Richard Wagner (1813-1883): Tristan und Isolde – Leonard Bernstein

Richard Wagner (1813-1883): Tristan und Isolde – Leonard Bernstein

Capa 000“Uma relação sexual contínua de cinco horas de duração”, foi como o diretor Ingmar Bergman descreveu de forma memorável Tristan und Isolde de Bernstein. A capa da caixa com os 4 CD’s da Philips mostra simbolicamente o casal enredado em um beijo eterno, sugerindo algo mais. O tratamento de Leonard Bernstein sobre a partitura parece sugerir que ele tem uma visão semelhante de entrega à partitura. Sob sua batuta, a interpretação total da obra fica em 266 minutos. A mais longa gravação desta obra, uma leitura profundamente envolvida, muito intensa. Neste trabalho, Leonard aproveita todas as oportunidades para torcer cada gota de emoção da música. A Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera responde voluntáriamente aos desejos do maestro. Afinal, este é o Tristan de Bernstein. A cumplicidade ímpar que Leonard ao conduzir a orquestra com os solistas pode ser exemplificada na grande cena de amor do segundo ato (CD3 faixa 1) quando, nas próprias palavras de Wagner, “Tristan conduz Isolde gentilmente para um banco florido”, começa introspectivo, silenciado, com a voz de Isolde misturando-se lindamente com o vento e com Tristan (2:20 min) cantando mais sensivelmente do que nunca com um tom mais arredondado. Depois, há uma compilação (2:30 min) para o clímax (2:51 min). Assim como é a próxima erupção das duas almas aos 5:15 min, e depois aos 6:00 min , logo antes do distante Einsam wachend de Brangäne , voltamos a um sussurro próximo. Vocês estarão em uma viagem de exploração que durará horas e horas (talvez dias) com muita calma, sem pressa. Às vezes, tudo se torna quase insuportavelmente lento, mas Bernstein sempre consegue manter a tensão em ebulição. O prelúdio do Ato 3 (CD3, faixa 7) é outra leitura profundamente considerada ( Wagner estava inspiradíssimo no dia ao compor… e Bernstein mais ainda na interpretação) , movendo-se sem fôlego dos acordes sombrios no início, dominados pelos baixos duplos, os violoncelos altos e depois ao solo do Pastor (corne inglês), lindamente tocado por Marie-Lise Schüpbach. A gravação é do início dos anos 80 – o encarte não dá datas ou locais, mas uma foto de 1980 mostra Bernstein junto com Behrens e Hofmann – a Philips reuniu algumas das melhores vozes de Wagner no momento para esta gravação e realmente são excelentes. A primeira voz que ouvimos, o jovem marinheiro, é Thomas Moser muito lírico. Bernd Weikl é um wagneriano notável aqui ele é um Kurwenal característico, cantando gloriosamente e, no último ato especialmente, com profundo envolvimento. Apenas ouça Bist du nun tot (CD4 faixa 3). Ele está de acordo com os melhores exponentes desse papel. Ainda mais impressionante é Hans Sotin como King Marke. “Depois de um choque profundo ao surpreender o casal de enamorados e com uma voz trêmula”, perfeito conforme as instruções de Wagner para a entrada de seu personagem, em Da kinderlos einst schwand sein Weib mais adiante em seu longo monólogo, está cheio de profunda tristeza e Sotin realmente canta toda a cena com o cuidado. Yvonne Minton, o único membro não-alemão do elenco, foi durante alguns anos uma das melhores mezzo-sopranos. Nesta gravação ela está em um território mais pesado e sua voz é bonita e segura. Poucos cantores cantaram Brangäne tão lindamente. Chegando aos dois protagonistas: Hildegard Behrens é quase ideal como Isolde: profundamente envolvida, triste, altiva, extática e com uma beleza lírica que pode deixar-nos sem fôlego na grande cena do primeiro ato com Brangäne (CD1 faixa 6) Wie lachend sie mir Lieder singen . Há um calor jovem e apaixonado em Mild und leise (CD4 faixa 8).As muitas facetas desta parte são maravilhosamente realizadas e a sensação de vulnerabilidade que ela transmite faz de Isolde uma mulher de carne e osso, não apenas um ícone.Parece haver também um relacionamento especial entre ela e Bernstein. O Tristan um papel notóriamente difícil, um desafio para qualquer tenor. Peter Hofmann já veterano e portanto com sua voz afetada por uma dureza de tom e um vibrato não tão bonito, mas ainda canta, heróicamente e musicalmente.O terceiro ato, que é o Everest real para cada tenor com as aspirações de Tristan, o encontra heróico e apaixonado, atingindo alturas trágicas (CD4 faixa 2) em 5:20 min.Em última instância, devo admitir que Hofmann me ganhou.Como Behrens, ele também cria um personagem real de Tristan. Bernstein nos oferece uma experiência inesquecível.” Tristan und Isolde é o trabalho central de toda a história da música, o centro da roda… passei a minha vida desde que a li pela primeira vez, tentando resolvê-la. É incrivelmente profética.”
– Leonard Bernstein, 1981

