Este é um daqueles CDs que você é obrigado a ouvir mais de uma vez. Poucos grupos têm tanto sucesso, fazendo a ponte entre popular e erudito, quanto o Kronos Quartet. Quem quiser se aprofundar, vai verificar que o Kronos possui em seu repertório rock, jazz, world music e etc. Originalmente formado por David Harrington no primeiro violino, John Sherba no segundo violino, Hank Dutt na viola, e Joan Jeanrenaud no violoncelo, o Kronos Quartet foi formado em San Francisco em 1973. Embora todos os quatro membros sejam profundos conhecedores da música dita erudita, eles rapidamente dispensaram as formalidades rígidas de seu ofício, fazendo uma música de câmara com toda a energia apaixonada comumente associado com o rock. É que pode se verificar nesse lacônico registro. A primeira faixa é de uma beleza comovente que faz bem aos sentidos. A segunda faixa presentifica o Woodstock. Jimmy Hendrix, o anjo negro da guitarra, ganha vida. As distorções são como gritos, pedidos de liberdade, orgia dionísiaca ao meio dia. Boa apreciação!
Eis a segunda parte da postagem iniciada uma semana atrás, com 4 CDs de Debussy por Jean Martinon: agora são quatro de Ravel, e desta vez Martinon rege não a Orchestre de l’ORTF, mas a Orchestre de Paris.
Não quero falar muito, mas também não quero perder a oportunidade de dizer que não acredito na lenda de que Ravel era altamente criativo no início da carreira e teria decaído gradualmente, possivelmente devido aos graves problemas de saúde que o acompanharam em boa parte da vida, terminando por afetar seriamente o sistema nervoso central.
Acredito que Ravel seja, sim, um compositor desigual – mas qual não é, alguns em maior medida (como, entre nós, Caetano Veloso e Milton Nascimento), alguns em medida menor (como Chico Buarque)? Pois minha impressão é que Ravel é igualmente desigual em todas as épocas de sua vida.
Vejamos: aos 33 anos Ravel compôs algumas de suas peças que considero mais inspiradas – talvez até mesmo sua obra prima: os cinco movimentos originais de Ma Mère l’Oye (faixas destacadas em negrito no CD 5), baseados em contos de fadas e escritos inicialmente para piano a quatro mãos, como presente para duas não pouco privilegiadas garotinhas. Mais tarde o compositor os orquestrou, atingindo neles alguns de seus mais belos efeitos de instrumentação – mas ao mesmo tempo, tendo em vista um ballet, escreveu e enxertou mais seis movimentos que me parecem incomparavelmente inferiores – puro enchimento, ainda que cintilante. Exemplo da perda de inspiração que teria vindo com os anos? Ora, os seis movimentos complementares foram compostos meros três anos depois dos cinco originais – e vinte anos mais adiante encontramos Ravel produzindo os dois concertos para piano, que é preciso ser muito metido a besta para avaliar como obras de um compositor que perdeu sua inspiração e habilidades… (Ainda a propósito de Ma Mère l’Oye: muitos regentes optam por apresentar e gravar apenas os cinco movimentos originais. Assim, confesso que para meu uso pedi licença à sombra de Martinon e criei uma pasta separada só com eles).
Pra terminar o papo, duas curiosidades sobre solistas desta gravação: o solista de violino em Tzigane (última faixa da coletânea) é ninguém menos que Itzhak Perlman, então com 28-29 anos – e, mais surpreendente, quem faz o solo de corne inglês no segundo movimento do Concerto em Sol é Jean-Claude Malgoire – que a essa altura já dirigia o extraordinário conjunto renascentista e barroco que é La Grande Écurie et la Chambre du Roy.
CD 5
01. Bolero (ballet) (Marcel Galiègue, trombone)
02. Une Barque Sur L’Ocean (Miroirs: No.3) MA MERE L’OYE (ballet)
03. Prelude
04. Premier Tableau: Danse Du Rouet et Scene
05. Deuxieme Tableau: Pavane De La Belle Au Bois Dormant
06. Interlude
07. Troisieme Tableau: Les Entretiens De La Belle Et De La Bete
08. Interlude
09. Quatrieme Tableau: Petit Poucet
10. Interlude
11. Cinquieme Tableau: Laideronnette, Imperatrice Des Pagodes
12. Interlude
13. Sixieme Tableau: Le Jardin Feerique . . .
14. Alborada Del Gracioso (Miroirs: No.4) (Andre Sennedat, fagote) RAPSODIE ESPAGNOLE
15. I: Prelude A La Nuit
16. II: Malaguena
17. III: Habanera
18. IV: Feria
CD 6
01. Sheherazade: ouverture de féerie
02. La Valse (poème choregraphique) LE TOMBEAU DE COUPERIN
03. I: Prelude
04. II: Forlane
05. III: Menuet
06. IV: Rigaudon
07. Menuet Antique
08. Pavane Pour Une Infante Defunte – Michel Garcin-Marrou, trompa VALSES NOBLES ET SENTIMENTALES
09. 1. Moderé
10. 2. Assez Lent
11. 3. Moderé
12. 4. Assez Animé
13. 5. Presque Lent
14. 6. Assez Vif
15. 7. Moins Vif
16. 8. Epilogue: Lent
CD 7
DAPHNIS ET CHLOE (symphonie choréorgraphique)
Avec les Choeurs du Theatre National de L’Opera
01. Première partie: Introduction
02. Danse Religieuse
03. Scene
04. Danse Generale
05. Scene
06. Danse Grotesque de Dorcon
07. Danse Legere et Gracieuse de Daphnis
08. Scene
09. Nocturne
10. Danse Lente et Mysterieuse des Nymphes
11. Interlude
12. Deuxième partie: Introduction
13. Danses Guerrieres et Diverses
14. Danse Suppliante de Chloe
15. Troisième partie: Introduction
16. Lever du Jour
17. Pantomime
18. Danse Generale – Bacchanale
CD 8 CONCERTO POUR LA MAIN GAUCHE (Aldo Ciccolini, piano)
01. Lento
02. Piu Lento
03. Allegro CONCERTO EN SOL MAJEUR
(Aldo Ciccolini, piano; Jean-Claude Malgoire, solo cor anglais)
04. I: Allegramente
05. II: Adagio Assai
06. III: Presto TZIGANE – rapsodie de concert pour violon et orchestre
(Itzhak Perlman, violon)
07. Lento, Quasi Cadenza – Moderato
Jean Martinon regendo a Orchestre de Paris (1973-74)
Nos últimos dias, além de estar tentando recuperar os atrasos na academia estive aproveitando a 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que estava saturada de coisas boas. E é justamente sobre o cinema que é feita a postagem de hoje.
Não sei quanto a vocês, mas pra mim uma boa trilha sonora pode fazer que o filme valha muito mais a pena do que se fosse uma mera história contada sem nenhuma música. Quando eu estava nos meus 15 anos, pra mim a principal função da música era servir de trilha sonora para minha vida. Hoje eu já não penso assim, mas penso que no mundo do cinema a música deve exercer uma função semelhante, mas não tão subalterna, a música deve de preferência fazer o espectador sentir o mundo que ele observa no filme, e nos fazer sentir a alegria, a tristeza ou a saudade daquilo que vemos na tela.
Apesar de haver tido uma diminuição do interesse público pelas salas de ópera e de concerto no último século, existe um grande interesse público pelo cinema, e é ai que muitos compositores conseguem ganhar a vida, substituindo assim a antiga função que tinham nos séculos passados de musicar as histórias contadas nos teatros. Ou melhor, transformando, já que a função é análoga. E mais ou menos o contrário também acontece. Muitas orquestras profissionais das últimas décadas se estagnaram em um repertório dos períodos barroco, clássico e romântico e mal absorveram as transformações da música no século XX, que não só eram esteticamente menos populares como também possuíam arranjos para sua execução muitas vezes pouco convencionais. Agora no século XXI esse conservadorismo continua, embora com menos força, tanto é que não só os compositores de música erudita estão trabalhando muito com trilhas sonoras, como também algumas orquestras profissionais renomadas estão começando a abrir mais espaço para a apresentação em suas salas de concerto para obras que originalmente foram compostas para o cinema.
Esse álbum que posto aqui foi composto por Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo, os caras por trás dos capacetes da dupla Daft Punk, para o filme Tron: O Legado, na sua tradução no Brasil. Este filme é uma sequência para o filme de 1982 com o mesmo título. Thomas Bangalter já havia composto para um filme, Guy-Manuel não, mas essa é a primeira vez que a dupla compõe como Daft Punk para um filme. O filme por si só acredito não ser o tipo de filme que os leitores deste blog mais apreciem, mas a trilha sonora consegue criar um ambiente para o filme que, a meu ver, o torna espetacular. E independentemente de ver o filme, ou não, acredito que para aqueles que curtem o mínimo de música eletroacústica (ou não têm medo de experimentá-la), vale a pena ouvir um pouco dessa “mescla de temas de música orquestral clássica com eletrônica minimalista”, como diz Joseph Kosinski sobre a ideia por trás da produção dessa trilha sonora.
