Este CD mereceu atenção especialíssima da Gramophone há alguns anos. Puxa, e ele é mesmo bom pra caraglio. Valeu o pequeno investimento. A música de Veracini é inteiramente italiana e de qualidade extraordinária e seu trabalho sobre a Sonata de Corelli é o melhor do CD. É para se ouvir de joelhos. Francesco Maria Veracini (1690-1768) viajou frequentemente pela Europa, tendo sido um dos primeiros violinistas freelancers, numa altura em que o grande objetivo de qualquer músico era obter um posto permanente (veja-se o caso de Bach, por exemplo, de quem Veracini foi contemporâneo). Nascido no seio de uma família de violinistas, fez os estudos musicais com o tio, Antonio Veracini (1659-1733), e não tardou que iniciasse a ronda europeia: Veneza (1711-1712), Londres (1714), Dusseldorf (1715), Londres de novo, Dresden (1717-1722), Florença (1723-33) e regresso a Londres (1741-1745). O virtuosismo de Veracini está bem expresso nos escritos do historiador inglês Charles Burney (1726-1814), um antigo aluno de Thomas Arne (1710-1778): “The year 1714 was rendered an important period for the progress of the violin in this country by the arrival of Geminiani and Veracini, as the abilities of these masters confirmed the sovereignity of the instrument over all others, in our theatres and concerts”. À carreira de violinista, que lhe trouxe fama e fortuna, Veracini juntou a de compositor, tendo escrito música vocal (óperas, cantatas, oratórios, canções), concertos e sonatas para violino (à volta de 60). Veracini faleceu no dia 31 de Outubro de 1768.
John Holloway apresenta uma sonata de cada uma das quatro principais coleções de Francesco Maria Veracini – desde o conjunto inédito, composto em Veneza em 1716, aos dois conjuntos publicados com números de opus de 1721 e 1744, respectivamente, até as inusitadas Dissertazioni de cerca de 1760 –, proporcionando-nos assim facetas sutilmente diferentes desta figura pouco conhecida, mas importante, no cenário violinístico do século XVIII. E embora seja verdade que a força corelliana seja forte nesta obra, ela certamente não obscurece a personalidade musical robusta e confiante de Veracini. As Sonatas Op 2 accademiche, em particular, demonstram como o modelo corelliano pode ser expandido ao se prestar um pouco mais de atenção a algumas de suas possibilidades contrapontísticas e violinísticas não realizadas – um ponto que Veracini deixa ainda mais claro na homenagem explícita que são as Dissertazioni, nas quais ele “preenche” as sonatas Op. 5 de Corelli.
Francesco Maria Veracini (1690 – 1768): Sonatas (Holloway, ter Linden, Mortensen)
1. Sonata No. 1 in G minor (from Sonata a violino solo e basso op. 1) – Overtura. Larga – Allegro 5:40
2. Sonata No. 1 in G minor (from Sonata a violino solo e basso op. 1) – Aria. Affetuoso 4:40
3. Sonata No. 1 in G minor (from Sonata a violino solo e basso op. 1) – Paesana. Allegro 1:51
4. Sonata No. 1 in G minor (from Sonata a violino solo e basso op. 1) – Minuet. Allegro 1:19
5. Sonata No. 1 in G minor (from Sonata a violino solo e basso op. 1) – Giga “Postiglione”. Allegro 4:28
6. Sonata No. 5 in C Major (from Sonata a violino, o flauto solo, e basso) – Largo 2:18
7. Sonata No. 5 in C Major (from Sonata a violino, o flauto solo, e basso) – Allegro 2:17
8. Sonata No. 5 in C Major (from Sonata a violino, o flauto solo, e basso) – Largo 2:53
9. Sonata No. 5 in C Major (from Sonata a violino, o flauto solo, e basso) – Allegro 3:16
10. Sonata No. 1 in D Major (from Dissertazioni… sopra l’opera quinta del Corelli) – Grave – Allegro 3:11
11. Sonata No. 1 in D Major (from Dissertazioni… sopra l’opera quinta del Corelli) – Allegro 2:41
12. Sonata No. 1 in D Major (from Dissertazioni… sopra l’opera quinta del Corelli) – Allegro 1:01
13. Sonata No. 1 in D Major (from Dissertazioni… sopra l’opera quinta del Corelli) – Adagio 2:51
14. Sonata No. 1 in D Major (from Dissertazioni… sopra l’opera quinta del Corelli) – Allegro 2:06
15. Sonata No. 6 in A Major (from Sonate accademiche op. 2) – Siciliana. Larghetto 3:06
16. Sonata No. 6 in A Major (from Sonate accademiche op. 2) – Capriccio. Allegro, e con affetto 5:02
17. Sonata No. 6 in A Major (from Sonate accademiche op. 2) – Andante moderato 3:28
18. Sonata No. 6 in A Major (from Sonate accademiche op. 2) – Largo 5:37
19. Sonata No. 6 in A Major (from Sonate accademiche op. 2) – Allegro assai
John Holloway: violin
Jaap ter Linden: violoncello
Lars Ulrich Mortensen: harpsichord
September 2003, Propstei St. Gerold

PQP




IM-PER-DÍ-VEL !!!
IM-PER-DÍ-VEL !!!


