Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Fantasia para orquestra de cellos

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A Fantasia para orquestra de cellos é uma das melhores obras de Villa-Lobos. Difícil aceitar que seja tão ignorada. Acredito que essa gravação, realizada pelo próprio mestre, é a única existente (não existe nenhuma outra informação sobre a gravação). Mas apesar do som variar entre ruim e regular, a interpretação é absolutamente vigorosa e emocionante. O segundo movimento está entre as mais lindas páginas da música. O terceiro movimento tem uma força absurda e cheiro de Brasil. Música de primeira categoria.

Além disso, as transcrições de alguns movimentos do cravo bem-temperado de Bach para orquestra de cellos são de arrancar lágrimas.

Um disco imperdível.

CDF

Faixas:
1. Fantasia: 1º Movimento: Alegretto
2. 2º Movimento: Lento
3. 3º Movimento: Allegretto Scherzando – Molto Alegre
4. From Well-Tempered Clavier: Prelúdio Nº 22
5. Fuga Nº 8
6. Prelúdio Nº 14
7. Fuga Nº 1
8. Prelúdio Nº 8
9. Fuga Nº 21

Performed by The Violoncello Society
Villa-Lobos (conductor)

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Carlos Chávez (1899-1978) – Sinfonia Índia (mais Villa-Lobos, Ginastera e Halffter)

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Atendendo a pedidos, a Sinfonia Índia de Carlos Chávez.

Mesmo que ela só tenha um movimento e cerca de doze minutos (mais curta do que, inclusive, muitas sinfonietas), é assim que seu a compositor a nomeou e concebeu, causando dor de cabeça e contrariedade aos estruturalistas mais ortodoxos (quando a escutei pela primeira vez, pensei que se tratava só do primeiro movimento). Na época em que a sinfonia (a segunda das seis de Chávez) foi escrita, 1936, o compositor já havia despontado com outro grande sucesso, também permeado de ritmos nativos: o balé Horse Power (quem tiver uma gravação decente de HP, pode me mandar).

Escrevi certa vez que as duas únicas sinfonias de que gosto de ouvir por completo quando estou de bobeira eram a nona de Dvorák e a segunda de Camargo Guarnieri, mas tenho de acrescentar a Índia de Chávez e a Sinfonia em Cinco Movimentos de Jorge Antunes. Mesmo nos momentos mais calmos, a Índia é belamente melodiosa, sem falar que os instrumentos Yaqui (da tribo homônima, que vivem perto da fronteira com o Arizona) dão um toque único à obra.

Completam o presente CD a famosa suíte de Estância, de Ginastera, o Choros n° 10 (muito bisonho nesta versão) e o concerto para violino do espanhol naturalizado mexicano Rodolfo Halffter (1900-1987) (irmão de outros dois compositores também pouco conhecidos para nós, Ernesto e Cristóbal). Apesar de Rodolfo ter sido o Koellreuter mexicano, introdutor do dodecafonismo em terras astecas, ele só passou a utilizar a técnica dos doze tons na década de 1950 – isso explica porque este concerto, de 1940, é neoclássico.

***

1. Sinfonia Índia – Chávez
2-4. Concerto para violino, op. 11 – Halffter
5-8. Suíte Estância – Ginastera
9. Choros n° 10 – Villa-Lobos

Orquestra Sinfônica e coro da RTVE, de Madrid, regida por Enrique García Asensio
Violino: Ángel Jesús García
Diretor do coro: Mariano Alfonso

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Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Serestas

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Penso que as Serestas do Villa (as doze primeiras de 1925 e as duas últimas de 1943) só têm alguma graça para quem gosta da canção de câmara nacional – pessoalmente só aprecio a quinta. Mesmo assim, para compensar a carência de canções em português aqui no blog, posto esta gravação antiga, da Philips, com Maria Lúcia Godoy e, ao piano, Miguel Proença. Não acho que a voz de MLG seja a perfeita para as Serestas – prefiro-as com um soprano mais jovem ou com um tenor – mas tá valendo. E como vocês podem ver abaixo, os autores dos poemas são de primeira linha.

***

Seresta nº 1: Pobre Cega (Álvaro Moreyra)
Seresta nº 2: O Anjo da Guarda (Manuel Bandeira)
Seresta nº 3: Canção da Folha Morta (Olegário Mariano)
Seresta nº 4: Saudades da Minha Vida (Dante Milano)
Seresta nº 5: Modinha (Manuel Bandeira)
Seresta nº 6: Na Paz do Outono (Ronald de Carvalho)
Seresta nº 7: Cantiga do Viúvo (Carlos Drummond de Andrade)
Seresta nº 8: Canção do Carreiro (Ribeiro Couto)
Seresta nº 9: Abril (Ribeiro Couto)
Seresta nº 10: Desejo (Guilherme de Almeida)
Seresta nº 11: Redondilha (Dante Milano)
Seresta nº 12: Realejo (Álvaro Moreyra)
Seresta nº 13: Serenata (David Nasser)
Seresta nº 14: Vôo (Abgar Renault)

Maria Lúcia Godoy, soprano
Miguel Proença, piano

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The essential of Heitor Villa-Lobos

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Esse CD de prateleira de Lojas Americanas é uma compilação (não mencionada nos créditos) do box de CDs Villa-Lobos par lui même, da EMI. Como costumo dizer, vale como registro histórico, porque meu pai regendo era um ótimo jogador de bilhar. Surpresa foi ouvi-lo tocar piano direitinho numa das Modinhas e das Miniaturas.

Para eu não sair lacônico, deixo a título de curiosidade a letra da cantiga nordestina anônima incorporada ao terceiro movimento da quarta Bachianas, gravada por Milton Nascimento, Teca Calazans e outros cantores e que voltou à tona com o filme Orquestra dos Meninos.

Ó, mana, deixa eu ir
ó, mana, eu vou só
ó, mana, deixa eu ir
para o sertão do Caicó

Eu vou cantando
com uma aliança no dedo
eu aqui só tenho medo
do mestre Zé Mariano

Mariazinha botou flores na janela
pensando em vestido branco
véu e flores na capela

***

The Essential of Heitor Villa Lobos

1 – Bac. Bras. n° 2 – IV. O trenzinho do caipira
2 – Bac. Bras. n° 5 – I. Cantilena
3 – Bac. Bras. n° 5 – II. Martelo
4 – Miniaturas n° 2 – Viola
5 – Modinhas e canções, vol. 1 n° 3 – Cantilena
6 – Momoprecoce
7 – Bac. Bras. n° 4 – I. Prelúdio (Introdução)
8 – Bac. Bras. n° 4 – II. Coral (O canto do Sertão)
9 – Bac. Bras. n° 4 – III. Ária (Cantiga)
10 – Bac. Bras. n° 4 – IV. Dança (Miudinho)
11 – Choros n° 10

Com a Orchestre National de la Radiodiffusion Française, regida por Villa-Lobos (exceto faixas 4 e 5)
Piano: Heitor Villa Lobos (faixas 4 e 5)
Piano: Magda Tagliaferro (no Momoprecoce)
Soprano: Victoria de los Angeles (na quinta Bachianas)
Violoncelo Solo: Fernando Benedetti (na quinta Bachianas)
Baritono: Frederick Fuller (faixa 5)
Chorale des Jeunesses Musicales de France, regido por Louis Maetini (no Choros n° 10)

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Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Cello Concertos, Fantasia for cello

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Qual foi o mais importante legado deixado pelo Brasil na música? Bossa Nova? Não creio. Segundo Gilberto Freire: “só existiram três gênios no Brasil, um foi Machado de Assis, o segundo foi Villa-Lobos e o terceiro… a modéstia me impede de dizer”. Villa-Lobos foi mesmo um gênio. Um gênio que pode ter escrito passagens pouco inspiradas, mas o homem parece ter sido mais prolífico que Haydn, escreveu tanto que acabou escorregando aqui e ali. Mas ouvindo recentemente todos seus quartetos de cordas, suas bachianas, choros, concertos para piano, seus poemas sinfônicos, algumas de suas sinfonias, sua magistral obra para piano solo (Rudepoema está entre as cinco melhores obras para piano do século XX), não resta dúvida sobre sua importância. E é uma pena que um país tão pobre de grandes mestres desconheça logo o Villa. Já ouvi da boca de muito catedrático brasileiro: “Villa-Lobos não é aquele do trenzinho caipira?” Mas essa bizarrice só acontece aqui mesmo. Na Europa e Estados Unidos sua música já é razoavelmente gravada e interpretada. Até bem pouco tempo, o compositor que mais ganhava em direitos autorais no Brasil era Villa-Lobos (quer dizer, sua família).

