.: interlúdio – Ketil vs Kjetil :.

Já vinha comigo desde ano passado o Piano Poems do (evidentemente) pianista norueguês Kjetil Bjerkestrand. Como o título sugere, trata-se de um disco delicado, de arranjos bastante atmosféricos — Kjetil também compõe para cinema, influência que se faz presente no clima de algumas faixas. Além do piano, Ketil faz uso de um par de órgãos e uma extensa linha de sintetizadores vintage; no entanto, o Steinway é sempre a figura de proa, cabendo aos outros teclados a formação de texturas, bases discretas ou mesmo beats muito suaves, esparsos. O resultado é bastante leve e agradável. E às vezes, leve demais, pro meu gosto; pra manter seu instrumento solo isolado durante todo um disco, é preciso ter alta energia inspirativa, além de boa dose de virtuosismo — e em certas faixas, os poemas parecem ter uma rima fácil demais. Outros temas (como February e Hymn II), no entanto, funcionam muito bem e demonstram grande sensibilidade. No fim das contas, é como álbum o que a maioria dos livros de poemas também é: irregular, mas repleto de boas possibilidades e alguns grandes momentos — que nos fazem voltar periodicamente à obra. (Aliás, funciona muito bem como um sofisticado pano de fundo pra adormecer.) (Confirmando: é um elogio.)

EIS QUE meses atrás me deparo com um disco novo do Kjetil, ou assim eu pensei; fui conferir com boa curiosidade. Só depois de um par de audições percebi que Night Song era, na verdade, disco de Ketil Bjørnstad, um OUTRO pianista norueguês. Achei que era pegadinha, ou algum efeito de numerologia, até o google me explicar que, de fato, são pessoas diferentes. Além de quase homônimos, tem apenas três anos de diferença de idade; no entanto, Ketil é um artista de nome melhor estabelecido, que grava para a ECM desde os anos 90, e tem uma discografia bastante extensa (além de uma bibliografia do mesmo vulto. Aliás, por prolífico, o All About Jazz o compara a Schubert). Enfim, sorte minha: porque este Night Songs, gravado em par com o violoncelista Svante Henryson, é um belíssimo disco. As melodias são de uma doçura angular raríssima. E ao longo de 16 faixas a inspiração se mantém; se Kjetil parece inseguro, ou simplista, em alguns momentos de Piano Poems, Ketil demonstra um domínio criativo absolutamente maduro e orgânico. O primeiro disco é bom; este é imperdível.

Kjetil, var. Kettill. Lê-se TCHEH-til. Do nórdico antigo Ketill, como no inglês “kettle”: chaleira, caldeirão usado nos rituais antigos para recolher o sangue de um animal sacrificado. No uso moderno, a palavra também significa capacete.

*Ketil e Kjetil já tocaram juntos, inclusive aqui no PQP Bach.


Kjetil Bjerkestrand – Piano Poems /2010 [V2]
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01 Amelie 4’30
02 21/11 3’55
03 The Ladder 3’41
04 Hymn I – Velt Alle Dine Veie 4’45
05 February 3’19
06 602 3’21
07 Sanctus 2’59
08 Hymn II – Lær Meg Å Kjenne Dine Veie 4’22
09 Geirriano 3’04
10 Daddy’s Theme 3’12
11 ADAE 3’00
12 502 3’33
13 Hymn III – Jesus, Din Søte Forening Å Smake 3’53


Ketil Bjørnstad/Svante Henryson – Night Song /2011 [320]
Ketil Bjørnstad (piano), Svante Henryson (violoncelo)
download – 174MB /mediafire

01 Night Song (Evening Version) 4’28
02 Visitor 5’06
03 Fall 3’26
04 Edge 5’37
05 Reticence 5’40
06 Schubert Said 4’31
07 Adoro 6’21
08 Share 4’20
09 Melting Ice 3’22
10 Serene 5’57
11 The Other 4’05
12 Own 3’09
13 Sheen 5’41
14 Chain 6’15
15 Tar 2’57
16 Night Song (Morning Version) 5’01

Boa audição!
Blå Hund

8 comments / Add your comment below

  1. Fiquei inquieto com o pseudônimo do autor do post, mas depois vi que ele já era nosso conhecido das antigas e que apenas se adaptou à Norwegian Mood.

  2. Ah, são pianistas noruegueses? Me enganei, pensei que fosse Kleiton e Kledir.

    O Kjetil não conheço, mas o Ketil recomendo.

    E bravo pelo Mediafire, atualmente não tem coisa melhor.

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