Mais um excelente CD trazendo o soprano Miriam Feuersinger, aquela cujo sobrenome diz tudo. Na enorme obra de cantatas de Johann Sebastian Bach, as “cantatas de diálogo” ocupam uma posição muito especial: como se em um diálogo pessoal, a ‘alma cristã’ (soprano) e ‘Cristo’ (baixo) entram em diálogo, quase como em uma ópera. Bach se refere às palavras de Martinho Lutero, segundo as quais “a fé une a alma a Cristo como uma noiva ao seu noivo”, e assim se vincula à ideia medieval do misticismo nupcial. Esse diálogo se torna um “dueto de amor” espiritual, por assim dizer, que Miriam Feuersinger e Klaus Mertens — ambos estão entre os grandes intérpretes de Bach do nosso tempo — interpretam aqui da maneira mais íntima. As duas cantatas “Ich geh und suche mit Verlangen” BWV 49 e “Liebster Jesu, mein Verlangen” BWV 32 são complementadas pelo Concerto para Oboé em Dó maior GWV 302 de Christoph Graupner, interpretado pela oboísta Elisabeth Grümmer.
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 49 & 32 / C. Graupner (1683-1760): Concerto para Oboé (Feuersinger, Grümmer, Ensemble der »Bachkantaten in Vorarlberg«)
Bach, J S: Cantata BWV49 ‘Ich geh und suche mit Verlangen’ 26:22
I. Sinfonia 6:57
II. Aria (Bass): Ich geh und suche mit Verlangen 4:59
III. Rezitativo – Dialog (Sopran & Bass): Mein Mahl ist zubereit‘ 2:05
IV. Aria (Sopran): Ich bin herrlich, ich bin schön 5:47
V. Rezitativo – Dialog (Sopran & Bass): Mein Glaube hat mich selbst 1:44
VI. Duetto (Sopran & Bass): Dich hab ich je und je geliebet 4:50
Miriam Feuersinger (soprano), Klaus Mertens (bass-baritone)
Ensemble der »Bachkantaten in Vorarlberg«
Graupner: Oboe d’Amore Concerto in C major, GWV302 11:02
I. Vivace 4:53
II. Tempo giusto 2:14
III. Allegro 3:55
Elisabeth Grümmer (oboe)
Ensemble der »Bachkantaten in Vorarlberg«
Bach, J S: Cantata BWV32 ‘Liebster Jesu, mein Verlangen’ 23:58
I. Aria (Sopran): Liebster Jesu, mein Verlangen 6:24
II. Recitativo (Bass): Was ists, dass du mich gesuchet? 0:27
III. Aria (Bass): Hier, in meines Vaters Stätte 7:16
IV. Recitativo Dialogo (Sopran & Bass): Ach! heiliger und großer Gott 2:52
V. Aria Duetto (Sopran & Bass): Nun verschwinden alle Plagen 5:35
VI. Choral: Mein Gott, öffne mir die Pforten 1:24
Miriam Feuersinger (soprano), Klaus Mertens (bass-baritone)
Ensemble der »Bachkantaten in Vorarlberg«
Trago uma pequena colaboração à série de posts que o patrão PQP Bach tem feito com o resgate da monumental obra de J. S. Bach pelas mãos de um dos maiores pianistas de todos os tempos, o canadense Glenn Gould (1932-1982). Essa aqui é uma gravação curiosa e pouco conhecida da obra que definiu os rumos de sua carreira, as Variações Goldberg, BWV 988, e que não é nem a pioneira de 1955, que o alçou ao estrelato, nem o seu canto do cisne gravado em 1981.
(spoiler: mês que vem tem outra)
A versão que trazemos hoje é anterior à primeira — esta é de 1954, o ano em que Gould passou a tocar a obra em público. Aliás, salvo engano, esta é a gravação mais antiga de Gould a sobreviver até os dias de hoje: uma transmissão ao vivo da rádio CBS de um recital em Toronto, no dia 21 de junho de 1954. Ou seja, praticamente exatamente um ano antes da histórica gravação nos estúdios da Columbia na 30th Street, em Nova Iorque, que aconteceu entre 10 e 16 de junho de 1955.
Gould durante a gravação das Goldberg em NY, 1955
O som da gravação contém problemas e é irregular, como se poderia esperar, já que essa é uma gravação particular em discos de acetato de 33 rpm feita pelos Gould em casa, a partir da transmissão radiofônica. Isso à parte, é um documento interessantíssimo, de valor inestimável, da gênese de um dos artistas mais discutidos e influentes da era de ouro das gravadoras, profundamente inquieto e sempre original. Completam o disco quatro prelúdios e fugas do segundo livro de O Cravo Bem Temperado.
J. S. Bach (1685-1750) Variações Goldberg, BWV 988
1 a 32 – Ária e 30 variações
O Cravo Bem Temperado, vol. II
33, 34 – Prelúdio e Fuga no. 14, em fá sustenido menor, BWV 883
35, 36 – Prelúdio e Fuga no. 7, em mi bemol maior, BWV 786
37, 38 – Prelúdio e Fuga no. 22, em si bemol menor, BWV 891
39,40 – Prelúdio e Fuga no. 9, em mi maior, BWV 878
Glenn Gould, piano
Transmissão radiofônica de recital do dia 21 de junho de 1954, em Toronto, no Canadá.
Minha geração e a anterior foram muito marcadas pelo pianista Glenn Gould (1932-1982). Eu, nascido em 1957, já nos anos 70 queria ouvir as coisas em instrumentos originais –, mas era impossível não considerar a qualidade e as manias de um gênio como Gould. Ele acentuava Bach de um modo diferente, mais inteligente, e sua passagem de 50 anos pelo mundo foi um vendaval. Ele abandonou as apresentações ao vivo em 1964, dedicando-se, desde então, somente às gravações em estúdio, com um estilo de tocar muito peculiar, às vezes excêntrico, mas jamais contornável. Foi discutidíssimo e criava polêmica onde ia ou chegava através de suas interpretações. Era canhoto — o que talvez explique a perfeição implacável de seu ritmo — e tinha uma habilidade talvez só comparável às de Martha Argerich e de Yuja Wang. Mas, contrariamente às citadas, tudo em Gould é conceitual, ele sempre traz novidades, por vezes muito brilhantes e que influenciaram muita gente. Também pode ser irritante. Muitas de suas gravações são tão idiossincráticas que são difíceis de ouvir, a não ser que você seja uma pessoa como eu, que gosta de observar fascinado até onde alguém pode ir. Ele ultrapassava quaisquer limites. Sua gravação das sonatas para piano de Mozart é um exemplo. Ele as gravou por obrigação contratual, mas sua antipatia por Mozart é evidente. Algumas delas ele toca muito suavemente, criando um romantismo que não é de Mozart e que dá vontade de rir, outras ele mutila acelerando tudo como uma caixinha de música alucinada. Tudo muito perfeito, mas feito de maneira voluntariamente ruim. Era sim um gênio atrevido. Mas quando é bom, ele é muito, muito bom. Gould pode ser surpreendente, poético e muito inpirador. Ouça sua gravação do Prelúdio em Dó Sustenido Maior, BWV 872 do Livro II do Cravo Bem Temperado (E sim, é Glenn que você pode ouvir cantando ao fundo!). É isso que torna Glenn Gould um enigma, um contraste inteiro. E muito digno de ser explorado. Como esta gravação estava há muito tempo sem links funcionando e, pior, dividida em dois posts, aqui vai uma revalidação com cara de curadoria, pois sem Gould não dá para ficar.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): O Cravo bem temperado, Livros I e II, BWV 846-893 (Gould, piano)
Excelente CD da Zig-Zag Territoires. Destaque para a capa e os cadernos internos, verdadeiras obras de arte desta pequena gravadora francesa. Em registro de 2005, a para mim desconhecida Blandine Rannou dá um show num repertório de difícil abordagem, pois as Toccatas ora parecem improvisações, ora peças de tio Bux, ora movimentos das Suites Francesas. É coisa muito séria e já vi gente graúda se atrapalhando com elas. Têm momentos de profunda indireção e depois arremetem. Mas Mlle. Rannou entendeu-as perfeitamente com elas e nos dá um belo recital. Num repertório onde Glenn Gould sempre será referência, a francesa acrescenta — além do cravo — temperos bem diversos dos apresentados pelo grande canadense.
J. S. Bach (1685-1750) – Toccatas para cravo completas, BWV 910-916 (Blandine Rannou)
1 Toccata for keyboard in F sharp minor, BWV 910
2 Toccata for keyboard in G minor, BWV 915
3 Toccata for keyboard in D major, BWV 912
4 Toccata for keyboard in E minor, BWV 914
5 Toccata for keyboard in C minor, BWV 911
6 Toccata for keyboard in D minor, BWV 913
7 Toccata for keyboard in G major, BWV 916
Hoje é o dia dos 340 anos de nascimento do maior compositor de todos os tempos, do GOAT. Não poderíamos deixar a data passar em branco. Então, resolvemos partir para o ataque de uma forma diferente. Escolhemos um dos gêneros principais e mais esquecidos de sua obra. Pois o órgão é uma coisa tão fora de moda que a gente esquece que era o instrumento preferido de Bach. É imensurável o que se perde relegando as obras de Sebastião Ribeiro para órgão a um segundo ou terceiro plano. Reduzir sua obra para o instrumento à Toccata & Fuga em Ré Menor, BWV 565, deveria ser crime inafiançável.
As obras para órgão de Johann Sebastian Bach representam um dos pilares da música ocidental e são essenciais tanto para a música sacra e secular quanto para a evolução da técnica e do repertório do instrumento. Bach, que foi um virtuose do instrumento, assim como outro grande compositor, Bruckner, além de profundo conhecedor da construção e da sonoridade do órgão. Compôs uma vasta coleção de peças que abrangem diferentes formas e estilos, consolidando o instrumento como um veículo para expressão artística, espiritualidade e inovação técnica. Bach não apenas dominou as formas tradicionais da música para órgão, como o prelúdio, a fuga e o coral, mas também expandiu os limites do instrumento em termos de harmonia, contraponto e uso do pedal. Sua música exige do organista uma grande destreza técnica e uma compreensão profunda das texturas polifônicas. Muitas das obras para órgão de Bach foram compostas para o contexto da igreja luterana, servindo como acompanhamento para o culto e reforçando a conexão entre música e fé. Seus prelúdios corais e fantasias sobre corais são exemplos de como ele transformava melodias religiosas simples em peças de profunda expressividade e complexidade contrapontística. Bach escreveu diversas obras que se tornaram marcos na literatura para o órgão, incluindo a Tocata e Fuga em Ré Menor, BWV 565 (uma das peças mais conhecidas da música ocidental, famosa pelo impacto dramático e virtuosismo), vários Prelúdios e Fugas para órgão (obras que exploram o contraponto e a riqueza harmônica do instrumento), a Passacaglia e Fuga em Dó Menor, BWV 582 (uma das mais impressionantes variações sobre um baixo ostinato, demonstrando o domínio estrutural de Bach). A música para órgão de Bach influenciou gerações de compositores, de Mendelssohn a Reger e até no desenvolvimento da música romântica e contemporânea para o instrumento. Sua abordagem técnica e expressiva continua sendo uma referência para organistas e um desafio fascinante para intérpretes até hoje. As obras para órgão de Bach são uma síntese da genialidade musical barroca, combinando estrutura rigorosa, profundidade emocional e um domínio absoluto do instrumento. Elas não apenas marcaram a história da música, mas deveriam seguir vivas em concertos e celebrações litúrgicas ao redor do mundo, reafirmando a atemporalidade do seu legado.
