Dia Internacional do Orgulho – Uma celebração do legado de artistas LGBTQIA+

Ainda assopro as feridas e conto os hematomas das trevas de que ora emergimos, enquanto ardo em sanhas de justiça às vítimas dos anos mortíferos em que a ignorância e a truculência foram políticas de Estado no Brasil. Nesse contexto pós-traumático, e instigado pela iniciativa de minha alma mater, eu saúdo e celebro o Dia Internacional do Orgulho trazendo-lhes um punhadinho das muitas lindezas legadas ao mundo por compositores LGBTQIA+.

Uma seleção assim jamais poderá ser inclusiva o bastante para o imenso escopo dessa homenagem, pelo que lhes peço desculpas antecipadas pelas necessárias omissões. Ainda assim, faço questão de oferecê-la à totalidade de vocês – tanto a quem está do lado de cá da luta quanto a quem, desgraçadamente, a rechaça pelos motivos mesmos  que a tornam tão necessária. Se a Arte, afinal, é livre, o legado dessa linda gente também é – e deve chegar a todos, mesmo a quem lhes quer dar pontapés.

E a quem é indiferente essa luta diuturna por crer que ela não seja sua, lembro as palavras de Audre Lorde – mulher, lésbica e preta – sobre os grilhões impostos pelo racismo e o machismo…


Não serei livre enquanto alguma mulher não for livre, mesmo que suas algemas sejam muito diferentes das minhas. E não estarei livre enquanto qualquer pessoa de cor estiver acorrentada – e nem estará qualquer de vocês”


… e os convido a constatarem que, pelos mesmos motivos, todos os seres humanos privados de quaisquer de seus direitos fundamentais merecem essa luta, e que ela, portanto, é de todos nós.

Celebremos e protestemos, protejamos e respeitemos – e melhoremos, sempre.

Vassily


A londrina Ethel Smyth (1858-1944) sempre seguiu briosamente seus próprios rumos, o que implicou, como sói acontecer com as mulheres desde bem antes de seus tempos, uma vida de rompimentos: com o pai (que a proibiu de estudar Música), com a sociedade (que dela esperava casamento com um homem e uma penca de filhos) e com o governo (que a impedia, assim como todas as mulheres, de qualquer atividade política). Ethel foi uma ativa sufragista, que compôs o hino do movimento e chegou a ser presa por depredar um prédio público de onde um burocrata afirmara que mulheres só poderiam votar se fossem “submissas como a minha”. Essa criatura porreta estreia no PQP Bach com três álbuns: uma seleção de suas numerosas peças vocais, muitas delas cantadas em alemão, graças a sua temporada de estudos no Conservatório de Leipzig; um robusto trio e sonatas para violino e violoncelo, todos com piano; e sua obra mais inclassificável, The Prison, uma espécie de sinfonia-oratório (pois vocês ouvirão que é muito mais que isso) em que um prisioneiro (baixo-barítono) que contempla o suicídio divaga com sua alma (soprano), que tenta lhe trazer conforto, entre comentários metafísicos do coro.

Quatro canções para voz e orquestra de câmara
Lieder und Balladen, Op. 3
Lieder, Op.4
Três canções

Lucy Stevens, contralto
Elizabeth Marcus, piano
Berkeley Ensemble
Odaline de la Martinez, regência

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Trio para piano, violino e violoncelo em Ré menor
Sonata para violino e piano em Lá menor, Op. 7
Sonata para violoncelo e piano em Lá menor, Op. 5

Chagall Trio:
Nikoline Kraamwinkel, violino
Tim Gill, violoncelo
Julian Rolton, piano

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The Prison, para solistas, coro e orquestra (1930)

Sarah Brailey, soprano
Dashon Burton, baixo-barítono
Experiential Orchestra and Chorus
James Blachly, regência