Como o site do PQP já está recheado de pérolas do mestre, gostaria de trazer algo pouco conhecido de Villa-Lobos: os dois concertos para violoncelo e a fantasia para violoncelo. Aqui interpretados com muita dedicação pelo grande músico brasileiro Antônio Meneses. Há uma diferença bem razoável entre os dois concertos. O primeiro escrito em 1915, é menos empolgante e com orquestração inferior ao segundo, mas melodicamente muito bonito. O mestre aqui ainda era um garoto impetuoso, um discípulo da escola francesa. Já o segundo concerto de 1953, o velho compositor já tinha absoluto poder de sua criatividade e sua orquestração é magistral. Não posso deixar de comentar também minha obra favorita no disco – a fantasia para cello e orquestra. A obra é cativante e misteriosa desde o início. Sempre coloco essa peça no meu velho toca-discos.

Enfim, não são obras chaves na história do mestre, mas quem vai ignorá-las?

CDF

Faixas:

1. Cello Concerto n.1: Allegro Con Brio
2. Assai Moderato
3. Allegro Moderato
4. Cello Concerto n.2: Allegro Non Troppo
5. Molto Andante Cantabile
6. Scherzo
7. Allegro Energico
8. Fantasia for cello:adagio
9. Molto Vivace
10. Allegro Espressivo

Performed by Antonio Meneses (Cello),
Galicia Symphony Orchestra
Victor Pablo Pérez (Conductor)

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Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – O descobrimento do Brasil

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Roberto Duarte – um dos maiores regentes especializados em Villa-Lobos e responsável pela revisão integral das obras orquestrais de meu pai, estudo que resultou em livros reconhecidos mundialmente – parece que só conseguiu encontrar lá pras bandas da Eslováquia uma orquestra decente (ainda que não seja excepcional) para dar conta de partituras importantes mas esquecidas em nosso próprio país. Só assim pra Duarte concretizar essa gravação, ainda referencial, das quatro suítes estruturadas a partir da trilha sonora do filme O descobrimento do Brasil (1936), de Humberto Mauro, com alguns acréscimos a posteriori. A quarta suíte merece menção como um dos expoentes coral-sinfônicos do Villa, ao lado de Mandú-Çarará e do Choros n° 10. Escutem e entendam por quê.

***

O descobrimento do Brasil – Suítes n° 1 a 4

1. Suite n° 1 – Introdução (largo)/Introduction
2. Suite n° 1 – Alegria/Joy
3. Suite n° 2 – Impressão moura/Moorish impression
4. Suite n° 2 – Adagio sentimental/Sentimental adagio
5. Suite n° 2 – A cascavel/The rattle/snake
6. Suite n° 3 – Impressão ibérica/Iberian impression
7. Suite n° 3 – Festa nas selvas/Celebration in the forest
8. Suite n° 3 – Ualalocê (visão dos navegantes)/Vision of the navigators
9. Suite n° 4 – Procissão da cruz/Procession of the cross
10. Suite n° 4 – Primeira missa no Brasil/First mass in Brazil (Adam Blazo, Baritone)

Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional Eslovaca e Coro Filarmônico Eslovaco, regidos por Roberto Duarte

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Joaquim Freire – Marlos Nobre (1939) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959)

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Já que estou ainda no Recife, sem destino definido, vai mais um CD relacionado a dois músicos daqui.

Um deles é intérprete: o violonista Joaquim Freire, que precisou deixar o Recife ainda criança após seu pai, o pedagogo Paulo Freire, ter de se exilar nos tempos da ditadura. Depois de uns tempos no Chile, nos EUA e no Reino Unido, estabeleceu-se na Suíça, onde viria a conhecer a também violonista e futura esposa Susanne Mebes, com quem criou o selo Léman.

O outro é talvez o maior compositor brasileiro vivo, Marlos Nobre, que, assim como Villa-Lobos, tem o melhor de sua discografia no primeiro mundo e em tiragens esgotadas. Curiosamente, Nobre assumiu a cadeira n° 1 da Academia Brasileira de Música em 1984, cujo primeiro ocupante foi o Villa.

Sem mais delongas, este post é dedicado aos fãs do repertório violonístico nacional.

***

Reminiscências, op. 83 – Marlos Nobre (primeira gravação mundial)
1. Choro
2. Seresta
3. Frevo

4. Homenagem a Villa-Lobos – Marlos Nobre

5-16. Estudos para violão – Heitor Villa-Lobos

Joaquim Freire, violão

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Royal Philharmonic Orchestra – Gomes, Moncayo, Villa-Lobos e Ginastera

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De zero a dez, este CD é xis sobre zero – ou seja, não existe. Pra ser mais claro: de uma a cinco estrelas, critério mais disseminado nas resenhas de jornais, revistas e sites, ele vale três ou quatro buracos negros.

É uma obra de meu pai, a segunda Bachianas, e a abertura de O guarani que me impelem a fazer este post, fora um objetivo recôndito que será oportuna e longinquamente revelado. O Huapango de Moncayo é outra bela peça – só as Variações de Ginastera não têm a menor inspiração. Fogo é que minha dileta Orquestra Filarmônica Real não tenha rendido bem neste CD.

***

1. Overture
2. No. 1, “Preludio” (O canto do capadocio)
3. No. 2, “Aria” (O canto da nossa terra)
4. No. 3, “Dansa” (Lembranca do sertao)
5. No. 4, “Toccata” (O trenzinho do caipira)
6. Theme for violin, cello and harp
7. Interlude for strings
8. Humourous variation for flute
9. Scherzo variation for clarinet
10. Dramatic variation for viola
11. Canonic variation for oboe and bassoon
12. Rhythmic variation trumpet and trombone
13. Perpetual motion variation for violin
14. Pastoral variation French horn
15. Interlude from wind
16. Reprise of theme for double bass
17. Final rondo variation for orchestra

Royal Philharmonic Orchestra, regida por Enrique Arturo Diemecke

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Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Bachianas Brasileiras n° 1, 4 e 5

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Depois de Villa por chorões e do Villa regendo a Orquestra da RIAS de Berlim, outra jóia da Kuarup – jóia ma non troppo, já que este CD só vale pela Bachianas n° 1.

A quarta Bachianas, interpretada na versão original, para piano, até tem uma emoção própria nas mãos de Antônio Guedes Barbosa, mas estão cheias de errinhos nos ataques das notas, principalmente nos dois últimos movimentos (ainda que o Prelúdio esteja sublime, com as teclas batendo nas cordas como pingos d’água), sem falar que sete compassos do Coral são engolidos sem qualquer explicação – quem conhecer a peça, vai saber exatamente onde é.

A transcrição para piano da quinta Bachianas, feita pelo próprio Villa, peca mortalmente por não trazer o ponteado que embala o vocalise do soprano – só tem a linha do baixo e, na mão direita, a duplicação da melodia – e ainda é assassinada pela mão pesada de JCA Brasil.

Confiram se é exagero meu ou não.

Adiante segue o texto do encarte do CD.

