Richard Wagner (1813-1883) – Overtures & Orchestral music (Oslo Philharmonic Orchestra, Mariss Jansons)

Richard Wagner (1813-1883) – Overtures & Orchestral music (Oslo Philharmonic Orchestra, Mariss Jansons)

Um pequeno grande disco lançado em 1992, época em que a parceria artística entre o maestro letão Mariss Jansons (1943-2019) e a Orquestra Filarmônica de Oslo vivia alguns de seus tempos mais frutíferos. Jansons ficou à frente do grupo por 23 anos, entre 1979 e 2002, sucedendo Okko Kamu.

Embora seja mais comumente lembrado e associado por seu trabalho junto à Sinfônica da Rádio Bávara, em Munique, e à Royal Concertgebouw, em Amsterdã, outros dois conjuntos estelares que dirigiu por longos períodos, Jansons fez também um belíssimo trabalho dirigindo a orquestra norueguesa. Foi ali que sua carreira se consolidou, levando aos postos de principal regente convidado da Filarmônica de Londres, em 1992, e diretor musical da Sinfônica de Pittsburgh, em 1997.

Um jovem Jansons na época em que era aluno de Herbert von Karajan em Salzburgo

O álbum que trazemos hoje, com uma seleção de aberturas e trechos orquestrais de óperas de Richard Wagner (1813-1883), compositor com imensa influência sobre os rumos que a música tomou a partir de sua passagem por este planetinha azul. Wagner tem a peculiaridade, mais do que a maioria dos outros compositores, de ter sua obra apreciada em dois tipos de situação um tanto distintas: ou nas extensas versões integrais de suas óperas, ou com trechos instrumentais dessas óperas (aberturas, prelúdios, interlúdios) apresentados como peças de concerto. Esse disco é um legítimo representante desta segunda forma de relacionar-se com a obra wagneriana.

O Wagner aqui apresentado reluz algumas das características mais marcantes da música que Jansons e os noruegueses produziram ao longo das décadas de trabalho conjunto: um som muito claro e límpido, frases bem delineadas e profundamente melódicas, grande precisão dinâmica e uma capacidade ímpar de criação de texturas sonoras. Jansons tinha uma maneira de reger muito elegante e sutil, algo difícil de se colocar em palavras, mas que de alguma forma parece transparecer em suas gravações, sobretudo com essas orquestras com quem manteve longevas parcerias.

Meus destaques pessoais do álbum, puramente subjetivos: A abertura de Tannhäuser e o prelúdio para o terceiro ato de Lohengrin. 

Richard Wagner – Overtures & Orchestral Music

  1. Die Meistersinger von Nürnberg – Prelude to Act I
  2. Tristan und Isolde – Prelude to Act 1
  3. Tristan und Isolde – Liebestod
  4. Tannhäuser – Overture
  5. Gotterdämerung – Trauermarsch (Funeral March)
  6. Die Walküre –The Ride Of The Valkyries
  7. Lohengrin – Prelude to Act 3
  8. Rienzi – Overture: Molto sostenuto e maestoso
  9. Rienzi – Allegro energico

Oslo Philharmonic Orchestra
Mariss Jansons, regência

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Karlheinz

Sergei Prokofiev (1891-1953): Pedro e o Lobo, op. 67 (Rita Lee, Orquestra Nova Sinfonieta, Roberto Tibiriçá)

Sergei Prokofiev (1891-1953): Pedro e o Lobo, op. 67 (Rita Lee, Orquestra Nova Sinfonieta, Roberto Tibiriçá)

Ontem o Brasil perdeu uma de suas maiores artistas: Rita Lee Jones de Carvalho (1947-2023), ou simplesmente Rita Lee, para todos os milhões de pessoas que a temos, eternamente, como rainha. Sequer vou tentar colocar em palavras aqui o que ela representa; tudo soaria pequeno, banal, clichê, e de ontem pra hoje uma boa turma fez isso muito melhor do que eu faria.

Minha pequena homenagem vai na forma de trazer pra vocês este pequeno disco que foi muito, mas muito, mas muito importante na minha vida. Foi seguramente a fita K7 que mais escutei nessa minha caminhada nesse planetinha azul. O clique para a música clássica viria um pouco mais tarde, aos 12 anos, por obra de meu irmão e um par de discos de Vladimir Horowitz e Glenn Gould que ele trouxera de uma viagem aos Estados Unidos.

