Se é surpreendente que Brahms tenha composto obras para órgão, o que se dirá quando algum de nós resolver postar seus motetos… Sim, são obras em que Brahms tenta fingir ser meu pai e não é uma má tentativa, muito pelo contrário. Brahms é denso e tinha a mesma queda de meu pai aos intricados jogos das fugas. Trata-se de muito boa música, principalmente os Onze Prelúdios Corais, Op. 122, escritos quando meu pai já o chamava para fazer-lhe companhia no céu — opa, os crentes vão gostar desta frase saída da pena de um ateu! Mas eu ia dizer que esta foi a última obra escrita por Brahms.
O que realmente não dá para entender é que tais peças — ouçam-nas! — sejam raramente ouvidas. Não parece Brahms, não parece Bach, parece um compositor novo, desconhecido, que faz música de primeira linha.
Johannes Brahms (1833-1897): Integral das composições para órgão
1. Prelude and Fugue in G minor 00:07:25
2. Fugue in A flat minor 00:07:53
11 Chorales Preludes, Op. 122
3. Mein Jesu, der du mich 00:06:20
4. Herzliebster Jesu 00:03:47
5. O Welt, ich muss dich lassen 00:03:41
6. Herzlich tut mich erfreuen 00:02:21
7. Schmucke dich, o liebe Seele 00:02:48
8. O wie selig seid ihr doch 00:02:00
9. O Gott, du frommer Gott 00:06:20
10. Es ist ein Ros’ entsprungen 00:02:37
11. Herzlich tut mich verlangen 00:02:35
12. Herzlich tut mich verlangen 00:04:18
13. O Welt, ich muss dich lassen 00:03:29
14. Chorale Prelude and Fugue on ‘O Traurigkeit, o Herzeleid’ 00:08:58
Confesso que fiquei surpreso quando nosso mentor PQPBach mandou dia destes uma solicitação da Segunda Sinfonia de Rachmaninov. Quase perguntei se era correta sua solicitação, de repente ele podia estar atrás da sinfonia de mesmo número de outro compositor, mas pelo tipo de pergunta e pelo motivo da solicitação entendi que era realmente a Segunda Sinfonia de Rachmaninov que ele pedia. Sabemos que ele não é muito fã deste compositor, por isso a dúvida. Informei então que tinha a caixa da DG onde o grande Lorin Maazel gravara a integral das sinfonias, as Danças Sinfônicas e o poema sinfônico ‘Ilha dos Mortos”, frente a Filarmônica de Berlim. Ele aceitou imediatamente. Na verdade, esta postagem nada mais é que uma repostagem de uma original que fiz lá nos primórdios do PQPBach, em 2007.
Então em atenção á solicitação de nosso mestre / guru / mentor estou trazendo esta bela caixa. Ah, de quebra os senhores ainda levam os concertos para piano, nas mãos de Támás Vásáry, é mole, ou querem mais?
CD 1
Symphony No. 2 in E minor op. 27 e-moll · en mi mineur A
1. Largo – Allegro moderato
2. Allegro molto
3. Adagio
4. Allegro vivace
Symphony No. 1 in D minor op. 13 d-moll · en ré mineur
1. Grave – Allegro ma non troppo – Allegro vivace
2. Allegro animato
CD 2
Symphony No. 1 in D minor (cont.)
3. Larghetto
4. Allegro con fuoco
Symphony No. 3 in A minor op. 44 a-moll · en la mineur
1. Lento – Allegro moderato – Allegro
2. Adagio ma non troppo – Allegro vivace
3. Allegro – Allegro vivace
4. The Rock op. 7
Fantasy »Der Fels« ·
« Le Rocher »
5 Intermezzo from the opera Aleko
6 Allegro pastorale
7 Vocalise op. 34 no. 14 Lentamente
CD 3
1 The Isle of the Dead op. 29
Symphonic Poem »Die Toteninsel« · « L’Île des morts » Lento – Tranquillo – Largo – Allegro molto – Largo – Tempo I
Symphonic Dances op. 45
2 1. Non allegro
3. Andante con moto (Tempo di valse)
4. Lento assai – Allegro vivace – Lento assai come prima
Berliner Philharmoniker
LORIN MAAZEL
Rhapsody on a Theme by Paganini for Piano and Orchestra op. 43
5 Introduction – Variations I–VI
6 Variations VII–X
7 Variations XI–XV
8 Variations XVI–XVII
9 I Variation XVIII A tempo vivace – Variations XIX–XXIV
TAMÁS VÁSÁRY piano
London Symphony Orchestra
YURI AHRONOVITCH
CD 4
Concerto for Piano and Orchestra No. 1 in F sharp minor op. 1 fis-moll · en fa dièse mineur
Concerto for Piano and Orchestra No. 2 in C minor op. 18 c-moll · en ut mineur
4 1. Moderato – Più vivo – Allegro – Maestoso. Alla marcia – Moderato
5.2 Adagio sostenuto
3. Allegro scherzando – Moderato – Presto – Moderato – Allegro scherzando – Alla breve – Presto – Maestoso – Risoluto
CD 5
Concerto for Piano and Orchestra No. 3 in D minor op. 30 d-moll · en ré mineur
1. Allegro ma non tanto
2. Intermezzo. Adagio – attacca:
3. Finale. Alla breve 14:19
Concerto for Piano and Orchestra No. 4 in G minor op. 40 g-moll · en sol mineur
4 1. Allegro vivace
5 2. Largo – attacca subito:
6 3. Allegro vivace
TAMÁS VÁSÁRY piano
London Symphony Orchestra
YURI AHRONOVITCH
Gente, este é um LP de 1964 (capa ao lado) que foi relançado em CD em 1991 (nova capa no link para os créditos). Como não parece haver muito interesse sobre ele, como é bom e como é uma curiosidade cheia de temas instrumentais e o escambau, nos interessa.
A admiração mútua entre Tom e Caymmi foi um fato. Tanto que 30 anos depois, quando Tom se despediu de nós com o maravilhoso Antônio Brasileiro, ele ainda trazia Caymmi. Neste disco de 1994, temos Maracangalha e Maricotinha, duas canções do baiano. Já Caymmi visita Tom é uma curiosidade porque ambos se equilibraram entre o samba-canção, a bossa nova e os temas instrumentais tendendo ao jazz. Mas também é incrível pela alta qualidade musical. Eu curti.
Dorival Caymmi & Tom Jobim – Caymmi visita Tom e leva seus filhos Nana, Dori & Danilo
A1 … Das Rosas
A2 Só Tinha Que Ser Com Você
A3 Inútil Paisagem
A4 Vai De Vez
A5 Canção Da Noiva
B1 Saudades Da Bahia
B2 Tristeza De Nós Dois
B3 Berimbau
B4 Sem Você
Uns gostam de sinfonias, outros de ópera, outros ainda gostam de quartetos de cordas. Como dizem essas camisetas que compramos para presentear os cunhados, eu gosto de todas! Mas, tenho um particular gosto por concertos para piano. Vá lá, concertos para cravo também, que tudo começou com o Johann Sebastian Bach. Melhor ainda se interpretados ao piano.
Depois de Mozart (mais de vinte), Beethoven (cinco e meio) e Brahms (dois), o número de concertos por compositor foi caindo. É verdade que a exigência em qualidade e, principalmente, originalidade, aumentou muito. A comparação com as obras precedentes já estabelecidas é apenas um dos muitos desafios que um compositor precisa enfrentar se quiser compor um novo concerto.
Outro grande desafio é iniciar a obra ganhando a atenção e a aceitação do público. Como prender a atenção de todos nos primeiros dez, vinte segundos nos quais a peça é lançada ao ar da sala de concerto ou do auditório?
Prokofiev, no seu genial Concerto para Piano No. 3, inicia com uma lindíssima e sedutora melodia no primeiro clarinete. Golpe de mestre! Mas o compositor da postagem é Ravel. Ele lança seu concerto em sol maior com um estalo de chicote! Eu sempre imaginava o maestro olhando para o carroceiro Alfio, emprestado da ópera Cavalleria Rusticana de Mascagni, pronto para estalar seu poderoso chicote. Bem menos interessante que isso, o chicote usado nas orquestras consiste de duas tabuinhas que o percussionista bate uma na outra, fazendo estalar o chicote. E aí segue o solista mandando ver no teclado, glissandos para cima e para baixo.
Isto é só o começo. Como o concerto foi composto em Paris, entre 1929 e 1931, jazz estava nos ares da cidade. Até o Pixinguinha andou por lá, como nos ensinou o Pleyel. A influência do jazz torna o concerto muito moderno, mas também muito bonito.
O movimento lento inicia com o maestro e toda a orquestra só escutando o solista por uns bons minutos, num dos trechos mais bonitos composto para piano. Só bem depois é que a flauta e outros instrumentos de sopro se juntam ao solista. É de arrepiar!
O último movimento é para fechar os trabalhos com brilho e alegria, assim como Mozart fez em seus concertos, mas aqui com uma dose jazzística de modernidade.
Na sequência do disco, o Concerto para Mão Esquerda, composto na mesma época que o Concerto em sol maior, mas são assim como Esaú e Jacó esses dois irmãos. Em outra postagem falarei mais desse outro concerto, prometo.
