Essa já chega no PQPBach como sendo uma das postagens que mais me enche de orgulho (a nós: Bisnaga e Avicenna, autores desta postagem a quatro mãos): uma edição de luxo de um guia de instrumentos antigos, com 200 páginas e OITO CDs com músicas em instrumentos de época.
É um material extraordinário para professores de história da arte, estudantes, músicos e curiosos em geral. O livro é trilíngue: está em francês, alemão e inglês. Não tem texto em português, mas nada que jogar uns trechos no Google tradutor não resolvam, né? Ele estará para download na oitava e derradeira postagem.
O aspecto geral é como esta página que colocamos abaixo (esta introduz a categoria das cordas friccionadas), com boas ilustrações e fotos de instrumentos originais. Escaneamos numa boa qualidade pra que vocês possam usar em aulas ou coisas assim. Conhecimento tem mais é que circular!
Além de tudo, os CDs vêm com músicas de boa interpretação e com grande parte dos instrumentos descritos no livro em ação, em uma seleção de obras que abrange desde a Idade Média até o Classicismo, passando pelo Renascimento e Barroco.
AGUARDEM! Será uma postagem com cada CD por dia, deste domingo até o domingo que vem, quando disponibilizaremos o livro escaneado integralmente também.
Enfim, uma publicação espetacular!
Ouça! Leia! Estude! Divulgue e… Deleite-se!
Guide des Instruments Anciens – CD1
Idade Média: Cantigas de Santa Maria / Nos tempos dos Trovadores / O début da polifonia / Nos tempos da Guerra dos Cem Anos
Depois da postagem abaixo (originalmente uma postagem de viola da gamba de 2013), feita pelo chefão PQP, bateu uma inveja… Sabe aquela que as velhinhas chamam de “inveja boa”? Acho que foi dessas, pois me veio um ímpeto alucinante de postar essas belezas de peças para viola da gamba de Georg Philipp Telemann, coisa de louco, e tão belas quanto a intérprete e o instrumento solista.
Tratemos primeiramente de Telemann. Ele anda meio jogadinho às traças, pois não é complexo como Bach nem vibrante como Vivaldi, mas não podemos tirar-lhe o posto um dos maiores compositores do barroco. Sua obra é vastíssima, abrange quase tudo que se imagina. Telemann é um dos mais prolíficos compositores da história, mas pudera: ele tinha uma espécie de guilda, um escritório de composição, com ajudantes e tudo mais. Compunha, arranjava e arrematava as obras dos pupilos e… as assinava. Com isso, o alemão aí conseguiu ter uma produção tão numerosa (passam de 2 mil obras. Já me corrigiram: passam de 3 mil!), no entanto, não há como saber com certeza se as obras por ele assinadas saíram realmente de sua imaginação e de sua própria caneta…
Tenha em conta que isso não reduz a qualidade das obras que levam até hoje o nome de Telemann: suas composições são de extrema qualidade. Ouça este álbum e compreenderás!
Tratemos então de nossa bela intérprete, Hille Perl. Como a magrinha aí é boa! Como a música flui quando ela se entrelaça com aquela viola da gamba com o espelho cravejado de madrepérolas! Se você já ouviu o concerto para viola do Telemann (postado aqui) numa viola da baccio, a versão de Perl é muito superior, é de uma fluência incrível!
Bom, ouça para entender essa rasgação de seda! Deleite-se meeeesmo!
Palhinha:
http://youtu.be/kDUzdKopKuY
Georg Philipp Telemann (1681-1767)
Concertos para Viola da Gamba
Sonata em Si para Viola da Gamba e Baixo Contínuo
01. Largo
02. Vivace
03. Andante
04. Allegro
Concerto em Mi para Viola da Gamba e Baixo Contínuo
05. Allegro
06. Largo
07. Allegro
Concerto em Lá para 2 Violas e Baixo Contínuo
08. Soave
09. Allegro
10. Adagio
11. Allegro
Suite em Ré para Viola da Gamba, Cordas e Baixo Contínuo
12. Ouverture
13. La trompette
14. Sarabande
15. Rondeau
16. Bourée
17. Courante
18. Gigue
Concerto em Sol para Viola da Gamba, Cordas e Baixo Contínuo
19. Largo
20. Allegro
21. Andante
22. Presto
Hille Perl, viola da gamba
Freiburger Barockorchester
Petra Müllejans, regente
Até às últimas décadas do século XIX, Portugal e o Brasil, apesar de politicamente separados, mantiveram estreitos laços culturais no domínio musical. A partir de então, o fosso entre as duas nações não cessou de aumentar. A tradição da música de salão burguesa, em Portugal, foi a primeira vítima da generalização do gramofone e da introdução da Rádio; a música mais popular nos círculos urbanos deixou de ser lida, e, na ausência de um investimento sério na educação musical, a pequena burguesia deixou de ler música. As tentativas feitas na década de 1940, no sentido de revitalizar a tradição do canto acompanhado ao piano, elevando-lhe o nível artístico, saldaram-se por um falhanço que a ausência de alternativas profissionais para a circulação do repertório tornou endémico. A canção em Português deixou de ser publicada, e quase deixou de ser escrita, para não acabar na gaveta. A actividade quase isolada de um Fernando Lopes-Graça e o repertório brasileiro, que desde o início do século não parou de crescer, apoiado numa forte ligação à música popular e num grande esforço educativo, não lograram alterar a situação. O recente desenvolvimento profissional do canto em Portugal, a que não é alheia à expansão e elevação artística do movimento coral operadas nas décadas de 1970 e 1980, permitem esperar que, à canção acompanhada em Português, venha a ser conferida a importância que lhe é devida; não no defunto salão burguês, mas na sala de concertos e na sua extensão discográfica. O repertório incluído nesta gravação abrange um século, de 1850 a 1950. Dos sete compositores representados, três são portugueses, três brasileiros (todos ligados ao Rio de Janeiro), e o sétimo, luso-brasileiro. Embora todos eles tenham tido alguma relação com a música popular, a forma como dela se servem ou inspiram varia grande-mente, como varia o tipo de público a que originalmente se dirigiram.
(Manuel Pedro Ferreira, extraído do encarte)
Ouça! Ouça! Deleite-se!