Mas as sementes foram lançadas com aquela fitinha K7 que trazia Rita Lee narrando Pedro e o Lobo, op. 67, de Sergei Prokofiev, junto com a Orquestra Nova Sinfonieta regida por Roberto Tibiriçá. O fascínio, o estímulo à imaginação e à fantasia, a crença no poder mágico dos sons organizados em forma de música: estava tudo ali. Era o começo de uma jornada de vida inteira pelas maravilhas do som e dos instrumentos.

Por isso, e por mais um tantão de coisa: obrigado, Rita! Que a volta aí pras estrelas seja bacana…

 

Sergei Prokofiev (1891-1953)
Pedro e o Lobo, op. 67
fábula sinfônica para crianças

Rita Lee, narração
Orquestra Nova Sinfonieta
Roberto Tibiriçá, regência

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Karlheinz

Johann Adam Birckenstock (1687-1733) / Franz Benda (1709-1786): Sonatas para Violino e baixo contínuo (Sans Souci)

Johann Adam Birckenstock (1687-1733) / Franz Benda (1709-1786): Sonatas para Violino e baixo contínuo (Sans Souci)

Um esplêndido e inesperado disco de música barroca. Também é uma raridade, tanto que não consegui em lugar nenhum a relação das faixas. Mas adorei ouvi-lo muitas vezes. O Ensemble Sans Souci é extremamente competente e dá vida aos desconhecidos Birckenstock e Benda. Sim, sei da família Benda.

Johann Adam Birkenstock foi um compositor e violinista alemão. Foi considerado um dos principais violinistas de sua época. Em Kassel, tornou-se músico da corte em 1708, onde permaneceu até 1722, quando embarcou em uma turnê pela Holanda. Lá, foi oferecido a Birkenstock um posto na comitiva do Rei de Portugal. Ele recusou a oferta e após seu retorno a Kassel foi nomeado Konzertmeister da capela local em 1725. Quando o Landgrave de Kassel morreu em 1730, Birkenstock mudou-se para Eisenach, onde também se tornou o Kapellmeister da corte.

Franz (František) Benda nasceu na Boêmia na povoação de Altbenatky. Tornou-se o fundador de uma escola alemã de tocar violino. Depois obteve um cargo na Capela Real de Dresden. Ao mesmo tempo, juntou um grupo de músicos que tocavam em festas, feiras, etc. Aos dezoito anos de idade Benda abandonou esta vida errante e retornou a Praga, indo depois para Viena, onde estudou violino com Heinrich Graun, um aluno de Tartini. Dois anos depois, foi nomeado mestre de capela em Varsóvia. Benda foi um mestre na arte de tocar violino. Tinha muitos alunos e escreveu uma série de obras, principalmente exercícios e estudos de violino.

Johann Adam Birckenstock (1687-1733) / Franz Benda (1709-1786): Sonatas para Violino e baixo contínuo (Sans Souci)

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Benda foi bem feio, não?

PQP

Franz Schubert (1797-1828): Complete Violin Sonatas (Neudauer, Brunner)

Franz Schubert (1797-1828): Complete Violin Sonatas (Neudauer, Brunner)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma Schubertiade ou, aportuguesando, uma Schubertíada é um evento realizado para celebrar a música de Franz Schubert. À princípio era um evento privado, de salão. As Schubertíadas modernas também incluem séries de concertos e festivais. Durante a vida de Schubert, esses eventos eram geralmente reuniões informais e não anunciadas, realizadas em residências particulares. As Schubertiades na Viena do início do século 19 eram tipicamente patrocinadas por amigos ricos e aficionados da música de Schubert. Numerosos recitais foram organizados a partir de 1815 no grande apartamento do jurista e patrono austríaco Ignaz von Sonnleithner. Um amigo de Schubert, Leopold Kupelwieser, afirmou que os mantinha porque “Eu me mimo com uma Schubertiade de vez em quando”. Até aí tudo bem. Mas… Vocês não acham que Schubert escreveu apenas sinfonias para seguir Beethoven e o restante de suas obras para as Schubertíadas? Por que ele escreveu apenas sinfonias e música de câmara, muita música de câmara, onde realmente metia a cara e avaliava o impacto sobre os ouvintes? Cadê os concertos de Schubert? Ah, quero mais schubertíadas na minha vida. Este CD é sublime. E mais não digo.