Para apresentar essas maravilhas do século XX, a postagem traz Jean-Philippe Collard, ótimo pianista. Suas gravações de Rachmaninov dessa mesma época são excelentes. A Orquestra Nacional Francesa é regida nesta gravação por Lorin Maazel e o disco ganhou o Prêmio da Gramophone de 1980, na categoria de Concerto.
Para completar o CD algumas peças para piano solo, fechando com um arranjo para dois pianos de La valse, faixa na qual Michel Beroff se junta ao Collard.
Há outras (lendárias) gravações do concerto em sol maior, como a do Arturo Benedetti Michelangeli e a da Martha Argerich, em especial a que faz dobradinha com o Concerto No. 3 de Prokofiev. Mas hoje, o Collard é o cara da postagem.
A Sinfonia No. 9 é o coroamento do trabalho sinfônico de Bruckner. Um portento, uma esplêndida obra-prima que ficou inacabada. Quando da sua morte, ele ainda trabalhava na composição da sinfonia. Esta gravação de Celibidache possui a eletricidade e a emoção dos registros ao vivo e ombreia-se às versões de Wand, Haitink e Nelsons. Mas vejam bem, os quatro citados na frase anterior são deuses. Sim, estamos no Olimpo da música. E quem os coloca lá é Bruckner.
Porém, neste álbum que ora postamos, há excertos dos ensaios de Celibidache. Mesmo — meu caso — não entendendo alemão, nota-se como suas correções vão inequivocamente melhorando a música. É uma gravação para ser ouvida várias vezes e ainda aprender.
A Sinfonia foi estreada postumamente em 1903 e Bruckner teria a dedicado a seu amado deus, mas tal fato não é comprovado por nenhum documento. O terceiro movimento ficou pronto em 1894, um Adagio esplêndido. O compositor viveu mais dois anos, mas sua saúde já não permitia o empenho necessário e morreu sem que o quarto e último movimento estivesse concluído. O que já havia escrito não era nada mais do que um esboço. Diante disso, ele recomendou que se tocasse como finale o seu “Te Deum”, obra coral religiosa que conferiria à sua Nona um formato semelhante ao da Nona de Beethoven. Mas o que todo regente faz hoje é apresentar a obra tal como ela ficou, inacabada.
Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia No. 9 em Ré Menor
01. Applause
02. I. Feierlich, Misterioso
03. II. Scherzo. Bewegt, lebhalt – Trio. Schnell
04. III. Adagio. Langsam, feierlich
05. IV. Applause
06. Excerpts from the rehearsals
07. Excerpts from the rehearsals
08. Excerpts from the rehearsals
09. Excerpts from the rehearsals
10. Excerpts from the rehearsals
11. Excerpts from the rehearsals
12. Excerpts from the rehearsals
13. Excerpts from the rehearsals
14. Excerpts from the rehearsals
Edition: Leopold Nowak
Münchner Philharmoniker
Sergiu Celibidache, regente
Uma orquestra diminuta, como deve ser. Um crav… Ops, um piano? Pois é. Mas tem cravo? Sim, tem. Onde? Fazendo o baixo contínuo, ora bolas. Sim, a esquisitice deste disco, mesmo com a maestria de Angela Hewitt, custou a se acomodar em meu combalido cérebro. Aqui nós temos todos os sete Concertos para Cravo, mais o Concerto de Brandemburgo Nº 5 e o Triplo. Ouvi tudo duas vezes até gostar moderadamente. Mas não se compara com outros registros historicamente informados. Confesso que achei que estivesse presa de alucinações auditivas quando ouvi um cravo tagarelando atrás do piano na gravação do quinto Concerto de Brandemburgo de Bach… Comecei a pensar em qual seria o motivo (ou a tese) para usar como solista um piano de cauda de concerto em vez de um cravo de dois teclados, mas mesmo assim chamar o auxílio do velho instrumento? Apesar do oximoro musical de ter os dois instrumentos na mesma peça ao mesmo tempo, a versão de Hewitt e da Orquestra de Câmara Australiana funciona.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Todos os Concertos para Teclado
CD1:
Keyboard Concerto No 1 In D Minor BWV1052 (22:46)
Allegro 7:37
Adagio 7:17
Allegro 7:50
Keyboard Concerto No 7 In G Minor BWV1058 (14:04)
[First Movement] 3:41
Andante 6:34
Allegro Assai 3:50
Brandenburg Concerto No 5 In D Major BWV1050 (19:59)
Allegro 9:41
Affettuoso 5:02
Allegro 5:14
Triple Concerto In A Minor BWV1044 (20:07)
Allegro 8:35
Adagio Ma Non Tanto E Dolce 4:36
Tempo Di Alla Breve 6:56
CD2:
Keyboard Concerto No 4 In A Major BWV1055 13:41
Allegro 4:06
Larghetto 4:55
Allegro Ma Non Tanto 4:39
Keyboard Concerto No 3 In D Major BWV1054 16:13
[First Movement] 7:29
Adagio E Piano Sempre 6:05
Allegro 2:37
Keyboard Concerto No 2 In E Major BWV1053 19:15
[First Movement] 8:02
Siciliano 4:43
Allegro 6:28
Keyboard Concerto No 5 In F Minor BWV1056 9:47
Allegro 3:28
Adagio 2:57
Presto 3:19
Keyboard Concerto No 6 In F Major BWV1057 16:33
[First Movement] 7:21
Andante 4:09
Allegro Assai 5:02
Angela Hewitt, piano
Australian Chamber Orchestra
Richard Tognetti
Eu já não me lembro qual das sonatas para piano de Beethoven ouvi primeiro. Certamente uma do triunvirato – Pathétique, Appassionata ou Ao Luar. Lembro-me de um LP da Supraphon com o pianista Jan Panenka. Mas posso estar errado, minha memória anda rebelde, lembra-se apenas daquilo que quer. Supraphon era, assim, a Naxos daqueles dias nos quais os LPs chegavam ao interior do Brasil em caixas de madeiras de formato cúbico, levadas por kombis que iam sacolejando por estradas poeirentas ou lamacentas, dependendo da sorte do vendedor.
A Hammerklavier veio bem depois e não foi fácil. Lembro-me agora bem dos CDs da Deutsche Grammophon com as últimas gravações do Emil Gilels, que eu ia comprando quando já morava aqui, na grande cidade. Estes CDs já morreram, oxidados. Ainda guardo os livretos, mas os falecidos foram devidamento substituidos pela caixota de nove CDs nos quais estão todas as sonatas que o Emil conseguiu gravar naquela ocasião. Não é um ciclo completo. Falta a última sonata, por exemplo (sigh). Mas entre elas uma imensa, enorme Hammerklavier, com um dos mais lindos e perfeitos Adagio sostenuto que já ouvi.
Mas não estamos aqui para falar do passado, vamos ao (quase) presente. Comprei este disco que estou postando assim que bati os olhos nele. Pois é, eu ainda vou a lojas (as que restaram) de CDs, com aquela expectativa de encontrar algo que acelere as batidas do coração e que crie aquela ansiedade de, ao chegar em casa, na primeira audição, confirmar o antecipado prazer. Estes momentos estão se tornando mais e mais raros, mas este disco me deu essas sensações no ano passado.
Ouço gravações do Murray Perahia há muito tempo. Ele me ensinou que Chopin é coisa demais de boa e dá-me constante aulas sobre os concertos para piano de Mozart. Mais recentemente ele andou pelas terras barrocas e eu fui junto, com muito prazer. Já havia ouvido algumas de suas gravações de sonatas para piano de Beethoven, mas este disco está demais. Vejam, na minha opinião, a Hammerklavier é assim, uma sonata mais cabeça, enquanto a Ao Luar, mais coração. E é aí onde mora o perigo! Muita cabeça ou muito coração pode não ser uma boa coisa. Creio que ele conseguiu um equilíbrio que me fizeram ouvir essas sonatas com o mesmo prazer de ouví-las pela primeira vez, de (re)descobrimento. Eu não conheço outro disco que junte as duas sonatas. Só estão juntas nas integrais, mas mesmo aí, em discos separados. Ele ousou e creio que fez muito bem.
Talvez não seja nada disso, talvez eu esteja apenas ficando nostálgico. Mesmo assim, vá em frente. Se você gosta de piano e de boa música, estará em ótimas mãos! Que o disco lhe agrade a mente e o coração!
Sonata para piano No. 29, em si bemol maior “Hammerklavier”, op. 106
Allegro
Scherzo. Assai vivace
Adagio sostenuto
Largo – Allegro risoluto
Sonata para piano No. 14 em dó sustenido menor, “Ao Luar”, op. 27, 2
Este CD também poderia ser chamado de Obras Completas para Piano e Orquestra de Mendelssohn.
Bem, nos últimos anos, Ragna Schirmer ascendeu ao posto de uma das melhores pianistas da Alemanha. Desta vez, ela se volta para Felix Mendelssohn, cujas obras completas para piano e orquestra ela apresenta junto com a Orquestra Sinfônica de Rádio Saarbrücken, conduzida por Günther Herbig. Esta gravação é mais uma vez resultado de muito estudo por parte de Ragna. E o Mendelssohn dela é bem animado. A pianista se delicia no ato de fazer música. A pianista encontrou em Günter Herbig um parceiro experiente e com o claro sentimento da leveza dessa música. Uma gravação muito boa, calorosamente romântica.
