Bizet, de Falla, Granados, Rodrigo, Romero, Torroba, Vivaldi: Los Romeros — Celebração do Jubileu de Ouro

Bizet, de Falla, Granados, Rodrigo, Romero, Torroba, Vivaldi: Los Romeros — Celebração do Jubileu de Ouro

frontAndrés Segovia, Narciso Yepes, etc. Os espanhóis e o violão. Há que igualmente colocar no Olimpo Los Romeros, também chamada de A Família Real do Violão. O quarteto foi fundado em 1960 por Celedonio Romero. Três de seus filhos, Angel, Celin e Pepe tocavam com o pai desde os sete anos, formando o Quarteto. Então, eles desenvolveram certa experiência… Em 1957, já tinham ido para os EUA. Não gostavam muito de Franco. Moram lá até hoje. Em 1990, Angel deixou o quarteto, sendo substituído pelo filho de Celin, Celino. Celedonio Romero morreu em 1996. Entrou em seu lugar o filho de Angel, Lito.

Vamos à música. O Quarteto é requintado. São donos de uma habilidade e de uma competência extraordinária. Neste post temos a formação original, ainda com Celedonio. O fato é que é um CD muito bom. O repertório é maravilhoso — Vivaldi, Torroba, Scarlatti, Rodrigo (Concerto de Aranjuez e etc), Bizet (Carmen) entre outros, com obras originais para violão (ou violões) e transcrições. Boa apreciação!

Los Romeros – Celebração do Jubileu de Ouro

DISCO 01

Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741)
Concerto para 4 violões in B menor, RV 580
*
01. Allegro
02. Largho Larghetto
03. Allegro

Celedonio Romero (1913-1996)
Noche en Málaga

04. Noche en Málaga
Romantic Prelude
05. Romantic Prelude

Francisco Moreno Torroba (1891-1982)
Sonatina trianera

06. Torroba – Sonatina trianera

Domenico Scarlatti (1685-1757)
Sonata in G major, Kk 391

07. Sonata in G major, Kk 391

Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741)
Concerto em C maior para violão, RV 425*
08. Allegro
09. Largo
10. Allegro

Enrique Granados (1867-1916)
Intermezzo (Goyescas)

11. Intermezzo (Goyescas)

Joaquín Rodrigo (1901-1999)
Concerto Madrigal
**
12. Fanfarre (Allegro marziale)
13. Madrigal (Andante nostálgico)
14. Entrada (allegro vivace)
15. Pastorcito (Allegro vivace)
16. Girardilla (Presto)
17. Pastoral (Allegro)
18. Fandango
19. Arieta (andante nostálgico)
20. Zapateado (Allegro vivace)
21. Caccia a la española ( Allegro…)

DISCO 02

Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741)
Concerto para 2 violões em G maior, RV 532*
01. Allegro
02. Andante
03. Allegro

Manuel de Falla (1876-1946) El Sombrero de tres picos
04. Danza del corregidor
05. Danza del molinero

Joaquín Rodrigo (1901-1999)
Concerto de Aranjuez*
06. Allegro con spirito
07. Adagio
08. Allegro gentile

Georges Bizet (1838-1875)
Suíte da Ópera Carmen

09. Prélude
12. Séguedille
13. Chanson bohème
14. Entr’acte
15. Chanson du toreador

Joaquín Rodrigo (1901-1999)
Concerto Andaluz**
16. Tiempo de Bolero
17. Adagio
18. Allegretto

* San Antonio Symphony Orchestra
Victor Alessandro, regente
** Academy of St Martin in the Fields
Sir Neville Marriner, regente

Angel Romero, violão
Caledonio Romero, violão
Celin Romero, violão
Pepe Romero, vilão
Angelita Romero castanhetas in
Sonatine trianera, El sombrero de tres picos and Carmen Suite

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Uma das várias formações da Família Romero
Uma das várias formações da Família Romero

Carlinus / PQP

De Falla (1876-1946): Concierto para Clave – Orbón (1925-1991): 3 Cantigas del Rey; Partitas – Arauxo (1584-1654): Tiento – Selma y Salaverde (1595-1636): canzone, danze. Rafael Puyana, Heather Harper.

BISCOITO FINO, senhores! Fino e incomum. É até difícil escolher por qual aspecto começar a falar deste que talvez seja o mais ciumentamente conservado entre os vinis do Monge Ranulfus – então comecemos justamente pelo desafio que foi a digitalização.

É espantoso, antes de mais nada, que tão tremendo material nunca tenha sido relançado em formato digital, com remasterização profissional. Nossa luta para recuperar o conteúdo foi inglória: toda tentativa de reduzir o rumble de fundo resultou em distorção grotesca dos timbres, e até sumiço de notas essenciais. O que os senhores têm em mãos é portanto apenas uma “fotografia” de uma audição de vinil, onde há uma discreta porém contínua nota que os compositores não escreveram, introduzida pela mecânica do equipamento – além de algumas fantasmagorias eletroeletrônicas, que sequestrariam integralmente o som do cravo caso fossem removidas, especialmente na bela faixa 14. Espero que me perdoem porque poderia ser pior: poderíamos não ter essa música ao alcance!

