Relendo este texto escrito há três anos, e também o comentário do manuel, que diz que: “Eu ficaria sem comer durante meses…anos… se pudesse. só ouvindo estas maravilhas” e claro, ouvindo novamente o disco, entendo o quão importante é ouvirmos ele concentrados, sem interferências ou ruídos externos, apenas deixando-se levar pelo talento destes músicos que, repito, nunca cansarei de admirar. É como se a cada audição descobríssemos coisas novas, detalhes, nuances que passaram desapercebidos em outras ocasiões. Não creio que possa haver novamente um trio como esse, o nível de excelência alcançado aqui é algo de outro mundo. E tenho dito … !!!
Esta versão de ‘My Funny Valentine’ é uma das melhores que já tive a oportunidade de ouvir. É muito emocionante, desde sua introdução. Esta obra já apareceu em outros álbuns do Trio, mas aqui ela é muito especial. Talvez por ter sido esta versão a primeira que ouvi, já há muito tempo atrás, uns vinte e cinco mais ou menos.
Na verdade me aproximei mais deste trio depois de um período turbulento de minha vida, quando ainda não havia definido os rumos que ela teria. Estava tudo muito confuso, recém saíra de um relacionamento muito confuso e complicado. E então, caiu-me em mãos este CD duplo, emprestado por um amigo, que pediu para ouvi-lo com atenção e de preferência com muita concentração. Aprendi ali como se deve ouvir esses caras: silêncio, concentração, mas antes de tudo um bom fone de ouvido. Sim, ouçam com fone de ouvido para identificar os detalhes, as sutilezas, as nuances que estes monstros sagrados do Jazz conseguem extrair destas obras. O fraseado de um solo de Jarrett não é apenas um fraseado, é um exercício e claro, uma aula de improvisação. Aliás, sejamos justos, todos os solos deste CD são uma verdadeira aula de improvisação. O gemido de fundo que ouvimos de Jarrett faz parte do conjunto da obra. Demonstra o quão inspirado e concentrado ele se encontra, quase como em um estado de transe.
Keith Jarrett Trio – Still Live
CD 1
01-My Funny Valentine
02-Autumn Leaves
03-When I Fall In Love
04-The Song Is You
CD 2
01-Come Rain Or Come Shine
02-Late Lament
03-You And The Night And The Music (Medley)
04-Billie’s Bounce
05-I Remember Clifford
Keith Jarrett – Piano
Gary Peacock – Bass
Jack DeJohnette – Drums
Dando sequência a esta excelente integral, trago hoje as sinfonias de nº 3 e de nº 4, obras de juventude de Schubert (estranho falar isso, afinal, qual obra dele não é de juventude? O cara morreu com meros 31 anos).
A partir da Terceira Sinfonia, Schubert já está mostrando a que veio, criando uma linguagem própria, libertand0-se um tanto quanto das amarras do classicismo, mas ainda preso nele.
A Quarta Sinfonia foi intitulada ‘Trágica’ pelo próprio Schubert, mas não se sabe qual o motivo para assim ter sido denominada.
Novamente, a parceria Harnoncourt / Berliner Philharmoniker funciona às mil maravilhas. Afinal, temos gente muito experiente envolvida, e que conhece muito bem esse repertório. Então é pouco provável que algo dê errado.
1. Symphony No. 3 in D Major, D. 200 I. Adagio maestoso – Allegro con brio
2. Symphony No. 3 in D Major, D. 200 II. Allegretto
3. Symphony No. 3 in D Major, D. 200 III. Menuetto. Vivace – Trio
4. Symphony No. 3 in D Major, D. 200 IV. Presto vivace
5. Symphony No. 4 in C Minor, D. 417 Tragic I. Adagio molto – Allegro vivace
6. Symphony No. 4 in C Minor, D. 417 Tragic II. Andante
7. Symphony No. 4 in C Minor, D. 417 Tragic III. Menuetto. Allegro vivace – Trio
8. Symphony No. 4 in C Minor, D. 417 Tragic IV. Allegro
Berliner Philharmoniker
Nikolaus Harnoncourt – Conductor
Vamos então de Keith Jarrett em sua experiência mozartiana. Antes, porém, peço que deixem de lado seus intérpretes favoritos, como Géza Anda, Mitsuko Uchida, Alfred Brendel, Arhut Rubinstein, entre tantos outros, e prestem atenção à esta interpretação de Jarrett. Esqueçam as peripécias virtuosísticas que estão acostumados a ouvir dos dedos de Jarrett e se surpreendam com o lirismo e a tranquilidade que ele consegue transmitir com sua interpretação. Nem parece o mesmo músico que se torce, retorce, geme, grita, quando toca jazz. Aqui temos um músico plenamente consciente de seu talento, de sua capacidade, e que se rende ao gênio mozartiano, prestando-lhe uma belissima homenagem. Lento em alguns momentos? Pode até ser, mas desta forma ele consegue extrair da música elementos e detalhes que não se encontram em outras interpretações mais, digamos, virtuosísticas.
O acompanhamento é de primeiríssimo nível, com uma Sttugarter Kammerorchester simplesmente perfeita, com um balanço impecável, dirigida por outro grande pianista, Dennis Russel Davies.
De quebra, vai de brinde uma Sinfonia nº40 e a Maurerische Trauermusik, (Masonic Funeral Music), k. 477.
Espero que apreciem.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Concertos para Piano 23, 27 e 21 / Música Funeral Maçônica / Sinfonia Nº 40 (Jarrett-Davies)
Estes registros foram realizados entre 2003 e 2008 e ficaram escondidos nos acervos da própria Filarmônica de Berlim, até que uma boa alma lá da gravadora da orquestra resolveu lançar, agora em 2015, um pouco antes da morte do maestro, que faleceu em 2016, e mostrar que o grande Nikolaus Harnoncourt não vivia apenas de interpretações historicamente informadas, quando necessário usava todos os recursos disponíveis e claro, toda a estrutura da própria orquestra para nos mostrar um Schubert modernizado e atual.
Gosto muito do Schubert das duas primeiras sinfonias, sua dinâmica puramente mozartiana, sua alegria e juventude expostas sem nenhum ressentimento ou amargura. Nunca canso de me espantar ao lembrar que ele viveu apenas 31 anos, e compôs uma obra extensa, entre sinfonias, obras de Câmara, sonatas para piano, etc. … um fenômeno, com certeza. Pena que nos deixou tão cedo.
Para melhor serem degustadas, vou trazer estas sinfonias de duas em duas. Harnoncourt ignora solenemente a existência de uma Sinfonia nº 7 (da qual existem apenas fragmentos de quatro movimentos) e as renumera até 8.
A poderosa Filarmônica de Berlim como sempre está perfeita. e nas mãos firmes e calejadas de Harnoncourt, atinge o nível de excelência ao qual já estamos acostumados.
P.S. estou oferecendo os arquivos no formato FLAC e em MP3. Ambos estão na mesma pasta do onedrive.
01. Symphony No. 1 in D Major, D. 82 I. Adagio – Allegro vivace
02. Symphony No. 1 in D Major, D. 82 II. Andante
03. Symphony No. 1 in D Major, D. 82 III. Menuetto. Allegretto – Trio
04. Symphony No. 1 in D Major, D. 82 IV. Allegro vivace
05. Symphony No. 2 in B-Flat Major, D. 125 I. Largo – Allegro vivace
06. Symphony No. 2 in B-Flat Major, D. 125 II. Andante
07. Symphony No. 2 in B-Flat Major, D. 125 III. Menuetto. Allegro vivace – Trio
08. Symphony No. 2 in B-Flat Major, D. 125 IV. Presto vivace
Berliner Philharmoniker
Nikolaus Harnoncourt – Conductor
Na verdade existe um décimo quarto cd nesta série do pianista Nikita Magaloff, com registros realizados lá no longínquo ano de 1954, do tempo em que os dinossauros caminhavam pela Terra. Vou postar, pois acho interessante essa possibilidade de entender a evolução da interpretação das obras de Chopin, além, é claro, da evolução da maturidade artística de Magaloff, lembrando que os outros volumes da série já foram realizados no final da vida do músico, em plenos anos 70. Outra informação é a de que este registro foi realizado antes do advento do Estéreo, então digamos que seria uma gravação para os mais ‘puristas’. Mas lhes garanto que a qualidade da interpretação já é a de um grande mestre, alguém que conhece profundamente a obra.
Vamos então ao que viemos. Hoje é domingo e ainda pretendo sair dar umas pedaladas.
01. Piano sonata No. 3 (1954) – I. Allegro maestoso
02. Piano sonata No. 3 – II. Scherzo
03. Piano sonata No. 3 – III. Largo
04. Piano sonata No. 3 – IV. Finale presto non tanto
Por algum motivo inexplicável não trouxe para os senhores o décimo terceiro CD desta imperdível coleção, uma das principais de meu acervo. Aqui o imenso pianista que foi Nikita Magaloff interpreta obras um tanto obscuras do repertório chopiniano. Vale a pena conhecer. Quero agradecer à leitora Isolda que me chamou a atenção e lembrou desta falha. Para variar, minha vida anda uma loucura, então quase nem tenho participado com muita frequência do blog, de qualquer forma, estamos aí quando possível.
Sem mais delongas, vamos ao que viemos.
01. Variations brillantes, Op. 12
02. Souvenir de Paganini
03. Variations sur la Marche des Puritains de Bellini
04. Variations sur un air national allemand
05. Rondeau in C minor, Op. 1
06. Rondeau “À la Mazurka” in F major, Op. 5
07. Rondeau in E flat major, Op. 16
08. Rondeau for 2 pianos in C major, Op. 73
09. Variations for piano 4 hands ‘Sur un air national de Moore’
Stefan Temmingh já foi chamado de sucessor de ‘Frans Brüggen’, o lendário flautista, maestro, musicólogo, entre outras ‘profissões’. Li isso na página do próprio Temmingh na internet, então vamos considerar um pouco uma jogada de marketing. Mas não podemos negar que o rapaz tem um talento imenso, e com certeza é um dos maiores flautistas da sua geração. E como tem excepcionais flautistas atualmente, principalmente no repertório barroco !! Álbuns dedicados a Vivaldi, a Corelli, a Teleman são lançados constantemente, e todos de excelente qualidade.
Este Cd que ora vos trago é dedicado a Handel, o genial compositor contemporâneo de Bach, com quem compartilha a grandiosidade. São obras agradáveis de se ouvir, principalmente em seus movimentos mais rápidos, que exigem do solista uma técnica mais apurada e isso Temminghs tem de sobra.
É incerto afirmar quantas sonatas Handel compôs, mas o número se situa entre oito ou nove. Algumas destas foram compostas originalmente para outros instrumentos. Assim o editor do site amazon.com classificou este CD:
The Six Recorder Sonatas by George Frideric Handel are a compendium of the recorders original literature, and have an exceptional position because of their beauty. Theyre typically Handelian in character, in that the upper voice is very vocal, like his operas. The melodies are truly captivating and remarkable for their simplicity which demands far more virtuosity than simply moving the fingers quickly. The goal of Stefan Temmingh, one of Germanys most renowned recorder players of the younger generation, is to come as close as possible to the greatest of all instruments the human voice. The bass line makes an equal counterpart to the recorder part; its opulent, virtuosic and full of variety much more than in comparable pieces. Its executed without cello only by harpsichord, performed in an outstanding way by Wiebke Weidanz.
Dia destes nosso PQPBach postou outro CD deste admirável flautista, acompanhado pela soprano Dorothée Mields, e destacou em seu comentário como funciona bem esta parceria. Poderia afirmar também que neste CD a parceria com a cravista Wiebke Windanz também funciona perfeitamente. Enfim, um belo CD, que vai agradar bastante aos fãs do instrumento, e claro, aos fãs de Handel.
1 Prelude in G major HWV 571
2 Sonata in C major HWV 365 Larghetto
3 Allegro
4 Larghetto
5 Tempo di Gavotta 1:44
6 Allegro 2:08
7 Flourish 0:25
Sonata in F major HWV 369
8 Grave
9 Allegro
10 Alla Siciliana
11 Allegro
12 Prelude in G minor HWV 572
Sonata in G minor HWV 360
13 Larghetto
14 Andante
15 Adagio
16 Presto
17 Fantaisie No.1 in B flat major 0:39 Anonymous (from the Charles Babel Collection)
Sonata in B flat major HWV 377
18 (Allegro)
19 Adagio
20 Allegro
21 Prelude in A minor HWV 576
Sonata in A minor HWV 362
22 Larghetto
23 Allegro
24 Adagio
25 Allegro
26 Prelude in B minor ZN773 by Henry Purcell (1659-1695)
Sonata in B minor HWV 367
27 Largo
28 Vivace
29 Furioso
30 Adagio
31 Alla Breve
32 Andante
33 A Tempo di Menuet
Um belo CD para apreciar em uma manhã de sábado, contanto que o alarme da casa do vizinho não tenha disparado e esteja tocando há mais de meia hora. Aí a sugestão é usar um bom fone de ouvido mesmo e torcer que a empresa de segurança chegue o mais rápido possível para desativá-lo.
O Concerto para Clarinete de Mozart me faz um bem tremendo, acalma meus nervos, como diziam os antigos. A suavidade do timbre do instrumento deve atingir certas áreas do cérebro que regulam meus níveis de ansiedade, sei lá …
Martin Fröst é sueco, nasceu em 1970, e desde seus oito anos de idade empunha seu clarinete. Além da dedicação ao instrumento, ele também é maestro, sendo atualmente o titular da Orquestra de Câmara Sueca.
O Concerto de Mozart dispensa apresentações, o que dizer daquele Adagio? Serena, é uma obra que me passa muita tranquilidade. Já ouvi diversas gravações e esta de Martin Fröst, realizada lá em 2003, está entre minhas favoritas. Demonstra muita maturidade, técnica e sensibilidade, sem precisar se exceder em malabarismos virtuosísticos. Talvez seja o sangue sueco, frio e com nervos de aço. Mozart compôs esta obra poucos meses antes de sua morte, que ocorreu em 5 de dezembro de 1791, e dedicou ele a Anton Stadler, o maior clarinetista de sua época, muito admirado pelo compositor, que a ele também dedicara seu Quinteto para Clarinete, obra que fecha este CD que ora vos trago.
O magnífico Quinteto K. 581 fora composto por Mozart dois anos antes, em 1789, que o chamava de ‘Quinteto do Stadler’, e é caracterizado principalmente pelo seu perfeito balanço, não privilegiando este ou aquele instrumento em particular.
P.S. Felizmente o alarme da casa do vizinho parou de tocar. Assim posso melhor apreciar este belo CD.
01. Clarinet Concerto in A major, K. 622- I. Allegro
02. Clarinet Concerto in A major, K. 622- II. Adagio
03. Clarinet Concerto in A major, K. 622- III. Rondo. Allegro
Martin Fröst – Clarinet
Amsterdam Sinfonietta
Peter Oundjian – Conductor
04. Clarinet Quintet in A major (-Stadler-), K. 581- I. Allegro
05. Clarinet Quintet in A major (-Stadler-), K. 581- II. Larghetto
06. Clarinet Quintet in A major (-Stadler-), K. 581- III. Menuetto – Trio I – Tri
07. Clarinet Quintet in A major (-Stadler-), K. 581- IV. Allegretto con Variazioni
Um interessante CD de jazz, com um ótimo trio tocando versões de canções clássicas do mítico grupo de rock ‘Black Sabbath’. Por si só, este CD poderia ser apenas um CD de covers, igual a dezenas de outros que vemos por aí. Mas os meninos resolveram contar uma história, que em um primeiro momento, pode soar verdadeira, mas depois de um tempo entendemos se tratar de uma brincadeira.
Enfim, resumindo a história, o Jazz Sabbath teria sido fundado em 1968 pelo pianista Milton Keanes, pelo baixista Jacque T´Fono, e pelo baterista Juan Také, e logo se destacaram no cenário do Jazz Londrino de final de década. Teriam gravado um disco cujo lançamento foi marcado para a Sexta Feira 13, do mês de Fevereiro de 1970. Porém Milton Keanes sofreu um sério ataque do coração e o lançamento foi cancelado. E enquanto se recuperava, o tal do material, ainda inédito, teria sido repassado para uma banda de Heavy Metal recém formada, convenientemente chamada ‘Black Sabbath’, que se apropriou destas canções e as transformou nas clássicas canções que os fãs da banda tão bem conhecem. A Fita Master, com a gravação original teria se perdido em um incêndio no galpão onde o estúdio guardava seu material. Passados quase cinquenta anos, aquele velho prédio foi vendido e o comprador encontrou a tal da Fita Master, que mostrava a origem daquelas canções. Ou seja, a famosa banda, que criou o Heavy Metal, era na verdade uma farsa, fazendo sucesso com música alheia.
Quando li essa história pela primeira vez, me assustei, afinal sou fã do Black Sabbath, e ouço a banda desde minha adolescência. Repassei a história para os colegas daqui do PQPBach, que também se assustaram. Mas depois de uma pesquisa no Google, verificamos que se tratava apenas de uma jogada de marketing, os caras querendo ser famosos inventaram essa história.