Felix Mendelssohn (1809-1847): Concertos para Piano Nº 1 e 2 / Capricho Brilhante / Serenata / Rondó Brilhante
Piano Concerto No. 1 in G minor, Op. 25
1)I. Molto allegro con fuoco
2) II. Andante
3) III. Presto
4) Capriccio brillant in B minor, Op. 22
Piano Concerto No. 2 in D minor, Op. 40
5) I. Allegro appassionato
6) II. Adagio – Molto sostenuto
7) III. Finale: Presto scherzando
8) Serenade and Allegro giocoso, Op. 43
9) Rondo brillant in E flat major, Op. 29
Ragna Schirmer, piano
Radio Symphony Orchestra Saarbrücken
Günther Herbig
Até agora, grande parte das obras de Antonin Dvorák que foram postadas aqui no PQPBach eram obras dedicadas a um instrumento solista com orquestra, ou alguma outra obra orquestral, como as Sinfonias, Poemas Sinfônicos ou As Danças Eslavas.
Gostaria de apresentar aos senhores um outro Dvorák, o das obras para Câmara. Pretendo dar prosseguimento à belíssima coleção do selo tcheco Supraphon, dos quais já trouxe as sinfonias de Dvorák na histórica gravação de Vaclav Neuman com a Filarmônica Tcheca, e trazer os CDs da série dedicados à quase desconhecida obra de Câmara deste compositor. Teremos Trios para Piano, Quartetos de Corda, Quartetos com Piano, enfim, pretendo que esta série seja a mais completa possível. Como citei acima, trata-se de projeto do selo Supraphon, então talvez em alguns casos os músicos envolvidos não sejam tão conhecidos, mas lhes garanto a qualidade.
Por estar encantado com os Trios para Piano, começarei com o segundo volume da coleção. É de se ouvir com muita atenção.
CD 1
01. Piano Trio No. 1 in B flat major, B. 51 (Op. 21)- Allegro molto
02. Piano Trio No. 1 in B flat major, B. 51 (Op. 21)- Adagio molto e mesto
03. Piano Trio No. 1 in B flat major, B. 51 (Op. 21)- Allegretto scherzando
04. Piano Trio No. 1 in B flat major, B. 51 (Op. 21)- Finale, Allegro vivace
05. Piano Trio No. 2 in G minor, B. 56 (Op. 26)- Allegro moderato
06. Piano Trio No. 2 in G minor, B. 56 (Op. 26)- Largo
07. Piano Trio No. 2 in G minor, B. 56 (Op. 26)- Scherzo, Presto
08. Piano Trio No. 2 in G minor, B. 56 (Op. 26)- Finale, Allegro non tanto
CD 2
01. Piano Trio No. 3 in F minor, B. 130 (Op. 65) (once listed as Op. 64) Allegro
02. Piano Trio No. 3 in F minor, B. 130 (Op. 65) (once listed as Op. 64) Allegre
03. Piano Trio No. 3 in F minor, B. 130 (Op. 65) (once listed as Op. 64) Poco ad
04. Piano Trio No. 3 in F minor, B. 130 (Op. 65) (once listed as Op. 64) Finale,
05. Piano Trio No. 4 in E minor (‘Dumky’), B. 166 (Op. 90) Lento maestoso
06. Piano Trio No. 4 in E minor (‘Dumky’), B. 166 (Op. 90) Poco adagio
07. Piano Trio No. 4 in E minor (‘Dumky’), B. 166 (Op. 90) Andante
08. Piano Trio No. 4 in E minor (‘Dumky’), B. 166 (Op. 90) Andate moderato
09. Piano Trio No. 4 in E minor (‘Dumky’), B. 166 (Op. 90) Allegro
10. Piano Trio No. 4 in E minor (‘Dumky’), B. 166 (Op. 90) Lento maestoso
Este é mais um arquivo que nos foi repassado pelo querido amigo pequepiano WMR.
Um lindo e prazeroso CD com obras de Monteverdi magnificamente tocadas pelos especialistas belgas do Huelgas Ensemble. Monteverdi é considerado o último grande madrigalista, certamente o maior compositor italiano de sua geração, um dos grandes operistas de todos os tempos e uma das personalidades mais influentes de toda a história da música do ocidente. Não inventou nada novo, mas sua elevada estatura musical deriva de ter empregado recursos existentes com uma força e eficiência sem paralelos em sua geração, e integrado diferentes práticas e estilos em uma obra pessoal rica, variada e muito expressiva, que continua a ter um apelo direto para o mundo contemporâneo ainda que ele não seja exatamente um compositor popular nos dias de hoje.
Claudio Monteverdi (1567-1643): The Mirror Of Claudio Monteverdi
1 I. Kyrie
Composed By – Claudio Monteverdi
4:10
2 Laura Che’l Verde Lauro
Composed By – Nicola Vicentino
Lyrics By [Canzoniere, CCXLVI] – Francesco Petrarca
5:25
3 II. Gloria
Composed By – Claudio Monteverdi
5:57
4 Amor, I’ho Molti E Molt’anni Pianto
Composed By – Cesare Tudino
4:53
5 III. Credo
Composed By – Claudio Monteverdi
11:31
6 Mia Benigna Fortuna
Composed By – Giaches De Wert
6:02
7 IV. Sanctus
Composed By – Claudio Monteverdi
4:24
8 Solo E Pensoso
Composed By – Luca Marenzio
6:21
9 V. Agnus Dei
Composed By – Claudio Monteverdi
10:24
Choir – Huelgas Ensemble*
Chorus Master, Liner Notes – Paul Van Nevel
Este é mais um arquivo que nos foi repassado pelo querido amigo pequepiano WMR.
Um surpreendente e bonito disco de obras pouco visitadas de Debussy. São canções muito bonitas, a quintessência da melodia francesa e também da arte do compositor. A cantora greco-alemã Stella Doufexis é sensível à música da língua francesa e tem pronúncia melhor que a maioria dos cantores franceses. Falo sério. Muitas vezes o disco torna-se mágico, recriando a atmosfera simbolista da virada do XIX para o XX. Estão aqui reunidos ciclos de poemas de autores esquecidos ou famosos (Mallarmé e Verlaine) onde a escrita refinada e tipicamente francesa de Debussy se expressa em total liberdade. Com seu tom caloroso, Stella Doufexies é a intérprete ideal destes poemas com humores às vezes escuros, às vezes felizes ou nostálgicos. Sua capacidade de trazer os textos para a vida é simplesmente fascinante. O acompanhamento preciso e em perfeita harmonia do especialista no gênero Daniel Heide, também é digno de nota.
Claude Debussy (1862-1918): Poèmes
1 Nuit D’étoiles 3:17
2 Fleur Des Blés 2:02
Deux Romances (04:18)
3 1. Romance 2:06
4 2. Les Cloches 2:12
Fêtes Galantes (07:30)
5 1. En Sourdine 3:05
6 2. Fantoches 1:14
7 3. Clair De Lune 3:11
Le Promenoir Des Deux Amants (06:22)
8 1. La Grotte 2:16
9 2. Crois Mon Conseil, Chère Climène 1:46
10 3. Je Tremble En Voyant Ton Visage 2:20
Trois Poèmes De Stéphane Mallarmé (08:33)
11 1. Soupir 3:14
12 2. Placet Futile 2:30
13 3. Éventail 2:49
Cinq Poèmes De Charles Baudelaire (28:00)
14 1. Le Balcon 8:22
15 2. Harmonie Du Soir 4:33
16 3. Le Jet D’eau 5:50
17 4. Recueillement 5:50
18 5. La Mort Des Amants 3:25
Mezzo-soprano Vocals – Stella Doufexis
Piano – Daniel Heide
Götterdämmerung: a mais grandiosa das quatro óperas do ciclo O Anel do Nibelungo. Composta entre 1869 e 1874, sua estréia ocorreu no Bayreuth Festspielhaus, Bayreuth, em 17 de agosto de 1876, como parte da primeira apresentação completa da Saga do Anel. A Canção dos Nibelungos (conjunto de poemas medievais alemães), é a fonte de inspiração para o “O Crepúsculo dos Deuses”.
Götterdämmerung é musicalmente genial, embora seja narrativamente mais fraco (comparado à Die Walkürie e Das Rheingold). Temos uma Brünnhilde humana, um Hagen dual, um Gunther fraco, um Siegfried com seus defeitos e não mais estereotipado como na ópera anterior. Quanto tempo dura Götterdämmerung? O primeiro ato sozinho passa um pouco de duas horas, mais do que o La Bohème de Puccini em sua totalidade. Para a orquestra e os cantores, numa apresentação ao vivo, é um dos testes de resistência mais difíceis do repertório operístico. Para se ter uma idéia da grandiosidade desse espetáculo, nesta ópera está a cena mais difícil de se representar da história do teatro (última cena do último ato, falarei sobre ela). Analisando percebe-se que, narrativamente falando, sua duração imponente é parcialmente gratuita, com quase uma hora revirando a história e fazendo um resumão dos acontecimentos das três partes anteriores. Pode ser redundante, mas esta exposição ajuda alguém que não conhece as outras peças a entrar e acompanhar a história. A ópera em três atos mostra a caminhada de Sigfried e Brünnhilde ao encontro da morte, levando com eles os deuses e todo o mundo dos antigos. Um novo mundo pode nascer na Terra. Götterdämmerung é a tradução alemã para a palavra em nórdico antigo Ragnarök, que em português seria o Crepúsculo dos Deuses. Götterdämmerung continua a história de Siegfried, filho de Siegmund, e ainda mais que “Die Walkürie e Siegfried”, mudanças drásticas no mito ocorrem, inclusive a própria interpretação do Crepúsculo dos Deuses.