Franz Schubert (1797-1828): Complete Violin Sonatas (Neudauer, Brunner)

Sonata In G Minor D 408, Nº 3, Op. 137 (16:16)
1 Allegro Giusto 5:02
2 Andante 4:30
3 Menuetto 2:38
4 Allegro Moderato 4:06

Sonata In D Minor D 384, Nº 1, Op. 137 (12:27)
5 Allegro Molto 4:54
6 Andante 4:27
7 Allegro Vivace 4:06

Sonata In Minor D 385, Nº 2, Op. 137 (20:20)
8 Allegro Moderato 6:28
9 Andante 6:52
10 Menuetto. Allegro 2:25
11 Allegro 4:35

Sonata In A Major D 574, Nº 4, Op. 162 (22:09)
12 Allegro Modereato 8:59
13 Scherzo. Presto 4:06
14 Andantino 3:53
15 Allegro Vivace 5:11

Fortepiano – Wolfgang Brunner
Violin – Lena Neudauer

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Uma schubertíada com o próprio

PQP

.:interlúdio:. Keith Jarrett: My Song

.:interlúdio:. Keith Jarrett: My Song

51uwG9Y508L._SL500_AA280_ (1) – Postagem original de 2013. Reativada por Pleyel em homenagem aos 78 anos de Keith Jarrett (nasc. 8/maio/1945) –

Não tenho bem certeza desde quando que tenho esse cd do Keith Jarrett, mas tenho certeza de que é meu favorito com essa formação do quarteto europeu. Jan Garbarek dá um show em faixas clássicas como “Questar, “My Song” e a última faixa do cd, “The Journey Home”. Keith Jarrett, como sempre, um gênio do piano, com solos pontuais, curiosamente não muito extensos, porém certeiros. A cozinha com o baixista Palle Danielsson e o baterista Jon Christensen fornece a base perfeita para os solos de Jarrett e Garbarek.

Em outras palavras, um primor de CD, facilmente classificável como “IM-PER-DÍ-VEL” para os fãs do jazz.

Keith Jarrett Quartet – My Song (1978)

1 – Questar
2 – My Song
3 – Tabarka
4 – Country
5 – Mandala
6 – The Journey Home

Keith Jarrett – Piano
Jan Garbarek – Tenor and Soprano Saxophones
Palle Danielsson – Bass
John Christensen – Drums

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Jarrett, Garbarek, Danielsson, Christensen: o supergrupo “escandinavo” em ação

FDPBach/Pleyel

.: interlúdio :. Marshall Allen, Hüseyin Ertunç & KonstruKt: Vibrations of the Day (2010)

Nascido em 25 de maio de 1924 nos EUA, o saxofonista Marshall Allen é provavelmente o músico de jazz mais velho em atividade hoje. Membro do grupo de Sun Ra (1914-1993) desde 1955 até a morte do pianista, ele continuou tocando com a Sun Ra Arkestra desde então e liderando o grupo desde 1995. Sempre no sax alto, enquanto John Gilmore (1931-1995) era o sax tenor do grupo, ambos estiveram presentes na criação coletiva de muitas das inovações que seriam associadas ao free jazz e outras correntes de vanguarda, embora os créditos tenham ido principalmente para os mais famosos Ornette Coleman (1930-2015) e John Coltrane (1926-1967). De todos esses músicos citados acima, o único nascido antes de Marshall Allen era Sun Ra. Estes dois últimos, portanto, embora a uma certa distância dos holofotes, estiveram envolvidos em todas as idas e vindas do jazz da costa leste norte-americana desde os anos 1950: hard bop, sheets of sound, free jazz, fusion, afrofuturismo, tudo isso eles fizeram e em muitos casos fizeram antes que jornalistas e gravadoras inventassem esses nomes para as práticas.

O percussionista brasileiro Elson Nascimento no surdo e Marshall Allen no sax (2022)

Em breve com 99 anos, Marshall Allen continua tocando e gravando até hoje com outros músicos, como é o caso desse álbum de 2010 com o grupo turco Konstrukt, com Allen de convidado. Outro convidado de peso é o percussionista turco Hüseyin Ertunç, importante na cena de jazz turca pelo menos desde os anos 1970. O grupo que gravou neste disco é composto de dois pares e um trio: temos dois saxofones (sax alto de Allen no canal esquerdo, sax tenor e raramente soprano de Futaci no canal direito), duas guitarras e três percussionistas/bateristas. As percussões raramente trabalham com ritmos constantes e as guitarras raramente solam: todos esses instrumentos fazem uma cama altamente original, inconstante e predominantemente aguda (porque sem baixo) para os dois saxofonistas brilharem.

