Hoje, 4 de março, é (tradicionalmente) o dia de nascimento de Vivaldi. Eu não ponho minha mão no fogo sobre a precisão dos registros de 1678, mas parece certo que foi este dia mesmo.
Bem, ele é um dos meus compositores favoritos, por duas razões: primeiro, ele trabalha com uma paleta de tons extremamente simples e consegue arrancar delas as possibilidades mais incríveis, e, segundo, é uma máquina de invenção temática. Eu me lembro de quando garoto, cada vez que ouvia um novo concerto de Vivaldi (e normalmente eles vinham em vários de uma vez), ficava prestando atenção em como cada um conseguia ser diferente através do material temático, como seria a “personalidade” de cada concerto quanto ao seu tema. Por isso nunca fui a favor daquela tese que ele escreveu o mesmo concerto 400 vezes. Albinoni talvez, mas Vivaldi não. Cada um concerto, por mais que tenham estruturas e desenvolvimentos extremamente simples e similares, tinham temas, os mais diversos. Cada concerto era uma nova aventura.
Vivaldi teve seu momento de redescoberta no século XX e o infeliz estigma de ter escrito As Quatro Estações. Como esta é preferida do público (diria que só a Primavera, na verdade, porque os outros são concertos bem mais avançadinhos e só são ouvidos porque estão no pacote), as suas demais obras acabam por ficar relegadas a ouvintes eventuais.
Bem, então apresento uma série pouco conhecida, e que eu gosto muito, o seu Opus 9, chamado La Cetra. O título que faz referência a um instrumento antigo parecido com a Lira, muito provavelmente por conta da grande quantidade de arpejos que a série contém. Mas é uma das séries de concerto mais convincentes de Vivaldi. Ouvi-as pela primeira vez meio sem atenção, através de um disco emprestado de uma amiga. Me arrebatou completamente. Na época, acabei gravando em Fita K7 (sim, sou meio velho, era o que tinha), e ouvi exaustivamente, mas nunca consegui achar o CD aqui no Brasil. Quando achei era na caixa com sua obra completa, a um preço proibitivo que me fez esperar para comprar quando ficasse fora de moda e mais barato. Isso demorou muito para acontecer, e mantive um tape-deck no meu equipamento de som só para poder ouvir essa obra, que eu não tinha outra gravação. Em 2014, achei na Amazon, comprei e nunca chegou. Procurei com todos os colegas que tinham sites similares ao PQP e nada… Achei uma versão com Marriner e a Academy of St.Martin, mas não fui muito com a cara, e eu queria mesmo essa do I Musici, porque a primeira impressão é a que fica. Só agora, em 2016, consegui achar, no site Presto Classical, que vende por download o arquivo original em FLAC. O preço era módico e finalmente consegui a gravação, 20 anos depois.
Deu tanto trabalho que este post é também um desabafo sobre as dificuldades de ouvir música boa e, portanto, a extrema necessidade de compartilhar.
O Concerto 1 em Dó maior é uma pérola, uma delícia de concerto. Os demais são bacanas, mas a partir do 7, em Si bemol, a coisa fica séria. É um dos meus Top 5 de Vivaldi, e toda a sequencia posterior: o 8 em ré menor, sombrio e profundo, de arcaica beleza, o 9 em si bemol, de alegria abundante, e o 10 em Sol maior, de uma pureza tocante, quase infantil, e os sóbrios últimos concertos 11 e 12 , são absolutamente maravilhosos. E o I Musici em sua melhor forma, liderados pelo Obi-wan Kenobi do violino barroco, Félix Ayo. Não tem coisa melhor. Puro deleite.
Antonio Vivaldi (1678-1741)
La Cetra, op.9
CD 1
Violin Concerto No. 1 in C Major, RV 181a
Violin Concerto No. 2 in A Major, RV 345
Violin Concerto No. 3 in G Minor, RV 334
Violin Concerto No. 4 in E Major, RV 263a
Violin Concerto No. 5 in A Minor, RV 358
Violin Concerto No. 6 in A Major, RV 348
CD 2
Violin Concerto No. 7 in B-Flat Major, RV 359
Violin Concerto No. 8 in D Minor, RV 238
Violin Concerto No. 9 (for 2 Violins) in B-Flat Major, RV 530
Violin Concerto No. 10 in G Major, RV 300
Violin Concerto No. 11 in C Minor, RV 198a
Violin Concerto No. 12 in B Minor, RV 391
I Musici
Félix Ayo, violino I
Anna Maria Cotogni, violino II (no.9)
Enzo Altobelli, Cello
Maria Teresa Garatti, organ
PHILIPS, 1965
DOWNLOAD HERE
Arquivo FLAC (sem perda de qualdiade), 699Mb
Chucruten