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Hans Werner Henze (1926-2012), perseguido em sua Alemanha natal por ser gay e marxista, radicou-se na Itália, onde filiou-se ao Partido Comunista e desenvolveu sua carreira, retornando posteriormente a seu país de origem. Sua variada, riquíssima produção torna especialmente complicada a tarefa de escolher uma fatia que lhe seja mais representativa, de modo que escolhi oferecer-lhes três: a primeira com suas sinfonias de 1 a 6, conduzidas por ele próprio; a seguinte com sua leitura para o oratório Das Floß der Medusa (“A Balsa de Medusa”), inspirado numa célebre pintura mas, em verdade, composto como um réquiem para Ernesto “Che” Guevara, o que levou alguns descontentes a impedirem  sua estreia em Hamburgo, em 1968; e a trilha sonora para o filme “Um Amor de Swann”, inspirado no romance de Proust, que eu adorei desde a primeira audição e só descobri ser de Henze ao revisitá-la recentemente.

Sinfonia no. 1 (1947)
Sinfonia no. 2 (1949)
Sinfonia no. 3 (1949-50)
Sinfonia no. 4 (1955)
Sinfonia no. 5 (1962)
Sinfonia no. 6 (1969)

Berliner Philharmoniker
London Symphony Orchestra (sinfonia no. 6)
Hans Werner Henze, regência

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Das Floß der Medusa, oratório para solistas, coro e orquestra (1968)

Charles Régnier, narrador
Edda Moser, soprano
Dietrich Fischer-Dieskau, barítono
Chor des Norddeutschen Rundfunks
RIAS-Kammerchor Chorus
Mitglieder Des Hamburger Knabenchores St. Nikolai
Symphonie-Orchester Des Norddeutschen Rundfunks
Hans Werner Henze, regência

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Trilha sonora original para o filme Ein Liebe von Swann, de Völker Schlöndorff (1984)

Orchestre Symphonique de la Radio Bâle
Hans Werner Henze, regência

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Ninguém estava melhor preparada que Wendy Carlos (1939) para trazer o sintetizador para a ribalta: diplomas em Música e Física, longa experiência em estúdios, colaborações com Robert Moog, inventor do sintetizador homônimo, e uma combinação incomum de meticulosidade e perseverança que a fez, entre outras proezas, montar um estúdio repleto de inventos e cheinho de soluções. Mesmo assim, quando Switched-On Bach  (1968) tornou-se o surpreendente maremoto de sucesso que vendeu mais de um milhão de cópias e fez ninguém menos que Glenn Gould chamá-lo de “uma das conquistas mais surpreendentes da indústria fonográfica nesta geração e certamente um dos grandes feitos na história da performance de teclado”, a mui discreta Wendy viu-se jogada ao escrutínio do mundo – e em plena transição. Os fãs pediram mais, e o mundo acabou ganhando outros volumes Switched-On, que acabaram eclipsando outras vertentes do trabalho dela, como a composição de trilhas sonoras (mais famosamente para “A Laranja Mecânica” e “O Iluminado”, do genial e complicadinho Stanley Kubrick, que aproveitou nos filmes muito pouco do que Wendy lhe criou) e seu verdadeiro xodó, suas composições originais que exploram, em altos voos, os recursos que ela própria tanto ajudou a expandir no instrumento. Homenageio esta visionária, brilhante criatura com três álbuns que cobrem o escopo das décadas seguintes a Switched-On Bach : Sonic Seasonings (1972), volume duplo com quatro peças inspiradas nas estações do ano; Digital Moonscapes (1984), em que ela emula uma grande orquestra sinfônica em peças inspiradas em Astronomia, outra de suas paixões; e o eletrizante Tales of Heaven and Hell (1998), uma jornada sônica por um inferno pós-dantesco e neoboschiano. Aproveito o ensejo para fazer-lhes um convite para visitar seu site oficial, deliciosamente antiquado (mesmo porque não é atualizado desde 2009!), com muitas colaborações da própria Wendy, na esperança de que um influxo de visitantes faça a genial reclusa pelo menos  reaparecer para nos dar um oi 🙂

Spring
Summer
Fall
Winter
Winter (Outtake)
Aurora Borealis
Midnight Sun

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Cosmological Impressions
Genesis – Eden – I.C. (Intergalactic Communications)