Helmut Walcha (1907 – 1991) foi um organista , cravista, professor e compositor alemão especializado nas obras dos mestres barrocos holandeses e alemães. Cego desde a adolescência, ele é conhecido principalmente por esta série que ora vos posto, tocada inteiramente de memória. Nascido em Leipzig, Walcha ficou cego aos 19 anos após vacinação contra varíola. Apesar de sua deficiência, ele entrou no Conservatório da cidade e se tornou assistente de Günther Ramin na Thomaskirche (posição ocupada pelo próprio Bach). Em 1929, Walcha aceitou uma posição em Frankfurt na Friedenskirche e permaneceu lá pelo resto de sua vida. De 1933 a 1938, ele lecionou no Conservatório Hoch. Em 1938, foi nomeado professor de órgão na Musikhochschule em Frankfurt e organista da Dreikönigskirche em 1946. Ele se aposentou das apresentações públicas em 1981 e morreu em Frankfurt. Walcha gravou as obras completas para teclado solo de Bach duas vezes, uma vez em mono (1947–52) e novamente em estéreo de 1956 a 1971. O primeiro ciclo (mono) foi remasterizado digitalmente e relançado como um conjunto de 10 CDs em caixa. Este último ciclo estéreo (lançado em 10/09/2001) foi remasterizado e relançado em uma caixa de 12 CDs — a mesma deste post. Esta edição também contém a gravação de sua própria conclusão da última peça de A Arte da Fuga.
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Bach, Handel e Scarlatti nasceram em 1685. Handel em 23 de fevereiro, Bach em 21 de março, Scarlatti em 26 de outubro.
São três gigantes e o fato de terem nascido no mesmo ano já é coincidência suficiente. Bem que Rameau (1683) e Vivaldi (1678) poderiam ter esperado. Bem, mas isso talvez mudasse bastante a história da música, pois Bach foi muito influenciado pelo Prete Rosso (Padre Ruivo).
Vamos procurar mais coisas em comum entre nosso grande trio de compositores? O trio de 1685 foram figuras centrais do período barroco, contribuindo significativamente para a história e o repertório da arte musical e de meu período musical preferido, o barroco. Cada um à sua maneira e segundo o ambiente em que viveu, os três moldaram a estética e as técnicas musicais da época. Bach ficou conhecido tanto por suas obras sacras, quanto por sua música instrumental, incluindo aí obras que poderíamos chamar de conceituais. Handel tem sua música instrumental, mas destacou-se muito mais nas óperas e nos oratórios, enquanto Scarlatti foi um pioneiro da sonata para teclado, especialmente no cravo. Por obrigações empregatícias escreveu mais de 500 sonatas para cravo.
Outro ponto em comum entre eles é a influência italiana. O napolitano Scarlatti naturalmente não ficaria livre dela e incorporou o estilo italiano em suas obras, claro. O super estudioso Bach estudou e adaptou técnicas italianas, especialmente de Vivaldi, em suas composições. E Handel, alemão como Bach, passou boa parte de sua carreira na Itália e na Inglaterra, absorvendo e transformando o estilo italiano em suas óperas e oratórios. Aliás, as Cantatas Italianas de Handel, escritas em sua juventude na Itália, são esplêndidas!
Mas há mais. Bach, Handel e Scarlatti eram todos exímios tecladistas. Bach era respeitadíssimo como organista e cravista, Handel destacou-se como cravista, e Scarlatti foi um dos maiores virtuoses do instrumento em sua época. Suas obras para teclado continuam sendo pilares do repertório até hoje.
Aparentemente, os três nunca se encontraram pessoalmente, mas há várias lendas e talvez uma tentativa real de encontro. A principal lenda: Handel e Scarlatti supostamente competiram em um “duelo” de cravo em Roma, onde a turma do deixa disso declarou Scarlatti superior ao cravo e Handel no órgão. Um empate real ou arranjado? Enquanto eles duelavam, Bach devia estar bebendo cerveja ou brigando com seus empregadores, mas era um admirador de Handel e diz-se que tentaram entrar em contato, sem sucesso.
Como já disse, os três compositores trabalharam tanto com música sacra quanto profana. Bach é conhecido por suas obras sacras e também pela secular. Handel equilibrou óperas e oratórios, ficando mais na área da música vocal. Já Scarlatti foi muito mais focado na música instrumental, mas também compôs obras vocais sacras.
Outra coincidência é que os três morreram em um intervalo relativamente curto de tempo: Scarlatti em 1757, Handel em 1759 e Bach em 1750. Dá pra dizer que a período barroco é finalizado com suas mortes.
A última coincidência é triste e exclui Scarlatti. Bach e Handel, quando velhos, passaram a sofrer de catarata e foram operados por John Taylor (1703–1770). Pois bem, este médico charlatão britânico — doutor em autopromoção — cegou Bach e Handel, entre muitos outros. Taylor era um notório farsante. Ambos os compositores estavam com dificuldades de visão, mas depois das “cirurgias” de Taylor, ficaram irremediavelmente cegos. Taylor é famoso. Pesquisem.
Mas hoje é dia do nascimento de Bach. E pergunto: afinal, Bach nasceu em 21 ou 31 de março de 1685? No dia 21. Vamos falar de 1582? Naquele ano, o calendário gregoriano foi introduzido em alguns países da Europa, não em todos. A Itália, a Espanha, Portugal e a Polônia, os mais católicos, aceitaram a mudança ditada pela igreja, o resto não. Só depois é que todos os outros países aderiram. O 21 de março de 1685 da Alemanha não era o mesmo 21 de março de 1685 na Itália, Espanha etc. Havia 10 dias de diferença. O dia em que Bach nasceu foi “chamado” de 21 de março na Alemanha, onde eles ainda estavam usando o calendário juliano. Mas Bach nasceu num 31 de março, considerando o calendário que todos usam hoje, o gregoriano. O que vale? Ora, segundo os historiadores, vale o que está escrito lá na igreja onde Johann Sebastian Bach foi registrado. Vale o 21 de março. Perguntem ao Francisco Marshall que ele confirmará.
Da mesma forma, é muitas vezes dito que Shakespeare e Cervantes morreram exatamente no mesmo dia, 23 de abril de 1616. A rigor, não é verdade. As mortes foram separadas por 10 dias. A de Shakespeare ocorreu em 23 de abril de 1616 (juliano), que equivalente hoje a 3 de maio (gregoriano). A de Cervantes aconteceu no dia 23 gregoriano. Mas os historiadores dizem que o que vale é o que está escrito, então ambos morreram em 23 de abril, mas com uma diferença de dez dias. Então, eles morreram no mesmo dia, mas não ao mesmo tempo… Vá entender!
O que é certo é que podemos comemorar o(s) aniversário(s) de Bach, nosso maior ídolo, com (muita) cerveja. Bach a amava e era também uma questão de segurança, de saúde. Dizem que ele a produzia em quantidades industriais em sua própria casa. Mas esta é uma história pra a gente resolver pessoalmente, né?
J. S. Bach (1685-1750): Integral das Obras para Órgão (12 CDs – Walcha)
Toccata & Fugue In D Minor, BWV 565
1-1 Toccata: Adagio 2:38
1-2 Fuge 6:52
Toccata & Fugue In F Major, BWV 540
1-3 Toccata 9:33
1-4 Fuge 5:39
Toccata & Fugue BWV 538 ”Dorian”
1-5 Toccata 6:04
1-6 Fuge 7:08
Toccata, Adagio And Fugue In C Major, BWV 564
1-7 Toccata 5:24
1-8 Adagio 4:36
1-9 Fuge 5:11
Fantasia & Fugue In G Minor, BWV 542
1-10 Fantasia 6:11
1-11 Fuge 6:48
Prelude & Fugue In C Major, BWV 531
5-1 Praeludium 2:26
5-2 Fuga 4:23
Prelude & Fugue In E Minor, BWV 533
5-3 Praeludium 1:59
5-4 Fuga 2:22
Prelude & Fugue In D Major, BWV 532
5-5 Praeludium 4:33
5-6 Fuga 6:07
Prelude & Fugue In G Major, BWV 550
5-7 Praeludium 2:32
5-8 Fuga 4:17
Prelude & Fugue In D Minor, BWV 539
5-9 Praeludium 2:19
5-10 Fuga 5:39
Prelude & Fugue In A Minor, BWV 551
5-11 Praeludium 2:08
5-12 Fuga 3:15
5-13 Fugue On A Theme By Giovanni Legrenzi In C Minor, BWV 574
Composed By [Theme] – Giovanni Legrenzi
7:35
5-14 Fugue On A Theme By Arcangelo Corelli In B Minor, BWV 579
Composed By [Theme] – Arcangelo Corelli
5:52
Prelude & Fugue In G Minor, BWV 535
6-1 Praeludium 3:11
6-2 Fuga 4:27
6-3 Fugue In G Minor, BWV 578 4:07
6-4 Pastorale In F Major, BWV 590 12:17
6-5 Canzona In D Minor, BWV 588 6:00
6-6 Allabreve In D Major, BWV 589 4:50
Four Duettos From “Part III Of The Clavier-Übung”
6-7 Duetto I In E Minor, BWV 802 3:11
6-8 Duetto II In F Major, BWV 803 4:00
6-9 Duetto III In G Major, BWV 804 3:07
6-10 Duetto IV In A Minor, BWV 805 3:05
6-11 Contrapuntcus 18 In D Minor, From “The Art Of The Fugue”, BWV 1080
Composed By [Completed by] – Helmut Walcha
10:37
Orgelbüchlein BWV 599-644
7-1 Nun Komm, Der Heiden Heiland BWV 599 1:48
7-2 Gott, Durch Deine Güte BWV 600 1:10
7-3 Herr Christ, Der Ein’ge Gottes Sohn BWV 601 1:56
7-4 Lob Sei Dem Allmächtigen Gott BWV 602 0:50
7-5 Puer Natus In Bethlehem BWV 603 1:01
7-6 Gelobet Seist Du, Jesu Christ BWV 604 1:25
7-7 Der Tag, Der Ist So Freudenreich BWV 605 1:46
7-8 Vom Himmel Hoch, Da Komm Ich Her BWV 606 0:40
7-9 Vom Himmel Kam Der Engel Schar BWV 607 1:09
7-10 In Dulci Jubilo BWV 608 1:41
7-11 Lobt Got, Ihr Christen, Allzugleich BWV 609 0:51
7-12 Jesu, Meine Freude BWV 610 2:41
7-13 Christum Wir Sollen Loben Schon BWV 611 2:01
7-14 Wir Christenleut BWV 612 1:25
7-15 Helft Mir, Gottes Güte Preisen BWV 613 1:05
7-16 Das Alte Jahr Vergangen Ist BWV 614 2:12
7-17 In Dir Ist Freude BWV 615 2:49
7-18 Mit Fried Und Freud Ich Fahr Dahin BWV 616 2:21
7-19 Herr Gott, Nun Schleuß Den Himmel Auf BWV 617 2:29
7-20 O Lamm Gottes, Unschuldig BWV 618 3:54
7-21 Christe, Du Lamm Gottes BWV 619 1:27
7-22 Christus, Der Unst Selig Macht BWV 620 2:19
7-23 Da Jesus An Dem Kreuze Stund BWV 621 1:26
7-24 O Mensch, Bewein’ Dein’ Sünde Groß BWV 622 4:34
7-25 Wir Danken Dir, Herr Jesu Christ BWV 623 1:13
7-26 Hilf Gott, Daß Mir’s Gleinge BWV 624 1:33
7-27 Christ Lag In Todesbanden BWV 625 1:18
7-28 Jesus Christus, Unser Heiland BWV 626 1:00
7-29 Christ Ist Erstanden BWV 627 4:16
7-30 Erstanden Ist Der Heil’ge Christ BWV 628 0:43
7-31 Ercheinen Ist Der Herrliche Tag BWV 629 1:10
7-32 Heut’ triumphiert Gottes Sohn BWV 630 1:32
7-33 Komm, Gott Schöpfer, Heiliger Geist BWV 631 0:53
7-34 Herr Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend BWV 632 1:10
7-35 Liebster Jesu, Wir Sind Hier BWV 633 1:50
7-36 Dies Sind Die Heil’gen Zehn Gebot BWV 635 1:26
7-37 Vater Unser Im Himmelreich BWV 636 1:30
7-38 Durch Adams Fall Ist Ganz Verderbt BWV 637 2:04
7-39 Es Ist Das Heil Uns Kommen Her BWV 638 1:06
7-40 Ich Ruf’ Zu Dir, Herr Jesu Christ BWV 639 2:11
Orgelbüchlein (cont.)
