Excelente este disco! Traz dois importantes concertos para piano e orquestra – que geralmente aparecem sempre juntos em discos – o norueguês Edvard Grieg e o alemão Robert Schumann. São dois concertos essencialmente românticos, com passagens de grande beleza e inspiração. O concerto de Grieg em específico é uma obra docemente arejada e de grande virtuosismo. A condução fica a cargo do grande regente americano Eugene Ormandy, gravação realizada no ano de 1958. O outro concerto – o de Schumann – já é bastante conhecido e revela toda a profusão de sentimentos tão costumeiros nos trabalhos do alemão. Vale a pena ouvir. Continuamos com nossa homenagem a Grieg. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!
Edvard Grieg (1843-1907) –
Concerto for Piano and Orchestra in A minor,Op. 16
01. I. Allegro molto moderato
02. II. Adagio – attacca
03. III. Allegro moderato molto e marcato – Quasi Presto – Andante maestoso
Philippe Entremont, piano
Robert Schumann (1810-1856) –
Concerto for Piano and Orchestra in A minor, Op. 54
04. I. Allegro affettuoso
05. II. Intermezzo. Andantino grazioso – attacca
06. III. Allegro vivace
Concert Piece for Piano and Orchestra in G major, Op. 92
07. I. Introduktion und Allegro appassionato
Dia desses postei um CD do Mawaca, um dos dois grupos mais originais que vi aparecer no Brasil nos últimos anos. O outro é o SaGrama, que assinou a trilha sonora do filme e seriado O Auto da Compadecida e já lançou sete CDs. O sexto deles é este daqui, misturando composições de músicos pernambucanos e do próprio grupo [o conjunto é formado por músicos recifenses e nasceu no Conservatório Pernambucano de Música] relacionadas ao rico carnaval de Pernambuco.
Achei uma matéria do dia do lançamento do CD, para maiores informações.
Quinta-feira, 19 de Abril de 2007
Sa Grama faz concerto aberto
Michelle de Assumpção
Da equipe do Diário
O teatro Santa Isabel recebe esta noite um grupo mais que sintonizado com os ensinamentos da música folclórica de leitura erudita. Um representante armorial, digamos, mesmo que seus integrantes não vistam essa bandeira de forma a sintonizar com a política cultural do governo do estado de Pernambuco. O fato é que, formado por professores e músicos eruditos em sua maioria, o Sa Grama montou seu repertório a partir de releituras do cancioneiro popular. O CD mais recente, Tenha modos, traz muitas composições próprias do flautista Sérgio Campelo, que foram baseadas nesse universo, mais voltado especificamente para o carnaval. O grupo também contextualiza este momento reeditando alguns clássicos da música carnavalesca, como Evocação nº 1, de Nelson Ferreira, Último dia, de Levino Ferreira, além de músicas contemporâneas, como o afoxé Olinda, de Alceu Valença e o Frevo centenário, de Luiz Guimarães.
O show contará com os convidados especiais que fizeram parte do CD, tais como Spok (nos frevos-de-rua), Maciel Salu (com a rabeca, nos bois de carnaval), Maíra Macedo (bandolim e bandola nos frevos de bloco), Nilsinho Amarante (trombone), Quebra-Baque (grupo do percussionista do Sa Grama, Tarcísio Rezende, que encerra o espetáculo) e da Cia. de Dança Perna de Palco. “A gente já tinha feito exploração de outros gêneros, como do círculo junino e natalino, então resolvemos concentrar no disco o frevo, o maracatu e o afoxé, porque tem gêneros bem interessantes. Pegamos la ursa, boi de carnaval, samba de terreiro – fizemos um samba de terreiro bem rústico, que é de onde vem o samba pernambucano – caboclinhos, frevos de rua e de bloco”, diz Campelo.
Sérgio afirma que o show no Santa Isabel é natural pela origem do próprio Sa Grama, já que dos nove integrantes do grupo, cinco são da Sinfônica do Recife, que tem o teatro como sede. Sobre estarem em sintonia com o movimento armorial, o líder do grupo não acredita que isso possa ser visto como uma conveniência, na era Ariano Suassuna. “Nós temos influência quase que direta do armorial. O Sa Grama passa pelas músicas modais, que é uma característica maior da música armorial, a escala nordestina, a gente passa por esse lado, mas a gente não é um grupo essencialmente armorial, fazemos frevo e isso não está no contexto, Mas somos fãs, somos influenciados”, confessa.
Pra quem se lembra do CD com a Grande Missa Armorial de Capiba [calma, calma que o Bisnaga está preparando a repostagem da missa, que sai no domingo – UPDATE: já saiu faz tempo], aqui vai outro CD lançado pela Orquestra Armorial revival em 1994, sob regência de Cussy de Almeida.
Disco obrigatório para compreender melhor o movimento armorial e sua proposta musical.
Sivuca (1897-1986)
Orquestra Sinfônica da Paraíba & Sivuca (1999)
Cussy de Almeida (1936 -2010)
1. Aboio Clóvis Pereira (1932)
2. Cantiga Luiz Gonzaga (1912-1989) e Humberto Teixeira (1915-1979)
3. Asa Branca – Arr. Cussy de Almeida César Guerra-Peixe (1914-1993) e Clóvis Pereira (1932)
4. Mourão Cussy de Almeida (1936 -2010)
5. Kyrie, da Missa Nordestina
6. Gloria, da Missa Nordestina
7. Reino da Pedra Verde Waldemar de Almeida (1904-1975)
8. Dança de índios César Guerra-Peixe (1914-1993)
9. Galope, no estilo de cantoria Cussy de Almeida (1936 -2010)
10. Cipó branco de Macaparana César Guerra-Peixe (1914-1993)
11. Velame Cussy de Almeida (1936 -2010)
12. Cirandância César Guerra-Peixe (1914-1993)
13. Terno de pífanos Capiba (1904 -1997)
14. Suíte sem lei nem rei – I. Chamada (moderato)
15. Suíte sem lei nem rei – II. Aboio (Largo)
16. Suíte sem lei nem rei – III. Galope esporeado (Allegro)
(Solistas não identificados no Kyrie e no Gloria)
Orquestra e Coro Armorial
Cussy de Almeida, regente
Minha conexão está judiando de mim esta noite. Não consigo fazer nada. Tinha planos nobres para hoje à noite, mas estou sendo acanalhado pelos influxos da virtulidade. Felizmente, havia enviado este bom registro com a pianista russa Elisabeth Leonskaja. Ela interpreta as memoráveis Polonaises de Chopin. Polonaise é o termo que os franceses usam para denominar “polaco” (se não estou equivocado!) A Polonaise é uma dança lenta de origem polonesa. Mas Chopin soube imprimir feições pianísticas a essa dança da sua terra. Ouçamos mais este bom registro em homenagem aos 200 anos do nascimento de Chopin. Boa apreciação!
Frédéric Chopin (1810-1849) – Polonaises
Deux Polonaises Op. 26
01. No. 1 in C sharp minor – Allegro appassionato
02. No. 2 in E flat minor – Maestoso
Deux Polonaises Op. 40
03. No. 1 in A major – Allegro con brio
04. No. 2 in C minor – Allegro maestoso
Polonaise, Op. 44 in F sharp minor
05. Tempo di polacca doppio movimento, Tempo de mazurka – Tempo I
Polonaise, Op. 33 in A flat major
06. Maestoso
Polonaise-fantaisie, Op. 61 in A flat major
07. Allegro maestoso
Apoie os bons artistas, compre suas músicas.
Apesar de raramente respondidos, os comentários dos leitores e ouvintes são apreciadíssimos. São nosso combustível.
Comente a postagem!
