Esta coleção de sonatas para violino solo de Ysaÿe, mostra um desempenho impressionante de algumas das músicas mais difíceis do repertório erudito. Os modelos reconhecíveis de Ysaÿe foram Bach e Paganini, mas sua inspiração veio alegadamente de seis amigos e colegas a cujas sonatas são dedicadas e especialmente concebidas para seus dons interpretativos. Ysaÿe era violinista, claro, e derramou sobre estas sonatas seu conhecimento do violino e de seus recursos. Mas é também é música de primeira linha. Thomas Zehetmair recupera a tais músicas num grande CD que existe graças à ECM. Destaque para a Sonata Nº 2, onde o autor ter realiza uma brilhante “desconstrução” de uma Sonata de Bach para o mesmo instrumento solo. Este grande CD foi “Editor’s Choice” da Gramophone. Não deixe de conferir.
Eugène Ysaÿe (1858-1931): Sonatas for Violin Solo, Op. 27 (Zehetmair)
1. Sonata No.1 in G minor (for Joseph Szigeti) – 1. Grave
2. Sonata No.1 in G minor (for Joseph Szigeti) – 2. Fugato
3. Sonata No.1 in G minor (for Joseph Szigeti) – 3. Allegretto poco scherzoso
4. Sonata No.1 in G minor (for Joseph Szigeti) – 4. Finale con brio
5. Sonata No.2 in A minor (for Jacques Thibaud) – 1. Obsession
6. Sonata No.2 in A minor (for Jacques Thibaud) – 2. Malinconia
7. Sonata No.2 in A minor (for Jacques Thibaud) – 3. Danse des ombres
8. Sonata No.2 in A minor (for Jacques Thibaud) – 4. Les furies
9. Sonata No.3 in D minor ‘Ballade’ (for George Enescu)
10. Sonata No 4 in E minor (for Fritz Kreisler) – 1. Allemanda
11. Sonata No 4 in E minor (for Fritz Kreisler) – 2. Sarabande
12. Sonata No 4 in E minor (for Fritz Kreisler) – 3. Finale
13. Sonata No.5 for G major (for Mathieu Crickboom) – 1. L’Aurore
14. Sonata No.5 for G major (for Mathieu Crickboom) – 2. Danse rustique
15. Sonata No.6 in E major (for Manuel Quiroga)
Thomas Zehetmair, violin
Recording: September 2002, Propstei St. Gerold, Austria
Esta música foi publicada por Ysaye em 1924. Conforme discutido nas notas, cada sonata foi dedicada a um violinista contemporâneo. Se você gosta das Sonatas e Partitas para violino solo de Bach, há uma boa chance de que você goste desta música. A música é tecnicamente muito desafiadora para o violinista e Kaler parece não ter dificuldades com ela. São obras diabolicamente difíceis, tanto técnica quanto musicalmente, então acho que nunca a ouvi tocada como deveria ser até ouvir esta gravação. Uma revelação! As Sonatas de Ysaye são algumas das músicas mais belas e comoventes já escritas. Se você não gostar desta gravação de Ilya Kaler, então você simplesmente não gosta destas peças, até porque acho que ninguém poderia tocá-las melhor. As seis sonatas solo de Ysaÿe representam uma espécie de Everest violinístico, abrangendo literalmente todos os aspectos de técnica e musicalidade do instrumento. Poucos violinistas as tocam (ou já tocaram). Ilya Kaler é um que o faz. Nenhuma obstáculo é contornado na apresentação de cada sonata, tudo emerge com uma importância impressionante, uma mudança refrescante da maioria das outras execuções em que o violinista atinge todas as notas e não muito mais.
