Gustav Mahler (1860-1911): Adágios

Gustav Mahler (1860-1911): Adágios

Tal como os discos dos funerais (ou músicas que sugerimos pera seu velório) que postei na sexta-feira santa, esta é mais uma estranha coletânea. Eu odeio coletâneas desde a época dos LPs de gatinhos. Os tais greatest hits (argh!) costumam ser uma mistureca braba e o fato de serem feitos de “melhores lances” (?) impede a fruição de uma obra completa, normalmente contrastante, como o compositor criou e desejava que fosse ouvida. Falta respeito e espírito concertístico a quem cria esses monstros. Mas sei, claro, que servem de introdução para quem não conhece nada de determinado compositor ou gênero. Então, vá lá. E aqui termina a PARTE ELITISTA desta introdução.

O importante deste novo CD duplo é que a orquestra é basicamente a de Chicago e os regentes são Solti e Chailly. Não são second choices. Tudo de primeira linha, ou seja, quem ainda está tateando na música erudita já começa a aprender como soa uma boa orquestra. A música de Mahler é indizivelmente grandiosa, apesar de ser bem esquisito ouvir uma série de adágios uns atrás dos outros. É a negação do contraste, ainda mais num compositor tão dotado de repentinos ódios e momentos sublimes como Mahler.

Curioso.

Gustav Mahler (1860-1911): Adágios

1. Symphony No.5 In C Sharp Minor – 4. Adagietto (Sehr Langsam) 9:46
Chicago Symphony Orchestra · Sir Georg Solti

2. Symphony No.2 In C Minor – ”Resurrection” – 4. ”O Röschen Rot! Der Mensch Liegt In Grösster Not!” (Sehr Feierlich Aber Schlicht) Text From Des Knaben Wunderhorn: ”Urlicht” 4:58
Mira Zakai (contralto)
Chicago Symphony Orchestra · Sir Georg Solti

3. Symphony No.4 In G – 3. Ruhevoll (Poco Adagio) 20:13
Chicago Symphony Orchestra · Sir Georg Solti

4. Das Lied Von Der Erde – Der Abschied Yvonne Minton 31:52
Yvonne Minton (mezzo-soprano)
Chicago Symphony Orchestra · Sir Georg Solti

5. Rückert-Lieder – Ich Bin Der Welt Abhanden Gekommen 6:19
Brigitte Fassbaender (mezzo-soprano)
Deutsches Symphonie-Orchestre Berlin · Riccardo Chailly

6. Symphony No.6 In A Minor – 3. Andante Moderato 15:34
Chicago Symphony Orchestra · Sir Georg Solti

7. Symphony No.3 In D Minor/Part 2 – 6. Langsam. Ruhevoll. Empfunden 20:49
Chicago Symphony Orchestra · Sir Georg Solti

8. Symphony No.9 In D – 4. Adagio (Sehr Langsam) 24:51
Chicago Symphony Orchestra · Sir Georg Solti

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Solti está por todo lado nesta coletânea.
Solti está por todo lado nesta coletânea.

PQP

.: interlúdio :. Joe Henderson – Porgy & Bess

coverSeguinte, vou apenas passar a relação dos músicos que participam dessa gravação. Creio ser desnecessário fazer mais algum comentário:

Joe Henderson – Tenor Saxophone
Conrad Herwig – Trombone
John Scofield – Electric & Acoustic Guitars
Stefon Harris – Vibraphone
Tommy Flanagan – Piano
Dave Holland – Bass
Jack DeJohnette – Drums

Chaka Khan – Vocal on Track 2
Sting – Vocal on Track 7

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Respighi (1879-1936): Trittico Botticelliano (2 versões); Gli Ucelli; Antiche Danze ed Arie per Liuto suítes 1 e 3

Publicado originalmente em 21/05/2010

Ao pensar em uma postagem que ajudasse a in-augurar 2016 convenientemente, o Monge Ranulfus logo se decidiu pela revalidação desta aqui, pois a sente como luminosa, leve e equilibrada em alegria e poesia. Isso apesar de uma vez o Grão-Mestre PQP ter observado que acha Respighi chato – e eu não chego a discordar: também acho chato no que tange os poemas sinfônicos de intenção impressionista ‘Fontes de Roma’ e ‘Pinheiros de Roma’. Já tentei ouvir essas obras com boa-vontade, mas foi em vão.

E no entanto, acreditem: é de Respighi uma das peças que mais me fizeram gosto até hoje – seguramente uma das 10 que eu levaria para o exílio em outro planeta: o Trittico ou Tríptico Botticelliano (ou ainda ‘Três Quadros de Botticelli’, seguindo o costume inglês de referir-se à obra como ‘Three Pictures of Botticelli’ – o que teria a vantagem de fazê-la “conversar” com os ‘Três Afrescos de Piero della Francesca’, de Martinu – outra postagem à espera de revalidação!).

Respighi começou o estudo da música pelo violino e por sua irmã mais gorda, a viola, e aos 21 anos foi parar como primeiro violista de orquestra em São Petersburgo, numa temporada de ópera italiana. Já tinha estudado também um pouco de composição, e não perdeu a oportunidade de agarrar 5 meses de aula com Rimsky-Korsakoff, então com 56 anos – mesma idade com que ele, Respighi, morreria na década de 30.