Além das inovações formais já iniciadas por Wagner à ópera, temos em Götterdämmerung um prelúdio antes da 1ª cena. O prelúdio pode ser dividido em duas partes, a primeira onde as Nornas tecem o fio do destino, as três Nornas, filhas de Erda, tecem a trama do destino do mundo. Mas o fio com que trabalham rompe-se de repente, quando procuram desvendar o paradeiro do ouro do Reno: ali também se fazem sentir as consequências da maldição de Alberich. Doravante, o destino dos deuses está selado. O canto das Nornas é belíssimo, elas contam em poucas linhas a história passada e a futura. A segunda parte do prólogo, após uma breve e bela Orchesterzwischenspiel, mostra Siegfried e Brünnhilde saindo de uma gruta, onde a ex-Valkíria afirma que Siegfried deve prosseguir em sua jornada, com mútuas promessas de fidelidade Siegfried como prova de amor lhe dá o anel que tomou de Fafner e ela lhe dá o seu cavalo e seu escudo de Valkíria. Podemos ver no prólogo que o Siegfried de Götterdämmerung não é o mesmo Siegfried de “Siegfried”. O personagem está mais humano e heróico (até na música), e não é mais aquele estereótipo-bombadão. Dá uma prova de amor na mesma medida em que recebe. A música em Götterdämmerung é muito mais sóbria que nas outras óperas da saga, e não é exagerada como “Die Walkürie”, mas ainda possui peso e expressividade.
A primeira cena se passa no palácio de Gunter, próximo ao Reno. Gunter é o rei dos Gibichungos onde Hagen (meio-irmão do rei Gunther) e Gutrune (irmã) estão presentes. Gunther pergunta sobre sua popularidade, e Hagen (depois de fazer mistério), afirma que sua popularidade não é satisfatória porque ambos (Gunther e Gutrune) não são casados. Hagen, filho de Alberich e Grimhilde, mãe também de Gunther e da moça Gutrune, aproveita-se do diálogo para enredar os irmãos em seus planos: instigado por Alberich, pretende apossar-se do anel. Ambos devem casar-se, diz: Gunther com a bela Brunnhilde e Gutrune com o valoroso Siegfried. Não será fácil, porém, concretizarem o projeto, já que Brunnhilde vive cercada por uma barreira de fogo e Siegfried não vê encantos em mulher que não seja a ex-Valquíria. Uma possibilidade existe, no entanto; basta que Gutrune ofereça a Siegfried uma bebida mágica e o rapaz, a um só tempo, deixar-se-á enamorar por ela e consentirá em conquistar Brunnhilde para Gunther. Como no cinema e no teatro, na ópera também a conveniência das situações fala mais alto: Siegfried chega justamente quando estão discutindo como encontrá-lo. Hagen o convida para entrar, e fecha-se a cena.
A cena dois mostra como Siegfried e Gunther se conhecem pessoalmente. Sigfried convida Gunther para medirem forças, mas o outro prefere recebê-lo como hóspede. Siegfried desconhecia o poder do Tarnhelm, que Hagen explica seu poder. Gutrune dá a bebida do esquecimento a Siegfried, e ele esquece totalmente de Brünnhild, e promete tirá-la das chamas e entregar a Gunther em troca da mão de Gutrune. Siegfried foi enganado em sua ingenuidade (justificável, devido sua criação), e essa cena é muito coerente e bem feita, mas, há um ponto que foi esquecido: CADÊ A CLARIVIDÊNCIA DE SIEGFRIED??? O dragão lhe concedeu a clarividência em “Siegfried”, e aparentemente não foi capaz de usá-la agora… esquece, sem poção não há história, então…
Na terceira cena volta aonde está Brünnhilde, a Valkíria Waltraute chega, narrando a Brünnhilde a decadência do Walhalla. Waltraute tenta convencer a irmã de devolver o anel ao Reno (lembrando também da maldição de Alberich), o que Brünnhilde recusa-se a fazer. Após esse discurso, Waltraute vai embora triste, e Siegfried surge (disfarçado de Gunther devido o Tarnhelm). Siegfried subjuga Brünnhild para levá-la (como Gunther), mas ela reconhece sua voz (uma magnífica performance vocal, entre Tenor e Barítono), e ao final ele fala em sua voz normal, afirmando que ele e Gunther são irmãos de sangue.
A primeira cena do segundo ato é uma das mais sinistras e controversas. Hagen está na corte como guarda (adormecido) e Alberich aparece (ou não). Nessa cena há o diálogo entre Hagen e Alberich (filho e pai). Muito se infere desse diálogo, entre elas que Alberich não está materialmente, mas sim nos sonhos, e é uma projeção do próprio Hagen. Pode-se inferir também uma conexão do real e do onírico. A música é sombria, e o diálogo impressionante. Vale a pena conferir (AQUI libreto e texto). Na segunda cena do segundo ato Siegfried chega, afirmando a Hagen que tudo saíra como o planejado, e se coloca a disposição para organizar os dois casamentos. Temos uma melhor descrição de Hagen, que aparece esnobe e irônico. Na cena terceira temos mais Hagen, onde ele brinca com os soldados dando-lhes as boas novas, o que os soldados se espantam, pois, Hagen é carrancudo. Hagen aparece nesse ato múltiplo, mas coerente, podemos inferir algumas coisas sobre suas atitudes. A terceira cena é uma confusão, causada por Brünnhilde, e onde novamente Hagen se destaca. Siegfried defende-se e Brünnhilde o acusa, causando uma confusão geral onde ninguém entende nada (exceto o leitor/ouvinte). Na última cena do segundo ato, Hagen se oferece em amizade à Brünnhilde, e junto com Gunther tenta compreender a confusão da outra cena. Hagen incita a pena capital ao “traidor” Siegfried, enquanto Gunther como sempre indeciso e manipuladíssimo. Hagen pergunta a Brünnhilde se e como Siegfried pode ser morto, e ela o informa que ele é um herói poderoso e não pode ser vencido em combate, mas pode ser atingido pelas costas. A explicação aqui para a invulnerabilidade de Siegfried não é o sangue de dragão do Nibelungenlied, mas as artes de Brünnhilde que lhe protegem dos ferimentos. Como Siegfried jamais daria as costas em fuga para um inimigo, ela não o protegeu nas costas. A última cena do terceiro ato termina com Hagen convencendo Gunther a aceitar a morte de Siegfried. No terceiro ato, Siegfried se perde de seu grupo de caça (que incluia Gunther e Hagen), e depara-se com as ninfas do Reno. Elas lhe contam a história da maldição, e afirmam que Siegfried será liquidado assim como Fasolt, Fafner e todos que porem as mãos no anel. Siegfried não se importa.
Na segunda cena Hagen dá uma bebida a Siegfried (com poder inverso da outra), que lembra e conta sua história, Hagen pergunta-lhe se pode compreender uma ave que está a sua frente, e Siegfried olha-a. Nesse momento Hagen golpeia covardemente Siegfried pelas costas. Siegfried canta uma música à Brunnhilde enquanto ainda estava agonizando, e depois morre. Segue o cortejo fúnebre. Nessa cena aparecem duas das melhores músicas da ópera: a Canção de Siegfried e a Marcha Fúnebre de Siegfried. Na terceira cena o corpo do herói é levado para o palácio onde Hagen reivindica a posse do anel, que, no entanto, Gunther deseja oferecer a Gutrune. Há muita confusão e ação, nesta que é a cena mais difícil da história do teatro. Os dois homens se atracam, após acalorada discussão, e Gunther cai morto por Hagen, que logo procura tirar o anel do dedo de Siegfried. Mas a mão do herói se ergue, ameaçadora, e ele desiste, amedrontado. Brunnhilde aproxima-se e manda que se faça uma fogueira, onde deverá consumir-se o corpo de Siegfried: também se arroja à pira, montada no cavalo que fora seu e do amado. O importante aqui é o Discurso de Brunnhilde, onde muito se pode interpretar sobre toda a obra e a filosofia wagneriana. Transbordando, o Reno alcança o fogo e em suas águas lança-se Hagen, que desaparece levado pelas ondinas. Uma delas mostra, exultante, o anel recuperado. A corrente caudalosa reflui, enquanto a cena mostra, ao longe, as chamas atingindo o Walhalla, o palácio inteiro desmorona, e quando os deuses se reúnem em assembléia todo o cenário entra em chamas, o Reno se acalma, a música cresce a um grande clímax sobre os temas do Reno e do Walhalla, decrescendo com o motivo da redenção pelo amor soando nas cordas. Cai o pano e encerra a obra.