8-1 In Dich Hab Ich Gehoffet, Herr BWV 640 1:08
8-2 Wenn Wir In Höchsten Nöten Sein BWV 641 1:47
8-3 Wer Nur Den Lieben Gott Läßt Walten BWV 642 2:06
8-4 Alle Menschen Müssen Sterben BWV 643 1:34
8-5 Ach Wie Nichtig, Ach Wie Flüchtig BWV 644 0:51
Chorale Settings
8-6 Herr Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend BWV 709 2:53
8-7 Herzlich Tut Mich Verlangen BWV 727 2:18
Part III Of The Clavier-Übung (“Organ-Mass”)
8-8 Prelude In E Flat Major, BWV 552/1 9:26
Chorale Settings
8-9 1. Kyrie, Gott Vater In Ewigkeit BWV 669 3:05
8-10 2. Christe, Aller Welt Trost BWV 670 4:01
8-11 3. Kyrie, Gott Heiliger Geist BWV 671 4:36
8-12 4. Kyrie, Gott Vater In Ewigkeit BWV 672 1:32
8-13 5. Christe, Aller Welt Trost BWV 673 1:20
8-14 6. Kyrie, Gott Heiliger Geist BWV 674 1:26
8-15 7. Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 675 3:21
8-16 8. Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 676 4:56
8-17 9. Fughetta Super: Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 677 1:10
8-18 10. Dies Sind Die Heil’gen Zehen Gebot BWV 678 4:31
8-19 11. Fughetta Super: Dies Sind Die Heil’gen Zehen Gebot BWV 679 2:11
8-20 12. Wir Glauben All An Einen Gott BWV 680 3:25
8-21 13. Fughetta Super: Wir Glauben All An Einen Gott BWV 681 1:14
8-22 14. Vater Unser Im Himmelreich BWV 682 6:22
8-23 15. Vater Unser Im Himmelreich BWV 683 1:41
9-1 16. Christ Unser Herr Zum Jordan Kam BWV 684 5:22
9-2 17. Christ Unser Herr Zum Jordan Kam BWV 685 1:14
9-3 18. Aus Tiefer Not Schrei Ich Zu Dir BWV 686 5:26
9-4 19. Aus Tiefer Not Schrei Ich Zu Dir BWV 687 4:32
9-5 20. Jesus Christus, Unser Heiland BWV 688 4:32
9-6 21. Fuga Super: Jesus Christus, Unser Heiland BWV 689 3:58
9-7 Fugue In E Flat Major, BWV 552/2 7:25
Chorale Settings
9-8 Fuga Sopra Il Magnificat BWV 733 4:36
9-9 Nun Freut Euch, Lieben Christen G’mein, Oder: Es Ist Gewißlich An Der Zeit BWV 734 2:22
9-10 Fuga Sopra: Vom Himmel Hoch, Da Komm Ich Her BWV 700 2:23
Canonic Varietions On The Christmas Hymn “Vom Himmel Hoch, Da Komm Ich Her” BWV 769
9-11 Variatio 1: Nel Canone All’ottava 1:29
9-12 Variatio 2: Alio Modo, Nel Canone Alla Quinta 1:26
9-13 Variatio 3: Canone Alla Settima 2:20
9-14 Variatio 4: Per Augmentationem, Nel Canone All’ottava 2:51
9-15 Variatio 5: L’altra Sorte Del Canone Al Rovescio: 1) Alla Sesta, 2) Alla Terza, 3) Alla Seconda E 4) Alla Nona 3:00
Vom Himmel Hoch, Da Komm Ich Her, Bwv 769
9-16 Chorale “An Wasserflüssen Babylon” BWV 653b 4:51
9-17 Chorale Setting “Valet Will Ich Dir Geben” BWV 736 4:09
Eighteen Chorales Of Diverse Kinds
10-1 1. Fantasia Super: Komm, Heiliger Geist BWV 651 6:01
10-2 2. Komm, Heiliger Geist BWV 652 6:48
10-3 3. An Waserflüssen Babylon BWV 653 5:11
10-4 4. Schmücke Dich, O Liebe Seele BWV 654 7:32
10-5 5. Trio Super: Her Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend BWV 655 3:57
10-6 6. O Lamm Gottes, Unschuldig (3 Versus) BWV 656 8:00
10-7 7. Nun Danket Alle Gott BWV 657 4:41
10-8 8. Von Gott Will Ich Nicht Lassen BWV 658 3:07
10-9 9. Nun Komm, Der Heiden Heiland BWV 659 3:43
10-10 10. Trio Super: Nun Komm, Der Heiden Heiland BWV 660 3:20
10-11 11. Nun Komm, Der Heiden Heiland BWV 661 2:56
10-12 12. Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 662 5:26
10-13 13. Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 663 7:23
10-14 14. Trio Super: Allein Gott In Der Höh Sei Ehr BWV 664 5:16
Estas obras, que costumam ser interpretadas ao alaúde ou transcritas para o violão, aqui as ouvimos no curioso e quase esquecido instrumento Lautenclavicymbel, ou Lauteklavier, ou ainda Lute-Harpsichord: o Cravo-Alaúde. Para nós e nossos tempos um exótico instrumento, semelhante a uma grande tartaruga emborcada e dotada de teclado; as cordas de tripa e sonoridade de um alaúde com maior projeção sonora e timbre particular. Embora o mestre Johann Sebastian tivesse em seu círculo de amigos o grande alaudista e compositor Silvius Leopold Weiss e que tenha composto para o seu encantador instrumento, sabe-se também que Bach possuía um Cravo-Alaúde e por ele tinha particular apreço. Embora não tenhamos registros precisos sobre a destinação das suas peças hoje interpretadas ao alaúde, muito possivelmente algumas poderiam ter sido pensadas para aquele originalíssimo cordofone; o que a presente gravação só vem a reforçar, pelo caráter de algumas das obras, a exemplo da Suíte em Dó Menor BWV 997, cujo impetuoso Prelúdio e a extraordinária e rara Fuga Da Capo nos apontariam uma possível concepção para o teclado. Ressaltemos também a impressionante Sarabande desta Suíte, pois sua melodia é similar à do coral que conclui a Paixão Segundo São Mateus, só que uma terça menor abaixo.
Das poucas tentativas de se reconstruir e gravar num Alaúde-Cravo, um dos mais bem sucedidos resultados (para mim o melhor resultado) é o instrumento construído pelo musicista húngaro Gergely Sárközy, baseado em antigas cartas de lutenaria. Seu instrumento produz uma sonoridade bela, rica, encorpada e ao mesmo tempo suave. Quem for purista e tiver conhecido estas obras ao alaúde ou violão em interpretações ‘bem comportadas’, talvez venha a desdenhar, pois Sárközy interpreta com acentuada expressão e improvisa onde encontra espaço. Mas improvisa muito bem e logra convencer (o que nem todo intérprete de música barroca que improvisa consegue, soando às vezes engessado). Sárközy tem bom gosto e sua interpretação emociona. Pelo menos a mim vem emocionando há muito, que conheci a presente gravação do selo Hungaroton nos tempos do vinil (e sob estas pautas muitas garrafas passaram).
Preciso agora dizer que esta é a primeira postagem que faço no PQP Bach, um oasis de cultura e beleza nesses tempos do cólera. Fico enaltecido e grato pelo convite dos amigos integrantes dessa Távola Musical. Espero partilhar muito mais, retribuindo as felicidades que têm nos trazido com tanta generosidade e amor à música. Sendo assim uma primeira postagem, escolhi o nosso bom Pai João Sebastião para começar com sua bêncão.
Bach – Suites for Lute-Harpsichord – Gergely Sarkozy
1 Suite in E minor BWV 996 Praeludio. Passagio – Presto
2 Allemande
3 Courante
4 Sarabande
5 Bourree
6 Gigue
7 Choral Preludes from the Kirnberg Collection BWV 690 (b)
8 BWV 691
9 BWV 690
10 Suite in C minor BWV 997
11 Fuga
12 Sarabande
13 Gigue
14 Double
ESTA É A POSTAGEM DE NÚMERO 8000 DO BLOG PQP BACH.
8000 !!!
A cantata Ich habe genug, BWV 82, de J. S. Bach, expressa o anseio íntimo de São Simeão pela salvação. A cantata foi escrita em 1727 para a Festa da Purificação da Virgem Maria, que aconteceu em 2 de fevereiro. É para um(a) cantor(a) solo e prescinde do coro. Seu libreto anônimo concentra-se em Simeão que, depois de ver o menino Jesus no templo, não precisa mais da vida terrena. E diz: “Ich habe genug” (já tive o bastante).
Em seu brilhante estudo sobre Bach, John Eliot Gardiner diz que a teologia da época encarava o mundo como “um hospício povoado por almas doentes cujos pecados apodrecem como furúnculos em supuração e excrementos amarelos”. Mas, no BWV 82, Bach radicalmente nos permite aspirar a sermos anjos. A morte não é transformação ou punição, é missão cumprida, é uma boa noite de sono ou uma alegre viagem para casa. Anjos não somos, mas por 25 minutos somos sim. Os sons das palavras do texto anônimo são transformados em lindas melodias, mas a realização mais significativa é a de que a melodia e a instrumentação transcendem totalmente o texto.
O formato da cantata é simples: um cantor — Bach criou versões para soprano, mezzo-soprano e baixo-barítono — e três árias conectadas por dois recitativos curtos. Um pequeno conjunto de cordas o acompanha. Um oboé solo (ou flauta, na versão soprano) faz girar melodias acrobáticas fazendo um sofisticado contraponto à linha vocal. Sobre as cordas suaves, a ária de abertura começa com o oboé ou flauta, introduzindo a frase melódica de cinco notas que carregará as palavras Ich habe genug.
Bach não está nos dizendo isso por palavras. Ele não está explicitando nada. Nem está, por mais que pareça, revelando as emoções carregadas no texto. Ele está nos levando pela mão a algum lugar. A suposta tarefa da ária de canção de ninar Schlummert ein (adormeça) era representar a morte como sono. Em vez disso, Bach produz um milagre musical. Para que não nos leve a dormir, Bach produz uma espécie de estado de reverência. O sono, então, torna-se não a morte, mas uma visão fugaz da morte. É por isso que a ária final curta e alegre pode ser escandalosamente viva.
Ich habe genug veio logo depois que Bach se cansou de cantatas para funerais. Aliás, a morte foi sua companheira constante. Seus pais morreram quando ele era menino. Sua primeira esposa morreu jovem. Ele sofreu a morte de muitos de seus 20 filhos, incluindo a de um filho de seis meses antes de escrever o BVW 82. A essa altura, Bach havia deixado a tarefa hercúlea de escrever cantatas sem parar, para produzi-las apenas ocasionalmente. Mas o BWV 82 parece ser uma questão pessoal e Bach produziu um total de seis versões, a última em 1748, dois anos antes de sua própria morte.
O título do CD é Ich bin vergnugt (Estou contente). Refere-se à cantata Ich bin vergnugt mit meinem Glucke (Estou contente com minha felicidade), BWV 84, mas também corresponde inteiramente aos sentimentos da cantora, a austríaca Miriam Feuersinger, que está realizando um desejo antigo com este programa. Ela apresenta as três mais belas cantatas escritas por Johann Sebastian Bach para soprano solo. Já a cantata Jauchzet Gott in allen Landen BWV 52 é um hino de louvor operístico e virtuoso que impõe altas exigências técnicas ao intérprete. Miriam Feuersinger é acompanhada com sensibilidade pelo Capricornus Consort Basel, Com sua voz clara, ela nos deixa sentir seu vergnugen em cada nota.
Junto com o trio de cantatas vêm uns extras nada desprezíveis!