***

Villa-Lobos e as Bachianas

Victor Giudice

A Bachiana Brasileira nº 1, destinada a uma orquestra de violoncelos e composta em 1930, teve sua primeira audição no Rio de Janeiro em 13 de novembro de 1938, sob a regência do próprio Villa. Na época, os ouvintes mais seníveis ficaram meio assombrados com a façanha obtida pelo compositor, no sentido de aproximar o estilo intocável de Johann Sebastian Bach, à música brasileira aparentemente rudimentar. Talvez ninguém tivesse desconfiado de que esta seria a grande invenção de Villa-Lobos. A obra se divide em três partes: Introdução, Prelúdio e Fuga. A Introdução se apresenta sob a forma de uma popular “embolada”, em ritmo acelerado,guardando a ambiência harmônica assegurada pelos padrões de Bach. Já no Prelúdio, ou “modinha”, uma ária tipicamente bachiana, mas obediente aos padrões característicos da melodia nacional, obedece à indicação Lamentoso e subjuga o ouvinte com um solo de violoncelo da melhor qualidade.
A parte final é uma Fuga, talvez o distintivo máximo da obra de Bach. Uma vez Bach declarou a um interessado em sua arte: “Se você quiser compor uma fuga tão perfeita quanto as minhas, componha tantas quantas eu compus.” No caso de Villa-Lobos ele dá um banho de originalidade ao transformar as “vozes” da fuga numa animada conversa musical entre quatro tocadores de choro. O clímax é determinado por um crescendo, até a conversa se transformar em acirrada discussão.

A Bachiana nº4 foi composta inicialmente para piano, mas, devido ao sucesso, foi logo transcrita para grande orquestra. Na verdade, o Prelúdio, conhecido como “Introdução”, é dominado por uma dessas melodias tão raras quanto simples, capazes de uma fixação imediata na memória popular. Os compassos iniciais do Samba em prelúdio, de Baden Powell e Vinicius de Morais, são os mesmos da quarta Bachiana. O segundo movimento, deniminado Coral ou “Canto do sertão”, é outro achado melódico. A ordenação das notas, lógica e sobretudo original, que Villa consegue impor às seqüências melódicas, é um resultado direto de seu íntimo contato com nossa música popular e , principalmente, com os chorões. Mais uma vez, a terceira parte se concentra numa Ária nos perfeitos moldes bachianos, mas sempre temperada com os estilemas nacionais. Para o movimento final, Villa-Lobos compôs uma Dança, “miudinho”, de grande impacto rítmico e enormes dificuldades interpretativas, tanto para a versão de piano quanto para a orquestra. O sucesso obtido fez com que Bachiana Brasileira nº4 logo se transformasse num dos grandes hits do século XX.

Mas a maior fonte da popularidade mundial de Villa-Lobos é, sem sombra de dúvida, a Bachiana Brasileira nº5. Otto Maria Carpeaux afirma que a mais bela melodia do século XX é a Pavane pour une Infante Defuncte, de Ravel. É possível que ele esteja certo. Mas a mais perfeita invenção melódica do século, para solo vocal sem palavras, é a célebre Ária, “Cantilena”, da quinta Bachiana. Nem mesmo o Vocalise, de Rachmaninoff, consegue atingir o mesmo nível de comunicação em peças para solo de soprano sem palavras. A Ária apresenta uma seção intermediária sobre os versos de Ruth Valladares Correia. Composta na forma A-B-A, a parte sem palavras é retomada no final, a bocca chiusa (boca fechada), traduzindo toda a nostalgia de um certo tipo de mulher brasileira. A segunda parte da Bachiana nº5 é o Martelo, composta com versos de Manuel Bandeira, de interpretação dificílima para sopranos não brasileiros. Sua versão original é para acompanhamento de oito violoncelos, mas a redução para piano aqui gravada é do próprio Villa.

Todo compositor que se preza tem seu ponto de maior popularidade.

Villa-Lobos tem a quinta Bachiana.

***

Bachianas Brasileiras n° 1, 4 e 5

01 Bachianas Brasileiras nº1 – Introdução (Embolada)
02 Bachianas Brasileiras nº1 – Prelúdio (Modinha)
03 Bachianas Brasileiras nº1 – Fuga (Conversa)
04 Bachianas Brasileiras nº4 – Prelúdio (Introdução)
05 Bachianas Brasileiras nº4 – Coral (Canto do Sertão)
06 Bachianas Brasileiras nº4 – Ária (Cantiga)
07 Bachianas Brasileiras nº4 – Dança (Miudinho)
08 Bachianas Brasileiras nº5 – Ária (Cantilena)
09 Bachianas Brasileiras nº5 – Dança (Martelo)

Rio Cello Ensemble – BB 1, Antônio Guedes Barbosa – BB 4, Leila Guimarães e João Carlos Assis Brasil – BB 5

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Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Choros n° 6 e Bachianas Brasileiras n° 7

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Em retribuição aos agradecimentos e elogios recentes, um post rápido, com essa gravação histórica do Villa  – em estúdio pela primeira vez com uma orquestra alemã*, em 1955. O CD é outra preciosidade lançada pela Kuarup.

* A da RIAS de Berlim (Rundfunk im amerikanischen Sektor ou Broadcasting in the American Sector).

1. Choros nº 6
2. Bachianas Brasileiras nº 7 – Prelúdio (Ponteio)
3. Bachianas Brasileiras nº 7 – Giga (Quadrilha Caipira)
4. Bachianas Brasileiras nº 7 – Tocata (Desafio)
5. Bachianas Brasileiras nº 7 – Fuga (Conversa)

Orquestra RIAS de Berlim, regida por Heitor Villa-Lobos

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Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Villa por Chorões

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Esse álbum – uma bandeja de brigadeiros para os villófilos, ou villalobófilos, ou villalupófilos, ou o que seja – é uma preciosidade da Kuarup, pra mim a melhor das gravadoras independentes do Brasil (a Biscoito Fino é nota dez, até pela primorosa caixinha de seus CDs, mas quem dera que ela tivesse o catálogo da Kuarup).

Não é preciso falar das músicas, suponho que vocês já as conheçam: são releituras de standards do nosso amado Villa, exceto pela Suíte popular brasileira, executada na versão original, mas por cinco violonistas, um em cada movimento.

Tem aqui, transcrições do Choros n° 1 para cavaquinho e violão de sete cordas, de O trenzinho do caipira e da Melodia Sentimental, essas duas para conjunto de cordas dedilhadas, sax soprano e percussão, e da Bachianas n° 5 – o primeiro movimento, para cordas dedilhadas e sax soprano, com a aparição de um piano na parte central; o segundo, para Paulo César Santos, que gravou separadamente as partes arranjadas para sax soprano, duas clarinetas e clarone. O resultado do Martelo ficou excelente.

E se você acha que o sinfônico Choros n° 6 tem somente sugestões de células rítmicas do choro propriamente dito, espere para ouvir esta versão, pena que de metade da obra. No mais, empanturrem-se de brigadeiros.

Villa por Chorões

01 Choros n° 1
02 Bachianas Brasileiras nº5 – Ária (Cantilena)
03 O Trenzinho do Caipira (Tocata)
04 Mazurka-Choro (Da : Suite Popular Brasileira )
05 Schottish-Choro (Da: Suite Popular Brasileira )
06 Valsa-Choro (Da: Suite Popular Brasileira )
07 Gavota-Choro (Da: Suite Popular Brasileira )
08 Chorinho (Da: Suite Popular Brasileira)
09 Bachianas Brasileiras nº 5 – Dança (Martelo)
10 Choros nº 6
11 Melodia Sentimental (De: A Floresta do Amazonas)

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Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – A floresta do Amazonas (Primeira gravação mundial)

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Mais um post, já que agora só volto lá pra perto do Dia das Crianças…

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Villa-Lobos – figura cult nos States pós-guerra, embora não falasse nada de inglês – recebia diversas encomendas de obras graças a esse prestígio. Uma dessas encomendas foi a da trilha para o filme Green mansions (1959), da MGM, uma adaptação do livro do britânico William Henry Hudson, de 1904, que se passa nas selvas da Guiana.

O filme, que contava com Audrey Hepburn e Anthony Hopkins no elenco, foi um fiasco e o Villa não gostou da forma como um tal de Bronislaw Kaper editou a trilha para que se adequasse à película. Daí, Tuhú (também meu apelido quando eu era criança) reestruturou a suíte e deu-lhe o nome de A floresta do Amazonas.

