Três álbuns gravados no Van Gelder Studio em Nova Jersey, perto de Nova York. Até 1972 Cobham gravou dezenas de discos como músico contratado. Outros grandes músicos como Ron Carter, Hubert Laws e Airto Moreira estavam lá gravando naquele estúdio vários meses do ano naqueles tempos…
No disco de estreia de Eumir Deodato no mercado norte-americano, ele toca o piano elétrico Fender Rhodes e fez as orquestrações, com muitas flautas e cordas suaves, às vezes lembrando certos arranjos posteriores de uma bossa nova sem o frescor dos primeiros anos, já a cópia da cópia, mas esses últimos arranjos copiaram muito o próprio Deodato, então ele não é de todo culpado pela música morna que fizeram depois dele. O disco vendeu bastante para os padrões da música instrumental, principalmente graças ao arranjo (por Deodato) do Zarathustra de Richard Strauss…
Também há o curioso momento em que nosso ídolo Billy Cobham toca no improviso jazzístico sobre o Prelúdio ao entardecer de um fauno, de Debussy. Nesse improvável encontro de mundos diferentes, a versatilidade do baterista aparece: um minuto contido até certo ponto, mas a partir do segundo minuto entra um groove irresistível: nem o Claude Debussy (que era do tipo de ia de sombrinha e gravata borboleta pra praia) resiste. E antes e depois do groove, Hubert Laws inicia e fecha a faixa com solos de flauta muito bonitos.
Em outras faixas, os arranjos e Deodato ficam a um pequeno passo de se tornarem música de elevador, música de hall de entrada de hotel e trilha sonora de telenovela carioca, mas esse pequeno passo não é dado, talvez graças ao talento absurdo dos instrumentistas contratados. Os dois baixistas, Ron Carter e Stanley Clarke, estão entre os melhores do mundo até hoje.
Billy Cobham nasceu no Panamá e se mudou para os EUA. Assim como o guitarrista mexicano Carlos Santana (mas com a pele mais escura e um sobrenome menos hispânico), Cobham tem em seu estilo certas características daquilo que, de um ponto de vista redutor estadunidense, é tido como música latina, algo que engloba desde a bossa nova até o jazz cubano como o daqueles músicos que ficaram famosos com o filme Buena Vista Social Club. Eumir Deodato, criado no Catete, bairro central do Rio de Janeiro, em 1972 já vivia nos EUA, tocando e principalmente fazendo arranjos que também evocam um imaginário “latino” de verão, praia, mulheres de biquini, essas coisas.
Em Red Clay, disco de 1970 liderado pelo trompetista Freddie Hubbard, Billy Cobham não tocava no LP original, mas ele está presente na faixa bônus do CD, uma longa jam sobre o tema título do álbum, gravada ao vivo em 1971 com a presença de George Benson (guitarra) e do incansável Ron Carter (baixo). Vocês sabiam que Ron Carter é o baixista que participou do maior número de discos na história? São mais de 2.200 e ele ainda está em atividade, assim como seu amigo Billy Cobham. Só a discografia deles dois juntos já dá mais de 20 álbuns, alguns deles estarão por aqui na próximas semanas…
Em Sky Dive (1972), alguns dos músicos presentes nos dois discos anteriores se repetem: Cobham (bateria), Carter (baixo), Benson (guitarra), Laws (flauta), com a presença ainda de Keith Jarrett (pianos acústico e elétrico, um dos últimos discos em que ele tocou este segundo) e do brasileiro Airto Moreira (percussão), mas há também arranjos para uma banda de apoio maior, com três trombones, três clarinetes, etc. Os fãs de Jarrett devem conferir sobretudo o seu solo de piano acústico na faixa 6, onde ele se solta mais do que no elétrico. E eu gosto especialmente da faixa 4, The Godfather, arranjo inspirado na melodia de Nino Rota para o filme O Poderoso Chefão. Uma confissão: eu já não me lembrava que essa melodia, rearranjada por tanta gente, era do filme e do Nino Rota, pra mim era do cancioneiro popular, o que também aliás já se tornou, sendo inclusive presença obrigatória em um certo bloco de carnaval carioca que sai perto dos Arcos da Lapa.
Dois discos liderados pelo saxofonista Stanley Turrentine, considerado um dos principais nomes do soul jazz, estilo que se mistura com vários outros mas, no geral, tem semelhanças com a soul music cantada de Aretha Franklin, Ray Charles e dos artistas da Motown e tem melodias mais simples e cantáveis do que as do jazz de vanguarda. No fundo, essas classificações ficam muito longe de explicar tudo que acontece na música, e tanto é assim que esses dois discos são bem diferentes.
No primeiro, gravado em 1968-69, Turrentine é acompanhado por uma banda menor: tirando uma faixa em que a organista Shirley Scott brilha no hammond, o resto do disco é formado por um quarteto formado pelas sonoridades marcantes de McCoy Tyner (piano), Billy Cobham (bateria) e o mais discreto Gene Taylor (baixo).
O mais impressionante é ouvir McCoy Tyner e Billy Cobham tocarem bossa nova em Wave. Não creio que o solo de sax de Turrentine seja o melhor já feito sobre a melodia de Jobim: enfatizando sonoridades alegres e um tanto comuns – se comparadas com os sons bizarros de Coltrane ou Pharoah Sanders -, Turrentine trilha os caminhos já percorridos por Stan Getz nos álbuns premiados deste último.
A comparação com Billy Hart, baterista do quarteto de Stan Getz quando tocaram Wave ao vivo em 1975 (aqui) mostra a diferença entre um músico competente capaz de fazer uma bossa nova agradável e um gênio do instrumento que, mesmo se adaptando e dançando conforme a música, mantém uma personalidade única.
Já no disco Cherry, de 1972, a banda é um sexteto muito bem gravado no Van Gelder Studio, New Jersey, onde também foram feitos quase todos os álbuns de John Coltrane. Ouça em um bom aparelho stereo ou com bons fones de ouvido e você perceberá a cuidadosa – e até um pouco artificial em comparação com discos ao vivo – divisão dos seis músicos em duas duplas que ocupam o espaço sonoro assim:
A) Stanley Turrentine (sax) e Milt Jackson (vibrafone) à frente, se revezando nos solos
B) Bob James (piano elétrico) e Cornell Dupree (guitarra elétrica) ao fundo, mas com longas linhas melódicas agudas que ocupam os espaços deixados pelos solistas
C) Ron Carter (baixo), Billy Cobham (bateria) também ao fundo, mas em um plano grave no qual os dois dialogam, meio separados do plano agudo em (B).
Nos primeiros minutos de Cherry, quase parei de ouvir: um jazz sofiscitado, chique mesmo, com piano elétrico e uma guitarra elétrica (sem distorção, suave como o violão de João Gilberto) acompanhando os dois solistas principais. O saxofone de Turrentin, vai sempre mais ou menos direto ao ponto, enquanto o vibrafone de Milt Jackson dá voltas harmônicas sutis por meio de notas alteradas. Enfim, tudo isso a princípio me pareceu de mau gosto, mas com o passar dos minutos fui gostando mais, seja porque o ouvido se acostumou, seja porque o diálogo entre o baixo de Ron Carter e a bateria de Billy Cobham, lá no fundo, é sempre original. Carter já gravou mais de dois mil discos com os músicos mais diversos, mas quase nunca dá a impressão de ligar o piloto automático, está sempre ali presente com sua sonoridade elegante que se encaixa bem aqui, além de dialogar com muita fluência com Cobham, seu companheiro de longa data.
O fato é que, embora o saxofonista Stanley Turrantine tenha se notabilizado por solos mais ou menos sensuais e nunca angulares ou incômodos, este é um disco de um jazz cheio de complexidade, distante das supostas raízes do jazz como música dançante. E distante também ao utilizar o vibrafone e o Fender Rhodes, teclado onipresente naquela época. Mas, se prosseguirmos comparando esse disco com a bossa nova, devemos lembrar que, no Rio de Janeiro, o piano acústico era uma das grandes diferenças entre o “balanço zona sul” de Tom jobim e os batuques das escolas de samba, feitos por gente que não podia comprar um piano. Abordemos o tema por comparações: Milt Jackson está mais próximo de um Cartola ou de um Noel Rosa do que de um Jamelão da Mangueira, mais pra João Donato do que pra Elza Soares e Wilson das Neves. Há quem diga que o jazz com piano elétrico não é jazz “de verdade”, mas o jazz é muita coisa, como o samba é muita coisa, não é? Mesmo o piano acústico – abrilhantado pelos dedos de gênios como Oscar Peterson, Thelonious Monk e McCoy Tyner – é um instrumento que, em algum momento remoto, soou estrangeiro aos batuques dos negros norte-americanos, mas disso ninguém fala.
Esse tipo de soul jazz com sofisticados arranjos de vários instrumentos teve uma certa era de ouro no início dos anos 1970, utilizando instrumentos elétricos mas sem a intensidade roqueira do fusion. Boa parte desses discos foram lançados pela gravadora CTI: além de Turrentine, também Tom Jobim (Wave, de 1967, Stone Flower, de 1970), Freddie Hubbard, Eumir Deodato e outros. A capa de Cherry é uma foto de Pete Turner, pioneiro da fotografia artística colorida, e que também é responsável pelas capas dos dois discos de Tom Jobim mencionados acima.
Stanley Turrentine: Ain’t no way
Stan’s Shuffle 6:57
Watch What Happens 5:30
Intermission Walk 6:39
Wave 8:14
Ain’t No Way 11:02
Stanley Turrentine – tenor saxophone / McCoy Tyner – piano / Gene Taylor – bass / Billy Cobham – drums (tracks 1-4)
Stanley Turrentine – tenor saxophone / Shirley Scott – organ / Jimmy Ponder – guitar / Bob Cranshaw – bass / Ray Lucas – drums (track 5)
Stanley Turrentine with Milt Jackson: Cherry
Speedball (Lee Morgan) – 6:39
I Remember You (Johnny Mercer, Victor Schertzinger) – 5:10
The Revs (Milt Jackson) – 7:46
Sister Sanctified (Weldon Irvine) – 6:04
Cherry (Ray Gilbert, Don Redman) – 5:10
Introspective (Irvine) – 7:00
Stanley Turrentine – tenor saxophone / Milt Jackson – vibraphone
Bob James – piano, electric piano / Cornell Dupree – guitar
Ron Carter – bass / Billy Cobham – drums
Este post é originalmente de 2007. Vocês vão notar pelo texto abaixo, que Charlie Haden ainda não tinha falecido.