Eugène Ysaÿe (1858-1931): 6 Sonatas for Solo Violin, Op. 27 (Kaler)
Sonata for Solo Violin in G Minor, Op. 27, No. 1
1 I. Grave 04:53
2 II. Fugato 04:20
3 III. Allegretto poco scherzoso 05:04
4 IV. Finale: Con brio 02:23
Sonata for Solo Violin in A Minor, Op. 27, No. 2
5 I. Prelude, “Obsession”: Poco vivace 02:25
6 II. Malinconia: Poco lento 03:14
7 III. Sarabande, “Danse des ombres”: Lento 04:22
8 IV. Les furies: Allegro furioso 02:49
Sonata for Solo Violin in D Minor, Op. 27, No. 3, “Ballade”
9 Sonata for Solo Violin in D Minor, Op. 27, No. 3, “Ballade” 07:34
Sonata for Solo Violin in E Minor, Op. 27, No. 4
10 I. Allemande: Lento maestoso 05:56
11 II. Sarabande: Quasi lento 03:29
12 III. Finale: Presto ma non troppo 03:19
Sonata for Solo Violin in G Major, Op. 27, No. 5
13 I. L’aurore: Lento assai 05:01
14 II. Danse rustique: Allegro giocoso molto moderato 05:06
Sonata for Solo Violin in E Major, Op. 27, No. 6
15 Sonata for Solo Violin in E Major, Op. 27, No. 6 07:56
Os conturbados anos sessenta foram um turbilhão para Martha. Depois dum breve período a morar sozinha, longe do jugo da mãe, a viver la vida loca em Viena, desiludiu-se com a carreira de concertista e cogitou de tudo, até estudar Medicina (!). Insegura sobre sua capacidade como artista, resolveu dar um tempo ao piano e mudou-se para Nova York.
Martha soube que sua gravação da Rapsódia Húngara no. 6 impressionara Volodya e achou que isso seria credencial bastante para tornar-se aluna do ídolo. Enganou-se: nunca se encontraram e, para desnortear ainda mais seus rumos, ela viu-se grávida de sua primeira filha, Lyda.
Depois de três anos sem tocar, Martha retornou ao piano. Seu objetivo é o Concurso Internacional Chopin, em Varsóvia, em 1965.
Logo na primeira etapa da competição, ficou óbvio que seu maior concorrente seria o brasileiro Arthur Moreira Lima, aluno do Conservatório de Moscou, que conquistou o público com suas interpretações e com sua semelhança física com o próprio Chopin, de quem se tornaria um dos mais distintos intérpretes. Arthur venceu a primeira etapa, Martha, as duas seguintes, e na grande final, com sua interpretação do concerto em Mi menor, ela acabou por conquistar o primeiro prêmio.
Ei-los
O resto, como dizem, é história.
ooOoo
A década de Martha, no entanto, começou numa posição até então inédita: a de camerista. Como nada em sua carreira indicara, até então, a importância que a música de câmara teria para os anos de sua maturidade, presumo que foram as prementes necessidades de juntar dinheiro e de afastar-se das saias de Juanita, sua mãe, que a levaram à União Soviética para duas apresentações em Leningrado (atual São Petersburgo). Ainda mais inusitado que o local foi seu parceiro de palco: o violinista Ruggiero Ricci (1918-2012), nascido Woodrow Wilson Rich (!) na Califórnia e, vinte e três anos mais velho que Martha, já mundialmente famoso. Quem não o soubesse percebê-lo-ia rapidamente pelo predomínio de peças repletas de pirotecnias para violino, algumas delas a dispensarem o piano – incluindo as cabeludíssimas variações de Paganini sobre “Nel cor non più me sento”, que estão entre as coisas mais difíceis jamais escritas para o instrumento. Exceto pelas duas sonatas do jovem Beethoven e por aquela de Franck – que ela viria a tocar com praticamente todo violinista com que fizesse duo -, o papel da Rainha resume-se a acompanhar o astro do arco em partes frugais, como a da peça de Sarasate ou a célebre sonata de Tartini. A dupla improvável, no entanto, deu liga tanto no palco quanto fora deles: Ricci não só seria seu amigo por toda longa vida (ei-los em 2009, nos noventa anos do mestre!), como também demonstrou inúmeras vezes orgulho de ter proporcionado à futura estrela seus primeiros passos fora da germanosfera.
