Bach
Música para Teclado
É possível tocar assim? É possível, humanamente, tocar assim? Não será alguma tecnologia, uma dessas modernas bruxarias? O que é isso? Um pianista ou um pássaro?
Senhores, com vocês, um pianista que veio do frio, da Islândia: Víkingur Ólafsson!
E ele nos brinda com um recital de peças de Bach, maravilhosas!
Em 2007, Norman Lebrecht escreveu um livro que já citei aqui – Maestros, Obras-Primas & Loucura; A Vida Secreta e a Morte da Indústria da Música Clássica. Lebrecht é crítico de música e sabe muito bem do que fala. Mas isso foi em 2007. Agora vem Ólafsson e diz: Nós estamos em uma Época de Ouro para a Música Clássica!
Contradições? Bem, Lebrecht fala da Indústria da Música Clássica e a afirmação de Ólafsson é mais geral. Pois é, este pianista de 35 anos é um arauto dos novos tempos e nos ensina uma nova maneira de gostar de música, que reflete os costumes atuais, mas que também remete ao passado.
Como tem sido usado pelas gravadoras e distribuidoras de música, seu álbum de Bach tem capa com dizeres mínimos: Johann Sebastian Bach – Víkingur Ólafsson.
Ele explica (numa entrevista que pode ser lida na íntegra aqui) que passou anos na elaboração do álbum, que tem 35 faixas. A mais longa tem pouco mais do que cinco minutos. Diversas delas são transcrições de peças de Bach feitas por August Stradl, Wilhelm Kempff, Ferruccio Busoni, Serge Rachmaninov e por ele mesmo.
Ólafsson conta que após seis anos estudando na Juilliard, em Nova Iorque, mudou-se para Oxford, por três anos, enquanto sua mulher estudava. Em suas próprias palavras:
Estes três anos foram um tempo para encontrar a minha própria voz e vir a ser o meu próprio professor. Foi então que eu realmente comecei a tocar e a ouvir e a pensar sobre Bach. Bach tornou-se meu professor.
Eu queria fugir da tendência de pensar em Bach em termos colossais, cujas obras épicas são essas imensas catedrais sonoras. Esta abordagem globalista – apresentar os 48 Prelúdios e Fugas ou todas as Invenções e Sinfonias juntas como uma única peça – é um fetiche do século 20. Eu não creio que Bach tenha composto estas obras para serem interpretadas como um conjunto. Hoje, é ridículo, quase como se você tivesse que tocá-las como um conjunto, caso contrário você não seria um músico ‘sério’.
Eu não gosto de ouvir música desta forma. Quando você ouve as Sinfonias, digamos, por elas mesmas, elas se tornam peças diferentes. Contos em vez de partes de um romance épico.
Neste período ele mergulhou nos grandes intérpretes de Bach do passado e do presente – entre muitos nomes cujas diferentes abordagens lhe serviram de inspiração e esclarecimento temos Edwin Fischer, Glenn Gould, Dinu Lipatti, Martha Argerich, Jacques Loussier e Murray Perahia. E ele encontrou a poesia, as provocações e a espontaneidade da música de Bach.
Assim, temos uma proposta um pouco diferente para ouvirmos a música de Bach. Talvez isso nos ajude a chegar mais próximos de Bach ou apenas nos proporcione prazer com a música de um dos maiores gênios musicais de que se tem notícia.