Estratégias de marketing a parte, é um bom disco, nada excepcional. Deixam irreconhecíveis petardos como ‘Iron Man’, ‘Fairies Wear Boots’ e ‘Children of the Grave’. Keanes é um excelente improvisador, merece ser conhecido. E na verdade, Milton Keanes, na verdade, é Adam Wakeman, filho do tecladista Rick Wakeman, e que já toca com a banda há algum tempo, assim como seu pai, que é o responsável pelo piano em ‘Changes’, no mítico álbum ‘Volume 4″.
01. Fairies Wear Boots
02. Evil Woman
03. Rat Salad
04. Iron Man
05. Hand Of Doom
06. Changes
07. Children Of The Grave
Este CD me caiu em mãos por acaso, e o ouvia ocasionalmente, sem prestar muita atenção nele. Mas aproveitei estas pequenas férias coletivas de final de ano para ouvir alguns CDs com mais atenção, e esse foi um deles.
Minha geração (nasci em 1965) cresceu ouvindo e procurando os LPs e posteriormente os CDs do selo de Manfred Eicher (ECM) ansiosamente nas lojas de discos. Músicos como Jan Garbarek, Gary Burton e Pat Metheny se tornaram nossa referência, e buscávamos ansiosamente todos os seus lançamentos. E tocando com toda essa galera, um nome se destacava, o do baixista alemão Eberhard Weber. Procurei então seus discos solos, e também seu trabalho ao lado de outros músicos geniais. Dono de um estilo único, com um timbre facilmente identificável, ele se destacou principalmente entre os anos 70 e 80. Infelizmente foi acometido por um derrame, o que o afastou dos palcos, mas não da música.
Este CD que ora vos trago foi gravado ao vivo, e tem um timaço de músicos envolvidos, começando pelos citados acima, Burton, Garbarek e Metheny, dentre outros, além da fantástica SWR Big Band, Juntamente com seu amigo, o saxofonista norueguês Jan Garbarek e do guitarrista norte americano Pat Metheny, Weber se aproveitou da tecnologia, criando novas composições a partir de solos seus em trabalhos anteriores. São obras únicas, intimistas, que contam com a altíssima sensibilidade dos músicos envolvidos, Ouçam a incrível ‘Resumé Variations’, que abre o CD, onde Garbarek desfila todo o seu talento e versatilidade, ou então a suíte ‘Hommage’, composta por Pat Metheny, com 31 minutos de duração para entenderem o que digo. O texto de Metheny no encarte do CD também é bem esclarecedor:
“I was asked to participate in a special event to be held in January 2015 to honor Eberhard’s incredible life as a musician. My idea was to try to create something special for this very unique musician. Since Eberhard’s stroke in 2007, he has not been able to play. But I felt that his sonic identity was such a huge component in his work that I wanted to somehow acknowledge it in whatever form I could.
It came to me that it would be interesting to take the idea of sampling one step further; to find video elements of Eberhard improvising and then reorganize, chop, mix and orchestrate elements of those performances to gether into a new composition with a large projection of the Eberhard moments that I chose filling a screen behind us as we performed. It seemed like a new way to compose for me that would almost take the form of visual sampling. Although this seemed like an Eberhard-worthy idea, technically it was quite difficult to do. As it happened, there were only two really usable performances that included long stretches of Eberhard improvising on screen to be found, one from 1986 in Stuttgart and another brief interlude from a Jan Garbarek concert in 1988 in Leverkusen.
The challenges were many, but first and foremost was the issue how to create from scratch an extended piece that would honor Eberhard and also utilize the skills and talents of the commissioning large ensemble, the excellent SWR Big Band.”
Espero que apreciem. Este CD foi a minha trilha sonora de final de ano. E com esta postagem pretendo reiniciar meus trabalhos aqui no PQPBach, depois de alguns meses de ausência, devido a diversos problemas, desde saúde até profissionais. Mas estou acreditando que este novo ano vai me ajudar a superar os desafios que o ano velho trouxe.
FELIZ 2021 !!!
Hommage à Eberhard Weber – Pat Metheny, Jan Garbarek, Gary Burton, etc.
01. Resumé Variations
02 – Hommage
03 – Touch
04 – Maurizius
05 – Tübingen
06 – Notes After An Evening
07 – Street Scenes (Bonus Track)
PAT METHENY guitars
JAN GARBAREK soprano saxophone
GARY BURTON vibraphone
SCOTT COLLEY double bass
DANNY GOTTLIEB drums
PAUL McCANDLESS English horn, soprano saxophone
KLAUS GRAF alto saxophone
ERNST HUTTER euphonium
MICHAEL GIBBS arranger, conductor
RALF SCHMID arranger
RAINER TEMPEL arranger
LIBOR ŠÍMA arranger
and the SWR BIG BAND
HELGE SUNDE conductor
Pelas barbas do profeta, PQP …!!! Hélène Grimaud tocando Gershwin e Ravel… aqueles viciados em Martha Argerich, Pollini, ou sei lá em qual outro intérprete para estes concertos, prestem atenção nestas gravações.. e não é que a francesinha dá conta do recado como gente grande (as aparências enganam, ela já tem 40 anos de idade)? E não se deixem enganar por este lindo rosto e nem por este sorriso cativante, atrás deles se esconde uma intérprete focada e segura, e que encara estes dois excepcionais concertos com um sorriso no rosto. Mas vamos ao que importa.
George Gershwin: Piano Concerto in F Major / Maurice Ravel: Piano Concerto in G Major (Grimaud / Zinman)
01 – Gershwin_ Piano Concerto in F major_ I. Allegro
02 – Gershwin_ Piano Concerto in F major_ II. Adagio – Andante con moto
03 – Gershwin_ Piano Concerto in F major_ III. Allegro agitato
04 – Ravel_ Piano Concerto in G major_ I. Allegramente
05 – Ravel_ Piano Concerto in G major_ II. Adagio assai
06 – Ravel_ Piano Concerto in G major_ III. Presto
Baltimore Symphony Orchestra
David Zinman – Conductor
Ando por demais barroco nos últimos tempos. Não me perguntem o motivo, não sei explicar. Só sei dizer que minhas próximas postagens serão barroco e mais barroco. Deixarei o romantismo de lado por um tempo. A não ser que apareça alguma coisa me pareça imprescindível por algum motivo.
A incrível capacidade de Claudio Abbado de se reciclar é algo que merece elogios. Quem diria que depois de velho o grande Claudio Abbado, ex poderoso diretor da Filarmônica de Berlim, que gravou discos antológicos de compositores do século XX, iria se tornar um adepto das gravações de época, com orquestras e coros menores, e se dedicar ao classicismo e ao barroco? Pois é, estes cds que ele gravou nos últimos anos, tocando com esta Orchestra Mozart, são imperdíveis. Recomendo todos eles.
Neste CD que ora posto, dando prosseguimento ao “Ciclo Pergolesi” a que me propus, temos uma belíssima “Missa de S. Emidio”, que recomendo com todas as letras. Como sempre, este tipo de CD tem de ser ouvido com calma, de preferência sentado em sua melhor poltrona, e degustando um bom vinho. Serve para refletirmos sobre os mistérios da natureza humana e divina. Um bom livro também faz boa companhia. Tem chovido muito aqui na minha região, e não dá vontade de sair de casa com esse tempo. Pergolesi, desta forma, se torna uma excelente companhia.
Espero que apreciem.
Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736): Missa S. Emidio, Laudate pueri Dominum, Salve Regina (Abbado – Orchestra Mozart)
Missa S. Emidio (30:01)
1 Kyrie Eleison 0:45
2 Christe Eleison 2:28
3 Kyrie Eleison 0:58
4 Gloria In Excelsis Deo 2:41
5 Laudamus Te 2:08
6 Gratias Agimus Tibi 3:48
7 Domine Deus 4:12
8 Qui Tollis Peccata Mundi (I) 2:15
9 Qui Tollis Peccata Mundi (II) 4:04
10 Qui Sedes Ad Dexteram Patris 2:19
11 Quoniam Tu Solus Sanctus 1:48
12 Cum Sancto Spiritu. Amen 2:33
Salve Regina In F Minor (15:20)
13 Salve Regina 4:39
14 Ad Te Clamamus 4:44
15 Eia Ergo 1:33
16 Et Jesum Benedictum 2:18
17 O Clemens, O Pia 2:05
Manca la Guida Al Piè (8:40)
18 Recitativo: “È Dover Che Le Luci” 2:09
19 Aria: “Manca la Guida Al Piè” 6:31
Laudate Pueri Dominum (18:33)
20 Laudate Pueri Dominum 3:05
21 A Solis Ortu 3:38
22 Excelsus Super Omnes 2:06
23 Quis Sicut Dominus 2:05
24 Suscitans A Terra 2:29
25 Gloria Patri 2:53
26 Sicut Erat In Principio 2:15
De vez em quando volto a ouvir estas gravações de Karajan das sinfonias de Brahms. Sinto que preciso ouvi-las, talvez por entender que elas são a base de referência para outros registros destas obras que me caem em mãos. Tenho uma ligação muito pessoal com estes discos, eles surgiram em um determinado momento muito importante de minha vida, um momento em que eu me encontrava em uma encruzilhada, tentando escolher o caminho a seguir. E foi ouvindo esta versão da primeira sinfonia que me inspirei a seguir o caminho que escolhi. Era um final de tarde de domingo, estava sentado na varanda da casa em que morava, coloquei a fita cassete no velho walkman, dia feio, meio nublado, para variar estava sozinho em casa. Se o caminho que escolhi foi o melhor não cabe discutir, só posso dizer que não me arrependo de minha escolha.
Já discutimos diversas vezes sobre esta obra, procurem lá atrás, nos primórdios do PQPBach, eram outros tempos, tudo bem, mas a idéia e a motivação continuam lá. Estas gravações foram realizadas entre 1959 – 1965. O próprio Karajan estava iniciando sua trajetória de sucesso frente à Orquestra Filarmônica de Berlim, onde veio a se consolidar como um dos maiores regentes do século XX.
Li uma crítica onde o autor considerava as quatro sinfonias de Brahms como uma uma obra só, cada sinfonia sendo um movimento. Depois de tanto ouvir estas obras, no correr destes últimos trinta anos, posso até concordar com esta hipótese, mas ao mesmo tempo, faço questão de ressaltar que cada uma delas tem uma personalidade própria, tem vida própria.
Portanto, está é a proposta desta postagem: todas as sinfonias de Brahms de uma só vez, para serem ouvidas na sequência, façam a experiência. Vale a pena.
Espero que apreciem. Com certeza, seriam discos que eu escolheria para levar para uma ilha deserta.
01 Symphonie Nr. 1 c-moll, op. 68- 1. Un poco sostenuto – Allegro
02 Symphonie Nr. 1 c-moll, op. 68- 2. Andante sostenuto
03 Symphonie Nr. 1 c-moll, op. 68- 3. Un poco allegretto e grazioso
04 Symphonie Nr. 1 c-moll, op. 68- 4. Adagio – Piùandante – Allegro non troppo, ma con brio
01 Symphony no. 3 in F major, op. 90- 1. Allegro con brio
02 Symphony no. 3 in F major, op. 90- 2. Andante
03 Symphony no. 3 in F major, op. 90- 3. Poco allegretto
04 Symphony no. 3 in F major, op. 90- 4. Allegro
01 Symphony no. 4 in E minor, op. 98- 1. Allegro non troppo
02 Symphony no. 4 in E minor, op. 98- 2. Andante moderato
03 Symphony no. 4 in E minor, op. 98- 3. Allegro giocoso
04 Symphony no. 4 in E minor, op. 98- Allegro ernegico e passionato
Herbert von Karajan – Conductor
Berliner Philharmoniker
Com esta postagem, inicio uma série que farei com gravações históricas, que incluirá Furtwangler, Toscanini, Fricsay, entre outros.
E vou começar simplesmente por esta que é considerada a maior das gravações já realizadas da Sinfonia nº 9 de Beethoven. Na verdade, esta e a de Furtwangler, apesar de terem sido realizadas ainda na década de 50, são consideradas imbatíveis até hoje, mesmo com os avanços das técnicas de gravação. Talvez seja este seja um dos grandes trunfos desta gravação. Realizada ao vivo no Carnagie Hall, em 1952, temos um Toscanini já no alto de seus 85 anos. Até então, o maestro nunca se sentira seguro com suas performances da obra, tanto que só autorizou esta que aqui temos para ser lançada. Conhecemos sua fama de rigor com que dirigia as orquestras. E ao que tudo indica, esse rigor ele aplicava a si mesmo também. Enfim, trata-se de uma 9ª Sinfonia absolutamente perfeita em todos os seus detalhes. Ninguém, absolutamente ninguém que a ouve, tem opinião diferente.
A NBC Symphony Orchestra foi montada pelo próprio Toscanini, que a regeu por 17 anos, até 1954. Ou seja, era a sua cara.
Abaixo, deixo o comentário de um cliente da amazon, sobre esta gravação.
“Arturo Toscanini (1867-1957) spent much of his conducting career trying to give a “definitive” performance of Beethoven’s ninth symphony. He conducted the symphony numerous times; it wasn’t until 1952 that he was sufficiently satisfied with a recording of this major work to authorize a commercial release.
Toscanini had hated to record during the days of 78-rpm discs. Each 12-inch record side played a little under five minutes, so it was necessary for the conductor and musicians to stop periodically while the master was changed. Only in the United Kingdom, where Toscanini made recordings with the BBC Symphony Orchestra, did a record producer (Fred Gaisberg) come up with a system using two recording machines, so that Toscanini and the musicians did not have to stop.
Toscanini was very happy when RCA Victor began using magnetic sound film to record his sessions with the NBC Symphony. Then, in 1948, RCA switched to magnetic tape. With both processes, continuous performance were possible and true high fidelity was realized. Toscanini told his friends that he was often very happy with the long-playing records that RCA began issuing in 1950. By 1952, RCA was using a single full range microphone, suspended above Toscanini’s head, to achieve its “New Orthophonic” process. Occasionally, an additional microphone was used to pick up soloists. The results in this recording were exceptional and very realistic.
Toscanini always felt there were problems with performances with Beethoven’s ninth symphony. Something always seem to go wrong, either with the soloists, the chorus, the orchestra, or the conductor himself. It’s likely other conductors and musicians recognized the challenges of this very difficult music. Just as Beethoven had done with his “Missa Solemnis,” the composer challenged the musicians with his very profound and very intricate music. Both works stretch the singers to their vocal limits; having sung “Missa Solemnis” and the ninth symphony, this writer can attest to the considerable challenges of the music.
The commercial recording that Toscanini made with the NBC Symphony Orchestra in Carnegie Hall in 1952 was the culmination of years of trying to understand Beethoven’s intensely complicated musical score. That Toscanini succeeded in producing a legendary recording is a real tribute to his greatness. It’s particularly amazing that he made this recording the year he turned 85 years of age.
Joining Toscanini and the NBC Symphony in this recording were a group of outstanding vocal soloists, particularly American tenor Jan Peerce, whom Toscanini considered among his all-time favorite singers. Peerce first sang with Toscanini in a 1939 broadcast performance of this symphony. The Robert Shaw Chorale, which had first performed with Toscanini in a 1945 broadcast performance of the ninth, were on hand, again providing some of the best choral singing possible. Shaw would go on to become a symphony conductor himself (with the Atlanta Symphony) and some said that he was much influenced by his mentor.
It is well known that the four movements attempt to present various musical philosophies of life. Beethoven basically rejects the first three proposals, even reviewing them in the opening moments of the fourth symphony, and then has the bass soloist sing, “O friends, not these sounds.” Beethoven uses Schiller’s “Ode to Joy” and the recurring main theme has become one of his most famous melodies, later used as the tune for the hymn “Joyful, Joyful, We Adore Thee.” The composer clearly had already recognized that one must accept fate and not be discouraged; it was such determination that enabled to live and continue composing despite increasing deafness.
This performance set the standard for all recordings of the Beethoven ninth symphony. Few conductors, singers, and musicians have succeeded as well as Toscanini did in this memorable performance. “
Portanto, eis um grande momento da história da música no século XX.
Ludwig van Beethoven – Symphony nº 9 in D Menor, op. 125
1. Symphony No. 9, Op. 125 ‘Choral’ In D Minor: Allegro Ma Non Troppo, Un Poco Maestoso
2. Symphony No. 9, Op. 125 ‘Choral’ In D Minor: Molto Vivace
3. Symphony No. 9, Op. 125 ‘Choral’ In D Minor: Adagio Molto E Cantabile; Andante Moderato
4. Symphony No. 9, Op. 125 ‘Choral’ In D Minor: Presto; Allegro Assai
Eileen Farrell – Soprano
Nan Merriman – Contralto
Norman Scott – Bass
Jan Peerce – Tenor
NBC Symphony Orchestra
Robert Shaw Chorale
Arturo Toscanini
Era só uma questão de tempo para que Jean-Efflam Bavouzet lançasse sua integral dos Concertos para Piano de Beethoven. Projeto pessoal, pressão da gravadora ou até mesmo dos fãs, como este que vos escreve, enfim, eis que finalmente foi lançado no final de agosto, ainda dentro das comemorações dos 250 anos de nascimento de Beethoven. Confesso que ainda não ouvi com a atenção devida, a correria do dia a dia impede, mas gostei do pouco do que ouvi.