1 – Anúncio (em russo)
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Das Três sonatas para violino e piano, Op. 12: Sonata no. 3 em Mi bemol maior 2 – Allegro con spirito
3 – Adagio con molta espressione
4 – Rondo: Allegro molto
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953) Sonata em Ré maior para violino solo, Op. 115 5 – Moderato
6 – Andante dolce. Tema con variazioni
7 – Con brio. Allegro precipitato
Béla Viktor János BARTÓK (1881-1945) Sonata em Ré maior para violino e piano sobre canções folclóricas da Transilvânia
Arranjo da sonatina para piano, Sz. 55 (1915) por André Gertler (1907-1998)
8 – Dudások (gaitas de foles). Allegretto
9 – Medvetánc (dança do urso). Moderato
10 – Finale. Allegro vivace
Sonata para violino solo, Sz. 117
11 – Tempo di ciaccona
12 – Fuga: Risoluto, non troppo vivo
13 – Melodia: Adagio
14 – Presto
Pablo Martín Melitón de SARASATE y Navascués (1844-1908) Introdução e tarantela para violino e piano, Op. 43
15 – Introduction: Moderato – Tarantella: Allegro vivace
Ruggiero Ricci, violino
Gravado ao vivo em Leningrado, União Soviética, em 21 de abril de 1961
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Da Partita para violino solo no. 2 em Ré menor, BWV 1004: 1 – Ciaconna
Ludwig van BEETHOVEN Das Três sonatas para violino e piano, Op. 12:
Sonata no. 1 em Ré maior 2 – Allegro con brio
3 – Tema con variazioni: Andante con moto
4 – Rondo: Allegro
César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert FRANCK (1822-1890) Sonata em Lá maior para violino e piano 5 – Allegretto ben moderato
6 – Allegro
7 – Ben moderato: Recitativo-Fantasia
8 – Allegretto poco mosso
Béla BARTÓK
Danças folclóricas romenas, para violino e piano
Transcrição do original para piano (Sz. 56) por Zoltán Székely (1903-2001)
9 – Jocul cu bâtă (Allegro moderato) – Brâul (Allegro) – Pe loc (Andante) – Buciumeana (Moderato) – Poarga Românească (Allegro) – Mărunțel
Niccolò PAGANINI (1782-1840)
10 – Introdução e variações sobre “Nel cor non più me sento”, de “L’amor contrastato”, de Giovanni Paisiello, para violino solo, Op. 38
Giuseppe TARTINI (1692-1770) Sonata para violino em Sol menor, “O Trilo do Diabo” (arranjo para violino e piano)
11 – Larghetto – Affettuoso
12 – Allegro
13 – Grave – Allegro assai
Gravado ao vivo em Leningrado, União Soviética, em 21 de abril de 1961
Tomo a liberdade de quebrar a ordem mormente cronológica dessa discografia para, com um salto de dezoito anos, mostrar-lhes o lugar especial que Ruggiero e Martha mantiveram na vida um do outro. Por ocasião do jubileu de ouro da carreira de Ricci, ele apresentou-se no mesmo Carnegie Hall em que estreara aos onze anos, e convidou a velha amiga – agora consagrada como a deusa maior do piano – para dividir o palco consigo. Em alusão, talvez, aos recitais de Leningrado, eles tocaram novamente a sonata de Franck e concluíram a colaboração com o arranjo para violino da bela sonata para flauta de Prokofiev, que Martha já gravara com James Galway. Como sobremesa, o sessentão Ruggiero serviu dois números cabeludos – a mais exigente das sonatas de Ysaÿe e as impressionantes variações de Paganini sobre o hino britânico – e encerrou a noite com uma refrescante gavota de Sebastião Ribeiro.
