Arthur Moreira Lima Jr. (Rio de Janeiro, 16 de julho de 1940 – Florianópolis, 30 de outubro de 2024) por suas próprias palavras:
I. Em entrevista na edição de 14/10/1974 do jornal carioca O Pasquim:
“Acho jogadores assim como o Gérson, Didi, maravilhosos. Como certos pianistas. Didi pra mim é o Gulda. Ele podia errar tudo, mas de repente tinha aquele momento de gênio que neguinho pode estudar a vida inteira que não vai conseguir fazer igual.”
O PASQUIM – Tem algum grande pianista hoje como Didi?
ARTHUR – Sei lá, os grandes pianistas atuais tendem mais para Pelé do que pra Didi. São perfeitos demais. Tem o Rubinstein, né? Esse ainda faz uns troços que dão aquela ereção, entende?”
(…)
O PASQUIM – Qual é o autor brasileiro que você executa com mais receptividade lá fora?
ARTHUR – Bem, eu só tenho tocado Villa-Lobos. Que, aliás, tem uma receptividade muito maior lá fora do que no Brasil. Ele é considerado o maior compositor das Américas. E com toda razão. Tem neguinho aí que perto dele não pega nem juvenil. Eu gosto muito do Ernesto Nazareth também. Mas é um compositor muito mais difícil de ser entendido no estrangeiro. Aliás, eu vou gravar um disco em Moscou só com músicas brasileiras e é claro que vou incluir Nazareth.”
(Obs: após a publicação da entrevista, em 1975 Arthur foi convidado a gravar um vinil duplo dedicado somente a Nazareth, no Brasil mesmo, seguido de outro, totalizando quatro LPs que estão entre seus legados mais preciosos e você pode encontrá-los aqui)
II. Em 1981, quando lançou os Noturnos em gravação feita na Califórnia/USA e escreveu o texto do encarte do disco, traduzido para o inglês e re-traduzido aqui:
“A palavra nocturne foi utilizada pelo pianista e compositor irlandês John Field (1782-1832) para designar um tipo de composição lenta (calma e sonhadora), que tinha como principal característica a imitação do bel canto. Chopin gostava de tocar os noturnos de Field, adicionando floreios improvisados no estilo de sua época.
A declamação pianística (principal característica dos noturnos) é a chave do estilo de Chopin e da sua filosofia artística. Não é surpreendente, então, que Chopin tivesse uma especial predileção pelos seus noturnos. Ele os tocava frequentemente para os seus alunos e amigos, em salões e em concertos públicos. Em termos de pedagogia, o Mestre atribuía a eles uma importância comparável à dos Estudos.
Os noturnos exemplificam notavelmente a ousadia musical de Chopin e seus revolucionários modos de abordar o instrumento. Ouvindo eles todos, podemos apreciar o caminho artístico atravessado por Chopin – com cerca de 17 anos, as primeiras tentativas no gênero (Noturnos Póstumos nº 19, 20 e 21); com 36, a transcendência, a perfeição da forma musical, alargada no seu conteúdo emocional, rica em invenção harmônica e de contrapondo, como evidenciado na obra mais tardia (nº 18).”
III. Em 1988 No encarte de sua coleção de 3 LP dedicados a Villa-Lobos, um deles você pode ouvir no link mais abaixo:
“Impregnadas de sentimento brasileiro, as peças não fogem à linha geral de sua obra, filosoficamente assentada no nacionalismo, baseada em ritmos e melodias do nosso riquíssimo folclore e realizada tecnicamente sob a influência de compositores europeus como Stravinsky, Bartók e Debussy, influência essa que apenas orientou seu talento genial, sem impedir que em momento algum deixassem de vir à tona seu autodidatismo e sua marcante personalidade.
Fiel às suas raízes populares, o piano do Villa-Lobos é brilhante, marcando os ritmos por vezes como se fosse um instrumento de percussão, indo do mais terno ao mais agressivo, sem nunca perder uma grande presença de som, que lhe é característica.”
IV. O pianista, que tocou muitas vezes tanto em Moscou como em Kiev, lamentou em 2022:
“Tanto os russos como os ucranianos são muito simpáticos. Fico muito triste com esse conflito. Não estou do lado de nenhum governante. Minha preocupação é com o povo, a população. A Polônia está recebendo os refugiados ucranianos e nesses grupos há músicos. Nossa missão é lutar pela paz.” (aqui)
Frédéric Chopin (1810 – 1849):
21 Noturnos
Arthur Moreira Lima, Blüthner Piano
Recorded in Little Bridges Auditorium, Pomona College, CA, USA, 1981
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – mp3 320 kbps
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Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) – Cirandas:
A Condessa
Senhora Dona Sancha
O Cravo brigou com a Rosa
Pobre Cega (Toada da Rede)
Passa, Passa, Gavião
Xô, Xô Passarinho
Vamos Atras da Serra, Calunga
Xô, Xô Passarinho
Vamos Atrás da Serra, Calunga
Fui no Tororó
O Pintor de Cannahy
Nesta Rua, Nesta Rua
Olha o Passarinho, Dominé
À Procura de uma Agulha
A Canoa Virou
Que Lindos Olhos!
Có, Có, Có
Arthur Moreira Lima, Steinway Piano
Recorded: Rio de Janeiro, 1988
Obs: Villa-Lobos, só no streaming. Reclamações, enviem por favor aos herdeiros do compositor.
(A foto que abre esta postagem é do Instituto Piano Brasileiro, também responsável por compartilhar várias outras preciosidades de Arthur Moreira Lima no Youtube (aqui) e, aqui, o mapa com todas as cidades onde ele tocou no seu projeto “Um Piano na Estrada”)
Pleyel