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 51, 82 & 84 (Feuersinger, Capricornus Consort Basel)
Ich Habe Genug, BWV 82
1 I. Ich Habe Genug (Aria) 7:00
2 II. Ich Habe Genug (Recitativo) 1:17
3 III. Schlummert Ein, Ihr Matten Augen 8:43
4 IV. Mein Gott! Wenn Kömmt Das Schöne 0:51
5 V. Ich Freue Mich Auf Meinen Tod 4:01
Trio Sonata In G Major, BWV 1038
6 I. Largo 3:14
7 II. Vivace 1:06
8 III. Adagio 2:03
9 IV. Presto 1:31
Ich Bin Vergnügt Mit Meinem Glücke, BWV 84
10 I. Ich Bin Vergnügt Mit Meinem Glücke 6:38
11 II. Gott Ist Mir Ja Nichts Schuldig 1:45
12 III. Ich Esse Mit Freuden Mein Weniges Brot 4:57
13 IV. Im Schweiße Meines Angesichts 0:55
14 V. Ich Leb Indes In Dir Vergnüget (Transcr. For Soprano & Strings) 1:02
15 Herr Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend, BWV 709 (Transcr. P. Barczi For Strings) 2:50
16 Herr Jesu Christ, Dich Zu Uns Wend, BWV 655 (Transcr. P. Barczi For Strings) 3:07
Jauchzet Gott In Allen Landen, BWV 51
17 I. Jauchzet Gott In Allen Landen! 4:38
18 II. Wir Beten Zu Dem Tempel An 2:21
19 III. Höchster, Mache Deine Güte 4:40
20 IV. Sei Lob Und Preis Mit Ehren 3:42
21 V. Alleluja! 2:22
Ontem voltei desanimado das compras. O preço do pacote de meio quilo de café da marca que costumo comprar rompeu a barreira dos 30 e parece querer igualar-se ao preço do azeite. Pelo jeito, logo vai romper a barreira do som e outras barreiras. Vamos experimentar outras marcas, espero evitar pelo menos aquelas que tem gosto do café da repartição.
Ton tentando avistar o pessoal do PQP Bach na sala de entrevistas do Amstel Amsterdam Hotel
Lembrei-me do pobre pai da Lieschen que briga com a filha, grande amante e consumidora de café. Assim, para retomar o ânimo fui buscar a Cantata do Café, composta pelo padroeiro do blog para o famoso Concerto do Café Zimmermann, lá de Leipzig. Escolhi esta gravação com a Orquestra Barroca de Amsterdã regida por Ton Koopman e com vozes excelentes como a de Klaus Mertens e Anne Grimm, que fazem pai e filha na Cantata do Café.
Comentário do site da Presto Cassics: Lest it be thought that all Bach’s cantatas are strait-laced manifestations of religious piety (however melodically varied), Ton Koopman and the Amsterdam Baroque Orchestra here give spirited performances of two of his most famous (and indeed most secular) secular cantatas. The Coffee cantata celebrates the addictive delights of the then relatively new, fashionable drink, while the Peasant, using plenty of rustic Upper Saxon dialect, is a hearty celebration of all things rural.
Para que não se pense que todas as cantatas de Bach são manifestações puritanas de piedade religiosa (por mais variadas que sejam as melodias), Ton Koopman e a Amsterdam Baroque Orchestra aqui dão performances espirituosas de duas de suas mais famosas (e de fato mais seculares) cantatas seculares. A cantata Coffee celebra as delícias viciantes da bebida então relativamente nova e da moda, enquanto a Peasant, usando bastante dialeto rústico do Alto Saxão, é uma celebração calorosa de todas as coisas rurais.
‘Somente os extremamente sábios e os extremamente estúpidos é que não mudam’.
Confúcio
Nas mudanças é impossível não viver alguns momentos de nostalgia, de lembranças, mesmo algumas não muito boas. Fotos empalidecidas, cartas (houve um tempo em que escrevíamos cartas), chaves não sei mais de onde… Eu mudei muitas vezes (de residência, só para deixar claro…) e estou me preparando para mais uma mudança e espero que esta seja a penúltima.
Entre as muitas coisas que estou desentocando, para embalar ou passar adiante, algumas ainda estavam em caixas desde a mudança anterior, há muitos discos, alguns de música de Bach para teclado, interpretada ao piano.
Foi assim que cheguei a este da postagem, uma verdadeira maravilha. Ouvi-lo novamente, depois de tanto tempo, é muito bom. Duas suítes, uma inglesa e uma francesa (a quinta, ótima), uma toccata e o capricho do fratello diletíssimo, com a trompa da posta e tudo. Estas últimas peças da juventude do João Sebastião Ribeiro.
O sorriso de WK sempre foi bem cativante…
Wilhelm Kempff era o pianista ‘oficial’ da DG e suas gravações de Beethoven, Schubert e Schumann valem a pena serem investigadas. Mozart também estava no repertório, mas assim como no caso de Bach, nada de obras completas, apenas algumas peças escolhidas. Mas essas que ele gravou vão lhe dar muito prazer…
Impossível ouvir apenas uma vez, aquele disco que deixa um gostinho de quero mais, viciante!
Johann Sebastian Bach (1685–1750)
Englische Suite No.3 g-moll BWV808
Prelude
Allemande
Courante
Sarabande
Les agrements de la meme Sarabanda
Gavotte I
Gavotte II
Gavotte I (da capo)
Gigue
Capriccio >>Sopra la lontananza del suo fratello dilettissimo<< B-dur BWV992
Adagio
Andante
Adagissimo
Andante con moto
Aria – Aria di postiglione
Fuga – Fuga all’imitazione della cornetta di postiglione
Wilhelm tomando um solzinho no bosque da Sede Campestre do PQP Bach, nas imediações de Potsdam
De uma crítica fácil de localizar pela net: There is also the not inconsiderable addition of the two suites, the English Suite No 3 and the French Suite No 5. Here Kempff shows crisp articulation, not over bright, never metronomic, and always gently expressive. In the Courante of the English Suite he is precise, athletic and quietly determined. In the second Sarabande he is moving without artifice and maintains proper depth of tone and clarity between hands. Listen also to the perfectly graded little stabbing left hand in the succeeding first Gavotte – unforced wit.
Sim, nova manifestação da HIPOBACHEMIA! Fazer o quê? Meu pai e alguns de meus irmãos “oficiais” estão neste disco. WF era o filho preferido, CPE era o mais talentoso. WF herdou as Cantatas. Conseguiu perder 100 delas. Grandessísimo filha-da-puta. Filha da puta metafórico, pois eu sou o filha da puta não metafórico. Além disso, dizem que tinha sérios problemas com a bebida. Como viveu então 74 anos? Dia desses, levei uma mijada de um violista por ter dito que havia pouco repertório para seu instrumento. Ele me descreveu parte da vasta obra escrita para o instrumento, donde concluí que o repertório é ainda menor do que eu imaginava. Bem, e o que dizer do oboé? Heinz Holliger ficava transcrevendo concertos para poder tocar alguma coisinha mais interessante e agora Piguet faz o mesmo com sonatas para flauta de meu pai y otras cositas más. O CD é bem bom, viram? E as as obras já apareceram neste blog nas versões originais, mas vocês sabem: são músicas nascidas no seio de minha família e tal fato sempre me corta o coração.
J.S. Bach (1685-1750) / W.F. Bach (1710-1784) / C.P.E. Bach (1714–1788): Música de Câmara para Oboé e Cravo (Piguet, Tilney)
Johann Sebastian Bach
Sonate for Oboe and Harpsichord in G minor, BWV 1030b
1. Andante
2. Siciliano
3. Presto
4. Fugue for Harpsichord in B minor, BWV 951
(on a Theme by Albinoni)
Sonate for Oboe and Harpsichord in G minor, BWV 1020
5. Allegro
6. Adagio
7. Allegro
Wilhelm Friedemann Bach
8. Polonaise for Harpsichord in E flat major, Falck 12/5
Carl Philipp Emanuel Bach
Sonate for Oboe and Continuo in G minor, Wq.135
9. Adagio
10. Allegro
11. Vivace
Truffaut criou a categoria dos Grandes Filmes Doentes. A definição desta categoria está no parágrafo a seguir. Na minha opinião, ela serve à Paixão Segundo São João, nitidamente inferior à São Mateus, mas preferida por mim e outros. Na explicação de Truffaut, troquei as palavras relativas ao cinema por outras relativas à música. Por exemplo, troquei filme por obra ou música, diretor por compositor, cinefilia por melofilia, etc. Com a palavra criminosamente alterada, deixo-vos com François Truffaut:
“Abro um parêntese para definir rapidamente o que chamo de uma “grande obra doente”. Não é senão um obra-prima abortada, um empreendimento ambicioso que sofreu erros de percurso. Esta noção só pode aplicar-se, evidentemente, a compositores muito bons, àqueles que, em outras circunstâncias, demonstraram que podem atingir a perfeição. Um certo grau de melofilia encoraja, por vezes, a preferir, na obra de um compositor, sua grande música doente à sua obra-prima incontestada. Se se aceita a ideia de que a perfeição chega, na maior parte das vezes, a dissimular as intenções, admitir-se-á que as grandes músicas doentes deixam transparecer mais cruamente sua razão de ser. Diria, enfim, que a “grande música doente” sofre geralmente de um extravasamento de sinceridade, o que paradoxalmente a torna mais clara para os aficionados e mais obscura para o público, levado a engolir misturas cuja dosagem privilegia o ardil de preferência à confissão direta.”
Esta é uma belíssima versão de minha Paixão preferida. Um timaço!
J.S. Bach (1685-1750): A Paixão segundo João, BWV 245, “A Grande Paixão Doente” (Parrott)
1-1 Part 1. No. 1. Herr, unser Herrscher 8:53
1-2 Part 1. No. 2a. Jesus ging mit seinen Jüngern / 2b. Jesum von Nazareth / 2c. Jesus spricht zu ihnen 2:18
1-3 Part 1. No. 3. O Große Lieb 0:44
1-4 Part 1. No. 4. Auf daß das Wort erfüllet würde 1:04
1-5 Part 1. No. 5. Dein Will gescheh, Herr Gott, zugleich 0:50
1-6 Part 1. No. 6. Die Schar aber und der Oberhauptmann 0:43
1-7 Part 1. No. 7. Aria. Von den Stricken meiner Sünden 4:49
1-8 Part 1. No. 8. Simon Petrus aber folgete Jesum nach 0:15
1-9 Part 1. No. 9. Aria. Ich folge dir gleichfalls 3:39
1-10 Part 1. No. 10. Derselbige Jünger war dem Hohenpriester bekannt 2:47
1-11 Part 1. No. 11. Wer hat dich so geschlagen 1:38
1-12 Part 1. No. 12a. Und Hannas sandte ihn gebunden / 12b. Bist du nicht seiner Jünger einer? / 12c. Er 2:04
1-13 Part 1. No. 13. Aria. Ach. mein Sinn 2:46
1-14 Part 1. No. 14. Petrus, der nicht denkt zurück 1:21
2-1 Part 2. No. 15. Christus, der uns selig macht 1:14
2-2 Part 2. No. 16a. Da führeten sie Jesum / 16b. Wäre dieser nicht ein Übeltäter / 16c. Da sprach PIla 4:10
2-3 Part 2. No. 17. Ach, großer König 1:30
2-4 Part 2. No. 18a. Da sprach Pilatus zu ihm / 18b. Nicht diesen, sondern Barrabam! / 18c. Barrabas ab 1:56
2-5 Part 2. No. 19. Betrachte, meine Seel 2:12
2-6 Part 2. No. 20.Mein Jesu, ach! 7:17
2-7 Part 2. No. 21a. Und die Kriegsknechte flochten eine Krone / 21b. Sei gegrüßet, lieber Jüdenkönig! 5:38
2-8 Part 2. No. 22. Durch dein Gefängnis, Gottes Sohn 0:54
2-9 Part 2. No. 23a. Die Jüden aber schrieen und sprachen / 23b. Lässet du diesen los / 23c. Da Pilatus 4:12
2-10 Part 2. No. 24. Eilt,ihr angefochtnen Seelen 3:35
2-11 Part 2. No. 25a. Allda kreuzigten sie ihn / 25b. Schreibe nicht: der Jüden König / 25c. Pilatus ant 2:02
2-12 Part 2. No. 26. In meines Herzens Grunde 0:59
2-13 Part 2. No. 27a. Die Kriegsknechte aber / 27b. Lasset uns den nicht zerteilen / 27c. Auf daß erfül 3:45
2-14 Part 2. No. 28. Er nahm alles wohl in acht 1:08
2-15 Part 2. No. 29. Und von Stund an nahm sie 1:27
2-16 Part 2. No. 30. Es ist vollbracht! 5:06
2-17 Part 2. No. 31. Und neiget das Haupt und verschied 0:19
2-18 Part 2. No. 32. Mein teurer Heiland, laß dich fragen 4:44
2-19 Part 2. No. 33. Und siehe da, der Vorhang im Tempel zerriß 0:29
2-20 Part 2. No. 34. Mein Herz, in dem die ganze Welt 0:39
2-21 Part 2. No. 35. Zerfließe, mein Herze 6:31
2-22 Part 2. No. 36. Die Jüden aber, dieweil es der Rüsttag war 2:13
2-23 Part 2. No. 37. O hilf, Christe, Gottes Sohn 1:06
2-24 Part 2. No. 38. Darnach bat Pilatum Joseph von Arimathia 2:05
2-25 Part 2. No. 39. Ruht wohl, ihr heiligen Gebeine 8:02
2-26 Part 2. No. 40. Ach Herr, laß dein lieb Engelein 2:04
Performers: Kirkby, Emma (Soprano), van Evera, Emily (Soprano), Iconomou, Panito (Alto), Covey-Crump, Rogers (Tenor), Thomas, David (Bass), Bonner, Tessa (Soprano), Fliegner, Christian (Boy Soprano), Gunther, Christian (Boy Soprano), Trevor, Caroline (Alto), Roberts, Nicholas (Tenor), Tusa, Andrew (Tenor), Charlesworth, Stephen (Bass), Grant, Simon (Bass), Daniels, Charles [Classical] (Tenor), Kooy, Peter (Bass), Tubb, Evelyn (Soprano), Cable, Margaret (Alto), Jochens, Wilfried (Tenor)
Orchestras/Ensembles: Taverner Consort, Taverner Players, Tolz Boys Choir Members
Muitos músicos dizem que A Arte da Fuga é uma daquelas obras da arte universal diante da qual só é possível calar-se. A obra seria a profissão de fé musical de meu pai, e seu conteúdo metafísico a colocaria no limiar de outro mundo. Ela seria “a abstração em música”, “a forma pura”, “um sopro de ar claro e gelado”, “uma caixa fria” repleta de invenções melódicas cheias de vida. Para muitos, a obra seria praticamente inexequível. O compositor Wolfgang Rihm escreveu: “O único espaço sonoro para a realização desta música continua sendo aquele reservado ao pensamento, situado abaixo da caixa craniana. Esse espaço, porém, é o mais amplo de todos, desde que se possa conceber em pensamento tal realidade sonora”. É algo que está lá no limite do que é música. Bach não definiu sua instrumentação e muitos acham que é algo mais para ser mais lido e admirado do que para ser ouvido. Eu não sei ler música, então só me resta ouvir e percebo que a obra é cheia de impossibilidades e arestas que vão sendo resolvidas de forma inesperada, como se a gente estivesse ouvindo um quadro de Escher. É tudo muito preciso e intrigante. Adorno chamou A Arte da Fuga de economia de motivos. para ele, o tema é esgotado até em seus mínimos componentes e disso resulta algo perfeito. A obra seria “a arte da dissecação”. O resultado é uma forma de insuperável precisão: a fuga. O cruzamento magistral da grande e pequena ordem, das grandes e pequenas formas. Com A Arte da Fuga, Johann Sebastian Bach, meu pai, teria se voltado para o passado e para o futuro. Nela, porém, o mais importante não seria a técnica, nem as leis do ofício da música, mas a expressão musical.
