Mozart (1756-1791): Le Nozze di Figaro – Carlo Maria Giulini

Mozart – Le Nozze di Figaro

G. Taddei – A. Moffo – E. Wächter

E. Schwarzkopf – F. Cossoto

Philharmonia Orquestra

Carlo Maria Giulini

 

‘Até hoje não faço ideia de que falavam as duas senhorinhas italianas naquela canção. Prefiro imaginar que elas cantavam uma coisa tão bonita que não se pode colocar em palavras e até faz seu coração doer’. É assim que Red, personagem do clássico ‘Um Sonho de Liberdade’ (‘The Shawshank Redemption’), descreve o dueto cantado pela Contessa d’Almaviva e Susanna, personagens de uma das mais belas óperas de Mozart – Le Nozze di Figaro.

Eu adoro quando há este tipo de conexão de música com as outras mais mundanas artes. Foi assim que decidi por esta postagem, assistindo a um pedaço deste espetacular filme. Nosso estúdio de audição aqui no PQP Bach corp.  estava interditado para dedetização e precisei passar umas boas horas no lounge de nossa corporação, que tem uma TV com exibição contínua de filmes clássicos.

Andy e seu sidekick Red

É claro, ‘Um Sonho de Liberdade’ contem vários elementos que o tornam de certa forma atemporal, característica necessária para um clássico e você terá que descobrir tudo por si mesmo. Mas o personagem principal, Andy Dufresne, é um prisioneiro que não se submete ao sistema, não se ‘institucionaliza’. Em um de seus atos de rebeldia usa o sistema de comunicação da penitenciária para fazer soar em cada centímetro cúbico das instalações o dueto ‘Canzonetta sull’aria’, que dura perto de três minutos. Você poderá ver a cena aqui, se quiser. O custo da traquinagem não é pequeno, duas semanas na solitária. Andy explica aos camaradas depois do castigo – ‘O senhor Mozart me fez companhia’. É claro, não havia toca-discos na solitária. Segundo ele, a música estava em sua cabeça e em seu coração. E ele ainda acrescenta: ‘Esta é a beleza da música. Eles não podem tirá-la de você’.

Pois assim que pude voltar ao nosso estúdio de audição, comecei a ouvir minhas gravações de ‘As Bodas de Figaro’. Como a inspiração da postagem veio de filme clássico, vamos também de gravação clássica – elenco estelar, Orchestra Philharmonia regida por Carlo Maria Giulini, e tudo sob o olhar atento do lendário produtor Walter Legge, marido da prima-dona Elisabeth Schwarzkopf.

La Schwarzkopf

A ópera é a primeira da milagrosa colaboração de Mozart com o libretista Lorenzo Da Ponte. As outras são Don Giovanni (1787) e Così fan tutte (1790). O libreto de Da Ponte é um primor baseado na comédia de Pierre Beaumarchais, estreada em 1784. Esta peça é uma sequência de um sucesso anterior, ‘O Barbeiro de Sevilha’, que seria colocada em ópera posteriormente pelo grande Rossini.

Eberhard Wächter
Giuseppe Taddei

O enredo coloca dois casais no centro da peça, os nobres D’Almaviva e os simples mortais noivos Susanna e Figaro. É claro, o conde está de olho na noivinha e todos se reúnem em uma trama para desmascará-lo. Seria inimaginável pensar que a nobreza fosse colocada em tal mundana exposição poucos anos antes e isto faz da peça de Beaumarchais e da ópera de Mozart obras verdadeiramente inovadoras. Imagino o prazer que sentiu Wolfgang, que tanto insurgiu contra os mandos do Arcebispo Colloredo, ao escrever tão linda música.

Anna Moffo

A ópera é linda não só pelas suas árias, mas por seus muitos números em conjunto, como o já mencionado dueto. Além disso, os recitativos e a coesão do enredo, com suas inúmeras peripécias, são perfeitamente integrados num fluxo de prazer que vai da primeira nota da abertura até o número final.