Talvez seja cedo falar sobre quem fica e quem sai do cenário musical nos próximos anos. Mas das injustiças cometidas no passado, já melhoramos muito. Quem ainda a pouco duvidava da excelência de um Haydn, hoje quebra a cara. Em qualquer lugar sério, sua maestria é reconhecida. São inúmeros os concertos e gravações em sua homenagem. Vivaldi também passou por situação semelhante. Telemann é outro mestre que sofreu muito pela maldita comparação com Bach, mas hoje há vastíssima discoteca dedicada a ele. Enfim, estamos falando da redenção de compositores bem antigos. E o que acontecerá com a música dos compositores pós-1945? Acho que todos concordam que ela nunca será popular, pois exige do ouvinte uma participação muitas vezes extenuante e pouco recompensadora. Toda vez que ouço Pli Selon Pli de Boulez perco alguns quilos. Como disse, ainda é cedo.
No entanto, não podemos dizer que este cenário pós-1945 foi homogêneo. Trago Xenakis para provar que sua música lembra muito a impetuosidade de um Beethoven, não é necessário pensar muito em ritmo ou texturas (apesar da música ser riquíssima nesse quesito), é como pular no precipício, você não tem muito o que fazer, mas nunca irá bocejar. Acredito que Xenakis vai permanecer conosco para sempre.
Sobre a polêmica, erudito e popular, que também lembra um pouco a relação ateu e teísta, não há muito que dizer, é mesmo um assunto interminável e muito controverso. Mas é inegável a coexistência entre aquele que afirma e o que nega. Por isso, nos assuntos musicais, só conheço Música e musiquinha; e nos assuntos religiosos, sou pós-teísta, aquele que não vê relevância no assunto. Mas é óbvio que certas “categorias” de músicos vivem na sombra dos grandes mestres, transformando belezas e inovações em clichês, e raramente fogem do meu padrão de musiquinha.
Sou extremamente crítico com relação às “misturas”. Não pela tentativa de encontrar uma linguagem inusitada, mas utilizar esse fato, o de misturar rock e clássico ou rock e jazz, como o principal elemento da obra musical; o que é um absurdo. No recife, o fator mais importante é misturar, mesmo que o resultado, na maioria das vezes, seja de uma mediocridade só. Temos um pianista famoso por aqui, que usa como logotipo – “quem disse que o erudito e o popular não podem se casar?” Claro que pode. Quem é um apaixonado por Villa, sabe que essa mistura funciona muito bem. Mas no caso particular do referido pianista, vejo apenas uma sombra distante de “erudito” (aliás, termo pedante que só existe no Brasil. Certo é música clássica ou Música, como costumo chamar).
Trago para vocês uma interessante tentativa. A sinfonia n.4, Magma, de 2002 escrita pelo compositor nascido na Estônia – Erkki-Sven Tüür (quem se habilita a pronunciá-lo?) . O cara tinha uma banda de rock, no fim dos anos de 1970, chamada “In Spe”, que já misturava elementos da música barroca. Na sinfonia ou sinfonia concertante para percussão é visível a forte influência do Rock e Jazz. Eu acho que ele foi bem sucedido, a peça é envolvente; apesar de certas passagens pouco inspiradas, levando minha concentração a se perder. Mas dessa nossa geração de “misturas”, poucos tem a competência de Tüür.
P.S.:A percussionista Evelyn Glennie é absolutamente incrível, e acreditem, a moça é surda.
Erkki-Sven Tüür (1959): Symphony Nº 4 (Magma)
Faixas:
1. – Igavik (Eternity) for male choir & orchestra (in memoriam Lennart Meri, 2006)
2. – Inquiétude du fini for chamber choir & orchestra (dedicated to Arvo Pärt, 1992)
3. – Symphony No.4 Magma for solo percussion & symphony orchestra (dedicated to Evelyn Glennie, 2002)
4. – The Path and the Traces for strings (2005)
Estonian National Symphony Orchestra
Conducted by Paavo Järvi
Volto com 3 belos discos. O primeiro disco foi uma agradável surpresa. Traz uma pequena peça para o Natal e transcrições feitas por Schoenberg. Todas as peças são miniaturas transcritas para um pequeno quinteto às vezes com violinos, clarinete ou flauta, mas sempre com a presença marcante do harmonium (um tipo de sanfona avantajada) e piano. A peça que abre o disco, Weihnachtmuzik, é melódica e despretensiosa, para ouvir com toda a família perto da árvore de Natal. A transcrição do Lieder eines fahrenden gesellen de Mahler é a jóia do disco, neste caso para ouvir sozinho. Berceuse élégiaque de Busoni também recebe uma transcrição excelente, parece um Arvo Part melhorado. No final temos uma justa homenagem ao Strauss II, que fazia uma música ligeira de altíssima qualidade. Duas adoráveis transcrições das famosas Rousen aus de Sudem e Kaisewalser. Todas as obras do disco foram escritas por volta de 1920. Claro que a motivação maior dessa postagem é para lavar a alma e prepará-la … (continua)
Faixas:
1. Weihnachtsmusik (Musique de Noël), for 2 violins, cello, piano & harmonium
2. Transcription ‘Lieder eines fahrenden Gesellen’: Wenn mein Schatz Hochzeit macht
3. Transcription ‘Lieder eines fahrenden Gesellen’: Ging heut’ Morgen übers Feld
4. Transcription ‘Lieder eines fahrenden Gesellen’: Ich hab’ ein glühend Messer
5. Transcription for voice & chamber ensemble of Mahler’s ‘Lieder eines fahrenden Gesellen’: Die zwei
6. Transcription for piano quintet, flute, clarinet, piano & harmonium of Busoni’s ‘Berceuse elegiaque’
7. Transcription for string quartet, flute, clarinet & piano, of Johann Strauss’ ‘Emperor Waltz’
8. Transcription for string quartet, harmonium & piano of Johann Strauss’ ‘Rosen aus dem Suden’
Performed by Paul Meyer, Michel Moragues, Isabelle Berteletti, Louise Bessette, Jean-Luc Chaignaud
Stockhausen foi um arrojado pretensioso, mas isso não pode ser considerado um defeito do compositor. Muita música de qualidade foi feita em terreno de soberba e egoísmo. Além disso, não podemos deixar de esquecer que há muita sinceridade nesta manipulação do destino, a crença do compositor que a música pode ter importância na transformação do mundo. Stockhausen acreditava que sua música conectava o homem a Deus assim como seres de outros mundos. Uma mistura de crenças judaico-cristãs com ufologia.
A ópera Licht, composta em sete partes, cada uma relacionada aos dia da criação, é o exemplo máximo desta pretensão. Ela teve início em 1977 e foi completada em 2003. A execução desta ópera é praticamente impossível de ser realizada, pois Stockhausen exige uma série de estruturas extra-musicais (diversos tipos de combinações sonoras, uma parafernália eletrônica,…) que levariam qualquer produtor ao desespero. A mais notável dessas exigências é o uso de quatro helicópteros (já postada aqui). O que vamos ouvir agora é um trecho de mais ou menos 48 minutos da ópera “Quinta-feira” chamado de Unsichtbare Chore (coros invisíveis). A gravação que temos aqui foi lançada pela gravadora Deutsche Grammophon no início desse ambicioso projeto (hoje um disco raríssimo de encontrar). A música é para coro com intervenções inusitadas.