Agora é P.Q.P. Bach quem ataca de jazz para divulgar outro CD que o guitarrista Pat Metheny (1954) fez em dupla, desta vez com o grande baixista Charlie Haden (1937). Todas as informações grifadas a seguir forma retiradas da Wikipedia.
É um CD muito jazzístico e delicado, em que todas as músicas são tocadas apenas pelos dois solistas em rigoroso duo, com apenas a intervenção de uma discreta bateria (Metheny arrisca-se no instrumento…) em uma das faixas e de alguns efeitinhos de teclado. Haden explora ao extremo seu estilo mais cantabile do que o de um mero marcador de tempo, extraindo de seu contrabaixo um som mais limpo do que cheio. Já Pat Metheny é conhecidíssimo e não vamos perder tempo descrevendo o que vocês já sabem.
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Charles Edward Haden é um contrabaixista de jazz nascido a 6 de Agosto de 1937 em Shenandoah no Iowa nos EUA.
Haden é mais conhecido pela sua associação de longa data com o saxofonista Ornette Coleman, mas também pelas suas caraterísticas linhas de baixo melódicas e é hoje um dos mais respeitados contrabaixistas e compositores de jazz da actualidade.
Biografia
Haden nasceu numa família de músicos que actuava frequentemente na rádio, tocando música country e canções folk americanas. Haden estreou-se profissionalmente como cantor quando tinha apenas dois anos de idade e continuou a cantar com a sua família até aos quinze anos, quando contraiu uma forma ligeira de poliomielite que lhe danificou permanentemente as cordas vocais. Alguns anos antes, Haden começara a interessar-se por jazz e a tocar no contrabaixo do seu irmão.
Algum tempo depois, mudou-se para Los Angeles em 1957 e começou a tocar profissionalmente, nomeadamente com o pianista Hampton Hawes e com o saxofonista Art Pepper.
Charlie Haden tornou-se famoso tocando com Ornette Coleman no final dos anos 50, culminando no disco The Shape of Jazz to Come (1959). Este álbum foi muito controverso, na época, e o próprio Haden confessou que, a princípio, o estilo de Coleman o deixava completamente confundido e que se limitava a repetir as linhas melódicas de Coleman no contrabaixo. Foi só mais tarde que ganhou a confiança para criar as suas próprias linhas.Além da sua associação com Coleman, Haden fazia parte do trio e depois do “”American quartet” de Keith Jarrett, com Paul Motian e Dewey Redman, de 1967 a 1976.
Nos anos 70, fundou, com Carla Bley, a Liberation Music Orchestra (LMO). A sua música era fortemente experimental, associando o free jazz e a música de intervenção política. O seu primeiro álbum debruçava-se sobre a Guerra Civil Espanhola. A LMO tinha uma formação flutuante, abrangendo os principais instrumentistas de jazz. Através dos arranjos de Carla Bley, usavam uma vasta paleta de instrumentos de metal, como tuba, trompa e trombone, além da secção mais tradicional de trompete e instrumentos de palheta. O álbum da Liberation Music Orchestra de 1982, The Ballad of the Fallen refería-se, de novo à Guerra Civil Espanhola bem como à instabilidade política e envolvimento dos EUA na América Latina.
Em 1990 a orquestra regressou com o disco Dream Keeper, um registo mais heterogéneo, utilizando o gospel e música sul-africana para referir-se à América Latina e ao Apartheid.
Em 1971 durante uma excursão em Portugal, Haden dedicou a sua “Song for Che” aos revolucionários anti-colonialistas das colónias portuguesas de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. No dia seguinte, foi preso no aeroporto de Lisboa e interrogado pela DGS, a polícia política portuguesa. Foi prontamente libertado graças à intervenção da embaixada americana em Lisboa, mas foi depois interrogado acerca da dedicatória pelo FBI, já nos EUA.
Esta exploração temática de géneros de música habitualmente não associados ao jazz tornou-se uma característica marcante de Haden com o seu Quartet West. Fundado em 1987, o quarteto era composto por Haden, Ernie Watts no saxofone, Alan Broadbent ao piano e Larance Marable na bateria. O grupo apresentava arranjos de Broadbent, românticos e elaborados e recebeu muitos prémios.
Haden também tinha trabalhava em duetos com vários pianistas, como Hank Jones, Kenny Barron e Denny Zeitlin. Explorou a música folk americana em American Hymns, a música dos film noir em Always Say Goodbye e a música popular cubana em Nocturne.
Em 1989 foi artista convidado do Festival de Jazz de Montreal e tocou todas as noites do festival com diferentes conjuntos e bandas. A maior parte destes concertos foram editados na série The Montreal Tapes.
Em 1990 grava, com o mestre da guitarra portuguesa, Carlos Paredes, o álbum Dialogues.
No final de 1997, colabora num dueto com o guitarrista Pat Metheny, explorando a música da sua infância, no álbum Beyond the Missouri Sky (Short Stories) e realizando uma digressão mundial com Metheny.
Em 2005, Haden voltou a reunir a Liberation Music Orchestra, grandemente renovada, para lançar Not In Our Name, abordando a situação política dos EUA e a guerra do Iraque.
Em 2007, no seu 70º aniversário, lança o documentário: “Charlie Haden”.
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E sobre Pat Metheny…
Biografia
Iniciando com o trompete já aos 8 anos de idade, Metheny trocou para a guitarra ao 12 anos. Aos 15 anos, já estava trabalhando com os melhores músicos de jazz do Kansas, adquirindo experiência em bandas já muito jovem. Seu primeiro sucesso na cena internacional do jazz foi em 1974. Com o lançamento de seu primeiro álbum, Bright Size Life (1975), segundo a crítica, ele reinventara “o som tradicional da guitarra jazz” para uma nova geração de guitarristas.
Durante sua carreira, continuou a redefinir o genero utilizando novas tecnologias e trabalhando constantemente para refinar sua capacidade sonora e de improvisação no seu instrumento.Planejando sua carreira com sabedoria, trabalhou primeiro com uma gravadora de grande prestígio na música moderna (ECM), depois em uma gravadora de inclinações pop (Geffen) e finalmente com a multi-nacional (Warner Bros). Flertou com o jazz-rock, com grande sucesso, e chegou mesmo a ter videoclipes exibidos na rede MTV. Segundo os críticos Richard Cook e Brian Morton, “Metheny tornou-se uma figura-chave na música instrumental dos últimos 20 anos”.
Durante os anos, atuou com músicos tão diversos como Steve Reich, Ornette Coleman, Herbie Hancock, Jim Hall, Milton Nascimento e David Bowie. Formou uma parceria de composição com o tecladista Lyle Mays por mais de vinte anos – uma parceria que foi comparada às de Lennon/McCartney e de Ellington/Strayhorn por críticos e por ouvintes igualmente. O trabalho de Metheny inclui composições para guitarra solo, instrumentos elétricos e acústicos, grandes orquestras, e peças para ballet, com passagens que variam do jazz moderno ao rock e ao clássico.
Metheny atuou também na área academica como professor de música. Aos 18, foi o professor mais novo de sempre na universidade de Miami. Aos 19, transformou-se no professor mais novo de sempre na faculdade de Berkeley de música, onde recebeu também o título de doutor honorário vinte anos mais tarde (1996). Ensinou também em workshops de música em várias partes do mundo, desde o Dutch Royal Conservatory ao Thelonius Monk Institute of Jazz. Foi também um dos pioneiros da música eletrônica, e foi um dos primeiros músicos do jazz que tratou o sintetizador seriamente. Anos antes da invenção da tecnologia de MIDI, Metheny usava o Synclavier como uma ferramenta de composição . Também tem participação no desenvolvimento de diversos novos tipos de guitarras tais como a guitarra acústica soprano, a guitarra de 42-cordas Pikasso, a guitarra de jazz Ibanez Pm-100, e uma variedade de outros instrumentos feitos sob encomenda.
Metheny é um músico que estuda e escreve muito, está aberto a inúmeras influências, e principalmente toca e grava muito. Nesse processo, atira em várias direções, e é inegável que acaba produzindo alguns trabalhos de caráter mais comercial, ainda que agradáveis e perfeitamente bem executadas.
Ele ganhou ganhou vários concursos como o “melhor guitarrista de jazz” e prêmios, incluindo discos de ouro para os álbuns Still Life (Talking), Letter from Home e Secret Story. Ganhou também quinze prêmios Grammy Awards sobre uma variedade de categorias diferentes incluindo “Best Rock Instrumental”, “Best Contemporary Jazz Recording”, “Best Jazz Instrumental Solo”, “Best Instrumental Composition”.
O Pat Metheny Group ganhou sete Grammies consecutivos em sete álbums consecutivos. Metheny dedica-se a maior parte de seu tempo a turnes e viagens, e calcula uma média entre 120 à 240 viagens por ano desde 1974. Continua a ser uma das estrelas mais brilhantes da comunidade do jazz, dedicando tempo aos seus próprios projetos, a novos músicos e aos veteranos, ajudando-lhes a alcançar suas audiências tão como realizar suas próprias visões artísticas.
Beyond The Missouri Sky (Short Stories)
1. Waltz For Ruth
2. Our Spanish Love Song
3. Message To A Friend
4. Two For The Road
5. First Song
6. The Moon Is A Harsh Mistress
7. The Precious Jewel
8. He’s Gone Away
9. The Moon Song
10. Tears Of Rain
11. Cinema Paradiso (Love Theme)
12. Cinema Paradiso (Main Theme)
13. Spiritual
Pô, Mingus! The shoes of the fisherman`s wife are some jive ass slippers? Como uma obra tão espetacular pode ter um título tão… Sei lá. Alguém sabe de alguma referência que o explique? O nome original era Once upon a time, there was a holding corporation called Old America…
Let My Children Hear Music é um álbum lançado pela Columbia Records em 1972. A música é composta para grande orquestra de jazz e Mingus trabalhou com vários arranjadores, orquestradores e maestros, principalmente Sy Johnson e Alan Raph, para realizar algumas de suas composições mais ambiciosas. O resultado é extraordinário. Comprei este álbum pela primeira vez aos 17 anos e logo vi que ele tinha tudo: beleza, swing, majestade e emoções que abrangem a comédia, a alegria e até o terror. Mingus me apresentou a um mundo musical de possibilidades ilimitadas. Todos os instrumentos conhecidos e desconhecidos do jazz aparecem aqui (incluindo violoncelo, trompa, fagote e uma seção inteira de baixos com arco em algumas músicas), assim como toda estratégia de vanguarda, e ainda assim tudo soa totalmente natural, com melodias e harmonias gloriosas. Tal como Welles, William Blake e muitos dos génios subestimados ou ignorados, Mingus era um verdadeiro dissidente. Ele era ao mesmo tempo progressista e conservador, intensamente comprometido em conservar a melhor música do passado, insistindo para que ela fosse ouvida, e um vanguardista. Enfim, era um artista com perfeita noção da posição em que está inserido. Temos faixas sensacionais neste disco, quase todas elas, mas nada se compara a The Shoes, na minha opinião.