Considero Bavouzet um dos pianistas mais completos da atualidade. Já postamos tantas versões destes concertos que fiquei pensando em prorrogar esta postagem para o ano próximo, mas sei lá o que vai acontecer até lá, as coisas anda tão confusas e loucas neste ano de 2020, que preferi antecipar.
Bavouzet é um músico tão completo que optou por ele mesmo dirigir a ótima Orquestra de Câmara Sueca. Versátil o rapaz, não é verdade? O texto abaixo é do próprio pianista explicando sua decisão:
“Tocar um concerto com um maestro que compartilha e enriquece a visão da obra em questão é uma das maiores alegrias na vida de um solista. No entanto, também se pode admitir que alguns aspectos de atuar sem um condutor podem ser vantajosos. O tempo de ensaio é geralmente aumentado pelo processo de elaboração dos diferentes protocolos de gestos do solista e do líder na coordenação da execução do conjunto. À medida que a obra avança, vai-se forjando um vínculo criativo, resultando em uma osmose artística, uma visão comum da obra, na qual o compromisso não tem lugar. Para o pianista há também o deleite de estar frente a frente com toda a orquestra, na comunicação visual direta, os músicos talvez mais propensos a iniciativas pessoais, multiplicando assim o prazer da participação genuína, do diálogo e da troca musical. As Cadenzas usadas nesta gravação são todas de Beethoven, do conjunto que ele escreveu em 1809, e portanto são contemporâneas do Quinto Concerto. ” (livremente traduzido, a partir do editorial da Amazon).
Pois bem, então vamos ao que viemos, a tão esperada integral dos Concertos para Piano de Beethoven nas mãos mais que competentes de Jean-Efflaim Bavouzet.
COMPACT DISC ONE Piano Concerto No. 2, Op. 19 (1787 / 88–95, revised 1798) in B flat major
1 Allegro con brio
2 Adagio
3 Rondo. Molto allegro
Piano Concerto No. 1, Op. 15 (1795, revised 1800) in C major
4 Allegro con brio
5 Largo
6 Rondo. Allegro
COMPACT DISC TWO Piano Concerto No. 3, Op. 37 (1802–03) in C minor
1 Allegro con brio
2 Largo
3 Rondo. Allegro – Presto
Piano Concerto No. 4, Op. 58 (1805–06) in G major
4 Allegro moderato
5 Andante con moto
6 Rondo. Vivace – Presto
COMPACT DISC THREE Piano Concerto No. 5, Op. 73 (1809) in E flat major (‘Emperor’)
1 Allegro
2 Adagio un poco mosso –
3 Rondo. Allegro
Grand Quintet, Op. 16 (1796–97)* in E flat major for Piano with Oboe, Clarinet, Bassoon, and Horn
4 Grave – Allegro, ma non troppo
5 Andante cantabile
6 Rondo. Allegro, ma non troppo
Swedish Chamber Orchestra
Karin Egardt oboe*
Kevin Spagnolo clarinet*
Mikael Lindström bassoon*
Terése Larsson horn*
Urban Svensson leader
Jean-Efflam Bavouzet pianist • director
Vamos continuar com a série dedicada a Grieg, trazendo sua desprezada sinfonia, como atesta o próprio autor:
-‘Must never be performed, E. G. ’
Nunca deve ser tocada. A insatisfação de Grieg com a única sinfonia que compôs foi tão grande que se propôs a colocar essa observação na própria partitura. Curioso, não acham? Mas leiam o comentário do maestro Bjarte Engeset no booklet em anexo:
“(…) Mas não houve tais reservas quanto ao nosso trabalho de gravá-lo! Desde o primeiro compasso, fomos apanhados em seu energia positiva e juvenil, e pelo potencial de suas muitas novas ideias musicais. Tivemos que responder com a mesmo energia, sinceridade e coragem que sentimos irradiando das notas. Alguns estudiosos de Grieg afirmaram que o segundo o tema do primeiro movimento é “bastante desinteressante em seu movimento em escala”. Este mesmo tema nos fascinou profundamente devido à originalidade da sua forma, e sentimos que devíamos tocá-la a alta temperatura, com grande generosidade, expressividade e rubato inato.”
E creio que seja com esta determinação que devemos ouvir esta obra. Pode não ser nenhuma obra prima, mas tem suas qualidades. Como sempre, sugiro a leitura do booklet, que tem uma belíssima introdução do maestro responsável por estas gravações que tenho trazido para os senhores, Bjarte Engeset. Espero que apreciem.
01. Symphony in C minor, EG.119 – I. Allegro molto
02. II. Adagio espressivo
03. III. Intermezzo
04. IV. Finale. Allegro molto vivace
05. Old Norwegian Romance with Variations, op.51
06. Three Orchestral Pieces from ‘Sigurd Jorsalfar’, op.56 – I. Prelude ‘In The King’s Hall’
Acabo de chegar de viagem, uma viagem tensa, embaixo de chuva, em uma estrada esburacada, e por estar em obras, cheia de desvios, e claro, muito movimentada, ainda mais em um final de tarde de domingo. E no meio do caminho, parei para tomar uma água e esticar as pernas, liguei o Spotify para procurei alguma coisa leve para ouvir e encontrei esta maravilha aqui, esta verdadeira jóia, um lançamento do selo Glossa, que vem se destacando por suas gravações do repertório barroco. Músicos bem conhecidos, orquestra idem, não pode dar errado. Tudo macaco velho nesse repertório. Federico Guglielmo é figurinha tarimbada no violino barroco. Violinista, musicólogo, pesquisador tarimbado, faz isso já há bastante tempo, e já é referência há bastante tempo. Acompanhando-o, temos outro Federico, o Sardelli, outro nome muito conhecido para quem admira o barroco italiano. Portanto, quando o ouvimos, sabemos que ali realmente temos músicos que sabem o que estão fazendo. E depois que comecei a ouvir, a viagem tornou-se mais prazerosa, mas ainda tensa, devido à chuva. Chegando em casa, corri para o computador, e fuçando entre meus tradicionais fornecedores, eis que o encontro facilmente. Lançamento quentinho, recém saído do forno.
Creio que Vivaldi seja uma daquelas unanimidades, daqueles compositores que dificilmente deixam o ouvinte infeliz. Estas obras que trago não são tão gravadas assim, algumas são reconstruções do próprio Sardelli, em um detalhado e delicado trabalho de pesquisa.
Mas, meu caro FDPBach, quem diabos é Ana Maria para quem estes concertos são dedicados? Ah, cara pálida, leia o booklet, e delicie-se com o texto. Como comentei acima, tudo o que o selo Glossa lança é de qualidade, bem pesquisado e documentado. Não temam, garanto-lhes que vai valer a pena gastar alguns neurônios para traduzir o texto, senão, o Google Translator está sempre à disposição.
Quando comentei sobre este CD no nosso grupo de Whattsap, imediatamente o comandante PQPBach e seu Vice-Almirante Avicenna foram incisivos: por que ainda não o postastes? Então. ei-lo ai, mas que malandro.
Antonio Vivaldi Lost Concertos for Anna Maria Reconstruction by Federico Maria Sardelli
Concerto rv 772 for violin, strings & bc in D major
1 Allegro
2 Grave
3 Allegro
Concerto rv 775 for violin, organ, strings & bc in F major
4 [Allegro]
5 [Adagio]
6 Allegro
Concerto rv 771 for violin, strings & bc in C minor
7 Andante
8 Grave
9 Allegro
Concerto rv 808 for violin, organ, strings & bc in C major
10 [Andante]
11 [Largo]
12 Allegro
Concerto rv 818 for violin, strings & bc in D major
13 Allegro
14 Largo
15 Allegro
Concerto rv 774 for violin, organ, strings & bc in C major
16 Allegro
17 Adagio
18 Allegro
Federico Guglielmo solo violin
Roberto Loreggian organ
Modo Antiquo
Federico Maria Sardelli – Conductor
Sim, eu sei, mais uma vez trago as Sonatas para Piano e Violino de Beethoven, mas e daí? A dupla de intérpretes são Corey Cerovsek e Paavali Jumppanen, violino e piano, respectivamente. Um canadense, outro finlandês. Dois nomes desconhecidos para muitos, talvez Jumppanen já seja conhecido de alguns, principalmente por suas leituras de Beethoven, muito recomendadas. Mas antes de tudo, dois músicos jovens em gravações recentes (ok, estes registros são de 2006, mas se comparadas com as de Szeryng / Rubinstein que postei dia há algumas semanas, isso foi ontem). Vamos então dar a voz à nova geração.
Nunca cansarei de ouvir estas obras, elas fazem parte de minha vida, é Beethoven em sua essência, é o gênio por trás de tudo isso. É o cara que nasceu há quase duzentos e cinquenta anos e que está sendo celebrado de todas as formas, no mundo inteiro. Não posso concordar neste caso com a frase de Nelson Rodrigues, para quem toda unanimidade é burra. Aqui não.
Tenho certeza de que os senhores irão gostar. Se não, fazer o que, né? Nem tudo é exatamente como a gente quer.
CD 1
Sonata No. 1 in D Major, Op. 12 No. 1
1 Allegro con brio
2 Tema con Variazioni. Andante con moto
3 Rondo. Allegro
Sonata No. 3 in E-flat Major, Op. 12 No. 3
4 Allegro con spirito
5 Andante con molta espressione
6 Rondo. Allegro molto
Sonata No. 9 in A Major, Op. 47 «Kreutzer»
7 Adagio sostenuto – Presto
8 Andante con Variazioni (I-IV)
9 Presto
CD 2
Sonata No. 2 in A Major, Op. 12 No. 2
1 Allegro vivace
2 Andante, più tosto Allegretto
3 Allegro piacevole
Sonata No. 5 in F Major, Op. 24 «Spring»
4 Allegro
5 Adagio molto espressivo
6 Scherzo. Allegro molto
7 Rondo. Allegro ma non troppo
Sonata No. 6 in A Major, Op. 30 No. 1
8 Allegro
9 Adagio molto espressivo
10 Allegretto con Variazioni (I-VI)
Sonata No. 8 in G Major, Op. 30 No. 3
11 Allegro assai
12 Tempo di Minuetto, ma molto moderato e grazioso
13 Allegro vivace
CD 3
Sonata No. 4 in A Minor, Op. 23
1 Presto
2 Andante scherzoso, più Allegretto
3 Allegro molto
Sonata No. 7 in C Minor, Op. 30 No. 2
4 Allegro con brio
5 Adagio cantabile
6 Scherzo. Allegro
7 Finale. Allegro – Presto
Sonata No. 10 in G Major, Op. 96
8 Allegro moderato
9 Adagio espressivo
10 Scherzo. Allegro
11 Poco Allegretto – Adagio espressivo – Tempo I –
Allegro – Poco Adagio – Presto
Este longo projeto de postagem das óperas de Richard Wagner (1813-1883) com o colega Ammiratore na verdade já era um projeto antigo meu, FDPBach, que até a chegada do colega, era o único membro do PQPBach que gostava do polêmico compositor alemão. Como alguém que não gosta de se envolver em polêmicas, principalmente nesse complexo período histórico em que vivemos, sempre procurei destacar a questão musical antes da ideológica.
Em algumas postagens tivemos sim alguns comentários em que evitamos discutir, somos um espaço democrático, antes de tudo, mas em certas situações somos obrigados a intervir, momentos em que há o desrespeito às pessoas envolvidas no Blog. Não vou entrar em detalhes, quem acompanha o blog e lê os comentários sabe do que estou falando. Mesmo sendo totalmente gratuito ainda assim somos criticados por alguns que se acham no direito de intervir, ou interferir no nosso lazer. Sim, considero o PQPBach antes de tudo um momento de lazer, de relaxamento. Brinco com meus colegas dizendo que sou um músico frustrado, por isso resolvi escrever sobre música. Não tenho a mesma formação de outros colegas, que, como músicos amadores, ou até mesmo profissionais, possuem um discurso mais teórico, conhecem o linguajar técnico, enfim. Escrevo o que sinto, antes de tudo, afinal ouço música clássica há mais de quarenta anos. Por vezes posso soar um tanto quanto disperso, não, talvez esse não seja o termo correto, digamos que, ao contrário do colega Vassily Gerinkhovich, cujo conhecimento enciclopédico, eu diria, que possui, escreve quase uma tese em seus apaixonados textos, por vezes prefiro o máximo da concisão, mas aí existe o fator contexto, ou seja, como estou naquele momento.
Tenho um tipo de acordo com minha esposa nos sábados ou domingos de manhã: enquanto ela se envolve com trabalhos domésticos, como lavar ou passar roupa, posso sentar em frente do computador e me dedicar ao PQPBach. Produzo mais e melhor nestes horários. Basta ver a quantidade de rascunhos que tenho iniciados, 99% deles serão excluídos mais tarde. Como se fosse uma preparação. Essa seria a minha metodologia.
Mas a metodologia do colega Ammiratore é bem diferente: mesmo tendo uma profissão altamente complexa e exigente, ele consegue encontrar tempo para se dedicar a escrever estes verdadeiros livros em cada postagem sua. Sua dedicação é exemplar, é antes de tudo um pesquisador nato, vai atrás de todas as informações disponíveis sobre o assunto, auxiliado por uma das maiores coleções de discos de ópera que já conheci. O homem deve ter mais de mil cds de óperas, imaginem os senhores, sem falar nos vinis. E mesmo assim, ainda corre atrás de gravações alternativas, procura no Spotify, faz as comparações, conhece profundamente o assunto, e podemos sentir o quanto ama o que faz.
Aliás, convenhamos, todos amamos o que fazemos, senão não perderíamos tempo fazendo o que fazemos. E são horas e mais horas dispensadas, lhes garanto. Nestes tempos de pandemia que vivemos, estamos passando muito tempo dentro de casa.
Creio que todos conhecemos o tema de abertura dessa longa ópera, Os Mestres Cantores de Nuremberg, está em todas as coletâneas com aberturas de óperas de Wagner. Grandiosa, imponente, tem uma temática polêmica, que até hoje, cento e cinquenta anos e dois anos após sua estréia, ainda causa desconforto e polêmicas, com o perdão da redundância.
Então, vamos ao que viemos. Com a palavra, Ammiratore:
De todas as postagens que fizemos das óperas do mestre alemão esta foi, de longe, a mais complicada a dar os “tratos à bola”. É o encerramento do projeto da integral e esperamos que seja com chave de ouro! “Die Meistersinger von Nurnberg” é a única comédia composta pelo mestre , em particular, está cheia de referências ricas aos eventos da vida de Wagner, à sua visão da arte e – talvez mais do que em qualquer uma de suas obras – às suas visões políticas. O tempo de criação da obra coincidiu com um período de grande revolta política e social, no final do qual se mantinha a tão esperada unificação da Alemanha com a fundação do Império Alemão. Embora os primeiros esboços da ópera sejam de 1845, Wagner só iniciou a confecção do libreto em 1861. No ano seguinte deu início à composição da música, é interessante mencionar que a abertura da ópera, o Prelúdio, foi a primeira parte a ser escrita por Wagner, já no início de 1862, tão logo terminou o libreto. Embora a música ainda não estivesse composta, ele já tinha ao menos vários esboços. O que o autor não previu, no entanto, foi que os tempos seguintes seriam alguns dos mais tumultuados de sua vida, o que retardaria a finalização da ópera em muitos anos. Em 1867, ao terminar finalmente a composição, Wagner aos 54 anos de idade, havia acrescentado novos temas que, embora importantíssimos para a trama, não foram incluídos no Prelúdio. O Prelúdio já havia sido estreado em Leipzig, no dia 31 de outubro de 1862, sob a direção do compositor. Neste turbulento período, algo extremamente importante para Wagner, como pessoa, cresce e muda profundamente sua vida: o relacionamento com Cosima von Bülow, 24 anos mais jovem, que é oficialmente selada pelo casamento dois anos após a estreia de Meistersinger. Ela foi a mulher que permaneceu ao seu lado até sua morte – amante, mãe de seus filhos, secretária e proprietária de Wahnfried. Com seu talento teatral único, Wagner cria a partir de seus próprios sentimentos de amor, atitudes políticas e perspectivas de arte, uma obra única em sua vasta obra, a mais alemã e, ao mesmo tempo, a mais autorreferente de suas óperas.