Há uma pletora de personagens que só são menores comparados aos quatro principais, como o apaixonado Cherubino, Bartolo, Don Basilio, Barbarina e o jardineiro Antonio, todos com suas participações de destaque.

Você poderá encontrar mais informações sobre esta obra prima no artigo que também menciona a conexão com o filme neste link, inclusive algumas dicas sobre o enredo. Um artigo que fala como a música pode ser libertadora pode ser lido aqui.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Le Nozze di Figaro

Ópera Cômica em Quatro Atos com libreto de Lorenzo da Ponte
Figaro – Giuseppe Taddei, barítono
Susanna – Anna Moffo, soprano
Il Conte d’Almaviva – Eberhard Wächter, barítono
La Contessa d’Almaviva – Elisabeth Schwarzkopf, soprano
Cherubino – Fiorenza Cosstto, mezzo-soprano
Bartolo – Ivo Vinco, baixo
Marcellina – Dora Gatta, soprano
Don Basilio/Don Curzio – Renato Ercolani, tenor
Barbarina – Elisabetta Fusco, soprano
Antonio – Piero Cappuccilli, baixo

Philharmonia Orchestra e Coro

Carlo Maria Giulini

Gravação de 1959, no Kingsway Hall, Londres

Produção de Walter Legge

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 609 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 352 MB

Apenas duas vezes o Conde D’Almaviva pronuncia o primeiro nome de sua ‘moglie’… Se você descobrir onde isto ocorre, mande uma mensagem e ganhará 25 downloads grátis de nossos discos mais queridos! (O libreto pode ser lido aqui.)

Aproveite esta ‘maraviglia’ de ópera! Mozart no que ele tem de melhor!

RD

17 comments / Add your comment below

  1. Ópera maravilhosa, e Giulini é fantástico.

    O Conde fala o nome de Rosina duas vezes, na Scena nona “I suddetti e la Susanna ch’esce dal gabinetto”.
    A primeira delas:
    “CONTE: Quell’ira, Susanna, m’aita a calmar.
    SUSANNA (in atto di preghiera): Signora!
    CONTE (in atto di preghiera): Rosina!”

    A segunda, na mesma cena:
    CONTESSA E SUSANNA: Perdono non merta chi agli altri no ‘l dà.
    CONTE (con tenerezza): Ebben, se vi piace,comune è la pace:
    Rosina inflessibile con me non sarà.”

    Muito grato pela ótima postagem, sou assíduo do blog. Obrigado a todos!

  2. Esqueci de dizer uma coisa importante: não deixem de ouvir a ária “Voi che sapete”.
    Assisti a essa ópera apenas uma vez ao vivo, executada por alunos de música da UFRJ. Cantaram tão bem, com tanto amor e dedicação, que o público que lotava a sala Leopoldo Miguez aplaudiu de pé.
    Nesses tempos tão sombrios, é preciso sempre exaltar a produção que as universidades fazem, formando bons músicos (e bons cientistas) todos os dias. Fica a lembrança do filme e o belo texto de Rene Denon aqui de cima: “Esta é a beleza da música. Eles não podem tirar isso de você”

    1. Olá, Paulo!
      A ária de Cherubino é um ótimo momento da ópera…
      A frase em destaque está bem propícia para este difícil momento que passamos.
      Obrigado pelas suas mensagens!
      Elas dão um sentido especial ao que fazemos aqui no PQP…
      Forte abraço do
      René

  3. Boa noite, caro René.

    Sempre tive uma curiosidade sobre óperas, qual é a melhor maneira de apreciá-las? Imagino que não seja simplesmente ouvindo como uma música ou ir em apresentações sem as conhecer, já que a história é essencial e em um teatro não há legendas.
    O correto seria ter o cd e o libreto? Ou ir em uma apresentação já conhecendo a obra?