Para esta antológica gravação, lançada década passada pela EMI e ainda disponível no mercado, Villa-Lobos convenceu Bidu Sayão, aposentada há anos, a voltar aos estúdios para o que veio a ser o último registro fonográfico comercial de ambos. A tal Symphony of the Air que ele rege, nada mais é que a sucessora da lendária NBC Orchestra de Toscanini, que se desfez após a morte do italiano, em 1954, e durou até 1963.

Se vocês assistem à TV, vão reconhecer de imediato a Abertura, utilizada no seriado A muralha, e a Melodia sentimental – transmutada em hit da MPB nas vozes de Zizi Possi, Maria Bethania, Cacá Diegues (!), Djavan, no filme Deus é brasileiro, no seriado Hoje é dia de Maria e por aí vai. Existe até uma releitura de A floresta do Amazonas, do selo Kuarup, feita por Wagner Tiso e Ney Matogrosso. Acabei de encontrá-la na prateleira, mas vou poupar-lhes dela.

A floresta do Amazonas

1. Abertura
2. Deep In The Forest
3. Excitement Among The Indians
4. First Bird Song
5. Nature’s Dance
6. Second Bird Song
7. Vocalise
8. Sails (Veleiros)
9. On The Way To The Hunt
10. Third Bird Song
11. Twilight Song
12. The Indians In Search Of The Girl
13. Fourth Bird Song
14. Vocalise
15. Head Hunters
16. Love Song
17. Sentimental Melody
18. Forest Fire
19. Finale

Symphony of the Air e Coro
Regência: Heitor Villa-Lobos
Soprano: Bidu Sayão

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Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Magdalena (primeira gravação mundial)

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Todo mundo pensava que meu pai tinha morrido sem deixar sucessores. Todavia, ele teve casos amorosos fortuitos por aí afora e eu vim a ser fruto de um deles. Não interessam, nesse momento, mais detalhes: minha história vai ser revelada bem aos poucos. Estou aqui para mostrar o quanto a música clássica brasileira e americana [das três Américas] tem oferecido ao resto mundo obras tão dignas de serem ouvidas e apreciadas quanto às do resto do mundo.

Não vou ficar chamando meu pai de “pai”, senão vão dizer que entrei neste blog por amizade nepotista entre ele e o genitor de PQP, FDP e CDF. Além do mais, ele nunca soube de minha existência. Doravante, ele é o “Villa”, alcunha pelo qual todos o conhecem.

Meu presente de boas-vindas é este raro CD que vos posto: a primeira gravação mundial de Magdalena, com a desconhecida Orquestra New England e solistas mais desconhecidos ainda, lançada em 1988. Magdalena é uma obra sui generis dentro do catálogo villalobiano: nem uma ópera cômica, nem um musical parecido com os demais que conhecemos. E vocês podem perguntar: Villa-Lobos escreveu um musical? Sim.

Histórico

Robert Wright e George Forrest, dois letristas da Broadway tinham realizado uma bem sucedida adaptação de uma opereta de Grieg para os palcos nova-iorquinos e queriam lançar um espetáculo que tivesse como cenário a América do Sul. Não tinham uma história pronta, somente os personagens principais, e decidiram procurar Villa-Lobos por sua fama. Foram até pra França aprender francês in loco porque sabiam que ele não falava nada de inglês, só no idioma de Debussy, Chopin e Lully.

Voltaram para os States e tentaram viajar de Nova Iorque pro Rio umas três ou quatro vezes, mas sempre dava pau no avião e eles desistiram, até que souberam que o Villa tava indo pra lá com Mindinha e José Vieira Brandão. Wright e Forrest não queriam uma composição original, mas fazer uma adaptação de obras já existentes de Villa-Lobos. Por isso vocês vão reconhecer o Coral da Bachianas n° 4, Remeiros do São Francisco, peças do Guia prático (A maré encheu, Na corda da viola e Garibaldi foi à missa), a Impressões seresteiras do Ciclo brasileiro etc.

Magdalena estreou sob ótimas críticas em 1948 – quando o Villa estava sendo operado pela primeira vez para tratar do câncer de bexiga que iria vitimá-lo mais tarde – e foi apresentada em Los Angeles, San Francisco e Nova Iorque durante cerca de três meses. Todos os detalhes que envolvem o nascimento da obra estão no encarte, em inglês, narrados pelos próprios libertistas.

Enredo

Pedro e Maria, habitantes da tribo dos muzos, vivem às margens do Magdalena, maior rio da Colômbia, no ano de 1912. Ela é a chefe da tribo e leal devota de Padre José, que parte para uma missão evangelizadora e deixa sob guarda dela a imagem de Nossa Senhora que protege a tribo. Os muzos, que trabalham na mina de diamantes do General Carabaña, entram em greve e o Major Blanco, supervisor da mina, viaja à França para reportar a situação ao seu superior bon vivant, que mora em Paris e se cuja nobre razão de viver se resume a incrementar sua invejável adega. Pedro presenteia Maria com uma esmeralda que ambos acharam quando crianças.

General Carabaña passa a maior parte do tempo no Moulin Rouge de Teresa, o Little Black Mouse Café. A triunfal entrada da cafetina, digo, da empresária é um dos momentos mais engraçados da obra do Villa – méritos para a solista que a interpreta, de comicidade vocal única (pra não dizer que ela tem uma voz bem esquisita).

Major Blanco transmite as más notícias ao patrão e este tenta seduzir Teresa a partir para a Colômbia junto consigo, prometendo-lhe um colar com cem diamantes. Ela reluta em se desfazer do querido café, mas ele persuade Zoogie, astrólogo de Teresa, a convencê-la e ela cai na lábia do antepassado de Walter Mercado. No Magdalena, enquanto o patriarca dos muzos canta as belezas do rio, Pedro e os demais índios botam um jukebox defeituoso pra funcionar aos socos e pontapés. A tática dá certo, até o aparelho se espatifar de vez e deixar que o velho índio termine sua canção.

Maria e os muzos preparam uma festa para receber o patrão. Pedro, rebelde e nada fã do General Carabaña, chega com o ônibus lotado de índios bêbados da tribo chivor e a confraternização acaba em pancadaria. Pedro leva Maria para dançar na floresta e os chivores aproveitam o descuido para roubar a imagem de Nossa Senhora. Ela descobre que Pedro forjou o plano. Ele pede perdão e se declara para ela, propondo o casório para quando Padre José retornar à tribo.

O General proíbe qualquer assembléia até que a greve esteja acabada, mas os muzos se rebelam. Enquanto isso, ele prepara um grande baile em sua fazenda, para o qual Teresa ficou encarregada de organizar o banquete. Ela descobre que o General negociou a paz com seus subordinados aceitando se casar com Maria, o que o impede de explorá-los como vinha fazendo, e decidiu dar à chefe dos muzos o colar de diamantes outrora prometido à mestre-cuca. Teresa planeja, então, matá-lo empanturrado de comida, literalmente.

Após o baile, Teresa emenda um quitute atrás do outro até General Carabaña morrer de ataque cardíaco com a pièce de resistance e ela se apossar do desejado colar. Padre José volta à aldeia e Maria lhe conta tudo o que ocorreu na ausência dele. O ônibus de Pedro se despedaça num desfiladeiro e ele escapa da morte pelas preces da amada, mas ela desiste do amor dele por sua recusa em reconhecer o milagre que o salvou. Ele se arrepende e chega à aldeia com a imagem de Nossa Senhora em seus braços, pedindo Maria em casamento. Padre José abençoa a união e todos os muzos entoam em coro o grand finale.

Apêndice

Adquiri o Little Black Mouse Café na década de 1940 e o rebatizei lusitanamente de Café do Rato Preto (“Ratinho Preto” não soaria bem). A posteriori, expandi o negócio e abri franquias em todo o mundo. Aqui no Brasil, há filiais em São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Recife, Porto Alegre, Belém, Curitiba, João Pessoa, Salvador, Brusque (SC) e Brasília. Desde já, vocês estão convidados a dar um pulo no Café do Rato Preto mais próximo e passar horas agradáveis discutindo música, jogando bilhar e fumando um bom charuto.

