John Cage (1912 -1992) – 4´33´´

Os homens são mesmos fascinantes e engraçados. Afirmam-se como indivíduos, mas inevitavelmente são destinados a serem peças de encaixe do muro histórico. 4´33´´ é uma obra inevitável, mesmo se Cage não tivesse existido. A música sempre levou a busca dos extremos, e o fim acabaria sendo esse: 4 minutos e 33 segundos nos quais os músicos param. E a música, também pára? Segundo Cage, não. A música criada pelo evento ou constrangimento (sussuros, xingamentos, ruídos, ou o próprio silêncio [parte importante da música]) seria nova a cada apresentação desta obra. Assim como já vinha ocorrendo com suas obras aleatórias, 4´33´´ abre possibilidades interessantes e inesperadas.

Nesta rara gravação podemos ouvir 4´33´´ sendo interpretada por um grupo excelente de percussionistas, que parecem ter gravado numa bela manhã de primavera. É possível ver duas outras versões desta mesma peça no youtube, uma para grande orquestra link e outra para piano link. Outra obra de Cage que merece destaque é Amores, música para piano preparado e percussão. Muito empolgante. Participação do pianista Zoltán Kocsis, cujo piano produz um som realmente estranho e percussivo. O disco termina com o ótimo Third Construction de Cage para 4 percussionistas.

Ah, já ia esquecendo, aqui você encontra uma das melhores interpretações de Ionisation de Varèse.

1. Ionisation, for 13 percussion instruments (Edgard Varese)
2. Toccata for orchestra (Carlos Chavez)
3. 4’33” (John Cage)
4. Double Music for percussion quartet (John Cage, Lou Harrison)
5. Amores, for prepared piano & 3 percussion: I – Solo for Piano
6. II – Trio
7. III – Trio
8. IV – Solo for Piano
9. Third Construction, for 4 percussionists (John Cage)

Amadinda Percussion Group

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59 comments / Add your comment below

  1. 4’33”? Nossa, que musicão… mas foi com pérolas como esta que a música erudita chegou ao patamar em que se encontra hoje, não é mesmo?

    É absolutamente interessante ver um punhado de músicos parados, em plena apresentação, por quase 5 minutos; a parte mais legal é pensar na platéia, que compra ingressos para ouvir a si própria, a seus ruídos, tosses, enfim, a ouvir uma obra prima como esta.

    John Cage devia mesmo ser um gênio.

  2. Provocação, choques, etc.. Tudo bem, mas brincadeira tem limites. É por essa falta de limite, que hoje em dia, um cara caga numa tela e vende por 2mi de dolares…..

  3. sem querer ser grosso, mas se fosse assistir a um concerto desses ia mandar a orquestra toda tomar no…
    será que segundo o Cage isso também seria música???
    pow se é pra ouvir silencio eu ouço em casa… aliàs vou criar a peça 4´35 pra ver se eu também entro pra história da música.

    isso consegue ser pior que Puccini!!!! são dois extremos, a italianada e o Cage, a italianada nao gosta de silencio, fica gritando o tempo todo e chorando aquele melodismo chato, o Cage gosta do silencio demais…

  4. Não me considero conservador, mas também não gosto deste tipo de música. Eu respeito a música de vanguarda e não tenho preconceito contra as inovações, mas esta peça do Cage, por exemplo, não significa nada para mim.

    1. e é para significar alguma coisa, a não ser a mais pura meditação?

      li e ri com muitos dos comentários aqui… nenhum deles filosoficamente adequado para a compreensão desta peça. ainda aguardo por um comentário realmente interessante por aqui…

  5. Devo confessar que por aqui (espaço e tempo) já esperava que a interpretação de 4´33´´ fosse previsível. Quem sabe, no futuro, a música de 4´33´´ seja mais alegre, com uma interpretação mais calorosa.

  6. Tenho uma pergunta: o maestro entra com um cronômetro para que a pausa seja exatamente de 4’33” ?

    Seria interessante se a platéia começasse, durante a pausa, a cantar o “Và pensiero”, de Verdi.