Bem, naquela época não se costumava colocar a nominata de todos os músicos envolvidos, mas consegui os dos principais solistas:
Lonnie Hillyer – trumpet
Julius Watkins – French horn
Bobby Jones – tenor saxophone
Joe Wilder – trumpet
Charles McCracken – cello
Charles McPherson – alto saxophone
James Moody – tenor saxophone
Sir Roland Hanna – piano
Snooky Young – lead trumpet throughout
Dannie Richmond – drums
Charles Mingus: Let My Children Hear Music
1 “The Shoes of the Fisherman’s Wife Are Some Jive Ass Slippers” – 9:34
2 “Adagio ma Non Troppo” – 8:22
3 “Don’t Be Afraid, the Clown’s Afraid Too” – 9:26
4 “Taurus in the Arena of Life” – 4:17 (on CD reissue)
5 “Hobo Ho” – 10:07
6 “The Chill of Death” – 7:38
7 “The I of Hurricane Sue” – 10:09
Quem quiser piratear os meus discos, pode ficar à vontade. Desde que seja para ouvir uma boa música. (…) Mesmo o meu trabalho em gravadoras, o povo tem mais é que piratear tudo. Isso não é revolução. O que queremos é mostrar essa música universal. Porque isso não toca em rádio nem aparece na capa do jornal. Sabe o que Deus falou? Muita gente pensa que é só para transar. Mas, não. “Crescei e multiplicai-vos”. Isso é em todos os sentidos. Vamos crescer na maneira de ser e multiplicar o que tem de bom. Sem barreiras. A música é universal. Eu toco no mundo inteiro e é sempre lotado. Eu só cheguei a isso porque os meus discos são pirateados, estão à vontade na Internet.
O único motivo para Hermeto Pascoal não estar no Olimpo da humanidade – como Davis, Corea, Coleman ou Monk – é o fato de ter nascido na América do Sul. Fosse europeu ou norte-americano, seria um pilar da história da música e do jazz. Já é, mas a falta de reconhecimento, popularidade e admiração lhe tomam o lugar que deveria ocupar. Não que essas coisas preocupem, ou pareçam ter algum dia preocupado o velho bruxo. Hermeto é um artista que cabe naquela acepção tão cara a Adorno: um ungido pelos deuses e destinado a produzir sua arte sem que nada além importe, sem que nada se interponha. De muito criança já improvisava pífanos em galhos de mamona. Aprendeu a tocar o acordeão do pai aos 7. Isso em Lagoa da Canoa, um (hoje) município de 20 mil habitantes no estado de Alagoas.
Estas três últimas frases, de certa forma, podem definir muito bem a trajetória de Hermeto. Gênio inquieto, construtor de instrumentos, improvisador, extravagante. Seu estilo vocal de fazer jazz e misturá-lo a sonoridades típicas brasileiras – seja no estilo, como o choro, samba e baião, seja nos instrumentos, como o acordeão e a chaleira – pode tanto mostrar um maestro formidável quanto um ser humano que só pode haver dando vazão à tudo que sai de si como música. Quase como uma respiração ao contrário. Este Slaves Mass, de 1976, seu segundo álbum, foi quem sedimentou o nome de Hermeto no cenário do jazz mundial, onde se consagraria três anos depois, no festival de Montreaux. Além do talento imaginativo de Hermeto, notam-se influências de Wayne Shorter, Cannonball Adderley (a quem foi dedicada a faixa 4), Joe Zawinul (aqui, pode ser um exagero deste cão; mas não consigo escutar as notas brilhantes do Fender Rhodes sem pensar nele) e Miles Davis, principalmente no fusion de Star Trap. Sobre Miles e Hermeto, aliás, mais em breve.
A edição trazida aqui é a de 2004, que conta com três faixas bônus. Pela duração, é quase um outro disco-gêmeo, mais solto nas jams, generoso em harmonias cromáticas. Os arquivos estão compactados independentemente (a parte 2 contém apenas a última música).
Para quem conhece pouco do bruxo, um aviso: fique de ouvidos abertos. Que aos 72, segue lotando os lugares onde pisa, em qualquer uma das cinco formações utilizadas para se apresentar – Hermeto Pascoal e Grupo, Hermeto Pascoal e Aline Morena (sua esposa), Hermeto Pascoal Solo, Hermeto Pascoal e Big Band e Hermeto Pascoal e Orquestra Sinfônica. Quando não está viajando, mora em Curitiba. É o músico mais carismático, e grato, que já vi de verdade.
Muita gente confunde inovar com idade, com números. Muita gente pensa que, quando um menino pega um violão e sai cantando, o povo acha que aquilo é coisa nova. Tem muita gente de 18 anos tocando coisas velhas e quadradas. (…) Não é que o velho seja ruim. Mas o novo tem nascido tão velho.
Hermeto Pascoal – Slaves Mass (vbr)
Hermeto Pascoal: voz, piano, piano Rhodes, clavinet, flauta, sax soprano
David Amaro: guitarra, violão, violão 12
Alphonso Johnson: baixo, efeitos especiais
Raul de Souza: trombone
Chester Thompson: bateria
Airto Moreira: bateria, percussão, porcos
Ron Carter: contrabaixo acústico
Flora Purim: voz
Produzido por Kerry McNabb para a Warner
01 Mixing Pot 9’18
02 Slaves Mass 4’19
03 Little Cry for Him 2’11
04 Cannon 5’20
05 Just Listen 7’08
06 That Waltz 2’46
07 Cherry Jam 11’45
08 Open Field 4’25
09 Pica Pau [take 1] 14’20
10 Star Trap [part 2] 15’45
Estava caminhando na rua quando este CD começou a tocar. Logo pensei, ih, fusion, vou detestar. Mas depois algo de enorme categoria entrou pelos meus ouvidos. Parecia o time do Inter treinado por Coudet, nada da grossura gremista.
Bem, finalmente, em 2012, a nave-mãe retornou! O RTF estava de volta com seu quinto disco ao vivo, e que disco! A banda podia estar envelhecendo, mas de forma alguma seu talento diminuiu. Esta formação, que foi apelidada de Return to Forever IV para a turnê, tem algumas mudanças em relação à formação clássica: Frank Gambale assume as funções de guitarra de Al Di Meola, e Jean-Luc Ponty acrescenta sua experiência de violino ao conjunto. The usual suspects – Chick Corea, Stanley Clarke e Lenny White – estão presentes. A primeira coisa que notei ao ouvir esse álbum foi a qualidade do som, que é incrivelmente rica e completa para uma gravação ao vivo. Embora o som aqui seja praticamente com a qualidade de estúdio, a crueza da performance ao vivo ainda é capturada. No que diz respeito ao material, este álbum duplo contém uma mistura contundente de elementos elétricos e acústicos. A música aqui consiste predominantemente das obras clássicas do grupo. É justo dizer que o material resistiu ao teste do tempo, com as composições de Chick Corea, principalmente, permanecem interessantes com suas estruturas complexas e bem pensadas que ainda deixam muito espaço para improvisação. Falando em improvisação, praticamente todas as músicas apresentam um extenso solo de cada um dos músicos. Não é incomum que uma música tenha mais de dez minutos de solos. No entanto, estes são alguns dos melhores instrumentistas fusion e eles sabem como manter um solo envolvente. Algumas das performances aqui são realmente alucinantes! Os músicos são excepcionais. Cada faixa é especial tanto na composição quanto na performance) e não sei mais o que dizer para te convencer.
.: interlúdio :. Return to Forever: The Mothership Returns
1 Medieval Overture – Written-By – Chick Corea 6:03
2 Señor Mouse – Written-By – Chick Corea 12:10
3 The Shadow Of Lo / Sorceress – Written-By – Lenny White 16:05
4 Renaissance – Written-By – Jean-Luc Ponty 19:40
7 After The Cosmic Rain – Written-By – Stanley Clarke 16:52
6 The Romantic Warrior – Written-By – Chick Corea 18:20
7 Concierto De Aranjuez / Spain – Written-By – Chick Corea, Joaquín Rodrigo 8:12
8 School Days – Written-By – Stanley Clarke 11:21
9 Beyond The Seventh Galaxy – Written-By – Chick Corea 3:44
Drums – Lenny White
Electric Bass, Acoustic Bass – Stanley Clarke
Guitar – Frank Gambale
Piano, Keyboards – Chick Corea
Violin – Jean-Luc Ponty
Esse CD me foi enviado por FDP Bach. A ideia é sensacional. São quatro ex-colaboradores de Miles Davis que se reúnem para tocar… Miles Davis. Há grandes momentos, outros nem tanto. FDP toca guitarra e imagino que ele tenha babado com Mike Stern. O cara é sensacional. Mas fico comovido ao saber que Jimmy Cobb participou desde show ao vivo com oitenta anos, vinte e quatro a mais do que o guri do grupo, o citado Stern. Os outros são George Coleman e Ron Carter. Preciso apresentar? Claro que não, vão ler sobre suas muito produtivas vidas enquanto ouvem o disco!