Evocação
Do Salão Burguês à Sala de Concertos
Portugal / Brasil (1850-1950)
Francisco de Lacerda (1869-1934)
01. Tenho tantas saudades
02. Os meus olhos nos teus olhos
03. Desde que os cravos e rosa
04. Meu amor, quando morreres
05. É ter arte não falar Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
06. Quem sabe?
07. Suspiro d’alma Arthur Napoleão (1843-1925)
08. Romance
09. Miragem
10. Se tu me amasses! Jayme Ovalle (1894-1955)
11. Azulão
12. Modinha Luiz de Freitas Branco (1890-1955)
13. Aquela moça
14. O minuete Fernando Lópes-Graça (1906-1994)
15. Márcia bela
16. Eu fui terra do bravo
17. Ó meu bem
Filomena Amaro, soprano
Gabriela Canavilhas, piano
Lisboa, 1995
Há quem chame a João Domingos Bomtempo “o Beethoven Português”. Sem querer tirar o grande valor que Bomtempo teve, esta afirmação parece-me claramente exagerada. Não é que Bomtempo fosse mau; Beethoven é que era genial. Se, em vez de compararem João Domingos Bomtempo com Beethoven, o comparassem com Franz Schubert ou lhe chamassem “o Mendelssohn Português”, eu estaria completamente de acordo. Agora Beethoven… O grande mestre de Bonn não era comparável com ninguém; ele pertencia a outra galáxia!
Dito isto e para não ser mal interpretado, afirmo claramente que João Domingos Bomtempo foi um grande compositor. Posso até afirmar, sem hesitar, que ele foi um dos melhores compositores da Europa do seu tempo. Se Bomtempo tivesse sido alemão, austríaco, italiano ou francês, o seu nome seria conhecido de todos os apreciadores de música e as suas obras far-se-iam ouvir em todos os auditórios e salões do mundo. Mas Bomtempo era de um país musicalmente periférico chamado Portugal. Ainda por cima exerceu parte da sua atividade no Brasil, que nem sequer fica na Europa. O grande valor que Bomtempo teve impõem-nos, por isso, tanto a portugueses como a brasileiros, a obrigação moral de ouvir e de promover a sua música. Já que mais ninguém o faz, sejamos nós a fazê-lo.
(Fernando Ribeiro, do blog A Matéria do Tempo)
João Domingos Bomtempo (Lisboa, 1775 – 1842) é um caso excepcional na história da música portuguesa. Personificando as transfor¬mações musicais ocorridas na passagem do século XVIII para o século XIX, nenhum outro compositor parece ter tido um papel tão marcante, mas também tão isolado na nossa música. Tendo tentado contribuir para pôr termo ao reinado exclusivo da música operática de cunho italiano que havia dominado o nosso panorama musical no século anterior, para a introdução entre nós da música instrumental de raiz germânica, boémia e francesa, e para a reforma do ensino musical segundo o modelo laico representado pelo Conservatório de Paris, os seus esforços não parecem ter tido, contudo, um reflexo profundo e duradouro. (…) Bomtempo nunca chegou a ser devidamente apreciado pela maioria do nosso público, cuja predilecção pela música teatral era invencível. (…) Se enquanto compositor, João Domingos Bomtempo se destaca, sobretudo, como o nosso único autor de relevo no campo da música instrumental durante todo o século XIX, particularmente através das suas duas sinfonias, seis concertos para piano e orquestra e diversas sonatas, fantasias e variações para piano, as suas vocais religiosas representam também uma tendência, de influência germânica e francesa, que vai no sentido de um afastamento em relação ao estilo operático italiano que dominava entre nós (…).
A atmosfera geral que se respira no Libera me é de facto de austera dignidade. Se bem que o motivo instrumental do Libera me que se faz ouvir nos violinos logo após a introdução da orquestra seja claramente decalcado no da Marcha Fúnebre da Sinfonia Heróica de Beethoven. Toda a obra evoca de novo muito mais – como o fizera já o seu próprio Requiem – o Requiem de Mozart. A austeridade da obra é reforçada pelo modo como se move na órbita tonal relativamente restrita de dó menor e maior e de fá menor, sendo as modulações sempre muito breves e ocorrentes, pela ausência de solistas alternando com o coro, assim como pela utilização de certos elementos cíclicos, como a repetição da introdução inicial antes do “dies illae. dies irae”. ou novamente o motivo da Heróica sobre as palavras “requiem aeternam dona eis domine”. A mesma atmosfera de austera digni-dade, não isenta de dramatismo, é comum às quatros Absolvições.
(Manuel Carlos de Brito, do encarte)
Bom pra dedéu! Ouça! Ouça! Deleite-se!
João Domingos Bomtempo (1775-1842)
Quatro Absolvições / Libera me
01. Quatro absolvições, I. Subvenite sancti dei
02. Quatro absolvições, II. Qui lazarum resuscitasti
03. Quatro absolvições, III. Domine quando veneris
04. Quatro absolvições, IV. Ne recordaris peccata mea domine
05. Libera me, em dó menor (1835)
Mária Zádori, soprano
Judith Németh, contralto
Gábor Kállay, tenor
János Tóth, baixo
Coro de Budapeste
Orquestra Filarmónica de Budapeste
Mátyás Antal, regente
Instituto Italiano, Budapeste, 1988
José dos Santos Maurício (1752-1815) (ou apenas Joze Mauricio) foi um dos compositores e músicos mais requisitados do seu tempo, principalmente no âmbito da actividade que desenvolveu ao serviço da Igreja, na Guarda e na sua cidade natal, Coimbra. O trabalho produzido e as qualidades evidenciadas permitir-lhe-iam vir a ser nomeado, em 1802, Lente de Música e Mestre da Real Capela da Universidade de Coimbra e, em 1810, admitido na Irmandade de Santa Cecília. Por vicissitudes próprias da história, só em 1996, com a publicação do seu Miserere, o público de Coimbra volta a ter contacto com o compositor, entretanto silenciado por anos de esquecimento. (…). Na edição discográfica aqui proposta juntam-se as gravações de duas obras gémeas, dois salmos, dois Miserere. O de Maurício já aludido e o de Macedo. Composto em 1870, este Miserere de Francisco Lopes Lima de Macedo (1820-1875) surge como uma Homenagem à Memória de Joze Maurício (como se lê numa das folhas de rosto da obra manuscrita) e donde se conclui que esta personalidade era ainda, seis décadas após a morte, muito admirada e venerada. Francisco de Macedo teve, profissionalmente, percurso semelhante ao de Maurício, embora, talvez com menos brilhantismo, fruto mais do tempo que do homem. Nascido e criado junto à Igreja de Santa Cruz, aí terá encontrado apoio no encontro dos saberes musicais. Virá a ser organista, pianista, compositor, professor de música e ainda proprietário de um estabelecimento comercial de venda de instrumentos. A sua actuação enquanto profissional está suficientemente documentada pelas notícias da imprensa da época. Em 1853, com 33 anos de idade, viria ocupar o lugar de organista e em 1864 seria nomeado Lente de Música da Universidade. Um e outro destes cargos seriam ocupados até à sua morte. Quanto à música, nas duas obras encontramos fórmulas compositivas de gosto simples e fácil, muitas vezes espectável e de clara influência do estilo próprio da música dramática italiana, o que não constitui excepção para a época. A textura é essencialmente homofónica, mas com a presença de algum contraponto simples. Os autores servem-se de um coro misto a 3 vozes com Sopranos, Tenores e Baixos, com partes de solistas dos mesmos naipes e a presença de órgão obrigado.