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Magdalena (primeira gravação mundial)

1. The Jungle Chapel: a) Women Weaving b) Peteca! c) The Seed Of God – Charles Damsel/Muzo Indians
2. The Omen Bird – Faith/Women
3. My Bus And I – Kevin Gray/Children/Passengers/Muzos
4. The Emerald – Kevin Gray/Faith Esham
5. The Civilized People – Charles Repole/The Astrologer/George Rose/Habitues & Staff Of Teresa’s Little Black Mouse Cafe
6. Food For Thought – Judy Kay/Habitues
7. Colombia Calls: a) Come To Columbia b) Plan It By The Planets… – Keith Curran/George Rose/Charles Repole/Judy Kay/Habitues & Staff
8. The River Port: a) Magdalena b) The Broken Pianolita (A Dance) – The Old One/Indian youths
9. Festival Of The River: a) River Song b) Pedro Wrecks The Festival (A Dance) – Faith Esham/Children/Muzos/Tribal Elder/Kevin Gray/Chivor Indian Men
10. Guarding The Shrine OF The Madonna: s) The Forbidden Orchid b) The Theft (A Dance) – Faith Esham/Kevin Gray/Chivor Men
11. The Shining Tree – Kevin Gray/Faith Esham/Muzos
12. Lost – Faith Esham/Kevin Gray
13. Freedon! – Kevin Gray/Muzos
14. In The Kitchen – Judy Kay/George Rose
15. A Spanish Waltz – Carabana’s Guests
16. Piece De Resistance – Judy Kay/Carabana’s Guests
17. Teh Madonna’s Return: a) The Emerald Again (Reprise) b) Finale: The Seed Of God – Faith Esham/Kevin Gray/Charles Repole/Kevin Gray/Children/Muzos

Orchestra New England

Regência: Evans Haile

Com: Judy Kaye, George Rose, Faith Esham, Kevin Gray e Jerry Hadley

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CVL

50 anos sem Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Nelson Freire interpreta Villa-Lobos

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio, pelos motivos expostos AQUI

Este é um álbum que me agrada por demais, pois ele nos dá uma boa amostra da literatura pianística de Villa-Lobos. O cd apresenta peças, como a empolgante e técnica Prole do Bebê Nº 1, o lírico Prelúdio das Bachianas Brasileiras Nº 4, as singelas Três Marias e a grande obra-prima para piano de Villa-Lobos, o monumental Rudepoema, tudo isso nas mãos do competentíssimo Nelson Freire.

As Obras

A Prole do Bebê Nº 1, é um marco importante na biografia de Villa-Lobos: Arthur Rubinstein, o grande pianista polonês, encantou-se por essa coleção de oito peças inspiradas basicamente em canções folclóricas: passou a tocá-la por todo o mundo (sobretudo o Polichinelo, que ele gostava de dar como extra): e foi assim que a fama de Villa-Lobos transpôs as nossas fronteiras.

Nas mãos de Nelson Freire, essa primeira Prole aparece, aqui, em toda a sua concentrada poesia e colorido, Villa-Lobos, nesta série, ainda está próximo do impressionismo francês (o que não aconteceria com a segunda Prole, de 1921).

A escrita é a mais transparente, exige um domínio absoluto da técnica. Mas, por baixo desses cristais franceses, lá está o Villa profundo, cantando logo na Boneca de Louça, que abre a série. A Boenca de Massa, que se segue, é como um rio que corre, infinito, cheio de sombras e luzes, uma verdadeira criação em termos de linguagem pianística, tanto mais extraordinária quanto Villa-Lobos nunca foi um grande pianista, muito mais ligado, como intérprete, ao violão e ao violoncelo.

Já se disse que Villa-Lobos, é um compositor caudaloso que não consegue controlar a sua própria produção. Pois ei-lo aqui, no Prelúdio das Bachianas Brasileiras Nº 4, trabalhando só o essencial: uma linha melódica muito pura, de fragrância realmente bachiana, e uma linha de baixo. É quase só isso; e também uma regularidade absoluta, que contribui para a atmosfera de paz transcendente, Nelson Freire sublinha essa grandeza clássica através do seu fraseado, e da mais cuidadosa gradação dinâmica.

“Essencial” é também o Villa-Lobos de As Três Marias, três pequenas peças da sua maturidade, onde ele se compraz em reproduzir a luz álgida das estrelas, trabalhando na região aguda do piano. É como que uma prefiguração das Cartas Celestes de Almeida Prado, num clima de depuração completa. Este pequeno tríptico foi escrito em 1939 a pedido de Edgar Varèse, e estreado por José Vieira Brandão, no mesmo ano, no Rio de Janeiro.

Com o Rudepoema, escrito entre 1921 e 1926, chegamos finalmente ao Villa-Lobos torrencial, ciclópico, numa peça em que ele se propunha a fazer o retrato musical de Arthur Rubinstein. Não se sabe se Rubinstein se reconheceu no retrato. Talvez seja mais próprio falar de um auto-retrato do Villa-Lobos irredutível a formas, a limitações, às vezes selvático, refletindo um temperamento fortíssimo, uma inspiração vulcânica. Poucas peças existem que coloquem tantas exigências ao intérprete, não só de técnica mas, sobretudo, de discernimento para caminhar no meio desta selva. A versão de Nelson Freire é um ótimo guia para essas complexidades, um monumento ao compositor e ao intérprete.

Fonte: Encarte do cd – Luiz Paulo Horta

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Nelson Freire interpreta Villa-Lobos

A Prole do Bebê Nº 1
01 Branquinha – A Boneca de Louça (2:17)
02 Moreninha – A Boneca de Massa (1:28)
03 Caboclinha – A Boneca de Barro (2:22)
04 Mulatinha – A Boneca de Borracha (1:46)
05 Negrinha – A Boneca de Pão (1:07)
06 A Pobrezinha – A Boneca de Trapo (1:37)
07 O Polichinelo (1:21)
08 Bruxa – A Boneca de Pano (2:25)

09 Prelúdio – Bachianas Brasileiras Nº 4 (3:38)

10 As Três Marias (3:23)

11 Rudepoema (17:58)

Nelson Freire, piano

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Marcelo Stravinsky

50 anos sem Heitor Villa-Lobos (1887-1959): Uirapuru & Sergei Prokofiev (1891-1953): Cinderela

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio, pelos motivos expostos AQUI

Fazia um tempo que eu tinha prometido fazer essa postagem e, mesmo não sendo um álbum com obras exclusivas de Villa-Lobos,  acho que não poderia ter havido hora melhor, senão nesse dia tão especial e com tantas homenagens. Uma excelente gravação com a sempre magistral e histórica interpretação do grande Stokowski. Vamos as obras!

Uirapuru – Poema Sinfônico

Há um interessante paralelo entre o poema sinfônico Uirapuru de Heitor Villa-Lobos e O Pássaro de Fogo, de Igor Stravinsky. Ambos são uma representação pictórica musicada de um pássaro encantado que é transformado num ser humano, e ambos foram compostos durante os primeiros períodos de suas carreiras de compositores, apontando-lhes o caminho que suas composições seguiriam nos anos seguintes.
Uirapuru, foi composto em 1917. Foi um dos primeiros sucessos das obras sinfônicas nas quais Villa-Lobos utilizou material folclórico que ele havia reunido durante suas viagens feitas pelo interior brasileiro.
A instrumentação de Uirapuru é extensa e inabitual. Ao lado da instrumental convencional orquestração, inclui o violinofone (um violino com uma trompa adaptada) e desta forma produzindo sons latino-americanos como o coco, tamborim, surdo e o reco-reco.
Na partitura do Uirapuru Villa-Lobos modela uma determinada história sobre a qual o poema sinfônico é baseado. É um conto original, que o compositor organizou com muitas e diferentes lendas brasileiras.