O interessante é que eles não compuseram a música como estamos acostumados de nossos compositores favoritos da música erudita, ou seja, com um piano e um score, mas com um sintetizador e um PC. Eu conheço só mais um compositor que faz isso e obtém um resultado tão bom (ou até melhor) quanto o dessa dupla, mas essa história meus caros, é uma outra história e deve ser contada em um outro momento.
Daft Punk: Tron Legacy Soundtrack
1. Overture
2. The Grid
3. The Son of Flynn
4. Recognizer
5. Armory
6. Arena
7. Rinzler
8. The Game Has Changed
9. Outlands
10. Adagio for TRON
11. Nocturne
12. End of Line
13. Derezzed
14. Fall
15. Solar Sailer
16. Rectifier
17. Disc Wars
18. C.L.U.
19. Arrival
20. Flynn Lives
21. TRON Legacy (End Titles)
22. Finale
Bônus:
Encom Part I
Encom Part II
Round One
Castor
Reflections
Father and Son
Outlands Part II
Sea of Simulation
Sunrise Prelude
Joseph Trapanese, arranjos e orquestração
London Orchestra
Gavin Greenaway, regente
Uma das minhas recentes descobertas foi o compositor americano Michael Daugherty. Há três anos tive o primeiro contato com sua música, num concerto na Holanda, onde tocaram sua obra mais popular Metropolis Symphony , que foi escrita em homenagem ao superman. A obra é despretensiosa e engraçada, mas extremamente bem escrita. O passado desse compositor é estranho e eclético, já foi músico de Jazz, Rock, Funk, …mas percebeu que pra escrever música sinfônica ou “clássica” tinha que suar a camisa. Foi pra Europa estudar com Boulez e Ligeti (boas referências, não?).
Vamos ao disco que foi gravado ao vivo. Fire and Blood é um concerto para violino inspirado nos murais de Detroit, concebidos pelo pintor mexicano Diego Rivera. A música é muito empolgante. O violino virtuoso e sempre presente. O segundo movimento é lindíssimo, forte presença da música mexicana (ex: ouçam o que acontece em 02:40). O terceiro movimento é arrebatador, o público no fim vai ao delírio. MotorCity Triptych é outra obra que também merece nossa atenção.
Espero que vocês apreciem esse joker que, de certa forma, indica um novo rumo da música clássica.
CDF
Michael Daugherty (1954-): Fire & Blood, Motorcity Triptych and Raise the Roof
1. Fire and Blood: I. Volcano
2. Fire and Blood: II. River Rouge
3. Fire and Blood: III. Assembly Line
4. MotorCity Triptych: I. Motown Mondays
5. MotorCity Triptych: II. Pedal-to-the-Metal
6. MotorCity Triptych: III. Rosa Parks Boulevard
7. Raise the Roof
Detroit Symphony Orchestra
Ida Kavafian (violin) and Brian Jones
Neeme Jarvi
Este álbum foi um marco para mim. Já andava um pouco cansado do tom escuro, áspero, da música contemporânea, o que me levava a colocar todo tipo de compositor de vanguarda no mesmo balaio, e igualmente decepcionado com a sensação de que compositores que buscavam abandonar ou suavizar o experimentalismo com uma linguagem mais comunicativa acabavam fazendo concessões desnecessárias e diluindo a força da música, como se comunicabilidade só fosse possível com um passo para trás. Neste momento me deparei com este álbum de música romena, da qual já havia ouvido falar algo bem por cima, mas que conhecia mal (basicamente Enescu e Doina Rotaru, uma compositora que, aliás, pretendo postar aqui mais tarde). De repente me deparo com o apaixonante lirismo da Sinfonia nº3 de Ştefan Niculescu, um lirismo extremo — não aquele lirismo extremamente contido num Mi-Parti do Lutoslawski, por exemplo, mas um lirismo escancarado e desavergonhado — e nada convencional, que parecia reposicionar várias técnicas contemporâneas que associava a escuridão numa expressão totalmente outra. Era, como no caso Matisse, como se o preto deixasse de significar coisas sombrias para ser só mais uma cor. Buscando mais informações sobre Niculescu, descobri a variedade expressiva de suas obras e mesmo comentários como o de Ligeti, que dizia ser Niculescu um dos grandes mestres de nosso tempo. Pena que comentários assim não possam garantir divulgação!
Embora um pouco menos (dada a epifania causada pela sinfonia de Niculescu), os outros dois compositores presentes neste álbum, Myriam Marbé e Anatol Vieru, também me chamaram a atenção e me instigaram a correr atrás de mais música romena, pesquisa que acabou sendo de mais e mais descobertas.
Finalmente, note-se que as três obras foram dedicadas ao grande saxofonista romeno Daniel Kientzy, raro nome a tocar (bem) a família toda de saxofones e que aqui sola em todas as peças. Além dessas três, muitos outros compositores (sobretudo romenos) a ele dedicaram obras, com um resultado empolgante para o repertório de sax (que aos poucos espero postar aqui).
****
Daniel Kientzy – The Romanian Saxophone: Obras de Niculescu, Marbé e Vieru
Ştefan Niculescu (1927-2008)
01 Concertante Symphony nº3 “Cantos”, para saxofone e orquestra
Daniel Kientzy, saxofone
Romanian Radio Symphony Orchestra
Iosif Conta, regente
Myriam Marbé (1931-1997)
02 Concerto for Daniel Kientzy and Saxophones
Daniel Kientzy, saxofone
Ploiesti Philharmonic Orchestra
Horia Andreescu, regente
Anatol Vieru (1926-1998)
03 Narration II, para saxofone e orquestra
Daniel Kientzy, saxofone
Timisoara Philharmonic Orchestra
Remus Georgescu
Estou trabalhando muito para disponibilizar uma série dedicada à música dos nossos dias. Compositores relativamente jovens (50 anos, o limite) serão trazidos aqui para que possamos ter um panorama bem geral da música contemporânea. Mas não se enganem, não são compositores de beira de esquina tentando um lugar ao sol. Falo daqueles que já são relativamente reverenciados pela imprensa especializada, mas que são completamente desconhecidos nesse nosso país de bananas. Enfim, em breve veremos eles por aqui…
Hoje trago um disco que é muito importante para mim, e motivado também pelo desafio de um dos nossos ouvintes. Um disco com canções de Brahms, Sibelius e Stenhammar. Não vou escrever uma linha, pois é completamente desnecessário.
Gravação em 320 Kbps.
Faixas:
Brahms
1. Funf Lieder, Op.105: Like Melodies it Moves
2. Funf Lieder, Op.105: Ever Lighter Grows my Slumber
3. Funf Lieder, Op.105: Lament
4. Funf Lieder, Op.105: In The Churchyard
5. Funf Lieder, Op.105: Betrayal
Sibelius
6. The Dream, Op.13 No.5
7. Until the Evening, Op.17 No.6
8. Splinters on the Water, Op.17 No.7
9. Black Roses, Op.36 No.1
10. Rushes, Whisper! Op.36 No.4
11. Diamond on the March Snow, Op.36 No.6
12. The First Kiss, Op.37 No.1
13. Was it a Dream? Op.37 No.4
Stenhammar
14. Prince Aladdin of the Lamp, Op.26 No.10
15. Adagio, Op.20 No.5
16. Starry Eye, Op.20 No.1
17. Florez och Blanzeflor, Op.3
Brahms
18. Four Serious Songs, Op.121: Prediger Salomo, Cap.3; For it Goes with Men as with Beasts
19. Four Serious Songs, Op.121: Prediger Salomo, Cap.3; So I Returned, & Considered All
20. Four Serious Songs, Op.121: Jesus Sirach, Cap.41; O Death, How Bitter Thou art
21. Four Serious Songs, Op.121: S. Pauli and die Corinther I, Cap.13; Though I Speak with the Tongues…
Estava caminhando num sábado pela manhã em Edimburgo quando vi um bazar de livros e discos usados. Escavuquei um bocado atrás de algum CD que me atraísse, mas trouxe somente este de Malcolm Arnold (cuja etiqueta indicando as três libras que paguei está lá até hoje) porque não tinha nada dele ainda. Acabei descobrindo o Ferde Grofé da Grã-Bretanha. Um bom Grofé que escreveu muitas músicas para filmes.