É sabido que Wagner se identificou com os heróis masculinos de suas óperas em alto grau. O fato de ele refletir seu caso amoroso com Cosima no relacionamento entre os personagens Sachs e Eva faz parte da mistura de arte e vida, típica de Wagner. É notável, no entanto, que Wagner não apenas tenha um “avatar” dentro do Meistersinger, mas dois (ou até três !): Walther seria o Wagner do período criativo intermediário marcado pelo jovem rebelde “Sturm und Drang”, do Holandês Voador, Tannhäuser e Lohengrin, enquanto Sachs é o mais maduro Wagner, da Tetralogia do Anel (Das Rheingold, Die Walküre, Siegfried e Götterdämmerung), Tristan, Meistersinger e Parsifal. E nesse jogo mental, David seria o Wagner ainda imaturo das Fadas, Proibição de Amar e de Rienzi. O nível de ação e interpretação artística, biografia e seu próprio desenvolvimento composicional inequivocamente estão relacionados entre si. Eva é uma musa idealizada e uma mulher realmente desejável ao mesmo tempo, “a mulher mais nobre de Parnaso” e “a mulher mais bonita do paraíso”. No Meistersinger, “a arte se torna assunto próprio”, escreve Martin Gregor-Dellin em sua monografia de Wagner. “A esse respeito, o Meistersinger também é uma auto-interpretação de uma arte que ainda luta por reconhecimento, mas de duas maneiras: tanto no sensual, quanto no artístico: auto-justificação e auto-celebração “.
Richard é empresário de teatro com coração e alma desde a mais tenra infância: escreve peças de teatro, cuida dos equipamentos e da produção e as executa. Ele esculpe o teatro de marionetes que seu padrasto Ludwig Geyer o deixou, e em sua autobiografia diz que os bonecos eram feitos das sobras dos tecidos que os alfaiates jogavam fora. Na adolescência, ele também experimenta produções com atores de carne e osso: os amigos da escola são trazidos como colaboradores, e o próprio diretor era Wagner e ele supervisiona a confecção de todos os adereços e atribui grande importância a cada pequeno detalhe.
A alegria e a paixão obsessiva com a qual Wagner se apresenta e apresenta seu trabalho não deixarão o compositor até sua morte. Ele é o melhor vendedor de suas próprias obras, porque ninguém é capaz de apresentar suas obras com tanta ênfase e plasticidade como o próprio. Reza a lenda que a leitura de seus libretos, Wagner se torna para os ouvintes um fascinante ator de teatro. Pode-se imaginar as performances de maneira vívida: uma pequena audiência de no máximo 10 a 15 pessoas, sentada quieta em cadeiras, escutando encantada a palestra de um único homem, que assume todos os papéis de sua própria peça, meio lendo, meio recitando de cor, repetidamente também agindo de forma cenográfica. E todo o espetáculo não dura cerca de uma hora dada a extensão dos textos da obra e a suposição de que também leria as instruções da cena, às vezes detalhadas. A leitura do libreto de Meistersinger em 5 de fevereiro de 1862 no cômodo da editora Schott, em Mainz, certamente levou várias horas. O maestro e amigo de Wagner, Wendelin Weißheimer, que foi diretor de música no Stadttheater em Mainz naquele ano, relata a maneira impressionante e marcante o que foi essa leitura e que nenhum dos presentes certamente se esqueceria durante sua vida. “A capacidade de modular sua voz era tão grande que Wagner logo não precisou mais nomear os personagens envolvidos. Todos sabiam logo: agora é Eva, Stolzing, Sachs ou Pogner conversando, com David e Beckmesser, com sua interpretação parecia absolutamente impossível confundi-los com os outros. Mesmo na confusão animada do Meistersinger, cada um se destacava do outro com tanta clareza que já era possível ouvir um conjunto formal que levou a pequena plateia ao êxtase”. Wagner nunca se cansa de repetir essas “produções” a cada oportunidade. Apenas dez meses após a memorável leitura em Mainz, o encontramos novamente em Viena, na casa do amigo médico e cantor Josef Standhartner, lendo e tocando o libreto recentemente concluído. Desta vez, a plateia também inclui o influente crítico Eduard Hanslick que acabou se reconhecendo na figura de Beckmesser, como alguns relatos da ocasião mostram o marcador que o “sem noção” do Wagner usava estava o escrito “Hanslich” ao invés do nome do personagem (Beckmesser). O fato de as declarações de Hanslick sobre Wagner se tornarem mais hostis logo após essa leitura é uma das muitas lendas colocadas no mundo pelo próprio Wagner. Todas essas leituras serviram principalmente para promover o novo trabalho. Mas parece ter sido tudo, menos um exercício obrigatório para Wagner, era a sua brincadeira e lhe dava ainda mais prazer do que para seu público.
Em Leipzig, em novembro de 1868 (cinco meses após a estréia do Meistersinger em Munique), Wagner impressionou o jovem estudante de filologia Friedrich Nietzsche (era o primeiro encontro entre os dois gênios), neste caso foi uma palestra musical: “Antes e depois da janta, Wagner tocava todas as partes importantes do Meistersinger, imitando todas as vozes e sendo muito exuberante”, Nietzsche relata em uma carta a seu colega Erwin Rohde e acrescenta: “Ele é um homem incrivelmente animado e ardente, que fala muito rapidamente, é muito engraçado e único, o humor da interpretação de Wagner muitas vezes é alimentado por seu desejo de se apresentar, cria uma conexão emocional e performativa entre ele e os protagonistas de suas peças absolutamente hipnotizante”.
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Entre 1423 e 1796 a cidade imperial de Nuremberg foi de importância central no Império Alemão, como repositório das jóias imperiais (a representação dos imperadores e reis do Sacro Império Romano). A cidade, que se tornou a primeira cidade alemã a se tornar protestante em 1525, experimentou seu apogeu devido ao excelente artesanato e à localização favorável para o comércio no século XVI. Artistas como o escultor Veit Stoss, o poeta e dramaturgo (e sapateiro) Hans Sachs ou o pintor Albrecht Dürer são testemunhas da florescente vida artística de Nuremberg. A Guerra dos Trinta Anos selou o declínio econômico da cidade. No final do século XVIII, não restava muito da antiga glória. No entanto, a estrutura medieval da cidade foi preservada e constituía o ponto de partida para uma nova atribuição de significado.
Decisivos aqui são os ensaios teóricos da arte de Wilhelm Heinrich Wackenroder e Ludwig Tieck, publicados em 1796 sob o título Herzentergießungen. Eles como amantes da arte, que lembram a antiga grandeza de Nuremberg em uma espécie de nostalgia romântica: “Nürnberg! Você, cidade mundialmente famosa do passado, com que prazer percorri seus becos tortos, com que amor infantil olhei para as casas e igrejas de seu avô, nas quais está impresso o sólido traço de nossa antiga arte patriótica! Quão profundamente eu amo as formações da época, que falam uma linguagem tão grosseira, poderosa e verdadeira! Como eles me trazem de volta a esse século cinza, já que você, Nuremberg, era a animada escola fervilhante de arte patriótica e um espírito artístico transbordante e bastante frutífero vivia e tecia dentro de suas paredes: – porque o mestre Hans Sachs e Adam Kraft, o escultor e acima de tudo, Albrecht Dürer com seu amigo Willibald Prickheimer e tantos outros homens de honra altamente elogiados ainda estavam vivos! Quantas vezes eu desejei voltar naquele tempo! Para os românticos alemães, Nuremberg representa um tipo de autenticidade nacional perdida durante o período barroco e o Iluminismo, quando as pessoas se tornaram muito orientadas para a França. Nuremberg se torna o epítome de um germanismo extinto. “O período da própria força terminou”, diz a manifestação do coração e de outros lugares: “obras frias, silenciosas e sem caráter são o fruto”. (Wagner era bastante filho de seu tempo com suas teorias de uma decadência geral da cultura.) O desejo de Nuremberg medieval tardio é o desejo de melhor, a verdadeira Alemanha que já foi, mas não é mais. A Nuremberg de outrora se torna um paraíso perdido”.
A “viagem nostálgica” a Nuremberg na Idade Média alemã rendeu frutos de estilo histórico, primeiro na Baviera, mas logo em toda a Alemanha: após o casamento do rei Ludwig I, avô Ludwig II, com Therese von Sachsen-Hildburghausen foi criado os Festivais Nacionais com desfiles festivos em trajes históricos da Idade Média (inspiração para a Oktoberfest de Munique) assim a partir de outubro de 1810 os festivais nacionais e folclóricos eram organizados em todo o país. Wagner coloca estes desfiles históricos do século XIX no início da cena festiva de seu Meistersinger (início do terceiro ato). Para seus contemporâneos, o festival tinha muita importância política. O vestuário histórico das personagens nada mais é do que um meio de símbolo político. A história é usada por e para o presente (e também para o futuro). Nessa alegre ópera, todo presente soa como se já fosse uma memória…… ai no século XX o partido do “vocês-sabem-quem” se apossou das ideias e sentimentos dos mais influentes artistas e filósofos do século XIX para ajudar a compor dogmas deste infeliz partido, desembocando na injustificável e trágica Segunda Guerra Mundial.
“Na minha opinião, usar mal o Die Meistersinger como suporte para um nacionalismo arrogante e complacente é trair a mais grosseira ignorância de sua verdadeira natureza. Seria preciso ser surdo, cego e totalmente imperceptível para entender essa sublime representação da alegria humana, com seu potencial utópico, e ler nele um comício do Partido. Qualquer tentativa de forçar o trabalho a moldar ideologicamente é uma distorção. ” (Wolfgang Wagner em sua autobiografia “Atos”)
Texto baseado no encarte do LP (Jochum), www.bayreuther-festspiele.de, www.wagneropera.net, www.theguardian.com.
——
O Enredo
A história de “Die Meistersinger von Nurnberg” está centralizada na volta dos tradicionais torneios de canções realizados na Alemanha pelas guildas medievais. Artesãos, com inclinações artísticas, constituíam guildas nas principais cidades, admitindo como membros apenas aqueles que obtinham êxito segundo os regulamentos de um teste de canção, com regras estritas relativas ao ritmo, tom e tema.
Um dos mais destacados mestres cantores foi Hans Sachs, que viveu em Nuremberg durante a primeira metade do século XVI. Sapateiro por profissão, foi também um poeta de considerável fama. Os nomes dos outros mestres cantores na ópera são igualmente tomados da história.
A magnífica abertura, familiar como número sinfônico, apresenta os temas dominantes da ópera, a dignidade e a autoridade dos mestres cantores, exemplificadas por Hans Sachs, e o amor de Eva e Walther.
Libreto do compositor, baseado em acontecimentos reais da história dos mestres cantores da Alemanha do século XVI Lugar: Nuremberg, Alemanha
Primeira apresentação: Munique, 21 de junho de 1868. No Teatro Nacional de Munique, sob a regência de Hans von Bülow.
Ato 01 Cena 01 Na Igreja de Santa Catarina, em Nuremberg. A esquerda, as últimas filas de bancos. No primeiro plano, o espaço aberto do coro, onde alguns membros da congregação estão cantando o coral final do serviço religioso, o “Coro da Congregação” (“Da zu Dir der Heiland kam”). Entre os fiéis estão Eva e Madalena. De pé, encostado a uma coluna, a pequena distância, está Walther von Stolzing. Olha fixamente para Eva, que lhe dirige um olhar ocasional enquanto canta. Madalena, percebendo, olha para ela em sinal de reprovação.
Quando Eva e a ama estão saindo, após a conclusão do serviço religioso, Walther se aproxima e, falando baixinho, pede a Eva que lhe conceda uma simples palavra. A jovem pede a Madalena que vá procurar seu lenço, que deixara no banco. Enquanto Madalena procura pelo lenço, voltando depois mais duas vezes para outras coisas, Walther pergunta se Eva é comprometida. A ama responde que ela está destinada a ser a noiva do homem que ganhar o torneio dos mestres cantores, que será realizado no dia seguinte. Durante a conversa, entra David e puxa uma cortina, deixando à mostra todo o resto da igreja. Quando Walther, profundamente perturbado pela resposta de Eva, volta-se por um momento, Eva pede a Madalena que a ajude a conquistar seu amor, a quem compara com a figura bíblica de David do retrato de Albrecht Dúrer.
Madalena repete o famoso nome bíblico, demonstrando emoção, enquanto que David, o aprendiz, aparece e pergunta quem está chamando por ele. Carrega uma régua e um pedaço de giz amarrado a um barbante. Lembrando-se de um amor de juventude por Madalena, olha para a jovem ardentemente quando responde às perguntas dela sobre os preparativos que está fazendo. Conta que está preparando acomodações para os mestres, que farão um julgamento preliminar para um certo número de aprendizes que estão tentando ser membros da guilda. Madalena aconselha Walther a fazer o melhor possível naquela oportunidade, apresentando-se aos mestres como um possível candidato para a competição final, onde ele talvez poderá ganhar a amada Eva como sua noiva. Madalena pede a David que cuide bem do cavalheiro, ensinando-lhe como bem proceder na prova. Os namorados conseguem marcar um encontro para a noite antes que a ama leve Eva para fora.
Cena 02
Entram alguns aprendizes, e David manda-os trabalhar. Eles arrumam os bancos, colocam uma cadeira especial para o examinando, e começam a construir uma plataforma. Nesse ínterim, David explica a Walther os detalhes do torneio de canção, e o cavalheiro, mergulhado em seus pensamentos, senta-se na cadeira do desafiante. Ouve atentamente David, que está sendo ensinado tanto na versificação quanto no canto por Hans Sachs. Para ser um mestre, diz David, alguém deve ser não apenas um cantor, mas também um bom poeta. Walther decide entrar no torneio. David volta agora sua atenção para os aprendizes, achando que eles fizeram uma plataforma muito grande, e manda que a refaçam com menores dimensões. Sobre ela colocam a cadeira, uma pequena mesa, um quadro-negro, e depois envolvem toda a plataforma com uma cortina preta. Quando terminam o trabalho, dão-se as mãos e dançam em volta, cantando um coro, onde desejam boa sorte a Walther na sua competição.
Cena 03
Tomam seus lugares em um banco ao fundo quando entram os mestres cantores. Walther senta-se em um banco na frente. O primeiro a aparecer é Pogner, acompanhado por Beckmesser, que lhe pede que fale por ele a Eva, em defesa de sua causa. Walther os interrompe para saudar Pogner, e Beckmesser olha para ele com suspeitas, ruminando sobre as perspectivas de um rival em tão crucial momento. Pogner apresenta Walther aos outros, e deixa-o cantar no julgamento preliminar.
É feita a chamada dos mestres cantores, após o que todos eles se sentam. Mas, antes que se dediquem à ordem do dia, Pogner se dirige a eles em um longo monólogo conhecido como “Discurso de Pogner” (“Das schõne Fest”). Diz que viajou por toda a Alemanha, e que ficou particularmente pesaroso pelo fato de que, aparentemente, os burgueses são tidos em pouca estima pelo público. Diz que a impressão é que eles estão somente interessados em coisas materiais e em dinheiro, não se preocupando com cultura e arte. Para provar ao povo que os burgueses não são meros materialistas, acrescenta Pogner, vai dar uma especial contribuição ao torneio anual de canção, oferecendo a mão de sua filha Eva ao homem que ganhar a competição.
A maioria dos burgueses dá sua aprovação, mas Hans Sachs protesta que, para que haja justiça, deve ser dada à noiva alguma escolha no que se refere a marido. Acrescenta que o povo também deve ser chamado a dar sua opinião, particularmente quanto às qualificações do cantor. Quando alguns dos mestres expressam suas dúvidas a respeito do julgamento do público em matéria de arte, Pogner sugere que, como um compromisso, seja permitido a Eva rejeitar o vencedor, mas não poderá se casar com outro, pois o disputante deverá ser um mestre cantor ou ninguém mais. Após muita discussão, a proposta de Pogner é aceita.
Em seguida, Pogner apresenta formalmente Walther como candidato. Os mestres perguntam-lhe onde aprendeu a arte do canto, e ele responde em uma melodiosa ária “Am stillen Herd”. Diz que estudou a arte no livro do antigo menestrel Walther von der Vogelweide, e na natureza. “Quando o prado libertou-se do gelo, e o tempo de verão retomou, aquilo que, antes, nas longas noites de inverno, o velho livro me ensinara, agora ressoava claramente, no esplendor da floresta, e eu podia ouvir os cantos amplamente, nas florestas de Vogelweid, também aprendi a cantar.”
Sachs expressa sua aprovação, mas os outros têm dúvidas acerca daquele inusitado tipo de treinamento. Perguntam ao cavalheiro que tema escolherá para sua canção, e ele anuncia que o amor será o seu tema. Senta-se na cadeira do cantor. Beckmesser toma o lugar de Marcador, parando para advertir Walther que somente lhe são permitidos sete erros.