Modinha das Bachianas Brasileiras Nº 1

Em sua série de nove Bachianas Brasileiras que é composta para várias combinações de instrumentos e vozes, Villa-Lobos temperou numa amálgama magnífica, o espírito e a técnica de seu ídolo, Bach, com os melódicos contornos da música folclórica brasileira. A primeira dessas imensamente atrativas pequenas suítes datam de 1930. Foi composta para uma orquestra de violoncelos e em três movimentos. Embolada (Introdução); Modinha (Prelúdio) e Conversa (Fuga). Embolada subentende-se “expansão”; Modinha, é uma forma de canção brasileira e é aqui tratada à maneira de uma ária de Bach. Conversa, como sua denominação faz subentender, é uma forma de conversação. A lírica Modinha é frequentemente apresentada fora do contexto e como um movimento autônomo, tal qual é ouvida nesta gravação.

Cinderela (A Gata Borralheira) – Suite de Balé

A Gata Borralheira é o seguinte do último bailado de Sergei Prokofiev. Começa em 1941, foi interrompido quando da invasão da Rússica pela Alemanha e não completado até 1944. Inicialmente foi apresentado como a primeira nova obra pós-guerra no Teatro Bolshoi em Moscou, em fins de 1945. O libreto é de Nicolai Volkov, coreografia de Rostislav Zakharov, quadros de Peter Williams e Galina Ulanova, dançando o papel-título. Esta versão difere alguma coisa de outras das familiares audiências americanas, como terão sido apresentadas em “tournées” e na televisão, pelo Royal Ballet. A última alardeada coreografia foi de Frederick Ashton e quadros de Jean-Denis Malclés. A primeira apresentação na Europa Ocidental deu-se no Covent Garden de Londres, em dezembro de 1948, com Maria Shearer substituindo a Gata Borralheira por indisposição de Margot Fonteyn, que posteriormente se tornou a principal intérprete desta parte da obra. Com excessão da retirada dos trechos menores, ambas as versões seguem o familiar conto de fadas de Perrault.
Para a Gata Borralheira, Prokofiev escreveu alguma de sua mais insinuante música, uma combinação de seus melhores esforços como compositor de música de contos de fadas e música para bailado. Tempos depois, completando a Gata Borralheira, extraiu duas suites de concerto da partitura original que foram publicadas como suas Opus 107 e 108. Nenhuma dessas suites seguiu a sequência do balé; cada uma delas foi arranjada como um balanço musical e variado, antes que por exatidão cronológica. No presente arranjo dos seis movimentos da suite, Leopold Stokowski intentou combinar elementos de ambos Opus, agrupando-os na ordem do bailado e, de cada tempo, concluindo a variedade musical. Em assim fazendo, ele retirou dois movimentos de cada suite e somou dois movimentos – Gata Borralheira e o Príncipe, e Apoteose – Finale, do corpo da partitura do bailado.

Fonte: Encarte do cd

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Villa-Lobos: Uirapuru & Sergei Prokofiev: Cinderela

01 Uirapuru (14:07)

02 Modinha (Prelúdio) de Bachianas Brasileiras Nº 1 (7:56)

Gata Borralheira (Cinderela)
03 Fada da Primavera e Fada do Verão (4:00)
04 Gata Borralheira vai ao Baile (1:00)
05 Gata Borralheira no Castelo (7:00)
06 Gata Borralheira e o Príncipe (4:09)
07 Valsa da Meia-Noite da Gata Borralheira (4:00)
08 Apoteose – Finale (3:31)

Stadium Symphony Orchestra Of New York
Leopold Stokowski

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Marcelo Stravinsky

50 anos sem Heitor Villa-Lobos (1887-1959): Os Choros de Câmara

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio, pelos motivos expostos AQUI

Aqui vai um CD antológico da saudosa gravadora Kuarup. Insuperável.

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Heitor Villa-Lobos – Os Choros de Câmara

01 Choros nº 1
02 Choros nº 2
03 Choros nº 3 (Picapau)
04 Choros nº 4
05 Choros nº 5 (Alma Brasileira)
06 Choros nº 2 – transcrição para piano
07 Choros nº 7 (Settimino)
08 Dois Choros (Bis)

“Primeira gravação completa da série dos Choros para formação de câmara. Gravada no Rio com os principais solistas villa-lobianos regidos por Mário Tavares, com participações especiais de Sérgio Assad (violão), Paulo Moura (sax), Murilo Santos (piano) e o coro masculino da Associação de Canto Coral”. – Retirado do site da Kuarup.

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CVL

Galina Ustvolskaya (1919 – 2006): Trio – Sonata – Octeto

É difícil escrever uma lista extensa com o nome de grandes compositoras mulheres. O nome da freira Hildegard von Bingen (1098 – 1179), cuja vida fascinante , embebida de misticismo e visões, talvez possa ser colocada em primeiro lugar. Sua contribuição para música foi importantíssima no momento que a música, a nossa música, ainda estava em gestação. E depois dela? Pulando vários séculos, chegam os nomes de Clara Schumann e Fanny Mendelssohn. Duas compositoras do século XIX. É possível encontrar algumas gravações (ainda muito poucas) que nos mostram duas mulheres bem competentes. Lili Boulanger (1893 – 1918) foi uma das grandes promessas da música. Sua famosa irmã Nadia Boulanger, cuja vida no primeiro momento foi dedicada a composição, reconheceu a enorme superioridade e genialidade da irmã. Tornou-se professora por esse motivo. Mas Lili não suportou a doença e morreu muito jovem.
Hoje, quando penso nos principais compositores da atualidade (incluindo homens também), não titubeio em dizer: Gubaidulina e Saariaho. Elas são duas mulheres ativas e inovadoras que merecem nossa total atenção. Mas devo confessar que de todas essas encantadoras mulheres a minha preferida é a russa Galina Ustvolskaya. Cito aqui as palavras do seu mais importante professor, Dmitri Shostakovich: “Não sou eu quem está te influenciando, mas sim o contrário”. É verdade, a música de Ustvolskaya não se parece com a do mestre Shostakovich, nem mesmo na sua obra de estudante – o Trio para violino, clarinete e piano (1949) – aliás, sua música não lembra a de nenhum outro compositor. Alguns classificam sua música como neo-primitivista, devido a sua rudeza e repetições (não diria minimalista). Boa parte de suas composições nunca foram apresentadas ao vivo ou sequer gravadas, chegou ao ocidente apenas na década de 1980.
O octeto para 2 oboés, 4 violinos, tímpano e piano (1950), também uma obra de mocidade, é absurdamente atual e impactante. Pretendo postar outras obras dessa extraordinária e injustiçada compositora.

CDF
Faixas:
1 – Trio
2 – sonata for violin and piano
3 – Octet

The St. Petersburg soloists
Oleg Malov

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Ravi Shankar (1920) & Philip Glass (1937): Passages

Este é um álbum que sempre aparece nas minhas listas de mp3 para ouvir enquanto dirijo. O disco é composto por seis faixas de uma música predominantemente indiana e da melhor qualidade. É interessante salientar que apesar das distancias geográficas que separam os dois compositores, Glass em Nova Yorque e Shankar em Madras, o álbum possui uma unidade surpreendente.

É um trabalho que transcende ao mero rótulo exótico de crossover. É a perfeita fusão do Tao – Yang/Yin. Os módulos repetitivos que são marca do minimalismo de Glass (vozes e violoncelos lembrando muito o Villa-Lobos das Bachianas), têm tudo a ver com as ragas indianas.

Passages traz duas composições de Glass sobre temas de Shankar; duas de Shankar sobre temas de Glass; e uma peça autônoma de cada compositor. É uma música envolvente e hipnótica, como a naja. Não fossem Shankar e Glass dois hábeis encantadores de serpentes.

Simplesmente imperdível!