Sir Malcolm Arnold (1921-2006) – Dances
1. English Dances, Set 1, Op. 27: No. 1. Andantino
2. English Dances, Set 1, Op. 27: No. 2. Vivace
3. English Dances, Set 1, Op. 27: No. 3. Mesto
4. English Dances, Set 1, Op. 27: No. 4. Allegro risoluto
5. English Dances, Set 2, Op. 33: No. 1. Allegro non troppo
6. English Dances, Set 2, Op. 33: No. 2. Con brio
7. English Dances, Set 2, Op. 33: No. 3. Grazioso
8. English Dances, Set 2, Op. 33: No. 4. Giubiloso
9. 4 Scottish Dances, Op. 59: No. 1. Pesante
10. 4 Scottish Dances, Op. 59: No. 2. Vivace
11. 4 Scottish Dances, Op. 59: No. 3. Allegretto
12. 4 Scottish Dances, Op. 59: No. 4. Con brio
13. 4 Cornish Dances, Op. 91: No. 1. Vivace
14. 4 Cornish Dances, Op. 91: No. 2. Andantino
15. 4 Cornish Dances, Op. 91: No. 3. Con moto e sempre senza parodia
16. 4 Cornish Dances, Op. 91: No. 4. Allegro ma non troppo
17. 4 Irish Dances, Op. 126: No. 1. Allegro con energico
18. 4 Irish Dances, Op. 126: No. 2. Commodo
19. 4 Irish Dances, Op. 126: No. 3. Piacevole
20. 4 Irish Dances, Op. 126: No. 4. Vivace
21. 4 Welsh Dances, Op. 138: No. 1. Allegro
22. 4 Welsh Dances, Op. 138: No. 2. Poco lento
23. 4 Welsh Dances, Op. 138: No. 3. Vivace
24. 4 Welsh Dances, Op. 138: No. 4. Andante con moto
Sinfônica de Queensland (Austrália), regida por Andrew Penny
Sigamos com o nosso empreendimento chopiniano. Há pessoas esperando por postagens com a música do franco-polaco e como prometir que retomaria a homenagem iniciada pelo FDP e pelo Strava, avante! O próprio Strava já informou que continuará a postar. Hoje, eu apresento um outro pianista de relevância quando o que está em jogo é a interpretação de peças de Chopin – Mikhaylovna Bella Davidovich. A pianista nasceu em Baku, Azerbaijão, quando o seu país era ainda uma República Satélite da União Soviética. Começou a estudar piano aos seis anos de idade. É descendente de uma família de músicos. Mudou-se para Moscou quando possuía apenas 11 anos para estudar música. Aos dezoito, ingressou no Conservatório de Moscou. Durante 28 temporadas seguidas foi a solista da Orquestra Filarmônica de Leningrado. Em 1978, mudou-se para os Estados Unidos e se naturalizou neste país. Era o período da fuga dos artistas e intelectuais soviéticos. Com a Glasnost e Perestroika, Davidovich se tornou a primeira dos músicos emigrados e naturalizados em outros países a ser convidada a tocar em solo soviético. Os dois CDs aqui postados traz gravações de um nível de beleza incomum. A gravação é muito boa e vale ser conferida. A beleza vaga, saliente, recatada, com necessidade de ser desvelada em seus segredos silenciosos, deseja ser abraçada. Isso se dá a cada dedilhar de Bella Davidovich quando toca ao piano. Uma boa apreciação!
01. Ballade No.1 in G minor Op. 23
02. Ballade No.2 in F major Op. 38
03. Ballade No.3 in A flat minor Op.47
04. Ballade No.3 in F minor Op.52
05. Impromptu in A flat major Op. 29
06. Impromptu in F sharp major Op. 36
07. Impromptu in G flat major Op. 51
08. Fantasie-Impromptu in C sharp minor Op. 66
Disco 2
01. Prelude Op. 28 No.1 in C major, agitato
02. Prelude Op. 28 No.2 in A minor, lento
03. Prelude Op. 28 No.3 in G major, vivace
04. Prelude Op. 28 No.4 in E minor, largo
05. Prelude Op. 28 No.5 in D major, allegro molto
06. Prelude Op. 28 No.6 in B minor, lento assai
07. Prelude Op. 28 No.7 in A major, andantino
08. Prelude Op. 28 No.8 in F sharp minor, molto agitato
09. Prelude Op. 28 No.9 in E major, largo
10. Prelude Op. 28 No.10 in C sharp minor, allegro molto
11. Prelude Op. 28 No.11 in B major, vivace
12. Prelude Op. 28 No.12 in G shapr minor, presto
13. Prelude Op. 28 No.13 in F sharp major, lento
14. Prelude Op. 28 No.14 in E flat minor, allegro
15. Prelude Op. 28 No.15 in D flat major, sostenuto
16. Prelude Op. 28 No.16 in B flat mminor, presto con fuoco
17. Prelude Op. 28 No.17 in A flat major, allegretto
18. Prelude Op. 28 No.18 in F minor, allegro molto
19. Prelude Op. 28 No.19 in E flat major, vivace
20. Prelude Op. 28 No.20 in C minor, largo
21. Prelude Op. 28 No.21 in B flat major, cantabile
22. Prelude Op. 28 No.22 in G minor, molto agitato
23. Prelude Op. 28 No.23 in F major, moderato
24. Prelude Op. 28 No.24 in D minor, allegro appassionato
25. Krakowiak in F major Op. 14*
*London Symphony Orchestra
Sir Neville Marriner, regente
Vamos a mais uma postagem com conteúdo chopiniano. Selecionei alguns CDs para postar. Entre eles destaco uma box com treze CDs com a música de Chopin, sendo interpretada por Vladimir Ashkenazy. Fiquei a pensar se deveria postar Arrau (box com 7 CDs) ou Biret (box com 17 CDs). Optei por Ashkenazy, que é um bom pianista. Por isso, esperem uma bombardeio com material do músico polaco. Há ainda um material com compositores avulsos. Vamos a um deles: ficamos agora com o pianista russo Alexei Borisovich Lubimov, que tem uma forte ligação com a música ocidental. Nos tempos da União Soviética chegou até a ser repreendido por causa desse fato. É um extraordinário CD. Não deixe de ouvir o trabalho de Lubimov. Boa degustação!
Não há nada de muito especial nestas sinfonias. O poliestilismo de Schnittke começa a morrer. Sim, isso mesmo.
Não lembro se foi Tom Service ou Alex Ross quem disse que o estilo de Schnittke, preso num beco sem saída, acaba por se perder em algo opaco e sem vida nos seus últimos suspiros. O que encontra como última salvação é uma mistura de minimalismo com música sacra (seria um protótipo de “santo minimalismo” como ao que chega Arvo Pärt?).
A sexta sinfonia aqui parece bastante monótona. São usados recursos muito comuns da música de Schnittke e que já não impressionam. A oitava é semelhante; passa boa parte num marasmo que nos serve muito bem para a meditação, e vez ou outra parece beirar a tonalidade tipicamente romântica, mas nunca adentrando ela de fato. É bastante minimalista, mas sem o elemento sacro.
É bom ouvir esse disco com muita atenção, o grave é explorado bastante e muitos trechos são quase inaudíveis, o que numa audição distraída pode ficar despercebido.
Schnittke: The Ten Symphonies
CD 5
Alfred Schnittke (1934-1998):
Symphony No. 6
01 I. Allegro moderato
02 II. Presto
03 III. Adagio
04 IV. Allegro Vivace
BBC National Orchestra of Wales
Tadaaki Otaka, conductor
Symphony No. 8
05 I. Moderato
06 II. Allegro moderato
07 III. Lento
08 IV. Allegro moderato
09 V. Lento
Dentre músicas culturalmente divergentes da nossa eu gosto principalmente da música árabe. Mas neste caso Jordi Savall e o Hespèrion XXI não fazem uma reprodução daquilo que poderíamos chamar de música árabe de fato, mas sim de música influenciada e com características dessa, além de outras músicas de outros povos do mediterrâneo, oriente médio, Pérsia entre os séculos XIII e XVII.
É interessante notar que esse álbum tente reproduzir aquilo que devia ser algo como a música popular ou folclórica das localidades citadas, nem por isso deve ser pensada como uma música menos complexa. E sempre lembrando, a música reproduzida por especialistas em música antiga como é o Hespèrion XXI não deve ser pensada como exatamente aquela que era feita naquela época, mas sim uma aproximação do que se acredita que fosse a música da época.
Hespèrion XXI: Orient – Occident (1200-1700)
01 Makam Rast “Murass’a” Usul Düyek
02 Ductia (Cantigas 248-353)
03 A La Una Yo Naci
04 Alba (Castelló de la Plana)
05 Danse De L’âme, for oud & bendir
06 Istampitta: La Manfredina
07 Laïli Djân (Afghanistan Perse), for traditional ensemble
08 Istampitta: In Pro
09 Danza Del Viento
10 Istampitta: Saltarello I
11 Chahamezrab (Perse), for santur & tamburello
12 Danza De Las Espadas
13 Makam Nikriz Üsul Berevsân
14 Istampitta: Saltarello II
15 Ya Nabat Elrichan – Magam Lami
16 Rotundellus (Cantiga 105)
17 Makam Rast Semâ’i
18 Istampitta: Lamento Di Tristano
19 Molâ Mâmad Dján
20 Saltarello (Cantigas 77-119)
21 Makam ‘Uzäl Sakil “Turna”
Uma dica: Não levem as inserções de Schnittke no romantismo durante suas sinfonias de forma irônica, nem suas citações, explosões e aleatoriedades. Tudo é isso é feito de forma séria e convicta, e torna tudo mais gostoso.
Vocês ouvirão hoje o quarto álbum dessa série, que possui a quarta e a quinta sinfonias. A quinta sinfonia é ao mesmo tempo o Concerto Grosso de número 4.