Em 1981, Leonard Bernstein começou a dirigir a Orquestra Sinfônica da Bavária – Bayerischer Rundfunk. Realizou um ato de cada vez, em janeiro, abril e novembro de 1981, respectivamente, “Tristan und Isolde” de Bernstein foi transmitido ao vivo e mais tarde lançado como uma gravação de áudio da Philips. Após a conclusão do projeto, Bernstein declarou: ” …minha vida está completa… Não me importa o que acontece depois disto. É a melhor coisa que já fiz.” Partilhamos com vocês a gravação remasterizada da Philips de 1993, Bernstein conduzindo a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara.

Recomendação entusiástica !  Há …. !!! Também montei o encarte com os scans e o libreto no bom e velho português ! Deu um trabalhão mas valeu à pena !
Uma ótima audição !

CD1 01 Act 1 Prelude
CD1 02 Act 1 Westwärts Schweift Der Blick
CD1 03 Act 1 Frisch Weht Der Wind Der Heimat Zu
CD1 04 Act 1 Hab Acht, Tristan!
CD1 05 Act 1 Weh Ach Wehe! Dies Zu Dulden
CD1 06 Act 1 Wie Lachend Sie Mir Lieder Singen
CD1 07 Act 1 Auf! Auf! Ihr Frauen!
CD2 01 Act 1 Herr Tristan Trete Nah!.. Begehrt, Herrin, Was Ihr Wünscht
CD2 02 Act 1 War Morold Dir So Wert
CD2 03 Act 1 Tristan!.. Isolde! Treuloser Holder!
CD2 04 Act 2 Prelude
CD2 05 Act 2 Horst Du Sie Noch
CD2 06 Act 2 Isolde! Geliebte!.. Tristan! Geliebter!
CD3 01 Act 2 O Sink Hernieder, Nacht Der Liebe
CD3 02 Act 2 Lausch, Geliebter!
CD3 03 Act 2 So Stürben Wir
CD3 04 Act 2 Rette Dich, Tristan!
CD3 05 Act 2 Tatest Dus Wirklich
CD3 06 Act 2 O König, Das Kann Ich Dir Nicht Sagen
CD3 07 Act 3 Prelude
CD3 08 Act 3 Kurwenal! He!
CD4 01 Act 3 Wo Ich Erwacht, Weilt Ich Nicht
CD4 02 Act 3 Der Einst Ich Trotzt
CD4 03 Act 3 Bist Du Nun Tot
CD4 04 Act 3 O Wonne! Freude!
CD4 05 Act 3 O Diese Sonne!
CD4 06 Act 3 Ich Bins, Ich Bins
CD4 07 Act 3 Kurwenal! Hör!
CD4 08 Act 3 Mild Und Leise Wie Er Lächelt

