Esse belíssimo CD caiu-me em mãos por acaso, quando procurava novidades na internet. Primeiramente, o nome de Jean-Pierre Rampal se destacava, e qualquer gravação deste genial flautista me atrai. O clarinetista francês Paul Meyer me era desconhecido até então, e quando fui procurar maiores informações a seu respeito descobri que, além de termos a mesma idade, ele nasceu apenas poucos dias após o meu nascimento. Curioso, não acham? Pensei comigo mesmo que se ele estava tocando com um músico da estatura de Rampal, com certeza tinha suas qualidades. E não me decepcionei.
Destaco que ele gravou este CD com pouco menos de trinta anos, e já demonstrava uma tremenda maturidade artística aliada a uma técnica muito apurada. Os dois concertos de Pleyel são obras para serem tocadas por virtuoses, reza a lenda que foram compostos para um dos maiores clarinetistas do começo do século XIX. Além disso tudo, o próprio Meyer escreveu as cadenzas.
Rampal dispensa apresentações, foi um dos maiores flautista de todos os tempos, e aqui encara a aventura da regência, frente à ótima Franz Liszt Chamber Orchestra, conjunto húngaro que o acompanhou por muitos anos.
Estou anexando ao arquivo o booklet. Espero que apreciem.
01. Concerto pour clarinette en si bémol majeur – Allegro vivace
02. Concerto pour clarinette en si bémol majeur – Adagio
03. Concerto pour clarinette en si bémol majeur – Allegro
04. Concerto pour clarinette en ut majeur – Allegro
05. Concerto pour clarinette en ut majeur – Adagio
06. Concerto pour clarinette en ut majeur – Allegro molto
07. Sinfonie concertante pour flûte & clarinette en si bémol majeur – Allegro mod
08. Sinfonie concertante pour flûte & clarinette en si bémol majeur – Larghetto
09. Sinfonie concertante pour flûte & clarinette en si bémol majeur – Allegretto
Paul Meyer – Clarinette
Jean-Pierre Rampal – Flute, Conductor
Franz Liszt Chamber Orchestra
Estes quase cinco anos em que infesto este blog podem condensar-se em pouco mais de um. Foram, enfim, seis meses de contribuições diárias logo após minha estreia, e outros tantos desde que voltei. No entremeio desses dois surtos de produção, como se fossem eles Olimpíadas, houve quatro anos de silêncio dedicados ao que costumo chamar de uma temporada no Hades, até porque, dentro do que isso pode significar para alguém a cuja vida nada falta de essencial, eles assim me foram, mesmo.
Seria muito fácil jogar esse silêncio todo na conta daquilo que convencionamos chamar CORRERIA. Não considero justo, no entanto, atribuir a meu esmigalhante ganha-pão a total responsabilidade pelo meu sumiço. Por vários motivos, adotei prioridades que me fizeram distanciar e mesmo, vejam só, prescindir da música – uma estultice tão grande que dá às senhoras e aos senhores uma medida das escolhas de jerico que fiz na vida. E assim, sem muito ouvi-la, não me sentia instigado a escrever sobre ela e, por não escrever, perdi completamente o cacoete de fazê-lo. E assim, cada vez que ensaiava um retorno, o monstro do far niente percebia minha hesitação e me atirava novamente à torrente.
Ao regressar, há alguns meses, eu o fiz pela gentil insistência dos colegas e, ao atirar-me novamente nos braços da Música e voltar escrever para o PQP Bach, percebi que toda minha motivação para dedicar tanto tempo e muito de meus fosfatos a este espaço resumia-se àquela tríade tão essencial à vida: explorar, aprender e compartir.
E é por conta do compartir que eu, nada afeito a expor coisas de minha ademais desinteressante vida, lhes trago todas essas considerações. Tenho ciência de que não escrevo para deixar mementos para mim mesmo, ou para uma posteridade que sequer tenho ideia se vai sobreviver à distopia corrente. Escrevo, sim, para uma imensa massa de nomes que desconheço, oferecendo-lhe que considero digno de compartir, tanto em texto quanto, sempre o mais importante, no que a música tem de mais intangível, e que palavra alguma conseguiria expressar.
