a Santissima Trindade do Samba

 

Postado por Ammiratore em 21.6.2019, restaurado por Vassily em 12.12.2024, com saudades do amigo

Catalin Rotaru – Bass(ic) Cello Notes

Catalin Rotaru – Bass(ic) Cello Notes

Você já imaginou uma orquestra sem contrabaixos? Pois é: uma desgraça – pior ainda tratando-se de uma orquestra de cordas. Mas como instrumento solista falta ainda bastante para o contrabaixo se consolidar dentro do repertório orquestral, mesmo com Bottesini (o Paganini do instrumento) tendo aberto caminhos para seu virtuosismo.

Nem mesmo a música de câmara contribuiu com muita coisa, tanto que um camarada chamado Catalin Rotaru encheu o saco e começou a fazer transcrições de peças mais desafiadoras, originalmente escritas para violoncelo ou violino. O romeno residente nos EUA, por exemplo, pinta e borda na paráfrase que escreveu sobre o Capricho 24 do aludido Paganini.

Porém neste CD aqui vocês verão um Rotaru comedido (comedido na demonstração de domínio técnico), que preferiu colocar apenas uma paráfrase (sobre Bach) em meio a duas sonatas (Brahms e Rachmaninov) onde respeita praticamente por completo a partitura, tocando o contrabaixo no registro agudo – ou seja, nas cello notes.

Nessas sonatas, a interpretação de Catalin chega a ser mais lírica do que a de muitos cellistas (particularmente, pela primeira vez senti beleza nessa primeira sonata de Brahms), por isso recomendo o download – que passa a ser obrigatório para fãs de peças do gênero, isto é, de sonatas.

***

Catalin Rotaru – Bass(ic) Cello Notes

Brahms
1. Sonata for Cello and Piano No.1 in E Minor, Op. 38: Allegro Non Troppo 11:53
2. Sonata for Cello and Piano No.1 in E Minor, Op. 38: Allegretto Quasi Menuetto 5:43
3. Sonata for Cello and Piano No.1 in E Minor, Op. 38: Allegro 6:48

Bach
4. Chaconne from Partita No. 2 in D minor, BWV 1004: Ciaccona 14:30

Rachmaninov
5. Sonata for Cello and Piano, Op. 19: Lento – Allegro Moderato 10:56
6. Sonata for Cello and Piano, Op. 19: Allegro Scherzando 6:40
7. Sonata for Cello and Piano, Op. 19: Andante 6:13
8. Sonata for Cello and Piano, Op. 19: Allegro mosso – Moderato – Vivace 11:26

Catalin Rotaru, contrabaixo
Baruch Meir, piano

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Catalin Rotaru dizendo que poderia ser um tiquinho mais grave.

CVL

Erik Satie (1866-1925): Peças arranjadas para flauta e violão – Sketches of Satie

Erik Satie (1866-1925): Peças arranjadas para flauta e violão – Sketches of Satie

Eu, como um grande entusiasta da obra de Satie, quero compartilhar essa pequena joia musical.

“Sketches of Satie” é uma coletânea de composições originais para piano de Erik Satie, rearranjadas e tocadas pelos irmãos Steve (violão) e John Hackett (flauta). As peças foram tão bem transcritas para flauta e violão que é difícil acreditar, principalmente para os leigos, que não tenham sido originalmente compostas para estes instrumentos.

Os fãs do grupo Genesis, não serão surpreendidos pelo virtuosismo de Steve Hackett, ex-guitarrista da banda britânica. A revelação aqui é seu irmão John, que toca de forma tão natural e fluente, que demonstra uma inspiração quase divina.

A performance dos irmãos apresenta uma assombrosa e hipnótica, beleza exótica. Steve Hackett mostra aqui, porque é um dos melhores e mais versáteis violonistas (guitarristas) do mundo, cedendo os holofotes para seu irmão, ele exibe sem constrangimentos, uma admirável e irrestrita modéstia.

Uma ótima audição!

.oOo.