“Concerto grosso (italiano para ‘concerto grande’; plural : “concerti grossi“) é uma forma musical em que um grupo de solistas (“concertino”) — geralmente dois violinos e um violoncelo — dialoga com o resto da orquestra (“ripieno”), por vezes fundindo-se com este resultando no “tutti”.“
Agora para entender o que Schnittke entende por um concerto grosso, imaginem que os solistas (que aqui são variados, não só violinos ou violoncelos) são na verdade “estilos solistas”. Vou tentar esclarecer: imagine que todo o concerto seja executado no poliestilismo caótico de Schnittke, e que na entrada dos solos, eles não continuam esse caos mas apresentam ou solam um único estilo, por exemplo, um solo romântico que faz citação. Um exemplo claro vocês ouvirão no final do segundo movimento da obra.
Se quiserem ouvir outro concerto grosso de Schnittke, recomendo também o terceiro.
Schnittke: The Ten Symphonies
CD 4
Alfred Schnittke (1934-1998):
Symphony No. 4
01 I. Andante Poco Pesante
02 II. Cadenza
03 III. Moderato
04 IV. Molto Pesante. Moderato.
05 V. Vivo
06 VI. Moderato. Andante Poco Pesante.
07 VII. Coro
Academy Chamber Choir Of Uppsala
Stefan Parkman, chorus master
Mikael Bellini, countertenor
Stefan Parkman, tenor
Stockholm Sinfonietta
Okko Kamu, conductor
Lucia Negro, piano
Symphony No. 5 / Concerto Grosso No. 4
08. I. Allegro
09. II. Allegretto
10. III. Lento. Allegro
11 IV. Lento
Gothenburg Symphony Orchestra
Neeme Järvi, conductor
Dia desses, garimpeiros que encontraram no blog uma postagem antiga do colega Bluedog reabriram a conversa sobre a extraordinária música instrumental que tomou forma no Brasil na década de 1960 – o que nos motivou a revalidar aqui aquela postagem, do Quarteto Novo.
E a audição do Quarteto Novo me remeteu inevitavelmente a este outro disco, que eu já vinha planejando digitalizar e postar: ele contém um terço do que foi apresentado no histórico show de 25 de maio de 1964 no antigo Teatro Paramount em São Paulo (hoje Teatro Renault), inaugurando o nome “O Fino da Bossa”, que de 1965 a 67 seria aplicado ao programa comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues, transmitido ao vivo desse mesmo teatro pela TV Record.
Como (quase) todo mundo sabe, a bossa nova emergiu entre 1957 e 59 (ao mesmo tempo que o rock’n’roll nos EUA, e este que vos escreve naquele faroeste que era então o Paraná) de todo o caldo de cultura dos anos 50, sobretudo por obra de um bruxo chamado João Gilberto, e foi imediatamente amplificada por uma juventude universitária antenada no que rolava “lá fora” mas suficientemente inteligente pra perceber a imensa riqueza e valor da herança cultural brasileira, e ater-se a ela como fundamento da sua criação, por multi-informada que fosse.
O famoso show no Carnegie Hall (NY, 21.11.1962) ficou como marco da explosão internacional da bossa, que se tornou um dos estilos mais ouvidos no mundo pelo resto da década. Complexados que somos, só depois disso a bossa ganhou um grande teatro no Brasil – ainda por meio de uma juventude universitária suficientemente abastada para abrir suas portas de cristal (Faculdade de Direito do Largo São Francisco – quem sabe um pouco sobre São Paulo entende).
O show aconteceu mês e meio depois do golpe de 64. O sucesso estrondoso fez a bossa ganhar espaço privilegiado na tevê pelos anos seguintes, virando trincheira de resistência nacionalista e de esquerda ao mesmo tempo em que tensionava sua base carioca-boa-vida com o influxo nordestino (vide faixa 8) – com surpreendente penetração e ressonância popular até nos interiores distantes (acreditem: eu vi), mesmo com a promoção paralela da Jovem Guarda como estratégia de despolitização da juventude – até que foi varrida da tevê por obra do golpe-dentro-do-golpe (1969), altura em que já tinha se transformado no campo multiforme e complexo que ganhou o rótulo MPB.
Foi no meio disso tudo que ainda floresceu uma espantosa safra de instrumentistas e arranjadores, como os que ouvimos no Quarteto Novo e ouviremos neste disco aqui, dominado por um sujeito chamado Oscar Castro Neves.
Pra mim essa riqueza é descoberta recente: em 1964 eu tinha só 7 anos; passei a adolescência pensando que bossa era música fútil de sala de espera – o que realmente chegou a ser na sua diluição internacional. Até hoje tendo a ver a bossa pura como uma espécie de piso Haydn-Mozart a partir dos qual se ergueria uma ousadia beethoveniana, no caso a da santíssima trindade Caetano-Chico-Mílton e outros deuses em torno… E talvez tenha sido justamente o encontro com os 10 minutos de timbres e texturas que este Oscar Castro Neves arranca com seu noneto de Berimbau, de Baden e Vinícius (faixa 9), o que me fez finalmente entender a declaração solene do próprio Caetano: “o Brasil ainda precisa merecer a Bossa Nova”.
Só que, estranhamente, pouco depois grande parte desses instrumentistas e arranjadores – como o Airto Moreira do Quarteto Novo, Eumir Deodato, Sérgio Mendes, o próprio Oscar Castro Neves – foram parar na Califórnia, onde vieram a fazer parte do clube dos arranjadores mais bem pagos dos EUA – mas aí sua produção musical logo deixou de ser convincente para ouvidos brasileiros. Suas tentativas de referência ao Brasil foram ficando constrangedoramente inautênticas.
O que no meu ver pode colocar em questão a tese do colega Bluedog naquela outra postagem: a de que o “jazz nordestino” poderia ter ganho o mundo: em certa medida ele até ganhou, mas… de repente pareço ouvir uma ressonância irônica e lúgubre da frase dos evangelhos: de que adianta ao homem ganhar o mundo e perder sua alma?
Enfim: o disco que vocês vão ouvir tem meninas que cantavam com charme mas com vozes pequenas e pouco seguras – como muitas que surgiram na última década, me fazendo pensar se isso pode ser característico de momentos de transição estilística… Tem Paulinho Nogueira mostrando impecavelmente que a geração bossa não necessariamente rejeitava a tradição… Tem Jorge Ben(jor) ainda lutando pra cantar com o R de língua, não carioca, que era exigido pelo rádio (!) até começo dos anos 60 (herança do estado Novo?). E tem Rosinha de Valença extraindo tamanha ginga e intensidade de seu violão, que eu tendo a considerar a faixa 5 o ponto alto do disco – mais ainda que os já mencionados dez minutos do Oscar.
E por falar no Oscar (Castro Neves), por mais que tenha procurado, não consegui encontrar os nomes dos integrantes do seu noneto. Será que algum dos leitores pode ajudar a matar a charada?
O FINO DA BOSSA
LP de 1964, contendo cerca de 1/3 da gravação ao vivo do show
“O Fino da Bossa”, promovido pelo Centro Acadêmico XI de Agosto (da faculdade de direito da USP) no Teatro Paramount de São Paulo, na noite de 25 de maio de 1964.
01 Onde Está Você? (Luvercy Fiorini / Oscar Castro Neves)
Alaíde Costa, voz; Oscar Castro Neves Noneto – 03’51
03 Pot-pourri: – Gosto Que Me Enrosco (Sinhô = José Barbosa da Silva) – Agora É Cinza (Bide = Alcebíades Maia Barcellos /
Marçal = Armando Vieira Marçal) – Duas Contas (Garoto = Aníbal Augusto Sardinha) – Bossa Na Praia (Geraldo Cunha / Pery Ribeiro)
Paulinho Nogueira, violão – 04’07
04 Tem Dó (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
Ana Lúcia, voz; Oscar Castro Neves Noneto – 02’57
05 Consolação (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
Rosinha de Valença, violão; Oscar Castro Neves Noneto? – 06’26
06 Chove Chuva (Jorge Ben / Benjor)
Jorge Ben (Benjor) – 03’39
07 Desafinado (Newton Mendonça / Tom Jobim)
Wanda Sá, voz; Oscar Castro Neves Noneto – 03’38
08 Maria Moita (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
Nara Leão – 01’59
09 Berimbau (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
Oscar Castro Neves Noneto – 10’18
Lançamento original em vinil: 1964.
Digitalizado em 2016 por Ranulfus & Daniel the Prophet
a partir do relançamento de 1989 em vinil,
comemorativo de 30 anos de Bossa Nova
O Syntagma surgiu em 1986 com a proposta de resgatar e recuperar as sonoridades da música antiga (medieval, renascentista e barroca), fazendo um elo de ligação com a música nordestina atual. Desde então, conquistou um público cativo e obteve sucesso no meio artístico cearense. Atualmente composto por nove músicos, o grupo Syntagma sempre serviu como um laboratório para os mais de quarenta instrumentistas que já passaram por ele e para os que o compõem atualmente. O cearense Heriberto Porto responde pela direção de música antiga e nordestina e o grande compositor cearense Liduino Pitombeira pela maior parte dos arranjos de música nordestina. O resultado da união de talentos é uma música da melhor qualidade. Para conseguir este som único, o Syntagma utiliza uma mistura de instrumentos antigos — como o saltério, o alaúde e o cravo — aliados a instrumentos mais comuns, como as flautas doce e transversa, o violão e percussão. Gravado no final de 1997, este é o primeiro CD do grupo, retrato fiel do trabalho aprofundado de pesquisa musical desenvolvido desde o início. O Syntagma está sempre em busca de um grande refinamento musical, trabalhando de forma rica a sonoridade de cada instrumento.