Performed by West German Radio Chorus
Prepared by H. Schernus, G. Ritter and K. Stockhausen
É com grande alegria que termino o delicioso livro do Arthur Nestrovski – Outras Notas Musicais. O livro é um compilação dos últimos dez anos da vida musical desse crítico, músico, poeta e agora, diretor artístico da Osesp. Mais ou menos 95% das críticas foram impressões vividas nas salas de concertos de São Paulo. Os progressos da Osesp, as tentativas operísticas no Municipal (muitas falhas e sucessos), os célebres convidados (Barenboim, Masur, Gidon Kremer,…), a Cultura Artística,… A descrição de Nestrovski é, na medida do possível, completa e detalhada. Só quando a clareza não é mais possível, a poesia de Nestrovski contorna essa dificuldade. Um livro sobre música e como escrever sobre música. Assim como algum de nós, Nestrovski é um entusiasta da música moderna, em especial Alfred Schnittke. Seu relato do concerto do Alban Berg Quartett na sala Cultura Artística (2003) é invejável, nos apresenta a natureza do quarteto de cordas n.4 de Schnittke, às vezes com simplicidade e noutras, em detalhes quase audíveis (ex: “Final do terceiro movimento: primeiro violino entoa uma melodia cromática, dobrada em oitavas pelo violoncelo sul ponticello…o segundo violino sustenta uma nota longa. Viola pontuando em pizzicato…”). Para compensar a frustração de não ter ido a este concerto, deixo com vocês uma gravação ao vivo do Alban Berg Quartett interpretando a mesma obra de Schnittke – o quarteto de cordas n.4. Não posso esquecer de mencionar o excelente quarteto de Wolfgang Rihm que abre o disco. Pode não ser genial como Schnittke, mas é extremamente empolgante. Comprem esse livro e ouçam essa música do outro mundo.
Wolfgang Rihm (1952) e Schnittke (1934 -1998): String Quartets Nros. 4
Wolfgang Rihm
1 – String Quartet No. 4: I. Agitato – 6:07
2 – Con Moto, allegro – andante – allegro molto – 6:50
Não podemos ser felizes. Não é possível a felicidade num ambiente hostil. E enquanto estivermos vivos, acabaremos cedendo, mais cedo ou mais tarde, aos ataques inusitados, às angustiantes sensações e o depressivo tédio. Então pra quê se enganar com a vida, se morrer é a melhor opção contra a infelicidade? Resposta simples, o homem é medroso, prefere sofrer, pois se acostuma com o sofrimento. Já na morte, o homem não sabe o que encontrará. Para os ateus é óbvio, tutto è finito. E para qualquer religioso de verdade, a morte o melhor caminho, a única saída para felicidade, por isso não podemos negar que os grandes homens de fé da atualidade são os suicidas.
Depois dessa introdução revigorante, gostaria de salientar certos pontos na música de Pierre Boulez que me fizeram pensar sobre esse assunto. O desconhecido é o que o homem mais teme. Não é surpresa, portanto, descobrir que a música do francês é tão pouco atrativa para o ouvinte temente. Ela foge completamente da percepção natural de um ser humano, que na maioria das vezes é acostumado à linearidade da vida, a um destino certo e um final de glória no reino divino. Mas este mesmo ser doutrinado, que sabe o certo e errado, cai na armadilha de sua própria natureza complexa e fascinante. Por mais que ele tente, a sua mediocridade não será bastante para mudar isso. Só a mediocridade máxima levará o homem à felicidade plena.
Bastam segundos de Sur Incises para percebermos que estamos perdidos. No belo livro “A música desperta o tempo” de Daniel Barenboim, há uma passagem sobre a importância da memória auditiva. Quando ouvimos música, “o ouvido lembra-se do que já percebeu e, por meio disso, volta ao passado ou pode até ter consciência dele e do presente ao mesmo tempo…o ouvido cria a conexão entre o presente e o passado e envia sinais ao cérebro quanto ao que esperar do futuro”. Algo absolutamente impossível na música de Boulez. Assim como na pintura abstrata, onde o espaço parece não ter início ou fim, na música de Boulez, a idéia de passado e futuro é inexistente. Ou seja, uma dificuldade incrível para o homem moderno que tem sempre como guia o tempo. Eis o paradoxo, a música moderna não foi feita para o homem moderno.
O sofrimento escurece os objetivos que levam à felicidade. E nesse caminho tortuoso, o som do ponteiro do relógio é ensurdecedor. Já com Boulez, aprendemos que a questão do sofrimento e felicidade é irrelevante, assim como o bendito tempo. O homem é catapultado ao espaço onde não há pontos de referências. A música de Boulez é música de contemplação.
Faixas:
1. Sur Incises (1996/1998) pour trois pianos, trois harp, trois percussion-claviers – Moment I
2. Sur Incises (1996/1998) pour trois pianos, trois harp, trois percussion-claviers – Moment II
3 – 6. Messagequisse (1976/77) pour violoncelle solo et six violoncelles
7 – 15. Anthèmes 2 (1997)
Performed by Jean-Guihen Queyras, Ensemble InterContemporain
Foi uma surpresa pra mim encontrar em pleno século XXI canções compostas com o mesmo brilhantismo das Canções da Auvérnia de Canteloube ou das Quatro últimas canções de Richard Strauss.
As Canções de Neruda, escritas entre 2003 e 2004 sob encomenda conjunta da Filarmônica de Los Angeles e da Sinfônica de Boston, estrearam em 2005 e foram gravadas no ano seguinte, pouco antes do falecimento de Lorraine Hunt Lieberson, segunda esposa de Peter.
Lorraine, meio-soprano de extremo domínio técnico e excepcional tessitura, ganhou o Grammy póstumo de melhor performance vocal feminina em 2007 por conta deste CD. Ela lutou durante os últimos anos contra um câncer de garganta, que fortunadamente não lhe afetou a voz durante a estreia mundial e a gravação das Canções de Neruda – inspiradas pela paixão comum que o casal tinha pelo poeta chileno.
Ambos chegaram a passar um tempo em Abadiânia, Goiás, quando do início da composição das canções. Atualmente, é Peter que se encontra recolhido por conta de um linfoma.
Não tenho o costume de dar notas aos álbuns, mas esse [para os fãs de lieder] é dez.
***
Lorraine Hunt Lieberson sings Peter Lieberson ‘Neruda Songs’
1. Si no fuera porque tus ojos tienen color de luna…
2. Amor, amor, las nubes a la torre del cielo
3. No estes lejos de mi un solo dia
4. Ya eres mia. Reposa con tu sueno en mi sueno
5. Amor mio, si muero y tu no mueres
Performer: Lorraine Hunt Lieberson
Orchestra: Boston Symphony Orchestra
Conductor: James Levine
Dvořák é um dos meus compositores românticos favoritos – une a solidez e o cerebralismo de um Brahms ao sentimentalismo de Tchaikovsky, sem cair nos excessos de um e de outro.
Aqui vai a versão orquestral das célebres Danças eslavas, a mais palatável introdução ao compositor tcheco, que vez ou outra é requisitado aqui no blog.
Dedicado ao mano PQP (risos).
***
Slavonic Dances
Opus 46
* No. 1 in C major (Furiant)
* No. 2 in E minor (Dumka)
* No. 3 in A-flat major (Polka)
* No. 4 in F major (Sousedská)
* No. 5 in A major (Skočná)
* No. 6 in D major (Mazurka)
* No. 7 in C minor (Skočná)
* No. 8 in G minor (Furiant).
Opus 72
* No. 1 (9) in B major (Odzemek)
* No. 2 (10) in E minor (Starodávny)
* No. 3 (11) in F major (Skočná)
* No. 4 (12) in D-flat major (Dumka)
* No. 5 (13) in B-flat minor (Špacírka)
* No. 6 (14) in B-flat major (Starodávný (“Ancient”))
* No. 7 (15) in C major (Kolo)
* No. 8 (16) in A-flat major (Sousedská)
Com a Philharmonia Slavonica, regida por Henry Adolph
Acabaram-se as obras para piano de Amaral Vieira. Agora vão as que foram escritas para órgão – talvez as melhores do gênero compostas por um brasileiro.