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
1. Prelúdio e Fughetta em sol maior, BWV 902 – Prelúdio
2. Prelúdio Coral Nun freut euch, lieben Christen g’mein, BWV 734 (Transcrição de Wilhelm Kempff)
3 – 4. Prelúdio e Fuga em mi menor (Cravo Bem Temperado, Livro I, No. 10) BWV 855
5. Andante da Sonata para Órgão No. 4 BWV 528 (Transcrição de August Stradal)
6 – 7. Prelúdio e Fuga em ré maior (Cravo Bem Temperado, Livro I, No. 5) BWV 850
8. Prelúdio Coral Nun komm der Heiden Heiland, BWV 659 (Transcrição de Ferruccio Busoni)
9 – 10. Prelúdio e Fuga em dó menor (Cravo Bem Temperado, Livro I, No. 2) BWV 847
11. Widerstehe doch der Sünde, BWV 54 (Transcrição de Víkingur Ólafsson)
12-23. Aria variata (alla maniera italiana) em lá menor, BWV 989
24. Invenção No. 12 em lá maior, BWV 783
25. Sinfonia No. 12 em lá maior, BWV 798
26. Gavotte da Partita No. 3 em mi maior para violino solo, BWV 1006 (Transcrição de Serge Rachmaninov)
27. Prelúdio em mi menor, BWV 855 (Arranjo para Piano em si menor por Alexander Siloti)
28. Sinfonia No. 15 em si menor, BWV 801
29. Invenção No. 15 em si menor, BWV 786
30-32. Concerto em ré menor, BWV 974
33. Prelúdio Coral Ich ruf zu dir Herr Jesu Christ, BWV 639 (Transcrição de Ferruccio Busoni)
34-35. Fantasia e Fuga em lá menor, BWV 904
Víkingur Ólafsson, piano
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FLAC | 266 MB
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MP3 | 320 KBPS | 180 MB
Nas palavras de Ólafsson: Todo mundo sabe ouvir música, assim como sabemos beber água. Você apenas ouve e você gosta ou não gosta.
Eu sei que já ouvi o álbum muitas vezes e de diferentes maneiras. Agora, você poderá experimentar por si próprio!
René Denon
PS: Esta postagem não teria sido possível sem a colaboração do amigo HMarcelo. Valeu, HM!
Muito obrigado por este álbum extraordinário, porque é difícil colocar em palavras o que acontece neste CD. Tens a sensação de que o Ólafsson põe a alma de Bach aos teus pés como ninguém antes. Não há nada entre ti e a música mais pura e perfeita de sempre.
Grande arte e mais uma vez obrigado por esta inspiração especial!
;D!
RD
Interessantíssimo post. Realmente Olaffson tem um toque delicadíssimo! Ouvi o prelúdio n° 10 do Wohltemperierte. Uma delicadeza só. Mas não vi algo de novo – e não é estou criticando.
Rosalyn Tureck já nos mostrava m Bach muito refinado e in my humble opinion ela ainda é a das ding an sich no Wohltemperierte. Em algum momento achei o intérprete um pouco pasteurizado. Não me tocou tanto como Gavrilov nas Goldberg. Mas é um intérprete de respeito
Obrigado por ter opinado!
Eu gosto da Tureck nas Partitas 1, 2 e 6, que foram gravadas quando ela deu um concerto particular como presente de aniversário para um médico famoso (e rico…). Esta gravação foi lançada pelo selo VAI. (http://www.vaimusic.com/product/1040.html)
Gosto muito das Suites Francesas gravadas pelo Gavrilov, na EMI (https://www.amazon.com/Bach-French-Suites-Johann-Sebastian/dp/B000002SEN). Adoro as Variações Goldberg com o Perahia, com o Tharaud e o disco do Pogorelich tocando as Suites Inglesas 2 e 3, postado aqui. (https://pqpbach.ars.blog.br/2019/04/13/j-s-bach-1685-1750-english-suites-2-3-d-scarlatti-1685-1757-4-sonatas-ivo-pogorelich-piano/). O PQP postou uma versão do WTC I com o K. Jarrett que eu não conhecia, e estou adorando. Há também o Till Felner (https://pqpbach.ars.blog.br/2019/06/25/johann-sebastian-bach-1685-1750-invencoes-sinfonias-suite-francesa-no-5-till-fellner-piano/) com uma Suite Francesa No. 5 de derreter o mais coração mais empedernido… Mas, enfim, ainda bem que temos Bach a beça!
Abração!
RD
Não posso deixar de concordar com as opiniões sobre as Suites Francesas com Gavrilov, bem como com o álbum de Pogorelich, e sinto o mesmo, porque uma tal intensidade de interpretação – quem a prefere – ainda não me chegou aos ouvidos.
Ainda bem que temos tantas e tão boas opções.
Ah, e há também as Partitas…
Abração!
RD