  7. E o melhor: 4′ 33” tem 3 movimentos…., somando o tempo dos três dá o tempo total da obra (4’33”). Interessante ter existido alguem que os próprios serialistas integrais consideravam um “enfant terrible”.

  8. Ora, chegamos a uma questão muito maior:

    O QUE É OBRA DE ARTE????

    se tudo é arte nada é arte. ora, bolas…

    adoro tocar o 4´33´´ ao meu piano, me sinto um dos maiores pianistas de todos os tempos ao estar tocando com tanta habilidade uma das maiores obras da música.

    se eu assistisse a apresentação dessa peça, só de sacanagem cantava uma ária de Puccini.

  9. Beethoven surdo compondo os últimos quartetos ouvia o 4´33´´do Cage o tempo todo.

    Cage é tão genial, mas tão genial, que houve desde o princípio, antes de se inventar esse negócio chamado música só se ouvia 4´33´´ do Cage, sabiam???

  10. Em entrevista Cage disse ter composto essa música após muito pensar e chegar a conclusão de que não tinha nada para dizer, então… não disse nada por 4’33”.
    São Paulo é uma cidade muito musical, não acham? Com as doces melodias de buzinas, e o ritmo sincopado de centenas de pessoas falando a sua volta… estou pensando em gravar alguns minutos e entrar para a história.

  11. Claro, muito fácil considerar a 4’33” como uma ofensa para aqueles que vêem a arte como uma coisa tão fictícia e longe da vida. Blasfemem.

  12. O que a falta de umas boas chineladas da mãe na infância não faz, né mesmo? O desejo de reconhecimento a qq preço é uma coisa triste…

    Pior que isso, só a aprovação do PL do “mensaleiro” Eduardo Azeredo. Abrs,

  13. os comentários deste post são, em sua maioria, monstruosos.

    lamento pela ignorância, arrogância e esnobismo. quem é intolerante com música não faz juz ao seu aparelho auditivo. e quem não tem capacidade de reflexão e descoberta não deveria usar a palavra “arte”.

  14. Se é arte ou não eu não sei, mas que eu adoraria que a cidade de São Paulo soasse como a 4´ 33´´ isso é fato.

    De qualquer maneira acho que, como o texto do post disse, a “música” é uma reação natural aos exageros Verdianos.

  15. De um lado, liberdade de expressão; do outro, liberdade de censura. Essa é a Internet.

    Realmente, não apaguei meu comentário anterior, nem teria como.

  16. O pessoal que não consegue levar a sério certas coisas podia, ao menos, ter senso de humor, não?

    Se não se leva a sério e nem se leva na piada não se leva nada, poxa. Seus bobos.

  17. John Cage e Adorno compartilhavam da opiniao de que a musica erudita era destinada a musicologos, sendo inacessivel a leigos. A suposta composicao 4`33“ apenas ilustra essa tese. Nao importa se a plateia cala-se respeitosa ou lanca apupos, sempre esta diante de algo que nao compreende.

  18. “Realmente, não apaguei meu comentário anterior, nem teria como.”

    Bem lembrado, depois percebi que não há ferramenta para se apagar o próprio post, e agora acabei de perceber que o meu também foi apagado…

    Se nossos comentários ao menos tivessem sido ofensivos, ainda poderiamos compreender a “censura”, mas como não foi o caso…

    bem, vou parar de escrever porque em breve serei apagado novamente

  19. Realmente, creio que meu comentário não foi ofensivo, e nem o seu, Exigente.

    Mas parece que, de alguma forma, ferimos os brios de alguém, que talvez tenha se sentido “ofuscado” ou vestiu alguma carapuça (que desconheço) e fomos deletados sem justificativa alguma. Que pena.

    Bom, deixo claro, que este “moses” não posta mais aqui. Tenho mais o que fazer do que bajular blogueiro mal educado. Se me virem, será um homônimo. Aliás, não acredito que isso aconteça, pois não tenho importância nenhuma aqui.