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Ravi Shankar & Philip Glass: Passages

01 Offering 9:43
Composed by Ravi Shankar

02 Sadhanipa 8:37
Composed by Philip Glass

03 Channels And Winds 8:00
Composed by Philip Glass

04 Ragas In Minor Scale 7:37
Composed by Philip Glass

05 Meetings Along The Edge 8:09
Composed by Ravi Shankar

06 Prashanti 13:42
Composed by Ravi Shankar

Musicians

Strings
Tim Baker, violin – Barry Finclair, violin, viola – Mayuki Fukuhra, violin – Regis Iandiorio, violin – Karen Larlsud, violin – Sergiu Schwartz, violin – Masako Yanagita, violin, viola – Al Brown, viola – Richard Sortomme, viola – Seymour Barab, cello – Bervely Laudrisen, cello – Batia Lieberman, cello – Joe Carver, bass

Woodwinds
Thereza Norris, flute – Jack Kripl, flute, soprano saxophone – Jon Gibson, soprano saxophone – Pichard Peck, tenor, alto saxophone – Lenny Pickett, tenor, alto saxophone

Brass
Peter Gordon, french horn – Ron Sell, french horn – Keith O’Quinn, trombone – Allan Raph, trombone

Gorden Gottleib, percussion

Jeanie Gagne, voice

Michael Rieman, piano

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Marcelo Stravinsky

Amaral Vieira (1952) – Te Deum e Requiem in memoriam

Dá pra perceber que, mesmo aparecendo pouco, tenho estado bastante lacônico – isso devido aos meus afazeres profissionais. Fica difícil canalizar boas ideias, mesmo que curtas, para compartilhar com vocês.

Se não tenho preparado textos tão bacanas quanto antes, pelo menos tenho tentado compensar com algumas gravações solicitadas, tal qual esta. Mas pretendo dar um basta em Amaral Vieira ainda este ano, pois tem gente na fila. É porque os fãs do compositor paulista constituem uma claque garantida neste blog – ainda por cima, muito educada e muito entusiasmada.

Volto no dia 17 de novembro…

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Amaral Vieira – Te Deum e Requiem in memoriam

1. Te Deum, Op.181: I. Te Deum Laudamus
2. Te Deum, Op.181: II. Te Ergo Quaesumus
3. Te Deum, Op.181: III. Aeterna Fac
4. Te Deum, Op.181: IV. Salvum Fac Populum
5. Te Deum, Op.181: V. In Te Domine Speravi
6. Requiem in Memoriam, Op.203: I. Introitus
7. Requiem in Memoriam, Op.203: Kyrie
8. Requiem in Memoriam, Op.203: II. Offertorium
9. Requiem in Memoriam, Op.203: III. Sanctus
10. Requiem in Memoriam, Op.203: Benedictus
11. Requiem in Memoriam, Op.203: IV. Agnus Dei

Solistas: Vladimir Kubovcik, Denisa Slepkovska, Adriana Kohutkova, Simon Somorjai
Orquestra Sinfônica Eslovaca, regida por Marian Vach

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CVL

Anacleto de Medeiros (1866-1907): Por Rogério Duprat

Um belíssimo e raro registro com algumas das mais importantes peças de Anacleto de Medeiros, com arranjos e regências de Rogério Duprat. Infelizmente o encarte do cd não informa a banda ou conjunto instrumental regido por Duprat.

Muitas páginas de Anacleto ficaram mais conhecidas pelas adaptações com letras de Catulo da Paixão Cearense, tendo os seus títulos modificados, como é o caso do famoso schotisch (xote) Yara, que passou a se chamar “Rasga o Coração”, sendo, ainda, usado por Villa-Lobos no seu Choros Nº 10.

Sobre o compositor

Anacleto de Medeiros foi um compositor carioca, filho de uma escrava liberta, que viveu, no Rio de Janeiro, na Ilha de Paquetá, na segunda metade do século XIX. Faleceu muito cedo, no início do século XX, vítima de colapso cardíado, com apenas 41 anos.

Anacleto foi aprendiz no Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, ali estudando música com o mestre Antônio dos Santos Bocot. Aprendeu a tocar flautim e saxofone em uma banda de Paquetá. Aos 18 anos, matriculou-se no Conservatório de Música (depois Escola Nacional de Música), tornando-se aluno de clarineta de Antônio Luís de Moura, tendo Francisco Braga como colega. Aos 20 anos recebia seu diploma de “professor de clarineta”.

Fundou, com músicos da extinta Banda de Paquetá, o Recreio Musical Paquetaense, para o qual compôs cantos sacros, missas e um Te Deum, que foram cantados em diversas igrejas do Rio de Janeiro, principalmente Paquetá.

Em 1896, foi convidado pelo comandante interino do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, tenente-coronel Eugênio Jardim, para dirigir a banda da corporação, a ser formada. Nessa época, Anacleto, que contava 30 anos de idade, já tocava todos os instrumentos de sopro, desde a flauta, seu primeiro instrumento, ao sax-soprano, o predileto, e a tuba, que executava com perfeição.
A frente da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, Anacleto de Medeiros tornou-se um dos pioneiros da gravação em nosso país, realizando cilindros e discos de cêra para a Casa Edison do Rio de janeiro.

Solteiro, muito moço ainda, faleceu na rua Paquetá, a 14 de agosto de 1907. Seu túmulo, no cemitério de Paquetá, está abandonado e sua obra (cerca de cem páginas, entre elas obras-primas como Yara, Terna Saudade, Farrula, Implorando e Jubileu) é pouco frequentada.

Fonte: Encarte do CD

Mais informações sobre Anacleto de Medeiros e sua obra

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Anacleto de Medeiros: Por Rogério Duprat

Obs.: Entre aspas, títulos das peças que tiveram adaptação de Catulo da Paixão Cearense

01 Os Bohêmios “O boêmio” (tango) 3:11
02 Três Estrelinhas “O que tu és” (polca) 4:13
03 Implorando “Palma de martírio” (xote) 1:41
04 Em Ti Pensando (polca) 2:43
05 Não Me Olhes Assim (xote) 2:07
06 No Baile (quadrilha) 3:25
07 Terna Saudade “Por um beijo” (valsa) 2:25
08 Yara “Raga o coração” (xote) 2:23
09 Carolina (polca) 2:25
10 Benzinho “Sentimento Oculto” (xote) 3:25
11 Nenezinha e Catitinha (polca) 3:09
12 Cabeça de Porco (xote) 2:07

Arranjos e regências de Rogério Duprat

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Marcelo Stravinsky

Baroque Duet: Battle & Marsalis

Para ratificar a minha característica de imprevisibilidade, depois de postar Piazzolla, ataco agora com algo totalmente diferente. Quero apresentar um singelo álbum com peças em estilo barroco de renomados compositores alemães e italianos, Baroque Duet.

Acho que já é notória a pouca apreciação que tenho pela música vocal, porém “dou meu braço a torcer” em relação a esta gravação. Gosto do álbum por inteiro, mas confesso que tenho uma quedinha especial pelas 4 faixas retiradas das 7 Arie con Tromba Sola de A. Scarlatti, realmente algo de beleza transcendental.

Ao contrário do álbum Bach: Árias para Soprano e Violino, com Battle e Perlman (já postado aqui no blog), em que o violino tenta rivalizar com a voz em peças essencialmente vocais, o mesmo não ocorre neste cd, em que o dueto se dá entre Battle e Marsalis, vocal e trumpete. Kathleen demonstra todo o seu virtuosísmo lírico em contraponto a espantosa técnica do não menos espetacular Wynton, sem digladiações de ego. As duas estrelas se fundem e se completam em uma perfeita harmonia. Um belíssimo casamento.

Simplesinho, mas bonitinho! Vale a pena conferir!