Peter Hofmann (tenor) – Tristan;
Hans Sotin (bass) – König Marke;
Hildegard Behrens (soprano) – Isolde;
Bernd Weikl (baritone) – Kurwenal;
Heribert Steinbach (tenor) – Melot;
Yvonne Minton (mezzo) – Brangäne;
Heinz Zednik (tenor) – En Hirt;
Raimund Grumbach (baritone) – Ein Steuermann;
Thomas Moser (tenor) – Ein junger Seemann

Chor und Symphonie-Orchester des Bayerischen Rundfunks

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Leonard Bernstein
Leonard Bernstein

AMMIRATORE

J. S. Bach (1685-1750): Sonatas para Viola da Gamba e Cravo

J. S. Bach (1685-1750): Sonatas para Viola da Gamba e Cravo

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Apesar da capa horrível, um baita de um disco. Trevor Pinnock, depois de velho não ia dar mancada, né? O engenheiro de som colocou seus microfones de forma destacar o som da viola da gamba, mas isto não chega a estragar a beleza do conjunto. Hoje há certo consenso de que essas sonatas foram escritas em Leipzig em algum momento no final da década de 1730 e no início dos anos 1740 e não em Cöthen, como se pensava antes. É um repertório maravilhoso a cargo de dois grandes artistas, um bem jovem — a gravação é de 2006 — e outro madurão. São obras intensamente expressivas, íntimas e tecnicamente exigentes, elas têm a textura usual das sonatas instrumentais de Bach.

J. S. Bach (1685-1750): Sonatas para Viola da Gamba e Cravo

Sonata In G Minor, BWV 1029 (14:29)
1-1 I Vivace 5:15
1-2 II Adagio 5:37
1-3 III Allegro 3:37
Sonata In G Major, BWV 1027 (13:02)
1-4 I Adagio 3:47
1-5 II Allegro Ma Non Tanto 3:31
1-6 III Andante 2:42
1-7 IV Allegro Moderato 3:02
Sonata In D Major, BWV 1028 (13:35)
1-8 I Adagio 1:52
1-9 II Allegro 3:40
1-10 III Andante 4:08
1-11 IV Allegro 3:55
Sonata In G Minor, BWV 1030b (17:56)
1-12 I [Andante] 4:11
1-13 II Siciliano 2:53
1-14 III Presto 4:51

Jonathan Manson, viola da gamba
Trevor Pinnock, cravo

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O gambista Jonathan Manson em primeiro plano e Pinnock lá atrás, apenas rindo.
O gambista Jonathan Manson em primeiro plano e Pinnock lá atrás, apenas rindo.

PQP

Guia de Gravações Comparadas P.Q.P – Beethoven: Violin Concerto in D major Op.61

Sobre o Concerto para Violino de Beethoven, a melhor definição que encontrei foi a de Otto Maria Carpeaux: “É a única obra do gênero que Beethoven escreveu, mas ninguém duvida: é o maior Concerto para violino que existe, um dos pontos mais altos da eloquência beethoviana”. Apesar de não se poder tomar esta medida como absoluta, conheço muito pouca gente que discorda, ou que pelo menos não o coloque entre os 3 melhores do planeta.

Ao contrário de muita obras beethovianas, este concerto foi escrito com certa rapidez, e, prodigiosamente, no mesmo ano (1806) em que obras-primas como a Quarta Sinfonia e os Quartetos Rasumovsky. Nos cadernos de esboços onde se encontra a maior parte da gênese deste concerto ainda se encontram anotações para o que seria a Quinta Sinfonia e a Sonata para Violoncello op.69. Sem dúvida, um período de sensibilidade ímpar, em que erupções de inspiração jorraram à terra, através do artista, na forma do néctar dos arquétipos sonoros mais sublimes.

Existem várias lendas sobre sua estréia, feita a 23 de dezembro de 1806 pelo violinista cômico Franz Clement, que, ao que parece, fez pouco caso do Concerto (Há uma versão que diz que ele interrompeu o concerto para tocar uma peça frívola de sua própria autoria, e outra que conta que ele o estreou sem nenhum ensaio), tanto que o Concerto demorou para ser aceito pelo grande público. Apenas em 1844 esta obra-prima começou a ser reconhecida, quando foi tocada por Joseph Joachim, sob a regência de Schumann, num contexto romântico, que se encaixa muito mais no espírito da obra.