(Copiado, com adaptações minhas, de 48 variações sobre Bach, de Franz Rueb.)
J.S. Bach (1685-1750): A Arte da Fuga (Goebel, MAK)
1. Contrapunctus 1
2. Contrapunctus 2
3. Contrapunctus 3
4. Contrapunctus 4
5. Canon alla Ottava
6. Contrapunctus 5
7. Contrapunctus 6, a 4, in Stylo Francese
8. Contrapunctus 7, a 4, per Augmentationem et Diminutionem
9. Canon alla Duodecima in Contrapuncto alla Terza
10. Contrapunctus 9, a 4, alla Duodecima
11. Contrapunctus 10, a 4, alla Decima
12. Contrapunctus 8, a 3
13. Contrapunctus 11, a 4
14. Canon alla Duodecima in Contrapuncto alla Quinta
15. – rectus
16. – inversus
17. – rectus
18. – inversus
19. Fuga a 2 Clavicembali
20. Alio modo Fuga a 2 Clav.
21. Canon per Augmentationem in contrario motu
22. Fuga a 3 Soggetti (Contrapunctus 14)
Um cedezinho mais ou menos, daqueles de gatinhos de Bach. Trata-se de um encontro de duas grandes estrelas estadunidenses da DG — Kathleen Battle e Itzhak Perlman. O resultado é agradável. Serve também como guia para algumas boas árias de meu pai, apesar de faltarem algumas extraordinárias que são também para soprano e violino. Na verdade, achei a seleção é pra lá de estranha. Battle vai muito bem, como sempre. Perlman parece meio desconfortável, mas sai com saldo positivo. Os gatinhos são árias de Cantatas e da Missa em Si Menor que só guardam em comum o fato de serrem para soprano e violino. Para pessoas com pouca vivência bachiana, o disco pode ser legal. Pra mim, ele é meio boboca.
J.S. Bach (1685-1750): Árias para Soprano e Violino (Battle, Perlman)
1. Kantate BWV 197 No. 8: Vergnügen und Lust
2. Kantate BWV 58 No. 3: Ich bin vergnügt in meinem Leiden
3. Kantate BWV 204 No. 4: Die Schätzbarkeit der weiten Erden
4. Kantate BWV 97 No. 4: Ich traue seiner Gnade
5. Kantate BWV 115 No. 4: Bete aber auch dabei
6. Kantate BWV 171 No. 4: Jesus soll mein erstes Wort in dem neuen Jahre heißen
7. Messe h-moll, BWV 232 No. 23: Benedictus, qui venit in nomine domini
8. Messe h-moll, BWV 232, No. 5: Laudamus te
9. Kantate BWV 202 No. 5: Wenn die Frühlingslüfte streichen
10. Kantate BWV 36 No. 7: Auch mit gedämpften, schwachen Stimmen
11. Kantate BWV 187 No. 5: Gott versorgt alles Leben
12. Kantate BWV 84 No. 3: Ich esse mit Freuden mein weniges Brot
13. Kantate BWV 105 No. 5: Kann ich nur Jesum mir zum Freunde machen
Performers:
Conductor – John Nelson (5)
Orchestra – Orchestra Of St. Luke’s
Soprano Vocals – Kathleen Battle
Violin – Itzhak Perlman
Um excelente disco com vários dos Concertos para Cravo(s) de Bach, incluídas algumas transcrições que vocês, conhecedores, dirão se são de Bach ou não. Os caras de Colônia são realmente ótimos e nos deixam completamente felizes. O primeiro concerto do CD é muito mais conhecido pela versão original para violino solo e o último é mais conhecido pela versão para 3 cravos — que é terceiro concerto do CD. De resto, eu diria que futebol é bola na rede e mais meio quilo de farofa. Ah, tenho que ir na feira que está fechando. Vou logo senão minha mulher me mata.
J. S. Bach (1685-1750): Obras Orquestrais Completas (CD 4 de 8) (Cologne Chamber Orchestra, Helmut Müller-Brühl)
BACH, J.S.: Harpsichord Concertos, Vol. 4
Harpsichord Concerto in D major, BWV 1042
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Robert Hill, harpsichord
Allegro 07:25
Adagio e piano sempre 05:59
Allegro 02:48
Harpsichord Concerto in G minor, BWV 1058
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Gerald Hambitzer, harpsichord
Allegro 03:39
Andante 04:45
Allegro ma non tanto 03:48
Concerto for 3 Harpsichords in C major, BWV 1064
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Gerald Hambitzer, harpsichord
Robert Hill, harpsichord
Christoph Anselm Noll, harpsichord
Allegro 06:21
Adagio 05:18
Allegro 04:33
Concerto for Three Harpsichords in D minor, BWV 1063
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Michael Behringer, harpsichord
Robert Hill, harpsichord
Christoph Anselm Noll, harpsichord
Allegro 04:32
Alla Siciliana 04:10
Allegro 04:42
Concerto for 3 Harpsichords in D major, BWV 1064 (arr. for violins)
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Elisabeth Kufferath, violin
Christine Pichlmeier, violin
Winfried Rademacher, violin
Allegro 06:00
Adagio 05:59
Allegro 04:28
Leipzig fica a 120 quilómetros de Dresden, para onde viajou Johann Sebastian Bach em diversas ocasiões, para testar novos órgãos e onde esperava obter um rendoso emprego, que nunca veio. Mas, hoje, vamos celebrar uma viagem que ocorreu no sentido inverso, de Dresden para Leipzig.
Em 1739, Wilhelm Friedemann Bach, o filho mais velho de Johann Sebastian, foi de Dreden para Leipzig e levou junto seu amigo Sylvius Leopold Weiss assim como um de seus alunos de alaúde, Johann Kropfangs. Podemos imaginar quanta música esse encontro produziu. Essa visita foi registrada no dia 11 de agosto no diário de Johann Elias Bach, sobrinho e secretário particular de Johann Sebastian: «Hoje, algo incrível aconteceu no mundo da música: meu primo [Wilhelm Friedemann Bach] veio nos visitar e ficou por quatro semanas. Ele veio com dois alaudistas, o Sr. Weiss e o Sr. Kropfgans [seu aluno], que nos encantaram com muitos concertos».
Esta postagem reúne dois discos que, de certa forma, celebram esse encontro de músicos geniais. No disco de Diego Cantalupi e Davide Pozzi temos principalmente peças de Weiss, além de uma fuga para alaúde, de Bach. As peças são interpretadas ora ao cravo, ora ao alaúde e em certos momentos, ambos tocam juntos. Veja este lindo vídeo postado no Youtube, música primorosamente interpretada em um cenário encantador.
No disco de Alberto La Rocca e Carlo Lazari temos a Suíte SW 47, de Weiss, que deve ter sido ouvida diversas vezes nessa estadia em Leipzig, assim como a adaptação feita por Bach, acrescentando o violino sobre a transcrição para cravo. No disco ouvimos uma versão com violino e violão, arranjo feito por Alberto La Rocca.
Bach e Weiss eram amigos e se encontraram em várias ocasiões. Johann Friedrich Reichardt até os descreve desafiando um ao outro para uma competição de improvisação: ‘Qualquer um que entenda o desafio de tocar modulações harmônicas e contraponto decente no alaúde ficará surpreso e espantado ao ouvir uma testemunha ocular dizer que Weiss, o grande alaudista, competiu com J.S. Bach, o grande cravista e organista, tocando fantasias e fugas.’
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Silvius Leopold Weiss (1687-1750)
Suite in A SW47 for lute
Entrée
Currante
Rondeau
Sarabande
Allegro
Men[uet]
Alberto La Rocca guitar & arrangement
Silvius Leopold Weiss / Johann Sebastian Bach 1685-1750
A “melodia adicionada” de Bach, composta com sua habilidade sobre-humana usual, lança uma nova luz sobre a suíte original, como se a vestisse com um traje extraordinariamente elegante. A parte do violino comenta a textura original do alaúde sem sufocá-la, quase como uma improvisação livre acima do topo. Ela brinca com os vários elementos da música de Weiss, extrapolando ideias para temas, imitando-os ou simplesmente vagando livremente. A parte de Bach também é altamente imaginativa e variada em sua expressão, frequentemente adicionando encaixe rítmico complexo e virtuosismo significativo, enquanto sempre se mantém fiel às emoções dos movimentos de Weiss.
Celebre você também essa amizade!
Aproveite!
René Denon
PS: No segundo disco da postagem indicada a seguir você encontrará a versão de Bach para a Suíte do compadre Weiss, aquela denotada por BWV 1025:
Estou ouvindo todos os meus CDs. Esta série já foi postada no passado e agora deverá voltar sem prazo ou ordem. Quando postamos pela primeira vez, postamos sem texto. Devo explicar algo sobre a excelente orquestra responsável pela série. A Orquestra de Câmara de Colônia (Kölner Kammerorchester) executa principalmente música clássica e barroca, mas também é conhecida por tocar uma variedade de músicas dos séculos XIX e XX, incluindo obras contemporâneas. A orquestra utiliza um conjunto padrão de instrumentos orquestrais modernos em suas apresentações. O que achei curioso é a forma com que eles combinam práticas performáticas históricas com instrumentação contemporânea.