Moonscapes
Luna – Phobos and Deimos – Ganymede – Europa  – Io – Callisto – Rhea – Titan -Iapetus

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Transitional
HeavenScent
Clockwork Black
City of Temptation
Memories
Afterlife
Seraphim

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BÔNUS:
de lambujem, alcanço-lhes também o único álbum infantil composto por Wendy, lançado em 1988, numa colaboração com outra figura única – Weird Al Yankovic. As tramas de “Pedro e o Lobo” e “O Carnaval dos Animais” são aqui recontadas sem uma nota sequer de Prokofiev e Saint-Saëns, com música totalmente nova e alguns aditivos curiosos, como o peculiar instrumento usado por Pedro para capturar o lobo, e alguns seres tão invulgares quanto os intérpretes, como o aardvark e o unicórnio. É ouvir para crer.

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Hans Werner Henze (1926-2012): Requiem, Nine Sacred Concertos For Piano Solo, Trumpet Concertante And Chamber Orchestra (Metzmacher)

Hans Werner Henze (1926-2012): Requiem, Nine Sacred Concertos For Piano Solo, Trumpet Concertante And Chamber Orchestra (Metzmacher)

Este é um Réquiem diferente. Um Réquiem sem solistas vocais nem coro. Um Réquiem instrumental. Com suas imagens de guerra e terror, angústia e esperança, é tentador ver neste ciclo de nove concertos de Henze um memorial para aquele capítulo da história alemã que se encerrou com a queda do Muro de Berlim. É preciso resistir à tentação: o compositor refutou categoricamente essa interpretação, pois a inspiração era pessoal, decorrente da morte de seu amigo, o Diretor Artístico da Sinfonietta de Londres, Michael Vyner, em 1989 e mais amplo do que a história de qualquer nação. Composto entre 1990 e 1992, o Réquiem  instrumental e não litúrgico foi estreado em 1993 em Colônia pelo grupo acima. Os grandes estouros do Dies irae e do Rex tremendae, provocados pelos acontecimentos da Guerra do Golfo em 1991, são conduzidos pela orquestra com a mesma segurança com que a delicadeza e a quietude exigidas no Lux aeterna e no Agnus dei. Para quem não conhece, Hans Werner Henze foi um compositor alemão residente na Itália, conhecido por suas opiniões políticas marxistas que influenciam na sua obra. Trocou a Alemanha pela Itália em 1953, em razão da intolerância as suas posições políticas e a sua homossexualidade.

Requiem, Nine Sacred Concertos For Piano Solo, Trumpet Concertante And Chamber Orchestra

1 I. Introitus: Requiem 4:03
2 Il. Dies Irae 7:19
3 Ill. Ave Verum 7:16
4 IV. Lux Aeterna 7:50
5 V. Rex Tremendae 7:20
6 Vl. Agnus Dei 7:57
7 Vll. Tuba Mirum 6:49
8 VIll. Lacrimosa 6:55
9 IX. Sanctus 7:29

Conductor – Ingo Metzmacher
Ensemble – Ensemble Modern
Piano – Ueli Wiget
Trumpet – Håkan Hardenberger

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Henze, este foi grande!

PQP

Amoyel, Bacri, Britten, Cassadó, Crumb, Dutilleux, Henze, Kodály, Ligeti: O Violoncelo do Século XX

Amoyel, Bacri, Britten, Cassadó, Crumb, Dutilleux, Henze, Kodály, Ligeti: O Violoncelo do Século XX

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Este álbum reúne dois CDs de música moderna para violoncelo solo interpretados por Emmanuelle Bertrand. No passado recente, ambos foram lançados em separado. O primeiro disco é a estreia de Bertrand na Harmonia Mundi. Ele apresenta obras de Dutilleux, Crumb, Henze, Ligeti e Bacri. O segundo, lançado sob o título Le violoncelle parle (o violoncelo fala), inclui suítes para violoncelo solo de Britten e Cassadó e a monumental Sonata de Kodaly para violoncelo solo. Nas mãos de Bertrand, o violoncelo realmente “fala” e nos leva direto ao coração de uma linguagem ainda não compreendida por todos. “Não gostam agora? Gostarão mais tarde”, diria Beethoven. Muitas das peças foram dedicadas a Bertrand, mas damos destaque especial para Itinérance, onde a violoncelista canta — sim, com a voz. É óbvio que o compositor Pascal Amoyel sabia da bela voz da violoncelista.