4 Generations of Miles: Live Tribute
1. There is No Greater Love 9:02
2. All Blues 7:03
3. On Green Dolphin Street 7:20
4. Blue in Green 7:28
5. 81 6:30
6. Freddie Freeloader 6:34
7. My Funny Valentine 10:01
8. If I Were A Bell 8:02
9. Oleo 5:02
George Coleman, sax tenor
Mike Stern, guitar
Ron Carter, bass
Jimmy Cobb, drums
Não é nenhuma obra-prima, mas é um bom LP (CD). Somewhere Before foi gravado ao vivo em 30 e 31 de agosto de 1968, no Shelly’s Manne-Hole em Hollywood, Califórnia. Era o primeiro trio de Jarrett, composto ele ao piano, mais Charlie Haden (baixo) e Paul Motian (bateria). O AllMusic afirmou: “Como um exemplo do Jarrett inicial e sem foco, este é um material fascinante.” O Penguin Guide to Jazz Recordings comentou: “Fortemente influenciado pelo rock e reminiscente da metodologia do Charles Lloyd Quartet e do grupo Miles Davis, do qual Jarrett ainda era membro… tem um frescor de abordagem que Jarrett perdeu rapidamente e demorou a recuperar.” Eu achei bem mais ou menos. Acho que prefiro Jarrett sem o tal frescor…
.: interlúdio :. Keith Jarrett Trio: Somewhere Before
1 “My Back Pages” (Bob Dylan) – 5:24
2 “Pretty Ballad” – 3:30
3 “Moving Soon” – 4:24
4 “Somewhere Before” – 6:50
5 “New Rag” – 5:40
6 “A Moment for Tears” – 3:07
7 “Pouts’ Over” (And the Day’s Not Through) – 4:35
8 “Dedicated to You” (Sammy Cahn, Saul Chaplin, Hy Zaret) – 5:00
9 “Old Rag” – 2:37
All compositions by Keith Jarrett except as indicated
Keith Jarrett – piano
Charlie Haden – double-bass
Paul Motian – drums
Esse disco é bem novinho, do final de 2023, e foi lançado em vinil e em CD. Quem conseguiu-o para mim foi CdeBL. Lembro ele que foi muito gentil e que falou comigo por e-mail ou messenger. Depois, eu dei muitas risadas ouvindo o disco, Lembro que foi para isso mesmo que me mandaram os arquivos, para rir. Agradeço ao mensageiro. Pobre Gustav Mahler, deve estar como um zumbi no túmulo com este arranjo que distorce completamente sua 5ª Sinfonia… A cena tecnojazz alemã é ampla e provavelmente encontrará algum louco para levar isto à serio. Eu levei a sério apenas como comédia. A Jazzrausch Bigband está repleta de músicos que tocam muito bem, mas nem tudo pode ser feito com qualquer coisa. O resultado é uma constrangedora paródia. Quando a coisa vira jazz, se torna até palatável, mas quando é Mahler me causa frouxos de riso. Muitos outros artistas abordaram a música clássica para criar obras de jazz com verdadeiro talento. Mas aqui, com esses ritmos disco para cinquentões… Eu tenho 66 e meu mundo é puro rock n`roll, pô! OK, estou brincando. Mas o problema mesmo é a falta de criatividade nos arranjos. Quantas vezes aquela bateria precisa nos metralhar num crescendo, meu deus?
Da Quinta de Mahler:
1. I. Trauermarsch. In Gemessenem Schritt. Streng. Wie Ein Kondukt 08:41
2. II. Stürmisch Bewegt. Mit Größter Vehemenz 07:58
3. III. Scherzo. Kräftig, Nicht Zu Schnell 08:47
4. IV. Adagietto. Sehr Langsam 03:30
5. V. Rondo-Finale. Allegro – Allegro Giocoso 08:54
Da Terceira de Mahler:
6. I. Kräftig. Entschieden 04:44
Elza Soares: uma cantora que iniciou sua carreira no auge da bossa nova, mas não era nada bossa-nova. Foi o que falei na postagem em sua homenagem, há dois anos. Este disco de 1968 refutaria essa ideia? Afinal, mais ou menos metade das canções aqui reunidas fizeram sucesso em gravações de João Gilberto, Astrud Gilberto, Sergio Mendes e outros expoentes da bossa nova… Mas não, isso só mostra a personalidade de Elza ao pegar música que já era famosa e mudar tudo, principalmente tirando aquele certo doce balanço, aquela calma do violão bossa-nova, aquele Balanço Zona Sul – nome da primeira faixa do álbum – e subverter tudo com sua voz mais potente do que intimista, a bateria também barulhenta de Wilson das Neves e arranjos de metais meio jazzísticos. Aliás, o autor dos arranjos de metais é Nelsinho (1927-1996) e os nomes dos outros músicos não constam nos créditos do LP e se perderam na noite dos tempos.
Para constatar que Elza não é bossa nova, basta comparar, na canção O Pato, o scat singing de Elza, comparável ao das grandes musas do jazz, com a suave versão de João Gilberto, perfeita para se ouvir, digamos, deitado na rede. Os dois são geniais, não se trata aqui de uma disputa entre dois times de futebol, é claro. “O Pato”, aliás, é uma canção de Jaime Silva e Neuza Teixeira, composta no fim da década de 1940, mas se tornou mais conhecida após a gravação de João Gilberto para o seu segundo álbum, O Amor, o Sorriso e a Flor, de 1960.
A participação do baterista Wilson das Neves (1936-2017) abrilhanta o disco, a tal ponto que ele figurou na capa, um tanto embranquecido com truques de maquiagem e iluminação, assim como Elza. Wilson foi um nome da maior importância no samba e na bossa nova, tanto pelos inúmeros grupos em que tocou, como também por suas próprias composições. Não tão conhecido do grande público, Wilson era adorado por gente como Chico Buarque, que tinha o ritmo do baterista em todas as suas turnês de 1982 a 2012.
No meio de outros clássicos que nem preciso apresentar aqui – Garota de Ipanema, Deixa isso pra lá, lançada por Jair Rodrigues em 1964… – gostaria de dedicar mais algumas palavras a Mulata assanhada, samba de Ataulfo Alves (1909-1969). Autor também de Ai meu Deus que saudades da Amélia (este último, com Mario Lago), Ataulfo teve o azar de ter seus dois maiores sucessos “cancelados” em décadas mais recentes. A Amélia, por ter virado sinônimo de mulher submissa, obediente, nada a ver com Elza Soares e outras mulheres que admiramos hoje em dia. E sobre a “mulata assanhada”, o fato de que essas palavras vêm caindo em desuso é o menor dos senões: a letra toda pode causar vertigens em públicos acostumados com um repertório mais pasteurizado, entretenimento que não incomoda ninguém, com emoções limitadas e frias como uma sala de hospital. E Elza Soares, repito, é tão distante de um repertório morno como da obediência de uma Amélia.
Elza Soares / Baterista: Wilson Das Neves (1968)
1 Balanço Zona Sul (Tito Madi)
2 Deixa isso pra lá (Alberto Paz, Edson Menezes)
3 Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim, Vinicius De Moraes)
4 Edmundo – In the mood (Joe Garland/Andy Razaf/ versão Aloysio de Oliveira)
5 O Pato (Jayme Silva, Neuza Teixeira)
6 Copacabana (Alberto Ribeiro, João de Barro)
7 Teleco Teco nº 2 (Nelsinho/Oldemar Magalhães)
8 Saudade da Bahia (Dorival Caymmi)
9 Samba de verão (Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle)
10 Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues/Felisberto Martins)
11 Mulata assanhada (Ataulfo Alves)
12 Palhaçada (Luiz Reis/Haroldo Barbosa)
Por incrível que pareça, nunca tínhamos postado este álbum antes. É um dos discos de jazz de que mais gosto. Na verdade, gosto dele desde a capa com um sugestivo, imenso e nada casual Turn Left. Se seus pontos altos são Au Lait e James, não podemos esquecer a merecida popularidade da sensacional bossanovista Are you Going with Me?, um dos poucos casos modernos onde a qualidade acompanhou as grandes vendas.
A guitarra sintetizada, marca registrada do Metheny dos primeiros anos está em todo o disco desde Barcarola e é decisiva em Are you Going with Me?. O pianista Lyle Mays dá tons aveludados a Au Lait, que traz Nana Vasconcelos percutindo, apitando e falando “Você é linda” e “Eu te amo tanto, tanto, tanto”, além de outras coisas. Poucos sabem que James é uma homenagem ao cantor e compositor James Taylor. Tema lindo, perfeito, relaxante, com novo show de Mays. Offramp é altamente melódico, mas, mesmo assim, nota-se aqui e ali a presença de um guitarrista que tem como mestres Ornette Coleman e o free jazz.
CD da ECM. Eu me entrego: Manfred Eicher, ich liebe dich.
Pat Metheny Group – Offramp
1. Barcarole [3:15]
(Metheny/Mays/Vasconcelos)
2. Are You Going With Me? [8:47]
(Metheny/Mays)
3. Au Lait [8:28]
(Metheny/Mays)
4. Eighteen [5:05]
(Metheny/Mays/Vasconcelos)
5. Offramp* [5:55]
(Metheny/Mays)
6. James [6:41]
(Metheny/Mays)
7. The Bat Part 2 [3:50]
(Metheny/Mays)
Pat Metheny – guitar synthesizer, guitar, synclavier guitar
Lyle Mays – piano, synthesizer, autoharp, organ, synclavier
Steve Rodby – acoustic & electric bass
Dan Gottlieb – drums
Nana Vansconcelos – percussion, voice, berimbau
Recorded October 1981 at Power Station, New York
Engineers: Jan Erik Kongshaug, *Gragg Lunsford
Assistant Engineer: Barry Bongiovi
Mixed at Talent Studio, Oslo
Mixing Engineer: Jan Erik Kongshaug
Produced by Manfred Eicher
A carreira de Lonnie Smith começou na banda do guitarrista George Benson, depois a partir de 1968 ele tornou-se band leader. Embora também tocasse outros teclados como o clavinet, seu instrumento principal sempre foi o órgão hammond. No meio dos anos 1970, quando o o som do hammond havia saído de moda, Smith também saiu um pouco de cena, mas participou da produção de alguns hits de outros artistas nos tempos da discoteca. Nos anos 1990, quando surge o movimento acid jazz, o som do órgão eletrônico já tinha deixado de ser ultrapassado para se tornar vintage, exótico e interessante. Assim, Smith voltou a se apresentar como líder e gravou outros álbuns com artistas como Norah Jones e Iggy Pop.
Em Mama Wailer, ouvimos Lonnie Smith em 1971, logo antes do seu som sair de moda. Acompanhado de gente muito talentosa, ele passa por alguns momentos meio “latin jazz” nas duas primeiras faixas, toca uma melodia da Carole King (então na crista da onda) e o lado B do LP era uma longa jam sobre um tema de outro compositor então muito famoso: Sly Stone.