César FRANCK
1-4 – Sonata em Lá maior para violino e piano
Sergey PROKOFIEV Sonata em Ré maior para violino e piano, Op. 94a
5 – Moderato
6 – Scherzo: Presto
7 – Andante
8 – Allegro con brio
Eugène-Auguste YSAŸE (1858-1931) Das Seis sonatas para violino solo, Op. 27 9 – No. 3 em Ré menor, “Ballade”
Niccolò PAGANINI
10 – Variações sobre “God Save The King”, para violino solo, Op. 9
Johann Sebastian BACH
Da Partita para violino solo no. 3 em Mi maior, BWV 1006 11 – Gavotte en rondeau
Ruggiero Ricci, violino
Gravado ao vivo em Nova York, Estados Unidos, em 20 de outubro de 1979
Voltamos para a década de 60, e quase quatro anos depois de Martha voltar da turnê soviética com Ricci. Três deles foram passados completamente longe de qualquer teclado, boa parte deles em Nova York, tentando encontrar Horowitz e achar um novo rumo para sua vida, e outro bom naco desse tempo na Suíça, onde nasceria Lyda, sua primogênita. O entrevero entre nossa Rainha e seu instrumento – ou, mais acuradamente, entre ela e a vida de pianista – acabou graças à participação decisiva de Stefan Askenase, que lhe deu aulas e restituiu sua autoconfiança, e da esposa dele, Anny, que estimulou Marthinha a preparar-se para o Concurso Internacional Chopin de 1965. As Kinderszenen que abrem o upload seguinte, gravadas ao vivo em Colônia, são o primeiro registro de que se tem notícia da Rainha a tocar dessa coleção que lhe é tão cara que, hoje em dia, é praticamente a única coisa que ela toca sozinha no palco. Completam o arquivo um Gaspard de la Nuit despachado da costumeira e assombrosa maneira, aquela gravação do scherzo de Chopin que muitos de vocês já viram, feita para a televisão polonesa imediatamente após o triunfo no Concurso Chopin, e o primeiro registro de Martha a tocar aquele seu familiar cavalo de batalha, o terceiro concerto de Prokofiev.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
1 – Kinderszenen, para piano, Op. 15
Joseph Maurice RAVEL (1875-1937) Gaspard de la nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand), M. 55 2 – Ondine
3 – Le Gibet
4 – Scarbo
Gravado ao vivo em Colônia, Alemanha Ocidental, em 27 de janeiro de 1965
Fryderyk Francyszek CHOPIN (1810-1849)
5 – Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39
Gravado em Varsóvia, Polônia, em março de 1965
Sergey PROKOFIEV Concerto para piano e orquestra no. 3 em Dó maior, Op. 26 6 – Andante – Allegro
7 – Tema con variazioni
8 – Allegro ma non troppo
WDR Sinfonieorchester Köln
Karl Melles, regência
Gravado ao vivo em Colônia, Alemanha Ocidental, em 10 de dezembro de 1965
Apresento-lhes agora todas as gravações que consegui recolher da trajetória de Martha no VII Concurso Internacional Chopin, em 1965 (e, a despeito de muito vasculhar a cyberesfera, nunca encontrei o estudo do Op. 25 que dizem que ela tocou). Elas deixam óbvio por que nossa Rainha conquistou o júri, atacando o teclado com a fúria e a paixão habituais, sem medo de correr riscos (ao que abdicam muitos participantes de concursos pianísticos). O mais impressionante, talvez, é que não fosse a qualidade medíocre do som, poderíamos jurar que as performances são de anteontem, tamanha era a maturidade da artista, então com 23 anos, e tão espetacular que é sua técnica hoje, depois dos oitenta.
PRIMEIRA ETAPA – 22 de fevereiro de 1965
1 – Apresentação (em polonês)
Fryderyk CHOPIN
Dos Três noturnos para piano, Op. 15
2 – No. 1 em Fá maior
Dos Doze estudos para piano, Op. 10:
3 – No. 1 em Dó maior
4 – No. 4 em Dó sustenido menor
Polonaise para piano em Lá bemol maior, Op. 53, “Heroica” 5 – Maestoso
Dos Vinte e quatro prelúdios para piano, Op. 28
6 – No. 19 em Mi bemol maior
7 – No. 20 em Dó menor
8 – No. 21 em Si bemol maior
9 – No. 22 em Sol menor
10 – No. 23 em Fá maior
11 – No. 24 em Ré menor
Para a grande final, Arthur e Martha escolheram concertos diferentes – ambos, felizmente, lançados pela primeira vez numa remasterização decente, publicada pelo Instituto Fryderyk Chopin, e que ora lhes apresento, tanto para lembrar o triunfo da Rainha, como também para homenagear nosso compatriota, um magnífico chopinista. A título de curiosidade, aponto que quase todos os vencedores do Concurso tocaram na final o concerto em Mi menor – o último a triunfar com o concerto em Fá menor foi Đặng Thái Sơn em 1980, edição que se celebrizou pela intempestiva saída de nossa deusa do júri, em protesto à eliminação a seu ver injustificada de Ivo Pogorelić, a quem chamou de “gênio”.