Assim, seguem algumas opções para a apreciação desta magnífica obra:

1.Jascha Heifetz, Charles Munch: Boston Symphony Orchestra RCA 1955

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Esta é uma das gravações mais cultuadas deste concerto, um “clássico” da discografia mundial, e também uma das experiências pioneiras na gravação estereofônica. Sem dúvida, para um registro de 1955, a sonoridade espanta, mas, claro, a vedete é Heifetz, uma lenda do violino talvez só comparável a Kreisler. Sua sonoridade é maciça, mas ao mesmo tempo suave e decidida, com articulações acima de qualquer comentário, e um fraseado de precisão rítmica incomparável. Mas seriam estas habilidades inegáveis suficientes para garantir a melhor das performances deste concerto? Bem, há controvérsias. Eu não gosto, por exemplo, dos tempos dos andamentos, muito rápidos e pouco reflexivos, para os requisitos espirituais desta obra. Munch, um maestro que tenho no mais elevado patamar de competência estética, é um mestre do romantismo, mas tenho dúvidas se ele conseguiu aqui traduzir todas as nuances de um compositor apaixonado, que parece ter sido o caso de Beethoven na época desta composição. É uma leitura que evoca muito pouco dos ecos românticos que Beethoven prenuncia, privilegiando o classicismo tardio. E Heifetz, sendo Heifetz, nunca iria dar o braço a torcer e tocar a Cadenza de seu arquirival Kreisler, e escolheu as cadências de Joachim e de Auer com pitadas de sua própria autoria, claro. De qualquer forma, é uma interpretação de referência que merece ser visitada. Vem de brinde o Concerto de Mendelssohn, que eu considero uma interpretação extraordinária e até melhor que a de Beethoven.

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Arquivo FLAC 303Mb

2.Nigel Kennedy, Klaus Tennstedt: Symphonie-Orchester des NDR, EMI 1992

frontO único violinista não-judeu desta lista, é um inglês rebelde que flertava com a música pop e que se recusou a ser taxado de violinista clássico. Mas isso só aconteceu depois de uma gravação afortunada das Quatro Estações alcançar 2 milhões de cópias vendidas, a maior da história para esta obra. Famoso desde então, gravou os concertos de Brahms e de Beethoven (este), que considerou o auge de sua carreira clássica, e resolveu cortar o cabelo moicano e tocar jazz. E é exatamente essa vida atribulada e heterodoxa que acaba marcando esteticamente esta gravação: é a versão rebelde deste concerto (apesar de existir uma com Gidon Kremer tocando a cadência de Schnittke que, dizem, é pior), cheia de altos e baixos, de ritmos irregulares e variações de dinâmicas exageradas. Não deixa de ser uma versão interessante, pois é um Beethoven oposto do de Heifetz, sem a polidez e a elegância, mas com brilho e entusiasmo. Tennstedt, um maestro extraordinário, comprou muito bem o desafio, e ele mesmo tem uma visão bastante ousada dos tempos beethovianos. Apesar de ser uma gravação (ao vivo) que a princípio assusta (a cadência de Kennedy no último movimento é muito estranha), ela deixa o espaço necessário para a reflexão, e o resultado, espantosamente, acaba sendo equilibrado. Acompanha dois fragmentos de Bach no Bis. Versão para quem gosta de aventuras.