IM-PER-DÍ-VEL !!!
IM-PER-DÍ-VEL !!!
F.D.P. Bach voltou impossível das férias e nos mandou uma gravação obrigatória. A célebre gravação do pianista romântico Artur Rubinstein com o Guarneri Quartet dos quartetos para piano de Brahms. É notável o quanto o estilo dos executantes adapta-se à música de Brahms. Estes quartetos prescindem de maiores comentários: são música profunda, de primeiríssima qualidade e merecidamente conhecidos e louvados.
Uma gravação bem velhinha (1990), mas ainda em bom estado. Não é uma interpretação historicamente informada, sendo antes boa por seu espírito correto e pela maravilhosa Stutzmann. Stutzmann é um contralto francês com um timbre escuro, quase andrógino. Suas interpretações de árias de Vivaldi são dramáticas e introspectivas. Não espere aquele “Vivaldi alegrão” –, o papo entre Spivakov e Stutzmann e um diálogo meditativo e refinado. Spivakov evita os excessos, enquanto Stutzmann mergulha no lirismo das árias. Puristas do barroco podem estranhar o uso de orquestra moderna, mas a interpretação é respeitosa e sincera. Stutzmann já foi acusada de ser “too dark for Vivaldi”, mas, vão se foder, né? Essa escuridão vocal dá um peso existencial raro às árias sacras. É um disco para noites de inverno com vinho tinto. Foda-se se estamos na primavera!
IM-PER-DÍ-VEL !!!
Dino Saluzzi é um veterano compositor e músico argentino. Nasceu em 1935 e tem atualmente 80 anos. Dino toca bandoneón desde sua infância. É um tangueiro muito lírico, talvez em excesso. Bom compositor, quase erudito, ele infelizmente não tem a dureza de Piazzolla. Durante grande parte da sua juventude, Saluzzi viveu em Buenos Aires, tocando com a orquestra Rádio El Mundo. Vivia daquilo, mas às vezes fugia para tocar com pequenos conjuntos mais voltados para o jazz. Foi desenvolvendo um estilo cada vez mais pessoal que acabou por deixá-lo como um vanguardista em seu país. É hoje uma das estrelas da ECM. Tudo começou com Charlie Haden, Palle Mikkelborg and Pierre Favre em Once Upon A Time … Far Away In The South, e depois com Enrico Rava em Volver. Compreende-se, Rava trabalhou muito na Argentina e Haden sempre adorou a América Latina. O resgate para a turma de Eicher foi natural. Atualmente tem um duo com Anja Lechner, que está presentíssima neste El Encuentro. É um bom disco.