    Podem apagar este também, e, se quiserem me fazer o favor, apaguem todos os anteriores. São poucos.

    Shalom

  20. Cage observou algo interessante – que mesmo no silêncio aparente, há som. Se tivesse escrito um livro sobre o facto, talvez eu até fosse seu fã. Pois academicamente falando, isto é interessante. O problema é que, na agonia de produzir algo novo para a música, ele cismou em publicar partituras em branco como um novo “trabalho” musical seu.

    A partir daí, virou tudo ou nada… ou o que ele fizera era um absurdo, ou era genial. Certamente era polêmico. O meio musical tinha que se decidir quanto a isso.

    Daí, passou-se pouco tempo até que os vanguardistas da música de nossa era ( desses que acreditam que qualquer manifestação sonora é música, que de vez em quando se referem às produções musicais de séculos anteriores como “Museu” ou como “música para crianças”, e que são abençoados por possuírem uma consciência musical indubtavelmente superior à de outros ouvintes que, coitados, não compreendem bulhufas daquilo que ouvem.) considerassem a obra de Cage espetacular e originalíssima.

    E por que me oponho tanto à 4’33”?
    – Porque som e música não são sinônimos.
    – Porque toda música é som, mas nem todo som é música.
    – Porque música se faz a partir de um todo sonoro, proveniente de intervalos e junções de sons.
    – Porque a completa ausência de sons, portanto, não poderia, de modo algum, ser interpretada como música.

    Essas afirmações deveriam ser consideradas axiomas. Infelizmente, como não podem ser provadas, e como parece haver uma mentalidade de “progresso a qualquer custo” no meio musical, a música erudita, sim, “está como está”. E está mal.

    Quanto a Cage e à 4’33”… bem, nada mal para alguém que acreditava que música erudita pode ser composta aleatoriamente… fico me peguntando: como Bach, Mozart e Beethoven não pensaram nisso? Ah é, porque eles faziam só músicas de ninar crianças.





    Peço desculpas aos donos do blog por minha agressividade no texto acima. Eu não sou nenhum “detentor da verdade perdida”, mas vejo necessidade de defender meu ponto de vista. Mas também considero a possibilidade de estar errado… nada que uma boa argumentação da parte contrária a mim não possa resolver.

    Sim, um debate – ou um embate ideológico, como preferir.

    Eu adoro este blog, e espero ansiosamente pela postagem da “Missa Sollemnis” de Beethoven, do “Requiem” de Verdi e do “Messiah” de Handel. São obras que prezo muito.

    Bem, por hoje é só pessoal 😛

    Bom fim de semana a todos.

  21. O engraçado e que, até então á composição de Cage, niguém tinha se arriscado a produzir algo tão revolucionário, pois provavelmente estavam amarrados ao pensamento do concretismo musical, ou seja musica é quilo que pode ser ouvido e estruturado. Oras, se fomos observar as outras formas de artes conteporâneas ( notadamente a pintura e escultura), observa-se a falta de elementos concretos do próprio artista, especiamente aqueles na qual há interação direta entre a obra e o apreciador. Cage, foi realmente um artista revolucionário, pois conseguiu desconcretizar as formas musicais (impensável para qualquer lógico-artista), e consegiu leva-lo a algo natural, mutável e humano, que por consequência, levou a música ao ponto filosófico do pensamento: Mostrou-nos uma música constantemente feita por nós, mas que não nos é percebida.