Emmanuelle Bertrand – Le violoncelle au XXe siècle

Disc 1

Henri Dutilleux [1916-2013]
Trois strophes sur le nom de SACHER (1976-82)
1 I. Un poco indeciso / A tempo 4’02
2 II. Andante sostenuto 3’21
3 III. Vivace – Calmo – A tempo 3’14

Hans Werner Henze [1926-2012]
Sérénade (1949)
4 I. Adagio rubato 0’58
5 II. Poco allegretto 0’50
6 III. Pastorale 0’42
7 IV. Andante con moto. Rubato 0’59
8 V. Vivace 0’42
9 VI. Tango 1’16
10 VII. Allegro marciale 0’42
11 VIII. Allegretto 0’44
12 IX. Menuett 1’04

George Crumb [1929]
Sonate (1955)
13 I. Fantasia. Andante espressivo e con molto rubato 4’16
14 II. Tema pastorale con variazioni. Tema : Grazioso e dlicato Var. I : Un poco più animato. Var. II : Allegro possibile e sempre pizzicato. Var. III : Poco adagio e molto espressivo 5’01
15 III. Toccata. Largo e drammatico. Allegro vivace 2’31

György Ligeti [1923-2006]
Sonate (1948-53)
16 I. Dialogo. Adagio, rubato, cantabile 5’18
17 II. Capriccio. Presto con slancio – Sostenuto – Presto 5’10

Nicolas Bacri [1961]
Suite n°4 op.50 (1994-96)
dédiée à Emmanuelle Bertrand
18 I. Preludio. Adagio 4’35
19 II. Sonata gioconda. Presto volante, etc. 2’43
20 III. Intermezzo improvvisato. Adagio lamentoso 4’02
21 IV. Sonata seria. Andante maestoso 4’56

Disc 2

Benjamin Britten [1913-1976]
Suite for solo violoncello no.3 op.87 (1971) in C minor / ut mineur / e-moll
1 I. Introduzione. Lento 2’15
2 II. Marcia. Allegro 1’44
3 III. Canto. Con moto 1’20
4 IV. Barcarola. Lento 1’19
5 V. Dialogo. Allegretto 1’27
6 VI. Fuga. Andante espressivo 2’48
7 VII. Recitativo. Fantastico 1’27
8 VIII. Moto perpetuo. Presto 0’55
9 IX. Passacaglia. Lento solenne 8’32

Gaspar Cassadó [1897-1966]
Suite for solo violoncello (1926)
10 I. Preludio-Fantasia. Andante 6’06
11 II. Sardana (Danza). Allegro giusto 4’09
12 III. Intermezzo e danza finale. Lento ma non troppo 5’23

Pascal Amoyel [1971]
13 Itinérance (2003). Lento. Prégnant, du fond des âges 10’35

Zoltán Kodály [1882-1967]
Sonata for solo violoncello op.8 (1915)
14 I. Allegro maestoso ma appassionato 9’13
15 II. Adagio 12’50
16 III. Allegro molto vivace 11’46

Nicolas Bacri [1961]
17. Suite No. 4 pour violoncelle seul, Op. 50: V. Postludio – Adagio (2:36)

Emmanuelle Bertrand, violoncelo e também voz em Itinérance

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Emmanuelle Bertrand: intimidade com o século XX
Emmanuelle Bertrand: intimidade com o século XX

PQP

Hans Werner Henze (1926 – 2012): Sinfonias Nos. 7 & 9 / Barcarola / Three Auden Songs

Hans Werner Henze (1926 – 2012): Sinfonias Nos. 7 & 9 / Barcarola / Three Auden Songs