J. S. Bach (1685-1750): Obras Orquestrais Completas (CD 2 de 8) (Cologne Chamber Orchestra, Helmut Müller-Brühl)
Violin Concertos, BWV 1041-1043 and BWV 1052
Violin Concerto in A minor, BWV 1041
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Kolja Blacher, violin
I. Allegro 03:21
II. Andante 05:32
III. Allegro assai 03:36
Violin Concerto in E major, BWV 1042
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Kolja Blacher, violin
I. Allegro 07:14
II. Adagio 05:38
III. Allegro assai 02:44
Violin Concerto in D minor, BWV 1052
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Kolja Blacher, violin
I. Allegro 07:23
II. Adagio 06:10
III. Allegro 07:27
Concerto for 2 Violins in D minor, BWV 1043
Performed by:Cologne Chamber Orchestra
Conducted by:Helmut Muller-Bruhl
Christine Pichlmeier, violin
Lisa Stewart, violin
I. Vivace 03:36
II. Largo ma non tanto 06:24
III. Allegro 04:43
Abramos o ano de 2025 de forma brilhante. Aproveito para desejar-lhes um ano com muita saúde, felicidades e prisões de bolsonaristas. Além da prisão do próprio, é claro.
Bem, este foi um dos melhores lançamentos de 2024 — as muito amadas Partitas tocadas pelo excelente Martin Helmchen. “Partita” é um nome alternativo para “Suíte”, gênero que reúne diversas danças de andamentos diferentes. Bach publicou suas seis Partitas para teclado separadamente entre 1726 e 1730. Em 1731, elas foram editadas com o título de Clavier-Übung (Prática de Teclado). O conjunto logo se tornou parte do repertório fundamental. Exatamente como os outros grupos de suítes prévias, as francesas e as inglesas, todas as Seis Partitas seguem o esquema básico da suíte: “allemande-courante-sarabande-giga”. Neste esqueleto, Bach coloca um movimento de abertura (um prelúdio, uma sinfonia ou fantasia, ou mesmo uma abertura) que determina o tom de cada uma delas e, em seguida, entra o esqueleto quase sempre com outros acréscimos.
OK, mas isso é uma descrição fria. O fato é que todas eles têm sua própria personalidade, luz e são belíssimas. E que Helmchen faz jus a tudo isso no tangent piano, um troço muito raro que já não é cravo, mas que ainda não é piano. Dizem que há 20 desses pianos no mundo. Falo de originais do século XVIII, bem entendido.
J. S. Bach (1685-1750): As Seis Partitas para teclado (Martin Helmchen)
Partita No. 1 In B Flat Major, BWV 825
1-1 I. Prelude 2:08
1-2 II. Allemande 4:02
1-3 III. Courante 2:43
1-4 IV. Sarabande 5:04
1-5 V. Menuett I & II 2:59
1-6 VI. Gigue 2:16
Partita No. 3 In A Minor, BWV 827
1-7 I. Fantasia 2:54
1-8 II. Allemande 3:13
1-9 III. Courante 3:02
1-10 IV. Sarabande 3:56
1-11 V. Burlesca 2:26
1-12 VI. Scherzo 1:01
1-13 VI. Gigue 3:17
Partita No. 4 In D Major, BWV 828
1-14 I. Ouverture 5:45
1-15 II. Allemande 8:57
1-16 III. Courante 3:28
1-17 IV. Aria 2:32
1-18 V. Sarabande 5:54
1-19 VI. Menuett 1:26
1-20 VII. Gigue 3:50
Partita No. 2 In C Minor, BWV 826
2-1 I. Sinfonia 4:36
2-2 II. Allemande 4:47
2-3 III. Courante 2:16
2-4 IV. Sarabande 3:35
2-5 V. Rondeau 1:34
2-6 VI. Capriccio 3:30
Partita No. 5 In G Major, BWV 829
2-7 I. Preambulum 2:22
2-8 II. Allemande 4:43
2-9 III. Corrente 1:48
2-10 IV. Sarabande 4:41
2-11 V. Tempo Di Minuetto 2:04
2-12 VI. Passepied 1:44
2-13 VII. Gigue 3:49
Partita No. 6 In E Minor, BWV 830
2-14 I. Toccata 7:31
2-15 II. Allemande 3:33
2-16 III. Corrente 4:26
2-17 IV. Air 1:38
2-18 V. Sarabande 6:30
2-19 VI. Tempo Di Gavotta 2:13
2-20 VII. Gigue 5:10
O Caderno de Notas de Anna Magdalena Bach não é uma “obra” de meu pai, Johann Sebastian Bach. Trata-se simplesmente, como diz nome, de um caderno de notas mantido por sua segunda mulher, a jovem Anna Magdalena Wilcken (ou Wülckens). Ali estavam anotadas as músicas que executávamos em nossos saraus noturnos. Servia a nossa diversão e a de nossos amigos, é um registro de um hábito que perdeu-se no século XX, substituído pela tela da TV. Antes, saraus com boa música; agora, Faustão. É, nem tudo é evolução. (Rimou…)
São músicas ligeiras e agradáveis. Há de tudo neste caderno: o tema base das Variações Goldberg, a Allemande inicial das Suítes Francesas, o Prelúdio Nº 1 do Cravo Bem Temperado, porém há também temas escritos por meu meio-irmão Carl Philip Emmanuel Bach, por François Couperin – que meu pai amava – e pelos alunos que nos freqüentavam. A ária mais famosa desta série, Bist du bei mir, foi provavelmente escrita por um aluno de nome Stölzel. Sim, ela leva o BWV 508, porém os freqüentadores do PQP devem saber que nem sempre podemos acreditar nos catálogos.
Então, como o Caderno é uma coleção imensa e arbitrária de músicas compostas exclusivamente próprio caderno ou não, cada grupo escolhe o que quer executar e faz o seu Notenbüchlein.
Este é o de Gustav Leonhardt, o que não é pouca coisa.
Família Bach: Pequeno Caderno de Notas de Anna Magdalena Bach (Ameling, Linde, Leonhardt e outros)
1. Polonaise g-moll, BWV Anh. 119 0:54
2. Marche Es-dur, BWV Anh.127 1:35
3. Menuet G-dur & g-moll, BWV 114/115 2:40
4. Willst du dein Herz mir schenken, BWV 518 2:27
5. Rondeau B-dur (Fr.Couperin), BWV Anh. 183 4:40
6. Bist du bei mir, BWV 508 2:21
7. Aria fur Clavier G-dur, BWV 988, 1 2:16
8. So oft ich meine Tobackspfeife, BWV 515a 3:47
9. Marche G-dur, (C,Ph.E.Bach), BWV Anh.124 1:27
10. Allemande d-moll, BWV 812, 1 4:08
11. Dir, dir, Jehova, will ich singen, BWV 299 2:29
12. Praeludium C-dur, BWV 846, 1 1:53
13. Menuet G-dur, BWV Anh.116 1:22
14. Marche D-dur (C.PH.E.Bach), BWV Anh. 122 0:54
15. Musette D-dur, BWV Anh.126 0:48
16. BWV 82, 2&3 8:13
17. Chorealbeabeitung Er nur den lieben Gott lasst walten, BWV 691 1:39
18. O Ewigkeit du Donnerwort, BWV 513 (4 stimmig) 1:18
Soprano: Elly Ameling
Barítono: Hans-Martin Linde
Cravo: Gustav Leonhardt
Viola da Gamba: Johannes Koch
Violoncelo: Angelica May
Órgão: Rudolf Ewerhart
O excelente conjunto holandês ‘Combattimento’ fez um incrível trabalho de arqueologia musical aqui neste CD, reconstruindo quatro Concertos de Bach e uma Partita. O texto abaixo foi retirado do site da gravadora, a Etcetera :
This CD contains five new reconstructions of lost works by Bach, known only through later arrangements by the master himself. They were all made by Pieter Dirksen, Combattimento’s harpsichordist and renowned Bach researcher. Central here are the two Concertos for three harpsichords and strings BWV 1063 and 1064, which are in fact very difficult to realize convincingly in their surviving form. These monumental compositions appear here in a considerably reduced scorings – BWV 1063r for two violins, strings and continuo, BWV 1064r for three violins, two violas and continuo – which brings out the beauty of Bach’s music in a convincing way. The collection also includes the well-known Violin Concerto in G minor BWV 1056r (albeit with a completely “new” middle movement reconstructed on the basis of a 7-bar fragment), the Partita for lute or harpsichord BWV 997 in its alleged original form for violin and lute, and a reconstruction of Bach’s “little” Harpsichord Concerto in D minor BWV 1059r.
Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Bach Restored – Combattimento
É um trabalho realizado com muita dedicação e paixão pela obra de Bach, feito por gente que vive e respira a obra de Johann Sebastian vinte e quatro horas por dia. Vale e muito a pena conhecer.
1. Concerto for two violins in D minor, BWV 1063r: I. Allegro
2. Concerto for two violins in D minor, BWV 1063r: II. Alla Siciliana
3. Concerto for two violins in D minor, BWV 1063r: III. Allegro
4. Concerto for violin in G minor, BWV 1056r: I. Allegro
5. Concerto for violin in G minor, BWV 1056r: II. Largo
6. Concerto for violin in G minor, BWV 1056r: III. Presto
7. Concerto for three violins in D major, BWV 1064r: I. Allegro
8. Concerto for three violins in D major, BWV 1064r: II. Adagio
9. Concerto for three violins in D major, BWV 1064r: III. Allegro
10. Partita for violin and lute in G minor, BWV 997r: I. Preludio
11. Partita for violin and lute in G minor, BWV 997r: II. Fuga
12. Partita for violin and lute in G minor, BWV 997r: III. Sarabande
13. Partita for violin and lute in G minor, BWV 997r: IV. Gigue
14. Partita for violin and lute in G minor, BWV 997r: V. Double
15. Concerto for harpsichord in D minor, BWV 1059r: I. Allegro
16. Concerto for harpsichord in D minor, BWV 1059r: II. Adagio
17. Concerto for harpsichord in D minor, BWV 1059r: III. Presto
Claro que hoje há muitas gravações superiores destes concertos, mas essa gravação é daquela época quando o historicamente informado estava começando a surgir. E eu comprei o meu vinil na Inglaterra em 1982 (o disco original de 1981), em minha primeira viagem internacional. Então, não tenho nenhum distanciamento, nenhum. Eu o amo, ele foi uma revelação do quanto Bach poderia ainda melhorar e creiam: jamais ele tinha vindo para o PQP Bach — algo incompreensível, mas verdadeiro. Kuijken e Van Dael — hoje com, respectivamente, 80 e 78 anos — eram talentosos jovens e, bem, ouçam. Posso notar que a versão ainda tem um pouco da falta de cintura da fase Harnoncourt / Leonhardt, mas relevem.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Concertos para Violino, BWV 1041-1043 (La Petite Bande, Sigiswald Kuijken)
Konzert A-moll BWV 1041 Für Violine, Streicher Und Bc. = Concerto A Minor BWV 1041 For Violin, Strings And Bc.
1 Allegro 3:41
2 Andante 6:37
3 Allegro Assai 3:34
Konzert E-dur BWV 1042 Für Violine, Streicher Und Bc. = Concerto E Major BWV 1042 For Violin, Strings And Bc.
4 Allegro–Adagio–Allegro 7:41
5 Adagio 6:39
6 Allegro Assai 2:44
Konzert D-moll BWV 1042 Für 2 Violinen, Streicher Und Bc. = Concerto D Minor BWV 1043 For 2 Violins, Strings And Bc.
7 Vivace 3:43
8 Largo Ma Non Tanto 7:36
9 Allegro 4:41
Cello – Richte van der Meer, Wieland Kuijken
Conductor, Violin [1.] – Sigiswald Kuijken
Harpsichord – Bob van Asperen
Orchestra – La Petite Bande
Viola – Marléen Thiers, Ruth Hesseling
Violin – Alda Stuurop, François Fernandez, Janneke van der Meer, Mihoko Kimura, Thomas Albert (2)
Violin [2.] – Lucy van Dael
Que os próximos dezoito anos possam ser tão delirantes quanto os primeiros – e que a maioridade penal lhe seja leve. Obrigado por tudo, PQP Bach!