  22. Senhores, tenho me mantido à parte desta discussão, pois como comentei anteriormente, John Cage não faz parte de minhas preferências.
    O nosso blog, tocado por 5 pessoas (cada uma vivendo em um local diferente de outra, e sem conhecer a outra, acredito) segue 5 diretrizes diferentes, 5 pontos de vista diferentes. Tentamos, na medida do possível, conciliar estes pontos de vista meio que intuitivamente. Não pensem os senhores que nos reunimos semanalmente para traçar os destinos do pqp para aquela semana. Em primeiro lugar, é geograficamente impossível, eu fdp, estou em Santa Catarina, nossa querida e infelizmente afastada Clara Schumann mora em Portugal, o pqp e o blue dog moram no Rio Grande do Sul e nosso mais novo mano, bem, sou sincero em afirmar que não faço a mínima idéia de onde quer que o mano cdf bach more. Mas isso não importa. O que nos motiva é a divulgação desta nossa tão querida e amada música chamada “erudita”. Conheci PQP ainda nos tempos do Orkut, e imediatamente nos identificamos, e logo ele sugeriu a idéia do blog. A identicação com Clara Schumann também foi imediata, assim como com blue dog.
    Desde o começo do blog tenho lido comentários os mais díspares, mas sempre procuramos manter o nível dos debates, afinal, somos adultos e civilizados. EU, particularmente, fui responsável por deletar alguns comentários que considerei ofensivos à minha pessoa, e conseqüentemente às pessoas que compartilhavam o meu gosto. Foi o caso de vários comentários feitos quando me propus postar Wagner. Sabia que estava mexendo em um vespeiro, mas acreditei que levariamos em consideração a música, antes de tudo. E o mano pqp sabe que as coisas não foram bem assim.
    Outro fato ocorreu, um pouco depois, que considerei lamentável, no começo deste ano, em que fui achincalhado por um leitor que se considerava superior, e dizia que tal interpretação beirava as raias do ridículo, entre outros comentários mais ofensivos que não vem ao caso reproduzir. Mandei um email ao mano pqp dizendo que estava me desligando do blog, pois não admitiria comentários daquele tipo, que feriam as normas de condutas de pessoas ditas “civilizadas”. PQP imediatamente se desculpou, dizendo que tinha sido ele quem tinha aprovado aquele comentário, inocentemente, achando-o engraçado. Bem, voltei a repetir que não tinha achado nem um pouco engraçado, e que na verdade eu tinha me sentido ofendido. Após algumas trocas de email, concordei em continuar, e establecemos um critério: os comentários postados só seriam aprovados pelo colega que postou a dita obra que está sendo comentada. Afinal, foi ele quem fez a postagem, e cabe a ele apenas achar se ele a pena ser postado ou não ( no sentido de se sentir ofendido, quero dizer). Não se se pqp passou esta recomendação aos outros membros do blog, mas procuro seguir à risca.
    Não sei o que aconteceu com o comentário do moses, não li, como já deixei claro muitas vezes, sou professor e a vida de professor não permite um monte de coisas, e entre elas, é passar mais tempo acompanhando um blog. Ralamos o tempo todo, e o maior prazer que tenho é poder ler os comentários dos senhores, pois sei que ninguém é dono da razão, e o quanto é importante esta troca de opiniões.
    Outra coisa, preciso me justificar pela opinião dada neste mesmo post, até agora o mais comentado. Escrevi que não ouvi e não gostei. Na verdade, exagerei, claro que conheço esta obra, já tive a oportunidade de assistir à uma “apresentação” dela, há alguns anos atrás, bilhante, na verdade, pelo restante do repertório interpretado por dois alemães. Inclusive eles interpretaram algumas outras obras do próprio John Cage. Conversando com alguns amigos, depois da apresentação, reconheci minha ignorância com relação aos 4:33´, e todos concordaram comigo, não tinham entendido nada do que tinha acontecido, mas que o conjunto da apresentação tinha sido genial, a lamentar talvez, que o único Piano Steinway & Sons que tinha na cidade, Curitiba, para ser mais exato, teria de ser afinado novamente, pois o que os dois tinham feito com o instrumento com certeza o tinha desafinado, e muito. Enfim, detalhes, mas que deixou muitas pessoas, mais conservadoras, por assim dizer, de cabelo em pé.
    Enfim, senhores, eis o que eu, FDP Bach, tinha para colocar para os senhores, que sempre nos prestigiaram. Lamento apenas não poder me dedicar com mais empenho ao blog, mas olhando para minha mesa, vejo umas 200 provas esperando serem corrigidas, pois as notas têm de ser repassadas à secretaria da escola na segunda feira, sem falta. Felizmente, terei uma semana de férias, aí poderei continuar a série de postagens a que me propus.
    Tenham todos um bom final de semana.