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Arquivo FLAC 233Mb

3.Pinchas Zukerman, Daniel Barenboim: Chicago Symphony Orchestra DG 1977

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Zukerman é para mim um grande mistério. É um artista mediano, com uma sonoridade relativa e uma técnica nem sempre apurada. Por que razão ele é tão festejado, eis o mistério. Há muitos outros violinistas, melhores que ele, que não tem a mesma visibilidade. Confesso que gosto dele quando resolve tocar viola, mas ele preferiu a vida mundana e se rendeu à fama que o violino dá.
Zukerman gravou, poucos anos antes, as Sonatas para Violino e Viola de Brahms com Barenboim ao piano, e esta incursão se mostrou extremamente proveitosa, pois ambos estavam absolutamente à vontade, sem a pressão habitual dos produtores, e a música fluiu como néctar. Mas neste concerto, essa mágica não acontece. É bastante notório que ele está tímido e percebe-se o limite de sua técnica nos fraseados embolados, principalmente no final do Rondó. É, portanto, uma versão bem-comportada, mas que falta o brilho do violino em sua plenitude, e que tem ainda o freio de Barenboim para ajudar. Tem o mérito de ser uma versão honesta e sincera, que expõe os limites de Zukerman sem tentar mascarar nada. Vem de bônus as duas Romances para Violino, que Zukerman já consegue resultados bem mais convincentes, o que também ajuda a apreciar a gravação.

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Arquivo Flac 266Mb

4.Isaac Stern, Leonard Bernstein: New York Philharmonic SONY 1959

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Gosto muito desta versão, que envolve Bernstein e Stern em uma de suas suas fases criativas mais notáveis. Stern já era consagrado, e Bernstein, no auge de seus 34 anos, fazia um excelente trabalho em Nova York, levando música clássica ao público leigo com seus concertos comentados. Nesta fase, um Bernstein cheio de energia, conduz o Concerto com uma segurança incrível, contagiando até mesmo o experiente Stern com seu entusiasmo. Stern, um verdadeiro lorde, deixa espaço para Bernstein sem se anular, e esta gravação se configura como uma das mais harmônicas entre solista e regente que conheço. Não é uma leitura propriamente romântica, mas é brilhante e entusiasmada, e também não deixa de emocionar, pela notória comunhão entre os dois artistas que se reconheceram e se deixam envolver pelas virtudes um do outro. O bônus desta edição são algumas aberturas, sempre uma boa pedida.

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5.Shlomo Mintz, Giuseppe Sinopoli: Philharmonia Orchestra DG 1986

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Esta versão é para mim uma referência de qualidade, além de atestar como este concerto é versátil: nas mãos de Heifetz-Munch, ele é clássico, nas mãos de Mintz-Sinopoli, romântico. Mintz, acima de qualquer crítica, tem uma articulação primorosa, mas o que se destaca é a sustentação precisa das notas, pois Sinopoli imprime nesta gravação andamentos muito mais reflexivos, e os fraseados ficam mais longos. Esta, mais do que qualquer outra, é uma leitura contemplativa, que evoca o Beethoven romântico, cujos ecos que prenunciam a Pastoral são inegáveis. E a grande dificuldade de ir por este caminho, é justamente manter também um considerável domínio nas dinâmicas e nos ritmos, coisa que Sinopoli não desaponta e segura as rédeas com firmeza ímpar. Mintz acompanha em comunhão absoluta, tirando de cada tema uma emoção própria. Uma gravação que considero particularmente das mais bonitas deste concerto, e vem também com as Romances de brinde, sempre agradáveis. Excelente pedida.

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Arquivo FLAC 266Mb

6.Itzhak Perlman, Carlo Maria Giulini: Philharmonia Orchestra EMI, 1981

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Consta nos anais da revista Gramophone que esta é a gravação dos sonhos deste concerto. Não é sempre que concordo com a revista, mas neste caso, devo dar o braço a torcer. Considero esta a versão mais límpida e equilibrada deste concerto. Perlman, como sabemos, é absolutamente irrepreensível, sem ser mecanicamente perfeito como Heifetz, e deixa a emoção dos fraseados à flor da pele. Sua articulação precisa, especialmente no Rondó, chega a arrepiar. É uma gravação que transpira emoção sem exagerar no romantismo, equilibrando como poucas a transição beethoviana entre a fluidez clássica e o devaneio romântico. E, conduzindo o cortejo orquestral, o mestre Giulini, regente de minha mais alta admiração. Consegue ser profundo sem ser afetado, revelar a densidade emocional com sutis variações dinâmicas, traduzir o intraduzível das sensações mais ocultas para a contemplação desta obra de arte. Perlman vibra na mesma frequência, e sentimos violino e orquestra um único corpo. Esta gravação não tem bônus, porque ela já é um.