The album’s centerpiece is surely “Stand,” one of the bold social statements from Sly And The Family Stone’s monumental album of the same name (Epic – 1969). Originally, Lonnie’s version took up a full side of an LP. But he made every minute count (…). In a great tribute to the song’s author, Sly Stone, Lonnie Smith treats us to a summer day in the ghetto. He gives the main theme a nervous beat, then grinds the funk to a slow burn for the solos – which find the organist weaving in and out of spots featuring Grover Washington’s tenor and Jimmy Ponder’s guitar. Then, just as suddenly, a sort of chase ensues, driven by Ron Carter’s hot-as-asphalt electric bass (astute listeners might recognize how Smith revisited this section in his own “Jimi Meets Miles” from 1994’s Foxy Lady). Grover yields to a scorching solo that wends into a stoned groove from Ponder’s guitar and finally segues into the kaleidoscopic finale of Smith’s solo. A masterpiece of social groove. (aqui)
Além dos solos de órgão, guitarra e sax, o disco tem o brilhante duo rítmico de Ron Carter no baixo e Billy Cobham na bateria, dois incansáveis músicos que estão (muito) ativos até hoje. Carter é nada menos do que o baixista mais gravado na história, com participação em mais de dois mil álbuns e menção no Guinness Book. E Cobham, se não tem esse recorde, tem uma invejável discografia como líder e em grupos como os de John McLaughlin (Mahavishnu), Freddie Hubbard, Milt Jackson e muitos outros. Cobham faz oitenta anos em 2024, assim como Chico Buarque. É claro que teremos merecidas homenagens nos próximos meses: na lupa de busca lá no alto, procurem por #billycobham80
Lonnie Smith – Mama Wailer
1. Mama Wailer (6:15) – written by Lonnie Smith
2. Hola Muncea (6:25) – written by Lonnie Smith
3. I Feel The Earth Move (5:00) – written by Carole King
4. Stand (17:20) – written by Sylvester Stewart
Clavinet, Organ – Lonnie Smith
Guitar – George Davis, Jimmy Ponder, Robert Lowe
Percussion – Airto Moreira, Richard Pratt, William King
Tenor Saxophone – Dave Hubbard, Marvin Cabell
Tenor Saxophone, Flute – Grover Washington
Trumpet, Flugelhorn – Danny Moore
Bass, Electric Bass – Ron Carter (1, 2, 4); Chuck Rainey (3)
Drums – Billy Cobham
Recorded at Van Gelder Studios< New Jerseym USA, July 1971
Talvez em cima da hora – talvez algum leitor presenteado com um iPhone testando a conexão com seu blog favorito -, mas também lembrando de quem festeja com um almoço no dia 25, corro pra deixar aqui um dos mais populares discos de jazz de todos os tempos, The Charlie Brown Christmas. Falava em discos comerciais no post anterior? E o que dizer desse, que foi gravado sob encomenda para o especial da CBS, em 1965? Tanto que é uma das trilhas de tevê, e um dos álbuns temáticos de natal, mais vendidos de todos os tempos. Função à parte, o revezamento de trios que Vince Guaraldi propõe é excelente e funciona com perfeição, podendo inclusive ser servido à mesa.
Vince Guaraldi Trio – A Charlie Brown Christmas (192)
Vince Guaraldi: piano, arrangement
Fred Marshall/Monty Budwig: double bass
Jerry Granelli/Colin Bailey: drums
01 O Tannenbaum – 5’08
02 What Child Is This? – 2’25
03 My Little Drum – 3’12
04 Linus and Lucy – 3’06
05 Christmas Time Is Here [Instrumental] – 6’05
06 Christmas Time Is Here [Vocal Version] – 2’47
07 Skating – 2’27
08 Hark! The Herald Angels Sing – 1’55
09 Christmas Is Coming – 3’25
10 Für Elise – 1’06
11 The Christmas Song – 3’17
12 Greensleeves – 5’26
Poucos sabem que em 1997 a Terra sofreu devido à sua superpopulação. O Professor John Robinson, sua esposa Maureen, seus filhos Judy, Penny e Will, além do Major Don West, foram selecionados para viajar pelo espaço até um planeta do sistema Alpha Centauri, a fim de estabelecer uma colônia, para que outras pessoas pudessem viver por lá. A viagem foi realizada na espaçonave batizada como Júpiter 2. No entanto, o doutor Zachary Smith, agente de um governo inimigo (possivelmente a mando de algum filho da Putin) foi enviado para sabotar a missão. Ele foi bem-sucedido em reprogramar o robô B9 para destruir os equipamentos da nave oito horas após a decolagem, mas no processo se atrasou e ficou preso na espaçonave, que decolou com ele a bordo. Ao tentar desativar o robô, este se religou sozinho. Sem saber do perigo que criou para todos, o doutor Zachary Smith decidiu acordar a família Robinson, que estava em tubos de hibernação. Quando menos se esperava, o robô B9 iniciou a sua programação e destruiu o sistema de navegação, rádio e vários aparelhos importantes, antes de ser desativado. Com a espaçonave em sérias avarias e já muito distante da rota programada, todos a bordo tornaram-se ‘perdidos no espaço’ e lutam até hoje para encontrar o caminho de volta pra casa.
Creio que a maioria dos frequentadores do PQP Bach sabem do que estou falando, pois que, presumo, já navegam na constelação dos 50 anos. Alguns, como eu, certamente odiaram o Dr. Smith, um velhote cheio de trejeitos e de duvidosíssimo caráter. Sim a saudosíssima série Perdidos no Espaço. Talvez o primeiro espécime terráqueo pelo qual me apaixonei foi Will Robinson, depois, alguns personagens da Vila Sésamo. Muitos, assim também como eu, quiseram ser Will Robinson, viajar pelo espaço e ter um robô. Infernizei tanto que a minha avó me arranjou um. A tripulação da nave Júpiter 2 era composta por Dom Diego de La Vega, digo, pelo Professor John Robinson (Guy Williams, da série Zorro, outra delícia que assisto até hoje); sua esposa Maureen (June Lockhart); as filhas Judy e Penny (Marta Kristen e Angela Cartwright); pelo filho Will (Billy Mumy); pelo piloto, Major Don West (Mark Goddard) e pelo sacana Zachary Smith (o formidável ator Jonathan Harris), este último, com falas que permanecem indeléveis na memória dos fãs: “Meu jovem, nada tema, com Smith, não há problema”, ou o seu suspirante “Oh, Dor…”, e o seu insulto contra o robô: “uma lata velha enferrujada”. Irwin Allen, que já se enchia de grana até a tampa com Terra de Gigantes, Viagem ao Fundo do Mar e o maravilhoso Túnel do Tempo, foi o criador e produtor executivo da série, que teve três temporadas, sendo a primeira ainda em preto e branco. A trilha sonora da série, com o tema da inesquecível abertura, era de nada mesmo que o grande John Williams – que mais tarde voltaria a compor ‘para as estrelas’. No Brasil a série estreou em dezembro de 1966, mas só em SP. De 1970 a 1978 foi exibida pela Globo para o resto do país. A partir de 1990 foi exibida pela nefasta Record e hoje, dizem, numa tal Rede Brasil. A série não foi encerrada em 1968 devido a baixas de audiência, mas por contenção de despesas devido ao fracasso de outros projetos da produtora, a CBS. Certas coisas não se apagam da memória de infância. A voz dos dubladores, especialmente a voz irritante do Dr. Smith; a aventuras de Will Robinson; o robô, um botijão de gás com luzes natalinas na cabeça, que nos seus melhores momentos lançava raios dos seus ganchos – o que todos adoravam ver. Mais o alerta:”Perigo Will Robinson , perigo!”. Os efeitos sonoros, sobretudo aqueles à base de Teremim, também são inesquecíveis.
Mas porque diabos fui parar nas plagas estelares e nas tropelias do Dr. Smith? Acontece que precisava de um assunto para encher a linguiça dessa postagem e o nome do formidável disco que aqui trago é Les Égarés – Os Perdidos. Antes de tudo um ‘blend’ timbrístico especialíssimo e inusitado, com uma sonoridade que certamente a família Robinson só encontraria em alguma galáxia distante, até o presente momento: Sax Soprano, Violoncelo, Acordeon e Kora – o fantástico e belíssimo cordofone africano.
Na tripulação deste disco fenomenal temos o mais famoso nome do Kora, Ballaké Sissoko; mais Vincent Peirani ao acordeon; Vincent Segal ao celo e Emile Parisien ao saxofone soprano. Destaco, dentre as faixas de grande beleza, o tema Esperanza, de Marc Perrone, uma cúmbia irresistível que faria derreter as calotas polares de Marte. Diante dessa novidade timbrística que decerto irá surpreender e encantar a muitos, sugiro que nos libertemos de comparações e nos deixemos imergir e enlevar por esta beleza. Como se, tripulantes da nave da família Robinson, tenhamos aportado em um planeta sonoro, no qual a música fluísse dos troncos e folhagens de densas e deslumbrantes florestas, em cores sonoras e melodias inteiramente novas para nós. Nautas da música, boa sorte.
Sissoko Segal Parisien Perani: Les Égarés – 2023
1- Ta Nyé
2- Izao
3- Amenhotep
4- Orient Express – Joe Zawinul
5- La Chanson des Égarés
6- Esperanza – Marc Perrone
7- Dou
8- Nomad’s Sky
9- Time Bum
10- Banja
Invisible Nature é um álbum ao vivo do saxofonista inglês John Surman e do baterista norte-americano Jack DeJohnette, gravado em Tampere e Berlim em 1999. Quem segue o PQP sabe de minha tara por Surman. Bem, há cinco décadas, John e Jack encontram-se em Londres para jams regulares. Seu primeiro disco como dupla, The Amazing Adventures of Simon Simon, definiu um estilo espaçoso e aberto, quase de free jazz.
Os saxofones e o clarinete de Surman sempre tiveram um tom leve, de pássaro. Ele vibra, tece e mergulha no ar. DeJohnette é um baterista que usa suas habilidades com bom gosto e discrição. Ele se acomoda tranquilamente em Invisible Nature, até realiza isto com certo abandono em músicas como Rising Tide e Outback Spirits, ao lado das explorações proporcionalmente enérgicas de Surman. O CD oferece uma variedade idiossincrática de sons e abordagens. As melodias variam de sussurrantes a exploratórias, e a eletrônica expande a paleta de cada músico. Estas performances demonstram que DeJohnette e Surman têm um relacionamento intuitivo e aventureiro. Ao final de Fair Trade, Surman fala no fantastic Jack DeJohnette, Não há como não concordar. Surman também é.
(Relendo o que escrevi, acho que sugeri que o CD tem muita coisa eletrônica. É falso. Quase tudo é acústico).
