.: interlúdio :. John Coltrane ao vivo, 1961: Village Vanguard (NYC, USA) (“Live” e “Impressions”)

Ao contrário das gravações ao vivo na Europa postadas aqui dias atrás, feitas por rádio ou TV e lançadas postumamente, esses dois discos de hoje foram produzidos com a participação de John Coltrane e sua gravadora, a partir de momentos selecionados em uma temporada de quatro concertos no Village Vanguard, famosa casa em Nova York.

Por um lado, temos o selo de aprovação dos músicos para o lançamento. Por outro lado, há um certo ar de colagem de datas diferentes, sem aquela sensação de um show com início, meio e fim. Só foram selecionados temas inéditos, deixando de fora músicas que eram comuns nos set lists do quinteto de Coltrane à época, como My Favorite Things, do álbum homônimo; Naima, de Giant Steps; e Greensleeves, lançada meses antes em Africa/Brass.

O clarinete baixo de Eric Dolphy soa em complemento ao sax de Coltrane em Spiritual, composição inspirada na música vocal devocional afro-americana, e que traz indícios do que faria Coltrane bem depois a partir de A Love Supreme. Mas se quiserem ouvir Eric Dolphy tocando flauta com o acompanhamento elegante do piano de McCoy Tyner, aí só ouvindo outros shows…

Inamu Baraka, autor de livros sobre jazz, assistiu John Coltrane ao vivo várias vezes e escreveu:
“There is a daringly human quality to John Coltrane’s music that makes itself felt, wherever he records. If you can hear, this music will make you think of a lot of weird and wonderful things. You might even become one of them.”

John Coltrane – Live at the Village Vanguard, 1961
1. Spiritual
2. Softly As In A Morning Sunrise
3. Chasin’ The Trane

John Coltrane — soprano and tenor saxophone
Eric Dolphy — bass clarinet on “Spiritual”
McCoy Tyner — piano on 1, 2
Reggie Workman — bass on 1, 2
Jimmy Garrison — bass on 3
Elvin Jones — drums
Recorded: November 1961, Village Vanguard, NYC, USA

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Live at the Village Vanguard (mp3 320kbps)

Eric Dolphy & John Coltrane

Impressions não se apresenta na capa como um disco ao vivo, mas as suas duas faixas mais longas – India e Impressions, cada uma por volta dos 15 minutos – foram gravadas ao vivo no Village Vanguard em 1961. As três faixas curtas, porém, foram gravadas em estúdio e na formação de quarteto, sem Dolphy. Apesar desse jeitão de colcha de retalhos, é considerado um dos pontos altos de Coltrane, especialmente devido à parte ao vivo. No início de 1963 o quarteto gravou em estúdio a composição Impressions, mas devem ter preferido a gravação ao vivo de 61, que lançaram em julho de 63. Só em 2018, no álbum “Both Directions at Once” (outra colcha de retalhos supervisionada pelo filho de John Coltrane), foi lançada a Impressions de estúdio. Para uma outra versão dela ao vivo e em vídeo, confiram o quinteto em Baden-Baden, Alemanha, aqui.
Em India, assim como em Olé Coltrane (gravada em estúdio meses antes), temos dois baixistas servindo como chão para os outros músicos se aventurarem por toques exóticos e escalas inspiradas em outros países. As faixas gravadas em estúdio e lançadas nesse disco Impressions (nº 2, 4 e 5) são, ao menos para mim, mais fracas: não sei apontar o motivo ou circunstância, mas naquele período (1962-63) algumas gravações de estúdio do quarteto de Coltrane, embora com extrema competência e bom gosto, parecem mostrar um certo bloqueio de criatividade, que seria definitivamente superado em 1964 com os discos de estúdio Crescent e A Love Supreme.