Fryderyk CHOPIN
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
1 – Allegro maestoso
2 – Romance. Larghetto
3 – Rondo. Vivace
Martha Argerich, piano
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Fá menor, Op. 21
4 – Maestoso
5 – Larghetto
6 – Allegro vivace
Arthur Moreira Lima, piano
Orkiestra Filharmonii Narodowej w Warszawie (Orquestra Filarmônica Nacional de Varsóvia) Witold Rowicki, regência
Gravações feitas ao vivo na Sala Filarmônica de Varsóvia, Polônia, durante o VII Concurso Internacional Fryderyk Chopin
Trailer do documentário “Martha Argerich in Warsaw 1965”, que aborda o marco zero do nascimento da superestrela. Notem a participação de Arthur Moreira Lima, um excelente artista que, convenhamos, teve pouca sorte de disputar a primazia na competição com uma das melhores pianistas de todos os tempos.
Programa original da participação de Martha no VII Concurso Internacional Chopin, em 1965. Notem que há diferenças entre o programa previsto e aquele realmente executado, mais notavelmente o concerto da etapa final.
Ao triunfo no Concurso Chopin só poderia, naturalmente, se seguir demanda por mais Chopin. A EMI agiu rápido e trouxe a Rainha a Londres, onde colocou a serviço de Sua Majestade Marthínhica seus ótimos estúdios e excelentes engenheiros de som. Para profunda decepção dos ingleses, no entanto, um contrato que se descobriu vigente com a Polygram impossibilitou o lançamento da gravação, que só veio a público em 1999. Como atesta o depoimento a seguir, de Suvi Raj Grubb, que produziu o álbum, a espera valeu a pena:
“’Argerich foi, entre todos músicos, a mais formidável que já encontramos’, escreve o produtor do álbum, Suvi Raj Grubb, ‘Nada estava fora do alcance dessa mulher’ (…)”
“Quando comecei a me interessar por música, levei algum tempo para me acostumar com o piano. Mas, quando entrei na EMI (agora Warner Classics), eu já adorava música para piano e tinha muito conhecimento sobre ela. Assim, sempre que um novo pianista aparecia, eu era a primeira escolha como produtor.”
“Em 1966, eu já produzira um punhado de discos de piano, um dos melhores dos quais nunca viu a luz do dia. Quando Martha Argerich entrou no estúdio, foram seus olhares sombrios e ardentes que me impressionaram pela primeira vez. Assim que chegou, pediu café; quando lhe ofereci uma xícara, ela a engoliu de uma só vez e pediu mais. Sentei-a no estúdio com um grande bule de café e entrei na sala de controle.”
“No início, suas mãos se moviam despreocupadamente sobre o teclado enquanto ela testava o piano. Então ela despejou a Polonaise [Op.53] de Chopin. Sentei-me na minha cadeira com um longo ‘Jee-sus’ – e o engenheiro de som disse ‘Uau!'”
“Se isso fora uma amostra de seu pianismo, então Argerich era a pianista mais formidável que já encontráramos. Os grandes acordes soaram enormes, as passagens entre eles, limpas; no trio, um grande espetáculo, as difíceis passagens em oitava à esquerda eram equilibradas, e o crescendo, controlado. Dei uma espiada no estúdio para ter certeza de que essa torrente de som era realmente originária do toque de uma garota sentada ao piano. Foi verdadeiramente inacreditável.”