Marshall Allen, Hüseyin Ertunç & KonstruKt: Vibrations of the Day
1 Through The Asteroids 6:31
2 Space Jungle 8:47
3 Milkyway 7:03
4 March Of The Aliens 11:01
5 Supernova 7:01
6 The Emperor 3:52
7 Sunflower 8:58
8 Neptune 10:13
9 Spirits 7:54

Marshall Allen – alto saxophone (left channel)
Korhan Futacı – tenor and soprano Saxophones, Voice (right channel)
Umut Çağlar – guitar, guitar synth
Barlas Tan Özemek – guitar
Hüseyin Ertunç – percussion, drums, vibraphone, flute
Özün Usta – percussion, drums, vibraphones
Korhan Argüden – drums

Recorded: Istanbul, 30/09/2010

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Marshall Allen em 2019, quando tinha só tinha 95 anos

Pleyel

Schubert (1797 – 1828): Sonata para Piano em lá maior, D. 959 – 3 Minuetos – Arcadi Volodos ֍

Schubert (1797 – 1828): Sonata para Piano em lá maior, D. 959 – 3 Minuetos – Arcadi Volodos ֍

Schubert

Sonata para Piano No. 20, D. 959

3 Minuetos

Arcadi Volodos

 

Volodos has everything – imagination, passion and a phenomenal technique – to carry out his ideas on the piano. His limitless virtuosity, combined with a unique sense of rhythm, color and poetry, makes Volodos the narrator of intense stories and infinite worlds!

Eu ouço música o tempo todo. Enquanto dirijo, quando vou caminhar, sempre que posso no trabalho. Por conta disso, tenho diversas formas de ouvir música: do sistema principal no escritório, na sala de casa, desde o computador ou usando até um velho DVD Player…

O telefone está sempre recheado de coisas que quero ouvir, uma verdadeira caixa de desejos guardados. Mesmo que fique preso em algum elevador, o tédio não me alcançaria, pelo menos não tão rapidamente. Assim, nas noites insones, você sabe, no lugar de contar carneirinhos, ouço música. Mas, à noite, especialmente mais tarde na noite, as coisas ganham outras dimensões. Por exemplo, nada de espelhos! Borges que o diga.

Pois estava eu noite destas, tentando ouvir algo interessante pelo headphone, quando meu desastrado dedo confundiu o aplicativo e alcançou um arquivo que estava adormecido na pasta com as músicas e ouvi, assim às cegas, o andantino desta gravação da Sonata em lá maior de Schubert. Meu Deus, o que foi isso? Começa assim, agarrando a gente pelos ouvidos e vai nos enredando até a irrupção do episódio central, uma erupção de som. Fiquei mesmerizado e, bom, ouvi tudo de novo, agora desde o enorme começo.

Volodos não é um pianista convencional e seus discos são sempre muito interessantes, mesmo que sejam, digamos assim, bastante impregnados de sua personalidade. Ou seja, nada de apagar os arquivos com outras gravações da Sonata, nem pensar em passar adiante os CDs do Pollini ou Kempff ou Brendel, só para mencionar alguns. Mas esse disco é realmente muito especial e se você ainda não ficou convencido das maravilhas que Schubert nos deixou, tente este aqui. Assim, sem mais delongas, vá em frente!

Franz Schubert (1757 – 1828)

Sonata para Piano No. 20 em lá maior, D. 959

  1. Allegro
  2. Andantino
  3. Allegro Vivace
  4. Allegretto

3 Minuetos

  1. Minueto em lá maior, D 334
  2. Minueto em mi maior, D 335
  3. Minueto dó sustenido menor, D 600 com Trio em mi maior, D 610

Arcadi Volodos, piano

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MP3 | 320 KBPS | 128 MB

Every time Arcadi Volodos brings out a new record we are in for a treat. This time he tackles Schubert’s sonata D959, a piece he has been perfecting for years and it shows. The playing is wonderfully intimate, the recording quality superb. The second movement (andante) might be one of the best interpretations I have ever heard. The three minuets (D334, D335 D600) are true gems. The only criticism I have is the short duration. Less than an hour but apart from that 5 stars. [Philip Blackmarr]

Volodos, with his devotion to the work and the subtlety of his phrasing, turns my favorite late Schubert sonata into a magical musical experience, eclipsing even Krystian Zimerman’s wonderful recording.

I wouldn’t go that far, but he may have a point!

Aproveite!

René Denon

O órgão essencial de Franck, para começar (e o piano também) – REVALIDADO

Links revalidados por Pleyel em 2023 com uma saudosa memória:

Estive com o Ralf (Ranulfus) naquele que provavelmente foi o último recital de piano que ele assistiu ao vivo, em dezembro de 2022. Meu companheiro Willian tocou a Sonata de Liszt e Ralf afirmaria, horas depois:
“Não sou particularmente fã de Liszt, mas ver um amigo fazendo essa travessia épica, não tem como não emocionar!”