De volta à Itália uma de suas principais frentes de atividade foi a de musicólogo: hoje parece banal conhecer a música da Renascença, mas no começo do século XX isso era atividade de garimpo, e nosso amigo foi um dos pioneiros. Editou e publicou diversas coleções de madrigais e também seu tanto de barroco – e aparentemente amou essa música com tanta intensidade que quis fazê-la sua: ao lado dos referidos poemas sinfônicos, suas obras mais famosas são as 3 suítes Antigas Danças e Árias para Alaúde, formadas por arranjos orquestrais de 4 peças renascentistas cada uma; e o curioso é que esses arranjos do alheio parecem soar mais autênticos, mais como uma voz própria, que aqueles poemas sinfônicos que são propriamente composições.

Já a suíte As Aves (Gli Ucelli) fica numa posição intermediária: aqui são um pouco mais que arranjos de peças barrocas para cravo; o artesanato de texturas, cores, ambiências, chega a momentos de expressividade intensa – ou de deliciosa comédia, como na recriação de ‘La Poule’, a famosa Galinha de Rameau.

E aí chegamos ao que é efetivamente uma composição – o Trittico Botticelliano -, mesmo se também com evidente uso de temas antigos – embora desses eu só identifique com certeza a melodia gregoriana Veni veni Emmanuel, que emerge aos 1:10 de ‘A adoração dos Magos’. Talvez também haja material original que apenas evoque danças e cantos antigos e/ou populares, não sei. Seja o que for, os temas são definitivamente desenvolvidos em um discurso próprio – muito mais do que, digamos, o bem mais famoso Carl Orff consegue desenvolver o que quer que seja.

A palavra ‘discurso’, aliás, é bastante apropriada, pois não temos aqui a menor pretensão de ‘pintar com sons’ como nas ‘Fontane’, ou no Debussy de ‘La Mer’. O que temos são, eu diria, relatos de encenações interiores dos episódios que os quadros evocam.

E, querem saber? Não me importa a mínima se isto não for uma obra-prima em técnica composicional: eu a vejo como absoluta obra-prima do afeto, da máxima amabilidade ou delicadeza (não ‘frescura’) que o ser humano consegue alcançar. E, com isso, inversão total do estereótipo do italiano como especialista do exagero, vulgaridade e barulheira – no que a comparo com outra obra-prima italiana, lamentavelmente inincontrável: o filme de Franco Brusati ‘Dimenticare Venezia’, de 1979, jamais lançado em vídeo ou DVD.

Quase da mesma época (1977) foi o vinil em que conheci essa obra, com uma realização magnífica da Orquestra de Câmara de Praga. Como prêmio de consolação por não poder postá-lo, nosso amigo José Eduardo me conseguiu duas versões – vejam abaixo de quem – que coloquei uma abrindo, outra fechando o programa.

Comparação com a obra análoga de Martinu? Não, gente, eu ainda a ouvi muito pouco para me atrever. Só digo que não me pareceu impressionista – como alguém já a caracterizou – e sim francamente neo-romântica. E que sua linguagem abertamente sinfônica torna ainda mais difícil a comparação com esta aqui, quase camerística. E agora é com vocês…

Ottorino Respighi (1879-1936), obras para pequena orquestra

Trittico Botticelliano (Three Botticelli Pictures) p. orquestra (1927)
01 La Primavera
La Primavera http://www.tropis.org/imagext/botticelli-primavera-peq.jpg
02 L’Adorazione dei Magi (a adoração dos magos)
L'adorazione dei Magi http://www.tropis.org/imagext/botticelli-magi-peq.jpg
03 La nascita di Venere (o nascimento de Vênus)
La nascita di Venere

Gli Uccelli (As Aves) p. pequena orquestra, sobre peças barrocas p. cravo (1927)
04 Preludio (Bernardo Pasquini)
05 La Colomba (a pomba) (Jacques de Gallot)
06 La Galina (a galinha) (J.P. Rameau)
07 L’Usignuolo (o rouxinol) (anônimo inglês)
08 Il Cuccù (o cuco) (Bernardo Pasquini)

Antiche Danze ed Arie (antigas danças e árias), suite 1, p. orquestra (1917)
sobre peças p. alaúde de S. Molinaro, Vicenzo Galilei (pai de Galileo!) e anônimas
09 Baletto detto ‘Il Conte Orlando’
10 Gagliarda
11 Villanella
12 Passo Mezzo e Mascherada

Antiche Danze ed Arie (antigas danças e canções), suite 3, p. cordas (1932)
sobre peças p. alaúde e violão de Besard, L.Roncalli, Santino Garsi da Parma e anônimo
13 Italiana
14 Aria di Corte
15 Siciliana
16 Passacaglia

Orpheus Chamber Orchestra (N.York) (DG 1993)

17 BÔNUS: Trittico Botticelliano I, II e III (1927)
Bournemouth Sinfonietta, reg. Tamás Vásáry (Chandos 1992)

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Ranulfus