Tá bom, Vivaldi afirmou que compôs sua ópera Tito Manlio em apenas cinco dias (a ópera tem 194 min, nesta gravação) para que estivesse pronta para celebrar o casamento do governador de Mântua, o príncipe Philipp de Hessen-Darmstadt, com a princesa Eleanora de Guastalla (a quem a ópera é dedicada). O enredo de desentendimento familiar e raiva sádica parece inadequado para uma celebração de um casamento, e talvez fosse apropriado que a princesa cancelasse a cerimônia antes mesmo de atravessar os muros da cidade. No entanto, o show deve continuar. O Tito de Vivaldi é um cônsul vilão que ameaça arrastar sua filha Vitélia nua pelas ruas de Roma porque ela se recusa a fazer um voto de ódio contra seus inimigos clamando por uma representação justa no Senado. O enredo se passa na antiga República Romana e se desenvolve em torno de conflitos entre sentimento e dever cívico. A fonte é o Livro VIII da História de Roma, de Tito Lívio. Mas a trama foi bastante alterada pelo libretista Matteo Noris. Tito Mânlio está envolvido na guerra contra as cidades latinas que se rebelaram contra Roma. Por isso faz um juramento solene de ódio aos inimigos e exige que seus filhos, Mânlio e Vitélia, além de seus seguidores, façam o mesmo. Vitélia está secretamente apaixonada por um líder latino, Gemínio e, por isso, se recusa a fazer o juramento. Tito a expulsa de Roma e dá ordens severas a seu filho, Mânlio, para que faça uma missão de reconhecimento junto aos latinos, mas não os ataque. Desobedecendo as ordens do pai, Mânlio mata o líder latino Gemínio, apesar ele, Mânlio, de estar apaixonado por sua irmã, Servília. Pela desobediência, Tito condena o próprio filho à morte. Lúcio, um latino aliado de Tito e dos romanos, tentar ajudar Mânlio a escapar da prisão, mas este se recusa a fugir. Antes de ser executado, Mânlio consegue o perdão do pai pela desobediência graças à intervenção de Décio, líder dos centuriões. Também é perdoado por sua amada Servília pela morte de seu irmão. Esse final feliz modifica a história real , descrita por Tito Lívio, segundo a qual Mânlio é, de fato, executado. Sem dúvida, Tito Manlio é uma das melhores obras de palco do Padre Rosso. Federico Maria Sardelli conduz esta gravação de 2005 que seria a da estreia mundial. (Não creio que seja, tenho uma versão dela em vinil sob a regência de Vittorio Negri). Sardelli comanda grandes quantidades de recitativos com sentido e clareza, embora o melhor aspecto de sua performance sejam as caracterizações ousadamente acentuadas do Modo Antiquo, trazidas à vida com muitas cores. A acústica é muito estrondosa, mas mesmo assim funciona. Sardelli captura todos os efeitos orquestrais da partitura de Vivaldi. ‘Se non v’aprite al di’ e ‘Combatta un gentil cor’ estão sensacionais. Solos de violoncelo, acompanhamentos de continuo inventivos, uma marcha fúnebre surpreendente e um solo de viola d’amore de tirar o fôlego (em ‘Tu dormi in tante pene’) contribuem muito. Duas outras árias de Manlio são particularmente notáveis: ‘Sonno, se pur sei sonno’ é uma abertura maravilhosamente sombria para o Ato 3, com acordes de cordas pulsantes e assustadores. ‘Ti lascerei gl’affetti miei’ é um momento sublime de melancolia em tom menor que começa com apenas um par de oboés e fagote antes de evoluir para um lamento profundamente comovente de beleza e sonoridade consideráveis que é eloquentemente moldado por Sardelli. Infelizmente, a performance de Sardelli é prejudicada por cantores que se inclinam para a competência em vez da expressão.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Tito Manlio (Modo Antiquo, Federico Maria Sardelli)