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CHUCRUTEN

.: interlúdio :. Charlie Haden & Christian Escoude: Gitane

.: interlúdio :. Charlie Haden & Christian Escoude: Gitane

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eu tinha 22 anos e meus amigos do jazz diziam que Charlie Haden era genial. Eu logo pensei: outro baixista espetacular chamado Charlie, assim como Mingus! Fui na King`s Discos e comprei Gitane — um disco só de violão e baixo — a peso de ouro, um importado recém lançado. Nossa, ele era totalmente diferente de Mingus, mas o disco quase furou, tanto que até hoje lhe conheço cada nota. Talvez tenha sido uma das maiores lições da importância do baixo no jazz e do quanto ele pode ser sofisticado. Até morrer, Haden fez dupla com vários instrumentistas no mesmo formato deste disco e jamais o resultado foi esquecível ou irrelevante. Já o violonista Christian Escoude é um bom devoto de Django Reinhardt. Os dois músicos se sentem em casa com os temas “ciganos” escolhidos. A faixa-título, um baixo solo de Haden, é uma joia especial. Trata-se de uma sessão de jazz calorosa e sem pressa que confundo com minha própria formação como ouvinte.

Charlie Haden & Christian Escoude: Gitane

1 Django
Written-By – John Lewis (2)
8:56
2 Bolero
Written-By – Django Reinhardt
4:20
3 Manoir De Mes Rêves
Written-By – Django Reinhardt
5:55
4 Gitane
Written-By – Charlie Haden
3:34
5 Nuages
Written-By – Django Reinhardt
8:56
6 Dinette
Written-By – Django Reinhardt
6:04
7 Improvisation
Written-By – Christian Escoude*
2:52

Christian Escoude, violão
Charlie Haden, baixo

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A capa do velho vinil de 1979
A capa do velho vinil de 1978

PQP

Guia de Gravações Comparadas P.Q.P. – Tchaikovsky: Symphony no.6 in B minor op.74 ‘Pathétique’

A última Sinfonia de Tchaikovsky é sua obra mais enigmática e também a mais dramática. Escrita entre 1892 e 1893 (estreada em outubro de 1893, uma semana antes de sua morte), é uma de suas derradeiras obras, permeada de histórias e lendas que a confirmam como um testamento autobiográfico musical de seu autor. Extremamente pessoal, é uma das sinfonias que, a despeito dos contrastes temáticos, a situam como uma espécie de canto do cisne do romantismo do século XIX. Apesar de ser um rigoroso crítico com tudo o que compunha, Tchaikovsky teve esta obra especificamente em alta conta, ao ponto de escrever: “Nunca na minha vida fiquei tão satisfeito comigo mesmo, nem tão orgulhoso, consciente de que fizera alguma coisa boa”. Tchaikovsky mesmo escreveu a seu irmão Modest (que, reza a lenda, deu o apelido de “Patética” à Sinfonia), nos seguintes termos: “É um enigma, que as pessoas têm que decifrar”.

Análises psicológicas da vida e da obra de Tchaikovsky apontam para uma obra em que finalmente ele tenha conseguido se expressar verdadeiramente em termos de angústias e tensões psíquicas, sem receios de ter seu orgulho ferido por uma rejeição pública (o que efetivamente aconteceu na estréia). Essa liberdade interior que ele desfrutou em seus últimos dias com certeza contribuíram para este resultado: uma sinfonia que alterna temas ultra-românticos cativantes com outros de dramaticidade épica, em contrastes tão densos que só um mestre da forma e da orquestração poderia transformar em uma obra artística sólida e perene.