Nos anos 80, quando a Rádio da UFRGS começou a divulgar a obra de Hans Werner Henze, eu passei a gostar de sua obra algo provocadora e surpreendente. Não sabia nada a respeito dele. Minha primeira pesquisa indicou uma coisa que jamais imaginaria. OK, era um compositor alemão residente na Itália, blá-blá-blá, mas era conhecido pelas opiniões políticas marxistas que influenciaram na sua obra. Também trocara a Alemanha pela Itália em 1953, em razão da intolerância em relação as suas posições políticas e a sua homossexualidade. Membro do PCI (Partido Comunista Italiano), Henze produziu composições em homenagem a Ho Chi Min e a Che Guevara — o Réquiem intitulado Das Floss der Medusa (A balsa da Medusa), cuja estreia foi vetada em Hamburgo, em 1968.

Henze compôs em vários estilos, tendo sido influenciado pela música atonal, Stravinsky, pela técnica dodecafônica, pelo estruturalismo e por alguns elementos da música popular, do rock e do jazz.

Num escrito de 1975, Henze define assim sua arte: “O teatro foi e é o meu território, tenho sempre que voltar a ele. Minha música anseia pelo gesto, a corporalidade e a plasticidade. Ela se entende como drama, algo que pertence intimamente à vida, e que não poderia existir na abstinência higiênica ou no particular, no doméstico”. Mas Henze escreveu de tudo um pouco. Uma das habilidades mais admiráveis do compositor era a de combinar técnicas e elementos musicais os mais díspares, da melodia lírica (e tonal) ao complexo sonoro eletroacústico, do leitmotiv wagneriano ao serialismo estrito e os dispositivos aleatórios.

Hans Werner Henze (1926 – 2012): Sinfonias Nos. 7 & 9 / Barcarola / Three Auden Songs

Disc 1:

1 Barcarola 21:30

Symphony No. 7:
2 I. Tanz – Lebhaft und beseelt 10:58
3 II. Ruhig bewegt 12:42
4 III. Unablässig in Bewegung 5:12
5 IV. Ruhig, verhalten 9:28

City of Birmingham Symphony Orchestra
Sir Simon Rattle

Disc 2

Symphony No. 9:
1 I. Die Flucht 5:28
2 II. Bei Den Toten 6:31
3 III. Bericht Der Verfolger 1:45
4 IV. Die Platane Spricht 7:33
5 V. Der Sturz 7:25
6 VI. Nachts Im Dom 17:07
7 VII. Die Rettung 7:47

Berliner Philharmoniker
Rundfunkchor Berlin
Ingo Metzmacher

Three Auden Songs:
8 I. In Memoriam L.K.A. 1950-1952 2:10
9 II. Rimbaud 2:46
10 III. Lay Your Sleeping Head, My Love 5:32

Ian Bostridge
Julius Drake

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Der Komponist Hans Werner Henze, photographiert am 27.09.1996 in der Koelner Philharmonie.
O compositor Hans Werner Henze em 1996

PQP

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 6 / Hans Werner Henze (1926-2012): Sebastian im Traum

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 6 / Hans Werner Henze (1926-2012): Sebastian im Traum

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Mais um disco extraordinário que reúne Mahler, o Concertgebouw de Amsterdam e Mariss Jansons, agora com a companhia de Hans Werner Henze, um grande e pouco ouvido compositor. E novamente a química funciona em outra gravação ao vivo. O Traum de Henze é mais um pesadelo que um sonho, mas é grande música, vale a pena conhecer. Para quem não conhece Henze: Hans Werner Henze foi um compositor alemão residente na Itália, conhecido por suas opiniões políticas marxistas que influenciaram sua obra. Trocou a Alemanha pela Itália em 1953, em razão da intolerância as suas posições políticas e a sua homossexualidade. Membro do antigo Partido Comunista Italiano, Henze produziu composições em homenagem a Ho Chi Min e a Che Guevara — o requiem intitulado Das Floss der Medusa (A balsa da Medusa), cuja estreia foi vetada em Hamburgo, em 1968. Henze compõe em vários estilos, tendo sido influenciado pela música atonal, Stravinsky, pela técnica dodecafônica, pelo estruturalismo e por alguns elementos da música popular, do rock e do jazz.