(César Nogueira, do encarte do CD)
Ouça! Ouça! Deleite-se!
Miserere
Música da Capela Real de Coimbra
José dos Santos Maurício (1752-1815)
01. Miserere mei Deus
02. Amplius lava me
03. Tibi sou peccavi
04. Ecce enim veritatem
05. Auditui meo
06. Cor mundum
07. Redde mihi
08. Libera me
09. Quoniam si voluisses
10. Benigne fac domine
11. Tunc imponent Francisco Lopes Lima de Macedo (1820-1875)
12. Miserere mei Deus
13. Amplius lava me
14. Tibi sou peccavi
15. Ecce enim veritatem
16. Auditui meo
17. Cor mundum
18. Redde mihi
19. Libera me
20. Quoniam si voluisses
21. Benigne fac domine
22. Tunc imponent
Tânia Ralha, soprano
João Martins, tenor
Nuno Dias, baixo
Coro Misto da Universidade de Coimbra
César Nogueira, regente
Paulo Bernardino, órgão
Coimbra, 2005
Nunca fui muito dado a presentear em aniversários e natais. O regalo, pela ocasião, para mim não se justifica. Sempre fui mais de dar presentes para meus amigos pelo que o presente em si representa, por saber que o amigo em questão adoraria aquilo. Eis que numa dessas viagens por esta imensa e formosíssima esfera azul eu me encontrava no Porto, uma das cidades mais fascinantes do planeta. Na Sé estava à venda um CD de música polifônica portuguesa. Olhei para o elenco de faixas e pensei, radiante: “isso é a cara do Avicenna“! Comprei para presenteá-lo. Quando cheguei à sua casa com o pacote em mãos, ele logo abriu o embrulho, sacou o CD da caixa e o pôs para que escutássemos (sinal que gostou mesmo!). O álbum era (é, está aí para vocês baixarem) simplesmente MARAVILHOSO! Sabe quando você dá o presente e ele é tão bom que um capetinha no seu ombro te assopra “viu? Você não deveria ter dado isso: devia ter deixado pra si mesmo!“? Foi isso que senti – não me julguem – por um instante.
O Avicenna, depois, com o trabalho acumulado pelo grande volume de material que o Paulo Castagna lhe passou, acabou deixando a obra digitalizada em minhas mãos pra que a postasse. E ei-la aqui! Que composições escolhidas a dedo! Que coro! Que repertório impecável!
Para entender um pouquinho, copiei o texto do encarte abaixo:
Os finais do séc. XVI e o séc. XVII deverão ser considerados o período áureo da polifonia portuguesa. Contudo, no séc. XVII, uma nova corrente estética, de influência italiana, a que se chamou maneirismo ou pré-barroco, mistura-se com o academismo polifónico, tentando os compositores portugueses a desenvolver uma estética expressiva. Isto é bem notório nesta antologia que agora se apresenta e que já aponta a estética teatral do barroco. Sem dúvida que este período, a que chamamos o séc. XVII musical em Portugal, é verdadeiramente a confluência das correntes europeias do séc. XVI a XVIII.
(texto extraído do encarte)
Muito muito muito muito bom!!! Ouça! Ouça! Deleite-se!
O CD já começa assim:
…E tem esta bela Batalha em meio às peças para coro:
Quam Pulchri
Música sacra portuguesa do século XVII
Estêvão de Brito (1570-1641)
01. O Rex gloriae – para dois Coros a cappella Manuel Cardoso (1566-1650)
02. Magnificat Octavi Tossi – para Coro a cappella a 4 João Rodrigues Esteves (c.1702-1751)
03. Regina caeli – para Coro a 4 e Contínuo Manuel Rodrigues Coelho (1563-1638)
04. Versos sobre Ave Maris Stella – para Órgão e Coro masculino D. João IV ? (1604-1656)
05. Crux Fidelis – para Coro a cappella a 4 Estêvão de Brito (1570-1641)
06. Gaudent in caelis – para Coro a cappella a 6 Fr. Jacinto do Sacramento (séc. XVIII)
07. Tocata em Ré menor – para Órgão solo Diogo Dias Melgaz (1638-1700)
08. Salve Regina – para Coro a cappella 2 4 João Rodrigues Esteves (c.1702-1751)
09. Cum turba plurima – para Coro a 8 e Contínuo Pedro de Araújo (1633-664)
10. Batalha do 6° tom – para Órgão solo João Rodrigues Esteves (c.1702-1751)
11. Quam pulchri sunt – para Coro a cappella Diogo Dias Melgaz (1638-1700)
12. Veni Sancte Spiritus – para dois Coros a 4 e Contínuo
Coro da Sé Catedral do Porto
Eugénio Amorim, regente
António Esteireiro, órgão
Porto, 2010
A 22 de Outubro de 1730, El-Rei D. João V, conhecido como “Rei Magnânimo”, celebrou, mais uma vez, os seus anos. Não iria ser, contudo, um aniversário qualquer, uma vez que seria o primeiro e principal dia de uma semana de cerimónias e celebrações que fizeram parte da sagração da nova Basílica de Mafra, centro eclesiástico de um palácio-convento já em construção havia uns treze anos e que iria ser completado ao longo de mais vinte. Os detalhes deste primeiro dia, bem como dos dias que se seguiram, foram descritos pelo Mestre de Cerimónias, Frei João de São José do Prado, no seu Monumento Sacro da fábrica, e solemnissima sagração da Santa Basílica do Real Convento de Mafra (Lisboa, Oficina de Miguel Rodrigues, 1751). Iniciou-se pelas 5 horas da manhã, com a chegada do Rei, acompanhado por um toque de trompetes, terminando à noite, após a conclusão da Missa de encerramento. No decorrer deste dia extenso, respeitou-se rigorosamente, em todos os seus pormenores, o rito de sagração tal como estabelecido no Pontificale Romanum, livro oficial litúrgico das cerimónias presididas por bispos, não omitindo nada e inserindo, às horas certas, os Ofícios diários. Foi esta cerimónia que o concerto de abertura do II Festival Internacional de Música de Mafra (1998) procurou, em parte, reconstituir – uma versão bastante reduzida, com duração de apenas duas horas e meia, usando música que se pode supor ter sido executada, com alguma justificação, nas duas capelas que o monarca mantinha, como Rei – a Capela Real, em Lisboa – e como Duque de Bragança – a Capela Ducal, em Vila Viçosa. Apesar de todos os pormenores litúrgicos e musicais incluídos, Frei João omite qualquer menção acerca do compositor de qualquer das obras em questão. As composições gravadas neste disco baseiam-se numa selecção de entre as incluídas nessa reconstituição. O estabelecimento da paz, bem