— Sketches of Satie —

1. Gnossienne No. 3 (2:24)
2. Gnossienne No. 2 (1:56)
3. Gnossienne No. 1 (3:18)
4. Gymnopédie No. 3 (2:36)
5. Gymnopédie No. 2 (2:52)
6. Gymnopédie No. 1 (3:55)
7. Pièces Froides No. 1 Airs À Faire Fuir I (2:46)
8. Pièces Froides No. 1 Airs À Faire Fuir II (1:36)
9. Pièces Froides No. 2 (2:05)
10. Avant Dernières Pensées (Idylle à Debussy) (0:57)
11. Avant Dernières Pensées (Aubade à Paul Dukas) (1:11)
12. Avant Dernières Pensées (Méditation à Albert Roussel) (0:54)
13. Gnossienne No. 4 (2:41)
14. Gnossienne No. 5 (3:20)
15. Gnossienne No. 6 (1:41)
16. Nocturnes No. 1 (3:31)
17. Nocturnes No. 2 (2:14)
18. Nocturnes No. 3 (3:36)
19. Nocturnes No. 4 (2:49)
20. Nocturnes No. 5 (2:27)

Steve Hackett (guitar)
John Hackett (flute)

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Os irmãos Hackett

Marcelo Stravinsky

Flausino Vale (1894-1954): Prelúdios

Flausino Vale (1894-1954): Prelúdios

Já que falei semana passada de Dworecki e sua contribuição à viola no Brasil, ocorreu-me de falar do maior dos violinistas e compositores para violino brasileiros (e que, vale abrir os parênteses, não se trata de um imigrante europeu): o mineiro Flausino Vale, chamado (com absoluta e inconteste razão) de “O Paganini brasileiro” por Villa-Lobos e que já foi executado por ninguém menos que Jascha Heifetz.

Por recomendação do Avicenna, acessei uma coleção da Funarte no Um que tenha (de onde tirei o arquivo que vocês irão baixar) e deparei com este CD em que Flausino é executado por seu maior admirador vivo: o violinista polonês naturalizado brasileiro Jerzy Milewski, que vez ou outra vejo passeando pela praia do Leme.

A maioria dos 21 prelúdios é de uma dificuldade paganiniana, pois parecem ter sido escritos para dois ou três violinos em um só, com a grande diferença – no plano da criação composicional – de se valer de cenas corriqueiras como fonte de inspiração (vejam os títulos nas faixas) e de incitar no ouvinte imagens de tal forma como Paganini nunca pensou lograr, tamanho o domínio da timbrística do violino que o mineiro possuía (quem não conseguir ouvir uma porteira em A porteira da fazenda ou identificar uma marcha fúnebre em Resquiescat in pace possivelmente tem agnosia irreversível).

Enfim, Flausino Vale é mais uma joia rara esquecida nessa bosta de país.

***

Flausino Vale (os prelúdios foram gravados fora da ordem original)

Devaneio
Sonhando
Tico-Tico
A Porteira da Fazenda
Viola Destemida
Folguedo Campestre
Implorando
A Mocinha e o Papudo
Asas Inquietas
Interrogando o Destino
Batuque
Requiescat In Pace
Mocidade Eterna
Acalanto
Rondó Doméstico
Tirana Riograndense
Repente
Brado Íntimo
Viva São João
Pai João
Casamento na Roça

Jerzy Milewski, violino

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Flausino: popular e erudito

CVL

Alexander Borodin (1833-1887): Príncipe Igor

Alexander Borodin (1833-1887): Príncipe Igor

Alexander Borodin (1833-1887) dividiu sua vida entre a música e as atividades de professor e pesquisador de química. Como cientista, chegou a ser conhecido internacionalmente, tendo escrito cerca de vinte estudos sobre química orgânica ! A música foi o seu sonho. A principal obra que compôs é esta que ora compartilho com os amigos do blog. O cara era um “cabeção”, sua memória era prodigiosa e muitas de suas invenções musicais foram perdidas porque, conhecendo-os de cor, ele não se preocupou em escrevê-las. Ele tinha uma imaginação fervorosa e sua fantasia permitia evocar países e arredores nunca vistos e conseguir traduzir suas visões deslumbrantes maravilhosamente em som. O grande exemplo é o seu Príncipe Igor (Knyaz’ Igor’ – 1869-87)  uma belíssima ópera em quatro atos e um prólogo.