Pois bem, depois dessa travessia épica a gente conversava em um grupo pequeno e o nosso inesquecível Ranulfus não perdeu a oportunidade de falar naquele que sempre foi um de seus preferidos:

– Você toca algo de Franck?

Perguntou ele ao pianista. Havia um amigo violinista perto: essa pergunta costuma deixar bem atiçados os violinistas. Mas o pianista não tinha nada do franco-belga no seu repertório, de modo que Ralf acabou emendando em memórias de seus tempos de conservatório no sul, quando assistiu a uma master-class de Madame Magdalena Tagliaferro lhe contando seus segredos sobre César Franck. E sobre esses segredos, nos calaremos para não tornar a introdução maior do que a postagem original. Um sábio como Ranulfus certamente levou consigo alguns segredos desse tipo, tendo compartilhado muitos outros aqui conosco.

Senhoras e senhores: precisamente dois anos atrás, em 27.04.2010, o monge Ranulfus começava sua carreira neste blog – carreira um bocado irregular como tudo mais em sua vida nem tão monacal assim… – e a começava precisamente com este post. Talvez por isso lhe ficou sendo um post especialmente querido, que ele não gostaria de ver como grão chocho, sem link válido. Espero que vocês achem o mesmo!

. . . . . . .
Caríssimos co-freqüentadores, talvez alguns lembrem que há semanas eu vinha clamando e golpeando os portões do templo com os punhos: “Precisamos de Franck! Precisamos de Franck!”

Pois vocês não vão acreditar, mas aconteceu: de repente uma voz trovejou dos céus “então posta logo você mesmo esse Franck, e pára de pentelhar, porra!” No mesmo instante deu-se um clarão e eu me vi transportado a uma bolha transparente pousada sobre um píncaro gelado, e lá dentro, quem vejo? A equipe toda do blog – sim, Avicenna, Strava, Carlinus, CVL, FDP, Bluedog, CDF, todos diante do trono de Bach Pai, que tinha assentado à sua direita Carl Phillip, e à esquerda vocês já sabem quem: com sua voz de trovão, o próprio PQP!

E então… então me furaram o dedo e eu tive que assinar com o próprio sangue o juramento de jamais revelar os detalhes da orgi… da organização… mas por outro lado fui autorizado a oficiar os ritos de São César Franck – e ainda outros mais! – em nome de PQP Bach. E então, sentindo-me honrado além de todo merecimento, com profunda reverência e uma baita ressaca… eis-me aqui!

E já começo com um rápido jogo de corpo: suspeito que fui guindado aos céus justo pela minha proposta de postar a nova concepção de “obra organística completa de Franck”, gravada em 2006 em seis CDs (e não apenas nos dois usuais) por Hans-Eberhard Ross… mas depois que acordei percebi: apesar de toda a pompa da produção, a agógica de Ross, sua “declamação”, está longe de satisfatória: com freqüência a trama complexa de vozes cantantes, que fazem a grandeza de Franck, desaparece numa pasta de timbres belos mas informes.

E aí eu pensei: a moçada precisa ouvir outro Franck antes desse; um que dê pra entender! Além disso, que tal conhecer bem os pontos altos da obra (especialmente os 3 Corais e o Prelúdio, Fuga e Variação) antes de se meter com a infinidade de micro-peças litúrgicas gravadas por Ross?

E aí recorri à gravação de André Isoir, de 1977, feita num instrumento de Cavaillé-Coll, aquele sujeito que teve a sorte de passar à posteridade como “o organeiro de César Franck”.

É a melhor? Confesso que ainda não achei “a melhor”. Confesso mais: as gravações “feitas em casa” por Thomas Fürstberger, um professor de Ensino Médio alemão que toca órgão nas horas vagas, me tocam mais. Com freqüência acho que as execuções de amadores têm mais verdade, mesmo se com alguns esbarrões aqui e ali; chegam mais perto da alma do compositor – quem sabe justamente pelo sentido original da palavra “amador”. Mas pra quê postar aqui as gravações de Fürstberger se ele mesmo as oferece no seu site? Então vai o link do site dele, junto com o de download.

Isso é tudo, por hoje? Nããão! Acontece que junto ao clamor pelo órgão do Franck (epa!) eu também berrava: “E o Prelúdio, Coral e Fuga para piano! E o Prelúdio, Coral e Fuga!” – e aí encontrei um exemplar pra lá de interessante desse animal: a gravação de Alfred Cortot, de 1932, hoje em domínio público. Vale inclusive pra ver que, ao contrário de alguns outros famosos, Cortot não é apenas nome. O fato de haver uma ou outra esbarrada (como nas gravações de amadores) só faz suspeitar que as gravações perfeitas que compramos hoje não passam de “photoshop sonoro”. Pois a interpretação desse mestre de tantos pianistas se mostra ao mesmo tempo sóbria, intensa e transparente, fazendo cantar cada uma das vozes internas – uma interpretação digna de, digamos, um Alfred Cortot!