como o início do abastecimento de metais preciosos provindos do Brasil, criou a D. João V uma prosperidade estável de que o país não gozava havia quase duzentos anos. A sua própria propensão religiosa, juntamente com o seu amor pelas artes, em especial pela música, conduziu-o a criar infra¬-estruturas que permitiram um verdadeiro florescimento da música sacra. Em 1713, fundou o Seminário Patriarcal, a primeira escola de música da capital, com a intenção de formar jovens músicos para as igrejas do país. Em 1715, introduziu-se na Capela Real o Rito Romano, tendo sido esta instituição elevada, no ano seguinte, à dignidade de Sé Patriarcal e Metropolitana. A esta elevação de estatuto correspondeu uma elevação na música exigida pelo Rei. Em 1719, Domenico Scarlatti (1685-1757), então Mestre de Capela da Capella Giulia em Roma, foi nomeado para este cargo na Capela Real de Lisboa. Iria continuar a desempenhar esta função até à sua partida para Espanha, no início de 1729, no séquito da Infanta Maria Barbara. A música das Capelas do monarca era bastante variada. Uma parte substancial cantava-se simplesmente em Canto Gregoriano. O Rei apreciava igualmente o canto a cappella – Palestrina, Victoria e, entre os compositores portugueses, Fernando de Almeida, Mestre de Capela no Convento de Tomar uns cem anos antes. Seria, porém, um erro grave considerar D. João V como conservador. De facto, a nomeação de Scarlatti demonstrou o seu empenho no que respeita às tendências musicais actuais, bem como as bolsas de estudo que atribuiu a novos músicos promissores para que aperfeiçoassem os seus estudos em Roma. Já na década de 1730 o seu investimento se revelava proveitoso, como evidenciam de forma admirável João Rodrigues Esteves (c. 1700-1751), Francisco António de Almeida (c. 1702-c. 1755) e António Teixeira (1707-após 1770), nas suas obras que sobreviveram ao devastador terramoto que atingiu Lisboa em 1755. Todas as obras corais seleccionadas para este disco exemplificam estas tendências modernas, sendo todas acompanhadas por um baixo contínuo e, com excepção da Missa, no chamado estilo concertato. isto e, com solos que contrastam com o coro. O motete de Francisco António de Almeida, In dedicatione templi, como indica o seu titulo, deve ter sido composto para uma cerimónia de sagração. Dividido em quatro secções, a primeira, para coro, é constituída por um andamento alegre em ritmo ternário, e a segunda, igualmente para coro, por uma fuga A terceira e um dueto para soprano e contralto, sendo a quarta uma repetição da segunda O texto verbal do dueto é derivado do responsõrio Fundata est domus, o qual se encontra no inicio da liturgia da sagração, durante a primeira aspersão do exterior da igreja Este facto sugere que o motete de Almeida teria sido destinado para a abertura de tal cerimónia. A versão de Domenico Scarlatti do Salmo 121, Laetatus sum, é uma obra extensa em várias secções. O Allegro que inicia o Salmo utiliza o coro e dois solistas (soprano e contralto). Seguem-se uma secção em forma de fuga, apenas para o coro, e outra mais breve, em ritmo ternário, para coro e solistas. O Gloria começa com uma curta e sustentada secção para o coro, antes de um Allegro final para solistas e coro onde surgem as palavras Sicut erat in principio (“Como era no principio”). Como acontece com alguma frequência, esta última secção volta a utilizar material temático da primeira parte da obra – um trocadilho no significado do texto verbal. (O Magnificat de J. S. Bach providencia um exemplo melhor conhecido desta convenção.) Na liturgia da Sagração, este salmo destina-se a acompanhar a primeira aspersão das paredes interiores do edifício. Ignora-se qualquer informação sobre o compositor italiano Giovanni Battista Bassetti. Contudo, o número de manuscritos existentes das suas Vésperas (Biblioteca Nacional, Lisboa; Arquivo da Sé Patriarcal de Lisboa; Paço Ducal, Vila Viçosa) indica que estas composições eram bastante estimadas. Para além disso, esta suposição encontra-se reforçada por referências aos salmos deste conjunto no Breve Rezume, uma descrição manuscrita (na Bibilioteca do Palácio da Ajuda, Lisboa), aparentemente proveniente da década de 1730, do que se cantava habitualmente na Capela Real. A versão de Bassetti do Salmo Lauda Jerusalem destina-se a quatro solistas e coro. É constituída por duas secções ligadas sem intervalo: o Salmo propriamente dito, em que existe uma alternância entre o coro e os solistas, e o Gloria, apenas para o coro. Durante a liturgia da sagração, canta¬-se este salmo durante a unção das paredes. A cerimónia de sagração termina com uma Missa. A versão de João Rodrigues Esteves destina-se a oito vozes, divididas em dois coros de quatro vozes cada Os cinco andamentos habituais (Kyrie; Gloria; Credo; Sanctus e Benedictus; Agnus Dei) evidenciam um domínio das técnicas que o compositor aprendera em Roma, bem como um grande dom na combinação de magnificência e intimidade. O Breve Rezume mostra-nos de forma bastante clara o que se cantava na Capela Real na década de 1730, e uma série de livros de coro em Vila Viçosa indica o repertório da Capela Ducal. No entanto, não possuímos fontes comparáveis no que diz respeito à música de órgão executada. Na ausência de indícios, as obras escolhidas para a reconstituição da sagração realizada em Mafra e, assim, para este disco procuram reflectir as mesmas tendências: música de compositores portugueses então vivos – nesta instância, Carlos Seixas (1704-42) -, de compositores italianos dos cem anos anteriores – dos quais Bernardo Pasquini (1637-1710) é o representante -e de compositores nacionais do século XVII (dois exemplos anónimos).
(texto do organista David Cranmer – extraído do encarte do CD)
Ouça! Ouça! Deleite-se!
A CAPELA DO REI MAGNÂNIMO
Música Sacra Portuguesa do Século XVIII.
