Kaija Saariaho (1952-2023): Obras completas para violoncelo (Alexis Descharmes)

A carreira de Saariaho pode ser resumida em duas fases: a primeira nos anos 1980-90, quando ela utilizava artefatos eletrônicos para amplificar os sons dos instrumentos e/ou para adicionar sons novos; a segunda, a partir dos anos 1990, quando a maior parte das obras é apenas para instrumentos acústicos, mas as preocupações estéticas continuam voltadas para timbres raros e inesperados, mesmo que com instrumentos tradicionais. Os harmônicos e sutilezas no toque do arco nas cordas são surpreendentes em obras como Près, para violoncelo e dispositivo eletrônico (1992) e Oi kuu, para violoncelo e clarinete baixo (1990). Esta última nasceu voltada para a lua, pois oi kuu em finlandês significa algo como “para uma lua”.

Este disco, com suas obras completas para violoncelo solo e em duos, pega justamente a transição entre as duas fases: a obra mais antiga é de 1988 e a mais nova, de 2000. Com a palavra, Kaija Saariaho:

Creio que o que me interessa no violoncelo é o seu ambitus [latim: extensão entre a nota mais grave e a mais aguda]. Se imaginarmos por exemplo várias camadas de textura, o registro grave do violoncelo combina com os harmônicos, oferece uma rica palheta de timbres. O fato de que o instrumento seja fisicamente maior que o violino permite uma realização mais precisa das mudanças de cores e de harmônicos. Com o violino, trata-se sobretudo de uma mecânica de precisão mais, para o violoncelo, a escrita é de certa maneira mais realista, mesmo se, naturalmente, ela é igualmente difícil de executar.

O violoncelo é o meu instrumento preferido, ao menos é o que eu creio porque volto a ele regularmente. O fato de haver violoncelistas notáveis que sempre estiveram dispostos a cooperar comigo certamente contribuiu para isso.

Por que apreciamos ou gostamos de alguma coisa, no fundo é difícil responder a esta questão. Quando escrevi Petals, minha primeira peça para violoncelo, eu já estava concentrada sobre a textura. Examinava as diferentes texturas sonoras e as possibilidades de as metamorfosear.

Na década de 1980 eu me interessava pela questão de saber como podemos, ao amplificar ou modificar eletronicamente sons delicados e frágeis, criar uma música irreal e onírica. Como as pequenas coisas às quais dificilmente prestaríamos qualquer atenção podem subitamente tornar-se imensas e ocupar o espaço sonoro.

Então um dia, passe a me interessar pela fragilidade e pela vulnerabilidade em si mesmas. Na minha última peça para violoncelo, Sept Papillons, não quis amplificar o som [com efeitos eletrônicos] mas espero que o ouvinte preste extrema atenção para escutar todas as pequenas nuances, mesmo as mais frágeis.

Ao escrever essas obras, sempre tentei imaginar o som do violoncelo e seus diferentes tipos de toque de forma bastante concreta e física, ou seja, como os dedos se colocam sobre as cordas, como isso soa. São as duas coisas que me importam mais, no fim das contas: a imaginação sonora em si e essa abordagem quase física do instrumento.

Kaija Saariaho, Paris, 2005 (no encarte do disco)

Kaija Saariaho (1952-2023):
1. Petals – pour Violoncelle et dispositif électronique (1988)
2. Oi Kuu – pour Clarinette Basse et Violoncelle (1990)
3. Spins And Spells – pour Violoncelle seul (1997)
4. Mirrors – pour Flûte et Violoncelle (1997)
5-11. Sept Papillons – pour Violoncelle seul (2000)
12-14. Près – pour Violoncelle et dispositif électronique (1992)

Alexis Descharmes – Violoncelo
Nicolas Baldeyrou – Clarinete Baixo (faixa 2)
Jérémie Fèvre – Flauta (faixa 4)

Recorded at Ircam, Paris, 12-14/09/2004

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Pleyel

Kaija Saariaho (1952-2023): 2 CDs – Private Gardens & Graal Théâtre – Château de l’âme – Amers