.: interlúdio :. John Surman & Jack DeJohnette: Invisible Nature (ao vivo)
1 Mysterium 15:57
2 Rising Tide 9:32
3 Outback Spirits 12:30
4 Underground Movement 9:45
5 Ganges Groove 6:36
6 Fair Trade 11:21
7 Song For World Forgiveness 9:29
John Surman – soprano and baritone saxophones, bass clarinet, synthesizers
Jack DeJohnette – drums, electronic percussion, piano
Creio que eu nunca teria acesso a esse CD se Randy Brecker não tivesse tocado nele. Cheguei nele quando estava atrás da discografia do ótimo trompetista norte americano, que tem uma pequena participação nesta delicada, sincera e singela homenagem que o flautista Herbie Mann faz ao lendário pianista de jazz e compositor, Bill Evans. A curiosidade é que mesmo sendo homenagem a um pianista, os arranjos que Herbie Mann escreveu para essas obras não têm piano. Fica a cargo de uma guitarra, muito bem tocada por Bruce Dumlap, que ficou responsável pela parte harmônica. Um fiel escudeiro de Bill Evans também se faz presente, o baixista Eddie Gomez, e a bateria ficou a cargo de Louis Nash, com algumas intervenções do percussionista Sammy Figueroa. Enfim, um grande CD, tocado por ótimos músicos homenageando seu grande mestre, Bill Evans.
Herbie Mann – Peace Pieces – Music of Bill Evans
01. Peri’s Scope
02. Funkallero
03. Interplay
04. Turn Out The Stars
05. We Will Meet Again
06. Blue in Green
07. Waltz For Debbie
08. Very Early
09. Peace Piece
Herbie Mann – Flute
Randy Brecker – Flugelhorn
Eddie Gomes – Bass
Bruce Dunlap – Guitar
Louis Nash – Drums
Sammy Figueroa – Percussion
Alguém aí já deve ter notado que eu adoro John Surman. E é grande o número de downloads a cada postagem. O homem é mesmo espantoso. Este trabalho é muito mais jazzístico do que os últimos que postei. Não obstante, Surman segue interessado na música folclórica e religiosa da Inglaterra, mas desta vez dá-lhe outra feição. A banda é toda inglesa. O disco começa calma e livremente, com Canticle with response, de clara influência religiosa, e A distant spring. Fecha da mesma forma, com a totalmente improvisada Triptych, quase 15 minutos de interação altamente inteligente e empática entre os quatro músicos. No meio do disco há música vigorosa, incluindo Tess — Surman é um grande leitor, fã de Thomas Hardy — e Across the Bridge. Surman é sempre lírico e apaixonado. Muito estimulante. Dá-lhe.
John Surman Quartet: Stranger Than Fiction
1. Canticle With Response 6:09
2. A Distant Spring 7:42
3. Tess 6:39
4. Promising Horizons * 5:30
5. Across The Bridge 7:52
6. Moonshine Dancer 6:42
7. Running Sands 9:07
8. Triptych * 14:43
composed by Surman except * by Surman/Taylor/Laurence/Marshall
recorded December 1993, Rainbow Studio, Oslo
John Surman, baritone and soprano saxophones, alto and bass clarinets;
John Taylor, piano;
Chris Laurence, bass;
John Marshall, drums
McCoy Tyner era um pianista que, em resumo, tinha dois jeitos de tocar. Um estilo percussivo, com acordes batucados como os de My Favorite Things, sua estreia com John Coltrane e um hit em 1961. Um estilo extremamente suave, com escalas e arpejos agudos que lembram o piano de um Chopin, Fauré ou Debussy. Mas com “blue notes”, claro.
Ou seja, mais ou menos como um ator que interpretava dois tipos principais de personagem, mas entre esses dois tipos ele percorria, do pianissimo ao fortissimo, uma ampla gama de sonoridades: talvez por isso, por ter tanta preocupação com os timbres do piano de cauda, ele nunca aderiu ao piano elétrico, ao contrário de outros mais ou menos seus contemporâneos como Herbie Hancock e Chick Corea ou ainda Cesar Camargo Mariano. Breve parêntese: alguns dias atrás assisti Elis e Tom, filme que retrata a gravação do clássico LP de 1974 e ali vemos um clima tenso entre Tom Jobim (partidário do piano acústico) e C.C. Mariano (que alternava entre o Fender Rhodes elétrico e o “piano de pau”). Tensão que acaba se resolvendo: na vida como na harmonia.
Voltando para McCoy Tyner: há discos em que ele transita entre os dois estilos básicos: por exemplo Open Sesame, com o quinteto de Hubbard, ou A Love Supreme, com o quarteto de Coltrane. Já em Ballads, com Coltrane, e neste Nights of Ballads and Blues, ele harmoniza tudo com toques suaves e elegantes nas teclas do piano. O baixista Steve Davis – que, anos antes, também estava na gravação de My Favorite Things – e o baterista Lex Humphries fazem o básico, o arroz com feijão e quem brilha é sempre o piano ao longo dos quase 40 minutos.
O repertório tem um tema de Tyner, dois de Thelonious Monk, um de Duke Ellington, duas canções de filmes da época e uma outra canção de melodia facilmente cantarolável mesmo que instrumental: We’ll Be Together Again. No lado B, Blue Monk (de Monk) e Groove Waltz (de Tyner), pelo contrário, são harmonicamente mais imprevisíveis, o que torna mais difícil assobiá-las. Monk (1917-1982), embora não tenha vendido discos na casa dos milhões, era muito respeitado por seus pares e foi, junto com Ellington, o compositor de jazz com o maior número de obras gravadas por outros artistas.
McCoy Tyner – Nights of Ballads & Blues
1. Satin Doll (Ellington, Mercer, Strayhorn) – 5:40
2. We’ll Be Together Again (Fischer, Laine) – 3:40
3. ‘Round Midnight (Monk) – 6:23
4. For Heaven’s Sake (Elise Bretton, Edwards, Donald Meyer) – 3:48
5. Star Eyes (De Paul, Raye) – 5:03
6. Blue Monk (Monk) – 5:22
7. Groove Waltz (Tyner) – 5:31
8. Days of Wine and Roses (Mancini, Mercer) – 3:21
McCoy Tyner – piano
Steve Davis – bass
Lex Humphries – drums
Recorded: 4 march 1963, Van Gelder Studio, New Jersey, USA
Conheci Rachel Grimes porque sou fã de sua banda, chamada Rachel’s. (A história do nome tem bem menos ego do que se pode imaginar). Sobre ela, resume bem a wikipedia: The group’s work is strongly influenced by classical music, particularly inspired by the minimalist music of the late 20th century, and its compositions reflects this. The group’s recordings and performances feature a varying ensemble of musicians, who play a range of string instruments (including viola and cello) in combination with piano, guitars, electric bass guitar, and a drum set that includes a large orchestral bass drum. Embora não esteja dito nesse trecho, Rachel’s é classificada como uma banda de post-rock — o que eu considero uma grande incorreção, apesar de não saber em que gênero enquadrá-los. A palavra “neoclássico” vem à mente, mas isso é apenas uma indicação.
Este primeiro trabalho solo da pianista e compositora Rachel vai pelo mesmo caminho. Não é jazz, mas lembra alguns momentos (os mais esparsos) de Herbie Hancock; não é música clássica, mas não soa estranho quando lhe categorizam como “contemporary classical”. Como sabemos, tudo isso faz pouca diferença — principalmente se o resultado é brilhante, e felizmente é este o caso. Rachel criou um álbum belíssimo. Os temas são curtos e entrelaçados, quase sempre bastante lentos, e com o piano a criar paisagens de tranquilidade e introspecção. E é só ele que se ouvirá no disco, além de uns passarinhos, bem no fundo, em determinados momentos. Não parece relaxante? Ao cabo de pouco mais de meia hora, fica-se com a impressão de se ter passado por um spa cerebral. Não que seja música simplista, ou fácil, ou (argh!) new age. Rachel, em solo ou com a banda, tem a virtude de criar canções que são agradáveis e ao mesmo tempo desafiam — e mais do que isso, que trazem identidade bem definida e por isso, causam saudade e fazem voltar à audição.
01 Long Before Us
02 Every Morning
03 The Corner Room
04 She Was Here
05 On The Morrow
06 My Dear Companion
07 Far Light
08 Mossgrove
09 Bloodroot
10 At the Pond
11 Starwhite
12 The Side View
13 Every Morning Birds
14 A Bed of Moss
Nos comentários do post sobre Rachel Grimes, o leitor Felipe faz menção aos discos da “banda-mãe” Rachel’s, em especial “Music for Egon Schiele”. Sendo esta uma obra tão — TÃO — bela, e dada a dificuldade em se encontrar Rachel’s em boa qualidade na internet (sem pagar), me parece que não, não fica nem um pouco deslocada a postagem da discografia do grupo aqui.
“Music for Egon Schiele” é provavelmente o disco mais indicado aos amantes de música clássica que já postei nesse blog. (Ou ainda: é o mais próximo da música clássica que já me senti.) Procuro ficar de fora dessa área porque, como é sabido entre os leitores mais antigos, este cão, além de mau ouvinte, não entende lhufas do assunto. Mas o review da Amazon me diz que não arrisco tanto assim:
Originally performed as a live accompaniment for a 1995 theater-dance production about the life of painter Egon Schiele, this is the both the exception to the Rachel’s rule and their defining moment. Though they are normally a three-headed, multiperson new-music and classical ensemble centered around Jason Noble, Christian Frederickson, and Rachel Grimes, this suite was written entirely by Grimes and performed by Grimes (on piano), Frederickson (viola), and cellist Wendy Doyle. As always, the music is spellbinding; the fact that this is classical music by –and for– people who grew up on indie rock in no way diminishes it, nor does it make the music too low-brow for those with a classical background. For a more complete picture of what the entire Rachel’s ensemble is capable of, both Handwriting and The Sea and the Bells are recommended. —Randy Silver
Se a resenha acima une bem os três primeiros discos, já “Selenography” e “Systems/Layers” tem maior dose de experimentalismo (não confundir com psicodelia ou bagunça. Os Rachels são tão sérios quanto sensíveis). Meus preferidos são Music for Egon Schiele e Selenography. É música que pode ocupar meu background e me deixar mais criativo, ou que pode ocupar toda minha atenção e me deixar de queixo caído. Acho que vocês, que ainda não conhecem, deveriam tentar. Não garanto seu dinheiro de volta, mas prometo ir direto pro inferno com minhas boas intenções.