A ardente canção de amor de Walther (“Fanget an! So rief der Lenz in den Wald”), sendo uma espontânea expressão de suas emoções, quebra praticamente todas as regras tradicionais, e violentas indicações de desaprovação são ouvidas da plataforma do Marcador. A despeito do furioso riscar do giz na pedra, Walther prossegue inalterável, até que Beckmesser puxa a cortina sobre a pedra, que está coberta de marcas de giz. “Começai! Assim ditou a primavera à floresta o que isso ecoou sonoro: e, enquanto o som flutuava em ondas, cada vez mais distantes, de longe vinha um rumor que se aproximava, expandia-se e ressoava entre a floresta, com o abrigo de doces vozes. como o som crescia! Como o ribombar dos sinos, o tropel da alegria ressoava! a floresta respondia logo ao chamado que lhe trouxe nova vida, e entoava a doce canção da primavera! Num espinheiro, consumido de ciúme e dor, o inverno teve de se recolher. Com folhas secas farfalhando ao seu redor, aguardou e planejou como poderia destruir aquela alegre cantoria. Mas: começai! – Assim ecoou em meu peito, antes que ele conhecesse o amor. Senti que ele crescia dentro de mim, como se me acordasse de um sonho. Meu coração enchia meu peito com seu agitado palpitar. Meu sangue pulsava, submetido a este novo sentimento. Numa cálida noite, com uma força superior, uma hoste de suspiros arremessava ao mar, num intolerável movimento de felicidade, Os Mestres Cantores de Nuremberg o peito como de imediato respondeu prontamente ao chamado que lhe trouxe uma nova vida; dê o tom maravilhosa canção de amor!”
Sarcasticamente, Beckmesser enumera as falhas na canção, e vários mestres acrescentam suas críticas. Kothner aponta uma indesculpável infração das regras: Walther levantou-se da cadeira enquanto estava cantando. Hans Sachs protesta contra o arbitrário julgamento dos mestres, mas é derrotado por Beckmesser, que reúne seus colegas à sua volta, apontando os erros do cantor. Com exceção de Sachs e Pogner, são unânimes na sua desaprovação. Walther, impaciente e irado por sua reprovação, expressa seu desprezo pelas regras hediondas, proclamando que, não obstante tudo, cantará de acordo com os ditames de seu coração. Dito isto, sai raivoso da igreja. Sachs, que ouviu atentamente a canção de Walther, dá sua aprovação ao talento e coragem do cavalheiro. Beckmesser pede uma decisão oficial, e os mestres afirmam que o candidato está rejeitado. Asperamente discutindo o assunto, saem, enquanto os aprendizes sobem à plataforma e tiram os bancos. As vozes dos homens e dos rapazes se unem em um vivo coro (“Glúck auf zum Meistersingen”).
Todos se separam, em uma grande agitação; alegre tumulto dos aprendizes, que se apossaram da cabine do Marcador e dos bancos dos Mestres de um impulso; produz-se uma confusão só no meio dos Mestres até a saída. – Sachs, que demorou sozinho sobre o centro da cena, olha com um ar meditativo a cadeira do cantor vazia e a tabuleta; as cortinas se fecham, e os aprendizes apoderam-se igualmente da cadeira do cantor, onde está Sachs, olhando para ela, que, por sua vez, se afasta, fazendo um gesto cômico de desânimo e de mau humor.
Ato 02 Cena 01
Uma rua em Nuremberg, cortada no centro por um beco que vai até o fundo, com casas de ambos os lados. A cena apresenta, em primeiro plano, uma rua ocupada nos lados de sua extensão, e janelas de sacada dão para uma ruela que vai e vem para o fundo da cena e parece fazer um ângulo; duas casas de canto fazem frente aos espectadores; uma tem o aspecto bastante rico, à direita – é a casa de Pogner; a outra, mais simples, está à esquerda – é a casa de Hans Sachs. Perto da casa de Pogner, uma grande tília; perto se encontra um sabugueiro em flor. Serena tarde de verão; durante o curso das primeiras cenas, a noite cai progressivamente. David se ocupa de fechar o exterior das abas das janelas que dão para a rua. Os outros aprendizes fecham da mesma maneira as janelas das outras casas, cantando enquanto trabalham. David se encarrega das janelas da loja de Sachs.
Madalena sai da casa de Pogner, chama David, e lhe pergunta sobre o julgamento da canção. Ele lhe diz que Walther foi rejeitado. A ama volta depressa para casa, enquanto os aprendizes dançam à volta de David, zombando dele. Está a ponto de irritar-se quando surge Sachs e os dispersa. A rua volta a ficar quieta quando os aprendizes vão para suas casas.
Cena 02
Pogner e Eva, de braços dados, vêm se aproximando pelo beco, conversando sobre o torneio de canção. Sentam-se em um banco de madeira sob uma árvore em frente à casa deles, e logo depois Madalena chama-os para o jantar. Enquanto Pogner está entrando, a ama consegue sussurrar novas sobre Walther. Muito contrariada, Eva decide pedir conselho a Hans Sachs.
Cena 03
O sapateiro está sentado na sua banca de trabalho, e David está perto da porta. Fecha metade da porta, manda David dormir, e se prepara para trabalhar. Num longo solilóquio (“Wie duftet doch der Flieder”) relembra a canção de Walther. Sachs dispõe os seus materiais de trabalho à mão, senta-se em frente à mesa sobre o banco, abandona, porém, o trabalho, e com a mão no queixo e o cotovelo disposto sobre a mesa, o corpo encostado na porta, que está fechada. “Como é suave e marcante o perfume do sabugueiro!- E é tão relaxante e quer que eu diga algo. O que importa o que eu lhe diga? Sou apenas um pobre e humilde homem. Se o trabalho não ficar a gosto, você poderá, amigo, libertar-me. Melhor seria esticar o couro, e abandonar toda poesia! (Ele toma impetuosa e ruidosamente o material de trabalho. Abandona de novo, lembra-se novamente de algo, e canta) Ainda assim, não poderia. Sinto e não posso entender. Não posso prosseguir e tampouco esquecer. Se eu a retenho, não posso medi-la! Mas, então, como reter aquilo que me parece incomensurável? As regras não se adequavam e, no entanto, não havia nenhum erro! Soava tão antigo e, no entanto, tão novo, como o cantar dos pássaros em doce Maio! Quem quer que ouvisse e fosse seduzido, imitasse o pássaro, sofreria a zombaria e a desgraça:- Sob o comando da primavera, a doce necessidade colocou em seu peito, e ele cantou como devia, como devia e como podia. Observei bem isso. O pássaro que cantou hoje, tinha um bico bem formado. Se ele incomodou os Mestres, certamente agradou a Sachs.” Ele retoma com serenidade o seu trabalho.
Cena 04
Eva interrompe suas reflexões, seguindo-se um interessante diálogo musical (“Gut’n Abend, Meister”). Sachs revela sua grande afeição por Eva, que dá a entender que ela ficaria muito contente se o próprio sapateiro vencesse o torneio e a tomasse como sua noiva. Desdenhosamente, rejeita Beckmesser como um pretendente. Sachs, comovido por sua devoção, diz-lhe gentilmente que ele é muito velho para ela. Quando a conversa se dirige para Walther, o sapateiro, deliberadamente, fala de modo depreciativo a respeito dele. Aborrecida por causa das palavras de Sachs, Eva, afinal, se deixa trair, revelando seus verdadeiros sentimentos. Quando ela sai para atender ao chamado de Madalena, Sachs fica satisfeito ao verificar que suas conjecturas sobre o romance eram corretas. “Como eu pensava. Agora preciso encontrar uma saída!” Ele fica deveras preocupado com isso, enquanto, em seguida, também se põe a fechar a porta na parte de cima, de modo que ela somente ainda deixe passar um pouco de luz: ele mesmo desaparece assim quase totalmente e fica na espreita ouvindo o diálogo entre Eva e Madalena. Madalena diz a Eva que Beckmesser planeja uma serenata para ela naquela noite com a canção que escreveu para o torneio.
Cena 05
Em seguida, aparece Walther, e Eva se dirige para ele, saudando-o calorosamente. Desalentado, Walther lhe diz que a decisão dos mestres cantores pôs um fim a todas as suas esperanças. Irritado e impaciente, ataca a cegueira e a obstinação daqueles mestres, e depois implora a Eva que fuja com ele. De repente, soa a trompa do guarda-noturno, e Eva pede ao namorado que se esconda até que ele passe. Ela corre para casa. No seu curioso e medieval canto, o guarda-noturno anuncia que são dez horas, balançando sua lanterna enquanto segue seu caminho. Sachs, tendo ouvido atrás da porta a conversa entre os amados, entreabre cautelosamente a porta, dizendo que os dois devem estar prevenidos para não dar um passo errado.
Eva, vestida com as roupas de Madalena, sai de casa e corre para os braços de Walther. Quando se dirigem para o beco, Sachs abre toda a porta, dirigindo um forte jato de luz de sua lanterna. Rapidamente, eles procuram se esconder nas sombras. Eva adverte-o que eles não podem ser vistos pelo sapateiro. Desalentado, Walther ouve Eva lhe dizer que o sapateiro é Sachs, e que, longe de ser amigo dele, está ao lado dos mestres contra o recém-chegado. Walther está pronto a correr à loja e pedir explicações, quando Beckmesser aparece vindo pelo beco.
Cena 06
Parando na frente da casa de Pogner, começa a afinar seu alaúde, e depois olha para a janela de Eva, onde Madalena, usando as roupas de Eva, está sentada. Nesse ínterim, Sachs coloca seu banco de trabalho no limiar da porta, e faz os preparativos para começar a trabalhar. Beckmesser está a ponto de iniciar sua serenata quando Sachs começa a martelar, cantando um barulhento refrão, “Jerum! Jerum! Halla-hallo-he!”. Beckmesser, tentando se controlar, pede a Sachs para ficar calado, mas o sapateiro responde que tem de terminar seu trabalho. Desesperado, Beckmesser sugere que Sachs atue como marcador de sua canção e bata um prego quando ele ouvir um erro. Nem bem começou sua balada (“Den Tag seh’ich erscheinen”) quando começam as batidas, e quanto mais ele canta, mais depressa Sachs bate. Afinal, Sachs consegue terminar o sapato, e ergue-o em triunfo. Canta em louvor do “sapato do marcador” (“Mit den Schuhen ward ich fertig schier”), chamando-o assim porque foi feito enquanto as batidas de seu martelo marcavam os erros de um suposto mestre. Um sapato, como uma canção, observa ele, deve ser muito bem feito. Enquanto isso, Beckmesser prossegue com sua serenata, quase não conseguindo mais se controlar.
Logo depois cabeças surgem nas janelas, e em um coro irritado os vizinhos pedem silêncio. David abre sua janela, e vendo Beckmesser fazendo uma serenata à sua amada (Madalena), pula para fora com um pedaço de pau e começa a bater no seu rival. Eles abandonam as janelas de suas casas e, um a um, vêm, com seus trajes de dormir, para o meio da rua. Sachs, que por um tempo tinha observado o crescente tumulto na rua, apaga a lamparina e empurra sua porta e a deixa um pouco entreaberta, de maneira a poder sempre observar, a partir de seu lugar, os que estão sob a tília. Isto provoca uma tremenda confusão, na qual toda vizinhança — burgueses, artesãos, aprendizes, mulheres e crianças — eventualmente toma parte. Walther e Eva acompanham a progressão do tumulto com uma crescente inquietação. Walther cinge Eva com seu sobretudo e a encosta toda contra si, e escondem-se embaixo do pé de tília, puxando o arbusto até que ambos se tomem invisíveis. No auge do quiproquó, Walther e Eva saem de seu esconderijo. Sacando a espada, o cavalheiro tenta abrir caminho entre a multidão. Sachs sai de sua loja, detém Walther, e empurra Eva para a casa dela. Pogner recebe Eva e puxa-a para dentro de casa. Sachs, parado, dá um pontapé na porta da oficina, e indo para fora, brande sua correia de sapateiro e assenta, com força, um golpe sobre David, que está diante dele; e nesse tempo, arrasta Walther, a quem segura imobilizado, para dentro de casa, fechando e trancando a porta atrás deles.- Beckmesser, posto em liberdade por David, em razão da atenção de David em Sachs, procura apressado a fuga através da multidão.
A trompa do guarda-noturno soa acima do tumulto, e a multidão some como por encanto. Pouco depois, ele surge para dizer que são onze horas (“Hórt ihr Leut’, und lasst euch sagen”) na rua que ficou novamente deserta e silenciosa. “Ouvi, gente, o que direi: Já bateram onze horas. Cuidado com fantasmas e espíritos, Que eles não lhes roubem a alma. Que Deus os proteja”! Toca a trompa. – O clarão da lua cheia aparece, e ela brilha, muito viva, sobre a rua; o vigia noturno retira-se a passos lentos e dobra a esquina. Os temas da confusão e da serenata de Beckmesser surgem rapidamente na orquestra quando cai o pano.
Ato 03 Cena 01
O interior da oficina de Hans Sachs. O prelúdio, também uma peça favorita de concerto, é dominado pelos temas associados a Hans Sachs. É manhã, e o sol inunda o cómodo. Na oficina de Sachs. Ao fundo, está meio entreaberta a porta que dá para a rua. À direita, uma porta que dá para o quarto. À esquerda, uma janela com flores; do lado, uma mesa se trabalho. Sachs está sentado em uma cadeira de braços perto da janela, através da qual o brilho do sol nascente, cai sobre ele. Ele tem diante de si, sobre as pernas, um grosso livro e está absorvido em lê-lo. – David vem vindo da rua, entra pela porta e depara-se com Sachs e dá uns passos para trás. Ele fica seguro de que Sachs nem deu conta de sua presença, adentra mais, deposita uma cesta de mão, que carrega, sobre a mesa de trabalho perto da janela e observa o seu conteúdo; retira flores e fitas coloridas de dentro dela; finalmente, encontra uma salsicha e uma torta. Prepara-se para comer um pedaço de uma delas quando Sachs, que continua parado e calmo, sem olhar para ele, com forte ruído, vira as páginas do livro.
Alertado pelo barulho da página sendo virada, ele recoloca escondido a comida, e respeitosamente toma seu lugar junto de Sachs. Diz-lhe que entregou os sapatos de Beckmesser, e tenta se desculpar pelo seu comportamento da noite anterior (“Ach, Meister, wolPt ihr mir verzeih’n!”). Explica que tudo aconteceu por causa de Madalena, porque ela sempre foi gentil para com ele. De repente, Sachs fecha o livro com força, e David cai de joelhos com medo. Mas os pensamentos do sapateiro estão em outro lugar. Parece ter se esquecido de David, mas depois pede-lhe para repetir seus versos para aquele dia. O rapaz atende com uma ingénua canção sobre São João, sendo que no dia do santo é realizado o festival (“A m Jordan Sankt Johannes stand”). A mente ainda está confusa com Beckmesser, David canta as primeiras frases da desastrosa serenata. Quando Sachs olha espantado, ele corrige a confusão. Sachs ainda o ouve um pouco, e depois manda-o tratar de suas obrigações.
Ficando só, Sachs canta a magnífica ária (“Wahn! Wahn! Uberall Wahn!”), na qual discorre sobre a raiva e a discórdia que campeiam pelo mundo, até mesmo ali, na pacífica Nuremberg. Afirma que, ao menor pretexto, seus bons vizinhos brigam uns com os outros tomados de raiva cega, como se estivessem sob alguma influência malévola. Conclui dizendo que a loucura dos bons burgueses poderia ser utilizada para algum propósito útil. “Loucura! Loucura! Todos estão loucos! Onde quer que eu procure, nas crônicas da cidade ou do mundo, tento e não consigo descobrir por que as pessoas se atormentam e lutam entre si, até tirar sangue, tola e inutilmente! Ninguém recebe prêmios ou agradecimentos por isso! Batem em retirada e julgam-se caçados! Não ouvem seus próprios gritos de dor, quando se chafurdam em suas próprias carnes. Acham que estão tendo prazer! Quem dará um nome para isso? É a velha loucura, sem a qual nada pode acontecer! É somente para ganharem novas forças no sono: de repente ela desperta, então quem poderá detê-la? Quanta paz há nos costumes leais. Contente com suas proezas e trabalho, está, no centro da Alemanha, minha querida Nuremberg! (Ele olha a vista da cidade, pleno de uma profunda e calma alegria). Mas, numa noite passada, para prevenir um contratempo, causado pelo ardor juvenil, um homem não sabia o que fazer. Um sapateiro, na sua oficina, puxou o fio da loucura: logo, as alamedas, vielas e ruas foram tomadas pela fúria! Homem, mulher, operário e criança, se atracaram como loucos e cegos. Se a loucura estiver predominando, é necessário, agora, que uma chuva caia, para, com cortes, golpes e surras, aplacar o fogo da ira. Deus, como isso aconteceu? Um duende deve ter ajudado: nem um pirilampo podia encontrar sua parceira. Ele começou a confusão! Estava no sabugueiro: véspera da Noite de São João! Mas, agora, é dia de São João! Agora vejam como Hans Sachs trata de conduzir a loucura para um resultado mais nobre: pois se a loucura não nos deixar em paz, até mesmo em Nuremberg, deixêmo-la livre, a serviço de tarefas que são raras, em atividades comuns, mas que, sem essa loucura, nunca poderão se realizar. ”
Cena 02
Após o término, entra Walther vindo de outro cómodo. Sachs cumprimenta-o afetuosamente, seguindo-se um melodioso dueto (“Grúss Gott, mein Junker”). Walther diz a Sachs que teve um sonho tão maravilhoso, mas mal se atreve a pensar nele com medo de que sua magia se desvaneça. Sachs pede-lhe que o faça, dizendo que as melhores inspirações do homem nascem de sonhos. Nas frases da “Canção do Prémio”, cantada na sua totalidade mais tarde na competição, Walther descreve seu sonho, enquanto Sachs, ouvindo com crescente interesse, escreve enquanto ele canta. Walther interrompe ocasionalmente a canção para discuti-la com Sachs. O sapateiro, percebendo que esta é a canção destinada a ganhar o prêmio, faz certas sugestões quanto à rima e à forma musical, de maneira a ter a aprovação dos mestres. Pede uma segunda estância, e Walther atende com um belo refrão, no qual descreve como a visão de sua amada veio até ele no fim do dia (“Abendlich glúhend”). Foi, então, que ele ouviu a canção mágica que agora o inspira. Sachs aconselha Walther a tentar o prêmio, e em seguida ambos saem para se prepararem para o festival.