***
Amaral Vieira – Obras completas para órgão (1984-1996)
1. Toccata, Opus 208 (1986)
2. Introito, Opus (1984)
3. Sete Palavras de Cristo na Cruz, Opus 257 (1991)..
4. Sete Palavras de Cristo na Cruz, Opus 257 (1991)..
5. Sete Palavras de Cristo na Cruz, Opus 257 (1991)..
6. Sete Palavras de Cristo na Cruz, Opus 257 (1991)..
7. Sete Palavras de Cristo na Cruz, Opus 257 (1991)..
8. Sete Palavras de Cristo na Cruz, Opus 257 (1991)..
9. Sete Palavras de Cristo na Cruz, Opus 257 (1991…
10. Fantasia, op. 186
11. Elegia, op. 277
12. Prólogo, Fuga e Final, Opus 193 (1984) – Prólogo
13. Prólogo, Fuga e Final, Opus 193 (1984) – Fuga
14. Prólogo, Fuga e Final, Opus 193 (1984) – Final
Aqui vai o último dos cinco melhores CDs de obras de Amaral Vieira. Os demais serão postados ao longo dos próximos quinze anos. Também deixo um brinde, enviado por um dos visitantes do blog a quem agradeço desde já, embora não lembre de seu nome.
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Amaral Vieira (1952): Stabat Mater e Missa pro defunctis
1. Stabat Mater, Op 240: 1. Stabat Mater
2. Stabat Mater, Op 240: 2. Cujus animam
3. Stabat Mater, Op 240: 3. O quam tristis
4. Stabat Mater, Op 240: 4. Quae moerebat
5. Stabat Mater, Op 240: 5. Quis est homo
6. Stabat Mater, Op 240: 6. Quis non posset
7. Stabat Mater, Op 240: 7. Pro peccatis
8. Stabat Mater, Op 240: 8. Vidit suum dulcem
9. Stabat Mater, Op 240: 9. Eia Mater
10. Stabat Mater, Op 240: 10. Fac ut ardeat
11. Stabat Mater, Op 240: 11. Sancta Mater
12. Stabat Mater, Op 240: 12. Tui nati vulnerati
13. Stabat Mater, Op 240: 13. Fac me tecum
14. Stabat Mater, Op 240: 14. Juxta crucem
15. Stabat Mater, Op 240: 15. Virgo virginum
16. Stabat Mater, Op 240: 16. Fac ut portem
17. Stabat Mater, Op 240: 17. Fac me plagis
18. Stabat Mater, Op 240: 18. Flammis ne urar
19. Stabat Mater, Op 240: 19. Christe
20. Stabat Mater, Op 240: 20. Quando corpus morietur
21. Missa por defunctis, Op 187: 1. Introitus
22. Missa por defunctis, Op 187: Kyrie
23. Missa por defunctis, Op 187: 2. Dies Irae
24. Missa por defunctis, Op 187: 3. Offertorium
25. Missa por defunctis, Op 187: 4. Sanctus
26. Missa por defunctis, Op 187: Benedictus
27. Missa por defunctis, Op 187: 5. Agnus Dei
28. Missa por defunctis, Op 187: 6. Libera me
Amaral Vieira (1952): Poemas de Amor y Uma Canción Desesperada opus 179b Versos de Pablo Neruda & Música de Amaral Vieira
1. Amaral Vieira, Brasil:
Cuerpo de Mujer, para canto e piano [3:46]
2. Ignacio Cervantes, Cuba (1874-1905):
La Celosa, dança cubana para piano [1:07]
3. Amaral Vieira, Brasil:
En su llama mortal, para canto e piano [3:07]
4. Enrique Soro, Chile (1884-1954):
Zamacueca, baile popular chileno para piano [3:00]
5. Amaral Vieira, Brasil:
Ah vastedad de pinos, para canto e piano [2:40]
6. Alberto Williams, Argentina (1862-1954):
Cortejo campestre, para piano [2:45]
7. Amaral Vieira, Brasil:
Es la mañana llena de tempestad, para canto e piano [2:44]
8. Armando Palmero, Bolívia (1900-1968):
Poema Índio, para piano [1:43]
9. Amaral Vieira, Brasil:
Te recuerdo, para canto e piano [4:39]
10. Dalmiro Costa, Uruguai (1836-1901):
La Pecadora, Habanera para piano [3:21]
11. Amaral Vieira, Brasil:
Para mi corazón, para canto e piano [3:04]
12. Reynaldo Hahn, Venezuela (1875-1947):
Si mes vers avaient des ailles, para piano [1:20]
13. Amaral Vieira, Brasil:
Puedo escribir los versos más tristes, para canto e piano [5:56]
14. Amaral Vieira, Brasil:
La Canción Desesperada, para canto e piano [7:04]
ELOISA BALDIN, meio-soprano
AMARAL VIEIRA, piano
Gravação ao vivo: Memorial da América Latina
Primeira gravação mundial
Selo Vela/Concertos 22-C005
[Obrigado ao Antônio Duarte pela relação de faixas. Em retribuição, reproduzo o comentário dele acerca deste CD] É uma grande alegria ter o Stabat Mater de Amaral Vieira disponibilizado neste blog. Já escrevi anteriormente que considero essa a mais importante obra sacra de compositor brasileiro. Como já tenho este cd, comentarei sobre o Tributo a Neruda, que é uma novidade para mim. Já pudemos constatar nas obras sacras que A. Vieira escreve magnificamente bem para a voz e isso se confirma nas 9 canções incluídas neste post. É admirável o lirismo de “Te recuerdo” e “Para mi corazon”, o drama de “Es la mañana llena de tempestad” e de “La Canción Desesperada”, a delicadeza de “Ah vastedad de pinos”, a sensualidade de “Cuerpo de Mujer”. As pequenas jóias latino-americanas para piano que entremeiam as canções são tocadas de modo muito refinado. É difícil imaginar que o cd inteiro tenha sido gravado ao vivo no Memorial da América Latina de São aulo, que tem uma das mais complicadas acústicas do planeta. Eloisa Baldin uma vez mais comprova sua excelência na interpretação de obras de Amaral Vieira (já a conhecíamos nas gravações da Fantasia-Coral e do Magnificat). Uma única ressalva: na reprodução do fundo de caixa do cd, Eloisa Baldin consta como soprano, mas no meu modesto entender o seu registro está mais para meio-soprano ou até mesmo contralto.
Postado originalmente por CVL em 5 de março de 2010, repostado por Bisnaga.
Aqui, as palavras do colega CVL: Inexplicavalmente marginalizadas, as obras para violino e orquestra de Guarnieri são das poucas do gênero que realmente valem alguma coisa no repertório nacional. Graças ao Centro Cultural São Paulo e ao maestro Lutero Rodrigues, elas foram resgatadas e ganharam a primeira gravação mundial em DVD (no caso do Concerto n° 1, é a primeira gravação mundial, seja em áudio, seja em vídeo).
Se maestro Lutero estudou as obras como ninguém, mais ainda pode-se elogiar quanto ao jovem violinista Luiz Filíp, que mora atualmente na Alemanha. Realmente foi um projeto de grande envergadura, nunca feito antes no Brasil, nem mesmo com Villa-Lobos. Conheça os pormenores clicando aqui.
Seguem os comentários de Lutero Rodrigues, reproduzidos do respectivo site.
Concerto nº 1
Todos os seus temas são derivados do tema do 1º movimento, que inicia a obra. Este movimento é monotemático, pela mesma origem dos temas, mas tem um segundo tema bem definido, derivado do primeiro. Em seus comentários, Guarnieri deu, ao tema gerador, a origem “ameríndia”. O 2º movimento é monotemático. O 3º movimento tem a forma “sonata”, com dois temas: o primeiro, de caráter nordestino, e o segundo, vindo da música caipira do interior do Estado, em terças paralelas. Não há interrupção entre os movimentos da obra.
Chôro
A orquestra expõe o tema, na forma de entradas imitativas que se sucedem, até a entrada do solista. O movimento é monotemático como seu correspondente do Concerto nº 1, ou seja, o tema é desenvolvido pelo solista, como se fossem variações e, mais tarde, surge uma variação que atua como segundo tema. Depois dele, há uma verdadeira cadência para o instrumento solista, com acompanhamento orquestral, vindo em seguida a reexposição. O 2º movimento é monotemático e o 3º é bitemático, ambos de cores nordestinas. Como a obra anterior, não há interrupção entre seus movimentos.
