J. S. Bach (1685-1750): Paixão segundo São Mateus – McCreesh ֍

Bach

Paixão Segundo São Mateus

Gabrieli Consort & Players

Paul McCreesh

 

A Dor dos Outros

Um dos muitos livros que não terminei de ler, mas que muito me impressionou e me fez pensar (afinal, para que servem os livros, se não para isso?) é ‘Sobre fotografia’ da inquieta e inteligentíssima Susan Sontag. Ela fala entre outras coisas da banalização da imagem da dor devido à superexposição: As fotos de Don McCullin dos biafrenses magérrimos no início da década de 1970 produziram menos impacto, para alguns, do que as fotos de Werner Bischof das vítimas indianas da fome no início da década de 1950, porque estas imagens tornaram-se banais, e as fotos das famílias tuaregues que morriam de fome na África subsaariana, publicadas em revistas de todo o mundo em 1973, devem ter parecido, a muitos, uma reprise insuportável de uma exibição de atrocidades já familiar.

O tema da insensibilização diante a superexposição dos horrores é muito próprio para o momento atual. Há um ano, horrorizei-me com as cenas de veículos militares levando caixões de vítimas do Covid em Bergamo. Mal sabia do que ainda estava por vir. Mais inquietante ainda: o que está ainda por vir? A insensibilidade diante da dor do outro é o tema que tenho considerado neste período que antecede a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa. Como temos sido expostos ao crescente número de vítimas desta pandemia, resultado de tantos desencontros, desacertos e erros crassos, estamos sujeitos a este processo de insensibilização, que nos torna mais duros, menos simpáticos à dor do próximo. Preciso dizer também que este processo nos torna mais vulneráveis, menos cuidadosos?

Quanto mais será necessário para nos horrorizar? Enquanto escrevo o ‘número’ aproxima-se célere da barreira de 300 000. Possivelmente, esta barreira já foi pulverizada.

Foto do Portal de Notícias G1

Hoje vi a foto do corpo um homem velho, magérrimo, deitado no chão da enfermaria onde recebera a última tentativa de ajuda. Ao seu lado, sentada estava a enfermeira, vencida, cansada. A posição do homem lembra imagens de um crucificado. Impossível, mesmo com o risco de pecar, não relacionar as imagens. Vamos permitir que esta imagem passe, sem nos escandalizar? E o que faremos, como seremos daqui para frente?

O que nos pode dizer hoje, especialmente nestes dias conturbados, o sacrifício que é narrado e comentado nesta música tão perfeita? Confesso, aproximei-me com temeridade da audição desta obra. Tenho evitado estas obras mais sérias, mas a ocasião me obriga. Veja, pense, sinta… e ouça.

Matthias Grünewald

Escolhi uma gravação muito diferente, mesmo se considerarmos as gravações historicamente informadas, ela é diferente. Acho que o momento nos pede para sairmos de nossa ‘zona de conforto’. Neste sentido, McCreesh vai mexer com sua percepção da obra.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Paixão segundo São Mateus BWV 244

Gabrieli Consort & Players

Coro I:

Deborah York, soprano

Magdalena Kožená, mezzo-soprano

Mark Padmore, tenor

Peter Harvey, baixo

Coro II:

Julia Gooding, soprano

Susan Bickly, mezzo-soprano

James Gilchrist, tenor

Stephan Loges, baixo

Ulla Munch, soprano in ripieno

Paul McCreesh

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FLAC | 663 MB

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MP3 | 320 KBPS | 371 MB

Paul McCreesh

Aproveite, se puder…

Cuide-se!

René Denon

2 comments / Add your comment below

  1. De fato diferente – a ponto de vir de imediato uma tentação de rejeitar, seguida de um “é diferente, não sei se um dia será meu preferido, mas é MUITO BOM, é como uma fala íntima… NÃO TEM COMO REJEITAR!

    Obrigado pelo cutucão!

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