Tito Manlio (I), Opera In 3 Acts, RV 738
1.1 Sinfonia: Allegro –
1.2 Andante –
1.3 Presto
1º Akt
1.4 Popoli, Chi È Romano, E Chi Di Roma (1. Akt)
1.5 Quando Tito Ora Giurò
1.6 Di Flegetonte Al Nume
1.7 Per Le Romane Vergini Tu Ancora
1.8 Manlio
1.9 Se Il Cor Guerriero
1.10 Ah Manlio
1.11 Perché T’Amo
1.12 O Dio! Sento Nel Petto
1.13 Liquore Ingrato
1.14 Sì Per Vitellia Io Lascio
1.15 Alla Caccia D’Un Bell’adorato
1.16 Vanne, Amante Felice
1.17 E’ Pur Dolce Ad Un’ Anima Amante
1.18 E Ch’a Geminio
1.19 O Silentio Del Mio Labbro
1.20 Parla, Tenta, E Minaccia
1.21 Orribile Lo Scempio
1.22 E Catene Di Ferro Lo Darò Al Piede
1.23 Parla A Me Speranza Amica
1.24 Volerò A Tito Il Padre
1.25 Di Verde Ulivo
1.26 Bramo Stragi
1.27 Nemico Allor All’Or
1.28 Signor
1.29 L’intendo E Non L’intendo
1.30 Qual Di Pocchi Romani
1.31 Fermatevi
1.32 Parto, Ma Lascio L’Alma
1.33 Che Feci Mai!
1.34 Sia Con Pace, O Roma Augusta
2º Akt
2.1 Dunque L’Occulta, E Grave
2.2 Non Ti Lusinghi La Crudeltade
2.3 Padre: A Te Solo Io Palesar Intendo
2.4 D’improvvisoriede Il Riso
2.5 Manlio, Di Tio Il Filio
2.6 E Questa, Manlio, È Questa
2.7 Dovea, Dunque, Dovea
2.8 Se Non V’Aprite Al Dì
2.9 No: Fermati Signora
2.10 Grida Quel Sangue Vendetta
2.11 Vitellia: Dove?
2.12 Rabbia Che Accendasi
2.13 Mia Servilia
2.14 Manlio: Tito Al Tuo Piede
2.15 Dar la Morte A Te Mia Vita
2.16 Alto Campione
2.17 Vedrà Roma, E Vedrà Il Campidoglio
2.18 Ingrata Roma
2.19 Combatta Un Gentil Cor
2.20 Già Da Forte Catena
2.21 Decio Che Porti?
2.22 Nò, Che Non Morirà
2.23 Amor, Su Queste Labbra
2.24 Andrò Fida E Sconsolata
2.25 Forte Cor: Non Ti Scuota O Prego
2.26 Legga, E Vegga
2.27 Addio
2.28 Povero Amante Cor
2.29 Vanne Perfida, Và
2.30 Frà Le Procelle
3º Ato
3.1 Sonno, Se Pur Sei Sonno (3. Akt)
3.2 Deposta Amor la Benda
3.3 Tu Dormi In Tante Pene
3.4 O Crudo, Indegno Laccio
3.5 Parto Contenta
3.6 Toglie, S’Ella Più Resta
3.7 Chi Seguir Vuol La Costanza
3.8 Servilia: Tu Qui Resti
3.9 Non Mi Vuoi Con Te
3.10 Signora: D’Ogni Intorno
3.11 Brutta Cosa È Far La Spia
3.12 Bella Vitellia
3.13 A Te Sarò Fedele
3.14 No Che Non Vedrà Roma
3.15 Padre, Tito, Signor, A Queste Labbra
3.16 Ingrato Manlio, Ascolta
3.17 Ti Lascierei Gl’Affetti Miei
3.18 O Tu, Che Per Alcide
3.19 Sempre Copra Notte Oscura
3.20 Servilia Viene
3.21 Sinfonia Funebre
3.22 E Qui Servilia?
3.23 Viva Il Martre Del Tebro
3.24 Doppo Sì Rei Disastri
3.25 Non Morì Manlio
3.26 Sparì Già Dal Petto
3.27 Tu Dormi In Tante Pene
Rosa Dominguez (Mezzo-Soprano)
Sergio Foresti (Baritone)
Thierry Grégoire (Counter-Tenor)
Nicky Kennedy (Soprano)
Elisabeth Scholl (Soprano)
Lucia Sciannimanico (Mezzo-Soprano)
Bruno Taddia (Baritone)
Modo Antiquo (Early Music Ensemble)
Federico Maria Sardelli (Conductor)
Davide Livermore (Director)