Concerto nº 2
Como uma surpresa, a obra começa com uma grande e difícil cadência do Violino solo, em que já se ouvem alguns de seus futuros temas. Desta vez, o 1º movimento é realmente monotemático. O 2º movimento é também monotemático, mas há uma frase melódica (clarinete solo) que antecede o tema e sempre o acompanha. O 3º movimento é novamente bitemático; seu segundo tema tem caráter nordestino, enfatizado pela percussão que o acompanha. Há interrupção entre os movimentos da obra.
Eu, se fosse você, não perdia a oportunidade de ouví-lo!
Ouça! Ouça! Deleite-se!
Mozart Camargo Guarnieri (Tietê, SP, 1907 – São Paulo, SP, 1993)
Três concertos e a Missão
01. Concerto n° 1 – I. Heroico
02. Concerto n° 1 – II. Com grande calma
03. Concerto n° 1 – III. Muito alegre e ritmado
04. Concerto n° 2 – I. Lento
05. Concerto n° 2 – II. Triste
06. Concerto n° 2 – III. Allegro giocoso
07. Choro para violino e orquestra – I. Andante
08. Choro para violino e orquestra – III. Calmo
09. Choro para violino e orquestra – IIII. Allegro ritmado
10. Trailer Doc sobre Camargo Guarnieri – NOTAS SOLTAS SOBRE UM HOMEM SÓ
Luiz Filíp, violino
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Lutero Rodrigues, regente
Teatro Municipal de São Paulo, 2008
Postado originalmente em 28 de agosto de 2009 pelo CVL. Repostado por Bisnaga
Nada melhor que começar o Domingo de Ramos com uma baita obra religiosa!
Aproveitando a vibe de missas de viés etnográfico, contribuo com esta aqui, que pode não ser tão importante quanto à Kewere de Marlui Miranda (aqui) ou a Crioula de Ariel Ramirez (aqui,com Mercedes Sosa, ou aqui, com José Carreras), mas que se destaca entre as obras sacras brasileiras por quebrar de modo respeitoso o excesso de sobriedade que às vezes irrefletidamente cerca a música litúrgica, mostrando que o serviço (a missa) pode ser uma celebração de júbilo do início ao fim e se aproximar das manifestações da cultura de seus fiéis.
Digo isso porque a missa de Capiba é, exceto pelo terno Benedictus, toda calcada em ritmos de forró (xote, xaxado e baião), como prescreviam as diretrizes da estética armorial, embora o texto usado seja em latim – pois os compositores armoriais não simpatizaram muito naquela época com o Concílio Vaticano II.
No final do ano passado postei a Grande missa nordestina, de Clóvis Pereira (aqui), num CD duplo do festival Virtuosi (vide categoria Música armorial). Enquanto a missa de Clóvis é sinfônica (requer uma orquestra mozartiana), esta de Capiba, de 1982, é camerística e quase usa a formação-tipo da Orquestra Armorial: cordas, duo de flautas, percussão pé-de-serra (zabumba, caixa e triângulo) – faltou somente o cravo.
Completa o CD a suíte Sem lei nem rei, de 1970, inspirada num romance armorial de Maximiniano Campos, pai do atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Convém esclarecer que a Orquestra Armorial neste álbum – gravado em 1994, para celebrar os 90 anos de Capiba (que apesar de ser um notório compositor de frevos escreveu lá suas peças eruditas) – é um revival daquela que surgiu e atuou na década de 70, ainda que regida pelo mesmo Cussy de Almeida.
O coral, os solistas e a orquestra podem estar longe do ideal, mas bem sabemos que as grandes obras de arte passam por cima dos desvios acidentais. Espero que apreciem.
De minha parte – Bisnaga: Ouçam! Ouçam! Deleitem-se, que é uma obra e tanto!
Capiba (Lourenço da Fonsêca Barbosa, 1904-1997)
Capiba 90 anos
01. Grande Missa Armorial, I. Kyrie
02. Grande Missa Armorial, II. Gloria
03. Grande Missa Armorial, III. Credo
04. Grande Missa Armorial, IV. Credo: Et Incarnatus est
05. Grande Missa Armorial, V. Credo: Et ressurexit
06. Grande Missa Armorial, VI. Credo: Et in Spiritum Sanctum
07. Grande Missa Armorial, VII. Sanctus
08. Grande Missa Armorial, VI. Benedictus
09. Grande Missa Armorial, VII. Agnus Dei
10. Suíte Sem lei nem rei, I. Chamada (Moderato)
11. Suíte Sem lei nem rei, II. Aboio (Largo)
12. Suíte Sem lei nem rei, III. Galope esporeado (Allegro)
Julie Cássia, soprano
Alexandre Borba, tenor
Eduardo Xavier, barítono
Coro e Orquestra Armorial
Henrique Lins, regente do coro
Cussy de Almeida, regente
Postado originalmente em 1º de fevereiro de 2011 pelo CVL. Repostado por Bisnaga
Não tenho a menor ideia da origem deste disco, que é mais para o perfil do Um que tenha do que pro nosso. Foi apenas fruto de uma garimpada no arquivo de CDs de um colaborador do blog que mora em Recife.
Estava na minha casa de praia em Maceió e dei um pulinho em Pernambuco quando soube que mais de 30 gravações copiadas em CDs estavam à minha espera – pois o dono achou que ficaria melhor se fossem divulgadas no PQP Bach.
Como não se trata nem de música clássica nem especificamente de música armorial (o que era de se esperar de Cussy), é bom vocês darem uma ouvida para decidir se querem realmente baixar o disco. Me parece que se trata do único registro fonográfico comercial do Stradivarius que o violinista potiguar teve (a história picaresca desse instrumento é um caso à parte).
Em tempo, agora já sabemos alguma coisa sobre Candinho (José Candido de Mello Mattos Sobrinho – Alambari, MG, 1934).
Iniciou sua carreira profissional em 1955, atuando como violonista, ao lado de Sylvinha Telles, no espetáculo “Gente bem e champanhota”, do comediante Colé, apresentado no Teatro Follies, no Rio de Janeiro. Gravou no primeiro 78 rpm lançado pela cantora, contendo as canções “Amendoim torradinho” (Henrique Beltrão), destaque do show, e “Desejo” (Garoto). O sucesso do disco lhe valeu um contrato com a Rádio Mayrink Veiga, onde integrou, ao lado de Luiz Eça (piano) e Jambeiro (contrabaixo), o Trio Penumbra. Algum tempo depois, passou a atuar como artista solista, apresentando-se em clubes, teatros e programas de Rádio e TV.
Em 1956, casou-se com Sylvinha Telles, com quem apresentou, nesse ano, o programa “Música e romance” (TV Rio), no qual os dois artistas recebiam convidados, como Garoto, Dolores Duran, Tom Jobim, Johnny Alf e Billy Blanco, e cuja música-tema era “Tu e eu” (Altamiro Carrilho e Armando Nunes). De sua união com Sylvinha Telles nasceu uma única filha, Claudia, hoje também cantora. O casal veio a se separar ainda na década de 1950.
Em 1959, bacharelou-se em Direito pela Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas. Nesse mesmo ano, abandonou a carreira de músico profissional embora tenha mantido a atividade de compositor, tendo participado de duas edições do Festival Internacional da Canção (Rede Globo), com suas músicas “Mergulhador” e “Na roda do vento”, ambas em parceria com Lula Freire.
Constam da relação dos intérpretes de suas canções vários artistas, como Elizeth Cardoso, Copinha, Déo Rian, Miúcha e Tom Jobim, Alaíde Costa, Roberto Menescal, Claudette Soares, Nelson Gonçalves, Jacob do Bandolim e Altamiro Carrilho, entre outros, além de sua filha, Claudia Telles.