Kaija Saariaho (1952-2023): 2 CDs – Private Gardens & Graal Théâtre – Château de l’âme – Amers

Composer Kaija Saariaho at home in Paris on 27 January 2004A água do Báltico é tão boa para a música erudita que as compositoras — infelizmente raras nesta função — também são beneficiárias. Kaija Saariaho não está apenas entre os mais importantes compositores finlandeses do seu tempo, mas deve ser classificada como um dos principais compositores do final do século XX e início do XXI no mundo. Nascida Kaija Anneli Laakkonen, ela começou a estudar artes plásticas na Universidade de Arte e Design. Casou-se com Markku Veikko Ilmari Saariaho em 1972, mas o casamento durou pouco, terminando no ano seguinte. A compositora, no entanto, manteve seu nome de casada. Em 1976, ela começou seus estudos de composição na Academia Sibelius, com Paavo Heininen. Ela obteve licenciatura em composição da academia em 1980. Depois disso, ela matriculou-se na Musikhochschule em Freiburg, Alemanha, para estudar com o compositor britânico Brian Ferneyhough e, na Alemanha, com Klaus Huber. Foi diplomada em 1983. Por esta altura, já começava a ser conhecida. Sus peças mais importantes no período são as Verblendungen para Orquestra e Gravador (1982-1984) e a peça minimalista Vers le blanc (1982). Esta peça foi composta com a utilização de um computador e um software desenvolvido no IRCAM (L’Institut de Recherche et de Coordination, de Paris), onde ela tinha começado estudos em 1982 a respeito de técnicas de computação e como estas se relacionam com a composição musical. Saariaho mudou-se para Paris no mesmo ano. Em 1984, casou-se com Jean-Baptiste Barrière, também compositor. Teve dois dois filhos, Alexandre, nascido em 1989, e Aliisa, em 1995. Em meados da década de 1980, as obras de Saariaho ganharam muita atenção e ela recebeu muitos prêmios, como o Kranichsteiner em 1986, o Prix Italia em 1988, e no ano seguinte, o Ars Electronica por seus trabalhos Stilleben (1987-1988) e Io (1986-1987). Ela também recebeu muitas encomendas, incluindo uma do Lincoln Center, que resultou em Nymphea (1987), estreada pelo Kronos Quartet. No início dos anos 1990, sua música estava começando a aparecer com maior frequência e começou a ser gravada com regularidade. Saariaho alcançou uma popularidade surpreendente para o tipo de música dissonante que fazia. Outras encomendas chegaram, incluindo uma do Ballet Nacional da Finlândia, para o qual ela produziu The Earth (1991). Muitas de suas composições foram escritas especificamente para grandes artistas ou grupos, como com a peça que ela dedicou ao violinista Gidon Kremer, intitulado Graal Théâtre (1994), e o ciclo de canções Château de l’âme (1996), para Dawn Upshaw. Uma viagem em 1993, para o Japão, levou Saariaho a compor uma obra para percussão e eletrônica, Seis jardins japoneses (1993-1995). A compositora passou um ano ensinando na Sibelius Academy (1997-1998). Em 1999, Kurt Masur e a Filarmônica de Nova York estrearam Oltra mar, e o Festival de Salzburgo, sua primeira ópera, L’amour de loin, em agosto de 2000, que contou com Upshaw e o maestro Kent Nagano. Saariaho também continua a receber prêmios, incluindo o alemão Kaske e o sueco Rolf Schock Prize, ambos em 2001. Muitas de suas obras foram disponibilizados em uma variedade de selos, incluindo BIS, Ondine e DG.