E agora vai lá. Espero que vocês tenham tanto prazer quanto eu!

César Franck por André Isoir, órgão (1977)
01 Prélude, fugue et variation op.18 (~1860)
02 Choral n°1 en mi majeur op.38 (1890)
03 Choral n°2 en si mineur op.39 (1890)
04 Choral n°3 en la mineur op.40 (1890)
05 Pièce heroïque (1878)
06 Final op.21 (~1860)

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Brinde:
Prelúdio, Coral e Fuga (1884) por Alfred Cortot (piano) em 1932

01 Prelude
02 Choral
03 Fugue

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Alternativa:
Os 3 Corais + o Prelúdio, Fuga e Variação por um amador competente

Página de Thomas Fürstberger: ACESSE AQUI

Ranulfus

Claudio Santoro (1919-1989): Obra Completa para Violino e Piano (Baldini / Santoro)

Claudio Santoro (1919-1989): Obra Completa para Violino e Piano (Baldini / Santoro)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Claudio Santoro foi um grande, um imenso compositor brasileiro. Além de talentoso, era alguém posicionado politicamente. Por exemplo, quando era jovem, teve seu visto recusado para estudar nos EUA por ser filiado ao PCB. Coerentemente, suas obras não são meras abstrações. Ou seja, ele foi um ser humano e um artista inteiro, se me entendem. No caso que exemplifiquei, o de seus estudos, a segunda opção era Paris… E ele foi estudar com Nádia Boulanger!

Santoro escreveu quatorze sinfonias, uma ópera (Alma), inúmeras obras orquestrais, concertos, quartetos e peças de câmara, tudo da melhor qualidade. Também foi professor fundador do Departamento de Música da Universidade de Brasília. Em 1979, fundou a Orquestra do Teatro Nacional de Brasília, atualmente Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, da qual foi regente titular até sua morte em março de 1989. 

Em nosso tempo, Emmanuele Baldini vem fazendo um notável trabalho de registro da música de concerto brasileira. E aqui ele está com o filho de Santoro, Alessandro, excelente pianista (e cravista) formado no conservatório de Moscou e responsável pelo acervo de seu pai. Desde os primeiros minutos de audição percebe-se que Baldini está encharcado de Santoro até os ossos. Com efeito, ele me escreveu dizendo que estudou tanto estas obras que teve a impressão de conhecer pessoalmente o compositor. E completo dizendo que esta impressão deveria ser maior por estar ao lado de seu filho. Isso é audível, a atenção de Baldini a Santoro não foi e nem poderia ser residual. Claudio Santoro merece este cuidado. É um compositor único. Tem um lirismo muito particular e forte, que conseguimos ver transposto e referindo realidades. O resultado é estupendo. Baldini e Alessandro Santoro dão um espetáculo de senso de estilo e competência neste excelente e, infelizmente, pouco conhecido repertório.

Claudio Santoro (1919-1989): Obra Completa para Violino e Piano (Baldini / Santoro)

CD1

01. Sonata No. 1 para Violino e Piano: Andante
02. Sonata No. 1 para Violino e Piano: Allegro

03. Sonata No. 2 para Violino e Piano: Allegro
04. Sonata No. 2 para Violino e Piano: Andante
05. Sonata No. 2 para Violino e Piano: Allegro Molto

06. Sonata No. 3 para Violino e Piano: Bien Rythmé
07. Sonata No. 3 para Violino e Piano: Allegro Moderato
08. Sonata No. 3 para Violino e Piano: Allegro Energico
09. Sonata No. 3 para Violino e Piano: Epílogo

10. Sonata No. 4 para Violino e Piano: Allegro
11. Sonata No. 4 para Violino e Piano: Lento
12. Sonata No. 4 para Violino e Piano: Allegro

13. Sonata No. 5 para Violino e Piano: Allegro
14. Sonata No. 5 para Violino e Piano: Lento
15. Sonata No. 5 para Violino e Piano: Vivo-molto
16. Sonata No. 5 para Violino e Piano: Allegro Molto

CD2

01. Sicilienne Op.1 para Violino e Piano

02. Op.4 para Violino e Piano

03. Sonata 1939 para Violino e Piano: I. Allegro
04. Sonata 1939 para Violino e Piano: II. Andante

05. Na Serra da Mantiqueira

06. Elegia No. 1 para Violino e Piano
07. Elegia No. 2 para Violino e Piano: Romance
08. Elegia No. 3 para Violino e Piano: Andante

Emmanuele Baldini, violino
Alessandro Santoro, piano

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Baldini e Santoro no resort de inverno da PQP Bach Corp.