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 6 /
Hans Werner Henze (1926-2012): Sebastian im Traum

1. Symphony No. 6 In A Minor: Allegro energico, ma non troppo 23:50
2. Symphony No. 6 In A Minor: Andante moderato 15:41
3. Symphony No. 6 In A Minor: Scherzo: Wuchtig 13:15
4. Symphony No. 6: Finale: Allegretto moderato 31:28

5. Sebastian Im Traum: I. BPM = Circa 80 4:45
6. Sebastian Im Traum: II. Ruhig fliessend 6:19
7. Sebastian Im Traum: III. BPM = 66 3:18

Amsterdam Concertgebouw Orchestra
Mariss Jansons

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Henze: mais afeito aos pesadelos do que propriamente aos sonhos.
Henze: mais afeito aos pesadelos que propriamente aos sonhos.

PQP

Hans Werner Henze (1926- ) – Barcarola para Grande Orquestra e Sinfonia Nº 7

A música nos comunica o quê? Como eu sabia que, ao ouvir suas sinfonias na Rádio da UFRGS, Shostakovich estava sendo profundamente confessional? Como é que eu gostava de Henze, sabendo que sua música era sobre revolução, sem ter lido nada a respeito? Que estranhos subtextos nossos ouvidos recebem, que informações processamos? Que referencial? Não sei. Um dia, disse que ia postar minhas dez jóias da coroa, aqueles discos que não empresto nem que me torturem. Aí está um deles.

O CD vale pela notável Sinfonia Nº 7. Ela veio após um longo período sem compor sinfonias – a sexta data de 1969. Ela procura um meio termo entre a tradição clássica e a modernidade. É sua maior obra no gênero. Rattle é um admirador de Henze e aqui consegue dar-lhe grandiosidade e dramatismo adequados. A Barcarola é boa, mas não chega aos pés da Sinfonia. Só o radicalismo idiota pode negar-se a ouvir Henze, rejeitando o importante lugar na música que merece.

Lembrem o que disse Steve Reich:

Todos os músicos do passado, começando na Idade Média, estavam interessados na música popular e na de seus antecessores. A música de Béla Bartók se fez inteiramente com fontes de música tradicional húngara. E Igor Stravinsky, ainda que gostasse de nos enganar, utilizou toda a sorte de fontes russas para seus primeros balés. A grande obra-prima Ópera dos Três Vinténs, de Kurt Weill, utiliza o estilo de cabaret da República de Weimar. Arnold Schoenberg e seus seguidores criaram um muro artificial, que nunca existiu antes. Minha geração atirou o muro abaixo e agora estamos novamente numa situação normal. Por exemplo, se Brian Eno ou David Bowie recorrem a mim e se músicos populares reutilizam minha música, como The Orb ou DJ Spooky, é uma coisa boa. Este é um procedimento histórico habitual, normal, natural.

Concordo com Reich. A escola de Viena e seus seguidores foram talvez naturais dentro da evolução da música, mas foram excrescências na história da música com seus grupinhos de iniciados e outros tribalismos chiques. Há quase dois anos, ao completar 80 anos, a Deustche Welle publicou o artigo de Augusto Valente que reproduzo a seguir:

Um dos compositores alemães mais bem-sucedidos completa 80 anos. Moderno demais para a burguesia, “liberal de limusine” para a vanguarda, Henze permanece uma figura que desafia definições sumárias.

A menos que se aceite sem questionar a sentença sumária da intelligentsia musical – “epígono”, “reacionário”, “anacrônico” – não é fácil definir em uma palavra a personagem Hans Werner Henze.

Para começar, uma das habilidades mais admiráveis do compositor é a de combinar técnicas e elementos musicais os mais díspares, da melodia lírica ao complexo sonoro eletroacústico, do leitmotiv wagneriano ao serialismo estrito e os dispositivos aleatórios. Uma liberdade que, por outro lado, oferece flanco a críticas ainda mais ferinas: “oportunista”, “inconseqüente”, “eclético”.