    Um abraço,
    Matheus Sant

    1. Olá, Matheus!
      Eu comecei a gostar de óperas assim como comecei a gostar de música, em geral. Ouvindo um pouco de tudo…
      No século passado, ouvíamos muitos discos com trechos de música, os highlights…
      Tanto no caso de música quanto de ópera. Um movimento de uma sinfonia era seguido pela abertura de uma ópera, um movimento de um quarteto, uma ária…
      Podíamos arranjar um cassete ou um LP com os melhores momentos de uma ópera…
      Assim, íamos nos familiarizando com as melodias, os diferentes estilos e, principalmente, descobrindo as coisas que gostávamos mais…
      Qual intérprete despertava maior simpatia, qual compositor seria explorado em mais profundidade e assim por diante.
      Não creio que seja muito diferente agora, só que os recursos, as fontes, são muito mais abundantes…
      Há o PQP Bach (kkkk)
      Quanto a ópera, o chavão é: “Ópera é a arte do excesso” Tudo é exagerado, levado ao limite…. Ama-se ao extremo, ódios incomensuráveis, gritos e sons, mas também sussurros e pianíssimos… Assim, é preciso uma ótica especial para gostar disto, a ótica do coração. Há que experimentar e descobrir. O que funciona para uns, pode não ser o ideal para outros…
      Acredito que você já está no caminho certo.
      Eu adoro fazer certas conexões da música (em geral) com os filmes. Mais ou menos como foi a minha motivação para esta postagem. Se aquela ária, ou aquela ópera, significou tanto para aquele pessoa (pois o personagem é a pessoa, mesmo que imaginada), então tem algum valor escondido que eu quero descobrir. Pronto, você está fisgado…
      Se tiver uma oportunidade, veja o filme ‘O Feitiço da Lua’ (Moonstruck). É uma deliciosa comédia de família com a Cher e o Nicholas Cage (no seu primeiro papel mais relevante). Acho que este filme explica um pouco o impacto que a ópera pode causar em alguém que não ouve ópera regularmente, digamos.
      Assim, quanto sua pergunta original, digamos assim, qual é a maneira adequada de ouvir ópera? Assim como a pergunta: Whisky deve ser tomado cowboy ou on the rocks? Não há uma resposta absoluta…
      Mas eu diria que é aquela que mais rapidamente lhe tocar o coração…
      Aproveite!
      Abraços do
      René

      1. Hmm, entendo, mas e quanto a questão da letra? Quando vamos ao teatro, devemos ouvi-la sempre acompanhando o libreto? Ou seria melhor já ter alguma familiaridade?

        Sei que isso é muito subjetivo, só queria saber o que seria recomendado, de um modo prático, para um iniciante no gênero.

        Anotado! Verei “Moonstruck”.

        Um abraço!

        1. Matheus,

          ”Até hoje não faço ideia de que falavam as duas senhorinhas italianas naquela canção. Prefiro imaginar que elas cantavam uma coisa tão bonita que não se pode colocar em palavras e até faz seu coração doer’.
          Red
          O iniciante terá que descobrir por si só…
          Mas, depois, me conte!
          Abraços do
          René

  4. Oi René ! Bela postagem desta maravilha que é Le Nozze !!!
    G. Taddei e a A. Mofo estão espetaculares nesta que é uma das grandes gravações da ópera do mestre Mozart !
    Um abração !

  5. O melhor do melhor da Ópera e o melhor do melhor Cinema.
    Belas escolhas amigão. Belo texto. Grato. Abração do Dirceu.

  6. Boa Páscoa a todos…
    Não deixem de apreciar o Oratório de Páscoa de papai Bach…

    O Conde fala “Rosina” em duas partes do Ato 2, cena 9…

    Agradeceria se conseguissem o link de “Ir riso ed il pianto nelle quatro stagione dell’ano”, de Benedetto Marcello.

    Recomendo as Bodas, com Herman Prey, Mirella Freni, Te Kanawa e a grande Maria Ewing, de Cherubino”.
    Sds,

  7. Bom dia, Denon.
    É bom dizer àqueles que ainda não assistiram esse filme que ele é uma declaração de amor a Mozart, além de contar com a beleza de Julia Ormond

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