Cena 03
Beckmesser é visto da rua, espiando a porta da oficina; constatando que a sapataria está deserta, ele abre a porta e avança. Encontra-se ricamente vestido, mas demonstra estar, entretanto, em lastimável estado. Ele boceja, se coça e se estica, depois bruscamente se sobressalta, procurando um banquinho, onde com dificuldade se senta; mas, instantaneamente, ele se levanta de um pulo, e se fricciona novamente nos braços. Ele parece um sonâmbulo, desesperado, indo para aqui e ali, até chegar ao atelier. Em seguida se detém e meticulosamente eleva os olhos para a janela, mas termina por bater a testa na sacada da casa; faz um gesto de raiva, mas termina por bater de novo a testa. Finalmente, seu olhar cai sobre o texto que Sachs havia escrito, ditado por Walther, e que foi abandonado sobre a escrivaninha; ele o toma com curiosidade; ao lê-lo, o faz com uma crescente agitação: agora, as intenções veladas de Sachs estão claras, murmura enquanto examina o papel, pois aquilo prova que ele está planejando entrar no torneio. Ouvindo a porta abrir-se atrás dele, Beckmesser esconde o papel no bolso no mesmo momento em que entra Sachs.
O sapateiro saúda sarcasticamente, mas Beckmesser asperamente o acusa de tentar eliminá-lo da competição por envolvê-lo deliberadamente em uma rixa de rua (“O Schuster, voll von Ránken”). Acusa Sachs de uma trama para afastar todos os rivais para que ele possa ganhar a mão de Eva. Tirando o papel do bolso, balança-o diante do nariz de Sachs, gritando que ali está a prova da trapaça do sapateiro. Sua raiva se transforma em surpresa quando Sachs oferece-lhe a canção de presente. Quando ele, afinal, se convence de que Sachs não está armando alguma contra ele, sai da loja em triunfo, gritando para Sachs que ele o recompensará algum dia por causa de seu gesto nobre. Quando Sachs olha para ele, balançando tristemente a cabeça, entra Eva ricamente adornada, usando um vestido branco todo cintilante.
Cena 04
A conversa deles leva a um belo dueto (“Sieh, Evchen!”). Em encantadora confusão, ela lhe diz que um de seus sapatos novos está muito apertado. Sabendo muito bem o motivo por que ela veio, Sachs ajoelha-se para examinar o sapato, e assim se encontra quando Walther abre a porta, e fica parado ali. Está usando o esplêndido traje de um cavalheiro, e Eva fica deslumbrada de surpresa. Sachs leva o sapato para sua banca, volta as costas para o público, e começa a trabalhar.
Walther, olhando para Eva em êxtase, canta o refrão da sua canção do sonho, que Eva ouve como encantada. “Por que as estrelas demoraram em suas adoráveis danças? Tão luminosa e clara com suas tranças, acima de todas as mulheres, gloriosa de se ver, exibe-se, em delicada cintilação, uma guirlanda de estrelas”! Sachs, voltando com o sapato, diz a Eva para guardar bem a canção, pois ela é uma obra-prima. Vencida pela emoção, Eva irrompe em lágrimas, e cai nos braços de Sachs. Profundamente comovido, ele gentilmente se livra do abraço, entregando-a a Walther.
Num brilhante refrão, que tem em si alguns ecos de “Tristão e Isolda” (“O Sachs, mein Freund!”), Eva confessa seu amor por Sachs, dizendo que o destino decretou de maneira diferente para que ela não fosse sua noiva. “Oh, Sachs, meu amigo, bom homem! Como posso recompensá-lo por tudo nobre homem! O que seria de mim sem seu amor, sem ti! Tivera eu sempre permanecido uma criança, não terias me despertado! Através de ti, elevei o meu espírito! Amadureci! Despertada por ti, só através de ti, pensei livremente, nobremente e integralmente! Fizeste-me florescer! Sim, querido Mestre, insulta-me se quiseres, mas eu estava laborando no caminho certo, pois se eu pudesse escolher, eu te escolheria, a ninguém mais; se fosses meu marido, eu daria o prêmio a ti e a mais ninguém. Mas, agora, fui tomada por um tormento desconhecido. Se eu me casar hoje é porque não tive outra escolha: foi necessidade, compulsão! Tu mesmo, meu Mestre, ficarias consternado”. Com um certo arrependimento, Sachs responde que as circunstâncias lembram-lhe a triste história de Tristão, e que preferiria não representar o papel de Rei Marke. Um tema de “Tristão” soa suavemente através da orquestra para marcar suas palavras. “Minha criança, de Tristão e Isolda, conheço esta triste história: Hans Sachs foi esperto e não quis nada da herança do senhor Marke. – Foi na hora certa que descobri o homem certo; senão, no fim, teria ido de encontro a tudo isto”.
A entrada de Madalena e David modificam a atmosfera da cena. Saudando-os, Sachs proclama, em um vibrante refrão (“Aha! da streicht schon die Lene”), que nasceu uma nova canção e precisa ser batizada. Ele e Eva são seus padrinhos, enquanto Madalena e David são as testemunhas. Para tornar o rapaz aceito como testemunha, Sachs promove-o a artesão imediatamente, ordenando-lhe que se ajoelhe e dando-lhe um tapa no ouvido, o símbolo tradicional da sagração de seu novo posto.
Eva canta um alegre refrão (“Selig, wie die Sonne”), introduzindo o magnífico quinteto que encerra a cena. Eva diz que a canção mágica de Walther acabou com todo o seu aborrecimento, enquanto Walther exclama que foi o amor dela que a inspirou. Embora se rejubilando com Eva, Sachs confessa um pouco de remorso porque o amor dela agora pertence a outro. Madalena e David expressam sua felicidade pelo fato de que agora podem se casar, pois David é um homem livre. Na conclusão, Sachs convida todos para o festival. A cortina desce, mas a música continua num brilhante e festivo tema misturado com a fanfarra de trompetes. No seu clímax, a cortina se abre para mostrar a cena colorida do festival de canção.
Cena 05
Depois de um prelúdio, a cena é mudada imediatamente. Ela representa agora o prado, num plano horizontal, vendo-se ao fundo, longe, a cidade de Nuremberg. O rio Pegnitz serpenteia, arrastando-se do outro lado do prado. Botes decorados com motivos alegres, com bandeiras multicores, descarregam, constantemente, novos passageiros na pradaria, onde terá lugar a festa. São burgueses de diferentes grêmios, ricamente vestidos e acompanhados de suas esposas e filhos. Um grande estrado, lotado de bancos, se eleva à direita; ele está decorado com as bandeiras das corporações que já chegaram; as corporações ou grêmios que vão chegando, em comitiva, colocam, igualmente, suas bandeiras sobre esse estrado dos cantores, que permanecerá assim delas rodeado, em três dos seus lados. Nos limites da cena encontram-se instaladas tendas, onde se distribuem bebidas e guloseimas de toda sorte. Nos locais das tendas reina uma alegre animação. Os burgueses com suas mulheres e filhos assentam-se e se instalam à sua maneira sobre o terreno. Os aprendizes dos Mestres Cantores, em trajes de festa, elegantemente enfeitados de fitas e flores, munidos de longos bastões também enfeitados, têm, de modo divertido, o encargo de arautos e de mestres-de-cerimônia. Eles recebem à borda da água os que chegam, organizam as comitivas e as conduzem até o estrado do concurso de canto; depois que o portador do estandarte do grêmio tiver colocado sua bandeira no local reservado no estrado, os burgueses da corporação e seus acompanhantes se dispersam, a seu gosto, pelas tendas. Os sapateiros vêm de ser recebidos nas margens do rio e são conduzidos para a frente da cena.
As várias guildas desfilam, desfraldando seus estandartes identificadores, e cantando vibrantes coros. Depois, entram os mestres em uma solene procissão, e tomam seus lugares na plataforma. Depois que todos tomam seus lugares, os aprendizes pedem silêncio, surgindo Hans Sachs. E saudado com um majestoso hino de aclamação (“Wach’auf, es nahet gen den Tag”). Sachs, que permaneceu imóvel, a atenção perdida para longe, para mais longe da multidão, dirige enfim os olhos sobre ela, com uma expressão de íntima confiança e, emocionado, começa a falar, com a voz embargada, após recompor-se ao cabo de alguns instantes. “Vós tornais as coisas leves, mas para mim é difícil; Vós prestai a este pobre homem muitas homenagens. Se devo me submeter a essa honra, então que seja a de me sentir querido por vós. Grande honra já me foi concedida, quando hoje fui nomeado o porta-voz. E sobre o que o meu discurso versará? Acreditai-me, estará repleto de altas honrarias. Como vós já honrais a Arte tão profundamente, é necessário provar que os que partilham dela, para elevá-la ainda mais, estão acima de todos os prêmios. Um Mestre, rico e de mente elevada, irá entregar, hoje, sua filhinha, seu maior tesouro, entre todos seus bens e posses, para o cantor que, no concurso de canções, vencer, diante de todos. Como a coroa do mais alto prêmio, esta será a recompensa. Então, ouvi, e concordai comigo: o concurso está aberto ao poeta. Vós, Mestres, que quiserem tentar, a cada um eu o proclamarei diante do povo: pensai no raro prêmio do concurso, e quem quer que seja o vencedor, que seja puro e nobre, tanto ao fazer a corte, como ao cantar. Aquele que ganhar os louros, os quais nunca, tanto no passado, como no presente, em tão alto nível foram colocados, agora com esta adorável e pura donzela, nunca se arrependerá deste dia em Nuremberg. Com os mais altos e dignos valores, honrará a arte de seus Mestres”!
Grande movimento na multidão e Sachs vai até Pogner, que lhe estende a mão com emoção e dá uma palavra amigável a Pogner, e depois abre o torneio formalmente. Em primeiro lugar, chama Beckmesser que está desesperadamente tentando decorar a canção de Walther, fazendo um derradeiro esforço de última hora para memorizar as palavras. O aprendiz o conduz ao lugar do cantor, um monte de terra. Nervoso, tropeça, reclama que o monte está escorregadio, e ordena aos rapazes que firmem mais a terra. Rindo entre eles, os moços firmam-no mais.
Com uma exagerada reverência a Eva, Beckmesser inicia sua canção. Tenta reproduzir as palavras do poema de Walther com a melodia de sua serenata, com ridículos resultados. Distraído pelas zombarias da multidão, esquece as palavras e canta tomado de pânico. Quando conclui num desesperado e final esforço, o povo rompe numa torrente de riso sarcástico. Dirigindo-se à plataforma, atira o papel no rosto de Sachs, gritando que o sapateiro o traiu tendo lhe entregado sua miserável canção. Sai furioso, desaparecendo na multidão.
Calmamente, Sachs anuncia que ele meramente escreveu as palavras da canção, que é a inspiração de um distinto visitante, que poderá cantá-la da maneira correta. A seu chamado, Walther se apresenta, e canta a grande “Preislied” (“Canção do Prémio”), o ponto alto da ópera (“Morgenlich leuchtend im rosigen Schein”). É uma poética descrição do milagre que inspirou sua canção. Canta o deslumbramento de um jardim mágico, onde, sob uma árvore encantada, viu a mais bela das mulheres. Acrescenta que, junto a ela, soube que aquela encantadora jovem e sua Musa eram a mesma pessoa. Sua Musa, canta exultante, é Eva, e a música que ela inspirou transportou ambos às alturas do Parnaso e do Paraíso. Os mestres e o povo, em um acompanhamento coral às frases finais da canção, comentam, com surpresa e deslumbramento, a beleza da canção. “Brilhando na rosada luz da manhã, o ar carregado de flores e essências, repletas de alegrias inimagináveis, um jardim me convidou..e, sob uma maravilhosa árvore, (Kothner, absorvido, deixa cair o manuscrito, que ele havia começado a reler com os outros Mestres), recheada de frutos, para se contemplar, no abençoado sonho de amor, ousadamente prometendo realização.. dos mais elevados desejos de alegria a mais linda donzela: Eva no Paraíso!………Ao por-do-sol, a noite me envolveu. No caminho de um abismo, aproximei-me de uma fonte de água pura, que sorriu sedutora para mim. Lá embaixo de um loureiro, com estrelas cintilando, através de suas folhas, como no despertar de um sonho de poeta, avistei um sagrado e lindo semblante. Borrifando-me com o precioso líquido vi a mulher mais esplendorosa: a Musa do Parnaso!………Em que dia mais gracioso, vim despertar de um sonho de poeta! O Paraíso com o qual tinha sonhado, numa aurora de esplendor, estende-se diante de mim. E a primavera, sorrindo, mostrou-me o caminho. Ela, nascida ali, a eleita do meu coração, quadro mais adorado da terra, destinada a ser a minha musa, tão sagrada e serena, estava pronta para ser cortejada por mim, no brilhante dia de sol. Ao vencer com a canção: Ganhei o Parnaso e o Paraíso” !
Walther recebe o prémio por aclamação unânime. Eva coloca a coroa do vencedor na sua cabeça, e ambos se ajoelham diante de Pogner para receber sua bênção. Entretanto, quando Pogner apresenta ao cavalheiro a corrente de ouro da Corporação dos Mestres, ele a repele com uma demonstração de amargura. A isto, Sachs se ergue e, em um eloquente refrão (“Verachtet mir die Meister nicht”), exorta-o a não rejeitar o prémio dos mestres. Embora suas regras possam parecer intolerantes e inflexíveis, prossegue, são eles que mantêm os padrões da arte alemã. Aqueles que reverenciam essa arte devem conservá-la para o futuro, quando a Terra será devastada. “Não desprezes os Mestres, eu ordeno, e honra a arte deles! Tudo aquilo que faz a justa honra deles, tu o conquistaste aqui. Não pelos teus ancestrais ilustres, nem pelo teu brasão, nem por tua lança ou espada, mas pelo fato de seres um poeta, que um Mestre te admitiu, para que recebas hoje a maior de todas as felicidades. Assim, pensa nisso com gratidão: como a Arte poderá ser indigna se tais tesouros são seus prêmios? Por nossos Mestres terem manejado assim, cuidadosamente, com carinho, pensando no melhor, é que a Arte continua genuína: se ela não permanecesse aristocrática e antiga, quando Cortes e Príncipes a abençoaram, malgrado os anos difíceis, ela permaneceu germânica e verdadeira; E se ela floresceu só aqui, onde tudo é cansaço e dureza, vê como ela superou tudo e continua honrada. O que mais pediria aos Mestres? Ficai em alerta! As artimanhas do mal nos ameaçam: se o povo e o reino alemão, um dia, sucumbirem, sob uma falsa lei estrangeira, então nenhum príncipe entenderá mais seu povo, e neblinas estrangeiras, com vaidades estrangeiras, plantarão em nossa terra germânica. O que é alemão e verdadeiro ninguém saberá mais, ninguém viverá mais na honra dos Mestres Germânicos! Portanto, eu digo a ti: honra teus Mestres Germânicos, pois assim atrairás bons fluídos! E se ajudares nos empreendimentos deles, até o Santo Império poderá se dissolver em brumas, mas, para nós, sempre permanecerá a sagrada Arte Germânica”!
O povo faz eco a essas palavras em um triunfante coro. Eva tira a coroa da cabeça de Walther, colocando-a na de Sachs. Este, por seu turno, pega a corrente de ouro com Pogner, e a entrega a Walther. Pogner ajoelha-se diante de Sachs, enquanto os mestres fazem um gesto de homenagem. Os Mestres Cantores, mãos elevadas, fazem um gesto em direção a Sachs, reconhecendo-o, por chefe. Todos os presentes- finalmente, Walther e Eva também – unem-se ao povo no seu canto final e num vibrante coro, o povo aclama o querido sapateiro de Nuremberg (“Heil Sachs! Hans Sachs!”). O povo agita chapéus e lenços, numa demonstração de entusiasmo; os aprendizes dançam empurrando-se aos gritos e juntando maravilhados as mãos. “Viva Sachs! O querido Sachs! de Nuremberg!”.