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Baroque Duet: Battle & Marsalis

Handel
01 Let The Bright Seraphim

A. Scarlatti (from 7 Arie con Tromba Sola)
02 Nº 1 – Si suoni la tromba
03 Nº 3 – Con voce festiva
04 Nº 4 – Rompe sprezza
05 Nº 6 – Mio tesoro per te moro

A. Scarlatti
06-13 Su le sponde del Tebro (Cantata)

Handel
14 Eternal Source

Predieri
15 Pace una volta (from Zenobia)

Stradella
16-19 Sinfonia before Il baecheggio (Part 1)

Bach
20 Seufzer, Tranen, Kummer, Not

Handel
21 Alle voci del bronzu guerriero

Bach (from Jauchzet Gott in allen Landen, Cantata Nº 51)
22 I – Aria
23 IV – Chorale; Alleluja

Kathleen Battle, soprano
Wynton Marsalis, trumpet
Orchestra Of St. Luke´s
John Nelson, conductor
Anthony Newman, harpsichord continuo

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Marcelo Stravinsky

Astor Piazzolla (1921-1992): Piazzollando (Ao Vivo) Com Daniel Binelli

Gosto muito da obra de Astor Piazzolla (simplesmente adoro a pequena fuga intitulada Fuga 9), especialmente desta gravação, principalmente pelo toque tupiniquim dado as peças do mestre argentino. Uma das melhores gravações de Piazzolla que já tive a oportunidade de ouvir. Excelente disco!

A seguir, texto retirado do encarte do CD.

Se o sinfônico Bernstein compôs West Side Story e o songwriter Gershwin nos deu Porgy And Bess, este revezar de estéticas no século XX já tentou Ravel e Stravinsky com o jazz, e povoou as polirritmias de Villa-Lobos com cantos ameríndios, batuques africanos e com a ginga do choro.

Muito desta música que torce o nariz dos eruditos “xiitas”, que os indecisos mal rotulam de “crossover”, e que as redações não sabem qual crítico mandar cobrir… É um fenômeno musical atual que mal ou bem começa a preencher o vácuo deixado pelo impasse da chamada música contemporânea (de herança clássica).

Astor Piazzolla é um exemplo desta renovação, e do interesse que certos compositores passam a despertar em intérpretes de formação tanto popular quanto clássica. Este disco reúne “eruditos” como Lilian Barreto e Paulo Bosísio a “populares” como os irmãos Cazes e Omar Cavalheiro, mediados pelo “poliglota” Paulo Sérgio Santos. Como convidado especial, Daniel Binelli, companheiro de palco do Piazzolla dos últimos anos, e que galgou à posição de solista sinfônico como intérprete natural da obra concertante do revolucionário argentino.

Piazzolla sempre foi um músico de tango (apesar de ter inaugurado seu primeiro bandoneón tocando uma peça de Bach). Primeiro com Gardel, depois com Troilo, e muito rápido por conta própria, sempre tocou o que chamava de “música contemporânea da cidade de Buenos Aires”. Combatido pelos tradicionalistas, mas gênio desde sempre, a melhor lição que lhe deu Nadia Boulanger foi a de “nunca deixar de ser Piazzolla”.

E ele próprio, na descrição dos movimentos da História do Tango, nos mostra também a trajetória de sua música:
“Bordel 1900: O tango nasce em Buenos Aires em 1882… É uma música cheia de graça e vivacidade. (…) O tango é alegre.
Café 1930: (…) Agora se escuta e não se dança como antes. É mais musical e romântico. A transformação é total. Mais lento, novas harmonias e eu diria muito melancólico.
Night Club 1960: A época internacional. (…) Bossa-nova e novo-tango em luta conjunta. Música para os músicos.
Concerto de hoje: Esta é a música de tango com conceitos da nova música. (…) Este é o tango de hoje e do futuro. Embaixo está o tango, acima está a música…”

Sua obra é este “concerto de hoje”. Com os melhores elementos da Escola Moderna, sobretudo Bartok e Stravinsky, e não esquecendo sua base bachiana, Piazzolla construiu uma linguagem revolucionária que jamais traiu a essência estética do tango. Neste ponto assemelha-se a Duke Ellington, que levou sua música às salas de concerto sem nunca deixar de fazer jazz.

Se nossa irreverência nos permite meter o sotaque brasileiro neste assunto, é por duas razões: uma porque nossa musicalidade nos garante,  e outra porque o gênio de Piazzolla já o tornou universal.

Mario de Aratanha

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Astor Piazzolla: Piazzollando (Ao Vivo) Com Daniel Binelli

01 Fuga 9 (2:55)
Arranjo: Henrique Cazes

História Del Tango
02 Bordel 1900 (4:01)
03 Café 1930 (5:47)
04 Night Club 1960 (5:28)
Arranjo: Henrique Cazes

05 Años de Soledad (4:49)
Arranjo: Leandro Braga

Suite Del Angel
06 Milonga Del Angel (5:29)
07 Muerte Del Angel (2:52)
08 Ressurección Del Angel (6:49)
Arranjo: José Bragato

09 La Casita De Mis Viejos (J. C. Cobián) (3:35)
Arranjo: Astor Piazzolla

10 Retrato de Milton (1ª gravação) (5:35)
Arranjo: José Bragato adaptado por Henrique Cazes

11. Adiós Nonino (10:06)
Arranjo: Daniel Binelli com cadência de piano de Lilian Barreto

Daniel Binelli: bandoneon
Lilian Barreto: piano
Paulo Bosísio: violino
Henrique Cazes: guitarra, cavaquinho, violão
Paulo Sérgio Santos: sax soprano, alto, clarineta, clarone
Omar Cavalheiro: contrabaixo
Beto Cazes: percussão
Produzido por Mario de Aratanha e Henrique Cazes

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Marcelo Stravinsky

Modest Mussórgski (1839-1881) – Quadros de uma exposição, transcrito por Jaime Zenamon

Apesar de eu aderir no título do post à nova convenção da transliteração do russo para o português (Mussórgski, Stravínski, Tchaikóvski), não é preciso modificar as categorias, até porque seria um tanto trabalhoso, por isso fica Mussorgsky, Stravinsky, Tchaikovsky e assim vai.

Esta pitoresca transcrição para violino e violão, feita pelo violonista e compositor boliviano naturalizado brasileiro Jaime Zenamon, pode não ter o poder da obra original para piano, o colorido da orquestração de Ravel ou a subversão da versão de Emerson, Lake and Palmer, mas é digna de nota. O límpido som do violino de Alessandro Borgomanero, italiano radicado no Brasil, colabora para simpatizarmos com a reinstrumentação.

No final do CD há duas peças curtas de Zenamon: a Suíte caricaturas e 3 retratos.

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1-15. Quadros de uma exposição
Promenade
Gnomus
Promenade
The old castle
Promenade
Tuileries
Bydlo
Promenade
Ballet of the unhatched chicks
Samuel Goldberg and Schmuyle
Limoges
Catacombae
Con mortuis in lingua morta
Baba Yaga
The Bogatyr Gate

16-20. Suíte caricaturas n° 2, op. 8 – Jaime Zenamon
Prelúdio
Calmíssimo
Andante
Dansa – Saltando
Fugadito

21-23. 3 retratos – Jaime Zenamon
Encuentro
Dialogo
Despedida

Jaime Zenamon: violão
Alessandro Borgomanero: violino

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CVL

Edino Krieger (1928) – Obras para cordas

Este CD é um registro feito em março de 2006 com as principais obras para cordas de Edino Krieger. As quatro primeiras são da década de 50 e ora revelam uma influência nacionalista moderada, ora noeclássica e didática. Já as Quatro imagens de Santa Catarina foram compostas em 2005, especialmente pra Camerata Florianópolis. O primeiro movimento, Brusque – O canto dos teares, o que tem de curto, tem de engenhoso: o compasso quebrado (cinco por oito) mas constante e acentuado pela percussão dá nitidamente a sensação das engenhocas funcionando num tear, com o canto dos trabalhadores e o entrelaçar de fios alternadamente sugerido pelos violinos.

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Camerata Florianópolis – Edino Krieger

1. Andante para cordas
2. Brasiliana, para viola e cordas – Solo: Emerson de Biaggi
3-6. Suíte para cordas
Abertura
Ronda breve
Homenagem a Bartók
Marcha Rancho
7-9. Divertimento para cordas
Allegretto
Seresta
Variações e Presto
10-13. Quatro imagens de Santa Catarina
Brusque – O canto dos teares
Blumenau – Oktoberfest
São Joaquim – Paisagem branca
Florianópolis – Sol e mar

Camerata Florianópolis, regida por Jeferson Della Rocca

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CVL