Assim terminamos todo o ciclo do anel, mas antes algumas considerações. Não há termo às reflexões que o drama desperta. Tudo está repleto de profundos símbolos nesse trabalho, vai do “super-homem” de Nietzsche ao profundo pessimismo de Shopenhauer, mas Wagner tudo reveste com o seu próprio simbolismo e ideologia. O desmoronamento do Walhalla é talvez o sonho de Wagner, de 1848, de ver o mundo apodrecido num mar de chamas desaparecer e das cinzas aparecer um mundo novo e virtuoso. As quatro óperas O Ouro do Reno (Das Rheingold), A Valquíria (Die Walküre), Siegfried e Crepúsculo dos Deuses (Götterdämmerung) totalizam 15 horas de espetáculo (três mil setecentas e cinqüenta páginas de música). Wagner é um gênio fora do comum, e essa obra causou uma influência absurda (positiva e negativa) em seu país, apesar de, como pessoa, Wagner ser pouco exemplar. O Anel dos Nibelungos de Wagner é uma obra ímpar.
Wagner Götterdämmerung – Personagens e intérpretes
Agora que terminamos os posts de todo o ciclo do Anel, torna-se possível ver a bela interpretação de Karajan do tremendo trabalho do começo ao fim. O refinamento e delicadeza da textura de Karajan, e a maior clareza dada às palavras são notáveis. Para começar com o Prelúdio do Ato 1, as Nornas: Christa Ludwig possui uma voz altamente individual é inconfundível, se encaixa bem no trio excelente e equilibrado formado com Lili Chookasian e Catarina Ligendza. No final da cena, Karajan faz com as três uma de suas transições finamente gerenciadas, aqui da melancolia ao nascer do sol e à luz do dia, terminando em um clímax brilhante pouco antes do dueto que se segue. Isso leva a Brünnhilde de Helga Dernesch e Siegfried de Helge Brilioth. A bela soprano lírica Dernesch, com sua ampla voz, com um valioso registro baixo, sua musicalidade inata, seu calor de expressão, suas notas altas colocadas com precisão infalível, fazem dela uma atraente Brünnhilde. A voz seca de Brilioth, é um pouco restrita no topo do seu alcance, mas ele fala bem e soa jovem. O excelente Gunther, de Thomas Stewart, transmite algo da dignidade, vaidade e desconfiança do rei. Karl Ridderbusch não tem a qualidade “negra” e nem é tão maléfico mas tem muita beleza em sua voz. Gundula Janowitz como Gutrune está à vontade e canta com um tom encantador. No Prelúdio do Terceiro Ato, as ondinas formam uma equipe equilibrada, Karajan trata a cena muito em seu “estilo de música de câmara”, isto é, com grande delicadeza e refinamento. É muito lindo. Brilioth é bom em suas conversas de troca com as garotas e também na longa narração de Siegfried que se segue quando Hagen e os caçadores entram. Ele canta a história naturalmente e interessa por toda parte, e coloca um patético ponderável em sua cena de morte. Orquestra Filarmonica de Berlim, bom, sensacional é pouco !!!!
Wagner Götterdämmerung
Helga Dernesch soprano – Brünnhilde
Helge Brilioth tenor – Siegfried
Karl Ridderbusch baixo – Hagen
Zoltán Kelemen baixo – Alberich
Thomas Stewart barítono – Gunther
Gundula Janowitz soprano – Gutrune
Christa Ludwig mezzo – Waltraute
Liselotte Rebmann soprano – Woglinde
Edda Moser soprano – Wellgunde
Anna Reynolds mezzo – Flosshilde
Lili Chookasian contralto – First Norn
Christa Ludwig mezzo – Second Norn
Catarina Ligendza soprano – Third Norn
Chorus of the German Opera Berlin, Berlin PhiIharmonic Orchestra / Herbert von Karajan
No dia de hoje, só poderíamos postar uma compositora erudita. Uma mulher compositora nascida em 1745 foi, antes de tudo, uma heroína. A elas mal era dada uma educação e, quando eram talentosas, vinha um marido, um pai ou toda a família para recolocá-la à sombra. Não se sabe quem foram os pais de Maddalena Lombardini Sirmen. Ela foi admitida num orfanato, o Ospedale dei Mendicanti em Veneza em 1753, lá tornando-se violinista. Em 1760 ela foi convidada para estudar com Tartini em Milão, mas problemas na viagem impediram o encontro. No entanto, Tartini descreveu seu método para Lombardini por meio de carta. Esta carta se transformou em um influente tratado de violino, que foi reproduzido em toda a Europa em 1770. Em 1766 ela se casou com o violinista Lodovico Sirmen e o casal começou uma turnê de concertos pela Europa. Em 1771, Lodovico se estabeleceu na Itália com sua filha, enquanto Maddalena permanecia em Londres para um período de duas temporadas como violinista de concerto. Sua música para cordas (principalmente quartetos e peças para violino solo, assim como alguns concertos) era bem conhecida durante sua vida e até foi publicada.
A gravação que ora apresentamos é a primeira deste repertório e, olha, vale a pena ouvir. Lombardini Sirmen está situada no período do início do classicismo e foi boa compositora.
Maddalena Laura Lombardini Sirmen (1745-1818): Seis Concertos para Violino Op. 3
1. CD 43’10”
Concerto No. 1 in B flat major 13’44”
I. Allegro 5’39”
II. Andante 3’41”
III. Rondo. Allegretto 4’24”
Concerto No. 2 in E major 15’10”
I. Allegro 6’04”
II. Andante 4’10”
III. Rondo. Allegro non tanto 4’57”
Concerto No. 3 in A major 14’02”
I. Allegro 6’00”
II. Adagio 3’56”
III. Rondo. Allegretto 4’06”
2. CD 44’23”
Concerto No. 4 in C major 14’08”
I. Allegro 6’09”
II. Largo 3’18”
III. Rondo. Allegretto 4’40”
Concerto No. 5 in B flat major 15’28”
I. Maestoso 6’39”
II. Andante 3’57”
III. Rondo 4’52”
Concerto No. 6 in C major 14’34”
I. Allegro 6’13”
II. Andante 3’20”
III. Rondo 5’01”
Cadenzas por Levente Gyöngyösi e Piroska Vitárius, violino
Piroska Vitárius, violin
Savaria Baroque Orchestra
Pál Németh
EX-CEP-CIO-NAL !!! (só para não dizer IM-PER-DÍ-VEL !!! ). Tanto as composições quanto a realização. [Pequena intervenção de Ranulfus na postagem de CVL]
Esta é uma postagem atípica de minha parte, posto que sou notoriamente voltado para o repertório nacional e contemporâneo, mas emblemática: é de um CD com sete cantatas da veneziana Barbara Strozzi anexo ao livro Safo Novella, de Silvana Scarinci. A musicóloga paranaense (acho que ela é paranaense) estudou academicamente a vida e o legado dessa que foi a mais significativa compositora mulher do barroco e responsável pelo surgimento da cantata: cantata entendida não na sua forma barroco-tardia – dividida em movimentos, escrita para coro e orquestra e ligada a temas sacros – e sim como uma ária operística solta, de duração às vezes não tão curta quanto as de óperas, e destinada à execução em salões (e não em teatros). Tais cantatas não estavam vinculadas às formas em voga na ópera ou mesmo a formas-canção e atendiam à contingência de sua criadora, que não podia circular pela sociedade sem importunações devido à sua condição de cortesã, sublimada através da expressão da poesia de Safo. Saiba mais sobre o livro e o CD aqui.
***
Barbara Strozzi (1619-1677): Safo Novella
1. Giusta negativa – 04:44
2. L’astratto – 10:01
3. Lagrime mie – 10:42
4. Amor dormiglione – 03:03
5. Appresso ai molli argenti – 14:01
6. Moralità amorosa – 04:51
7. Hor che Apollo – 14:30
Intérpretes
Marília Vargas (soprano),
Luis Otávio Santos e André Cavazotti (violinos barrocos),
Sérgio Álvares (viola da gamba) e
Silvana Scarinci (tiorba)
CVL (publicado originalmente em 28.01.2011 — link revalidado em 2016 por Ranulfus, com insistência de PQP em 8 de março de 2019).
PS.: Recomendo aos estudiosos de música barroca e também da problemática dos gêneros na música a aquisição do livro, que contém as partituras de todas as peças do disco.
Juan Bautista José Cabanilles (1644-1712) foi compositor e organista principal (a partir de 1666) da Catedral de Valência, na Espanha. Em 1668, ele foi ordenado padre, mas manteve sua posição como organista principal na catedral por mais de 40 anos. Mas esse CD não é de órgão. Este é um extraordinário e muito criativo registro da obra orquestral de Cabanilles. Olha, é de cair o queixo. Mais um tesouro desencavado pelo catalão Savall.