Cai o pano
Texto do “Enredo” baseado no Livro “As mais Belas Óperas” do Milton Cross e www.agrandeopera.com.br.
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Personagens e intérpretes
Die Meistersinger von Nurnberg – Herbert von Karajan (1908-1989) Após a Segunda Guerra Mundial, as potências aliadas determinaram a supressão de todo trabalho wagneriano na Alemanha. No entanto, cabeças mais sábias prevaleceram e, em 1951, o Festspielhaus de Bayreuth foi reaberto sob a gestão dos netos de Wagner que recomeçaram encarando uma imensa responsabilidade, eles estavam empenhados para tentar prosseguir e deixar o passado para trás junto com todas as associações que o Festival representava para a era nazista. Uma das montagens de reinauguração foi o “Die Meistersinger” que ora compartilhamos com os amigos do blog.
Embora alguns ex-nazistas estivessem envolvidos na produção, o objetivo do renascimento do Festival foi amplamente alcançado. Devemos a Walter Legge e sua equipe da Columbia que a presente e histórica produção fosse gravada para a posteridade. As gravações foram feitas durante um ensaio e cinco apresentações no Bayreuth Festspielhaus em julho e agosto de 1951 e este foi um ano divisor de águas no que diz respeito a gravações importantes. A presente gravação é uma versão remasterizada que foi originalmente tirada em fita magnética e emitida pela primeira vez em LP (do qual deriva a presente transferência) e em 68 lados no maior conjunto de discos de 78 rpm já dedicado a um único trabalho. Foi um triunfo para a equipe que trabalhou em Bayreuth e em minha opinião a performance individual que mais se destacou foi feita pelo ainda jovem maestro Herbert von Karajan.
Por mais irregular que uma gravação de palco possa ser, com fidelidade limitada do início da era do LP, este conjunto ainda transmite o entusiasmo que acompanha o festival recém-reaberto. O elenco é bom, mas a gravação mantém o interesse deste entusiasta por causa da condução firme e viva de Herbert von Karajan, e também da performance arrebatadora da jovem Elisabeth Schwarzkopf como Eva, os críticos asseguram que esta é uma das melhores performances da personagem já gravadas. O ressonante Sachs de Otto Edelman que mostra a grande tradição dos cantores de Bayreuth da primeira metade do século XX, ele é ótimo E sua voz era muito bonita e dramaticamente expressiva. Hans Hopf é um bom Walther von Stolzing. O Beckmesser de Erich Kunz não precisa de comentários, pois ele era um ator vocal lendário e este foi um dos papéis de sua assinatura. Minha nula opinião o ponto alto desta gravação é o grande quinteto do Ato 3 é cantado com perfeição absoluta. Não consigo me lembrar de outra gravação desta música sublime como Elisabeth Schwarzkopf, Otto Edelmann, Hans Hopf, Ira Malaniuk e Gerhard Unger fazem aqui. Impressionante. Claro que existem várias gravações desta ópera com um som muito melhor, mas nenhuma delas chega muito perto do coração e da alma deste trabalho de “confirmação” do jovem maestro Karajan, esta não é simplesmente uma gravação histórica para estudiosos e entusiastas da música como eu, é o grande “ponto de virada” do Kaiser “K”. Após 69 anos, ainda é uma das grandes performances gravadas desta linda ópera !
Eva, filha de Veit Pogner soprano – Elisabeth Schwarzkopt
Walther von Stolzing, jovem cavalheiro da Francônia tenor – Hans Hopf
Madalena, ama de Eva mezzo-soprano – Ira Malaniuk
David, aprendiz de Hans Sachs tenor – Gerhard Unger
Hans Sachs, sapateiro, mestre cantor baixo – Otto Edelmann
Veit Pogner, ferreiro, mestre cantor baixo – Frederick Dalberg
Sisxtus Beckmesser, oficial de registro, mestre cantor baixo – Erich Kunz
Kunz Vogelgesang, peleteiro, mestre cantor tenor – Erich Majkut
Fritz Kothner, padeiro, mestre cantor baixo – Heinrich Pflanzl
Hermann Ortel, saboeiro, mestre cantor baixo – Heinz Tandler
Balthazar Zorn, fundidor, mestre cantor tenor – Josef Janko
Conrad Nachtigall, fabricante de cintos, mestre cantor baixo – Hans Berg
Augustin Moser, alfaiate, mestre cantor tenor – Gerhard Stolze
Ulrich Eisslinger, açougueiro, mestre cantor tenor – Karl Mikorey
Hans Foltz, artesão de cobre, mestre cantor baixo – Arnold van Mill
Hans Schwarz, tecelão de meias, mestre cantor baixo – Heinz Borst
Vigia noturno, baixo – Werner Faulhaber
Trabalhadores e aprendizes das guildas, burgueses, gente do povo, músicos, crianças
Chor and Orchester der Bayreuther Festspiele, recorded in: 1951
Herbert von Karajan, Dirigent
Die Meistersinger von Nurnberg – Eugen Jochum (1902-1987) Esta outra gravação que estamos compartilhando tem uma execução orquestral maravilhosa, a direção clara e direta de Jochum é lindamente calorosa, com um grau de paixão quando necessário. A execução excelente da orquestra atinge níveis notáveis no Ato 3. Quanto ao elenco, Fischer-Dieskau fez gravações memoráveis de Wagner (postamos algumas delas nesta série). Esta eu acredito ser uma das melhores performances, seu Sachs é quente e ressonante (eitaaa…dá uma dupla interpretação daquelas, mas prossigamos!). Domingo está meio que a deriva aqui…. é um dos seus primeiros trabalhos wagnerianos, a dicção não está lá tão boa (os conservadores metem pau sem dó) ele parece lutar contra a dicção alemã ainda pouco familiar, mas e a voz…. putz é infalivelmente soberba, seu canto seguro e forte é para se admirar, junto com o tom rico, o legato suave e o som incansavelmente brilhante é maravilhoso! Catarina Ligendza é de razoável para boa no papel de Eva. Felizmente Eva não é um
Eugen Jochumpapel tão importante na ópera. Roland Hermann é um Beckmesser venenoso, Horst Laubenthal é um bom David e Christa Ludwig é, claro, uma excelente Madalena, é excelente o Pogner de Lagger, não menos brilhante é o Kothner de Feldhoff. Todos eles contribuem para a alta qualidade deste conjunto.
Se você não se incomoda principalmente com a dicção perfeita do idioma Alemão, como tenho certeza de que não incomodará para a maioria dos amigos, com certeza, é um magnífico download. A execução orquestral da Orchester der Deutschen Oper Berlin sob a direção do Eugen Jochum é encantadora.
Eva, filha de Veit Pogner soprano – Catarina Ligendza
Walther von Stolzing, jovem cavalheiro da Francônia tenor – Plácido Domingo
Madalena, ama de Eva mezzo-soprano – Christa Ludwig
David, aprendiz de Hans Sachs tenor – Horst R. Laubenthal
Hans Sachs, sapateiro, mestre cantor baixo – Dietrich Fischer-Dieskau
Veit Pogner, ferreiro, mestre cantor baixo – Peter Lagger
Sisxtus Beckmesser, oficial de registro, mestre cantor baixo – Roland Hermann
Kunz Vogelgesang, peleteiro, mestre cantor tenor – Peter Maus
Fritz Kothner, padeiro, mestre cantor baixo – Gerd Feldhoff
Hermann Ortel, saboeiro, mestre cantor baixo – Klaus Lang
Balthazar Zorn, fundidor, mestre cantor tenor – Loren Driscoll
Conrad Nachtigall, fabricante de cintos, mestre cantor baixo – Roberto Bañuelas
Augustin Moser, alfaiate, mestre cantor tenor – Martin Vantin
Ulrich Eisslinger, açougueiro, mestre cantor tenor – Karl-Ernst Mercker
Hans Foltz, artesão de cobre, mestre cantor baixo – Miromir Nikolic
Hans Schwarz, tecelão de meias, mestre cantor baixo – Ivan Sardi
Vigia noturno, baixo – Victor von Halem
Orchester der Deutschen Oper Berlin, 1976
Eugen Jochum, Dirigent
Die Meistersinger von Nurnberg – Philippe Jordan (1974)
Uma novidade para fechar as postagens da integral do Wagnão: um vídeo que está disponível no YouTube que baixei e dei uma editada pois o som estava ruim e dividi em “atos”, um legítimo PQPOriginals para os amigos do blog. O que dizer desta montagem que impressionou este insignificante e obtuso admirador? Complexo, perturbador, brilhante, exuberante, engraçado: são alguns dos adjetivos que acho que definem bem a montagem do Festival de Bayreuth para o “Die Meistersinger von Nurnberg” de julho de 2017.
Um homem se superestima pelo seu apelo sexual e talento para cantar uma serenata para a sua pretendente tarde da noite. O barulho irrita os vizinhos. Nesta divertida cena dos Mastersingers, o diretor Barrie Kosky enxeraga um enorme potencial para a violência em sua produção. A cena de espancamento de repente se transforma em um pesadelo alemão: o “pogrom”. Beckmesser, que é o nome do homem que cantava a serenata, recebe uma máscara de judeu e um balão gigantesco se infla no palco, mostrando a caricatura de uma cabeça judia. A interpretação do Meistersinger de Kosky é complexa e perturbadora, para a grande fuga coral que encerra o segundo ato, há vaias raivosas vinda do público que assiste à representação, porque os atinge profundamente (e a Chanceler estava lá).
É original e inteligente…. Barrie Kosky conta o enredo dessa ópera em três níveis: primeiro como uma história da família de Richard Wagner, segundo como um drama artístico e por fim um arranjo experimental, como a morte pode se tornar um “mestre” da Alemanha, por que os mestres cantores históricos de Nuremberg com seus propósitos inofensivos e artísticos se transformaram numa multidão assassina.
A peça começa enganosamente alegre com o prelúdio. Encontramos Wagner na sala de sua casa. Franz Liszt e o maestro Hermann Levi se encontram para tomar chá na sala de estar da Haus Wahnfried, pacotes são entregues sem parar, portas abrem e fecham, crianças vetsidas de Wagner saem de dentro do piano, todo o maquinário da comédia teatral funciona como um relógio. Qualquer pessoa que já viu o Haus Wahnfried com sua biblioteca, piano de cauda e pesadas cortinas de veludo vermelho pode imaginar como poderia ter sido a casa dos Wagner. Enquanto o próprio dono vai passear com os cachorros Molly e Brand, Cosima, ansiosa e com enxaqueca, acompanha os preparativos para o chá da tarde. Um ensaio do primeiro ato da nova ópera do mestre ao piano; Wagner então transforma Levi em Beckmesser, Liszt em Pogner e Cosima em Eva. Então não há mais diversão. Começa o primeiro ato. O canto paroquial soa abafado desde o início e os “atores” se ajoelham com as mãos postas, surge o primeiro comportamento anti-semita. Wagner expõe Levi na frente dos outros, força-o a se ajoelhar e se conformar. E como que do nada, aos poucos, muitos pequenos wagnerianos povoam o palco, sentam-se no colo dos convidados sem serem solicitados. Liszt está prestes a se levantar e sair. O genial diretor Barrie Kosky liga história, biografia e obra de arte nesta encenação, colocando o próprio compositor e outras personalidades históricas em seu ambiente privado ao lado do enredo.
A ideia cenográfica de Rebecca Ringst: retroceder o cenário da peça de Wahnfried, no final do primeiro ato, para um palco retangular e trocá-lo com um grande salto histórico para a sala do tribunal do júri do Palácio da Justiça de Nuremberg… uma idéia brilhante. As bandeiras das potências vitoriosas, papéis rasgados, um banco de testemunhas e um guarda americano simbolizam o julgamento criminal internacional do Holocausto que foi aberto em novembro de 1945. Os dois atos a seguir acontecem diante desse cenário historicamente fiel. O banco das testemunhas é usado repetidamente. No segundo ato, Eva / Cosima confessa sua admiração e amor por Stolzing. Ele mesmo reclama do peso das regras da competição e quer fugir com seus entes queridos. Beckmesser reclama das marteladas de Sachs. Sua serenata parece ridícula e, apesar de suas realizações e diligência submissa, ele Levi / Beckmesser, tem seu reconhecimento público negado. O ótimo Johannes Martin Kränzle cantando e como ator – com grotescos interlúdios de dança e gestos que lembram caricaturas judaicas – é capaz de demonstrar essa contradição e vários tons de forma clara e diferenciada é simplesmente magnífico. Günther Groissböck também se destaca como o Pogner é um baixo-barítono sonoro e digno. Klaus Florian Vogt sabe como encantar o público com a música premiada do terceiro ato. A estrela destea produção foi Michael Volle como Sachs / Wagner. Presunçoso, sábio, astuto e misteriosamente sensual, ele também encontra muitas nuances vocais para tornar a figura evidente.
O final da ópera é extremamente surpreendente: Walter von Stolzing, também vestido de Wagner, rejeita o título de Mestre Singer e foge com Eva, para nunca mais ser visto, seguido pelos outros mestres. As pessoas também vão sumindo sob as paredes elevadas do corredor, de modo que Wagner / Sachs fica sozinho no palco, no banco das testemunhas, para seu discurso final. “Não desprezes os mestres por mim”, então o esplendor do século 19 volta à vida, para a repetição de suas últimas palavras, entra uma arquibancada com uma orquestra fictícia, cujos instrumentos o coro do festival toca para repetir as palavras de Sachs, “Honre seus mestres alemães”. Cosima se senta triunfantemente nos degraus dessa arquibancada. Wagner conduz o final do banco das testemunhas e remete à época que ele veio para Bayreuth, inicialmente apareceu artisticamente como um maestro (da Nona Sinfonia de Beethoven na Margravial Opera House, por ocasião do lançamento da pedra fundamental do Festspielhaus). O encerramento é uma sala do tribunal do júri vazia no Palácio da Justiça de Nuremberg apenas com Wagner no tribunal.
Philippe Jordan, diretor musical em Paris e futuro chefe da música na Vienna State Opera, consegue combinar a natureza fragmentada dos personagens musicais em uma viagem emocionante através do tempo através dos estilos de fuga e cânone, da fanfarra representativa à música mecânica. Essa é uma conduta elegante, inteligente e sensual. O diretor Barrie Kosky mostra como funciona a utopia. Os grandes compositores e músico alemães estão representados no palco: a orquestra e toda a tradição do festival, o Titã Beethoven e Wagner, formam cores que soam extremamente equilibradas nas mãos de Philippe Jordan. Há muita leveza dançante que ressoa em movimentos ondulatórios dinâmicos e uma transparência precisamente coordenada em termos de velocidade, timbre e dinâmica e quase orientada para a música de câmara. De todas as postagens a mais IM-PER-DÍ-VEL !!!
Livre tradução baseado nas críticas de Monika Willer, Ursula Decker-Bönniger e Peter P. Pachl sobre a representação da montagem de julho de 2017 do Bayreuther Festspiele.
Eva, filha de Veit Pogner soprano – Camilla Nylund
Walther von Stolzing, jovem cavalheiro da Francônia tenor – Klaus Florian Vogt
Madalena, ama de Eva mezzo-soprano – Wiebke Lehmkuhl
David, aprendiz de Hans Sachs tenor – Daniel Behle
Hans Sachs, sapateiro, mestre cantor baixo – Michael Volle
Veit Pogner, ferreiro, mestre cantor baixo – Günther Groissböck
Sisxtus Beckmesser, oficial de registro, mestre cantor baixo – Johannes Martin Kränzle
Kunz Vogelgesang, peleteiro, mestre cantor tenor – Tansel Akzeybek
Fritz Kothner, padeiro, mestre cantor baixo – Daniel Schmutzhard
Hermann Ortel, saboeiro, mestre cantor baixo – Raimund Nolte
Balthazar Zorn, fundidor, mestre cantor tenor – Paul Kaufmann
Conrad Nachtigall, fabricante de cintos, mestre cantor baixo – Armin Kolarczyk
Augustin Moser, alfaiate, mestre cantor tenor – Stefan Heibach
Ulrich Eisslinger, açougueiro, mestre cantor tenor – Christopher Kaplan
Hans Foltz, artesão de cobre, mestre cantor baixo – Timo Riihonen
Hans Schwarz, tecelão de meias, mestre cantor baixo – Andreas Horl
Vigia noturno, baixo – Wilhelm Schwinghammer
Inszenierung: Barrie Kosky
Chor und Orchester der Bayreuther Festspiele, Premiere: 25 de Julho 2017
Musikalische Leitung: Philippe Jordan
Ufa, conseguimos !!!!! Após meses trazendo uma a uma as óperas de Richard Wagner conseguimos fechar, e acreditamos que com chave de ouro, o projeto do FDPBach e do Ammiratore – Integral das óperas de Wagner. Podemos dizer que aprendemos muitas facetas deste controvertido homem. Se Verdi concebeu a ópera como um drama humano focado na voz, Richard Wagner fez uma cruzada por um tipo de teatro musical reformado e focado na orquestra, que ele tratou como a força motriz dos dramas, não como simples acompanhamento dos cantores. Uma figura com um intelecto poderoso, um ego enorme e um desejo de controlar todos os aspectos de suas obras teatrais, Wagner escreveu a música e os libretos de suas óperas, dando instruções para design, encenação e ação cênica, conduziu a maioria de suas estreias. Seu ideal era o que ele chamava de Gesamtkunstwerk (Obra de Arte Total).