Exerce a função de Assistente Jurídico da União, no Ministério da Agricultura. (Dicionário CravoAlbin)
1. Dorme (parceria com Ronaldo Boscoli)
2. Arraial do Cabo
3. Mergulhador (parceria com Lula Freire)
4. Tema para Nelly
5. Canção do velho cais (parceria com Paulo César Pinheiro)
6. Farol de Olinda
7. Tema para Cussy
8. Sonhando (parceria com Lula Freire)
9. Sem mais chorar (parceria com Lula Freire)
10. Madrugada (parceria com Marino Pinto)
Já viu nossos mais de 100 endereços para baixar partituras?Clique aqui
PS.1: Todos os áudios deste post, cópias caseiras, foram dados de presente por Cussy de Almeida ao camarada que nos repassou.
PS.2: Peço atenção aos dados complementares, valiosos para fins históricos, acrescentados nos comentários deste post.
Postado originalmente em 10 de março de 2011 pelo CVL. Repostado por Bisnaga.
Hoje, Cussy de Almeida faria 75 anos como bem lembrou um de nossos visitantes que quis permanecer anônimo (“Sinceramente e sem falsa modéstia, não tenho necessidade de receber créditos pelos arquivos”). Por isso, ele nos mandou uma gravação do violinista potiguar radicado no Recife tocando a célebre peça de Vivaldi – compositor no qual era especialista – ao lado da Osesp e do maestro Diogo Pacheco (que por sinal está chegando aos 90 anos de idade). De brinde, uma entrevista de Cussy ao próprio Diogo ilustrada por um pequeno trecho da mesma obra, mas tocada por Cussy com a Orquestra Armorial em ocasião anterior à da Osesp. As linhas abaixo são do nosso visitante-colaborador.
Era uma noite fria e úmida no inverno de 1984. No teatro Cultura Artística de São Paulo, Cussy de Almeida – com um violino (1750) de Tommaso Balestrieri – apresentou as Quatro Estações, de Vivaldi; com Terezinha Saghaard ao cravo e a Orquestra Sinfônica de São Paulo regida por Diogo Pacheco.
Conforme comentários do próprio maestro, algum tempo depois, o frio e a umidade prejudicaram a afinação dos instrumentos. Sofreram, então, o violino de Cussy e o cravo de Terezinha (nada tranquila na ocasião).
Cussy de Almeida, então com 48 anos, concedeu uma entrevista ao maestro Diogo Pacheco uma semana depois, no programa “Ligue Para um Clássico” da TV Cultura de São Paulo. Antecede a entrevista um trecho (com falha) das “Quatro Estações”, de Vivaldi, (também gravado pela TV Cultura, anos antes) com Cussy e a Orquestra Armorial.
As gravações aqui postadas têm 26 anos e foram feitas de transmissão da TV Cultura, com recursos limitados. Foi utilizado um monitor de TV Sony com dois canais monaurais, gravador Sony TC-129 e fita cassette Sony CHF90. Na gravação da entrevista foi utilizado o mesmo equipamento com fita cassette Basf C60. A conversão para MP3 recebeu um tratamento mínimo. Entretanto, é a oportunidade de ouvir Cussy de Almeida e homenagear sua alma nordestina, que certamente estará agradecida.
Antonio Vivaldi (1678-1741)
As quatro estações
01. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘A Primavera’, em Mi (As Quatro Estações Nº 1), I. Allegro
02. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘A Primavera’, em Mi (As Quatro Estações Nº 1), II. Largo
03. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘A Primavera’, em Mi (As Quatro Estações Nº 1), I. Allegro Pastorale
04. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘O Verão’, em Sol Menor (As Quatro Estações Nº 2), I. Allegro non molto
05. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘O Verão’, em Sol Menor (As Quatro Estações Nº 2), II. Largo – Presto
06. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘O Verão’, em Sol Menor (As Quatro Estações Nº 2), III. Presto (tempo impetuoso de’state)
07. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘O Outono’, em Fá (As Quatro Estações Nº 3), I. Allegro
08. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘O Outono’, em Fá (As Quatro Estações Nº 3), II. Adagio molto
09. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘O Outono’, em Fá (As Quatro Estações Nº 3), III. Allegro
10. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘O Inverno’, em Fá Menor (As Quatro Estações Nº 4), I. Allegro non molto
11. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘O Inverno’, em Fá Menor (As Quatro Estações Nº 4), II. Largo
12. Concerto para Violino, cordas e baixo contínuo ‘O Inverno’, em Fá Menor (As Quatro Estações Nº 4), III. Allegro
Faixa Bonus: entrevista de Cussy de Almeida a Diogo Pacheco.
Cussy de Almeida (1936-2010), violino
Orquestra Sinfônica de São Paulo
Diogo Pacheco, regente
Postado originalmente em 31 de outubro de 2008 por CVL, repostado em 10 de março de 2011 pelo mesmo CVL e trepostado por Bisnaga, agora.
Diz-se bastante que não amamos aquilo que não conhecemos. Realmente, os CDs mais baixados até aqui, dentre os que postei, foram os de Copland e de Piazzolla (mais do que os das obras do Villa, pois Magdalena e A floresta do Amazonas completa, p. ex., são pouquíssimo conhecidas). Não reclamo por Jorge Antunes e por Padre Penalva, não tão acessíveis ao gosto predominante.
É que exortei vocês a baixarem o Réquiem Contestado de Eli-Eri Moura – porque vocês não vão encontrar essa obra, muito bela, nem em sebo – mas os downloads foram muito tímidos na semana em que o postei. Este CD aqui, do Grupo Orange, é meio ruim de achar (exceto no Recife, onde há de sobra) e também vai com minha efusiva recomendação. Portanto, aproveitem.
A melhor resenha que achei sobre o CD, que insere o Grupo Orange no contexto da música armorial e que, por sua vez, remete a outros links sobre o Movimento Armorial* e seus principais nomes na música, está neste blog.
Embora o Grupo Orange esteja desafinadinho que só (em algumas músicas em particular, como o Mourão), o repertório é excelente – principalmente Dom Cariongo, De rabeca em cantoria, Modinha, Assum Preto, De viola e de rabeca (título original de Mourão) e Galope.
Grupo Orange
Raízes Brasileiras
Cussy de Almeida (1936 -2010)
1. Dom Cariongo, Rei dos Congos
2. Caboclinhos
3. De rabeca em cantoria
4. Maracatucá
5. Modinha Nélson Ferreira (1902-1976) e Lula Queiroga (1960). Arranjo de Maestro Duda
6. Adivinhações Cussy de Almeida (1936-2010)
7. Cipó Branco de Macaparana Luiz Gonzaga (1912-1989) e Humberto Teixeira (1915-1979) Arra. Benny Wolkoff
8. Assum Preto Cussy de Almeida (1936-2010)
9. Cirandância Capiba (1904 -1997). Arr. Maestro Duda
10. Minha Ciranda César Guerra-Peixe (1914-1993) e Clóvis Pereira (1932)
11. De viola e de rabeca Cussy de Almeida (1936-2010)
12. Aboio
13. Esquente de zabumba Clóvis Pereira (1932), Cussy de Almeida (1936-2010) e Jarbas Maciel (1933)
14. Cavalo marinho Clóvis Pereira (1932)
15. Terno de pífanos César Guerra-Peixe (1914-1993)
16. Galope
Grupo Orange
Moema Macedo, bandolim (faixa 5)
Cussy de Almeida,regente
Postado originalmente em 25 dezembro de 2011 pelo CVL. Repostado por Bisnaga
É época, entre outras coisas, de contribuir com a caixinha de natal dos funcionários de meu prédio. Moro no Leblon e meu porteiro é do Méier; minha primeira mulher mora no Leme e seu porteiro é mineiro de Carangola; o porteiro do empresarial onde tenho um escritório em Maceió é alagoano de Maceió mesmo… Já o síndico de meu edifício é um gerente de TI oriundo do Pólo Digital do Recife e é um branquelo filho de paranaense de forte sotaque “nortista” enquanto um “cabeça-chata” potiguar gerencia o empresarial de Maceió e se parece mais com o pressuposto que temos em mente quanto ao que seja um “nordestino”. Só não sei porque ninguém no Nordeste trata cariocas, capixabas, paulistas e mineiros como “sudestinos”. Bem, isso é o que rola por aí, fora do universo de visitantes de nosso blog pois por aqui nunca vi ninguém pensar nesses termos.