“Sorri ao lembrar do comentário de Clara Schumann a Brahms sobre as ‘Variações Paganini’, lamentando que estivesse além da capacidade de uma pianista. Nada estaria fora do alcance daquela mulher.”
“Ela entrou na sala de controle, olhou para mim e sorriu, pois sabia que tivera um impacto devastador sobre mim. Nos dias seguintes, energizada por galões de café preto e forte, ela terminou um recital de Chopin que incluía a terceira sonata, o terceiro scherzo e, modelados como joias em miniatura, um grupo de mazurcas e noturnos. O último movimento da sonata foi feito num só take impecável. Ela disse que gostou das sessões; que gostou do som do piano no disco e que estava ansiosa para trabalhar comigo novamente.”
“Para minha amarga decepção, soubemos algumas semanas depois que seu compromisso com outra empresa não nos permitiria publicar o disco e, nem pela primeira nem pela última vez, desejei que não houvesse cláusulas de exclusividade. No devido tempo, um disco com o mesmo repertório foi lançado pelos nossos rivais – quando o ouvi, soube que nossa Argerich era a melhor das duas.”
Certeza de que era.
Fryderyk CHOPIN
Sonata para piano no. 3 em Si menor, Op. 58
1 – Allegro maestoso
2 – Scherzo: Molto vivace
3 – Largo
4 – Finale: Presto non tanto
Três mazurcas para piano, Op. 59 5 – No. 1 em Lá menor
6 – No. 2 em Lá bemol maior
7 – No. 3 em Fá sustenido menor
Dos Três noturnos para piano, Op. 15
8 – No. 1 em Fá maior
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39 9 – Presto con fuoco
Polonaise para piano em Lá bemol maior, Op. 53, “Heroica” 10 – Maestoso
A alta demanda do planeta por sua nova superestrela do piano deu poucas oportunidades a Martha para ampliar seu repertório. Assim, às peças que ela preparara para o concurso Chopin, somaram-se aquelas que ela já aprendera antes de seus três anos sabáticos. O rol de obras resultante repete-se em quase todas as gravações até o final da década, que hemos de apresentar a seguir, e sem maiores comentários, que resultariam necessariamente repetitivos. Limitamo-nos a apontar, como adições mais notáveis ao repertório da Rainha, a impressionante Fantasia de seu queridinho Schumann, a toccata em Dó menor de J. S. Bach e, de Chopin, o outro queridinho, o segundo scherzo e a transcendental Polonaise-Fantaisie – além do já citado terceiro concerto de Prokofiev e dos primeiros concertos de Tchaikovsky e Liszt, já publicados anteriormente aqui no PQP Bach.
Sergey PROKOFIEV Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83 1 – Allegro inquieto – Poco meno – Andantino
2 – Andante caloroso – Poco più animato – più largamente – Un poco agitato
3 – Precipitato
Franz LISZT (1811-1886)
Dos Três estudos de concerto para piano, S. 144:
4 – No. 2 em Fá menor, “La leggierezza”
Fryderyk CHOPIN
Dos Doze estudos para piano, Op. 10:
5 – No. 4 em Dó sustenido menor
Dos Três noturnos para piano, Op. 15
6 – No. 1 em Fá maior
Barcarola em Fá sustenido maior, Op. 60 7 – Allegretto
Três mazurcas para piano, Op. 59 8 – No. 1 em Lá menor
9 – No. 2 em Lá bemol maior
10 – No. 3 em Fá sustenido menor
Scherzo para piano no. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39 11 – Presto con fuoco
Robert SCHUMANN Fantasia em Dó maior para piano, Op. 17 12 – Durchaus fantastisch und leidenschaftlich vorzutragen; Im Legenden-Ton
13 – Mäßig. Durchaus energisch
14 – Langsam getragen. Durchweg leise zu halten
Gravado ao vivo no Carnegie Hall, Nova York, Estados Unidos, em 16 de janeiro de 1966
Fryderyk CHOPIN 1-3 –Três mazurcas para piano, Op. 59