PQP

Desejando a todos um excelente Domingo de Páscoa, FDP Bach traz mais uma primorosa gravação de da música sacra de Vivaldi com Victorio Negri. É música para se meditar, para se refletir, mesmo sendo um agnóstico, enfim, para ficar em paz consigo mesmo.
Caro PQP, creio que ninguém tenha reclamado do seu recente barroquismo simplesmente porque todos adoram o barroco. Por isso, voltarei ao barroco, e novamente com Vivaldi. Além disso, temos o aniversário de nosso pai, no próximo dia 21, portanto, mais um festival barroco. Esse cd que estou postando faz parte de uma caixa da Philips intitulada “Vivaldi – Sacred Choral Music”, e vem bem ao encontro com a Semana Santa. Pretendo postar alguns volumes da série até o domingo de Páscoa.
Então é Natal — que lindo –, os sinos badalam, neva em Porto Alegre e estou inteiramente tomado de boas intenções, com o coração cheio de Cristo. Bem, tá bom. É brincadeira deste ateu mau e comedor de criancinhas. Nada de pedofilia, trata-se de gastronomia mesmo. Como os comunas faziam, lembram? Somos apreciadores das vitelas swiftianas. Mas este CD traz Trevor Pinnock e seu The English Concert num agradável programa natalino, um presentão para nossos leitores-ouvintes. Há música muito boa, mas as melhores vão para as figurinhas carimbadas de sempre: Vivaldi, Handel e Corelli. O restante do recheio é passa de uva. O trio citado é o licor. Desejo-lhes um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo. Que o Menino Jesus ilumine suas vidas!

Este que é mais um CD obrigatório para quem gosta de música barroca. É outro Vivaldi. É um sujeito concentrado, melancólico, quase triste em sua expressão camarística através do cello. Demonstrando ser um compositor que adequava-se à sonoridade dos instrumentos para os quais escrevia – assim como fazia em suas óperas adequando-se aos temas narrados -, temos aqui um Vivaldi quase germânico, como se tivesse nascido em Eisenach. Confiram e depois me contem se estou mentindo. E, como senão bastasse, é música arrebatadora e nada esquecível. CDs belíssimos. O grupo de membros do “famigerado” King`s Consort é simplesmente extraordinário. Por que “famigerado”? Ora, por 

Gents, é o seguinte: este é um disco CONSISTENTE. Na minha opinião, não é nada extraordinário. Mas então por que é CONSISTENTE? Ora, porque os executantes são ótimos, a gravação é bem produzida, é tudo perfeito, porém o repertório — apesar da grife Vivaldi — não é das melhores coisas que aquele padre devasso produziu. Apesar da boa qualidade, a gente sempre espera mais do Totonho. Talvez estivesse entretido com alguma uma de suas alunas do Ospedale della Pietà e tivesse esquecido do mundo, sei lá. Porém… Ah porém… Amanhã postarei um disco altamente matador com as Sonatas para Violoncelo. As irmãs destas sonatas que posto hoje são maravilhosas. Ouçam e comparem. (Talvez o problema seja eu, por ficar feliz de ouvir coisas tristes). E este

Retorno às postagens de música sacra com um ousado projeto de Andrew Parrott e seu Taverner Consort and Players. Ousado pelo fato de Parrott só ter escolhido vozes femininas para seu coral, além das solistas.
Existem algumas gravações que ficam na nossa cabeça para sempre. Já cansamos de dar exemplos aqui no blog, mas creio que o Concierto de Aranjuez seja a obra que mais cedo compreendi, e seu Adágio do segundo movimento a mais bela melodia que ouvi em minha vida. E creio que também seja para muita gente. Seu lirismo melancólico nos comove, e as mais variadas imagens nos vem à mente. Para uns, pode significar a dor da perda de um ente querido, para outros, a lembrança de uma paixão antiga, ou não correspondida. Para mim, lembra minha infância, quando, pela primeira vez, tive acesso ao velho LP com a foto de um jovem John Williams, ao lado do já velhinho Eugene Ormandy. Esta gravação ganha em qualidade por dois motivos principais, em minha concepção: de todas as gravações que Williams já fez deste concerto, esta é a melhor (conheço 3). E além disso, Ormandy sempre foi um eterno apaixonado. Você sente uma emoção pulsante, extraída das cordas da sua Orquestra da Filadélfia, ele extrai da melodia toda a paixão nela contida. Um grande maestro, com uma orquestra moldada ao seu gosto. E um grande violonista, que se estabelecia como um grande mestre.
IM-PER-DÍ-VEL !!!

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Mais um Vivaldi, e mais uma gravação absolutamente imperdível, com a soprano Sandrine Piau deixando-nos totalmente arrepiados com sua interpretação de “In Furore” e “Laude Pueri”, dois motetos extremamente originais do padre ruivo. Nunca deixo de me emocionar com sua força de interpretação, e com a beleza das obras, e acompanhados pela ótima “Academia Bizantina”, dirigida pelo jovem Ottavio Dantone. Já declarei minha obsessão em possuir toda esta coleção da Naive, que pretende lançar todas as obras de Vivaldi. As capas são lindíssimas, e a produção impecável. Inclusive, alguns outros CDs da série já foram postados aqui, e outros ainda o serão. Quem viver, verá. Além de trazer a maravilhosa Sandrine Piau (aliás, não é ela quem está na foto da capa, como eu erroneamente imaginava até algum tempo atrás), o CD nos traz também três concertos do padre ruivo, belissimamente interpretados pela Accademia Bizantina.