A capa proclama orgulhosamente que, exceto o concerto de De Falla, todas as faixas são “primeiras gravações mundiais”. É uma produção complexa, envolvendo diferentes grupos de músicos, inclusive dois regentes de renome, tendo em comum apenas o cravista Rafael Puyana – por isso espanta que a Philips holandesa não tenha registrado local nem data das gravações, nem do lançamento. Podemos apostar em 1963 ou 64 apenas porque as “Partitas” de Julián Orbón aparecem sem numeração – e em sua lista de obras se encontram “Partitas nº 1” de 1963, e “Partitas nº 2” já de 1964.

Rafael Puyana, de certa forma o star da produção – não sem razão, mesmo se em boa parte do disco o cravo não é solista -, nasceu na Colômbia em 1931. Estreou como pianista aos 13 anos, foi estudar em Boston aos 16, e aos 19 estava em Paris, como aluno de cravo de ninguém menos que Wanda Landowska, e de composição da onipresente Nadia Boulanger.

O disco se abre com o paradoxal monumento que é o Concerto para Cravo, Flauta, Oboé, Clarinete, Violino e Violoncelo – composto por de Falla em 1926 e dedicado precisamente a Madame Landowska. Paradoxal porque atinge o lirismo através de aspereza e energia frenética, quase a patadas, e a monumentalidade em meros 13 minutos – e justamente por isso é um monumento. Se, como disse José Miguel Wisnik, A Sagração da Primavera for “heavy metal de luxo”, pra mim isto será “heavy metal de luxo de câmara, cool e cult” – algo assim.

Em contraste, o lado B traz música espanhola da renascença ou barroco inicial: um Tiento de Francisco Correa de Arauxo para teclado solo, e o resto são “canções” e danças instrumentais compostas ou arranjadas em contraponto pelo frei Bartolomé de Selma y Salaverde. Pense 1963, e verá que esse foi um trabalho pioneiro, anterior à prevalência dos instrumentos de época, mas feito com suficiente garra e bossa para não me soar inautêntico. O destaque vai para a faixa 14 (com perdão dos seus ruídos inexorcizáveis), onde os ‘due tenori’ que dialogam são feitos por um fagote moderno e por uma dulciana – de mesma tessitura, porém de timbre mais recolhido – num possível símbolo da passagem de bastão que se daria na abordagem à música antiga nas décadas seguintes.

Finalmente, Julián Orbón: nascido na Espanha, fez o trajeto inverso a Puyana: aos 18 anos veio morar em Cuba, com a família também de músicos. Depois terminou se instalando nos EUA, onde foi alvo de altos elogios de Copland, com quem teve aulas. Nas Tres Cantigas del Rey o cravo e um quarteto de cordas dialogam de modo contemporâneo com as Cantigas de Santa Maria atribuídas a Dom Alfonso X, “el sabio”, rei de Castela, sendo os textos, no entanto, não em castelhano e sim em galego-português arcaico – dos mais antigos documentos da nossa língua, portanto. O resultado? Ouçam vocês mesmos. Comento apenas que minha preferida é a segunda.

Quanto às suas Partitas para cravo solo, tomei a liberdade de deslocar do final do lado A para o final geral do programa – pois para mim isso é música pra lá de séria. De uma profundidade introspectiva que exige silêncio depois, e não danças saltitantes. E afirma Orbón, para mim, como um compositor maiúsculo, substancial, que não era pra estar entre os “etcétera”, como se encontra agora. Quer dizer: qualquer pista para mais de Julián Orbón será bem-vinda!

Manuel de Falla (1876-1946): Concierto para Clave y cinco instrumentos (1926)
01 Allegro  03’15
02 Lento (giubiloso ed energico)  05’53
03 Vivace (fessibile, scherzando)  04’04

Julián Orbón (1925-1991): Tres Cantigas del Rey (1960)
04 A creer devemos que todo pecado (cantiga 65)  02’09
05 A Virgen en que é toda santidade (cantiga 134)  03’44
06 Resurgir pode et fazel os seus vivel (cantiga 133)  01’23

Fray Bartolomé de Selma y Salaverde (~1595 – ~1636)
07 Canzona a 4 (sopra Bataglia)  04’37

Francisco Correa de Arauxo (1584-1654)
08 Quinto Tiento de séptimo tono (cravo solo)  04’00

Fray Bartolomé de Selma y Salaverde (~1595 – ~1636)
09 Gagliarda a 2  01’40
10 Canzona per soprano solo  03’11
11 Balletto a 2 e a 3  01’57
12 Corrente a 3  00’35
13 Corrente a 4  01’00
14 Canzona a 3 (due tenori e basso)  04’06

Julián Orbón (1925-1991)
15 Partitas nº 1 (cravo solo) (1963)  09’37

  • Rafael Puyana, cravo
  • David Sandeman, Neil Black, Thea King, Raymond Cohen, Terence Weil, com direção de Charles Mackerras (faixas 01 a 03)
  • Heather Harper, soprano; London Symphony String Quartet; direção de Antal Dorati (faixas 04 a 06)
  • David Munrow, flauta doce e dulciana. Deirdre Dundas-Grant, fagote. Raymond Cohen, Nona Liddell, violinos. Patrick Ireland, viola. Terence Weil, violoncelo. Oliver Brookes, violone. Stephen Whittaker, percussão (faixas 07 a 14)

.  .  .  .  .  .  BAIXE AQUI – download here (MP3 320 kbps)

Ranulfus