  23. O problema toda começa com o tal de Duchamp o da Roda de Bicicleta e do pinico e que vendia Arengarrafado de Paris como obra de arte para idotas novaiorquinos.
    Com a RELATIVIZAÇÃO de conceitos a Arte se TORNOU também um conceito particular ou seja depende da visão de quem a observa, ou seja é CONCEITUAL. Isto quer dizer que no fundo não podemos ter critérios OBJETIVOS PARA AVALIAR A arte COLOCANDO UM Bach e Beethoven NO MESMO NÍVEL DE um WANDO, por exemplo, para esculachar bastante.
    Quer dizer tudo pode ser ARTE ou seja NIILISMO puro, é neste contexto que se enquadra a obra de CAGE, o Duchamp da música, no fundo, tempos ”modernos”, NIILISMO PURO!
    ps: muito diferente de um Schoenberg,Picasso,Matisse,JOYCE por exemplo, estes sim goste-se ou não conhecem muito do assunto e realmente foram um marco da ARTE.

  24. Uma das melhores contribuições da música contemporânea é a discussão…

    Depois de ler todos os 39 post anteriores ao meu, percebo que nós temos a dita “alma exterior” (“O espelho” – Machado) que mostra a todos o quão legais e modernos nós fingimos ser.

    Poxa, eu fico imaginando o que vários artistas como Cavalcanti, Malfati, os Andrade (Drummond, Oswald e Mário), Villa-Lobos, Mignone, Coralina, Lispector, entre tantos outros que hoje consideramos os supra-sumos da arte passaram na época em que resolveram mostra uma outra face da arte.

    Não gostar é um direito de todos, assim como gostar também é. No entanto, a discussão aqui já não é mais gosto, mas, sim, educação.

    4’33’’ não é só meramente um excesso de Cage. Isso remete a algo muito mais filosófico: o silêncio. Para quem já teve a oportunidade de aprender um pouco de música, fica fácil entender que a pausa (o dito silêncio) faz parte da harmonia. Isso é extremamente difícil de acreditar, mas é verdade. Um músico conta pausas assim como conta as notinhas musicais.
    Beethoven, Mozart, Bach, entre tantos outros conheciam o poder do silêncio; senão eles não teriam feito obras tão excelentes como fizeram.

    É interessante pensar que Cage fez vários estudos a respeito do silêncio e, a partir destes vários estudos, ele concluiu que o silêncio absoluto não existe, pois sempre há um som vindo ou de seu corpo, ou de outro lugar.

    As partituras de Cage são muito boas. Mesmo não escrevendo nada “musical” na partitura, ele a decorava, pintava, etc… era uma verdadeira obra de arte-plástica.

    Inté
    R.

  25. O problema é que ele não inventou o silêncio, nem o barulho aleatório… será que alguém pode se intitular autor de algo que sempre existiu, atribuindo um nome diferente? Um pintor que vende uma tela em branco chamada 40 X 60 seria um gênio? Então convenhamos, tá fácil ser artista genial hoje em dia.

    Agora, se a beleza tá na confecção das partituras, como diz o colega, então quem sabe não seja melhor admirar essas partituras ao invés de ouví-las?

  26. Esses dias eu estive pensando melhor, e mudei minha visão sobre a 4’33”. Acho que fiquei tão revoltado com a peça que acabei dando uma atenção especial para ela – foi um choque, para mim. Ela produziu o efeito (que eu acredito que era) esperado por Cage – o de impressionar e produzir reflexão. Agora, passo a discordar de meus próprios argumentos.