Hoje, dia 18 de maio de 2011, se comemoram os 100 anos da morte de Gustav Mahler. Com certeza, uma data importante para celebrar aquele que foi um dos maiores compositores das história, um compositor único, que conseguiu em apenas 50 anos de vida criar um dos maiores ciclos de sinfonias, além de outras obras, já compostos pelo ser humano. Uma obra que causou, e ainda causa, grande impacto. São obras densas, de extrema complexidade, com uma orquestração ímpar, e que muito exige de todos os envolvidos: desde o regente até a orquestra e, claro, o próprio ouvinte, que de início não sabe bem como reagir, mas acaba por se render à grandiosidade e genialidade daquelas obras. Já postamos algumas integrais aqui no PQP, portanto, vocês podem optar.
Curiosamente, este CD que estou postando em homenagem a esta data, traz uma das obras que considero de mais fácil assimilação da obra mahleriana. Segundo a Wikipedia, “Des Knaben Wunderhorn (alemão, em português – literalmente: A trompa mágica do menino, referindo-se a um objeto mágico como a cornucópia) é uma coleção de textos de canções populares, publicada em três volumes em Heidelberg pelos poetas e escritores alemães Achim von Arnim e Clemens Brentano entre 1805 e 1808. A coleção contém canções da Idade Média até o Século XVIII”. Mahler musicou algumas delas, 24 na verdade, entre 1892 e 1902, porém, nesta gravação, Boulez gravou apenas 12. Mas basta para termos uma noção da escrita mahleriana, principalmente as canções.
Não sou nem pretendo ser um expert em Mahler, admiro-o imensamente e digamos que ainda estou me adaptando à sua linguagem (isso que ouço Mahler desde meus 18 anos de idade…).
Já ouso dizer que o Adágio da Sinfonia Nº 10 é não apenas o canto de cisne de Mahker como uma das maiores e antecipatórias peças de todos os tempos.
Boulez é um dos grandes regentes e compositores do século XX e deste início de século XXI. Podemos não concordar com algumas das escolhas que ele faz, mas jamais podemos negar seu talento enquanto regente. Nesta gravação ele tem “apenas” nossa musa, Madalena Kozená, e o excelente barítono Christian Gerhaher. A Orquestra de Cleveland já é uma velha conhecida nossa quando se trata deste repertório, principalmente nas mãos de Boulez.
Mas vamos ao que interessa: Viva Mahler !!!
Gustav Mahler – Des Knaben Wunderhorn – Adagio from Symphony n° 10 – Boulez – Gerhaher – Kozená
01 – Der Schildwache Nachtlied
02 – Verlorne Mueh’
03 – Trost im Unglueck
04 – Wer hat dies Liedlein erdacht
05 – Das irdische Leben
06 – Revelge
07 – Des Antonius von Padua Fischpredigt
08 – Rheinlegendchen
09 – Lied des Verfolgten im Turm
10 – Wo die schoenen Trompeten blasen
11 – Lob des hohen Verstandes
12 – Der Tambourg’sell
13 – Symphony no. 10-Adagio
Madalena Kozená – Mezzo-soprano
Christian Gerhaher – Barítono
The Cleveland Orchestra
Pierre Boulez – Conductor
Ouvir Hiromi Uehara sempre é uma grande experiência, nunca sabemos o que podemos esperar desta gigante do piano, a moça que está reescrevendo o lugar do piano no Jazz. Um cliente da amazon a situou entre Errol Garner e Mahavishnu Orchestra, o que quer que isso possa significar. Bem uma coisa posso afirmar, sem temer: parece que Hiromi está sempre ligada em uma tomada, ela extravasa energia, se não concordam, ouçam o que ela faz com a mítica ‘Caravan’, de Duke Ellington. Além do clássico, extrapola todos os limites, todas as barreiras do convencional: ah, isso é Ellington, não podemos ousar tanto. A ousadia é a marca registrada da pianista. Por isso a amo.
Quando resolve fazer uma releitura absolutamente estonteante dos ‘standards’, desconstruindo Gershwin, Coltrane, Debussy (sim, ela toca Clair de Lune), ela reescreve a história do piano no Jazz. É a evolução natural de Thelonius Monk, de Oscar Peterson, de Chick Corea, de Keith Jarrett, de Herbie Hancock e mais recentemente, Brad Mehldau. É a soma de todos, mais o seu talento natural. Não por acaso gravou discos sensacionais com Stanley Clarke, o genial baixista, um dos pais do Fusion, e com o próprio Chick Corea citado acima.
Outro detalhe a destacar é o incrível trio que a acompanha, a Hiromi´s Sonicbloom, formado por excepcionais músicos, que nos proporcionam ótimos momentos.
Esse CD é de 2008, tudo bem, mas continua de um frescor, de uma naturalidade que parece que foi gravado ontem. E como todos os outros Cds dela que eu e PQPBach já trouxemos aqui, este é mais um que leva o selo de “IM-PER-DÍ-VEL!!’ do PQPBach.
Hiromi´s Sonic Bloom – Beyond Standard
1Intro: Softly As In A Morning Sunrise 0:28
2 Softly As In A Morning Sunrise 7:27
3 Clair De Lune 7:23
4 Caravan 8:47
5 Ue Wo Muite Aruko 8:41
6 My Favorite Things 7:46
7 Led Boots 6:31
8 XYG 6:29
9 I’ve Got Rhythm 5:51
Hiromi Uehara – piano, keyboards
David “Fuze” Fiuczynski – fretted and fretless guitar
Tony Grey – electric bass
Martin Valihora – drums
Já contei essa história aqui no PQPBach certa vez, mas vou contar de novo: em certa ocasião, ouvindo o mesmo Henrik Szeryng tocando esta mesma Sonata “Primavera”, mas com a Ingrid Heubler, em alto volume, fui chamado pela vizinha. Pensei que ia reclamar do volume alto, mas para minha surpresa, ela veio perguntar que música tão linda era aquela que eu estava ouvindo. Falei que era Beethoven e desde então, ficamos amigos. Beethoven unindo duas pessoas que até então nunca haviam se falado, mesmo vivendo um ao lado do outro.
Quero inaugurar a Primavera deste ano tão tenso e triste como tem sido o de 2020 como duas obras que antes de tudo me trazem esperança de dias melhores. Não quero soar piegas, nem repetir o bordão de certo canal de TV que tem uma campanha aqui no Estado que diz que ‘vai passar’. Mas sim, sempre passa. O tempo não para.
O pianista Arthur Rubinstein e o violinista Henrik Szeryng foram grandes estrelas em seus instrumentos, verdadeiras lendas do século XX. E assim como em outra gravação que trouxe em outra ocasião para os senhores com esta dupla, onde tocavam as Sonatas de Brahms, aqui trago as duas obras primas de Beethoven, as Sonatas ‘Primavera’ e a ‘Sonata a Kreutzer’, interpretadas com maestria, há exatos sessenta anos, sim, meus caros, lá do tempo em que os dinossauros dominavam a Terra. O tempo não para, a fila anda, como sempre me lembra René Denon, e para alguns estas interpretações podem soar datadas, mas quem se importa? A essência está ali, é Beethoven no seu apogeu criativo.
Assim como minha vizinha se sentiu inspirada ao ouvir esta “Sonata Primavera” naquela ocasião, espero que os senhores ouçam estas obras com o coração, deixem a beleza penetrar, sintam a genialidade de um genial compositor aelmão surdo, e que viveu há mais de duzentos anos, calar fundo em suas almas, e pensem neste início de Primavera como um novo início para nós, pobres e reles seres mortais que se consideram superiores ao que os cerca.
Sonata para Piano e Violino nº 9 em Lá Maior, op. 47 “Kreutzer”
Adagio sostenuto – Presto
Andante con variazone
Finale – Presto
Sonata para Piano e Violino nº 5 em Fá Maior, op. 24 “Primavera”
4. 1 Allegro
4.2 Adagio molto espressivo
4.3 Scherzo. Allegro ma non troppo
4.4 Rondo. Allegro ma non troppo
Arthur Rubinstein – Piano
Henryk Szeryng – Violino
GRAMOPHONE CLASSICAL MUSIC AWARDS WINNER 2017 !! CATEGORIA CONCERTO !!
Assim como um cliente da amazon, não consigo parar de ouvir este CD. Recém lançado pela Harmonia Mundi traz um Mozart vívido, alegre, triunfante sem ser óbvio, e que mostra que sim, o talento faz a diferença e uma violinista do nível de Isabelle Faust tem este talento de sobra para nos mostrar o que ainda se pode extrair destes concertos tão gravados e interpretados.
O conjunto ‘Il Giardino Armonico’ e seu diretor Giovanni Antonini continuam mostrando o porque são um dos melhores da atualidade. Coisa de gente grande, e um belo presente de Natal, mesmo que atrasado.
É música para não parar de se ouvir. Mozart nas mãos de Isabelle Faust é música para os anjos ouvirem.
CD 1
I. Allegro moderato
2. II. Adagio
3. III. Presto
4. Rondo for Violin and Orchestra, in B-Flat Major, K. 269/261a: Allegro
5. Concerto for violin and orchestra no.2, in D major, K211 I. Allegro moderato
6. II. Andante
7. III. Rondeau. Allegro
8. Violin Concerto I. Allegro
9. II. Adagio
10. III. Rondeau. Allegro- Andante – Allegretto – Tempo primo
CD 2
1. Rondo for Violin and Orchestra, in C Major, K. 373
2. Concerto for violin and orchestra no.4, in D major, K218 I. Allegro
3. II. Andante cantabile
4. III. Rondeau. Andante grazioso
5. Adagio for violin and orchestra, in E major, K261
6. Concerto for violin and orchestra no.5, in A major, K219 6 I. Allegro aperto – Adagio – Allegro aperto
7. II. Adagio
8. III. Rondeau Tempo di Menuetto-Allegro-Tempo di Menuetto
Isabelle Faust – Violin
Il Giardino Armonico
Giovanni Antonini – Conductor
Esta excelente gravação é uma das melhores que foram lançadas neste novo século. É a nova geração mostrando a que veio, principalmente o jovem maestro Daniel Harding que, frente à excelente Orquestra da Rádio Sueca, esbanja talento e versatilidade, em uma obra que em sua introdução antes parece uma sinfonia que um Concerto. Tudo é grandioso aqui, e a orquestra é parte fundamental da obra, é uma batalha de titãs entre o solista e a orquestra, portanto, é fundamental que todos os envolvidos se entendam para fazer com que a obra possa fluir. Não é uma peça fácil, é longa, densa (mas qual obra de Brahms não o é?), e com certeza esgota a todos, tanto física, quanto psicologicamente.
Como não poderia deixar de ser diferente, foi uma obra que não foi bem recebida em sua estréia. Eis o que escreveu o influente crítico musical Edward Bernsdorf:
“uma composição arrastada para o seu túmulo. Essa obra não pode proporcionar prazer (…) nada tem a oferecer além de desolação desesperançada e aridez (…) durante mais de três quartos de hora tem-se de suportar esse revolvimento e esquadrinhamento, esse estiramento e esforço, esse dilaceramento e remendar de frases e floreios ! Não apenas se tem de se assimilar essa massa em fermentação, tem-se também de engolir uma sobremesa das dissonâncias mais estridentes e dos sons mais desagradáveis. Deliberadamente herr Brahms tornou a parte do piano mais desinteressante possível (…) por fim, a técnica de piano de Herr Brahms não satisfaz às exigências que atualmente temos o direito de fazer a um solista de concerto.”
Trata-se de uma obra revolucionária, com certeza, mas lá em 1859 não foi assim que foi entendida. Ao contrário. “Uma obra severa e inflexível, intelectualmente muito mais exigente do que a sinfonia comum,” nas palavras de Malcolm McDonald, biógrafo do autor, que neste seu livro traz uma carta do próprio Brahms para seu amigo Joseph Joachim logo após a estréia da obra:
“O meu Concerto teve aqui um brilhante e decisivo – fracasso (…) no fim três pares de mãos se juntaram muito devagar e em seguida uma vaia completamente inconfundível, de todos os lados, impossibilitou qualquer manifestação desse tipo. Não há mais nada a dizer sobre esse episódio, pois nem uma pessoa me disse uma palavra sobre a obra”.
O impacto que esta obra causou aos meus jovens ouvidos de adolescente não foram muito diferentes. Precisei aprender a ouvir esse concerto. Quando falo impacto aos meus ouvidos adolescentes, quero acrescentar que até então eu ouvia apenas o trivial: algumas sinfonias de Beethoven, algumas obras de Mozart, Chopin, Tchaikovsky, etc. Precisei conhecer e me apaixonar pelo Segundo Concerto para então voltar ao Primeiro. E também tive de assimilar a obra de Beethoven, principalmente suas últimas sinfonias e concertos para piano, e claro, principalmente, mergulhar de cabeça na Primeira Sinfonia para poder assimilar melhor aquela ‘massa em fermentação’. A partir de então, Brahms tornou-se um compositor fundamental para mim.
Paul Lewis dispensa apresentações. Para quem já encarou a gravação da integral das sonatas de Beethoven e concertos do mesmo Ludwig, encarar Brahms era um caminho meio que natural. Infelizmente o músico grava pouco, parece meio arisco aos estúdios de gravação, portanto, aguardando ansioso sua gravação do Segundo Concerto, esta obra atemporal, única, fundamental. Quem viver, verá.
01. Piano Concerto No. 1 in D minor, Op. 15 – I. Maestoso-Poco piu moderato
02. Piano Concerto No. 1 in D minor, Op. 15 – II. Adagio
03. Piano Concerto No. 1 in D minor, Op. 15 – III. Rondo. Allegro ma non troppo
04. 4 Ballads, Op. 10 – 1. Andante D Minor
05. 4 Ballads, Op. 10 – 2. Andante D Major
06. 4 Ballads, Op. 10 – 3. Intermezzo- Allegro B Minor
07. 4 Ballads, Op. 10 – 4. Andante con moto B Major
Paul Lewis – Piano
Swedish Radio Symphony Orchestra
Daniel Harding – Conductor
Filho de peixe peixinho é? O músico envolvido neste baita CD de Jazz é simplesmente filho de Claudio Abbado e de Viktoria Mullova, bota DNA nobre nessa mistura. Mas deve ser difícil para estes filhos de celebridades conseguirem se afastar da sombra de seus pais e mostrar que eles também tem talento. São inúmeros os casos, nem vem ao caso numerá-los. O peso e a cobrança devem ser muito grandes. ‘Ah, ele só conseguiu contrato com gravadora porque é filho de gente importante’, com certeza eles devem ouvir muito isso.
Em minha modestíssima opinião, ele herdou sim dos pais a verve musical, só que resolveu seguir por outro caminho, demonstrando que o talento pode vir de berço, e aos poucos vai sendo esculpido. Aliás, recém foi lançado um CD novo dele, tocando com sua mãe. Se vocês se comportarem direitinho, trago assim que possível.
Misha, ao contrário dos pais, ele maestro, ela violinista, optou por um estilo musical diferente, e toca contrabaixo acústico, aquele instrumento grande, que ali fica no cantinho, discreto, dando suporte à harmonia da banda, acompanhando o baterista, seu fiel parceiro. Recentemente faleceu um dos maiores contrabaixistas do Jazz, Gary Peacock, o eterno parceiro de Keith Jarrett e de Jack DeJohnette, mas não podemos negar que este estilo musical é pródigo em grandes especialistas no instrumento, como o insuperável Charles Mingus, o mítico Jaco Pastorius, o lendário Ron Carter e lá nos tempos em que os dinossauros dominavam a Terra, o genial Paul Chambers. Espero que Misha venha a escrever o seu nome na história do Jazz, ao lado destes grandes músicos do passado.
Dream Circus – Misha Mullov-Abbado
01. Some Things Are Just So Simple
02. Equinox
03. Little Vision
04. The Infamous Grouse
05. Seven Colours
06. Stillness
07. Little Astronaut
08. The Bear
09. Blue Deer
Misha Mullov-Abbado – double bass
James Davison – trumpet & flugelhorn
Matthew Herd – alto saxophone
Sam Rapley – tenor saxophone
Liam Dunachie – piano & Hammond organ*
Scott Chapman – drums