Se fosse para buscar uma lógica entre biótipos e estereótipos, o CD ora postado só poderia ser baixado por porteiros, camareiras, serventes e pedreiros, pois contém somente obras compostas por “paraíbas” (Jarbas Maciel é recifense, mas para boa parte da juventude do Sul e Sudeste, “do pescoço pra baixo, é tudo canela”). Como isso iria de encontro ao espírito natalino, e à própria mensagem de quem é lembrado no presente dia, desejo a todos vocês que visitam o PQP Bach que carreguem paz e amor em seus corações (pode soar piegas ou óbvio, mas é algo de efeito verdadeiro e eficiente) e curtam as gravações que vos deixo.
As peças são as seguintes: Concerto sanfônico para ‘Asa branca’: Creio que seja a primeira obra sinfônica composta por Sivuca. Alguém, acho que um dos outros membros do blog, me disse que possui a partitura. Eu quero, hein? Suíte miniatura no estilo armorial (dedicada a Ariano Suassuna): Linda suíte, toda construída em cima de um tema de contradança popular do interior paraibano e que resgata a instrumentação padrão da Orquestra Armorial. Destaque para o tratamento das cordas em pizzicato logo no início, como um imenso violão que faz a harmonia para o duo de flautas. Suíte Monette: É a peça mais popularesca de todas. Sem mais comentários.
Abertura festiva das ‘Festas natalinas do Nordeste’: Obra razão de ser do presente post. Feira de Mangaio: A segunda gravação dessa peça que posto aqui no blog. Muito interessante como Sivuca optou por incluir uma seção modificada em ritmo de valsa-choro antes de tocá-la como um baião. Hino oficial do estado da Paraíba.
Sivuca (1897-1986)
Orquestra Sinfônica da Paraíba & Sivuca (1999)
Sivuca (Severino Dias de Oliveira – Itabaiana, PB, 1930 – João Pessoa, PB, 2006)
01. Concerto sanfônico para ‘Asa branca’ Jarbas Maciel (PE, 1933)
02. Suíte miniatura no estilo armorial ‘A pedra do Reino’, I. Chamada
03. Suíte miniatura no estilo armorial ‘A pedra do Reino’, II. Aboio
04. Suíte miniatura no estilo armorial ‘A pedra do Reino’, III. Cavalo marinho Maestro Duda (José Ursicinio da Silva – Goiana, PE, 1935)
05. Suíte Monette, I. Ciranda
06. Suíte Monette, II. Balada
07. Suíte Monette, III. Valsa
08. Suíte Monette, IV. Boi-bumbá José Siqueira (Conceição, PB, 1907 – Rio de Janeiro, RJ, 1985)
09. Abertura festiva das ‘Festas natalinas do Nordeste’ Glória Gadelha (Sousa, PB, 1947) e Sivuca (Itabaiana, 1930 – João Pessoa, 2006)
10. Feira de Mangaio Abdon Felinto Milanez (Areia, PB, 1858 — Rio de Janeiro, RJ 1927)
11. Hino oficial do Estado da Paraíba (letra de Aurélio de Figueiredo)
Sivuca, sanfona
Nailson Simões, trompete (faixas 5 a 8)
Radegundis Feitosa, trombone (faixas 5 a 8)
Orquestra Sinfônica da Paraíba
Coral Collegium Pró-Música da Paraíba (faixa 11)
Osman Giuseppe Gioia, regente
João Pessoa, 1999
Postado originalmente em 16 de janeiro de 2009 pelo CVL. Repostado por Bisnaga
Venho em dose dupla hoje.
Quem assistiu ao concerto de fim de ano da Osesp e se encantou com o Maracatu do Chico-Rei de Mignone agora pode acrescentá-lo a seu acervo fonográfico através deste very proudly blog.
Pouco vou falar de Festa nas igrejas, uma espécie de suíte em quatro movimentos emendados, muito benquista por Toscanini, que reproduz mais o ambiente dos fiéis das respectivas igrejas do que a personalidade dos templos em si.
Já o Maracatú de Chico-Rei (grafado originalmente com esse acento no u), um caso pouco comum de balé com coro e orquestra, encanta desde sua primeira execução, na década de 30. Do enredo vocês podem saber mais no encarte, mas o resumo aqui.
Chico-Rei foi trazido para o Brasil escravizado com seus súditos e veio a conquistar trabalhando a própria alforria e a dos demais. Faltam apenas os seis últimos seguidores e isso é o que ele vai resolver na praça principal de Ouro Preto, levando o pagamento em moedas de ouro aos senhores brancos.
Ou seja, o enredo é apenas pretexto pra dança, já que a ação consome meia hora de música.
Apesar da história se passar em Minas, o maracatu de baque virado, ao qual o balé alude, é um ritmo genuinamente pernambucano, no entanto não há nada de maracatu ao longo dos dez curtos movimentos. Minha memória acusa neste momento somente uma peça que bebe diretamente desse gênero folclórico: o primeiro movimento de Quatro momentos n° 3, de Ernani Aguiar (mas Guerra Peixe deve ter algo por aí).
O Maracatu de Chico-Rei é uma peça realista-nacionalista da primeira metade do século passado (de elementos nacionalistas mais exacerbados e não realista de influência jdanovista – pós 1948, como se vê em Guerra Peixe, Krieger e Santoro).
É sobretudo daquelas partituras que se regem sozinhas – estou pra ver um maestro que a estrague – porém digo isso afastando qualquer conotação de mediocridade (as polcas de Strauss II regem a si mesmas também e, por mais que venha a se apontar frivolidade nelas, são um primor de instrumentação, estruturação e comunicabilidade).
A Dança de Chico-Rei e da Rainha N’Ginga se enquadra entre os momentos mais felizes da música de concerto latino-americana, de um colorido orquestral invejável, digno dos melhores compositores russos, e de uma rítmica singular e contagiante nos pontos mais altos, conclamo a voi tutti a prestigiar a primeira aparição de Francisco Mignone aqui no PQP Bach.
Entenda como isso é legal, ouvindo o Maracatú do Chico Rei (se quiser, ouvir a Dança da Rainha N’Ginga, vá para 1:10min):
Ouça! Deleite-se! Atinja o êxtase! (essa frase já é do Bisnaga)
Francisco Mignone (1897-1986)
Festa nas Igrejas e Maracatú do Chico Rei
Festa das Igrejas
01. I. São Francisco da Bahia
02. II. Rosário de Ouro Preto – Minas
03. III. O Outeirinho da Glória – Rio de Janeiro
04. IV. Nossa Senhora da Aparecida – Aparecida Maracatú de Chico-Rei
Bailado Afro-Brasileiro em 10 movimentos
05. I. Bailado
06. II. Chegada do maracatú
07. III. Dança das mucambas
08. IV. O Príncipe dança
09. V. Dança das três macotas
10. VI. Dança de Chico-Rei e da Rainha N’Ginga
11. VII. Dança do Príncipe Samba
12. VIII. Dança dos seis escravos
13. IX. Dança dos príncipes brancos: minueto e gavota
14. X. Dança final
Orquestra Sinfônica de Minas Gerais
Coral Lírico da Fundação Clóvis Salgado
David Machado, regente
Postado originalmente em 20 de fevereiro de 2009 pelo CVL. Repostado por Bisnaga
Mozart Camargo Guarnieri já nasceu com nome de grande compositor e tornou-se um de nossos maiores nomes nas partituras. A afirmação que um internauta fez certa vez aqui é bem acertada: “é compositor brasileiro do século XX superior a todos os demais, somente atrás mesmo de Villa-Lobos, cujo primeiro posto é indiscutível“. Aliás, a obra pianística de Camargo Guarnieri é simplesmente estupenda! Em qualidade, dificuldade técnica e melodia. Cara show de bola, aqui interpretado com muita sensibilidade por Laís de Souza Brasil, numa batelada com seus 50 ponteios!