O disco traz uma pluralidade de estilos e autores característicos do repertório do Syntagma. Um ambiente onde convivem com harmonia uma mistura de anônimos medievais e renascentistas com clássicos nordestinos de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. O toque cearense fica a cargo das composições e arranjos de Liduino Pitombeira, único remanescente da formação inicial do Syntagma e que atualmente estuda nos Estados Unidos, de onde compõe novas peças.
Fonte (site do grupo): http://syntagmaceara.vilabol.uol.com.br/
Liduino Pitombeira (Russas-Ceará, 1962) é um compositor brasileiro. Ph.D. em Harmonia e Composição, pela Universidade do Estado da Luisiana, nos EUA, onde estudou com Dinos Constantinides.
No Brasil, estudou com Vanda Ribeiro Costa, Tarcísio José de Lima e José Alberto Kaplan.
Suas obras já foram executadas por orquestras como o Quinteto de Sopros da Filarmônica de Berlim e foram premiadas em primeiro lugar no II Concurso Nacional de Composição Camargo Guarnieri com Suite Guarnieri e no Concurso Nacional de Composição “Sinfonia dos 500 Anos” com Uma Lenda Indígena Brasileira.
Também contam, em sua biografia, apresentações com a OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Orquestra Sinfônica do Recife, Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho, do Grupo Syntagma (Brasil), e da orquestra Filarmônica de Poznan (Polônia).
Pitombeira atualmente é professor do Departamento de Música da Universidade Federal de Campina Grande. Tem especial interesse na relação subjacente entre música e matemática, tendo escrito artigos a respeito.
Fonte: Wikipedia
BOA AUDIÇÃO!
.oOo.
Grupo Syntagma – Syntagma
01- Schaffertänz (Anônimo medieval) 1:12
02– Parti de Mal (Anônimo medieval) 3:21
03– Algodão (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) 3:45
04- Basse Dance (Anônimo renascentista) 2:30
05– Saltarello (Anônimo medieval) 1:24
06– Variações sobre o Juazeiro (Liduino Pitombeira) 5:19
07– Pase El Agua (Anônimo renascentista) 1:46
08– Allegro do Divertimento (Giuseppe Sammartini) 2:46
09- Baião (Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira) 3:20
10– Bransle (Anônimo) 1:30
11– Hoboeckentanz (Anônimo) 2:42
12– Ajubete Jepê Amo Mbaê (Liduino Pitombeira) 5:59
13– Come Again (John Dowland) 3:50
14– Courante (Michael Praetorius) 2:02
15– Cantiga (Clóvis Pereira) 5:05
16– Kalenda Maya (Rambaudt de Vaqueiras) 3:43
17– Qui nem Jiló (Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira) 2:09
18– Saltarello (Anônimo medieval) 2:28
19– Variações sobre a Muié Rendêra (Liduino Pitombeira) 4:57
Grupo Syntagma (Formação neste cd)
Luduino Pitombeira
Duda di Cavalcanti
Heriberto Porto
Jorge Santa Rosa
Solange Gomes
Giovanni Pacelli
Roberto Gibbs
Mirella Cavalcante
Obs.: Infelizmente o encarte do cd não informa o(s) instrumento(s) de cada membro.
Trago-lhes um álbum que, com certeza, fará com que os mais conservadores “tremam suas carnes”.
Concerto Suite for Electric Guitar and Orchestra in Em, Opus 1 “Millennium” é uma obra para orquestra e coro, com solos de guitarra elétrica e violão acústico, composta pelo guitarrista sueco Yngwie Malmsteen, mais conhecido pelo virtuosismo com a guitarra e riffs de heavy metal. Algumas partes do Concerto foram baseadas em temas de seus álbuns de heavy metal. Uma obra de muita inspiração, vigor e sobretudo virtuosismo.
Yngwie Malmsteen, nome artístico de Lars Johan Yngve Lannerbäck, é um virtuoso guitarrista sueco. Nasceu em Estocolmo, Suécia, 30 de junho de 1963. Guitarrista conhecido por sua incrível velocidade,teve aulas de piano e trompete e aos 5 anos ganhou seu primeiro violão, que ficou parado até 18 de setembro de 1970 quando viu um especial na TV sobre a morte de Jimi Hendrix.O que lhe chamou a atenção não foi a técnica de Hendrix mas sim o momento em que ele pôs fogo em sua guitarra após quebrá-la.
Aplicando sua intensa curiosidade e tenacidade primeiro com uma velha guitarra Mosrite e depois uma barata Stratocaster, Yngwie entrou na música de bandas como Deep Purple. Sua admiração pelas influências clássicas de Ritchie Blackmore levaram-no a conhecer Bach, Vivaldi, Beethoven, Mozart e Paganini, entre outros compositores.
O primeiro disco solo de Yngwie, “Rising Force”, entrou nas paradas da Billboad no 60º lugar, uma ótima marca para um disco quase todo instrumental. Esse álbum ganhou uma indicação para o Grammy e várias votações em revistas como Revelação, Melhor Guitarrista, etc. Seus duelos com o grande tecladista Jens Johansson (ex Stratovarius) fizeram nascer um novo estilo musical: o metal neo-clássico, mais tarde chamado de Baroque & Roll.
As composições neo-clássicas de Yngwie alcançaram novas alturas em 1986 no álbum “Trilogy”. Até os dias de hoje esse é um dos seus discos favoritos, tanto nas letras quanto musicalmente. Fonte: Wikipédia
.oOo.
Yngwie Malmsteen: Concerto Suite for Electric Guitar and Orchestra in Em, Opus 1 “Millennium”
Na essência de minha ecleticidade, gosto muito da música e efeitos sonoros orquestrais que embalam alguns desenhos animados, pelo menos os mais bem produzidos,e quero apresentar a vocês um disco muito interessante de um compositor já muito experiente no mundo da música, especialmente do cinema.
Bruce Broughton é um compositor norte-americado nascido em 1945 em Los Angeles. Compôs inúmeras trilhas de filmes, entre elas, Young Sherlock Holmes (O Enigma da Pirâmide, aqui no Brasil de 1985), Baby’s Day Out (Ninguém Segura Esse Bebê de 1994), Moonwalker (Filme com Michael Jackson de 1988). Foi nomeado ao Oscar em 1986 pela composição para o filme Silverado de 1985 e recebeu diversas outras premiações (entre outros, nove prêmios Emmy) e nomeações.
Cartoon Concerto é uma obra difícil de definir. Trata-se de um concerto? Uma trilha sonora? É uma amálgama de melodias em ritmos frenéticos, jazzísticos, melodias burlescas e múltiplas referências que dura cerca de uma hora e quando menos se espera já terminou. Extremamente empolgante!
Mais informações sobre cada uma das faixas vocês podem encontrar neste endereço (texto em espanhol).
.oOo.
Bruce Broughton: Cartoon Concerto
01. An American Prologue (03:37)
from the short cartoon “Off His Rockers” (Disney, 1992)
02. Carnival Presto (06:35)
from the Roger Rabbit short cartoon “Rollercoaster Rabbit” (Disney, Amblin, Touchstone, 1990)
03. Scherzo Berzerko in 3 Portions (18:35)
score of the Tiny Toon Adventures episode “Journey to the Center of Acme Acres” (Warner Bros., Amblin, 1990)
04. Outdoor Interlude (08:19)
score of the Roger Rabbit short cartoon “Trail Mix-Up” (Disney, Amblin, 1993)
05. Le Grande Finale in 4 Portions (18:39)
score of the Tiny Toon Adventures episode “Hog-Wild Hamton” (Warner Bros., Amblin, 1991)
06. Teeny Tiny Coda (01:04)
theme song of the end credits of Tiny Toon Adventures (Warner Bros., Amblin, 1990-1992)
Que tal uma homenagem ao Hino Nacional Brasileiro feita por um compositor norte-americano?!?!
O compositor, pianista e regente norte-americano Louis Moreau Gottschalk (1829-1869) foi um dos primeiros artistas estrangeiros a empolgar o público brasileiro no tempo de D.Pedro II. Compositor dedicado a diversos gêneros e tendo se apresentado em vários países, inspirou-se notavelmente nos ambientes musicais locais, tendo escrito peças alusivas, entre outras, dedicadas a Cuba e ao Uruguai.
Sua “Grande Fantasia Triunfal com Variações sobre o Hino Nacional Brasileiro”, é de grande sucesso no repertório não só de nossos pianistas, como nos de outros países. A música, baseada no original de Francisco Manoel da Silva, foi dedicada à Condessa d”Eu , a Princesa Isabel, filha de D. Pedro II que, como todos sabem, assinou em 1888, a Lei Áurea, acabando com a escravidão no Brasil.