Kaija Saariaho: Private Gardens (Upshaw, Karttunen, Hoitenga, Jodelet)

Lonh – Dawn Upshaw (Soprano)
1. Lonh  15:58

Près – Anssi Karttunen (Cello)
2. Près: I. 7:29
3. Près: II. 3:13
4. Près: III. 8:47

NoaNoa – Camilla Hoitenga (Flute)
5. NoaNoa 8:52

Six Japanese Gardens – Florent Jodelet (Percussion)
6. 6 Japanese Gardens: No. 1. Tenju-an Garden of Nanzen-ji Temple 3:50
7. 6 Japanese Gardens: No. 2. Many Pleasures (Garden of the Kinkaku-ji) 1:28
8. 6 Japanese Gardens: No. 3. Dry Mountain Stream 3:20
9. 6 Japanese Gardens: No. 4. Rock Garden of Ryoan-ji 3:52
10. 6 Japanese Gardens: No. 5. Moss Garden of the Saiho-ji 2:52
11. 6 Japanese Gardens: No. 6. Stone Bridges 3:28

Florent Jodelet / Camilla Hoitenga / Dawn Upshaw / Anssi Karttunen

Recording at Ircam, Paris, 1997

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Kaija Saariaho: Graal Théâtre – Château de l’âme – Amers

Graal Théâtre
1) I. Delicato [16:56]
2) II. Impetuoso [10:32]
Gidon Kremer (Violin)
Esa-Pekka Salonen
BBC Symphony Orchestra

Château de l’âme
3) La liane [5:57]
4) A la terre [5:14]
5) La liane [3:01]
6) Pour repousser l’espirit [2:08]
7)Les formules [7:53]
Dawn Upshaw (Soprano)
Esa-Pekka Salonen
Finnish Radio Symphony Orchestra
Finnish Radio Chamber Choir members

Amers
8) Part 1: Libero, dolce, misterioso [8:48]
9) Part 2: Sempre molto energico, ma espressivo [10:59]

Anssi Karttunen (Cello)
Esa-Pekka Salonen
Avanti Chamber Orchestra

Recorded at Maida Vale Studio 1, London, June 1996 (tracks 1-2); Kulttuuritalo (Hall of Culture), Helsinki, June 2000 (tracks 3-7); Finnish Broadcasting Company, Helsinki, June 1998 (tracks 8-9)

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Saariaho em 2009
Saariaho em 2009

PQP (postagem original em 2012)

Os sons delicados, frágeis, irreais e oníricos de Kaija Saariaho (1952-2023)

A compositora Kaija Saariaho morreu em sua própria cama na manhã de 2 de junho de 2023. O comunicado da família prossegue: os tumores cerebrais não afetaram suas capacidades cognitivas, exceto nos últimos momentos da doença. Eles atrapalhavam, porém, as capacidades motoras, causando dificuldades para andar e diversas quedas e, com isso, ossos quebrados. Suas aparições de cadeira de rodas geravam perguntas das quais ela desviava: seguindo conselhos de seu médico, ela manteve a doença como assunto privado, de família, para poder focar no seu trabalho sem ser vista como uma incapaz.

Essa postura discreta – e aqui falo eu, do Brasil, sem nunca tê-la visto de perto nem mesmo de longe – apenas deu seguimento ao estilo de Saariaho, pelo menos ao julgarmos por essa fala típica de tímidos famosos (famosos tímidos?) como Luís Fernando Verissimo: quando ela era jovem e estudava órgão antes de se dedicar inteiramente à composição,

Eu me sentia bem confortável [tocando órgão], porque eu podia tocar e ainda assim ficar escondida da plateia.

Saariaho no IRCAM, 1987

Apesar dessa personalidade tímida, discreta, ela queria compor e ser ouvida: para isso, saiu da sua Finlândia natal, onde, segundo ela, na época ninguém queria saber de música nova. Estranha mudança: hoje, é um dos países mais receptivos para a música clássica contemporânea. Mas estamos falando de mais de 40 anos atrás: ela se mudou para Paris, se casou com um francês e foi trabalhar no IRCAM (Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique; em português, Instituto de Pesquisa e Coordenação Acústica/Música).

Em 2005 Saariaho escreveu, se recordando: “Na década de 1980 eu me interessava pela questão de saber como podemos, ao amplificar ou modificar eletronicamente sons delicados e frágeis, criar uma música irreal e onírica. Como as pequenas coisas às quais dificilmente prestaríamos qualquer atenção podem subitamente tornar-se imensas e ocupar o espaço sonoro.”