John Coltrane – Impressions
1. India (Live, November 3 1961, Village Vanguard)
2. Up ‘Gainst the Wall (September 18 1962, Van Gelder Studio)
3. Impressions (Live, November 3 1961, Village Vanguard)
4. After the Rain (April 29 1963, Van Gelder Studio)
5. Dear Old Stockholm (April 29 1963, Van Gelder Studio, CD reissue bonus track)

John Coltrane – soprano and tenor saxophone
Eric Dolphy – bass clarinet (track 1), alto sax (track 3, final chord only)
McCoy Tyner – piano (tracks 1, 3, 4, and 5)
Jimmy Garrison – double bass
Reggie Workman – double bass (track 1)
Elvin Jones – drums (tracks 1, 2, and 3)
Roy Haynes – drums (tracks 4 and 5)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Impressions (mp3 320kbps)

Elvin Jones (bateria) e John Coltrane (sax soprano) em Baden-Baden, 1961, um mês após os shows no Village Vanguard

Pleyel

Mahler (1860-1911): Sinfonia No. 6 – Trágica – musicAeterna & Teodor Currentzis ֎

Mahler (1860-1911): Sinfonia No. 6 – Trágica – musicAeterna & Teodor Currentzis ֎

Gustav Mahler

Sinfonia No. 6 – Trágica

musicAeterna

Teodor Currentzis

 

No dia 20 de maio de 1906 Gustav Mahler estava preocupado quando se pôs a caminho de Essen para a preparação da primeira apresentação de sua Sexta Sinfonia. Ele sabia que, apesar de ter composto uma sinfonia sem coro, sem solos vocais e com quatro (clássicos) movimentos, a convencionalidade parava aí e o trabalho seria difícil. Como a orquestração da Sinfonia era enorme, grande parte do efetivo da Orquestra de Utrecht havia sido requisitada para completar o conjunto necessário para a apresentação, que ocorreria como parte do Festival Anual da Allgemeiner Deutscher Musikverein, que prometia um total de 110 membros na orquestra.

Gustav e Alma, que teria sido representada em um dos temas da sinfonia…

Eterno perfeccionista, Mahler não ficou feliz com os ensaios nem com a apresentação. Segundo relatos de seu ciclo mais íntimo, ficou particularmente desolado com um comentário feito pelo desligado e ‘sincero’ amigo músico Richard Strauss, de que a sinfonia toda, especialmente o último movimento, ficara excessivamente instrumentada. Talvez ele estivesse se referindo ao arsenal percussivo empregado por Mahler, incluindo o martelo de Mahler! Ah, pois depois que você conhecer o martelo de Mahler, poderá esquecer até o martelo de Thor!

Martelo de Mahler

Gustav Mahler, sempre em dúvidas e insatisfeito tanto com suas obras como com suas interpretações teria comentado como era diferente de Strauss que sempre conseguia fazer com que suas próprias obras tivessem com alguma facilidade boas apresentações.

Teodor ensaiando a PQP Bach Orquestra de Pomerode

E não foi diferente com a Sexta, Mahler tinha dúvidas em manter o nome – Trágica – e mesmo com a ordem dos movimentos internos. O Scherzo, que vem em segundo lugar, tem um padrão rítmico parecido com o primeiro (lembrando o Lied Revelge). Mahler já imaginava os críticos e a audiência falando que ele estaria já se repetindo. Assim, talvez fosse melhor que o Adagio viesse em segundo, depois o Scherzo. E o número de marteladas? As tais representariam as pancadas do destino na vida do herói (trágico!) e eram inicialmente 5. Depois 3, e depois… Pois bem, bom quizz para o atento ouvinte é contar o número de marteladas no último movimento da gravação da postagem. Pois é, um desafio para a orquestra musicAeterna, com instrumentos de época (de Mahler), sob a direção de Teodor Currentzis. E para você, uma proposta de ouvir uma grande obra numa interpretação muito especial, mesmo que você já tenha uma gravação que considera ideal.

Alguns segundos antes da martelada

Eu ouvi algumas outras gravações para a preparação da postagem, entre elas as duas do Bernstein, a primeira com a New York Philharmonic (CBS-Sony) e a outra com a Wiener Philharmoniker (DG). Ouvi também as duas deixadas pelo Claudio Abbado, a primeira com a Chicago Symphony Orchestra (DG, capa deslumbrante) e a segunda com a Berliner Philharmoniker (DG, Adagio antes do Scherzo). Ouvi outras, mas vamos para por aqui pois vão achar que estou me exibindo. Posso dizer que a gravação do Currentzis me agradou muito e voltarei a ouvi-la outras vezes.