COLLOQVIVM PAVLISTANUM (VERVM) (homenagem a este outro colóquio, tão ficto quanto maravilhoso)
Cai o pano da noite sobre Babilônia. Todos quantos conseguiram sobreviver mais um dia à maior urbe do hemisfério buscam seus abrigos. Há exceções: boêmios e trabalhadores noturnos, noctívagos e morcegos, aqueles tantos que dormirão outra vez em desamparo, e este punhado de melômanos no átrio duma estação férrea desativada, transformada numa das mais soberbas salas de concerto do planeta. Nesta bolha acusticamente isolada e casseteticamente separada da cacofonia e desespero violentos do derredor, eles esperam.
Não é uma espera aflita: seus ouvidos experimentaram, por setenta e cinco minutos, a schopenhaueriana libertação do sofrimento da vida através da Arte, e agora encaravam aquele drama maior que há na Música, o do silêncio que se segue ao som. Algumas centenas de outros bípedes compartilharam esse deleite, mas Babilônia não faz reféns, e, sabedora disso, a turba ouvinte debandou rapidamente, intimidada pelo duríssimo entorno da gare, onde há brigas pelas sobras (e pelas sobras das sobras) e aqui e ali espocam cachimbos de metal. Restou só aquele punhado de conhecedores, imbuídos da certeza de que guardariam para sempre as memórias daquele exercício para teclado, composto por um certo Sebastião Ribeiro para refrescar seus espíritos, e vertido em seus ouvidos pelo mesmo cabra pelo qual esperavam. Ao redor deles, os olhos dos agentes de evacuação do edifício ebulem de impaciência, e entornam em frustração quase audível quando, por uma portinhola do átrio, surge um sujeito impossivelmente longilíneo: enfim, o tão aguardado cabra, astro internacional da Música, que – tinham certeza disso – nunca deixaria de vir atender seus fãs. A breve fila que se forma é fechada por outro cabra, um tipo atarracado, de roupas amarrotadas, cabelos em desordem e barba à Velho do Saco. Digo-lhes mais: ele sua em bicas, tem os sapatos decorados pelos pombos de Babilônia, e parece vir da galáxia mais diametralmente oposta à do astro, um irretocável cavalheiro de terno bem cortado, semblante de bebê e, assim parece, incapaz de suar.
Afora a inicial do nome, o sobrenome patronímico e a coincidência de morarem em ilhas, estes cabras têm em comum o amor por Sebastião Ribeiro e a disposição de viajar pelas Variações Goldberg. Um deles, o comprido, partiu de sua ilha natal para uma turnê de oitenta e oito recitais, tantos quantos as teclas de seu instrumento, a verter as Goldberg nos ouvidos mais sortudos do planeta; já o suabundo viajou de sua ilha adotiva especialmente para escutá-las em Babilônia. A fila andou, e agora apenas quatro fãs separam estes dois homens de seu breve colóquio. O primeiro é Víkingur Ólafsson; o outro, Vassily Genrikhovich.
Jovem de preto: Boa noite, Sr. Ólafsson. Muito obrigada pelo recital maravilhoso. Víkingur Ólafsson: Boa noite, pode me chamar de Víkingur. Que bom que gostou! JdP: Eu amei, Víkingur, muito obrigada. Comprei o CD logo que foi lançado. Eu o escutei muitas vezes, e ainda assim o recital superou minhas expectativas. Adorei a energia, a virtuosidade, e a capacidade que você tem de parecer um pianista diferente a cada variação – inclusive nas repetições. VO: Obrigado, muito gentil. Essa capacidade tímbrica infinita do piano me fascina e me faz adorar ser pianista. Tenho muita sorte de ter um instrumento como esse para me expressar. JdP: Algumas pessoas acham que não se deve tocar Bach ao piano… VO: Eu tento entendê-las, mas então me lembro que Bach foi um explorador incansável dos teclados do seu tempo. Seu instrumento era o órgão, ele explorava seus registros, as combinações entre eles, os contrastes dinâmicos. Por isso, não é difícil para mim imaginar Bach servindo-se de todos os recursos do piano moderno para trazer ainda mais variedade a essas variações. JdP: A propósito, amei seu bis de anteontem. Obrigada pela homenagem a Nelson Freire [Ólafsson tocara um incandescente concerto de Schumann nos três dias anteriores, e dedicara o bis de uma das récitas – o Andante da Sonata no. 4 para órgão – à memória de Nelson]. VO: Eu adoro Nelson Freire. Sinto muito por ele e pelo que a perda dele significa para seu país. Seu álbum de música brasileira foi uma revelação para mim. JdP: Você já tocou música brasileira? VO: Sim, já estudei peças de Villa-Lobos enquanto estava na Juilliard. Nunca as toquei em público, mas cogitei incluir partes de “A Prole do Bebê” em meu álbum From Afar[em breve no PQP Bach]. JdP: Adoraria ouvir você tocar Villa-Lobos. Quem sabe quando voltar, em 2027? [Ólafsson despediu-se do público, após as Variações Goldberg, prometendo voltar em 2027] VO: Eu espero que sim. É um compositor que merece ser tão conhecido quanto Bartók. Um orgulho para seu povo, verdadeiramente brilhante. JdP: Mal posso esperar. Posso tirar uma foto com você?
[…]
Calvo cabeludo de sapatênis: Olá! Obrigado pelas Goldberg e também pelo Schumann ontem. Nunca vou esquecer deles. Pode me dar seu autógrafo? VO: Olá, claro! [autografa o programa] CCdS: Eu li que chamaram você de “Glenn Gould da Islândia”… VO[rindo]: Muito lisonjeiro, mas injusto com Gould. Ele é inigualável. Mas sem dúvidas foi uma grande inspiração. CCdS: Sua gravação das Goldberg parece uma óbvia homenagem a Gould. VO: A gravação de 1955 é uma força que nenhum pianista deveria ignorar. Eu gastei o vinil de meu pai de tanto escutá-lo. Desde que comecei a estudar as Goldberg, vinte e cinco anos antes de gravá-las, tive a clareza e a energia de Glenn como um horizonte. CCdS: No recital você as tocou de maneira muito diferente do álbum e ainda mais surpreendente. VO: Muito obrigado. Eu tento aproveitar as peculiaridades da acústica de cada sala de concertos em que toco. Essa sala aqui é espetacular, e acho que não conseguiria tocar as Goldberg como toquei hoje em muitos outros lugares do mundo. CCdS: Foi por causa da acústica que você decidiu tocar também com a orquestra? VO: Sim, exatamente. Imagino que você tenha visto a entrevista [essa aqui]. A turnê das Goldberg demanda muito e fica difícil encontrar tempo e energia para ensaiar com orquestra. Escolhi só fazer exceções para duas salas de concerto de acústica extraordinária onde eu nunca tinha tocado antes [a outra foi a incrívelÓpera de Sydney].
[…]
Senhora de cabelo rosa[muito emocionada]: Foi magnífico. Estou em estupor. Penso no que vou conseguir escutar depois desse seu recital das Goldberg. VO: Muito obrigado. Por favor, não deixe de ouvir música por causa de mim… SdCR: Certamente não deixarei. Tem alguma sugestão do que devo ouvir a seguir? VO[sorrindo]: Tenho outros álbuns disponíveis. SdCR: Hahaha, já ouvi todos. Quero ouvir você mais vezes, e também tocando com orquestras. VO: Estou estudando os dois concertos de Brahms. Talvez você possa ir me ouvir tocá-los em algum lugar do mundo? CCdS[rindo]: Gould também é seu modelo no concerto de Brahms? VO[rindo também, e certamente também lembrando dessa infame gravação]: Nesses concertos meu modelo é Gilels – outro cujos vinis eu gastei de tanto escutar.
[…]
Tio de bigode[acompanhado de uma jovem que traduzia]: Boa noite! Muito obrigado pelo inesquecível recital. Gostaria, por favor, que autografasse as Goldbergs para mim [alcança a Ólafsson uma partitura da obra]. VO[autografando]: Boa noite! Espero não ter esquecido de nenhuma nota. O senhor conferiu se toquei todas? TdB: As notas que você tocou são as que me importam! VO [suspirando jocosamente de alívio]: Fico muito contente com que pense assim, senhor. Obrigado por vir! TdB: Adoro suas gravações. Sou pianista e admiro muito sua atenção ao detalhe. Amo seus álbuns com as pequenas peças. Nas Goldberg, pela primeira vez, ouvi seu talento a serviço de uma obra mais longa. Fiquei muito impressionado. VO: Muito obrigado. TdB: O que vem a seguir? VO: Estou estudando as últimas sonatas de Beethoven. TdB: Pretende gravá-las? VO: Quem sabe? Será um grande desafio. TdB: Como fez Gould? [que gravou as três últimas sonatas de Beethoven logo após seu legendário álbum de estreia com as Goldberg] VO[sorrindo]: Dizem que sou o Glenn Gould islandês…
[…]
Vassily Genrikhovich:Gott kvöld! VO [contendo o bocejo]: Gott kvöld! Muito bom seu islandês! VG: Obrigado, mas ele vai só até aqui. VO: Seu islandês vai muito mais longe que meu português… VG [sorrindo] Acho que iremos mais longe em inglês. Muito grato pelo recital. Nenhuma palavra pode descrever o que você me fez sentir hoje. VO: Muito obrigado. Muito gentil de sua parte. VG: É meio bobo dizer que palavras não podem descrever o que senti e ainda assim usar palavras para lhe falar isso. E sou o último fã da fila, você deve estar cansado, e a turnê não termina aqui. Só queria mesmo expressar o quão profundamente você me impressionou e agradecer muito pela generosidade de incluir meu país em seu roteiro pelo mundo. Não são todas as chamadas “turnês mundiais” que nos colocam em suas rotas. VO: Este país é extraordinário, e a música dele, também. Pena que tenho tão pouco tempo aqui. VG: Muito obrigado. Eu também acho isso. E sua música também é extraordinária. Viajei da minha cidade apenas para assistir suas apresentações. VO: Isso me faz sentir muito especial! Sou especialmente grato aos ouvintes peregrinos – eu os chamo “meus turistas Goldberg”. Ouço muitas histórias bonitas de suas viagens e fico muito honrado com sua confiança no que tento lhes oferecer. Muito obrigado pela sua dedicação em comparecer! VG: Sou um “turista Goldberg”? Isso me orgulha! VO[sorrindo]: Sim, você é, e espero contar com sua presença em outras ocasiões. VG: No que depender de mim, pode ter certeza. Quero ouvir você tocando as últimas sonatas de Beethoven, como falou ao cavalheiro antes de mim, e explorando novos repertórios. VO: Há muita grande música a explorar, e tão pouco tempo para isso! VG: … e eu não quero mais tomar o seu. Obrigado por tudo, pela gentileza conosco, pelas Goldberg, pelo Quodlibet. VO[sorrindo]: Você gostou do Quodlibet? VG: Eu adorei. Tanta gente o toca de uma maneira quadrada, constrita, como um coral para iniciantes. Você o transforma numa apoteose, numa reafirmação da energia das primeiras variações, depois da intensidade emocionante das variações em tonalidade menor. VO: Fico feliz com que gostou! Eu penso que, depois das variações em menor, só um Quodlibet muito assertivo pode preparar o momento mágico que é a Aria da capo. VG [pensando em perguntar por que Ólafsson escolheu iniciar a variação XVI com aquele curioso arpejo descendente, mas mudando de ideia]: Teria muito a lhe perguntar, mas você merece descansar. É a segunda vez que digo que você merece descansar. Só falta deixá-lo ir. VO: Obrigado por vir ao recital. Encontro você novamente em algum lugar do mundo – ou aqui mesmo, em três anos. VG: Você me daria a imensa honra de tirar uma foto comigo? VO: Com muito prazer! VG[à jovem de preto]: Moça, faria a gentileza?
“Claro!”
VG: Boa continuação da turnê, que seus caminhos sejam felizes – e bom descanso. Eu também tenho sinestesia e imagino a sua saturação sensorial depois de cada recital. VO[interessado]: Você também tem sinestesia? VG: Sim – e também prometi deixá-lo ir.