Francisco António de Almeida (c.1702 – 1751)
01. In Dedicacione Templi José António Carlos de Seixas (1705 – 1742)
02. Sonata nº 75 em lá menor, I. Largo
03. Sonata nº 75 em lá menor , II. Minuete Domenico Scarlati (1685 – 1757)
04. Laetatus Sum Bernardo Pasquini (1637 – 1710)
05. Sonata em dó menor Giovanni Battista Basseti (séc. XVIII)
06. Lauda Jerusalem Anónimo (séc. XVIII)
09. Fantasia de 5º tom
08. Obra de 2º tom João Rodrigues Esteves (c.1700 – 1751)
09. Missa a 8 vozes, I. Kyrie eleison
10. Missa a 8 vozes, II. Gloria in excelsis Deo
11. Missa a 8 vozes, III. Credo in unum Deum
12. Missa a 8 vozes, IV. Sanctus – Benedictus
13. Missa a 8 vozes, V. Agnus Dei
Coro de Câmara de Lisboa
David Cranmer, órgao
Teresita Gutierrez Marques, regente
Lisboa, 2000
Essa postagem estava dobrada: uma com o álbum comprado em Havana pelo Bisnaga e outra com o álbum cedido pelo Professor Paulo Castagna ao Avicenna. Repostamos hoje unindo ambas.
La música es la verdadera historia viviente de la humanidad. (Elias Canetti, Bulgaria, 1905 – Suiza, 1994, Premio Nobel de Literatura)
…E a internet resolveu fazer Avicenna novamente de vítima (esta postagem foi ao ar inicialmente em uma segunda-feira em que nosso amigo estava sem internet)…
Por sorte o telefone ainda funcionava e ele me ligou em busca de um socorro: não era admissível deixar que a segunda-feira ficasse vazia de música colonial! Não sei por que cargas d’água ele foi telefonar justo para mim, que devo ter o menor acervo dentre os colegas pequepianos, mas, já que estou aqui, vamos ver o que acho no meio das minhas coisas… Foi então que me veio uma luz celeste dourada e uma voz grave, impostada e poderosa disse-me: “posta aquele CD cubanoooo“!
Sim, sim! Com essa iluminação, resolvi preencher este espaço com El Eco de Indias: Villancicos del Barroco Americano, adquirido em Havana, Cuba, numa escala de dois dias feita numa viagem que me levava a um congresso. Foi uma aquisição movida pela curiosidade, totalmente despretensiosa. Nunca achei que um dia divulgaria este álbum!
Bom, e do que se trata? Como o nome diz, el Eco de Indias é resultado de um belíssimo trabalho do grupo Ars Longa, de resgate de Cânticos do Barroco Hispano-Americano, com obras de compositores de seis países: Cuba, Peru, Colômbia, Bolívia, México e Espanha. O mais interessante é a preocupação do conjunto de recuperar cantos profanos, que são a maior parte dos que compõem o álbum. Geralmente a música religiosa era mais organizada, mais oficiosa: as igrejas tinham seus mestres de capela, seus maestros e compositores e, por isso, a grandessíssima maioria das composições do período colonial americano que chegou até nossos dias é a que ficou registrada em partitura e foi arquivada, feita para e guardada pela Igreja. A música popular existia e era executada em grande número, porém, essa música era mais casual e muitas vezes os executores apenas a reproduziam por memorização, sem que houvesse qualquer registro físico da melodia. Poucas eram as músicas profanas transcritas em partitura e muito raras as que foram preservadas e chegaram aos dias de hoje. Neste álbum, até mesmo as músicas de Natal e Corpus Christi são de caráter popular, ou seja, têm características diversas das estritamente religiosas e não foram encomendadas pela Igreja para tais festividades. Eram cantadas nas casas, nas ruas, nas festas familiares e, por um felicíssimo acaso do destino, acabaram escritas seus registro sobreviveram. E não por coincidência, mas com muita pesquisa, esses cânticos foram encontrados aqui e ali, em arquivos, em salas poeirentas nos fundos de igrejas, misturados a partituras sacras, e foram primorosamente selecionados e executados pelo Ars Longa, com instrumentos de época e todos os cuidados para reconstituir suas sonoridades originais da forma mais fiel possível.
Cantar los villancicos de América nos acerca a un interesante mundo de transculturaciones que dieron diferentes estilos a un mismo género. La expresión musical en las nuevas tierras conquistadas, aún bajo el influjo de las escuelas europeas, va adquiriendo poco a poco determinados matices y rasgos autóctonos que le confieren una identidad enteramente americana.
Ars Longa, partiendo de una incesante labor de investigación, nos propone en el presente disco una selección de villancicos americanos de los siglos XVII y XVIII. Estos no se hallan asociados solamente a la tradicional festividad de la Navidad, sino que también se dedican a la Virgen, la celebración del Corpus Christi y otras festividades populares con obras exponentes de las diferentes variantes del villancico como son: de negros, juguetes, rorros y jocosos.
En España, ya desde finales del siglo XV y principios del XVI, los villancicos eran cantados como parte del oficio divino, intercalados entre los responsorios de la hora de maitines durante las fiestas de Navidad. Esta costumbre permaneció hasta entrado el ochocientos. En el siglo XVII el villancico, tradicionalmente polifónico, incorpora rasgos estilísticos del barroco como la monodía, la policoralidad, el bajo continuo y la composición de partes instrumentales.
La tradicional estructura estribillo-copla-estribillo, se amplía en el siglo XVIII – época de auge del villancico religioso – hasta semejar la estructura de una especie de cantata barroca que incorpora introducción instrumental, recitados y arias.
El trasplante a América del villancico produjo, como en toda nuestra música, un proceso de interinfluencias que de acuerdo al acervo cultural de cada país aportó a este género una amplia gama de modos de hacer en la melodía, el ritmo, y otros medios expresivos.
Existe una encarnizada polémica sobre la manera en que se deben interpretar las obras del barroco americano en cuanto a los medios expresivos y al acompañamiento. Se discute acerca de si es correcto o no añadir instrumentos que no aparezcan originalmente en la partitura. Sobre este tema coexisten dos criterios fundamentales: uno aboga por la ejecución exacta de la partitura y otro añade instrumentos de la época o justificados por él carácter festivo y danzado de la obra, como sucede con la percusión que se añade a los villancicos de negros, de Corpus y juguetes.
Ars Longa, evadiendo un principio arqueológico, reinterpreta los villancicos con una visión musical contemporánea que trata de acercarnos a lo real maravilloso del mundo sonoro ameriano. No se trata de reconstruir con un criterio museable los cantos entonados en nuestras iglesias y catedrales en los siglos XVII y XVIII, sino de que a las puertas del siglo XXI y a cuatrocientos años de distancia sonora de estas obras, disfrutemos la música de Nuestra América.
