Gustav Mahler (1860-1911): Canções orquestrais – Gerhaher, Sinfônica de Montreal, Nagano

Se podemos afirmar sem exagero que Gustav Mahler (1860-1911) subiu às “máximas alturas” do solilóquio de Augusto dos Anjos, e no lar deste repórter o velho cavalheiro boêmio é de fato santo de máxima devoção, é principalmente por conta de suas criações no universo sinfônico. As nove sinfonias completas e os fragmentos da décima estão entre os mais notáveis exemplares do gênero, abraçando os caminhos trilhados até ali e apontando para o futuro. Nós nunca mais fomos os mesmos após passarmos pelas sinfonias de Mahler.

A imponência deste conjunto de obras, se por um lado tende a ofuscar outro rico repertório, também oferece inúmeras possibilidades de diálogo com essas criações. Outra faceta importantíssima da obra mahleriana são as canções, sejam elas do repertório camerístico (em geral uma voz acompanhada ao piano) ou feitas para que uma orquestra acompanhe o canto. Mahler deixou ao todo quarenta e seis canções, agrupadas em ciclos ou dispersas de forma autônoma.

Este belíssimo disquinho que trazemos hoje traz três dos ciclos mais importantes deixados pelo mestre austríaco: Lieder eines fahrenden Gesellen (“Canções de um viajante”, 1885), Kindertotenlieder (“Canções sobre a morte das crianças”, 1901-4) e Rückert-Lieder (“Canções de Rückert”, 1901-2), perfazendo ao todo catorze canções. Enquanto os textos de Lieder eines fahrenden Gesellen – uma obra de juventude impregnada de ardente paixão – também saíram da pena de Mahler, os outros dois foram compostos a partir de versos do poeta alemão Friedrich Rückert (1788-1866).

Quem dá voz ao álbum é um dos cantores de agenda mais concorrida das temporadas européias, o barítono alemão Christian Gerhaher. É batata: se o nome de Gerhaher está no pôster, é sinal de casa cheia. E, francamente? É mais do que justo. Dono de um timbre belo e encorpado, Gerhaher domina como poucos a arte do Lied. Ao seu lado, parceiros acertadíssimos: uma orquestra com uma sonoridade brilhante e cheia de cores como a Sinfônica de Montreal (por mais de duas décadas lapidada pelo mestre Charles Dutoit) e um regente de ouvido apurado, atenção ao detalhe e sólido senso de arquitetura do todo como o japonês Kent Nagano, chefe do grupo desde 2006.

Um pequeno destaque de caráter estritamente pessoal é a canção que fecha o disco, Ich bin der Welt abhanden gekommen (algo como “Estou perdido para o mundo”). Na humilde opinião deste escriba, é uma das mais belas canções orquestrais já escritas, uma daquelas coisas que fazem a gente agradecer por ter nascido.

Gustav Mahler, rascunho de “Ich bin der Welt abhanden gekommen”

Gustav Mahler (1860-1811)

Lieder eines fahrenden Gesellen
1. Wenn mein Schatz Hochzeit macht
2. Ging heut’ morgen über’s Feld
3. Ich hab’ ein glühend Messer
4. Die zwei blauen Augen

Kindertotenlieder
5. Nun will die Sonn’ so hell aufgehn!
6. Nun seh’ ich wohl, warum so dunkle Flammen
7. Wenn dein Mütterlein
8. Oft denk’ ich, sie sind nur ausgegangen!
9. In diesem Wetter!

Rückert-Lieder
10. Blick’ mir nicht in die Lieder!
11. Ich atmet’ einen linden Duft
12. Um Mitternacht
13. Liebst du um Schönheit
14. Ich bin der Welt abhanden gekommen

Christian Gerhaher, barítono
Orchestre Symphonique de Montréal
Kent Nagano, regência

Gerhaher, Nagano e a Sinfônica de Montreal em concerto

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Karlheinz

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