Gustav Mahler (1860 -1911)

Sinfonia No. 6 em lá menor “Trágica”
  1. Allegro energico, ma non troppo. Heftig, aber markig
  2. Scherzo. Wuchtig
  3. Andante moderato
  4. Finale. Sostenuto – Allegro moderato – Allegro energico

musicAeterna

Teodor Currentzis

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FLAC | 409 MB

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MP3 | 320 KBPS | 194 MB

Aqui está a turma da gravação acompanhando o cantor Florian Boesch em uma apresentação do Lied Revelge, para que você compare com o correspondentes movimentos da sinfonia.

Momento ‘the book is on the table…’:  I really enjoyed this performance, a difficult symphony offering clarity and somber beauty.

This is a powerful and compelling performance. Currentziz brings fire and tenderness to this symphony in equal measure.

Aproveite!

René Denon

Thor resolveu soltar o martelo, depois de ouvir a sinfonia de Mahler

Beethoven: Symphonies Nos. 4 & 8 / Méhul: Symphony No. 1 / Cherubini: Lodoïska Overture (AKAMUS)

Beethoven: Symphonies Nos. 4 & 8 / Méhul: Symphony No. 1 / Cherubini: Lodoïska Overture (AKAMUS)

Todas as quatro obras neste CD recebem tratamentos ágeis e enérgicos, muito precisos dentro da escolha geralmente rápida de andamentos, e constituem uma vitrine de alta qualidade para o estado atual da arte de tocar em instrumentos de época. Há momentos em que uma sobrancelha pode ser erguida, como no tema principal do Adágio da Quarta de Beethoven: independentemente de ser o habitual da época do compositor. A Oitava recebe um tratamento particularmente agradável. A 4ª e a 8ª são as Sinfonias menos conhecidas do mestre? Pois é, são sinfonias diferentes. Nestas duas obras somos conduzidos numa viagem cujo destino parece ser desconhecido. São cheias de inovações estruturais sutilmente trazidas nesta interpretação pelos músicos da AKAMUS (Akademie für Alte Musik Berlin). Esta gravação é também uma oportunidade para descobrir quão claramente a música de Cherubini prefigurou a de Beethoven, enquanto a sinfonia de Méhul é uma resposta à la française ao compositor alemão. Desnecessário dizer que Cherubini e Méhul não são Beethoven, mas ouça o Andante da Sinfonia do francês e você notará um brilho especial que… Será apagado pelo Minueto.

Beethoven: Symphonies Nos. 4 & 8 / Méhul: Symphony No. 1 / Cherubini: Lodoïska Overture (AKAMUS)

01. Cherubini: Lodoïska: Overture. Adagio – Allegro vivace – Moderato – Allegro vivace

02. Beethoven: Symphony No. 4 in B-Flat Major, Op. 60: I. Adagio – Allegro vivace
03. Beethoven: Symphony No. 4 in B-Flat Major, Op. 60: II. Adagio
04. Beethoven: Symphony No. 4 in B-Flat Major, Op. 60: III. Allegro molto e vivace – Trio. Un poco meno allegro
05. Beethoven: Symphony No. 4 in B-Flat Major, Op. 60: IV. Allegro ma non troppo

06. Méhul: Symphony No. 1 in G Minor: I. Allegro
07. Méhul: Symphony No. 1 in G Minor: II. Andante
08. Méhul: Symphony No. 1 in G Minor: III. Menuet. Allegro – Trio
09. Méhul: Symphony No. 1 in G Minor: IV. Finale. Allegro agitato

10. Beethoven: Symphony No. 8 in F Major, Op. 93: I. Allegro vivace e con brio
11. Beethoven: Symphony No. 8 in F Major, Op. 93: II. Allegretto scherzando
12. Beethoven: Symphony No. 8 in F Major, Op. 93: III. Tempo di Menuetto
13. Beethoven: Symphony No. 8 in F Major, Op. 93: IV. Allegro vivace

Akademie für Alte Musik Berlin
Bernhard Forck

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Sempre ao lado dos desfavorecidos — mesmo que pelo talento –, PQP Bach publica uma foto de Étienne Méhul.

PQP