Music for Egon Schiele /1996 (v0)
Rachel Grimes (piano), Christian Frederickson (viola), Wendy Doyle (cello)
01 Family Portrait
02 Egon & Gertie
03 First Self-Portrait Series
04 Mime Van Osen
05 Second Self-Portrait Series
06 Wally, Egon & Models in the Studio
07 Promenade
08 Third Self-Portrait Series
09 Trio Goes to a Movie
10 Egon & Wally Embrace and Say Farewell
11 Egon & Edith
12 Second Family Portrait
Rachel Grimes (piano); Christian Frederickson (viola); Richard Barber (contra bass); Nat Barrett (cello); Marnie Christensen (violin); Kevin Coultas (drums); Mark Greenberg (vibraphone); Gregory King (hand drums); Michael Kurth (double bass); Eve Miller (violoncello); Jason Noble (electric bass, guitars, tapes); Jeff Mueller (orator)
01 Southbound to Marion
02 M. Daguerre
03 Saccharin
04 Frida Kahlo
05 Seratonin
06 Full on Night
07 Handwriting
Rachel Grimes (piano, vibes, linen sheet); Christian Frederickson (viola, matchbooks); John Baker (bells); Kevin Coultas (drum set, timpani); Edward Grimes (drum kit); Thomas Hatte (contrabass); Sarah Hong (cello); Ann Kim (violin); Greg King (boatswain); Jim Maciukenas (musical saw); Matthew McBride (viola); Eve Miller (violoncello, breton plotter, notepad)
01 Rhine & Courtesan
02 The Voyage of Camille
03 Tea Merchants
04 Lloyd’s Register
05 With More Air Than Words
06 All Is Calm
07 Cypress Branches
08 The Sirens
09 Night at Sea
10 Letters Home
11 To Rest Near to You
12 The Blue-Skinned Waltz
13 His Eyes
Rachel Grimes (vocals, piano, harpsichord, keyboards); Jason Noble (guitar, keyboards, bass, percussion); Eve Miller (cello); Christian Frederickson (viola, accordion, keyboards); Dominic Johnson (viola); Edward Grimes (vibraphone, drum kit); Gregory King (percussion); Kyle Crabtree (drum kit); Steve Buttleman (trumpet); Giovanna Cacciola (vocals)
01 A French Galleasse
02 On Demeter
03 The Last Night
04 Kentucky Nocturne
05 Honeysuckle Suite
06 Artemisia
07 Old Road 60
08 An Evening of Long Goodbyes
09 Cuts the Metal Cold
10 The Mysterious Disappearance of Louis LePrince
11 Forgiveness
12 Hearts and Drums
Rachel Grimes (piano, keyboards); Christian Frederickson (viola, keyboards); Jason Noble (bass, guitar, drums, toolbelt, keyboards); Kyle Crabtree (drum kit); Edward Grimes (drums, keyboards); Eve Miller (cello); Matthew Annin (french horn); Wendy Doyle (cello); Doug Elmore (stand-up bass); Jane Halliday (violin); Sarah Hill (violin); Shannon Wright (vocals); Greg King (films)
01 Moscow Is in the Telephone
02 Water from the Same Source
03 Systems/Layers
04 Expect Delays
05 Arterial
06 Even/Odd
07 Wouldn’t Live Anywhere Else
08 Esperanza
09 Packet Switching
10 Where_Have_All_My_Files_Gone?
11 Reflective Surfaces
12 Unclear Channel
13 Last Things Last
14 Anytime Soon
15 Air Conditioning/A Closed Feeling
16.Singing Bridge
17.And Keep Smiling
18.4 or 5 Trees
19 NY Snow Globe
Não sei bem de onde catei essa raridade, que ganhou remasterização em nova edição deste ano. Também não posso parar agora pra procurar, ou falar sobre Milt Jackson. Ainda bem que não precisa. Saibam que o disco é lindo e majestoso. E agradeçam ao internauta misterioso pelo rip em 320kbps.
Milt Jackson at the Museum of Modern Art 1965
Milt Jackson: vibraphone
Cedar Walton: piano
James Moody: reeds
Ron Carter: bass
Otis Finch: drums
Não apenas por todas as razões musicais imagináveis, o jazz me fascina também pelas histórias, lendas, imaginário, esquinas. O componente humano desgarradamente exposto, a atmosfera dos clubs de jazz de meio século atrás; é possível ouvir ignorando o contexto, mas sem dúvida a experiência fica muito mais prazerosa e completa quando se descobrem pedacinhos dessa grande narrativa. Estes aspectos dão uma sensação de infinitude que a instituição Jazz me proporciona: não é apenas um universo, são diversos deles — e lembro de como me parecia impossível conhecer o jazz, abarcá-lo e dar sentido, quando fui provocado, há tantos anos, por um bop furioso numa (vejam só) rádio FM local. Desde então venho lentamente conhecendo-o melhor, como se cortejavam moças nos namoros antigos. Talvez esteja começando a enxergar a cerca da casa dela.
Digressão à parte, aproveitava eu o recesso de fim de ano para dar uma pesquisada sobre Wes Montgomery, que tanto admiro, quando dou de cara com uma gema completamente inesperada. Como se Toquinho tivesse feito um show acústico com Ozzy Osbourne ou Bruno largasse Marrone para fazer dupla com Madonna, descubro uma colaboração entre Wes e Cannonball Adderley!
Pequena pausa para assentar minha surpresa.
O jazz é tão generoso que me dá vários herois; fico em estado de fã com frequencia. Respeito longamente Montgomery pelo que produziu com sua guitarra, por tê-la colocado tão unica e apropriadamente no jazz, e para sempre. E Cannonball me conquistou com seu carisma inigualável — primeiro tocando, e depois ao ouvi-lo conversando com a plateia, certificando-me do grande bonachão que já transparecia ao sax. Sabia que fora Cannonball quem proporcionou uma carreira a Wes, indicando-o após um show para (o lendário produtor) Orrin Keepnews, da Riverside, mas não havia imaginado-os tocando juntos; Wes sempre havia preferido pequenas formações, e como band leader (razão que fê-lo recusar um posto na banda de Coltrane no começo dos ’60). Apesar das colaborações — Milt Jackson, Jimmy Smith, Wynton Kelly Trio — sempre esteve um pouco à parte do mundo do bebop movido a sopro.
Donde descobrir Cannonball Adderley and the Poll-Winners, de 1960, me deixou feliz como criança que ganhou gibi novo.
Os “Poll-Winners” do título referem-se às votações para melhores músicos de jazz das revistas da época — Down Beat, Metronome, Playboy. Ray Brown vencia quase sempre; além da classe, tinha uma respeitada carreira de já quinze anos, desde a banda de Dizzy Gillespie. Cannonball havia arrematado o prêmio de melhor sax alto com Somethin’ Else, e Wes fora a revelação/promessa de 1959. Apesar disso, foi um encontro quase fortuito entre os três em San Francisco, na primavera de 1960, que motivou Cannonball a reuní-los para duas sessões de gravações, 21/05 e 05/06 daquele ano.
For in view of the emphasis to be placed on guitar and bass, Adderley had felt that instrument would most suitably round out the unusual musical coloration. Then Vic sat down at the piano to run through a new tune of his, The Chant – and all of us were immediately aware that a whole lot of hip people on the West Coast had apparently been asleep for the past couple of years. Certainly there had been no words of warning to lead any of us to expect what we were hearing : a genuinely soulful (in the very best sense of that hard-worked word), and immensely swinging, playing and composing talent.Orrin Keepnews/liner notes
O disco é brilhante, como se pode imaginar — mas vou poupar adjetivos, já que minha evidente comoção pode atrapalhar uma leitura mais técnica (que absolutamente não me interessa neste caso). Basta dizer o que lhe saltará aos ouvidos: os solos de vibrafone em “Lolita”, de sax em “Azule Serape” e “The Chant”, de guitarra em “Never Will I Marry” e “Au Privave”, e todos em “Yours is My Heart Alone”. Além disso, o trabalho gentil que Wes executa ao fundo, como base quieta ao lado do piano ou contrapondo o vibrafone, é um deleite (que se presta muito bem aos fones e à atenção, inclusive). Fico imaginando a química entre Cannonball e Wes no estúdio; ambos com histórias parecidas, de grandes esforços para chegar até ali, provindos de famílias de músicos. Evidentemente fui atrás de mais informações e, para minha felicidade completa, descobri que “The Poll-Winners” foi a segunda, e última, colaboração entre eles. A segunda!
(Fico pensando que ouvinte eu seria sem a internet.)
Encontrar a primeira foi até mais fácil, e em melhor qualidade. Foi em 1959, num álbum fronteado por um nome que não conhecia: Jon Hendricks. Logo depois fiquei sabendo que foi precursor do scat singing, recebeu a alcunha de “Poet Laureate of Jazz” e a Time chamou-o de “James Joyce of Jive” — porque foi também um pioneiro do vocalese (a substituição de um instrumento solo pela voz, mas com letras “verdadeiras”, não apenas as sílabas do scat). O time que Hendricks reuniu para seu primeiro disco solo era uma grande festa de família: Monk, Buddy e John Leslie “Wes” Montgomery, Nat e Julian “Cannonball” Adderley; além de Pony Poindexter (saxofonista com grande folha de serviços prestados, incluindo Bird e Lionel Hampton, e depois Eric Dolphy) e outros músicos.
Sem saber bem o que esperar, fui ao disco sem expectativas; a princípio não gosto de voz no jazz (embora sempre haja Louis, Ella, Billie, Sarah. Ainda bem!). A descrição de Hendricks no parágrafo acima dá bem o serviço: por cima de faixas velozes, muito animadas e abraçadas ao swing, Jon canta — seja à crooner mesmo, ou solando em scat. E como canta! E ainda escreve bem! Impossível não sorrir com as letras de “Feed Me” ou “Social Call”. E para além da performance de Hendricks, ouve-se muito bem Wes e Buddy; Cannonball, além de dobrar firmemente algumas linhas com Nat, tem seu momento na faixa-título, improvisada na hora da gravação. (Apesar de não ganhar crédito, à época; afinal já tinha contrato com a Riverside. Foi para as liner notes como “Blockbuster and his Brother”. Ou como escreveu o próprio Hendricks: “…And we got two more brothers who toil in other vineyards and who cannot be accurately mentioned, but they are “Blockbuster” and his brother and your ears will tell you who they are. They sure did warm up the studio with their alto and cornet. (You don’t know yet?)”)
Dois discos que vão além deles mesmos; são cacos das infindáveis histórias do jazz. Como poucos outros, estou ouvindo-os babando. (Querem o quê de um cachorro?)