    Se 4’33” fosse um livro escrito, com as intenções e reflexões do autor, ela não impressionaria. Seria um livro com pensamentos niilistas, creio eu, e não geraria 10% do efeito causado com a apresentação. Falha minha sugerir tal coisa, não havia compreendido direito o “espírito” da peça…

    A polêmica gerada com a obra é filosófica (a platéia faz uma reflexão acerca dela própria e dos rumos da música) e, assim, construtiva, diferenciando-se muito daquelas que são geradas por pessoas como o Lacraia, a Britney e o Datena. Por ser, segundo minha visão, o sustentáculo da 4’33”, a polêmica precisa ser considerada ao se fazer uma análise da obra. Menos 5 pontos para mim .

    Não considero 4’33” uma obra de arte, tão pouco música erudita; não é obra de arte porque sua função para alguém só se dá enquanto essa pessoa ainda não fez a reflexão proposta e tirou suas próprias conclusões desse pensamento – depois disso, a peça passa a ter valor nulo para a pessoa. Não acho que seja música erudita pois, conforme havia dito, não há sons e, portanto, não há música na peça. De meu ponto de vista atual, considero essa obra de Cage uma forma engenhosa e rebelde que ele encontrou para ilustrar alguns de seus próprios pensamentos e pontos-de-vista.

    Se antes eu havia feito considerações maliciosas a respeito de Cage e de seus defensores, agora eu sinto-me avexado por tê-las feito. Peço desculpas ao blog e a essas pessoas por essa minha postura irresponsável.

  27. Assim dizem que, o vazio é tão interessante quanto a forma no desenho, digo que, o silêncio completa maravilhosamente o barulho.

  28. me impressionei ao ler tantos comentarios sobre este post.
    parece que Cage acabou de executar seus 4’33” pela primeira vez agora, e acompanhando o raciocinio estamos no inicio do sécXX.
    não é a questão gostar… duchamp e cage quebraram paradigmas de gostos, dos limites à serem alcançados. é fato!!! e outro detalhe… antes de Cage teve Arnold Schönberg.
    engulam seus gostos mesquinhos e medievais.
    espero que esse blog não se intimide com as reclamações e continue postando, fora os clássicos obras não convencionais.
    obrigado

  29. li em algum lugar que cage usava os 4:33 sempre que precisava de silêncio pra pensar.
    no mundo barulhento e acelerado de hoje, acho que 4:33 de silêncio são valiosos para ouvir o que se passa ao redor e dentro de nós, mesmo sendo em uma casa de concerto.
    dito isto, não acho interessante ouvir uma “gravação” de 4:33; só vale a pena ver e ouvir ao vivo.
    e não sei por que tanta revolta com essa peça; é uma partitura composta de uma sucessão de pausas, e pausas fazem parte da música tanto quanto as notas. dessa maneira simples mostra-se que 4:33 é música sim.
    empacotando o silêncio dessa forma conceitual, cage conseguiu o seu objetivo. isso é arte…

  30. Duchamp, é arte e da mais fina, Cage não é pra menos, bem como Boulez, e companhia, a arte contemporânea é esse rasgo mesmo, ela não é feita pra ser boa, bela, ou qualquer conceito dessa natureza. Ela é antes de mais, uma revolta, aos sentidos, a educação, a civilidade mesma, ou como diria meu querido Antonin Artaud, contra os orgãos. Ela se fuhndamenta no estranhamento e na derrisão. Me lembro também de Klein, que dizia: “o mundo já está repleto de objetos, não intenciono adicionar mais nenhum…”

  31. Meus amigos,
    Achei bastante engraçado os comentários conservadores sobre 4’33”. Acho que Cage daria boas risadas também.
    O silêncio também é música. Qualquer som ou ausência dele pode ser música, sim. Depende da intensão do compositor.
    Gostaria de sugerir aos interessados e aos desinteressados o livro “O Ouvido Pensante” de Murray Shafer. Ajuda bastante a compreender a música do nosso tempo e a ampliar nossos horizontes musicais (sonoros ou não).