A ópera Príncipe Igor foi o pensamento dominante da vida de Borodin e por ela se dedicou ao estudo histórico com atenção e cuidado. Ele leu os poemas Zadonshchina e A Batalha de Mamayevo, estudou as canções épicas e líricas do Turkmens, a fim de melhor compreender o caráter  polovtsiano dos Tártaros [Cumans]. Sua leitura do poema O Regimento de Igor provocou seu ardor poético e, assim, ele decidiu escrever o libreto de sua própria ópera. Enquanto isso, em contato com Balakirev, ele aprofundou seus estudos de composição, refinou seu gosto em harmonias e fortaleceu sua experiência técnica em orquestração, preparando assim para o cultivo de suas inclinações inatas para a arte e de seu temperamento como músico lírico. O libreto centra-se num príncipe russo do século XII (Igor Svyatoslavich) e nas suas campanhas contra as tribos polovtsianas invasoras que estavam interferindo nas rotas comerciais para o sul. A ópera foi encenada pela primeira vez em São Petersburgo em 4 de novembro de 1890. Borodin deixou a orquestração da ópera incompleta, inúmeras vezes interrompida e recomeçada. Composição e orquestração foram concluídas postumamente por Nikolai Rimsky-Korsakov e o jovem promissor Alexander Glazunov. De acordo com a partitura impressa, a ópera foi completada da seguinte forma: Rimsky-Korsakov orquestrou os trechos anteriormente não-orquestrados do Prólogo, Atos 1, 2 e 4, e a “Marcha Polovetsiana” que abre o Ato 3. Glazunov usou o material existente e orquestrou o terceiro ato inteiro e a abertura baseada nos temas de Borodin. Tanto a Abertura quanto as “Danças Polovetsianas” (do Ato II) são comuns em concertos e juntamente com a “Marcha Polovetsiana”, formam a chamada “suíte” da ópera.

Suas belezas musicais a redimiram do confuso libreto (sendo desconhecido o destino de dois personagens principais na cortina final). O Ato II do “Príncipe Igor”, o único que Borodin pode plausivelmente ter concluído (embora é sabido que tenha sido muito retocado por Glazunov e Rimsky-Korsakov), seria, sem dúvida, tão banal e despretensioso quanto este texto que vos escrevo, não fosse pelo fato de que cada número é uma obra-prima. O idioma exótico de Borodin, as melodias originárias do folclore, era um estilo intensamente pessoal e flexível, de todos os idiomas “Borodinescos” este ato é o mais identificável com o estilo do compositor, de grande expressão emocional. O “orientalismo” de Borodin enfatiza a coloratura cromática, em plena força sensual, os passes cromáticos crescem para abranger escalas inteiras, é a suprema expressão da música oriental, a exuberância do oriente visto pelos olhos europeus – traço de Borodin. Quando o dueto de amor deste ato atinge seu clímax, o efeito é surpreendente, a melodia resgata o texto insípido. As danças polovtsianas concludentes deste ato são sedutoras, uma música que beira a perfeição. Mais algumas cenas como essa, e o “Príncipe Igor” estaria entre as óperas mais representadas. A ópera é um magnífico exemplo da qual todos os ouvintes e críticos parecem encontrar alguma melodia que goste. Em sua ópera, Borodin visava ação cênica colorida, rica em incidentes, e ele escreveu uma espécie de “canção de gestos” em que a história flui para a clareza visual da apresentação. É o épico transmutado em lirismo e sinfonia. Um personagem não é um personagem concebido no espírito das limitações teatrais do drama, mas é a vida da emoção concentrada em uma figura humana. O plano se torna uma pintura, a pintura é animada pela música, o palco é carregado de cores e transfigurado em músicas e danças. Como Borodin colocou em uma carta, “Curiosamente, todos os membros do nosso círculo (Grupo dos 5) parecem se unir em meu Igor: todos estão satisfeitos com o Igor, embora possam divergir sobre alguns detalhes”.

Sinopse
Fatos encenados na cidade de Putivl e nos acampamentos Polovtsianos em 1185.

O prólogo.
O príncipe Igor, que está prestes a começar uma campanha contra Khan Konchak Rei dos polovtsianos, se recusa a dar ouvidos às advertências de sua mulher e de seu povo que interpretam um recente eclipse como um mau presságio. Seu cunhado, o príncipe de Galich (Kniaz Galitsky) suborna Skoula e Eroshka para encorajar o príncipe Igor em sua determinação de partir, ele deseja usurpar o lugar de Igor. Igor desavisadamente confia sua esposa aos seus cuidados (faixas 2 a 5).