Sergey PROKOFIEV
4-6 – Sonata para piano no. 7 em Si bemol maior, Op. 83
Toccata para piano em Ré menor, Op. 11
7 – Allegro marcato
Maurice RAVEL
8-10 – Gaspard de la nuit, três poemas para piano após Aloysius Bertrand, M. 55
Sergey PROKOFIEV Sonata para piano no. 3 em Lá menor, Op. 28
11 – Allegro tempestoso – Moderato – Allegro tempestoso – Moderato – Più lento – Più animato – Allegro I – Poco più mosso
Maurice RAVEL
Sonatina para piano em Fá sustenido menor, M. 40 12 – Modéré
13 – Mouvement de Menuet
14 – Animé
Gravado em Colônia, Alemanha Ocidental, outubro de 1967
Os ebulientes concertos em Sol de Ravel e o no. 3 de Prokofiev, naquelas que são talvez suas gravações definitivas, sob a batuta de Claudio Abbado (1967)
Arrisco dizer que Oscar Shumsky (1917-2000) é o menos ouvido dos grandes violinistas do século passado. Sua longa e intensa dedicação à carreira pedagógica certamente contribuiu para essa relativa obscuridade: foram décadas ensinando no Curtis Institute de Filadélfia, em Yale e na Juilliard School, até que voltasse aos palcos e estúdios em 1981, sob intensa aclamação.
Apesar de ter nascido na Filadélfia, o pedigree musical de Shumsky é inteiramente europeu: filho de judeus russos, aluno do húngaro Leopold Auer (aquele mesmo que esnobou o Concerto para violino de Tchaikovsky e que foi professor de Heifetz no Conservatório de São Petersburgo) e, depois, do russo Efrem Zimbalist no Curtis Institute. Criança-prodígio, foi chamado por Stokowski (com quem estreou aos sete anos de idade) de “o mais espantoso gênio” que já ouvira. Ao contrário de muitos prodígios, sua carreira adulta correspondeu às expectativas, e foi um artista extremamente ativo e requisitado durante toda a vida.
As Sonatas para violino solo do belga Ysaÿe, concebidas como retratos musicais de violinistas amigos do compositor, são tão atraentes quanto horrendamente difíceis. A nobreza e habilidade com que Shumsky incorpora as enormes dificuldades técnicas ao fluxo sonoro certamente hão de atrair os leitores-ouvintes para o rol de seus fãs.
Eugène-Auguste YSAYE (1858-1931)
SEIS SONATAS PARA VIOLINO SOLO, Op. 27
Sonata no. 1 em Sol menor (para Joseph Szigeti)
01 – Grave
02 – Fugato
03 – Allegretto poco scherzoso
04 – Finale. Con brio
Sonata no. 2 em Lá menor (para Jacques Thibaud)
05 – Obsession
06 – Malinconia
07 – Danse des ombres
08 – Les furies
Sonata no. 3 em Ré menor, ‘Ballade’ (para George Enescu)
09 – Ballade: Lento molto sostenuto – Allegro in tempo giusto e con bravura
Sonata no. 4 em Mi menor (para Fritz Kreisler)
10 – Allemanda
11 – Sarabande
12 – Finale
Sonata no. 5 em Sol maior (para Mathieu Crickboom)
Um bom disco. Este foi o primeiro de Baiba Skride. É de 2004. O folheto proclama que essas três obras seriam “manifestos solo”, não só para Skride mostrar suas credenciais ao mundo, mas também para os próprios compositores. Mais ou menos, né? Na verdade, há uma conexão que liga as três obras, sendo Bach o suporte tanto para Ysaÿe quanto Bartók. Baiba gravou este CD quando tinha apenas 23 anos. Suas abordagens são ótimas, mas ainda ficam longe de Beyer e Podger. Sobra técnica, falta emoção, tanto no Bach quanto no Ysaÿe. Ela não chega ao coração, fica só rondando. Maturidade vem com o tempo, né? Ela vai melhor no Bartók, talvez mais próximo da origem eslava (Riga, Letônia) da violinista. Por exemplo, Skride toca a Sonata de Bartók melhor do que David Grimal, postado ontem. Mas perde fácil para Frang. Confiram! Baiba toca um Stradivarius “Wilhelmj” de 1725.