Cannonball Adderley and the Poll-Winners /1960 (192) download – 60MB
Cannonball Adderley, alto sax; Wes Montgomery, guitar; Victor Feldman, piano/vibes; Ray Brown, bass; Louis Hayes, drums. Produzido por Orrin Keepnews para a Riverside
01 The Chant (Feldman)
02 Lolita (Harris)
03 Azule Serape (Feldman)
04 Au Privave (Parker)
05 Yours Is My Heart Alone (Lehar)
06 Never Will I Marry (Loesser)
07 Au Privave [alt take]
John Hendricks – A Good Git-Together /1959 (V0) download – 55MB
Jon Hendricks, vocals; Norwood “Pony” Poindexter, alto sax; Guildo Mahones, piano; Wes Montgomery, guitar; Monk Montgomery, electric bass; Buddy Montgomery, vibes; Ike Issac, bass; Walter Bolden, drums; Jimmy Wormsworth, drums; Cannonball Adderley (credited as “Blockbuster”), alto sax; Nat Adderley, cornet. Produzido por Richard Bock para a Pacific Jazz
01 Everything Started on the House of the Lord (Hendricks)
02 Music in the Air (Gryce)
03 Feed Me (Hendricks)
04 I’ll Die Happy (Hendricks)
05 Pretty Strange (Weston)
06 The Shouter (Mahones)
07 Minor Catastrophe (Hendricks)
08 Social Call (Gryce)
09 Out Of the Past (Golson)
10 A Good Git-Together (Hendricks)
11 I’m Gonna Shout (Everything Started on the House of the Lord) (Hendricks)
IM-PER-DÍ-VEL !!! Um dos melhores CDs de jazz que já ouvi !!!
Com Wynton Marsalis, exuberância, energia e musicalidade de alto nível nunca são um problema. Este deve ser um dos melhores conjuntos de médio porte do trompetista, um septeto, com o pianista Marcus Roberts, o trombonista Wycliffe Gordon, os saxofonistas Wessell Anderson e Todd Williams , o baixista Reginald Veal e o baterista Herlin Riley. É também mérito de Marsalis ele permitir uma sólida interação de grupo e muito espaço para seus companheiros não apenas se expandirem, mas também incluírem suas obras escritas no repertório. A maior parte desse material é extenso e é um teste para a resistência da banda, mas um prazer para quem ouve. A faixa-título tem mais de 37 minutos, trata-se de um grandioso tratado sobre romance, com solos longos, seções de compactas e cheias de detalhes. “The Jubilee Suite” tem apenas 12 minutos, ecoando hinos de clarim em uma moderna Nova Orleans. “And the Band Played On” é uma marchona linda e cômica e “Brother Veal” exala uma sensação calorosa em um swing fácil, com o sax de Williams como ponto de referência. A última peça, “Sometimes It Goes Like That”, é a melodia mais complexa, usando o típico andamento variável e dispositivos melódicos que tornam uma obra de jazz de Marsalis reconhecível. A arte da capa e o título podem indicar que este foi um interlúdio azul na vida pessoal de Marsalis traduzido em música.
.: interlúdio :. Wynton Marsalis: Blue Interlude
1 Brother Veal
Written-By – W. Marsalis*
3:23
2 Monologue For Sugar Cane And Sweetie Pie
Piano, Voice [Spoken Word] – Wynton Marsalis
5:55
3 Blue Interlude (The Bittersweet Saga Of Sugar Cane And Sweetie Pie)
Written-By – W. Marsalis*
37:14
4 And The Band Played On
Written-By – W. Gordon*
5:22
The Jubilee Suite
Written-By – T. Williams*
(12:20)
5.1 I. Day To Day
5.2 II. Running And Rambling
5.3 III. Grace
6 Sometimes It Goes Like That
Written-By – W. Marsalis*
7:11
Alto Saxophone – Wessell Anderson
Bass – Reginald Veal
Drums – Herlin Riley
Piano – Marcus Roberts
Tenor Saxophone, Soprano Saxophone, Clarinet – Todd Williams
Trombone – Wycliffe Gordon
Trumpet – Wynton Marsalis
O que temos aqui hoje é fruto de um atraso. Deveria tê-lo postado dias atrás, mas não pude. Porque este não é bem um álbum de fim de semana. Não como vocês possam ter notado em outras oportunidades – quando procuro trazer gravações mais leves, simples e prazerosas do que desafiadoras ou introspectivas. Por outro lado, às vezes tanta reverência mais engana e confunde do que ajuda a ouvir uma obra. Só não incomoda mais do que introduções longuíssimas como essa. Adiante.
Herbert Jeffrey Hancock e Armando Anthony Corea andaram sempre muito próximos em suas carreiras. Têm quase a mesma idade (Herbie de 1940, Chick de 41), chegaram a New York em 62-63, aprimoraram sua técnica e gravaram discos fabulosos durante essa década, e se lançaram a liderar projetos ousados durante os 70 – o primeiro com seu jazz-funk, o segundo como maior expoente do fusion (no Return to Forever). Ambos alcançaram alto grau de status e popularidade, e redescobriram sua própria sonoridade sob a batuta de Miles Davis. Hancock tocou em seu grupo de 1963 a 69; e Corea, substituindo o próprio, naquele ano e no seguinte. Os dois gravaram Bitches Brew e tornaram-se apaixonados pelo avant-garde e pela experimentação rock/elétrica que então começava a se conectar ao jazz. Quando partiram para seus projetos nos anos seguintes, seriam os principais expoentes desse novo estilo, e atingiriam altíssimos graus de popularidade.
Por isso, foi com surpresa que o público recebeu a notícia de uma turnê reunindo os dois pianistas – e mais ninguém – em espetáculos acústicos. Isso já era 1978, e a crítica abençoou o que chamou de “retorno ao jazz”, dando sinais de cansaço e nostalgia pela raiz que parecia ofuscada. De quatro shows em fevereiro, foram extraídas seis faixas – desafios infinitos de improviso, feeling e conversações entre dois pianistas altamente técnicos e de vanguarda. “Someday my Prince will Come” era conhecida de ambos dos shows com Davis; em “Liza”, homenageiam Bill Evans; “Button Up” e “February Moment” são improvisos, criatividade e talento vertente. Os sucessos fecham o show – “Maiden Voyage”, de Hancock, e “La Fiesta”, de Corea. A ordem do disco é a mesma apresentada nos shows. As participações da platéia foram mantidas, o que mantém a atmosfera acolhedora de um concerto como esses. Escute Hancock no canal esquerdo e Corea no direito. Complexo e exigente, em momentos doce, latino e divertido; sejam bem vindos a um dos maiores concertos de jazz de todos os tempos.
.oOo.
An Evening with Herbie Hancock & Chick Corea: In Concert
Produzido por Herbie Hancock & David Rubinson para a Columbia
disco 1
01 Someday My Prince Will Come (Churchill, Morey) 12’39
02 Liza (All the Clouds’ll Roll Away) (Gershwin, Kahn) 9’00
03 Button Up (Corea, Hancock) 17’37
disco 2
04 Introduction of Herbie Hancock by Chick Corea 0’41
05 February Moment” (Hancock) – 15’47
06 Maiden Voyage” (Hancock) 13’31
07 La Fiesta” (Corea) 22’02
DeJohnette cometeu uma indiscutível obra-prima em 1979 com este sensacional Special Edition. E, bem, depois foi para outras plagas ser o notável baterista que sempre foi. Tentou outros discos autorais até que resolver botar o nome de Extra Special Edition num deles. Era um perfeito engana-bobo. Eu caí. Comprei a merda. A adição de Bobby McFerrin ao grupo do baterista deveria ter sido uma vantagem: o cantor pode fazer muito com sua voz, desde substituir um contrabaixo até usar seu falsete como uma trompa. Porém, este CD de temas majoritariamente original, não só carece bons temas como também não consegue ter um desenvolvimento real, particularmente nas faixas que incluem McFerrin. A coisa geralmente começa no que poderia muito bem ser o meio e termina de forma inconclusiva, com muitas das peças sendo pouco mais do que riffs funky para a seção rítmica. Apesar de alguns momentos fortes (principalmente do pianista Michael Cain ), apenas Seventh D e Summertime (ambas instrumentais) merecem ser ouvidas uma segunda vez.
.: interlúdio :. Jack DeJohnette: Extra Special Edition
1 Numoessence
Composed By – Bobby McFerrin, Gary Thomas, Jack DeJohnette, Lonnie Plaxico
5:24
2 Elmer Wudd?
Composed By – Bobby McFerrin, Jack DeJohnette, Michael Cain
8:36
3 Then There Was Light
Composed By – Bobby McFerrin, Michael Cain
4:57
4 You Can Get There
Composed By – Bobby McFerrin, Gary Thomas, Jack DeJohnette, Lonnie Plaxico, Marvin Sewell, Michael Cain
4:44
5 Inside The Kaleidoscope
Composed By – Bobby McFerrin, Gary Thomas, Jack DeJohnette, Lonnie Plaxico
3:25
6 Ha Chik Kah
Composed By – Bobby McFerrin, Gary Thomas, Jack DeJohnette, Lonnie Plaxico, Marvin Sewell, Michael Cain
5:19
7 Seventh D
Composed By – Jack DeJohnette
8:19
8 Rituals Of Spring
Composed By – Jack DeJohnette
5:56
9 Liquid Over Tones
Composed By – Jack DeJohnette
1:40
10 Speaking In Tongues
Composed By – Bobby McFerrin, Gary Thomas, Jack DeJohnette, Lonnie Plaxico, Marvin Sewell, Michael Cain
6:08
11 Summertime
Composed By – DuBose Heyward, George Gershwin
10:00
12 Memories Of Sedona
Composed By – Jack DeJohnette, Lonnie Plaxico, Michael Cain
5:39
Acoustic Bass – Lonnie Plaxico (faixas: 1, 4 to 8, 10 to 12)
Acoustic Guitar – Marvin Sewell (faixas: 1, 4, 5)
Alto Flute – Gary Thomas (faixas: 8)
Drums – Jack DeJohnette (faixas: 2, 4, 6 to 11)
Electric Guitar – Marvin Sewell (faixas: 6 to 8, 10, 11)
Keyboards [Electric Keyboards] – Michael Cain (faixas: 2)
Keyboards [Electronic Keyboards] – Michael Cain (faixas: 6, 8, 10, 12)
Keyboards [Korg OIW Keyboard] – Jack DeJohnette (faixas: 9)
Ocarina – Jack DeJohnette (faixas: 12)
Percussion – Paul Grassi (faixas: 1, 4 to 6, 8, 10)
Percussion [Log Drums] – Jack DeJohnette (faixas: 1, 5, 12)
Piano – Michael Cain (faixas: 2 to 4, 6 to 8, 10, 11)
Soprano Saxophone – Gary Thomas (faixas: 6, 10)
Tenor Saxophone – Gary Thomas (faixas: 1, 4, 5, 7, 11)
Triangle – Jack DeJohnette (faixas: 8)
Vocals – Bobby McFerrin (faixas: 1 to 3, 5 to 7, 10)
Whistling – Bobby McFerrin (faixas: 4)