(Miriam Escudero Suástegui, extraído do encarte)
O álbum inteiro é uma grande raridade: as músicas são raras e nem encontramos o CD no Amazon para venda; seria necessário viajar para Cuba para adquiri-lo. Para poupá-los de tão extensa viagem (embora a recomende fortemente), lhes trago hoje estes sonoros ecos das Índias.
Ouça com muita atenção estas pérolas! Inestimáveis!
Acha que eu tô brincando? Escute essa faixa:
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Ars Longa
El Eco de Indias: Villancicos del Barroco Americano Anônimo (Peru, séc. XVIII)
01. Pasaqualyto – Anônimo (Peru, século XVIII) Tomás de Torrejón y Velazco (Espanha, 1644 – Peru, 1728)
02. Desvelado dueño mío Anônimo (Peru, séc. XVIII)
03. Un Juguecito de fuego Juan Gutiérrez de Padilla (Espanha, 1590 – México, 1664)
04. Oíd Zagales Atentos Juan de Herrera (Colômbia, c. 1665 – 1738)
05. A la Fuente de Bienes Juan de Araujo (Espanha, 1646 – Peru, 1712)
06. Ay andar, andar Anônimo (Peru, séc. XVIII)
07. Un monsieur y un estudiante Esteban de Sala y Castro (Cuba, 1725 – 1803)
08. Un musiquito nuevo
09. Que niño tan bello Anônimo (Bolívia, séc. XVIII)
10. El día del Corpus Antonio de Salazar (México, 1650 -1715)
11. Digan, digan quien vio tal Alonso Torices (Espanha, séc. XVIII)
12. Toca la Flauta
Ars Longa, Conjunto de Música Antiga (Cuba)
Tereza Paz, soprano e flautas doces
Gertrudis Vergara, soprano e flautas doces
Raquel Rubí, Mezzo-soprano e percussão
Iván César Morales, Tenor e percussão
Alain Alfonso, contratenor, contrabaixo, flautas doces
Ariel Sarduí, violino
Reinier Guerrero, violino
Aland Lopez, viola de mão
Judith Jardines, harpa
Taylis Fernándes, viola da gamba
Tereza Paz, direção
1998
Devido à escassez dos arquivos causada pelo terramoto de 1755, pelas invasões francesas e pelas várias revoluções, poucas referências temos à vida de Estevão de Brito em Portugal. Sabemos apenas que terá nascido em Serpa, cerca de 1575, tendo depois ido para Évora, onde estudou com Filipe de Magalhães. Assim, Brito é um dos representantes da chamada terceira geração da escola de Évora, a par de figuras como Lopes Morago, Frei Manuel Correia (igualmente alunos de Magalhães), António Fernandes e Manuel Machado (discípulos de Duarte Lobo). A grande qualidade da sua obra é atestada pelo seu percurso profissional, inteiramente decorrido em Espanha, numa época em que teve de competir com compositores formados pelas escolas das grandes catedrais de Espanha, incluindo a Catedral Flamenga de Madrid. Estevão de Brito foi nomeado Mestre de Capela da Catedral de Badajoz em 1597, sendo no entanto provável que já lá desempenhasse funções desde finais do ano anterior. Em 1605, Brito regressa a Évora, convalescendo de uma doença, e trazendo uma mensagem do cabido da catedral para o Arcebispo de Évora, pedindo concordância para a sua ordenação. Foi efectivamente ordenado em 1608 tendo sido, no mesmo ano, nomeado capelão do coro. As obras mais importantes escritas por Brito nos seus anos em Badajoz são, provavelmente, os seus vilancicos para as festas do Natal e Corpo de Deus. Como se tornou hábito no séc. XVII, o mestre de capela era dispensado das suas funções habituais para ter tempo para a composição dos vilancicos, cujas primeiras audições eram aguardadas ansiosamente. Assim, Brito obteve sistematicamente dispensas dos cabidos de Badajoz e Málaga durante toda a sua vida para este efeito. Infelizmente, e apesar de constarem trinta e um, de três a dez vozes, do catálogo da Livraria del Rey D. João IV, não chegaram até nós quaisquer vilancicos da autoria de Estevão de Brito. Em 1613, Estevão de Brito foi eleito entre cinco candidatos (sendo os outros Francisco Paéz, Juan Gutiérrez, Martínez Avalos e Fulgencio Méndez) para o posto de mestre de capela da Catedral de Málaga, sucedendo a Francisco Vázquez. E importante não esquecer que no séc. XVI Cristóbal de Morales tinha também estado em Málaga, razão pela qual Brito tomou contacto com a obra deste grande mestre espanhol da Renascença. Apesar de lhe ter sido oferecido o posto de Mestre de Capela da Capela Real, em Madrid, Brito permaneceu em suas funções em Málaga até à sua morte, em 1641, conservando-se na Catedral desta cidade toda a sua produção musical que chegou até nós.
O Officium Defunctorum de Estevão de Brito encontra-se num livro de facistol, na catedral de Málaga e compreende três lições, do ofício de Matinas, a missa de defuntos, três motetos fúnebres e dois responsórios. O manuscrito contém ainda uma Pro Defundis Missa e um moteto da autoria de Cristóbal de Morales. As três lições, com textos do livro de Job, são a 1ª, 4ª e 7ª das Matinas, ou seja, a primeira de cada Nocturno. No entanto, não era intenção do autor que fossem executadas em liturgia no mesmo dia, destinando-se a primeira às segundas e quintas feiras, a segunda às terças e sextas feiras e a terceira às quartas feiras e sábados. Os textos do Breviarium Romanum tridentino são respeitados na íntegra. A nível musical notamos influências de Morales e de Victoria, cujo Officium Defunctorum contém também uma lição das Matinas, a 2ª Taeclet animam meam. Porém, Brito não é tão rígido na utilização da homofonia, utilizando, por vezes frases imitativas e madrigalismos. (…) De acordo com o Prof. Dr. Aires Nascimento, a pronúncia do texto encontrar-se-ia na linha tradicional da pronúncia do latim. Excluímos assim a pronúncia italianizada ou romanizada utilizada nos meios eclesiásticos e que data do início deste século.
(extraído do encarte)
Mas muito, muito bom mesmo! Ouça! Ouça! Deleite-se!