Joan Cabanilles (1644-1712): Batalles, Tientos & Passacalles
1. Batalla Imperial (J.C. Kerll) (Cabanilles) 5:21
2. Tiento De Falsas II (Cabanilles) 3:36
3. Passacalles I (Cabanilles) 2:36
4. Tiento Lleno 2o Tono (Cabanilles) 4:53
5. Corrente Italiana (Obertura) (Cabanilles) 4:12
6. Tiento De Falsas 8 Punt Alt (Cabanilles) 5:29
7. Passacalles IV (Cabanilles 2:00
8. Tiento XVIII Por A La Mi Re (Cabanilles) 7:28
9. Tiento I Ple (Cabanilles) 6:53
10. Tiento XVII De “Pange Lingua” Punt Alt (Cabanilles) 4:00
11. Tiento IX De Contres (Cabanilles) 15:08
Eu sempre uso este bordão: Meus três compositores prediletos são Bach, Beethoven, Bartók e Brahms. E são mesmo! Bem, este CD recebeu vinte e cinco notas 5 (a máxima) na Amazon, três notas 4 e uma nota 1, dada por um louco, certamente. A gravação de Fritz Reiner é de se ouvir de joelhos, é a própria perfeição. É miraculosa a forma como ele e a Sinfônica de Chicago interpretam o Concerto para Orquestra e a grande Música para Cordas, Percussão e Celesta. Na História da Música Ocidental, Michèle Reverdy escreve:
Cada um dos quatro movimentos da Música é uma obra-prima: o primeiro é uma das mais belas fugas da história da música; o segundo, de grande dinamismo, joga com a heterofonia dos diferentes grupos orquestrais; no terceiro movimento, Bartók encontra as sonoridades mais desorientadoras: é aí que explora ao máximo os recursos das cordas, combinando-as de maneira inusitada com os timbres percussivos; o caráter de festa do final afirma-se na melodia principal em modo antigo — modo de fá — ritmado à búlgara.
O Concerto para Orquestra, mais tradicional, foi escrito no seu exílio em Nova Iorque, quando Bartók já sofria da leucemia que o matou. O nome se justifica pela alternância dos instrumentos como solistas.
Além de grande compositor, Bartók foi um ser humano da melhor qualidade. Sempre posicionou-se e prejudicou-se por sempre ter externado suas posições anti-nazistas. Mas falta-me tempo para escrever mais.
ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL !!!
Bartók: Concerto for Orchestra; Music for Strings, Percussion and Celesta; Hungarian Sketches
1. Concerto for Orchestra, Sz.116/Introduzione: Andante non troppo; Allegro vivace 9:55
2. Concerto for Orchestra, Sz.116/Giuoco delle coppie: Allegretto scherzando 6:02
3. Concerto for Orchestra, Sz.116/Elegia: Andante non troppo 7:59
4. Concerto for Orchestra, Sz.116/Intermezzo interroto: Allegretto 4:17
5. Concerto for Orchestra, Sz.116/Finale: Pesante; Presto 9:00
6. Music for Strings, Percussion and Celesta, Sz.106/Andante tranquillo 7:12
7. Music for Strings, Percussion and Celesta, Sz.106/Allegro 7:02
8. Music for Strings, Percussion and Celesta, Sz.106/Adagio 7:04
9. Music for Strings, Percussion and Celesta, Sz.106/Allegro molto 6:46
10. Hungarian Sketches/An Evening in the Village 2:51
11. Hungarian Sketches/Bear Dance 1:42
12. Hungarian Sketches/Melody 2:05
13. Hungarian Sketches/Slighty Tipsy 2:19
14. Hungarian Sketches/Swineherd’s Dance 2:02
Eu sei que Bruckner foi um grande organista e não deveria surpreender que suas sinfonias se adaptassem ao instrumento, mesmo assim tomei um susto ao ver minha amada sétima transcrita. Pois gostei. Achei que Stender saiu-se muito bem, apesar da estranheza com alguma falta de ênfase em momentos que os regentes atuais estão em paroxismo balançando os braços e a cabeça como os bonecos de ar dos postos de gasolina. Como sou um autêntico extra-terrestre, a 7ª é minha sinfonia preferida de Bruckner ao lado da 5ª (assim como minha sinfonia preferida de Mahler é a enorme 3ª…). É claro que Stender não chega nem próximo da impressão causada por uma gravação como a de Haitink, mas sua versão é quase tese. Será que Bruckner compunha pensando no órgão? Refiro-me, claro, ao órgão instrumento, não ao outro órgão, centro e razão de nossas vidas. Não resisto a qualificar este humilde registro de uma obscura gravadora como IM-PER-DÍ-VEL !!!, mas apenas para quem gosta do estranho Anton Bruckner.
Bruckner: Sinfonia Nº 7 (em transcrição para órgão) (Stender)
1. Allegro moderato 17:53
2. Adagio (Sehr feierlich und sehr langsam) 15:15
3. Scherzo (Sehr schnell) 9:38
4. Finale (Bewegt, doch nicht zu schnell) 13:05
Ernst-Erich Stender, transcrição e órgão
Ernst-Erich Stender an der Großen Orgel der St. Marienkirche zu Lübeck
O senso comum pode enganar os desavisados. Muita gente que conhece superficialmente a vida e a obra de Pixinguinha expressa sua admiração com o talento desse músico negro que não teve estudos formais e outras platitudes desse tipo…
O que menos gente sabe é que Pixinguinha diplomou-se em teoria musical no Instituto Nacional de Música, foi maestro em orquestras e bandas de rádio, arranjador que conseguiu fundir ritmos brasileiros com estilos europeus e música negra americana. Ouçam, por exemplo, o seu arranjo para a versão original (1941) da marchinha Alalaô, cada vez mais popular no carnaval carioca nesses tempos de aquecimento global:
Ouviram as modulações feitas por quem obviamente sabia ler partitura? Ouviram a banda de sopros que às vezes soa como jazz? Pois é…
Dizem por aí que Pixinguinha foi uma das vítimas de uma certa patrulha ideológica que condenava os músicos que cultivavam influências estrangeiras. Segundo esse ponto de vista, que chegou a auge no nacionalismo do Estado Novo (1937-46), o samba tinha de ser 100% verde-amarelo.
Por exemplo em 1928, quando saiu o choro Lamento em disco 78 rpm, o crítico da revista Phono-Arte escreveu: “nessa música não se encontra um caráter perfeitamente típico. A influência da melodia e mesmo do ritmo da música dos norte-americanos é, nesse choro, bem evidente. Esse fato nos causou surpresa, porquanto sabemos o compositor um dos melhores autores da música típica nacional. É por esse motivo que julgamos este disco o pior dos quatro que a Orquestra Pixinguinha-Donga oferece-nos esta quinzena”
Uma breve pesquisa sobre a origem dos desfiles de escolas de samba – aquela coisa cronometrada, em linha reta que, não por acaso, teve origem na mesma década dos desfiles da juventude hitlerista – mostra essa busca por uma suposta “autenticidade brasileira”:
No desfile de 1933, organizado pelo jornal O Globo, o regulamento proibia o uso de instrumentos de sopro, proibição que permaneceu nos anos seguintes.
Também era obrigatório tratar de temas nacionais. Em 1938 a Escola de Samba Vizinha Faladeira foi desclassificada por ter apresentado o enredo “Branca de neve e os sete anões”.
O regulamento do desfile de 1946 apresentou uma novidade que significava o final de uma fase das escolas de samba: “É dever dos compositores da escola ou de quem responder pela segunda parte dos sambas não improvisar, trazendo a letra completa.” Manteve-se a proibição ao uso de instrumentos de sopro e, ao mesmo tempo, reconhecia como instrumentos próprios de escolas de samba violão, cavaquinho, pandeiro, tamborim, surdo, cuíca, reco-reco, tarol e cabaças.
E o Pixinguinha no meio disso tudo? Como os grandes gênios, Pixinguinha voa muito acima dessas limitações dos teóricos da carioquice e da brasilidade…
Para o músico Marcel Nicolau, “Pixinguinha é quase um semideus. Ele é uma daquelas pessoas que são poucas na humanidade e que, por algum motivo, nascem. É um dos nossos maiores maestros, apesar das pessoas só o conhecerem através do choro. Ele está dentro do nascimento do samba, do choro e da música instrumental brasileira.”
Há também o racismo, é claro. Em 1922, quando o grupo de Pixinguinha tocava em Paris, Benjamin Constallat relatou que “segundo os descontentes, era uma desmoralização para o Brasil, ter na principal artéria de sua capital uma orquestra de negros! Que iria pensar de nós o estrangeiro?”. Ao que parece, foram poucos esses descontentes e a temporada dos Oito Batutas durou 6 meses contínuos em Paris, onde ele teve contato com o saxofone, que com o tempo destronaria a flauta como seu instrumento principal.
Nas gravações com Benedito Lacerda, dos anos 40, Pixinguinha resume sua arte contrapontística, fazendo os graves no sax enquanto a flauta de Lacerda fazia os agudos. O músico contou a um jornal, na época: “O Benedito Lacerda me procurou para gravarmos umas músicas minhas. Só choros. Negócio mais ou menos grande. São 25 discos de uma só tacada e as condições são boas. Além disso, as edições das músicas.”
Pixinguinha é um desses gênios muito maiores do que a censura, do que o nacionalismo e outros refúgios dos canalhas. As censuras d’O Globo passam, a falsa autenticidade verde-amarela passa, a arte fica.