A estréia da “Grande fantasia Triunfal” ocorreu no Rio de Janeiro em 1869, num “concerto-monstro“, executada por 650 músicos! Segundo carta que escreveu para seus amigos nos Estados Unidos, Gottschalk afirmou :“Os meus concertos no Brasil são um verdadeiro furor… o Imperador, a família Imperial e a Corte não perderam um só dos meus concertos e a minha “Fantasia Triunfal” agradou a D. Pedro II. Cada vez que me apresento, tenho que tocar essa obra… “.
A “Grande Fantasia Triunfal com Variações sobre o Hino Nacional Brasileiro” é uma das mais empolgantes exaltações musicais de brasilidade e tem sido usada com prefixo de um determinado partido político atual no horário de propaganda política da televisão. Foi através dessa composição que o espírito polêmico de Louis Moreau Gottschalk se prolongou até os dias atuais.
Entretanto, em 1973, uma consulta de origem desconhecida à Comissão Nacional de Moral e Civismo, ameaçou por algum tempo de proibição a peça de Gottschalk. O processo rolou por alguns anos até que, graças principalmente ao parecer do musicólogo Alfredo Melo, que esclareceu devidamente a diferença entre “arranjo” e “variação”, e condenou “essa interdição como um “crime de lesa-cultura”, a “Grande fantasia Triunfal”, foi liberada. Finalmente, a 7 de setembro de 1981, junto ao Monumento do Ipiranga, ela foi executada em apoteose para 800 mil pessoas, no melhor estilo “gottschalkiano”.
Texto de Roberto Muggiati.
As Obras
Para quem não sabe, a Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro é aquela música majestosa que inicia as propagandas eleitorais do PDT e que foi utilizada como fundo musical na transmissão do funeral de Tancredo Neves. The Union é uma obra essencialmente marcial baseada em três temas norte-americanos, no Star-Splangled Banner, hino nacional norte-americano; no hino americano não-oficial Hail, Columbia e na canção patriótica Yankee Doodle.
A Marcha Solene Brasileira é uma imponente marcha para grande orquestra com banda militar e canhão, também baseada no Hino Nacional Brasileiro.
A Grande Tarantela, trata-se de uma obra vigorosa, empolgante e muito inventiva baseada nos ritmos da dança tradicional italiana. O primeiro contato, inconsciente, que tive com a obra de Gottschalk foi com essa tarantela. Era a abertura de um programa de música erudita (senão me engano chamava-se “Os Clássicos”) que passava na TV Educativa.
***
Gottschalk: Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro
01. Grande Fantasia Nacional sobre o Hino Nacional Brasileiro, op. 69
Arranjo para piano e orquestra: Samuel Adler Orquestra Sinfônica de Berlim
Eugene List, piano e Samuel Adler, regência
02. “The Union” Concerto-Paráfrase sobre Árias Nacionais Norte-Americanas, op. 48
Arranjo para piano e orquestra: Samuel Adler Orquestra da Ópera do Estado de Viena
Eugene List, piano e Igor Buketoff, regência
03. Marcha Solene Brasileira, para orquestra e banda militar com canhão
Revista e orquestrada por: Donald Hunsberger Orquestra Sinfônica de Berlim e Banda
Samuel Adler, regência
04. Grande Tarantela para piano e orquestra
Reconstruída e orquestrada por Hershy Kay Orquestra da Ópera do Estado de Viena
Este é um cd importado cujo encarte não possui simplesmente nenhuma informação além da lista de músicas e compositores, a orquestra e o regente, ou seja, não se trata de uma grande produção, mas muito interessante para quem gosta de música clássica ligeira.
Na gravação a seguir temos oitos aberturas francesas com sete compositores românticos, com destaque para Louis Herold, Daniel Auber, Adolphe Adam, Luigi Cherubini e Etienne Mehul, esse último já postado aqui no blog . Talvez a mais popular dessas aberturas seja Zampa de Herold. Lembro-me de ter ouvido trechinhos de Zampa em alguns desenhos animados como Pica-Pau com o Andy Panda e um antigo da Turma do Mickey Mouse.
Bon appétit, mes amis!
.oOo.
Grandes Aberturas Francesas
1. Louis Herold – Zampa
2. Daniel Auber – La Muette De Portici
3. Adolphe Adam – La Poupee De Nuremberg
4. Adolphe Adam – Si J’Etais Roi
5. Etienne-Nicolas Mehul – La Chasse Du Jeune Henri
6. Francois Boieldieu – Le Calife De Bagdad
7. Luigi Cherubini – Medea
8. Andre Gretry – La Magnifique
Possuo este CD há bastante tempo e costumo ouvi-lo, pelo menos, duas vezes por mês. Ele é a minha referência de música medieval da melhor qualidade. A partir dessa gravação, passei não só a apreciar um pouco mais a música vocal, como também a música produzida antes do século XVII.
É uma bela amostra do que foi produzido na corte espanhola entre os anos de 1505 e 1520. O álbum traz desde composições anônimas a composições de Enzina e Alonso, entre outros. Você, com certeza, irá impressionar-se com canções como: Rodrigo Martinez, Si abrá en este Baldrés, Levanta Pascual, La Tricotea, Tres morillas m’enamoran, além da espetacular versão instrumental de Todos los bienes del mundo e a famosa Danza Alta.
Uma deliciosa e empolgante seleção interpretada pela Ensemble Accentus, um grupo estabelecido em Viena, especializado em música medieval espanhola, formado por mais de 30 integrantes, entre cantores e instrumentistas, com a direção de Thomas Wimmer.
Boa audição!
.oOo.
Cancionero Musical de Palacio – Music of the Spanish Court (1505-1520)
01. Rodrigo Martinez (Anonimo) 2:11
02. Con amores, mi madre (Juan de Anchieta) 2:34
03. Pues que jamás olvidaros (Juan del Enzina) 5:49
04. Si abrá en este baldrés (Juan del Enzina) 1:27
05. Si d’amor pena sentis (Anonimo) 4:40
06. Tir’alla, que non qui (Alonso) 2:49
07. Todo quanto yo serví (Lope de Baena) 2:21
08. Levanta Padcual (Juan del Enzina) 2:53
09. Malos adalides fueron (Badajos) 5:01
10. Todos los bienes del mundo (Juan del Enzina) 3:01
11. Durandarte (Millán) 3:23
12. Fata la parte (Juan del Enzina) 2:00
13. Pedro, i bien te quiero (Juan del Enzina) 3:01
14. Danza Alta (Francisco de la Torre) 1:44
15. Qu’es de ti, desconsolado? (Juan del Enzina) 3:41
16. La tricotea (Alonso) 3:29
17. Ay triste, que vengo (Anonimo)
18. So ell enzina (Anonimo) 1:49
19. Como está sola me vida (Ponce) 2:20
20. O voy (Anonimo) 1:43
21. Tres morillas m’enamoran (Anonimo) 4:54
22. Hoy comamos y bebamos (Juan del Enzina) 4:10
O anúncio de um editor no jornal da Sociedade de Direitos de Execução Britânica em outubro de 1929 disse tudo: “É de ARTHUR W. KETÈLBEY (o maior compositor inglês vivo) uma nova e bela inspiração, A Hora Sagrada”.
Pondo de lado o fato não insignificante de que homens da estatura criativa de Elgar, Vaughan Williams, Holst e Bax viviam ainda nessa época, há uma certa elegância freudiana na própria circunstância de que o próprio editor não deu o nome de Sir Ketèlbey direito! Ele era, realmente, Albert W. Ketèlbey, mas, era o sobrenome, e não o prenome, que normalmente causava problema. A bem da verdade, o público tendia a colocar o acento no lugar errado – fazendo-o na segunda sílaba: Ke-tèl-bey. Quando não, pessoas desavisadas a ele se referiam como Kettleboy ou Kettlebay e diversas outras variações de nomenclatura.
É preciso alertar para o fato, porém, de que, embora tudo isso, ele sempre soube absorver essa confusão. Diz-se surpreendentemente, embora ninguém ainda o tenha dado certeza, que ele teria nascido simplesmente William Aston, todavia, como veio ao mundo em Aston, distrito de Birmingham, é possível que tal nome tenha surgido em razão dessa indistinção! Onde, quando e como ele assumiu tal troca de nomes permanece no mistério, exceto que tenha sido em tempos muito distantes. Chegou-se a buscar o novo nome como ligado a origens dinamarquesas, a teoria sendo calcada a seguinte: “o ke tendo o papel de prefixo ligado ao Ke nos nomes “Kenelm”. “Kesteven”, “K’nut”, “Quebec”, ou seja, Ke-bec, o Que vindo a ser o equivalente do francês Ke“, alguém tendo de ser perdoado por esse retrocesso. Presume-se que o “W” signifique William mas, de novo, inexiste evidência incontestável que confirme isto.