Uma das histórias mais interessantes desta sinfonia é uma que conta parte do seu processo criativo, narrado por Robert Littel: “(…) uma noite, em 1892, quando viajava para Paris, ouviu na mente acordes que o fizeram chorar. Eram tão irresistíveis que em quatro dias ele tinha escrito o primeiro movimento de uma sinfonia e o restante, disse ele, estava claramente esboçado em seu espírito”. Esta é uma descrição (também) enigmática de uma inspiração, frequente e abundante na obra de Tchaikovsky, e que expõe sua sensibilidade incomum para estes fenômenos psíquicos.

De qualquer forma, a Sinfonia Patética é uma das grande obras musicais da humanidade, que soube como poucas traduzir a incrível contradição da experiência humana em termos estéticos, talvez como só Beethoven anteriormente tenha conseguido neste grau de sofisticação.

Como é uma obra imensamente gravada, aqui vão algumas leituras que considero icônicas desta Sinfonia:

1.Lorin Maazel, Cleveland Orchestra CBS 1982

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Esta é a versão genérica. Maazel não é propriamente um maestro que extrai densidades relevantes de suas leituras (apesar de haver exceções), e acaba sendo uma interpretação bastante irregular. Maazel já tinha gravado esta sinfonia antes com Viena na década de 60 pela DECCA, mas esta é ligeiramente superior, talvez pelo fato de Maazel estar mais à vontade, com quase 20 anos a mais de experiência desde a primeira gravação. Os andamentos são vigorosos, mas é preciso assinalar que se trata de uma leitura alternativa, com as dinâmicas artificialmente construídas e as passagens líricas ligeiramente forçadas. Lembra-nos o escárnio de Celibidache sobre Maazel: “é um moleque”. Cleveland responde muito bem à sua batuta, e, entre outras coisas, esta gravação se destaca pela simbiose aguçada entre maestro e orquestra. Não é de fato a gravação dos sonhos, mas é honesta em seus propósitos. E vale também pelo bônus, a Marcha Eslava e a 1812 (ótima na versão com coro), com a Filarmônica de Viena.

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Arquivo FLAC – 304Mb

2.Claudio Abbado, Chicago Symphony Orchestra SONY 1986

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Abbado é um menos genérico, mas também não chega a empolgar definitivamente. Apesar de ser uma leitura convincente, tem algumas particularidades que não gosto.As pratadas do 3o. movimento poderiam ser bem melhores, e seus momentos tensos e explosivos são mais contidos, e os momentos mais calmos são mais vigorosos. Essa inversão causa um estranhamento para quem já conhece a sinfonia por mãos mais habilitadas, e os contornos melódicos ficam um pouco prejudicados. Abbado já tinha, a exemplo de Maazel, gravado a Patética com Viena em 1974, pela Deutsche, mas é uma gravação que sofre do mesmo mal que a de Maazel: ele era muito mais jovem, menos experiente, e tentou, também como Maazel, causar boa impressão tentando dar profundidade emocional sem muita segurança. Nesta ele está bem mais desenvolto, e apesar de minhas críticas particulares, no final o resultado é muito convincente. Levando em conta as semelhanças, prefiro esta à de Maazel, apesar do bônus desta ser mais sovina, só com a Marcha Eslava.

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Arquivo FLAC – 207Mb

3.Sergiu Celibidache, Münchner Philharmoniker EMI 1992

tchaikovsky_pathetique_celibidache

Agora sim estamos falando sério: esta é uma verdadeira interpretação, no melhor sentido do termo. Celibidache, famoso por ser totalmente avesso à indústria fonográfica, nunca deixou que suas gravações (todas ao vivo, algumas feitas sem que ele soubesse) fossem disponibilizadas comercialmente. Esta gravação, feita em 1992, só foi lançada em 1997, após a morte do maestro, numa série que procurava, com aval de seu filho, consagrar a grandeza de Celi.
Com efeito, é possível neste registro, primoroso, entender porque Celibidache é um mito da regência. Seus tempos mais lentos, ou mais reflexivos, abrem uma nova dimensão na escuta desta obra. É uma viagem a um novo universo, um Tchaikovsky desconhecido, transcendental. Sente-se a firmeza e a segurança na condução de toda a obra, revelando sua arquitetura sinfônica como uma grande catedral sonora, algo impensável sem a sensibilidade aguçada de Celi e a perfeita simbiose entre ele e sua querida Filarmônica de Munique. Com os contornos melódicos à flor da pele e uma vigorosidade rítmica ímpar, diria sem pudores que este registro é o melhor já feito, não fosse este também o mais heterodoxo. Apesar de ser altamente recomendável, é uma leitura para degustar com certa moderação, pois nunca se ouviu um Tchaikovsky como este, e pode até ser perigoso.