IM-PER-DÍ-VEL !!!

Nas últimas duas semanas, o número de postagens com música contemporânea tem sido considerável aqui no PQP Bach. Para não quebrar essa lógica, resolvi postar este Cd, pois ele é uma desafio para mim. É importante deveras ser surpreendido por desafios aparentemente inexpugnáveis. Parafraseando Nietzsche posso afirmar que há músicas que são admitidas com o tempo. Ouvi há quase um ano este cd e a impressão primeira não foi boa. Voltei a ouvi-lo ontem e eis que fui acometido por sensações misteriosas. Confesso que desde ontem estou aturdido com as músicas deste CD. É música profunda, cheia de desafios assustadores, quase que fantasmágoricos. O CD é a compilação da trilha sonora do filme 









Uma boa gravação destas belíssimas Sonatas de Brahms. Não se compara com a 
Charlie Haden (1937-2014) foi um grande gênio. Por mais de 50 anos, ele foi uma das figuras musicais mais importantes do jazz e do planeta. Uma das primeiras vezes onde ele apareceu foi como o garoto branco e magro do lado direito da fotografia da capa de This Is Our Music, de Ornette Coleman, um disco de, entre outras coisas, orgulho da raça negra… Provavelmente é a foto mais legal de um grupo de músicos já tirada. Certamente ele foi aceito porque era apenas o mais perfeito dos baixistas. Eu adoro seu som no contrabaixo, que é sombrio sem ser pesado, adoro a grande economia que às vezes dá lugar a solos dedilhados sombrios, e a maneira como ele parece ser capaz de seguir as improvisações de Ornette e Don Cherry tão de perto, apesar da ausência de diretrizes. Mas o principal é o peso emocional que ele transmite em cada nota que toca e em qualquer banda que liderasse ou com quem se apresentasse. Como todo grande jazzista, Haden tocou com centenas de grupos e formações. Fez algo que apenas outra baixista, o xará Charlie Mingus, conseguiu: criou música fortemente política. Há os cinco álbuns da Liberation Music Orchestra, quatro feitos em estúdio e um ao vivo, documentos essenciais que refletem as lutas de libertação e históricas de sua contemporaneidade na Espanha, na América Central e do Sul, na África do Sul, em Portugal e suas colônias Moçambique, Angola e Guiné, e em outros lugares. Aqui estão as canções e hinos da Brigada Internacional, dos Sandinistas, do MPLA: essa era uma música que importava, pois, para além do jazz, sua atenção fixava-se no cenário maior das coisas. Foi uma atitude que fez com que Haden fosse preso pela polícia secreta portuguesa durante uma turnê com Coleman em 1971.