PQP

Hans Werner Henze (1926-2012): Requiem, Nine Sacred Concertos For Piano Solo, Trumpet Concertante And Chamber Orchestra (Metzmacher)

Hans Werner Henze (1926-2012): Requiem, Nine Sacred Concertos For Piano Solo, Trumpet Concertante And Chamber Orchestra (Metzmacher)

Este é um Réquiem diferente. Um Réquiem sem solistas vocais nem coro. Um Réquiem instrumental. Com suas imagens de guerra e terror, angústia e esperança, é tentador ver neste ciclo de nove concertos de Henze um memorial para aquele capítulo da história alemã que se encerrou com a queda do Muro de Berlim. É preciso resistir à tentação: o compositor refutou categoricamente essa interpretação, pois a inspiração era pessoal, decorrente da morte de seu amigo, o Diretor Artístico da Sinfonietta de Londres, Michael Vyner, em 1989 e mais amplo do que a história de qualquer nação. Composto entre 1990 e 1992, o Réquiem  instrumental e não litúrgico foi estreado em 1993 em Colônia pelo grupo acima. Os grandes estouros do Dies irae e do Rex tremendae, provocados pelos acontecimentos da Guerra do Golfo em 1991, são conduzidos pela orquestra com a mesma segurança com que a delicadeza e a quietude exigidas no Lux aeterna e no Agnus dei. Para quem não conhece, Hans Werner Henze foi um compositor alemão residente na Itália, conhecido por suas opiniões políticas marxistas que influenciam na sua obra. Trocou a Alemanha pela Itália em 1953, em razão da intolerância as suas posições políticas e a sua homossexualidade.

Requiem, Nine Sacred Concertos For Piano Solo, Trumpet Concertante And Chamber Orchestra

1 I. Introitus: Requiem 4:03
2 Il. Dies Irae 7:19
3 Ill. Ave Verum 7:16
4 IV. Lux Aeterna 7:50
5 V. Rex Tremendae 7:20
6 Vl. Agnus Dei 7:57
7 Vll. Tuba Mirum 6:49
8 VIll. Lacrimosa 6:55
9 IX. Sanctus 7:29

Conductor – Ingo Metzmacher
Ensemble – Ensemble Modern
Piano – Ueli Wiget
Trumpet – Håkan Hardenberger

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Henze, este foi grande!

PQP

Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908): As Sinfonias / A Grande Páscoa Russa / Capricho Espanhol (Neeme Järvi)

Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908): As Sinfonias /  A Grande Páscoa Russa / Capricho Espanhol (Neeme Järvi)

Inspirado pela postagem do mano PQPBach, resolvi trazer estas obras pouco conhecidas e executadas de Rimsky-Korsakov. Gosto muito desse compositor, desde a primeira vez em que ouvi seu Capricho Espanhol, e lá se vão mais de três décadas. Na verdade, sou fá da música russa, então Tchaikovsky, Korsakov, entre outros são compositores russos que sempre estiveram entre meus favoritos.

Não tenho lembranças de quando nem como consegui este belo CD duplo da DG que traz as sinfonias (para mim até então desconhecidas) do russo. Já devo tê-lo há pelo menos uns dois ou três anos. E ainda mais com um de meus regentes favoritos da atualidade, Neeme Järvi. O bom e prolífico velhinho gravou excelentes CDs com esta orquestra sueca, a Gothenburg Symphony Orchestra.

Tudo bem, suas sinfonias não têm o mesmo impacto das sinfonias de Tchaikovsky, seu contemporâneo e amigo, mas são bem escritas e a orquestração é bem trabalhada. Järvi, na verdade, em alguns momentos consegue tirar leite de pedra, e o que poderia soar tedioso, graças à sua regência segura, consegue me satisfazer. Enfim, não sejamos tão críticos. Respeitemos o compositor da genial “Sherazade” e do fantástico “Vôo do Besouro”.

O CD se completa com a conhecidíssima Abertura do Festival da Páscoa, e talvez sua obra mais conhecida, o Capricho Espanhol.

Um belo CD, sem dúvida, e raro. Desconheço outras gravações destas sinfonias, devem até existir, mas fica o mérito do grande Järvi trazer a tona obras tão pouco interpretadas.