Estevão de Brito (1575-1641)
Officium Defunctorum
01. Parce Mihi, Domine
02. Responde Mihi
03. Spiritus Meus Attenuabitur
04. Introitus – Requiem Aeternam
05. Kyrie
06. Graduale – Requiem Aeternam
07. Tractus – Absolve, Domine
08. Offertorium – Domine Jesu Christe
09. Sanctus
10. Agnus Dei
11. Communio – Lux Aeterna
12. Ad Dimittendum – Requiescat in Pace
13. Circumdederunt Me
14. Homo Natus de Muliere
15. Heu, Domine
16. Libera Me, Domine
17. Memento Mei
18. Ad Dimittendum – Requiescat in Pace
Grupo Vocal Olisipo
Armando Possante, regente
Saint Georges Church, Lisboa, 1995
Queridos ouvintes, quero muito e posso afirmar de boca cheia: que DELÍCIA de obra é essa!
Primeiro: para o bairrista aqui, é brasileiríssima: obra do paraibano Ariano Suassuna (1927-2014) musicada pelo também paraibano José Siqueira (1907-1985). Segundo: é obra leve, divertida, cômica. Ao ouvir, vocês verão que ao público é dada a liberdade de aplaudir no meio, de gargalhar nas falas mais engraçadas: ora, e não é para ser assim numa ópera cômica? Ou pelo menos não deveria ser assim, sem aqueles sorrisos fracos e amarelecidos por um humor contido e sem-graça? Então, aqui não é assim. A Compadecida é obra realmente descontraída e os diálogos inteligentes de João Grilo, Chicó, Padre João e outros bons personagens tão bem escritos por Suassuna ficam ótimos tematizados na música de Siqueira.
E se tem uma coisa que é extremamente agradável e apaixonante nas grandes peças de José Siqueira, é a sua versatilidade em misturar, como pouquíssimos, formas musicais diversas e conformar um todo coeso e coerente. N’A Compadecida, que segundo ele, não é uma ópera, mas uma comédia musicada, o compositor faz-se valer de personagens que apenas declamam o texto (o Palhaço e o cangaceiro Severino), outros que tem seus temas mais recitativos (caso do Padeiro, do Bispo e do Diabo) e outros que têm belas melodias (Jesus Cristo e Maria, a Compadecida). Ao ouvir, repare que José Siqueira teve o trabalho de fazer com que, quanto mais bom e justo o personagem, mais melodioso é seu tema.
O legal é que temos uma dissertação de mestrado, de 2013, de Luiz Kleber Lira de Queiroz (da UFPB) (aqui) que faz uma completa análise d’A Compadecida, com uma biografia de José Siqueira e ainda um catálogo atualizado de onde estão as partituras vocais dele (veja a tabela nas páginas 213 a 217).
Quanto mais eu leio e me intero da vida e da obra de José Siqueira, mais o admiro. Para além de seu papel importantíssimo de criar orquestras e associações de músicos, ele foi um grande divulgador da música de sua terra. Enquanto vemos trabalhos de maior vulto de Villa-Lobos dedicados à música indígena, Siqueira, não deixando de compor algumas peças com influência dos padrões nativos, dedicou-se primordialmente em duas linhas: a da música negra/escrava e a da música nordestina. Por isso fez obras como Candomblé (aqui) e Xangô (aqui) subirem ao palco, sem deixar por menos para o folclore de sua região natal, com obras como a Toada (aqui), a Suíte Sertaneja (aqui), as Festas Natalinas no Nordeste (aqui) e esta A Compadecida, imensa de tamanho, beleza e significados, com mais de três horas de música, que hoje vos apresentamos!
Consegui também encontrar o resumo da peça, para que vocês possam acompanhá-la quando a ouvirem (vai num arquivo formato doc junto com os áudios). Coloquei após cada descrição do ato, uma faixa de cada. Atentem-se que esta é uma gravação de 1961, ao vivo, da estreia da ópera e tem os inconvenientes de ser ao vivo, de ser antiga (captação ruim) e de ser possível ouvir o rapaz que faz o ponto (!!!) para os personagens… Mas ainda assim, a obra é fantástica e merece o download!
1º ato – Cena: Pátio de uma igreja de vila do interior.
Depois da saída do Palhaço, que anuncia o julgamento de “alguns canalhas, entre os quais um sacristão, um Padre, um sacristão e um Bispo para exercício da moralidade”, Chicó explica a João Grilo a situação, da Mulher do padeiro, que ameaça largar o marido, se o seu cachorro de estimação, que está doente, vier a morrer. O médico já foi chamado e não sabe o que o bicho tem. Agora só resta apelar para o Padre. O Padre se recusa a benzer o animal. Depois doa argumentos de João Grilo que relembra a bênção do motor novo do Major Antônio Morais, o que, certamente, causará briga entre o casal de padeiros e o vigário, caso os primeiros venham a saber desse pormenor, uma vez que “cachorro é muito melhor que motor”… O Padre se decide a benzer o bichinho. O Major entra em cena à procura, igualmente, do reverendo para abençoar… o filho que esta doente. João Grilo tece uma intriga entre o Padre e Antônio Morais dizendo a este que o vigário estava doido, com mania de benzer tudo, e que havia falado mal do Major e do reverendo, que Antônio Movais também tinha um cachorro doente para ser abençoado. Arma um quiproquó enorme, e Antônio Morais se retira prometendo se queixar ao Bispo. Depois da saída do Major, Grilo finge-se amigo do Padre e promete ir aos Angicos, fazenda de Antônio Morais, para resolver tudo.
A esta altura irrompem no pátio da igreja, o Padeiro sua Mulher, com o cachorro doente. O Padre se apavora, pois pensa que Antônio Morais também viera pedir para benzer o cachorro, o que, então, perfazia dois. Recusa-se. A esta altura das discussões, o cachorro da Mulher do Padeiro morre em cena, o que é descoberto pelo sacristão. A Mulher do Padeiro quer, então, já que o cachorro está morto, um enterro em latim. João Grilo, conhecendo a avareza do Padre e do Sacristão, inventa que o cachorro deixou em testamento, dez contos para o Padre e três para o Sacristão. Com tais argumentos, depois de diversas tentativas de resolver o problema agradando a ambas as partes, resolve o Sacristão, fazer ele mesmo, com o consentimento do Padre, o enterro do bicho em latim, no que a Mulher e o Padeiro concordaram. Realiza-se o enterro do cachorro Xaréu… em latim.