Não espero, ao contrário do que vós outros poderiam imaginar, qualquer retribuição. Exceto por alguns habitués que muito nos honram com seus comentários, eu morreria seco se esperasse por ela. A justificativa para as publicações já se consuma quando elas entram no ar, e muito pouco do que vem depois – e, novamente, com as notáveis exceções que já mencionei – costuma mudar suas razões de ser.
Dito isso, confesso – e falo aqui só por mim, e não pelos meus colegas – meu fastio crescente para com alguns tipos, especialmente aqueles que desprezam o que aqui despendemos na curadoria e na construção dum acervo musical significativo e que, sem qualquer moção ao nosso empenho cotidiano em trazer coisas novas ao blog, preferem apontar nossas omissões e pedir-nos mais e mais coisas, de maneira pervasiva e descortês, como se disc jockeys fôssemos, à mercê de suas obsessões particulares, ou guardiões duma cornucópia musical que nada mais tivessem a fazer.
Não estou aqui para servir esses chupins. Paguem-me alguns boletos e, daí, talvez possamos conversar. Até lá, preferirei que infestem outros ninhos.
E o que isso tem a ver com Franz Danzi?
Nada, claro.
Franz Danzi tem a ver com as exceções:
Uma delas foi o João Ferreira, que dia desses nos escreveu, com a cortesia e educação que chupim algum sonha em ter:
“Bom dia,
Seria possível, para amenizar minha quarentena – estou no grupo de risco -, os Srs conseguirem
os Concertos para Fagote e Orquestra, de Franz Danzi?
Agradecimentos de um resignado confinado,
Sds”
É claro que sim, João. Aqui estão não só um, mas dois discos com os concertos para fagote de Danzi.
Que a quarentena lhe seja leve, que você se cuide, e que aqueles que restarem dessa triste espécie possam ser melhores no afã de explorar, aprender e compartir.
Franz Ignaz DANZI (1763-1826)
1 – Abertura em Mi maior
Kölner Akademie Michael Alexander Willens, regência
O que, você não conhece Franz Danzi? Sério? Bem, não se preocupe, até ter acesso a esse CD eu também nunca tinha ouvido falar desse compositor alemão, contemporâneo de Mozart, de Haydn, de Beethoven, etc. Nascido no seio de uma família de músicos proeminentes, sua vida foi relativamente tranquila, regeu óperas de Mozart, e sua esposa foi uma das principais das intérpretes das óperas do gênio de Salzburg, amigo de Spohr, Stamitz e de Carl Maria von Weber. Era bem relacionado o rapaz.
Mas indo direto ao que nos interessa, estes concertos para Flauta são muito bonitos, apesar de pouco interpretados. Só o selo ORFEO mesmo para resgatar essa preciosidade. Em alguns momentos, parece que estamos ouvindo Mozart, Weber, ou até mesmo Beethoven.
O flautista hungaro András Andorján foi aluno de Aurèle Nicolet e de Jean-Pierre Rampal, ou seja, o cara não é fraco não. Ah, tem outro hungaro famoso com o mesmo nome, mas que é um enxadrista de renome internacional, favor não confundir.
Então vamos ao que interessa. Lindo CD, com uma música agradabilíssima aos ouvidos. Creio que os senhores irão gostar, principalmente os fãs desse instrumento tão peculiar que é a flauta.
01 – Concerto Nr.1 Op.30 G major Allegro
02 – Concerto Nr.1 Op.30 G major Larghetto
03 – Concerto Nr.1 Op.30 G major Allegro moderato
04 – Concerto Nr.2 Op.31 D minor Allegro
05 – Concerto Nr.2 Op.31 D minor Larghetto non troppo
06 – Concerto Nr.2 Op.31 D minor Polacca
07 – Concerto Nr.3 Op.42 D minor Allegro
08 – Concerto Nr.3 Op.42 D minor Andante
09 – Concerto Nr.3 Op.42 D minor Allegretto
10 – Concerto Nr.4 Op.43 D major Larghetto-Allegro
11 – Concerto Nr.4 Op.43 D major Larghetto
12 – Concerto Nr.4 Op.43 D major Allegretto
András Adorján – Flute
Münchener Kammerorchester
Hans Stadlmair – Conductor