Os historicamente informados venceram e o sinal está fechado para nossos pais. Vindo da obscura gravadora Astree Auvidis, o CD que ora lhes apresento é superior ao de nossa última postagem. Sim, aquele era da Philips, tão cheirando a brilho e a cobre, etc., mas inferior. Fazer o quê? Acontece que este aqui é um registro com instrumentos originais e este que vos escreve se acostumou com a sonoridade dos instrumentos de época. Pode parecer que estou brincado, mas não é nada disso. A gente se acostuma ao que é bom e depois vá voltar àquele som sem transparência, vá. Belo disco. Confiram!
Serei culpado de heresia, mas falemos sério. Esse CD, quando comparado com as gravações historicamente informadas, é inferior. Não é que seja ruim, longe disso, é que a transparência dos instrumentos originais é imbatível. Eu tenho este disco em vinil — o Ranulfus e o FDP devem ter também. Holliger em seu auge e o I Musici no mesmo nível, mas, para ouvidos atualizados, apesar do notável equilíbrio obtido pelo excelente Holliger e do perfeito senso de estilo, não funciona mais. O próximo CD que vou postar é também de Concertos de Vivaldi para Oboé — outro repertório — e é melhor. Aguardem!

IM-PER-DÍ-VEL !!!





Capa ilustrativa, pois não sei de onde saiu este bom CD. 
Acho verdadeiramente estranho que ninguém tenha reclamado de meu recente barroquismo. Já disse que vou postando o que vou ouvindo e costumo por passar fases em que parece que apenas um tipo de sonoridade me satisfaz. O que fazer? A Tafelmusik é uma orquestra atlética e alongada. Todos tem abdômen de tanquinho. Tem ritmo, imposição e força; mas não chega a um grau de sensibilidade e sutileza que agrade a este experiente ouvinte. Seu som é redondo, talvez demais. O que quero dizer é que a Tafel é ótima para Vivaldi. Os movimentos rápidos são arrebatadores, nos lentos falta aquela delicadeza que só os verdadeiramente grandes conseguem. A presença de Anner Bylsma é — sempre e sempre — muito bem-vinda. O cara é um monstro. Que violoncelista!
Os pedidos para obras para piccolo foram tão insistentes, que resolvi colaborar. Mas que não se pense que o atendimento às solicitações serão tão frequentes e imediatas. Casualmente, FDP Bach recém havia conseguido este velho e bom CD com obras para piccolo e orquestra. Por isso resolveu atender a solicitação.










Prezados, como estarei viajando no final de semana, minha contribuição para o blog está sendo postada h0je, quinta feira. E começarei com Vivaldi. Mas não se trata de qualquer Vivaldi, e sim de um Vivaldi interpretado por nossa musa inspiradora, com sua voz angelical, Emma Kirkby. Já postei duas outras obras com esta maravilhosa soprano inglesa, especialista no repertório renascentista e barroco. Neste CD Kirkby interpreta Motetos e a Magnificat do padre ruivo. Peças maravilhosas, sensíveis e que mostram o domínio que a sardenta Kirby tem de sua voz. Falar de Vivaldi é chover no molhado. Nunca conheci alguém que dissesse não gostar de sua música. Espero que gostem tanto quanto eu gostei.
A série The Originals, da DG, costuma ser tiro certo. Apesar da absoluta confusão do repertório, este CD é maravilhosamente bem interpretado pelos Oistrakh em diversas formações orquestrais. As obras são tão díspares entre si que dá vontade de ouvir tudo separadamente. Mas, enfim, eram outros tempos e ninguém morria por falta de coerência. Posto este CD por ele ter sido uma audição habitual na casa de meus pais (os outros). É um disco muito alegre do começo ao fim. De certa forma, proporciona um contraste muito caloroso com a preferência contemporânea por performances de época para a maioria destas peças. (Nota: eu AMO e PREFIRO performances de época!). Prezo especialmente os duetos de Wieniawski porque raramente são gravadas. O que é mais legal é que muitas dessas peças são populares entre estudantes de violino, e ter dois violinistas estelares tocando-as é muito gostoso de ouvir.

