1. André de sapato novo (1947)
Compositor: André Victor Correia
2. Atraente (1950)
Compositores: Chiquinha Gonzaga, Hermínio Bello de Carvalho
3. Um a zero (1946)
Compositores: Pixinguinha, Benedito Lacerda
4. Ainda me recordo (1947)
Compositores: Pixinguinha, Benedito Lacerda
5. O Gato e o canário (1949)
Compositores: Pixinguinha, Benedito Lacerda
6. Naquele tempo (1946)
Compositor: Pixinguinha
7. Língua de preto (1949)
Compositor: Honorino Lopes
Obs.: Ficha técnica do disco sem créditos aos arranjadores e aos outros músicos que participam do disco. Lançamento em CD supervisionado por Charles Gavin. As datas entre parêntesis ao lado dos nomes das músicas indicam o ano original de gravação. Os créditos de algumas composições à dupla Pixinguinha/Benedito Lacerda talvez sejam mais por cortesia e amizade, conforme citação acima: “umas músicas minhas”.
Antonio Vivaldi, o padre vermelho, nasceu no dia 4 de março de 1678, em Veneza. Ele renasceria em 1950, como nos conta H. C. Robbins Landon no seu livro Vivaldi, Voice of the Baroque. Landon conta que estava em uma loja de discos em Nova Iorque quando ouviu pela primeira vez, assim como os atendentes da loja e os outros clientes, a famosa gravação das Quatro Estações pelo selo Cetra.
Essa música que havia estado adormecida nas prateleiras das bibliotecas por duzentos anos (o dobro da Bela Adormecida) ressurgia para dar início a um dos maiores sucessos da música clássica, a música de Antonio Vivaldi. O renascimento, pelo menos da música, se deve muito a Gian Francesco Malipiero, outro importante veneziano. E como se diz nestas ocasiões, o resto é história…
Eu ouço música de Vivaldi desde antes do movimento dos instrumentos de época. Às vezes nem tanto, mas sempre sofro recaídas. Eram nosso campeões de Vivaldi: I Musici, Raymond Leppard e The English Chamber Orchestra, Neville Marriner e The Academy of St. Martin-in-the-Fields, entre os ingleses. Havia também Jean-Claude Malgoire e La Grande Ecurie & La Chambre du Roy, tantos mais. Depois vieram os HIP (historically informed performance) Christopher Hogwood e The Academy of Ancient Music, Trevor Pinnock e The English Concert. Os italianos Fabio Biondi, Rinaldo Alessandrini e tantos outros.
Hoje, em homenagem a esta tão importante figura da música, alguém que teve suas obras estudadas e adaptadas por Johann Sebastian Bach, apresento um CD que mata um pouco a saudade daqueles dias anteriores ao HIP. Este CD, aos cuidados de musicos venezianos, mostra que a (boa) música tem um brilho que transcende até mesmo modismos interpretativos.
Aproveite a folga do Carnaval para ouvir este brilhante disquinho com lindos e sonoros concertos vivaldianos.
O Concerto para Piano e Orquestra Nº 2 de Brahms é separado por 22 anos do primeiro. É excelente, mas não tanto quando este. Brahms começou a trabalhar na peça em 1878 e a concluiu em 1881. A estréia do concerto foi em Budapeste, em 9 de novembro de 1881, com o próprio Brahms como solista. Foi um sucesso imediato e ela passou a excursionar com seu belo concerto por toda a Europa. Afinal, a grana rules.
Johannes Brahms (1833-1897): Concerto para Piano Nº 2, Op. 83
1. Piano Concerto No.2 In B Flat, Op.83 – 1. Allegro Non Troppo 19:17
2. Piano Concerto No.2 In B Flat, Op.83 – 2. Allegro Appassionato 9:21
3. Piano Concerto No.2 In B Flat, Op.83 – 3. Andante – Più Adagio 12:08
4. Piano Concerto No.2 In B Flat, Op.83 – 4. Allegretto Grazioso – Un Poco Più Presto 10:00
Claudio Arrau
Concertgebouw Orchestra
Bernard Haitink
A motivação para este disco é o carnaval. Evoé, Momo! É claro que poderíamos escolher o Carnaval, de Schumann, mas isso parece muito batido. Então, hoje, vamos de Folia!
Minha primeira lembrança de Folia, em música, é a Sonata de Corelli, que conheci do disco do Grumiaux. Meus dois CDs desta gravação (Sonatas Op. 5, de Corelli, Grumiaux e Castagnone) enferrujaram (sigh…). Tenho ainda uma cópia virtual em algum lugar. Mas, a postagem de hoje é com Savall, Jordi Savall!
Neste disco ele reuniu oito peças inspiradas nesta dança que (aprendi no livreto) surgiu em Portugal, como nos ensina Gil Vicente, o do teatro. São danças associadas às pessoas simples, pastores e camponeses. Daí também vem o nome, Folia, de folia mesmo.
As cinco primeiras faixas do disco são relativamente curtas e servem para esquentar o clima, despertar nossas atenções. A sonoridade das peças, desde os primeiros acordes do disco, deixa claro que a produção é de altíssima qualidade. O conjunto liderado pelo Savall é ótimo. Atenção especial para o Rolf Lislevand, um bamba. Norueguês enorme, toca todo tipo de viola, violão, guitarra, tiórba, o que você imaginar.
Para mim, o núcleo deste disco são as faixas seis, com suas Diferencias sobre las Folias, de Antonio Martín y Coll, e sete, a Sonata de Corelli, aquela do Opus 5. Diferencias aqui significa variações e eu não conhecia qualquer peça de Martín y Coll. Eu que tenho um fraco pelas variações, gostei. Na corelliana sonata, Jordi toca uma viola da gamba soprano, muito lindo!!
A peça final, de Marin Marais, segue ainda por dezoito minutos, mas eu já havia colocado o disco lá, bem alto, na minha lista.
Outros compositores se deixaram inspirar pelas folias, entre eles Alessandro (o pai do Domenico) Scarlatti, Vivaldi e até gente da família aqui, o Carl Philipp Emanuel. Outros ainda, como Rachmaninov e suas Variações sobre um tema de Corelli e até Liszt, que caiu na folia com a Rapsódia Espanhola, são mais tardios, mas provam que a inspiração continuou.
De qualquer forma, o que temos para hoje é o magnífico time do Jordi Savall com suas variações e diferenças sobre a Folia!
Anônimo – Folia: Rodrigo Martinez (1490) (Improvisations D’Après Le Villancico Du Cancionero De Palacio)
Diego Ortiz – Recercada Quarta Sobre La Folia (1553)
Antonio de Cabezón – Folia: Para Quien Crié Yo Cabellos (1557) (D’Après Venegas De Henestrosa)
Diego Ortiz – Recercada Ottava Sobre La Folia (1553)
Juan del Enzina – Folia: Hoy Comamos Y Bebamos (Vers 1520) (Improvisations D’Après Le Villancico De Juan Del Enzina)
Antonio Martín y Coll – Diferencias Sobre Las Folias (D’Après Le Mss. Flores De Música 1357-60 Madrid Bibl. Nacional (1706-1709))
Arcangelo Corelli – Follias (1700) (Op. 5 Roma 1700 / MS. VM7 6308 Paris Bibl. Nationale)
Marin Marais – Couplets De Folies (1701) (Seconde Livre De Pièces De Viole, Paris 1701)
Bom disco de um compositor meio esquecido. As obras deste CD são bastante desiguais, talvez resultado do fato de serem de diversas fases da longa carreira deste compositor suíço naturalizado estadunidense. Há coisas de entusiasmar — o Quinteto Nº 1 — e outras nem tanto. O que é sempre impecável é a atuação do grupo de instrumentistas. Os CDs da Hyperion, como sabemos, costumam trazer boas interpretações vindas de gente nem sempre conhecida. É o caso, mais uma vez.
Ernest Bloch foi um compositor suíço de origem judaica. Nascido em Genebra, estudou música em um conservatório de Bruxelas, onde um de seus professores era Eugène Ysaÿe. Mais tarde Bloch estudou no Conservatório Hoch em Frankfurt. Ele viajou por toda a Europa antes de passar a viver nos Estados Unidos em 1916 e de se tornar cidadão norte-americano em 1924. Ele dava aulas e alguns de seus alunos foram George Antheil, Frederick Jacobi e Roger Sessions. Em dezembro de 1920 Bloch foi indicado como o primeiro Diretor Musical do recém inaugurado Instituto de Música de Cleveland — posto que ocupou até 1925. Depois disto, Bloch passou boa parte dos anos 30 na Suíça e, mais tarde, retornou aos EUA. Ele morreu em Portland, Oregon, de câncer, aos 78 anos. Sua filha Lucienne Bloch trabalhou como fotógrafa para Diego Rivera durante o projeto no Rockefeller Center e tirou as únicas fotos do mural antes de ele ser destruído.
Ernest Bloch (1880-1956): Quintetos para Piano
1. Piano Quintet No.1 – I. Agitato
2. Piano Quintet No.1 – II. Andante mistico
3. Piano Quintet No.1 – III. Allegro energico
Lieder é a palavra alemã que significa canções, no plural. Lied é o singular, canção. Quando usamos Lied (ou Lieder), estamos nos referindo a uma canção com letra em alemão, com acompanhamento ao piano. Às vezes, o acompanhamento é feito por uma orquestra mas, quase sempre, piano.