Ato 1
(1) A corte do príncipe Vladimir Galitsky. Skula e Yeroshka cantam um hino ao devasso cunhado de Igor e conta como ele raptou uma donzela para seu prazer (faixa 6). Galitsky anuncia sua filosofia (faixa 7). Ele zomba da desaprovação de sua irmã Yaroslavna. Uma multidão de donzelas corre para protestar contra Galitsky (faixa 9). Os homens mostram brevemente medo de Yaroslavna , mas, voltando sua atenção para o vinho, voltam a cantar os louvores à Galitsky: ele deveria ser seu príncipe, não Igor (faixa12).
(2) Câmara nos aposentos de Yaroslavna Yaroslavna, ansiando por Igor, sofre de maus sonhos (faixa 13). A criada anuncia a chegada das donzelas, que se queixam do comportamento de Galitsky. Galitsky inesperadamente chega, assusta as donzelas, tenta rir das censuras de sua irmã, mas no final concorda em libertar a garota raptada; ele sai. Um grupo de soldados chega a Yaroslavna com notícias terríveis: Igor e seu filho Vladimir foram feitos prisioneiros pelos Polovtsï (faixa 16).

Ato 2
O acampamento polovtsiano; é noite, um coro de donzelas polovtsianas entretem Konchakovna com um hino para o início fresco da noite (faixa 17 – um canto envolvente, belíssimo !), após começa a famosa dança polovtsiana (faixa18). Konchakovna canta seu esperado encontro com Vladimir. Prisioneiros russos marcham no caminho de volta do trabalho forçado. Konchakovna pede que as donzelas levem água para eles. A patrulha polovtsiana faz a ronda. Ovlur furtivamente permanece no palco quando eles saem. Vladimir caminha cautelosamente até a tenda de Konchakovna e canta seu encontro (faixa 22), recitativo e cavatina. Konchakovna aparece, e os amantes cantam em êxtase. Eles correm ao som da abordagem de Igor. Ele canta uma elaborada ária em duas partes, a primeira expressando sua apaixonada sede de liberdade, a segunda seus ternos pensamentos de Yaroslavna (faixas 24 e 25). Ovlur aproveita o momento: ele se aproxima de Igor e propõe um plano de fuga. Igor a princípio se recusa a considerar tal curso desonroso, mas concorda; Ovlur desaparece. Khan Konchak entra, exalta a magnanimidade em direção ao seu “honrado convidado” (faixa 26). Ele se oferece para conceder a liberdade de Igor em troca de uma promessa de não-agressão, até sugere que eles se tornam aliados; a tudo isso Igor recusa-se firmemente, muito para a admiração de Konchak. O Khan ordena entretenimento de seus escravos, oferecendo a Igor escolha das donzelas. Começa a belíssima dança polovtsiana (faixas 28 a 30).

Ato 3
Um posto avançado do acampamento de Khan , prisioneiros retornam de Putivl, ha uma saudação tumultuada de Khan Konchak e dos Polovtsï, enquanto os russos observam (faixa 31). Konchak canta uma canção de triunfo. Ele ordena uma festa ; os khans partem para dividir os espólios; os russos lamentam sua derrota e pedem para Igor aceitar a oferta de Ovlur. Os Polovtsïs bebem e dançam em um estupor (faixa 35). Ovlur convoca Igor. Konchakovna, tendo ouvido falar do plano, corre ; ela discute com Igor sobre Vladimir, Igor fazendo seu apelo à melodia de sua ária “liberdade”. Finalmente, ela desperta o acampamento, e Igor deve fugir sem o filho. Os Polovtsï ameaçam Vladimir, mas Konchak, sempre magnânimo, poupa-o e até abençoa sua união com Konchakovna (faixa 38).