Henze, portanto, um reacionário oportunista? Então, onde se encaixa o ativismo político, suas idôneas tentativas de usar a música contemporânea como instrumento de resistência, seus anos de “terror da burguesia” e o conseqüente preço que pagou em sua carreira?

É preciso mais do que uma palavra para definir essa personagem.

Povo de assassinos

Hans Werner Henze nasce em 1º de julho de 1926 em Gütersloh, no Estado alemão de Vestfália. Um entre seis filhos, resolve estudar música contra a vontade dos pais. Ainda adolescente, sente-se atraído pelas composições modernas, então condenadas pelo regime nazista como “degeneradas”.

A identificação do pai com o nazismo faz com que as crianças se afastem deste (“Ele era um estranho para nós, nunca falava conosco”) e se aproximem da figura materna (“Nunca encontrei tanta ética, tanta musicalidade e sentimento de justiça como em minha mãe”).

Outsider precoce, Hans Werner “sabia que havia campos de concentração e conhecia gente que fora internada”, graças aos contatos de sua família tanto com a direita como com a esquerda. “Desde então acho os alemães suspeitos e horríveis. Até hoje”, revelou numa entrevista recente.

É recrutado aos 18 anos para lutar na guerra, como “soldado alemão, pertencente a uma nação cheia de assassinos e racistas”. Após ser transferido para o setor de cinema de propaganda e ficar preso num campo inglês, retoma em 1946 os estudos de música.

Being German

Seu professor, Wolfgang Fortner, o apresenta naquele mesmo ano como aluno-sensação nos Cursos de Férias de Darmstadt. Entretanto, nos anos seguintes, a linha desse foro da música nova se radicaliza. Um furor ideológico se sobrepõe à estética, o serialismo integral é a única linguagem aceitável.

Com suas “concessões” ao passado, à eufonia, à tonalidade, Henze é persona non grata nos meios da vanguarda. Anos mais tarde, acentuará a importância de se opor às “prescrições dos papas e regras dos monges”, que se atiravam “jubilosos nos braços da era da tecnologia”.

Não excetuada a própria aversão à condição de alemão, Henze corporifica de forma exemplar alguns dos principais vícios, virtudes e paradoxos germânicos. E, com freqüência, ele os leva até à conseqüência última.

Isto se aplica à crônica nostalgia dos alemães pela Itália – já celebrada nos diários italianos de Goethe. Esse anseio explica a brisa mediterrânea que permeia toda a música henziana. Mas também é um dos motivos por que, já em 1953, o músico troca definitivamente a Alemanha pela “terra onde florescem os limoeiros”.

Ânsia de palco

A mudança para a Itália coincide com a explosão de Henze no meio mais propício a seu talento: o palco teatral. À ópera Il Re Cervo (1953-62) segue-se o sucesso de Der Prinz von Homburg, Der junge Lord – textos adaptados pela autora austríaca Ingeborg Bachmann–, Elegy for young lovers e The Bassarids (encomendada pelo Festival de Salzburgo de 1964) – ambas com libreto de W.H. Auden, também colaborador de Igor Stravinsky.

Num escrito de 1975, Henze definia assim sua arte: “O teatro foi e é o meu território, tenho sempre que voltar a ele. Minha música anseia pelo gesto, a corporalidade e a plasticidade. Ela se entende como drama, algo que pertence intimamente à vida, e que não poderia existir na abstinência higiênica ou no particular, no doméstico”.

Tamanha paixão permitiu ao compositor se arvorar, não apenas em próprio regente, como em diretor de cena e cenógrafo, “não sem ocasionalmente resultar em duvidosos diletantismos”, comenta o musicólogo Hans Vogt.

Henze permanece dos poucos compositores contemporâneos com presença assídua nos programas das casas de ópera tradicionais. Sua – declaradamente última – obra do gênero foi L’upupa, que estreou com êxito em 2003, em Salzburgo. O compositor também escreveu para o cinema, notadamente O jovem Toerless (1966) e A honra perdida de Katharina Blum (1975), ambos do alemão Volker Schlöndorff.