De um modo ou de outro, Albert William Ketèlbey que seja, nasceu, como já afirmou, em Birmingham, no dia 4 de agosto de 1875. Parece haver demonstrado talento para música muito cedo, com aparente aptidão para o piano. Certa tendência para a composição terá se manifestado muito rápido nele, pois, com apenas 11 anos de idade, escreveu uma Sonata para piano que foi executada em um recital havido no recinto da Prefeitura de Worcester, a qual, depois, iria ganhar a admiração de alguém do porte de Sir Edward Elgar. Em Birmingham, seus estudos foram feitos sob as orientações de Alfred Gaul e do Dr. Herbert Wareing, ambos havendo-o preparado para a admissão em um dos colégios de música londrinos. Supôs-se, inicialmente, que ele pudesse ter ingressado no Colégio Real de Música, mas, por qualquer razão, perdeu o prazo para uma bolsa de estudos lá e optou por outra, a Bolsa de Estudos da Rainha Vitória, no Colégio Trinity. Tinha apenas 13 anos, mas, com facilidade, ganhou o primeiro lugar, obtendo muitas notas mais altas que o seu colega concorrente, Gustav Holst, quase um ano mais velho do que ele.
…
Ketèlbey viveu 84 anos e, compreensivelmente, seu ritmo de vida foi diminuindo bastante nos últimos tempos de existência. Com uma criação musical comovente atrás de si, satisfez-se no gozo do tranqüilo ambiente da Ilha de Wight ao lado de sua segunda mulher, Maud. Não tinha família, mas isto parecia não aborrecê-lo. Morreu no dia 26 de novembro de 1959, época em que já se tornara uma espécie de fora-de-moda. Uma nota de obituário absolutamente prosaica no Times de Londres anunciou a sua morte, tendo sido isto o mais favorável que encontraram: “desenvolveu talento para a escrita descritiva… na qual mostrou habilidade para captar sonoridade ambiental”.
As Obras
No Jardim de um Mosteiro (In a Monastery Garden)
Este foi o “intermezzo característico”, publicado em 1915, primeiro responsável pelo deslanchar de Ketèlbey na vanguarda dos compositores de música ligeira. O próprio compositor providenciou descrição para a peça: “O primeiro tema representa o devaneio de um poeta na quietude do jardim de um mosteiro, em meio a um belo arredor – s serena tranquilidade do ambiente -, árvores frondosas e pássaros cantando. O segundo tema, em tom menor, expressa uma nota mais “pessoal” de tristeza, de apelo e de penitência. Nesse momento os monges são ouvidos cantando o “Kyrie Eleison” com fundo de órgão e o sino da capela soando. O primeiro tema é ouvido novamente de modo tranquilo, como se houvesse se tornado mais etéreo e distante; o canto dos monges se faz ouvir outra vez – fica mais forte e insistente, levando a peça a uma conclusão exultante”.
Chal Romano (Jovem Egípcio)
Esta “Abertura Descritiva”, datada de 1924, dá uma boa demonstração da atuação de Ketèlbey naquilo que se pode perceber como estruturas mais “formais”, fora daquelas adotadas em suas miniaturas pictóricas. A invenção melódica é, na verdade, indistinta, embora conduzida com inegável maestria, e revela inteiramente as qualidades de um artista que sabe como tirar o máximo de uma orquestra.
Suíte Romântica (Suite Romantique)
Esta comovente suíte orquestral surgiu, igual a peça antecedente, em 1924, trazendo uma dedicatória a Sir Dan Godfrey (1868-1939), esse incansável campeão dos compositores ingleses, cujo brilhante trabalho com a Orquestra Municipal de Bournemouth muito fez para erguer o padrão de concertos na Inglaterra, e não só ao nível local, mas também, nacional. Cada um dos três movimentos traz um título romântico caracterizante (em francês, naturalmente!).
Capricho Pianístico (Caprice Pianistique)
Uma dentre outras peças compostas para uso próprio, este agradável destaque serve para lembrar-nos a destreza de Ketèlbey como pianista virtuose. Definida como “Piano Novelty” (Novidade para Piano), é uma obra relativamente recente, tendo surgido após a Segunda Grande Guerra, em 1947. Tem acentuação bem definida de “capricho”, oferecendo uma despreocupação onde, ao se buscar aproximação com elementos mais sérios, cede-se lugar a um ânimo galhofeiro.
O Relógio e as Figuras de Porcelana (The Clock and the Dresden Figures)
Publicada em 1930, esta encantadora fantasia foi dedicada a um amigo do compositor, Tenente W. J. Dunn, e, consequentemente, por um toque possível de incongruência, há dela uma versão para piano e banda militar, além desta mais convencional, para piano e orquestra, aqui registrada.
Suíte Cockney (Cockney Suite)
Os cinco movimentos da Suíte Cockney (um Cockney, ao acaso, pode ser definido como alguém nascido ao som do Bow Bells no leste londrino, se não todos da própria área leste da cidade) constituiu outro produto do industrial ano de 1924 e, sob muitos aspectos, serviu de tributo à cidade onde Ketèlbey residiu por inúmeros anos e que contribuiu para a sua fama e fortuna (de uma maneira bem semelhante à retribuição feita por Eric Coates na suíte “Londres”. Os locais por ele escolhidos para inspiração cobrem o spectrum total da sociedade londrina. Aqui podemos apreciar os movimentos de números 5 e 3.
Ao Luar (In the Moonlight)
Esta miniatura é descrita como um “Intermezzo Poético” e foi subtitulada em francês como Sous la Lune, no intuito de se acrescentar apropriada aura romântica. Acima de tudo uma peça de época, tem o mérito de encantar por seu valor melódico. Foi modelada no esquema A B A C A e mais a coda, com C servindo de apaixonado fecho relativo de B. Teve sua estreia relativamente cedo na carreira do compositor no âmbito da música ligeira, em 1919.
Wedgwood Melancólico (Wedgwood Blue)
De modo algum Josiah Wedgwood iria imaginar, quando fundou sua hoje famosa fábrica de cerâmicas em 1759 que, 161 anos depois, seu empreendimento seria homenageado numa dança por Albert W. Ketèlbey. A dança em foco é uma gavota, encerrando uma seção contrastante intermediária da qual se encarregam solos de violoncelo e de violino. Inteiramente despretenciosa, esta peça fascina por sua evocação, há muito desaparecida.
Sinos Através das Campinas (Bells Across the Meadows)
Uma das mais conhecidas composições de Ketèlbey, este fragmento declaradamente sentimental surgiu em 1921. Para as modernas audiências, este trabalho oferece emanação equivalente às pinturas de Myles Birket Foster sobre as cenas do passado – casinhas de teto vegetal com flores entrelaçadas, em meio a jardins repletos de malva – rosas com gracioso regato borbulhando adiante e vacas pastando sossegadamente além.
A Melodia Fantasma (The Phantom Melody)
Este é um trabalho que proporcionou a Ketèlbey um prêmio de 50 libras no concurso organizado por August Van Biene e que atraiu o interesse do compositor para a música ligeira. Nesta versão orquetral, os violinos tomam o lugar originalmente entregue ao violoncelo solista. O próprio Biene havia ganho fama em 1893 com uma peça intitulada The Broker Melody (A Melodia Partida) e é bem possível que Ketèlbey haja escolhido este tipo e título em homenagem ao criador do concurso. Mais tarde, uma canção foi adaptada desta obra, com o título de I Loved You More Than I Knew.
Em um Mercado Persa (In a Persian Market)
Sem dúvida a mais, mundialmente, popular de todas as suas composições. Esta é uma das peças que, ouvindo-a, as pessoas já dizem “é assim que ela se chama!?”. É um tema que muita gente conhece há anos. Designada como “Intermezzo-Scene” pelo próprio compositor e publicada em 1920, ela descreve o seguinte cenário: “Cameleiros se aproximam gradualmente do mercado; gritos de mendigos por ‘Back-shees’, são ouvidos entre o alvoroço. (O lamento todo é “Back-sheesh, Allah, empshi, ‘empsi’, sabemos, significa ‘vá embora!’). Sua fama mundial se deve, principalmente, ao fato de ter sido gravada uma versão pop do seu intermezzo, pela cantora Della Reese, intitulada “Take My Heart”.
Tem coisa mais improvável que uma peça jazzística composta por um sujeito chamado Jaromir Hnilička?
Tem: que a peça consista basicamente de uma execução instrumental bastante simples dos cantos litúrgicos da missa católica, seja executada por uma banda de jazz tcheca… e o disco tenha feito sucesso em todo o mundo.
Pois aconteceu, senhores: o disco foi lançado na Europa em 1969, e depois teve edições em todo mundo, inclusive aqui no Brasil, onde o Monge Ranulfus o adquiriu em 1975.
Apesar de ainda possuir o vinil, a ripagem postada foi garimpada na internet por Daniel the Prophet, e Ranulfus apenas tratou de reduzir os estalos com emprego das artes mágica do mestre Avicenna.
Não tenho ideia de se vocês vão gostar ou não dessa música bem feita porém não muito complexa. A mim sempre agradou bastante – especialmente a faixa mais longa, inspirada no Kyrie e sequências, com 11 minutos. E mais não digo.
Ah, digo sim: já que é domingo de manhã… boa missa, né?
MISSA JAZZ
Composta e arranjada por Jaromir Hnilička
Executada pela Gustav Brom Orchestra (1969)
Dizem que a primeira engenhoca eletrônica produtora de sons para fins musicais a usar o nome “sintetizador” foi a criada pela RCA em 1957 – mas foi Robert Moog, em 1964, quem criou o primeiro sintetizador utilizável de modo relativamente prático. E a primeira pessoa a gravar um disco de sucesso executado inteiramente com o Moog foi Wendy Carlos, com seu Switched-on Bach, em 1968.