  32. Gorgonzola2008, tiro meu chapéu para você, e para os comentários que acabei de ler, tanto o à favor quanto o contra, sua capacidade de reflexão, inclusive sobre si próprio é louvável, ainda sou novo, não sou o melhor entendedor de música, mas quero dizer que concordo plenamente com o seu último comentário, embora eu também leve em consideração muito do que disse anteriormente, criticando a obra, exceto nas partes que soaram agressivas, logicamente.
    Afinal, 4’33” tem um significado especial para mim, no sentido que ela ajudou-me a construir uma opinião sobre a arte e a música, não necessariamente concordando com sua proposta. Não a considero necessariamente música então, mas rebelde e revolucionária, esta “apresentação” propõe reflexões que surgem inevitavelmente, mesmo nesta página, como se tivéssemos acabado de vê-la sendo executada, atordoando a todos e causando a cada um de nós, uma visão diferente, que pode ser debatida de maneira muito rica e interessante.

  33. Não sou nenhum expert, mas creio que algumas considerações sobre esta peça foram deixadas de lado na discussão.

    1. 4’33” equivale a 273″, o que seria o valor do zero absoluto (-273ºC). Portanto só faz sentido enquanto tem esta duração e não as outras propostas.

    2. Por se referir ao zero absoluto existe sim um caráter niilista, mas não é o niilismo ocidental e sim o nada oriental que está colocado em jogo. Talvez nada não fosse o melhor termo, e sim a “não ação”, que é um conceito taoísta. Cage foi muito influenciado pelo pensamento oriental. Aliás, é um período que todo o ocidente se volta ao oriente em busca de alternativas. Lembrem-se que são produções do pós-guerra, onde a elite cultural via toda a história da arte moderna e pensamento ocidental como um caminho preconceituoso que culminou na bomba atômica.

    3. Com esta peça, Cage reivindica para o domínio da música o som ambiente. Já em peças anteriores (concretas) o som comum é reivindicado como integrante do domínio da música. Ora, se não for a música a expressão artística a organizar e utilizar os sons, qual arte o fará?

    4. Cage faz parte de um movimento de inter-relações entre as artes chamado Fluxus. É uma negação da arte tradicional que vinha sido feita anteriormente (pelos motivos citados em 2). Uma das características desse movimento são os happenings. Ou seja, não é o resultado final que importa, mas o processo de execução. Muitas vezes a obra só existe enquanto está sendo executada.

    Acho que melhor do que comparar Cage com Duchamp (de quem era amigo), seria compará-lo aos minimalistas, artistas conceituais, demais integrantes do Fluxus e outros movimentos da época. Cage não pretende destruir a música, mas sim propor uma mudança de eixo e discussão de valores. Vejam, por exemplo, que a pintura de Lucio Fontana, não representa nada na tela, mas é uma discussão sobre a natureza da pintura. 4’33” é música sim. Uma música para aguçar nossos ouvidos ao cotidiano, uma música para discutir o que é música, e uma música para nos sentirmos parte de uma comunidade.

  34. “Criar não é deformar ou inventar pessoas e coisas. É estreitar entre pessoas e coisas que existem, e tal como existem, novas relações.” R.Bresson

  35. Sem dúvida, Cage é um dos vanguardistas da Arte da Destruição, mas não deixa de ser um dos consagrados gênios da música.

    Valeu pelo post, C. D. F.!!!

  36. incrível!
    linda discussão
    o velho Cage, sei lá se gênio, mas é inegável: um cara cuja obra mais famosa é composta de não-sons (o silêncio absoluto não existe mesmo, pelo menos onde não é vácuo) é artista ou não?
    e essa quantidade de posts??
    Muito lindo….tô emocionado.
    Parabéns pelo blog, gente…Muito bom!!!
    Happy New Ears (como diria o Cage)

  37. Saludos.
    Amadinda Percussion Gropu es uno de los mejores interpretes de Cage.
    Se podria resubir este disco?
    Saludos desde Costa Rica

    Atentamente

    JRAC

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