Bach, Ysaÿe, Bartók: Partita Nº 2 e Sonatas para Violino Solo
Johann Sebastian Bach
1. Allemanda – Partita No. 2 in D minor For Violin Solo, BWV 1004 (5:15)
2. Corrente – Partita No. 2 in D minor For Violin Solo, BWV 1004 (2:47)
3. Sarabanda – Partita No. 2 in D minor For Violin Solo, BWV 1004 (4:21)
4. Giga – Partita No. 2 in D minor For Violin Solo, BWV 1004 (4:07)
5. Ciaconna – Partita No. 2 in D minor For Violin Solo, BWV 1004 (16:30)
Eugène Ysaÿe
6. Grave – Sonata No. 1 In G minor For Violin Solo, Op. 27\1 (5:39)
7. Fugato – Sonata No. 1 In G minor For Violin Solo, Op. 27\1 (4:37)
8. Allegretto poco scherzoso – Sonata No. 1 In G minor For Violin Solo, Op. 27\1 (4:29)
9. Finale con brio – Sonata No. 1 In G minor For Violin Solo, Op. 27\1 (2:36)
Béla Bartók
10. Tempo di ciaconna – Sonata For Violin Solo (1944) (10:05)
11. Fuga – Sonata For Violin Solo (1944) (4:49)
12. Melodia – Sonata For Violin Solo (1944) (7:30)
13. Presto – Sonata For Violin Solo (1944) (5:12)
Eugène Ysaÿe foi o extravagante sucessor de Wieniawski na tradição francesa de virtuosismo violinístico. No entanto, ele se elevou a um novo patamar – o de bom compositor — com suas seis sonatas para violino solo de 1924. Cada sonata é dedicada a uma das estrelas em ascensão da nova geração de virtuosos e o trabalho seria uma resposta do século XX para o Seis Sonatas e Partitas para violino solo de Bach… As duas obras para violino e piano nesta gravação estão numa vertente menos virtuosa e datam de cerca de trinta anos antes. Rêve d’enfant é uma canção de ninar e combina curto concurso no espírito de Fauré, enquanto o Élégiaque Poème nos dá uma curiosa mistura de Fauré com Wagner.
Eugène Ysaÿe (1858-1931): Obras para Violino
1. Sonata No.1 in G minor – I. Grave. Lento assai
2. Sonata No.1 in G minor – II. Fugato. Molto moderato
3. Sonata No.1 in G minor – III. Allegretto poco scherzoso. Amabile
4. Sonata No.1 in G minor – IV. Finale con brio. Allegro fermo
5. Sonata No.2 in A minor – I. Obsession Prelude. Poco vivace
6. Sonata No.2 in A minor – II. Malinconia. Poco lento
7. Sonata No.2 in A minor – III. Danse des ombres sarabande. Lento
8. Sonata No.2 in A minor – IV. Les furies allegro furioso
9. Sonata No.3 ‘Ballade’ in D minor
10. Sonata No.4 in E minor – I. Allemanda. Lento maestoso
11. Sonata No.4 in E minor – II. Sarabande. Quasi lento
12. Sonata No.4 in E minor – III. Finale. Presto ma non troppo
13. Sonata No.5 in G major – I. L’ Aurore lento assai
14. Sonata No.5 in G major – II. Danse rustique allegro giocoso molto moderato
15. Sonata No.5 in G major – III. Moderato amabile – Tempo I – Poco piu mosso
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Que eu me lembre, The naked violin foi o primeiro CD de música clássica lançado para ser baixado gratuitamente na internet – uma excelente experiência da violinista inglesa Tasmin Little.
Tudo que você quiser saber a respeito, está neste link aqui, mas só no link abaixo você poderá fazer o download do arquivo completo e organizado, incluindo os comentários de Little e a capa do CD.