Foi um trabalho de estúdio exaustivo: embora sintetizasse timbres nunca antes imaginados, o aparelho o fazia para uma nota de cada vez. Quer dizer: Wendy gravou voz por voz, separadamente, suas espantosas interpretações de Bach.
O outro pioneiro no uso do Moog foi o tecladista Keith Emerson, que se foi agora em 2016: em 1970 a banda Emerson, Lake and Palmer começou a levar o Moog para o palco, e em 1973 estrearia o Moog polifônico em Brain Salad Surgery.
Ao mesmo tempo (1970), Wendy propunha a Stanley Kubrick o uso de sua composição original Timesteps na trilha do filme A Laranja Mecânica, e saía feliz da vida com a encomenda de produzir toda a trilha do filme, inclusive recriações eletrônicas de Beethoven, Rossini e Purcell.
Não foi pequena, então, a decepção de Wendy em 1971: Kubrick havia usado no filme apenas fragmentos do seu trabalho, junto com versões orquestrais convencionais das obras de Beethoven e Rossini – e o LP oficial da trilha também continha só esses fragmentos.
P da vida – se me permitem -, em 1972 Wendy lançou outro disco, com a íntegra da sua produção destinada ao filme – ou quase a íntegra: as faixas 08 e 09 que vocês ouvirão só foram lançadas em 2000, na versão em CD.
Mais uma vez pioneira, o que Wendy introduziu desta vez foi o vocorder – simulador eletrônico de sons vocais – e o fez em nada menos que diversos solos e trechos corais da Nona de Beethoven (faixa 02), além de citações do hino gregoriano Dies Irae e de Singin’ in the Rain em sua própria composição Country Lane (faixa 10 – minha preferida).
Nos anos 70 este disco esteve entre os mais queridos do monge Ranulfus – mas só hoje, em 2016, graças ao trabalho de garimpagem de seu amigo Daniel the Prophet, o monge veio a ouvir as faixas 08 e 09. Notou sem surpresa que a última (Biblical Daydreams) parece construída a partir de hinos protestantes estadunidenses, mas na anterior (Orange Minuet) teve uma surpresa curiosa: o monge tem certeza de ter ouvido na obra do brasileiro Elomar Figueira de Melo a melodia usada na parte central do tal minueto! Terá Wendy ouvido Elomar, ou terão os dois se baseado em alguma fonte anterior, quer no próprio Nordeste brasileiro, quer no campo ibérico-provençal?
Termino confessando que muitas vezes pensei que o trabalho de Wendy Carlos ficaria pra trás como uma curiosidade datada – mas passado quase meio século a impressão se inverte: começo a pensar que a criatividade, sensibilidade e ousadia dessa mulher poderão ficar na história como emblemáticas do último terço do século XX – na história tanto da música quanto geral, pela ousadia, paralela à musical, de ter-se assumido como a mulher que desde a primeira infância sentia ser, mesmo pondo em risco a fama mundial já conquistada sob o nome masculino com que havia sido registrada ao nascer.
WENDY CARLOS’S CLOCKWORK ORANGE (1972)
Gravações de estúdio de Wendy Carlos com o sintetizador Moog (1972)
Versão em CD lançada em 2000
01 Timesteps – 13:47 (W.Carlos – na integra)
02 March from A Clockwork Orange
(Beethoven: Nona Sinfonia: Quarto Movimento, condensado) – 7:02
03 Title Music from A Clockwork Orange
(da Music for the Funeral of Queen Mary, de Purcell) – 2:23
04 La Gazza Ladra ouverture (Rossini, condensado) – 6:00
05 Theme from A Clockwork Orange
(‘Beethoviana’, variação sobre 03) – 1:48
06 Nona Sinfonia: Segundo Movimento: Scherzo (Beethoven) – 4:52
07 William Tell ouverture (Rossini, condensado) – 1:18
08 Orange Minuet (W.Carlos) – 2:35
09 Biblical Daydreams (W.Carlos) – 2:06
10 Country Lane (W.Carlos – versão aperfeiçoada) – 4:56
(citações: Dies Irae; Singing in the Rain)
Depois da música erudita, o hip-hop é meu gênero musical favorito. A forma como a música é construída de forma poética para expressar política não se iguala, até onde eu sei, em nenhum outro gênero, e por isso eu gosto tanto. Mas o exemplo de hip-hop que os trago hoje não é tão político, mas muito mais livremente musical. A dupla de rappers Black Knights do Wu-Tang Clan (grupo de hip-hop nova iorquino que congrega vários rappers da costa leste) junto com o ex guitarrista John Frusciante produziram aquele que pra mim foi o melhor álbum que ouvi em 2014.
A primeira faixa do álbum já é um “baque”. Ouvimos um solo de violino com samples de armas de fogo, “typewriters”, entre outras coisas, até que um grave em crescendo tome conte da situação e dê espaço para o ritmo e a poesia da dupla de rappers.
Claro que podemos (e devemos) atribuir boa parte da qualidade da obra a John Frusciante (o produtor do álbum), que soube construir uma música que fuja dos clichês tão comuns no meio do hip-hop. Pra quem já ouviu muita música atonal, ficar ouvindo um refrão 5 vezes é extremamente entediante, mas neste álbum são poucos os momentos entediantes, para não dizer que não há nenhum. Toda a construção do “beat” feito por John que dá base ao rap da dupla consegue dialogar com eles, e combina tudo muito perfeitamente. Desde uma fala de algo que parece um filme estadunidense imbricado no meio de uma música entre um rap e outro, até um “sample” do começo da quarta sinfonia da Brahms misturado com sons de vitrola. É uma “brisa” maluca que dá deliciosamente certo.
Black Knights: Medieval Chamber
01 Drawbridge
02 The Joust
03 Medieval Times
04 Trickfingers Playhouse
05 Sword In Stone
06 Knighthood
07 Deja Vu
08 Roundtable
09 Keys To The Chastity Belt
10 Camelot
Black Knights are:
Crisis Tha Sharpshooter
Rugged Monk
Ouvimos um poderoso grave constante que é como o nada, ao mesmo tempo em que é tudo. Aos poucos ouvimos crescer uma massa disforme de sons que parece nascer desse grave absoluto; dessa massa podemos identificar estilos, timbres, cores e sabores diferentes. Num crescendo envolvente protagonizado por um metal, é como se desprendesse a primeira das “forças elementais” dessa obra. Outras duas “forças” se desprendem, e assim começa a sinfonia.
A terceira sinfonia é quase uma gênese, ou um “Big Bang”. É certamente o exemplo mais completo do poliestilismo de Schnittke que ouvi até agora. Não há absolutamente nenhuma citação direta à obra outros compositores, mesmo assim podemos perceber a mescla de estilos, desde o barroco (ou mesmo antes, pois notei alguma coisa de medieval em algum momento que não me lembro) até o serialismo. A obra é inteiramente instrumental.
Já a sétima sinfonia sinfonia começa com o lirismo de um belo solo de viola que ao fim dá espaço para o tão característico aspecto sombrio da música de Schnittke. No terceiro e último movimento dessa sinfonia, um tema que tem algo de clássico e de barroco vai surgindo e ao mesmo tempo desmorona o otimismo do tema em um leve mas certeiro pessimismo, o que é exatamente o que devemos sempre esperar de Schnittke.
Schnittke: The Ten Symphonies
CD 3
Alfred Schnittke (1934-1998):
Symphony No. 3
01 I. Einleitung
02 II. Sonatensatz. Allegro
03 III. Scherzo. Allegretto
04 IV. Finale. Adagio
Royal Stockholm Philharmonic Orchestra
Eri Klas, conductor
Symphony No. 7
05 I. Andante
06 II. Largo
07 III. Allegro
BBC National Orchestra of Wales
Tadaaki Otaka, conductor
Neste álbum fica bem fácil identificar a influência de Shotakovich sobre a obra de Schnittke. Primeiro, estamos falando de dois russos. Segundo, de dois russos do século XX. Terceiro, de dois russos do século XX que aderem à uma “escola” mais progressista na música. Schnittke, claro, mais que Shostakovich, mas ambos igualmente modernos aos nossos ouvidos, deliciosamente modernos.
Recomendo também ouvir a orquestração desse trio de Schnittke… ou, se você só ouviu a orquestração, ouça agora em um arranjo para trio de piano, violino e cello.
Li opiniões contraditórias sobre as interpretações do Kempf Trio. Pessoalmente adorei a interpretação do Piano Trio No. 2 de Shosta, talvez até mais que uma que o PQP postou não faz tanto tempo.
Dmitry Shostakovich (1906-1975):
Piano Trio No. 2 in E minor Op.67
01 I. Andante – Moderato – Poco più mosso
02 II. Allegro non tropo
03 III. Largo
04 IV. Allegretto
05 Piano Trio No.1 in C minor Op. 8
Alfred Schnittke (1934-1998):
Piano trio (1992)´[Arrangement from his String Trio]
06 I. Moderato
07 II. Adagio
Kempf Trio:
Freddy Kempf, piano
Pierre Bensaid, violin
Alexander Chaushian, cello