Nessa preocupação mais com timbres do que com melodias e mais com o preenchimento do “espaço sonoro” do que com uma narrativa a exemplo da forma-sonata, ela se colocava como parte de uma tradição que incluía Debussy, Dutilleux e muitos de seus contemporâneos. Nos anos 90 ela compôs seu primeiro concerto para um instrumento solista com orquestra e sem artifícios eletrônicos: dedicado ao violinista Gidon Kremer, seria o primeiro de muitas obras do tipo. Concerto, para Saariaho, não é necessariamente uma obra em três movimentos no esquema típico da música clássica desde os tempos de Vivaldi… Na mesma entrevista em que admitia se sentir confortável escondida do público, ela dizia que a “ideia de pegar uma forma pré-definida e dizer ‘ok, vamos escrever uma sonata ou compor algo de acordo com uma forma clássica’ – simplesmente não é possível para a minha música.”

O concerto então, não é uma forma pré-definida e nem uma demonstração de virtuosismo de um instrumentista-estrela extrovertido: é sempre, para Saariaho, a oportunidade de confrontar os timbres da orquestra com os do solista, e ela dizia também que aprendia muito conversando com os solistas para quem os concertos eram dedicados. Vários concertos vieram: depois do violino de Kremer (que aliás foi padrinho de muita música nova, incluindo também o 1º concerto de Gubaidulina, e contribuiu para o reconhecimento mundial de ambas as compositoras) em 1994, vieram obras orquestrais tendo como solista a flauta (2001), o violoncelo (2006), o clarinete (2010), o órgão (2013), a harpa (2015) e várias peças vocais com orquestra. Sua última obra, composta quando doente, foi um concerto para trompete, a ser estreado em agosto próximo.

Teremos mais Saariaho aqui no blog ainda este mês. Trago hoje apenas dois bombons, duas gravações de rádio, uma em Paris e uma em Londres, em duas das principais salas de concerto da Europa, pois Saariaho, felizmente, foi reconhecida em vida.

A Dama e o Unicórnio – Flandres, circa 1500 – clique para aumentar

Em “D’om le vrai sens” (2010), Saariaho se inspira nas seis tapeçarias da série “A Dama e o Unicórnio”, feitas por volta de 1500, com cinco delas representando os cinco sentidos e a última com a inscrição “à mon seul désir”, que suscitou várias interpretações sobre se este sexto sentido seria o desejo, o amor ou algo do tipo. Na peça, o clarinetista anda pelo público e pelo meio da orquestra, como aqueles atores de teatro contemporâneo que vão conversar com a plateia, ao invés de ficar brilhando no alto do palco.

Em “Vers toi qui es si loin” (2018), na verdade uma adaptação da ária final de sua primeira ópera estreada em 2000, Saariaho novamente escreveu para violino e orquestra anos após o concerto de 1994. É uma curta peça que acaba de modo abrupto como os sonhos. Para nos aproximarmos do mundo dessa compositora que buscava a delicadeza e a imprevisibilidade da “Gramática dos sonhos” (nome de uma peça de 1988 para duas cantoras, harpa, viola e cello), entendo que os concertos para solista e orquestra oferecem uma certa moldura em que o ouvinte já conhece um mínimo do que vai encontrar, ao contrário das obras orquestrais sem solista e as da fase mais eletrônica de Saariaho, essas sim verdadeiramente imprevisíveis e podendo gerar uma certa confusão nos recém-chegados.

Kaija Saariaho (1952-2023):
D’om le vrai sens (2010) (34:00)

Kari Kriikku, clarinet
Orch. Philh. de Radio France, Esa-Pekka Salonen
Live, 19 feb 2011
Théâtre du Châtelet, Paris

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E-P. Salonen e K. Saariaho, 2005

Kaija Saariaho (1952-2023):
Vers toi qui es si loin (2018) (6:22)

Maria Włoszczowska, violin
Royal Northern Sinfonia, Dinis Sousa, conductor
Live, August 14, 2022
Royal Albert Hall, London
BBC Proms 2022, Prom 37

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Pleyel

Kaija Saariaho (1952): Six Japanese Gardens / Trois Rivières Delta

Kaija Saariaho (1952): Six Japanese Gardens / Trois Rivières Delta

saariahoFala Saariaho:

Seis Jardins Japoneses é uma coleção de impressões sobre os jardins que vi em Kyoto durante a minha estadia no Japão, no verão de 1993 e minhas reflexões sobre o ritmo naquela época.