Ato 4
Na muralha da cidade de Putivl, Yaroslavna lamenta seu destino e o de seu marido (faixa 39). Alguns transeuntes cantam um lamento próprio ao destino de Putivl, uma estilização magistral e famosa da polifonia popular (faixa 40). O humor abatido de Yaroslavna é quebrado pelo som de batidas de cascos; ela reconhece Igor de longe. Quando ele desmonta, ela corre para ele e eles trocam cumprimentos. Skula e Yeroshka atrapalhados, reconhecendo Igor e em pânico salvam suas peles tocando o sinete para anunciar o retorno do príncipe e declarar sua lealdade (faixa 43). A ópera termina com um alegre coro de saudação (‘Sabemos que o Senhor ouviu nossas orações’).

Mark Ermler

Mark Ermler era um grande regente russo na linhagem de Golovanov, Melik-Pashaeyev e Boris Khaikin, com quem estudou. Seu talento dramático brilha nesta performance emocionante do Príncipe Igor, com algumas das estrelas mais radiantes do Bolshoi. Os cantores Ivan Petrov e Artur Eisen nos fazem lembrar como soam os verdadeiros baixos russos de “raiz”, Elena Obratsova subindo para alturas poéticas na cavatina assombrosa de Konchakovna canto maravilhoso, além de Vladimir Atlântov e Alexander Vedernikov esta turma toda estava entre os melhores cantores da geração pós-Stalin. Suas vozes são todas maravilhosas, expressivas e excepcionais, representantes exemplares da era soviética na década de 1960. Vladimir Atlantov, a resposta russa a Mario Del Monaco, esta incrível em seu canto. O dueto com Elena Obraztsova é impressionante; a voz dela é a mais bonita da gravação. O segundo ato, desde o início, passando pelo dueto de amor e as danças polovesianas, é a jóia da coroa dessa performance, mesmo se vocês (como eu) não entenderem nem uma palavra de russo vão se emocionar, repetir, repetir e repetir mais um pouquinho o segundo ato inteiro, realmente muito expressivo e belo.

A gravação está excelente, e é considerada pelos “experts” ainda como a gravação completa e definitiva desta ópera, apesar de ter sido feita em 1969. Coloquei como bônus a suíte das danças Polovtsianas e o libreto em russo e inglês.

Não deixem de ouvir, é linda, uma pérola para quem aprecia temas orientais !

Música soberba da mais linda cultura russa !!!!!

Personagens e intérpretes
Igor Svyatoslavich Principe de Seversk – Ivan Petrov – baritono
Yaroslavna sua segunda esposa – Tatiana Tugarinova – soprano
Vladimir Igorevich filho de seu primeiro casamento – Vladimir Atlantov – tenor
Vladimir Yaroslavich [Galitsky] Principe de Galich, irmã da Princesa Yaroslavna – Artur Eisen – baixo
Khan Konchak – Alexander Vedernikov – baixo
Gzak Polovtsian khan silent
Konchakovna filha de Khan Konchak – Elena Obraztsova – contralto
Ovlur um Polovtsian cristão – Alexander Laptev – tenor
Skula – Valery Yaroslavtsev – baixo
Yeroshka – Konstantin Baskov – tenor
Mulher Polovtsiana – Margarita Miglau – soprano

Choir & Orchestra State Academic Bolshoi Theatre
Regente: Mark Ermler

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Borodin, entre a música e a química.

Ammiratore

Anton Bruckner (1824-1896): Missa Nº 3

Anton Bruckner (1824-1896): Missa Nº 3

IM-PER-DÍ-VEL !!!

A obra de Bruckner é densa, funda; obra para monges; para asceses catárticas. Como no simbolismo místico de Cruz e Sousa a qual afirma na poesia Música Misteriosa:

Tenda de Estrelas níveas, refulgentes,
Que abris a doce luz de alampadários,

As harmonias dos Stradivarius

Erram da Lua nos clarões dormentes…

Pelos raios fluídicos, diluentes
Dos Astros, pelos trêmulos velários,

Cantam Sonhos de místicos templários,

De ermitões e de ascetas reverentes…

Cânticos vagos, infinitos, aéreos
Fluir parecem dos Azuis etéreos,

Dentre os nevoeiros do luar fluindo…

E vai, de Estrela a Estrela, a luz da Lua,
Na láctea claridade que flutua,

A surdina das lágrimas subindo…

Ouçamos Bruckner e diluamos as imoralidades, os sacrilégios, as inverdades. Que o mundo escute Bruckner e seja curado dos seus desmazelos, de suas chagas purulentas; de sua luxúria, de sua glutonaria pelas vaidades e seus repastos insossos. Sim! O último disco traz a maravilhosa Missa em Fá. É para ouvir e sentir-se beatificado. Subamos a montanha da música brukneriana e lá tenhamos um encontro com a prece e com a exaltação. Perdoem-me o afetamento. Mas a solidão e essa música imaculada “botam a gente comovido como o diabo” – Drummond. Boa apreciação!