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Arquivo FLAC – 280Mb

4.Herbert von Karajan, Berliner Philharmoniker EMI 1972

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Agora, neste fórum de melômanos do PQP, tenho que confessar, humildemente, minha heresia (ou talvez blasfêmia) musical: sim, eu gosto de Karajan. Mas todo Karajan? Claro que não. O Karajan da DG é, com raríssimas exceções, pífio, um fast-food musical que desconsidera qualquer profundidade emocional relevante em suas leituras. Entretanto, por algum motivo, talvez místico, que eu realmente não sei explicar, tudo o que Karajan gravou em sua breve passagem pela EMI na década de 70 é incrivelmente superior, de um gosto apurado e de uma leitura realmente inspirada. Isso sem falar da sonoridade. Aparentemente, os engenheiros ingleses eram mais ousados que os alemães, e a Filarmônica de Berlim também se mostra mais espontânea e virtuosa em sua massa sonora do que em qualquer outra época. Não me perguntem por quê. Mas, no frigir dos ovos, por conta disso, esta gravação é uma das minhas preferidas: não apenas Karajan resolveu fazer direito, como a orquestra de Berlim está de tirar o fôlego. Este registro, de 1972, é a melhor Patética que Karajan fez em toda a sua vida.

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Arquivo FLAC – 193Mb

5.Evgeny Mravinsky, Leningrad Philharmonic DG 1960

tchaikovsky_symph456_mravinsky_smallNa década de 50-60, em plena guerra fria, a competição entre URSS e EUA não ficava apenas no plano político e tecnológico. Nas artes, era muito comum uma troca de provocações indiretas (ou mesmo diretas), à superioridade estética de entidades ou artistas de cada um dos lados. E, por conta da dificuldade de acesso ao confronto direto (os artistas não podiam circular livremente na URSS), muitos desses confrontos acabavam ficando no plano imaginativo. Um deles, na música, era a propaganda que se fazia da superioridade sonora da Filarmônica de Leningrado e seu mítico maestro, Evgeny Mravinsky. Foram necessários anos de negociações até que o Kremlin permitisse uma tournée pela Europa. A primeira, em 1956, resultou numa gravação monaural primorosa das Sinfonias 4, 5 e 6 de Tchaikovsky, pela DG, em que toda a emoção do ineditismo (tanto de um lado quanto de outro) fica evidente. Quatro anos depois, Elsa Schiller, produtora da DG, conseguiu, não sem muito esforço, que o grupo voltasse para gravar em estéreo as mesmas obras, já que a primeira vez impressionou profundamente os europeus. E realmente, esta é uma leitura acima de qualquer crítica. Além da intimidade evidente dos músicos com estas obras, a precisão e sensibilidade de Mravinsky, um dos maestros mais elegantes que já subiram ao pódio, torna esta leitura indispensável em todos os sentidos. Soma-se a isso um aspecto levantado por Norman Lebrecht, que a torna ainda mais fascinante: sob pressão política, os registros evidenciam a tragédia do finale da Patética com profundeza ímpar, e a marcha bélica do terceiro movimento com uma esperança aterradora. É ver pra crer.

Se eu tivesse que escolher “a” Patética, mesmo considerando as limitações da gravação dos anos 60, seria esta. O álbum da DG vem com a Quarta e a Quinta Sinfonias, que deixo de bônus porque dá muito trabalho separar os arquivos e subir de novo. Sorte de vocês.

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