Como o título indica, a peça é dividida em seis partes. Cada uma destas partes tem a aparência de um material específico rítmico, a partir da primeira parte simples, em que a instrumentação principal é introduzida, usando figuras polirrítmicos em ostinato ou complexas, com alternância de material rítmico e colorístico.

A seleção dos instrumentos tocados pelo percussionista é voluntariamente reduzido para dar espaço para a percepção das evoluções rítmicas. Além disso, as cores reduzidas são estendidas com a adição de uma parte eletrônica, em que ouvimos os sons da natureza, canto ritual, e instrumentos de percussão gravados no Colégio Kuntachi de Música. As seções já misturadas são acionados pelo percussionista durante a peça, a partir de um computador Macintosh.

Todo o trabalho para o processamento e mistura do material pré-gravado foi feito com um computador Macintosh no meu home studio. Algumas transformações são feitas com os filtros ressonantes no programa CANTO, e com o SVP Phaser Vocoder. Este trabalho foi feito com Jean-Baptiste Barrière. A mistura final foi feita com o programa Protools com o auxílio de Hanspeter Stubbe Teglbjaerg.

A peça é encomendada pela Academia Kunitachi de Música e dedicada a Shinti Ueno.

Kaija Saariaho (1952): Six Japanese Gardens / Trois Rivières Delta

Six Japanese Gardens (1993) 16m03s
1 Tenju-an Garden of Nanzen-ji Temple 3m12s
2 Kinkaku-ki (Golden Pavillon) 1m20s
3 Tenryu-ji (Dry Mountain Stream) 3m03s
4 Ryoan-ji (Sand Garden) 2m20s
5 Saiho-ji (Moss Garden) 2m48s
6 Daisen-in (Stone Bridges) 3m10s

7 Trois rivières Delta (1993) 14m14s
7 1 3m45s
8 2 6m36s
9 3 3m53s

Thierry Miroglio, percussion

Total duration: 30m17s

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Saariaho: belezas orientais
Saariaho: belezas orientais

PQP

Kaija Saariaho (1952 – ): Notes on Light, Orion, Mirage

“Finalmente”, alguém dirá, “algo novo nessas plagas”. É verdade, as composições são bem recentes e escritas pela compositora finlandesa Kaija Saariaho, considerada uma das mais importantes compositoras do momento. Nascida em Helsink em 1952 e graduada em composição em 1980. Escreveu música eletrônica nos anos 1980 como ninguém, fazendo também uma mistura com instrumentos clássicos. Ela tem sido muito bem recebida pelo público, apesar dela não fazer concessões. Sua música lembra muito o som “New Age”, mas claro, muito superior.

A primeira obra do disco é um concerto para violoncelo chamado Notes on Light (2006). O concerto tem 5 movimentos, cada um com um título inusitado: “ secret translucent”, “on fire”, “awakening”, “eclipse” e “heart of light”. Apesar de não conter nada realmente surpreendente em sua linguagem, essa peça é muito bem escrita, transportando-nos para um outro mundo. Orion é uma obra orquestral escrita por alguém com grande domínio e talento.

Mas a melhor peça do disco é Mirage (2008) para soprano, violoncelo e orquestra. Karita Mattila é realmente uma das mais importantes sopranos de todos os tempos, e aqui ela simplesmente brilha. Só esta peça já vale a compra deste disco.

Enfim, não podemos ficar tão pessimistas assim com relação à música da nossa época.

CDF

Disco:

1. Notes On Light – Translucent, Secret
2. Notes On Light – On Fire
3. Notes On Light – Awakening
4. Notes On Light – Eclipse
5. Notes On Light – Heart Of Light
6. Orion – Memento Mori
7. Orion – Winter Sky
8. Orion – Hunter
9. Mirage

Anssi Kartunnen (cello),
Karita Mattila (soprano)
Christoph Eschenbach (Conductor), Orchestre de l’Opéra de Paris

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