Os dois se cumprimentam e, entre acenos aos poucos presentes, o suave astro some pela mesma portinhola da qual surgira. O esquadrão de evacuação predial, já nos estrebuchos da impaciência, fecha barulhentamente as penúltimas portas. A última delas vê enfim sair o teimoso punhado de melômanos, incluindo aquele rapaz de sapatos adornados por pombos, que toma o rumo do metrô a saborear o retrogosto do tanto que acabara de viver.
Enquanto compartilhava com os amigos a foto que tirara com Ólafsson, lembrou-se do blogue de que era colaborador – sim, vocês adivinharam qual – e imaginou o jovem Víkingur em seus tempos de Juilliard, aquele comprido fiapo de gente, tão cheio de planos quanto vazio de bolsos, que parava em longas filas, como declarou em entrevistas, para conseguir as xepas dos ingressos para concertos, e se perguntou se aquele Ólafsson-mirim, sedento por mais Villa-Lobos, não teria porventura navegado do PC de sua república pela cyberesfera, e se em suas expedições por ela chegado ao mesmo lugar de que ora escrevo a vós outros, para então bradar, como outros tantos antes dele:
Se alguém encontrar o moço antes de nós, pedimos a gentileza de lhe explicar.
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Ária e variações para teclado, BWV 988, “Variações Goldberg”
[Exercício de teclado / composto / por uma ÁRIA / com diversas variações / para cravo / com dois manuais. / Composta para conhecedores / para refrescar os seus espíritos, por /Johann Sebastian Bach / compositor da Corte Real da Polônia e da Corte Eleitoral da Saxônia / Kapellmeister e Diretor de/ Música Coral em Leipzig. / Nuremberg, Balthasar Schmid, editor / 1741]
1 – Aria
2 – Variatio 1. a 1 Clav.
3 – Variatio 2. a 1 Clav.
4 – Variatio 3. Canone All’Unisuono a 1 Clav.
5 – Variatio 4. a 1 Clav.
6 – Variatio 5. a 1 Ovvero 2 Clav.
7 – Variatio 6. Canone alla Seconda a 1 Clav.
8 – Variatio 7. a 1 Ovvero 2 Clav.
9 – Variatio 8. a 2 Clav.
10 – Variatio 9. Canone alla Terza. a 1 Clav.
11 – Variatio 10. Fughetta a 1 Clav.
12 – Variatio 11. a 2 Clav.
13 – Variatio 12. Canone alla Quarta
14 – Variatio 13. a 2 Clav.
15 – Variatio 14. a 2 Clav.
16 – Variatio 15. Canone alla Quinta a 1 Clav. Andante
17 – Variatio 16. Ouverture a 1 Clav.
18 – Variatio 17. a 2 Clav.
19 – Variatio 18. Canone alla Sexta a 1 Clav.
20 – Variatio 19. a 1 Clav.
21 – Variatio 20. a 2 Clav.
22 – Variatio 21. Canone alla Settima a 1 Clav.
23 – Variatio 22. a 1 Clav. Alla Breve
24 – Variatio 23. a 2 Clav.
25 – Variatio 24. Canone all’Ottava a 1 Clav.
26 – Variatio 25. a 2 Clav.
27 – Variatio 26. a 2 Clav.
28 – Variatio 27. Canone alla Nona a 2 Clav.
39 – Variatio 28. a 2 Clav.
30 – Variatio 29. A 1 Ovvero 2 Clav.
31 – Variatio 30. Quodlibet a 1 Clav.
32 – Aria da Capo
Víkingur Ólafsson, piano
Gravado na Sala Norðurljós da Sala de Concertos Harpa em Reykjavík, Islândia, de 7 a 12 de abril de 2023.
“1 ano, 88 concertos. Eu desfrutei cada um deles! Alguns vieram a um concerto, outros a cinco, outros até a dez! Eu amo meu público – e ninguém mais que meus turistas Goldberg”
Depois de ouvir muitas gravações apenas OK, algumas de “grandes nomes”, entendi tudo ao ouvir Lutz Kirchhof. Ou seja, escutei as Suítes para Alaúde de Bach por um longo tempo, porém foi só quando me deparei com esta gravação que percebi como uma suíte para alaúde realmente é. Você também ficará maravilhado com a técnica fenomenal de Kirchhof e se perguntará como ele conseguiu. Os movimentos rápidos são estimulantes e os lentos beiram a experiência religiosa. Música de alaúde de Bach, música íntima, sem acompanhamento. Não tem nada melhor do que isso.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): A Obra Completa para Alaúde (Lutz Kirchhoff)
Suite In G Minor, BWV 995
1. Prelude 5:05
2. Allemande 4:50
3. Courante 2:01
4. Sarabande 2:22
5. Gavotte I / 6. Gavotte II en Rondeau/Gavotte I 4:30
7. Gigue 2:19
Fugue in G Minor, BWV 1000 5:50
Suite In E Minor, BWV 996
1. Praeludio: Passaggio — Presto 2:31
2. Allemande 2:32
3. Courante 3:12
4. Sarabande 3:20
5. Bourrée 1:34
6. Gigue 3:07
Prelude, Fugue and Allegro in E Flat Major, BWV 998
1. Prelude 2:24
2. Fuga 6:15
3. Allegro 3:50
Partita In C Minor, BWV 997
1. Prelude 3:24
2. Fuga 7:26
3. Sarabande 5:20
4. Gigue 3:05
5. Double 3:15
Prelude In C Minor, BWV 999 1:52
Suite In E Major, BWV 1006a
1. Prelude 5:01
2. Loure 3:33
3. Gavotte En Rondeau 3:27
4. Menuet I 2:04
5. Menuet II 2:08
6. Bourrée 2:11
7. Gigue 2:03
Gente, este disco antiguinho tinha que ser postado. Sim, ele é à moda antiga, mas com muita competência e sensibilidade, Rilling e sua excelente turminha apresentam aqui ao menos duas das melhores Cantatas de Bach, a BWV 137 e a 78. A primeira ária de ambas — faixas 2 e 12 — já bastariam pela elevar este CD ao Olimpo. Tudo funciona maravilhosamente e, como diz a imagem que acompanha este post, serve para fazer de você um sujeito mais feliz, mesmo com a fumaceira e a devastação que o agro preparou pra nós. (Escrevo este post em 12 de setembro de 2024. Vou agendá-lo e talvez ele chegue para vocês depois do fim do Brasil.)
J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 137, 129 e 78 (Rilling)
O que você faz naquele momento de grande atribulação? Como lidar com os dias nos quais seu coração se enche de dúvidas e angústias? Como beber daquele amargo copo? Hoje, eu danço…
Esse disco do pianista italiano Alessio Bax, radicado em Nova Iorque, oferece música que foi inspirada em danças. Dançar é uma das manifestações artísticas mais primitivas e definitivamente afeta a todos, mesmo aos mais desajeitados. Eu parafraseio o adágio antigo dizendo: quem dança, seus males espantam!
O disco começa com Suíte Inglesa No. 2 de Bach, que é uma sequência de danças: allemanda, courante, sarabanda, bourrées e gigue, precedidas por um dançante prelúdio. Um salto no tempo e no estilo nos leva à outra suíte de danças, agora composta por Bartók. O contraste não poderia ser mais forte. A modernidade da suíte de Bartók se deve muito à inspiração folclórica, de natureza mais primitiva do que as danças cortesãs de Bach.
Em seguida o mistério e a sensualidade das danças espanholas estão presentes em peças mais curtas, mas absolutamente características. Manuel de Falla e Isaac Albeniz são os culpados desses pequenos pecados em forma de música para dançar.
Valsas não poderiam faltar e Liszt, assim como o elegantíssimo Ravel proveem essa demanda. E para fechar o recital, duas pequenas e virtuosísticas peças: uma transcrição para piano de uma gavota de Bach, feita por Rachmaninov, e uma dança húngara, de Brahms, num arranjo de outro grande virtuose do piano, György Cziffra.
Você não precisa sair rodopiando ao ouvir o disco, mas se você nem batucar os dedos ou mexer com os pés, precisa rápida terapia de dança…
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
English Suite No. 2 in A minor, BWV807
Prélude
Allemande
Courante
Sarabande
Bourrée I – VI. Bourrée II
Gigue
Belá Bartók (1881-1945)
Tanz-Suite, Sz. 77, BB 86b (Version for Piano)
Moderato
Allegro molto
Allegro vivace
Molto tranquillo
Comodo
Finale. Allegro
Manuel de Falla (1876-1946)
El sombrero de tres picos: Danza del molinero (Farruca)
[Version for Piano, with introduction transcribed by Alessio Bax]
Danza
Isaac Albéniz (1860–1909)
Tango (No. 2 from Espana, Op. 165)
Danza
Manuel de Falla
El amor brujo: Danza ritual del fuego, para ahuyentar los malos espíritus
Danza
Franz Liszt (1811-1886)
Valses oubliées, S. 215: No. 1
Valse
Maurice Ravel (1875–1937)
La Valse
Valse
Johann Sebastian Bach
Violin Partita No. 3 in E Major, BWV 1006 [Arr. Rachmaninov]
Gavotte en rondeau
Johannes Brahms (1833–1897)
Hungarian Dance No. 6 in D flat major [Arr. György Cziffra]
His ninth solo album on Signum Records, Alessio Bax combines exceptional lyricism and insight with consummate technique and is without a doubt “among the most remarkable young pianists now before the public” (Gramophone). Here he presents an album of works for dancing, including tangos and waltzes spanning three centuries. — [Página da gravadora]
How does Bax achieve such a powerful crescendo at the Bartók Dance Suite’s outset without the least banging …As for Falla’s Ritual Fire Dance, you rarely hear the music soar from the ground up, where booming bass lines ignite genuine right-hand fireworks: a wonderful performance. — [Gramophone Magazine, October 2024]
O dia foi alucinante, hético! Logo pela manhã recebemos a notícia que três CDs da coleção do Sumo Sacerdote estavam corrompidos, pálidos, translúcidos, desprovidos de suas seivas musicais, inaudíveis! Toda a equipe da casa colocou-se prontamente em alerta, havíamos de reconstruir, mesmo que virtualmente, digitalmente, os tais desmemorizados CDs. Parecia que eles haviam sido abatidos por um dementador que lhes havia sugado todo o teor musical, para sempre…
Pois a equipe passou o dia dando buscas em arquivos, até mesmos arcaicos HDs foram vasculhados em busca das faixas perdidas. Pelo fim da tarde virtualmente todas haviam sido resgatadas, com exceção de duas delas: BWV 582 e BWV 590.
É claro que nossos bem informados leitores devem ter percebido de cara, os discos eram da coleção de obras de Bach, naquelas caixotas prateadas da Archiv Produktion, com a foto quadradinha do santo padroeiro do blog na frente. Isso é o que tornava nossa urgência, urgentíssima!
Mas, uma miríade de outras coisinhas miúdas, tarefas nossas outras, bem mais mundanas, nos pegaram, pois que a equipe do PQP Bach além de seus momentos de heróis, tem muitas horas para serem apenas Clark Kents e Bruce Waynes. No cair da noite, quando começou a resenha do dia com os colegas foi que me dei conta – BWV 590 é uma Pastorale e havia uma gravação da danadinha em uma de minhas postagens, porém com outro competente organista – Simon Preston! E não é que a BWV 582 é a poderosa Passacaglia! Essa peça também está em um dos discos do Simon Preston, mas esse eu ainda não havia postado. Daí, lembrei-me que iniciei o projeto de postar toda a sua série, mas interrompi o processo na postagem que fiz na época em que ele, Simon Preston, foi tocar instrumentos mais celestiais…
Sir Simon Preston (O órgão lhe deu ‘asas’)
Pois quem está atento aos sinais que o destino nos aponta, deve escutá-los e agir. Assim, aqui está, mais um disco do Simon Preston, este com os maravilhosos ”Schübler Chorales” e encerrando com a Passacaglia e tem outras coisas mais, que deixo para você mesmo descobrir…
Ah, essas duas peças foram também localizadas e em breve seguirão para os HDs do Sumo Sacerdote, ufa, que dia…
Espero que você passe bons momentos desfrutando esse disco e que seu interesse pela obra de Bach para órgão aumente… pois há mais ainda por vir! Agora, me desculpem, mas ainda há um peça interpretada por Trevor Pinnock ao cravo que queremos localizar e ninguém quer deixar o boss desapontado, não é?