De herói romântico a comunista irado

A biografia de Hans Werner Henze nos recorda que a era do Romantismo foi também a era das revoluções sociais, e a Alemanha um dos berços de ambos os movimentos. Henze descreveu todo o arco psicológico que vai do herói romântico – introvertido e solipsista – ao ativista irado.

A absoluta incompatibilidade com a vanguarda européia ficara selada quando, em 1957, Luigi Nono, Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen abandonaram a sala de concertos de Donaueschingen após os primeiros compassos de sua Nachtstücke und Arien.

Deslocado desde sempre, na família, no país, em seu meio profissional, o fato de ser homossexual contribuiu para a sensação de exclusão de Henze. Parte desta, ele projetou tanto nos heróis de suas óperas como em seus numerosos concertos para solista, caracterizados pelo embate do indivíduo contra a massa.

Porém, identificando-se com as minorias deste mundo, o compositor conseguiu transcender a autopiedade egocêntrica, canalizando sua indignação pessoal para a luta política. O autor Paul Griffiths descreve assim sua transformação em terror antiburguês: “O queridinho do Festival de Salzburgo tornou-se um revolucionário; o poeta da alma começou a bradar contra as iniqüidades sociais. Era 1968”.

Abismo entre a teoria e a prática

O banimento de sua música da Alemanha, após o escândalo de uma apresentação de Der Floss der Medusa em 1968; o abrigo dado, no mesmo ano, ao líder estudantil Rudi Dutschke, depois que este sofreu um atentado; o engajamento por Cuba: não há como duvidar da sinceridade do ativista Henze. Ele definitivamente não foi um mero “liberal de limusine”, como queriam seus detratores.

Contudo, permanece insatisfatória sua tradução da contundência política para a linguagem da arte inovadora. Um exemplo são suas obras cênicas El Cimarrón e La Cubana: por melhor que compreendesse intelectualmente a situação do Terceiro Mundo e dos oprimidos, a Cuba musical de Henze não é a de Fidel Castro, mas sim a das florestas tropicais, das palmeiras, dos ritmos exóticos e da sensualidade mulata.

Da mesma forma, a indignação e as palavras de ordem no ciclo de canções Voices – Stimmen, de 1973, não soam muito distantes de fórmulas exploradas com mais pertinência por um Kurt Weill ou Hanns Eisler a serviço de Bertolt Brecht.

Posteridade

Hans Werner Henze completa 80 anos. O que a posteridade terá a dizer sobre ele?

Sua vaga na história da música do século 20 está assegurada, não há dúvida. Se não fosse por outros motivos, a lista de suas associações – artísticas, pessoais, políticas – é um verdadeiro who’s who da arte e cultura européia do pós-guerra: Edward Bond, W.H. Auden, Jean Genet, Pier Paolo Pasolini, Hans Magnus Enzensberger, Rudi Dutschke, Ingeborg Bachmann, sem falar em várias gerações de cantores, instrumentistas e regentes.

Virtuose das técnicas de composição, Henze é um desses artistas que pecaram pelo excesso de fertilidade: boa parte de sua obra é francamente dispensável. Mas não há como excluir a possibilidade de que gerações vindouras descubram uma série de obras-primas incontornáveis em meio a esse palheiro. Talvez seu monumental terceiro concerto para piano, Tristan; ou a delicada cantata Being beauteous, sobre poema de Arthur Rimbaud? Quem sabe, uma das óperas? Não seria a primeira vez que a história da música é forçada a se rever.

O octogenário vive agora em sua vila em Marino, nas cercanias de Roma, com seu companheiro Fausto Moroni, “em meio a gente que nunca seria capaz de fazer o que meus compatriotas fizeram naquela época”.

Hans Werner Henze – Barcarola per Grande Orchestra e Sinfonia Nº 7

1. Barcarola Per Grande Orchestra – In Memoriam Paul Dessau – 1979

Sinfonia Nº 7 (1983-84)
2. I: Tanz – Lebhaft Und Beseelt
3. II: Ruhig Bewegt
4. III: Unablassig In Bewegung
5. IV: Ruhig, Verhalten

City of Birmingham Symphony Orchestra
Simon Rattle

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