Em mais uma babada minha, publiquei dois discos sem saber que, quase doze anos antes, nosso patrono FDP Bach já o tinha feito. O repertório do primeiro, que restaurei lá na postagem original de FDP, é um pot-pourri tão peculiar que não encontrei outra semelhante, de modo que a serenata vem hoje, e a obra para bandolim chegará posteriormente. Quanto ao segundo disco, além de também restaurar o link na postagem original, agi diferentemente e resolvi manter a postagem que escrevi, muito em função à homenagem ao trompista Myron Bloom. Assim, o trio para flauta, piano e fagote vem para cá, e a homenagem a Bloom segue lá.
“Trios para flauta” foi um coelho tirado da cartola para colocar sob o mesmo teto duas obras absolutamente diferentes em estilo, contexto e finalidade, ainda que tenham em comum, além da prima donna de metal, a incrível heterodoxia na escolha de seus acompanhantes.
A obra que abre o disco, escrita para a rara combinação de flauta, piano e fagote, tem um estilo tão escarradamente mozartiano que talvez tenha feito Beethoven escondê-la, depois de achar sua própria voz. Parece que foi escrita para o conde Westerholt-Gysenberg, um fagotista amador cuja filha estudava piano com Ludwig e, como amiúde acontecia, despertara borboletas no estômago do compositor adolescente. É uma obra muito agradável, feita para entreter sem atrair muito a atenção, e não por acaso destinada à flauta, instrumento muito popular entre os nobres, incluindo o filho do conde, de quem Ludwig almejava tornar-se cunhado. Assinada pomposamente por “Louis van Beethoven – organista da corte de Sua Alteza Real o Príncipe Eleitor de Colônia”, ela evoca facilmente um Beethoven garoto, que ainda não completara dezesseis anos, circulando pela despreocupada corte em peruca, chapéu tricorno e casaca, enquanto afundava-se em preocupações com o sustento da família, o alcoolismo do pai, a saúde da mãe, e os horizontes que lhe acenavam de bem longe da provinciana Bonn.
O disco prossegue com a Serenata Op. 25, composta para a ainda mais incomum formação de flauta, violino e viola. Embora ninguém saiba ao certo para quem e em que circunstâncias ela foi escrita, suas melodias cativantes e notável leveza dão a entender que o dedicatário era o próprio bolso do compositor, que talvez precisasse de dinheiro e, por isso, escreveu algo certeiramente popular para surfar na onda de sua crescente notoriedade como compositor. Escrita aos seus vinte e poucos anos em Viena, ela segue o script dos divertimentos de Mozart, com vários movimentos de dança na mesma tonalidade. Ainda que ela não esteja no rol de suas obras mais célebres, é uma composição muito bem acabada que provavelmente fosse do apreço do compositor, que, ao permitir a publicação de um arranjo para flauta e piano, insistiu com o editor, e reinsistiu num tom mesmo ríspido, que frisasse no frontispício que o arranjo era de terceiros, mas o original era seu.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Trio em Sol maior para piano, flauta e fagote, WoO 37 (1786)
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Andante con variazioni
Peter-Lukas Graf, flauta
Klaus Thunemann, fagote
Bruno Canino, piano
Serenata em Ré maior para flauta, violino e viola, Op. 25
Composta em 1801
Publicada em 1802
4 – Entrata – Allegro
5 – Tempo ordinario d’un Menuetto
6 – Allegro molto
7 – Andante con variazioni
8 – Allegro scherzando e vivace
9 – Adagio – Allegro vivace e disinvolto
Peter-Lukas Graf, flauta
Franco Gulli, violino
Bruno Giuranna, viola
#BTHVN250, por René Denon
Vassily