Anton Bruckner (1824-1896) – Missa No. 3 em Fá menor para solistas, coro e orquestra

01. I – Kyrie. Moderato
02. II – Gloria. Allegro – Andante, mehr Adagio (sehr langsam)
03. III – Allegro – Moderato misterioso – Langsam – Largo –
04. IV – Sanctus. Moderato – Allegro
05. V – Benedictus. Allegro moderato – Allegro
06. VI – Agnus Dei. Andante – Moderato

Philharmonischer Chor München
Sergiu Celibidache, regente
Margaret Price, soprano
Doris Soffel, alto
Peter Straka, tenor
Matthias Hölle, baixo

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Carlinus

Johannes Brahms (1833-1897): As Sonatas para Violoncelo e Piano

Johannes Brahms (1833-1897): As Sonatas para Violoncelo e Piano

Há compositores que possuem uma linguagem singular e que nos toca profundamente. Certamente, Brahms é um desses. É um dos meus compositores favoritos. Gosto incondicionalmente de sua música, de sua sensibilidade. Achei que era um dever postar este CD. Achei-o recentemente. Pensei em não postá-lo. 160 kbps é uma quantia, para mim, pouco apetecível. Gosto de mp3s a partir de 224 kbps. Mas como se trata de uma CD com um conteúdo tão espetacular, decidi postar. Já fazia um certo tempo que eu não postava o bom e velho Brahms. E aqui ele aparece interpretado por Serkin e Rostropovich. Verdadeiramente imperdível! Um bom deleite!

Johannes Brahms (1833-1897): As Sonatas para Violoncelo e Piano

Sonata for Cello and Piano No. 1 in E minor, Op. 38
01. 1. Allegro non troppo
02. 2. Allegretto quasi Menuetto
03. 3. Allegro

Sonata for Cello and Piano No. 2 in F major, Op. 99

04. 1. Allegro vivace
05. 2. Adagio affettuoso
06. 3. Allegro passionato
07. 4. Allegro molto

Mstislav Rostropovich, cello
Rudolf Serkin, piano

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Rostropovich decididamente não sabia se comportar à mesa, mas como tocada um cello! (E piano também!)

Carlinus

Amaral Vieira (1952): Fausto

Amaral Vieira (1952): Fausto

Aqui vai o segundo CD com obras pianísticas de Amaral Vieira interpretadas por Paulo Gazzaneo, culminando com Variações Fausto, sobre um tema da sinfonia homônima de Franz Liszt – compositor do qual Amaral Vieira é um dos maiores intérpretes vivos.

***

Amaral Vieira – Fausto

1-5. Cinco Bagatelas, op.178 (1983)
1.Ostinato – 2.Diálogo – 3.Minueto Sarcástico – 4.Recitativo –

5.Moto Perpétuo

6-8. Prólogo, Fuga e Final, op.194 (1984)

9. F.L.- Bayreuth, op.163 (1982)

10. Divertimento Giocoso, op.242 (1989)

11-20. Danças Antigas, op.101 (1977)
1.Sarabanda – 2.Gagliarda – 3.Basse Dance – 4.Saltarello – 5.Matassin – 6.Pavana – 7.Ritornello – 8.Passamezzo – 9.Pastorello – 10.Rigaudon

21-23. Novas Fábulas, op.205 (1985)
1.Largamente – 2.Con delicatezza – 3.Enérgico

24. Cenas Rupestres, op.173 (1983)

25-31. Sete peças para piano,op.169 (1982)
1.Tempo di Marcia – 2.Lento – 3.Sarcástico – 4.Con somma passione – 5.Un poco agitato – 6.Sostenuto – 7.Enérgico

32. Variações Fausto, op.199 (1985)

Piano: Paulo Gazzaneo

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O jovem Amaral Vieira
O jovem Amaral Vieira

CVL