Abaixo, o texto original desta postagem, do mano CVL:
Já pediram certa vez aqui no blog obras para piano de Guarnieri. Primeiro postei as sinfonias, pois me são mais queridas, e há muito tempo já havia o CD com os três primeiros concertos para piano (com Max de Barros como solista). Agora chegou a hora de disponibilizar o esperado monumento que são os cinco cadernos dos Ponteios.
Estou com preguiça de sintetizar o texto do encarte (que não segue para download. segue, sim: o Bisnaga inseriu) – copiei do blog Música Brasileira de Concerto as dedicatórias dos Ponteios. Se alguém escrever um comentário rochedo (imagino que o professor Edson Bandeira de Mello), o incorporarei aqui.
A título de presente surpresa, uma peça muito conhecida de quem já leu a biografia de Guarnieri, porém pouco ouvida: Flor do Tremembé, para 15 solistas. Ela é, como diriam os mais empolgados solecistas, “Felomenal!”. Creiam-me, o chorinho camerístico em questão apresenta-se como a cereja deste post e agrada em cheio.
Flor do Tremembé (1937), a cargo da Camerata de las Américas, regida por Joel Sachs.
(inserida pelo Bisnaga no mesmo pacote dos ponteios)
Para uma quinta-feira, enquanto estou atualizando algumas informações e serenando da refrega da semana, decidi postar um CD de muita relevância espiritual. Traz três belas e enlevantes obras de Mozart, esse gênio construtor de catedrais sublimes. Temos aqui o KV 317, KV 339 e KV 109. Adoro estas obras. Acredito que elas façam parte desse momento de minha existência, que anda tão imerso em necessidades sacralizantes. Tudo isso faz um bem enorme para a nossa interioridade. Não uma espiritualidade dogmática, baseada em “chavões” gastos e bolorentos, mas algo belo, suave, crivado de uma tristeza solene e uma apoteose estética. Peças como estas de Mozart são importantes para nos humanizar. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) –
Missa C-dur KV 317 ‘Kronungsmesse’
01. I. Kyrie
02. II. Gloria
03. III. Credo
04. IV. Sanctus
05. V. Benedictus
06. VI. Agnus Dei
Vesperae solennes de confessore KV 339
07. I. Dixit
08. II. Confitebor
09. III. Beatus vir
10. IV. Laudate pueri
11. V. Laudate Dominum
12. VI. Magnificat
Ouvir Mahler é sempre uma experiência de muitas descobertas. Suas obras sugerem sempre. Cada nota, cada instrumento que toca, cada encontro da orquestra; cada diálogo realizado pelas cordas ou pelos metais, sempre sugerem algo. E nessa percepção ficamos pela duração inteira da peça. E o que dizer de sua Titã? Já ouvi várias vezes essa obra. Mas, todas as vezes que a visito, é como se eu a escutasse pela primeira vez. Sei em que rio imenso a obra vai desembocar, contudo, é como se eu estivesse fazendo um reconhecimento inédito; como se a peça fosse outra peça. Isso é Mahler! Sempre sugerindo; sempre questionando; sempre “filosofando”; sempre construindo reflexões profundas por intermédio da música. Gostei dessa interpretação do Jurowski. Uma boa apreciação!
Gustav Mahler (1860-1911) –
Symphony No. 1 in D major – “Titan”
01. I. Langsam. Schleppend – Immer sehr gemächlich
02. II. ‘Blumine’: Andante allegretto
03. III. Kräftig bewegt, doch nicht zu schell
04. IV. Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen
05. V. Stürmisch bewegt
London Philharmonic Orchestra
Vladimir Jurowski, regente
Depois de séculos sem postar, volto com alguma coisa da vanguarda eslovena. Tendo em conta meu conhecimento parco, tenho apenas dois nomes para apresentar neste e nos próximos posts: Primož Ramovš (1921-1999) e Lojze Lebič (1934-). Curiosamente, do primeiro, meio que o pai da vanguarda eslovena, o que mais conheço são peças neoclássicas, do início de carreira. Estava caçando música do compositor (não era, e talvez ainda não seja, fácil de achar), e um esloveno que conheci pela internet me fez o enorme favor de copiar dois cds da biblioteca. Os dois tristemente não indicavam um compositor assim, assim interessante, e acabei abandonando a busca. Muitos anos depois, achei por um preço fantástico dois cds de obras mais avançadas no site da rádio e tv eslovena. O comichão para conhecê-lo já tinha meio que passado, mas por preço de banana achei que compensava dar mais uma checada. E, sim, lá estava um músico bem mais impactante. Pelos idos da década de 50, Ramovš começa a desenvolver uma linguagem mais pessoal, tendo sido o Festival de Outono de Varsóvia, no qual esteve presente em 1960, catalisador de um novo estilo não apenas para ele, mas para boa parte da Europa Oriental.
Apesar de o encarte do cd falar sobre a experimentação limítrofe de sua música, não é essa a sensação que tenho ao ouvir suas peças (mas, claro, elas também estão longe de serem quadradas). Em todas me parece que há uma preocupação forte com uma plasticidade abstrata, como quem tenta decantar o som numa forma pura, que se encerra em si mesma. Embora seja uma música frequentemente bela (no sentido mais plástico do termo), sem arestas, como uma complexa forma geométrica polida e repolida, não me parece uma música que busca expressar coisa alguma, às vezes nem mesmo criar uma ambiência, mas apenas ser, exalando encanto de sua pureza intrínseca. A obra como um todo é muito coesa (descontado po período clássico) e guarda uma cara de Ramovš em tudo, ainda que, contraditoriamente, isso se dê através de muita dinâmica e contraste. Assim, toda a experimentação me parece rodar em torno de um mastro que limita muito seu escopo, mas que, de fato, não atrapalha em nada nossa fruição.
Músicas funebres (1955) apresenta ainda um compositor em transição, trafegando às vezes por uma sonoridade mais acadêmica, às vezes um som mais arrojado. O encarte diz ser uma das obras mais importantes de Ramovš, mas não é das que mais me apetecem. Ainda vejo um compositor um pouco preso, sem a maleabilidade de obras posteriores no tratamento do som.
A Sinfonia 68 foi inspirada pelos acontecimentos do ano-chave de 1968. Sua concepção, novamente, não busca qualquer descrição de época. De novo, Ramovš está em busca de uma música profundamente abstrata, mas que reflita a efervercência daqueles dias.
Finalmente, este álbum vale sobretudo pela sinfonia do fim da vida, Pieta, de 1995, que dá nome ao cd. Curiosamente, o texto do encarte fala sobre um engajamento de Ramovš com a soturno situação eslovena no mundo pós-comunista, buscando justificá-lo por questões sociológicas, filosóficas e históricas. Talvez o compositor tenha dado declarações que expliquem esses comentários, mas Pieta me soa um profundo epítome da beleza plástica, trazendo mais à mente o acabamento de Michelangelo que a dramática imagem da mãe que segura seu filho morto.
Bon appétit!
Musiques funèbres (1955), para orquestra
01 I. Adagio
02 II. Allegro risoluto
03 III. Largo
04 IV. Adagio
05 V. Moderato-Allegro-Moderato-Maestoso
06 VI. Adagio
07 Sinfonia no.6 “Pieta” (1995)
Sinfonia 68 (Sinfonia no.4) (1968)
08 I
09 II
Orquestra Sinfônica da Rádio e Televisão Eslovena
Marko Munih, regente