Este Uptown Ruler não está entre os melhores discos de Wynton Marsalis mas vocês sabem que sempre vale a pena ouvir a sonoridade dos grandes grupos que Wynton sempre reúne. Este quinteto é maravilhoso. É, aliás, o mesmo caso do disco que o que eu publiquei ontem — um repertório não muito bom, mas executado maravilhosamente. A série “Soul Gestures in Southern Blue”, da qual este é o Vol.2, tem sido vista como o patinho feio da discografia do trompetista. Não deixe de conferir os solos, apesar dos temas e das soluções nada substanciais. Mas é apenas a minha opinião. Provavelmente ele mereça ser explorado por melhores ouvidos.

“Música de Câmara Alemã antes de Bach”. Pois é. Este é um disco que não chega a provocar muitas emoções. Roberto Carlos diria: “são poucas emoções”. Enfim, o barroco camarístico pré-Bach não é tão interessante nem tão emocionante quanto o que aconteceu depois. Não obstante, o Musica Antiqua de Köln mantém o alto nível de sempre. Então o disco não chega a ser chato ou desagradável de se ouvir dado o alto nível técnico dos executantes, mas o repertório não é o melhor que temos divulgado em nosso excelso blog. É um disco para tarados pelo barroco. Ou seja, é um disco para mim e o que mais me interessa aqui é a versão realmente magnífica e historicamente informada do célebre Cânon de Pachelbel. Este é, para mim, o ponto alto do disco de resto. Uma bela tarde para todos.








Este é um disco que eu recolhi lá do fundo da minha coleção. Nem lembrava mais dele, mas, ao colocá-lo para rodar, revelou-se bom. A eslovaca Sylvia Čápová-Vizváry é muito competente e estas famosas Sonatas de Ludovico são indiscutíveis. Sylvia tem poesia, paixão, drama e bravura, tudo o que queremos nesse repertório. Aposto que vocês não sabem o que é uma Sonata. Na origem do termo, Sonata (do latim sonare) era a música feita para soar, ou seja, a música instrumental − em oposição à cantata, a música cantada. Sonata / Cantata, OK? Depois, tornou-se um tipo de composição musical para um único instrumento ou para pequeno conjunto. Normalmente, a sonata é dividida em três partes. No Barroco, as sonatas eram compostas principalmente para solistas acompanhados de baixo contínuo, que era o cravo com a mão esquerda, às vezes reforçada por uma viola da gamba. Agora, vocês bem o que é gamba? Não é uma variedade de gambá. E não tem nada a ver com o gambito da rainha, acho. Pesquisem, eu não sei jogar xadrez.
Mais um Vivaldi, e mais uma gravação absolutamente imperdível, com a soprano Sandrine Piau deixando-nos totalmente arrepiados com sua interpretação de “In Furore” e “Laude Pueri”, dois motetos extremamente originais do padre ruivo. Nunca deixo de me emocionar com sua força de interpretação, e com a beleza das obras, e acompanhados pela ótima “Academia Bizantina”, dirigida pelo jovem Ottavio Dantone. Já declarei minha obsessão em possuir toda esta coleção da Naive, que pretende lançar todas as obras de Vivaldi. As capas são lindíssimas, e a produção impecável. Inclusive, alguns outros CDs da série já foram postados aqui, e outros ainda o serão. Quem viver, verá. Além de trazer a maravilhosa Sandrine Piau (aliás, não é ela quem está na foto da capa, como eu erroneamente imaginava até algum tempo atrás), o CD nos traz também três concertos do padre ruivo, belissimamente interpretados pela Accademia Bizantina.

Obs: quando postei este CD pela primeira vez, em 2008, Carter estava vivo.
O ballet-pantomima O Mandarim Miraculoso narra uma curiosa história. Sons precipitados e tumultuados de rua apresentam três vagabundos que coagindo uma jovem mulher a fazer o papel de prostituta a fim de atrair homens a seu quarto para que eles pudessem roubá-los. (O chamado sedutor é soado três vezes pelo clarinete.) Primeiro, a jovem atrai a atenção de um senhor de idade. Mas seu interesse por ela é subitamente interrompido quando os três cúmplices o escorraçam porque ele não tem dinheiro. O chamado sedutor soa de novo, desta vez alcançando um jovem tímido. A jovem se sente atraída por ele e os dois dançam. Mas quando descobrem que ele também tem pouco dinheiro, é igualmente posto para fora.



















IM-PER-DÍ-VEL !!!