Schubert não foi o primeiro a compor Lied, Mozart e Beethoven, por exemplo, o fizeram antes dele. No entanto, Schubert realmente tinha um talento imenso para isso. Em sua breve existência, compôs mais de seiscentos Lieder. Entre essas canções, dois ciclos – Die Schöne Müllerin e Winterreise, ambos com poesia de Willelm Müller. O ciclo chamado Schwanengesang difere um pouco dos anteriores por ser uma reunião de canções com poesias de três diferentes poetas. Foi assim arranjado e nomeado pelo editor que esperava assim divulgar essas últimas canções.
Ao contrário de outros compositores seus contemporâneos, Schubert não tinha facilidade de ter sua obra orquestral executada. A Sinfonia Inacabada assim ficou não por falta de inspiração ou, mais tragicamente, pela morte do compositor. É mais provável que a falta de perpectiva de execussão tenha levado seus esforços para outras obras. Se bem que os dois movimentos formam bem mais do que um simples torso, eles realmente se completam. Schubert não ouviu suas duas grandes e últimas sinfonias. Assim, sua obra é repleta de Lieder, música para piano, música de câmera (ah, o Quinteto de Cordas…).
Essas obras sim, eram muito e bem executadas. Schubert esteve sempre rodeado de amigos, em especial o barítono Michael Johann Vogl, que divulgou as canções de Schubert até o fim de sua vida.
Mas, vamos ao disco! Ouvir Lieder é o que podemos chamar, um gosto adquirido (an acquired taste). Nem todo mundo, mesmo entre os que apreciam música, exercem essa excentricidade.
Aqui está a minha proposta: ouça este disco, assim, umas dezessete vezes. Se, depois disto, você não gostar, então é provável que Lieder não seja a sua praia. Mas, se você tiver uma mínima queda para isso, logo depois da segunda ou terceira vez que ouvir o disco, estará cantarolando ou acompanhando o ritmo, mesmo que, se assim como eu, não for versado em alemão, língua danada de difícil.
Como Schubert era capaz de musicar qualquer poema – de grandes, imensos poetas, até seus menos dotados amigos, suas escolhas para as letras eram assim, um pouco erráticas. Sabe-se lá o que, no poema, lhe inspirava e o colocava ação? Uma vez que o poema lhe tocasse, lá estava a correta melodia, o acompanhamento justo…
Mesmo sem o domínio da língua, se você que adentrar este território, vale a pena estar atento para algumas coisas. Alguns temas são recorrentes e sabendo disto, é mais fácil entrar no clima. Por exemplo, a ideia do caminhante – Wanderer – o cara que sai pela floresta, admirando a natureza, é bem comum. Algumas palavras indicam o caminho: tiefer Nacht (a noite lá é sempre profunda…), Wasser (água, mas assim, água corrente, o riozinho…), Ruh’ (paz, descanso…), Einsame, Abendrot.
Se há alguma chance de que você goste de Lieder (se você já gosta, então sabe do que estou falando), este disco é um ótimo ponto de partida.
Dietrich Fischer-Dieskau dedicou grande parte de sua vida aos Lieder – excelente intérprete, voz inconfundível, também escreveu muito sobre a arte da interpretação. Aqui é acompanhado por Gerald Moore, o decano dos pianistas que acompanham cantores.
O disco é repleto de gemas, peças curtas, lindas melodias com acompanhamento de piano, uma combinação vencedora. Não coloque o disco de lado sem ouvir Auf dem Wasser zu singen, Du bist die Ruh’, Ständchen, faixa 5, há duas canções no disco com este nome. Esta é do Schwanengesang. Der Lindenbaum, do ciclo Winterreise, também tem carreira solo. Die Forelle, canção cujo tema foi usado em um magnífico quinteto com piano. Heinderöslein, com poesia de Goethe e, ímpossível não mencionar o Erlkönig, também com letra de Goethe. Este é o Lied dos Lieder. Nesta canção o cantor interpreta quatro personagens, tudo isso em quatro minutos.
Mas, chega de falar, deixo o Dietrich e o Gerald encarregados de convencê-lo das artes de Schubert. Você pode descobrir que vale a pena adquirir certos gostos.
Schubert – Lieder
Schubert: Auf dem Wasser zu singen, Op.72, D.774
Lachen und weinen, Op. 59/4, D.777
Du bist die Ruh’, Op. 59/3, D.776
Der Wanderer, Op.4/1, D.493 – Ich komme vom Gebirge her
Apenas pelo fato de serem os cinco concertos para piano de Beethoven já seria imperdível. Só que devemos somar a isso o fato de estarmos frente uma gravação que é um belo petardo desferido pela Deutsche Grammophon em 2007 e que agora chega aos privilegiados ouvidos pequepianos. Pletnev, Gansch e a Orquestra Nacional russa realizam um prodígio que você deve ouvir.
Os discos saíram assim: o primeiro com os concertos 1 e 3, o segundo com os 2 e 4 e o terceiro com o quinto. PQP pôs na ordem para vocês. Os três últimos são registros de gravações ao vivo em que havia — sim, sei, lugar-comum — eletricidade no ar.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827):
Os Concertos para Piano (completo)
Piano Concerto No.1 in C major, Op.15
1) 1. Allegro con brio [13:37]
2) 2. Largo [10:19]
3) 3. Rondo (Allegro scherzando) [8:49]
Piano Concerto No.2 in B flat major, Op.19
1) 1. Cadenza: Ludwig van Beethoven [13:45]
2) 2. Adagio [8:28]
3) 3. Rondo (Molto allegro) [6:11]
Piano Concerto No.3 in C minor, Op.37
4) 1. Allegro con brio [15:55]
5) 2. Largo [8:58]
6) 3. Rondo (Allegro) [9:58]
Piano Concerto No.4 in G, Op.58
4) 1. Allegro moderato [19:29]
5) 2. Andante con moto [5:02]
6) 3. Rondo (Vivace) [10:31]
Piano Concerto No.5 in E flat major Op.73 -“Emperor”
1) 1. Allegro [20:03]
2) 2. Adagio un poco mosso [7:17]
3) 3. Rondo (Allegro) [10:26]
Mikhail Pletnev
Russian National Orchestra
Christian Gansch
Este é mais um arquivo que nos foi repassado pelo querido amigo pequepiano WMR.
Não curto muito nem Gibbons nem Dowland, mas vou postar pro 6 tudo mesmo assim. A mim, as obras parecem muito semelhantes entre si. Desculpem minha grosseria auditiva. Só a partir da faixa 17 a coisa começa a ficar legal. Muito tarde.
Orlando Gibbons foi um compositor britânico. Nascido em Oxford e educado em Cambridge, onde cantou com o coro do King’s College, Gibbons trabalhou para a Chapel Royal desde 1603 até a sua morte. Foi reconhecido como um dos melhores organistas de sua geração; como compositor, dominava todas as formas e estilos da época, incluindo música para grupos de instrumentistas e para teclado.
Orlando Gibbons (1583-1625): Cries and Fancies
1 Fantasia In 6 Parts [VdGS No.3] 3:34
2 Fantasia In 3 Parts [VdGS No.3] 2:26
3 Fantasia In 3 Parts [VdGS No.2] 2:44
4 Fantasia In 6 Parts [VdGS No.1] 3:50
5 Go From My Window In 6 Parts 4:57
Prelude And Ground For Organ (3:18)
6a Prelude [MB No.3]
6b Ground [MB No.26]
7 Galliard In 3 Parts 1:09
8 Fantasia In 3 Parts For The ‘Great Dooble Base’ [VdGS No.1] 4:26
9 Fantasia In 4 Parts For The ‘Great Dooble Base’ [VdGS No.1] 4:59
10 Fantasia In 2 Parts [VdGS No.5] 3:13
11 Fantasia In 3 Parts [VdGS No.8] 2:42
12 Fantasia In 3 Parts [VdGS No.9] 2:28
13 Fantasia In 6 Parts [VdGS No.2] 3:36
14 Fantasia In 3 Parts For The ‘Great Dooble Base’ [VdGS No.4] 4:39
15 Fantasia For Organ [MB No.8] 4:09
16 In Nomine In 5 Parts [VdGS No.2] 4:54
17 The Cry Of London (Part I) 4:22
18 The Cry Of London (Part II) 2:43
19 In Nomine In 4 Parts 3:28
Ensemble [Instrumental] – Fretwork
Ensemble [Vocal] – Red Byrd (tracks: 17, 18)
Organ – Paul Nicholson (tracks: 6, 15)
Viol – Elizabeth Liddle (tracks: 1 to 5, 7 to 14, 16 to 19), Julia Hodgson (tracks: 1 to 5, 7 to 14, 16 to 19), Richard Boothby (tracks: 1 to 5, 7 to 14, 16 to 19), Richard Campbell (tracks: 1 to 5, 7 to 14, 16 to 19), William Hunt (tracks: 1 to 5, 7 to 14, 16 to 19)
Vocals – Harvey Brough (tracks: 17, 18), John Potter (2) (tracks: 17, 18), Linda Hirst (tracks: 17, 18), Richard Wistreich (tracks: 17, 18), Sue Bickley* (tracks: 17, 18)