Pitaco de PQP: adorei este CD duplo. As sinfonias são surpreendentes, estranhas e muito bonitas, com destaque para as orquestrações sempre lindas de RK. Sobre os extras, nem preciso falar — são espetaculares. Neeme Järvi é um mestre. Faz jus às citadas e notáveis orquestrações do compositor. Não erra nunca, com sua sensibilidade e compreensão fazendo a GSO render o máximo. Aliás, ele é Maestro Emérito vitalício da orquestra que hoje tem Dudamel como titular.

Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908): As Sinfonias / A Grande Páscoa Russa? / Capricho Espanhol (Jarvi)

CD 1
01. Symphony no.1 in E minor op.1 I. Largo assai – Allegro
02. Symphony no.1 in E minor op.1 II. Andante tranquillo
03. Symphony no.1 in E minor op.1 III. Scherzo. Vivace – Trio
04. Symphony no.1 in E minor op.1 IV. Allegro assai

05. Symphony no.2 op.9 (Antar) I. Largo – Allegro – Largo – Allegretto – Adagio
06. Symphony no.2 op.9 (Antar) II. Allegro
07. Symphony no.2 op.9 (Antar) III. Allegro risoluto
08. Symphony no.2 op.9 (Antar) IV. Adagio

CD 2
01. Symphony no.3 in C major, op.32 I. Moderato assai – Allegro
02. Symphony no.3 in C major, op.32 II. Scherzo. Vivo – Moderato – Tempo I
03. Symphony no.3 in C major, op.32 III. Andante – Animato assai – Tempo I – att
04. Symphony no.3 in C major, op.32 IV. Allegro con spirito – Animato

05. Russian Easter Festival Overture (A Grande Páscoa Russa), op.36

06. Capriccio Espagnol, op.34 Alborada. Vivo e strepitoso – attacca
07. Capriccio Espagnol, op.34 Variazioni. Andante con moto – attacca
08. Capriccio Espagnol, op.34 Alborada. Vivo e strepitoso – attacca
09. Capriccio Espagnol, op.34 Scena e canto gitano. Allegretto – attacca
10. Capriccio Espagnol, op.34 Fandango asturiano

Gothenburg Symphony Orchestra
Neeme Järvi – Conductor

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Neeme Järvi no Festival de Verão do PQP Bach, o PQPaloosa.

FDPBach

W. A. Mozart (1756-1791): Quintetos de Cordas K. 515 & 516 (Ébène + Tamestit)

W. A. Mozart (1756-1791): Quintetos de Cordas K. 515 & 516 (Ébène + Tamestit)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eu, PQP Bach, amo estes dois Quintetos escritos por Mozart em sua fase final. O K. 515 e 516 são dois “quintetos de violas” na medida em que foram escritos para quarteto de cordas e uma viola extra (dois violinos , duas violas e violoncelo), contrariamente ao comum, que é dobrar o violoncelo. O K. 515, em dó maior, foi finalizado em 19 de abril de 1787, menos de um mês antes da conclusão do tempestuoso Quinteto em sol menor, K. 516. Esta não seria a última vez que um grande par de obras em dó maior / sol menor seriam publicadas em estreita proximidade e receberiam números Köchel consecutivos. No ano seguinte, as sinfonias 40 (sol menor) e 41 (dó maior) seriam concluídas com algumas semanas de diferença. Dizem que Mozart compôs estes dois quintetos de cordas só para mostrar ao recém-empossado rei Frederico Guilherme II da Prússia que era tão bom ou melhor do que Luigi Boccherini no formato que celebrizou o italiano… Frederico Guilherme, que sucedeu a Frederico o Grande, era ótimo violoncelista. Fez isso porque teria chegado a seus ouvidos que Boccherini era candidato ao posto de diretor da música na corte da Prússia. Nesta gravação, o Ébène convida o amigo e violista Antoine Tamestit para tocar estas duas obras lindas e contrastantes. Os movimentos lentos estão de cortar os pulsos, mas com alegria…

W. A. Mozart (1756-1791): Quintetos de Cordas K. 515 & 516 (Ébène + Tamestit)

String Quintet No.3 In C, K.515
1 Allegro
2 Menuetto (Allegretto)
3 Andante
4 Allegro

String Quintet No.4 In G Minor, K. 516
4 Allegro
5 Menuetto (Allegretto)
6 Adagio Ma Non Troppo
7 Adagio-Allegro

Cello – Raphaël Merlin
Ensemble – Quatuor Ebène
Viola – Antoine Tamestit, Marie Chilemme
Violin – Gabriel Le Magadure, Pierre Colombet

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Acima, o Ébéne posando sem Tamestit.

PQP