Não vou fazer um post longo a respeito do Copland, meu compositor estadunidense predileto, porque estou me programando pra ir pra Brasília, ver como estão as coisas na filial do Café do Rato Preto. Costumo dizer a meus amigos que Copland é o Villa-Lobos dos States, referindo-me à representatividade nacional de ambos em nível mundial, mas no contexto da história da música estadunidense Copland está mais para um Guerra-Peixe, enquanto o Villa de lá seria Charles Ives.
IM-PER-DÍ-VEL !!!
Não é um CD daqueles para enlouquecer, mas é Vivaldi. É bom de ouvir, sem traumas, sem tensão, sem turbulências desagradáveis. Você bota pra tocar, presta atenção e gosta. Se não prestar atenção, não incomoda. Não é uma música nada perigosa ou hostil, mais parece o time do Grêmio.
Com um sorriso de compreensão ao nada descortês Revoltado dos comentários do último post de Sonatas de Mozart, passo a fazer algumas postagens de Haydn. Este CD é uma curiosidade: trata-se de uma gravação antiga, era de meu pai e teoricamente deveria ser ruim, por ser da brasileira Movie Play… Vocês sabem que os maestros Duvier e Pitamic talvez nem tenham existido! Só que amo as sinfonias deste CD, a qualidade de som é muito boa (no Filósofo, depois piora), acho as interpretações excelentes e é esta a versão que prefiro (do Filósofo). Tentei várias outras: a de Bernstein, a do Orpheus Chamber Orchestra e as de outras orquestras e regentes. Nada feito. O cedezinho da Movie Play é imbatível em meu coração avesso à grifes. Segundo o opúsculo de Peter Gammond – com o qual concordo – Haydn teria sido tão grande quanto Mozart se tivesse sido mais infeliz. Só quando teve um contrato a cumprir é que ganhou aquela pitada de drama que o fez criar suas monumentais últimas sinfonias. O estresse fez-lhe um bem imenso. Só um homem com um coração duro como pedra é capaz de compor coisas tão incondicionalmente sorridentes e luminosas quanto algumas de suas obras. Adoro Haydn. Ouço demais suas Missas. O apelido “O Filósofo” para a Sinfonia No. 22 é um dos mais intrigantes e discutidos da história da música. A resposta não é simples, pois Haydn não deu esse título à obra. Ele surgiu posteriormente e é amplamente aceito que se deve a uma combinação de fatores estruturais e atmosféricos. A sinfonia começa com um movimento lento (Adagio), o que era extremamente incomum para uma abertura de sinfonia no período clássico inicial. As sinfonias normalmente abriam com um movimento rápido e energético. Este Adagio solene e contemplativo imediatamente estabelece um caráter sério, pensativo e “filosófico”. É uma sinfonia tão boa que até o minueto é legal! Já “A Galinha” e “O Urso” têm seus apelidos justificados pela própria música e não precisamos explicar nada.
IM-PER-DÍ-VEL !!!

IM-PER-DÍ-VEL !!!
IM-PER-DÍVEL !!!
Chamar este CD de The Essential Clarinet é um certo exagero. Deixar de fora as Sonatas para clarinete e piano de Brahms, o Quinteto Op. 115 e o também Quinteto K. 581 e o Concerto K. 622 de Mozart é falta grave. O que une estas peças é a onipresente figura de Benny Goodman, o cara que encomendou todas elas. Aliás, encomendou uma para Bartók (Contrastes) que é esplêndida. Mas aqui temos, certamente, a melhor peça escrita por Aaron Copland, a célebre incursão jazzística de Stravinsky (Ebony Concerto), uma excelente composição de Bernstein e um bom Concerto de Corigliano (prazer em conhecer). Richard Stoltzman não me pareceu um clarinetista tão essencial, mas seu repertório é de primeira linha, sem dúvida. Bom disco!

Olha, eu não gostava de Tchaikovski, eu chegava a desprezá-lo. Talvez fosse por influência de Otto Maria Carpeaux, lido há milênios, ou por desconhecer a obra do russo. Porém, sempre fui tarado pela música de Shostakovich. Quando FDP Bach postou todas as sinfonias do Tchai, ouvi-as por uma simples razão:
Você deve estar pensando que PQP está tirando sarro da vossa honrada e venerável cara. Se você pensa assim, talvez tenha razão. Primeiro eu posto um CD de Concertos de Vivaldi per molti istromenti (em vêneto) e depois um per vari strumenti (em italiano). Mas este vêneto pareceu-me melhor que o anterior, apesar da capa absolutamente ridícula. Tenho certeza que os dois darão boa diversão, mas ouça este aqui primeiro. Será mais motivacional. Como todos sabem ganho minha vida como couch. (Sabe o que Coach motivacional disse para o Anjo da Morte? “Antes de me levar… você já considerou uma mentoria vitalícia? Posso te ajudar a otimizar sua colheita de almas, aumentar em 200% sua produtividade escatológica e transformar o Apocalipse num evento premium!). Bem, há várias joias nos muitos cantinhos deste CD.
Janáček : In the Mist / Piano Sonata, “October 1, 1905” / On an Overgrown Path, Series 1.
Janáček : On an Overgrown Path / Series 1 & 2

1. String Quartet No. 1 “Kreutzer Sonata”: I. Adagio. Con moto 4:04
1 String Quartet No.1 (1923) – I. Adagio. Con moto
Um excelente Haydn na postagem anterior, este nem tanto. Uma amiga me visitou e me emprestou este estranho CD. Baryton é um estranho instrumento de cordas que havia na corte dos Esterhazy, onde Haydn trabalhava. Tem mais ou menos o tamanho de um violoncelo e parece que é complicadíssimo de tocar. Talvez tão complicado que Haydn escreveu música fácil demais para ele. Você não precisa fugir deste CD, mas saiba que penso que seu valor é apenas pela curiosidade. É música simples, agradável; mas que não garantiria a imortalidade que Haydn possui por seus altos méritos.