A discussão de João Grilo e o Padre sobre o testamento de Xeréu:
Entra em cena o Palhaço para contar o que está acontecendo na vila, enquanto Xaréu se enterra em latim. Antônio Morais foi se queixar ao Bispo. O Bispo, atendendo à queixa do dono de todas as minas da região, “homem poderoso, que enriqueceu fortemente o patrimônio que herdou, durante a guerra em que o comércio de minérios esteve no auge”, vai procurar o Padre João. Do encontro dos dois, Bispo e Padre, fica sabendo o último, que fora enredado numa confusão dos diabos pelo “amarelinho” João Grilo, que chegou a dizer no seu engano que a Mulher de Antônio Morais era um animal. João Grilo, sem se aperceber que seu enredo já havia sido descoberto, entra em cena contente. Ao deparar-se com o Padre João é por este advertido severamente do mal feito. João Grilo ameaça contar… e conta ao Bispo que um cachorro se enterrara em latim. O Bispo se revolta contra o Padre e ameaça suspendê-lo, bem como demitir o Sacristão, não sem antes prometer um bom castigo para João Grilo. O “amarelinho” tem então a feliz ideia de modificar ali, na hora, o testamento do cachorro. E a doação e pagamento que a dona fará pelo enterro em latim, na importância de 13 contos ficará assim distribuída: três para o Sacristão, quatro para a paróquia e seis para a diocese. O Bispo, simoníaco, hesita ante a possibilidade do ganho Inesperado. Resolve reunir-se secretamente com o Padre e o Frade que o acompanham. Entram na Igreja. A esta altura, João Grilo explica a Chicó que retirara do cachorro morto a bexiga e manda que Chicó a encha de sangue e coloque no peito, por baixo da camisa. Depois conta-lhe que “vai entrar no testamento do cachorro”, pois como fraco da Mulher do Padeiro “é dinheiro e bicho”, ele arranjara para tomar o “lugar do Xeréu” um gato que “descome dinheiro”. Ante a incredulidade de Chicó, ele explica o processo, que, certamente, iludirá a futura dona do gato. O gato é trazido à cena, com a entrada da Mulher do Padeiro que vem, mesmo a contragosto, mas como pessoa honesta, pagar os funerais do cachorro em latim. A transação é feita, pela importância de quinhentos mil réis. Vai-se a Mulher satisfeita com a compra, pois segundo ela, o gatinho é lindo e vai tirar com o “novo filho” o prejuízo do gasto no enterro de Xeréu. Saem do Concílio o Bispo, o Padre, o Frade, o Sacristão. João Grilo efetua o pagamento a todos, conforme dissera, segundo “a vontade do morto”. Enquanto o dinheiro é contado e repartido, o Padeiro e a Mulher descobrem que o nato não descome dinheiro coisa nenhuma. “Descome o que todo gato descome”. Entra o Padeiro furioso. Atraca-se com Grilo. É contido pelo Padre, pelo Sacristão e pelo Bispo. Todos temem que o negócio seja desfeito. E, nesta altura, entra debaixo de tiros a Mulher do Padeiro, apavorada, para anunciar que Severino do Aracaju invadiu a cidade e vem se dirigindo para a igreja. Todos aguardam a chegada do famoso “Capitão”. Severino entra em cena. Toma de todos o dinheiro distribuído pelo Grilo, e, com exceção do Frade, mata um por um dos presentes. Chicó também consegue salvar-se, pois a abala “pegou de raspão”. O cabra de Severino executa a chacina. Ao chegar a vez de João morrer, ele pede a Severino para aceitar de presente “uma gaitinha que Padre Cícero tinha lhe dado antes de morrer” para ser entregue a Severino, que era seu afilhado. A gaita, segundo João, tinha o poder de devolver a vida a quem morresse de tiro ou tacada. Para provar a “verdade” João dá uma facada na barriga de Chicó, no local onde antes havia sido colocada a bexiga do cachorro cheia de sangue. Severino vê o sangue, Chicó finge-se de morto. O “Capitão” acredita, mas quer ver é o Grilo ressuscitar o homem. João toca na gaita. Chicó levanta-se fingindo ressuscitar e inventa a história de ter visto no céu Podre Cícero rodeado de anjinhos. Severino se entusiasma. Manda o cabra atirar, não sem antes ter tido o cuidado de tomar a gaita de João e dá-la ao cabra para ser tocada depois de sua morte. Resultado: o cabra mata Severino. Logo depois. João mata o cabra, que, mesmo agonizando, .atira em João Grilo quando vai caindo. Resta apenas Chicó, que encerra o segundo ato com a lamentação pela morte do amigo, “o Grilo mais inteligente do mundo”.
O Coro “Mulher Rendeira” que os cangaceiros cantam quando chegam à cidade. José Siqueira introduz música de domínio popular em sua obra:
3.° ato – O tribunal para Julgamento dos mortos (Lugar entre o Céu e o Inferno).
O palhaço explica à plateia todo o processo de julgamento, bem como o fato de irem ver dois demônios vestidos de vaqueiros, pois “isso decorre de uma crença comum no sertão do Nordeste”. Todos os mortos acordam e tomam conhecimento do seu estado de mortos. Com a chegada do demônio e do Encourado são todos ameaçados de serem levados diretamente para o interno. Mais uma vez João Grilo inteligentemente argumenta que ninguém pode ser condenado sem ser ouvido e apela para Nosso Senhor Jesus Cristo, no que é acompanhado por todos. Aparece então Jesus… negro. Isso causa um certo espanto em João Grilo. Jesus Cristo explica a João Grilo que veio assim de propósito porque sabia que ia despertar comentários. Ele, Jesus, nascera branco e quisera nascer judeu como poderia ter nascido preto… Inicia-se o Julgamento, mas a certa altura João percebe que só há um Juiz, mesmo infinitamente justo, e o promotor que no caso é o Encourado (o Diabo) e apela para a sua advogada, a mãe da misericórdia, que se compadece dos pecados dos homens. E a invoca com duas estrofes do cancioneiro do cancioneiro nordestino, criadas pelo cantador Canário Pardo. Nossa Senhora atende ao chamado de João Grilo e vem em seu socorro. A advogada, depois de todas as marchas e contra-marchas do julgamento, consegue mandar não para o inferno e sim para o purgatório o Bispo, o Padre, o Sacristão, o Padeiro e a Mulher. Severino e o Cabra são inocentados pelo próprio Coleta e vão para o céu sob a alegação de que o Diabo não entende nada dos planos de Deus. Severino e o Cangaceiro dele foram meros instrumentos de sua cólera. Enlouqueceram ambos depois que a polícia matou a família deles e não eram responsáveis pelos seus atos. E chegamos, finalmente, ao julgamento de João Grilo. Cristo quer manda-lo para o Purgatório. João pede a Nossa Senhora que advogue a sua causa de forma a não deixar que ele vá para o Purgatório. Maria acha uma solução: João voltará à Terra. Ele fica satisfeito porque “de cá para lá tomará cuidado para na hora de morrer não passar pelo Purgatório para não dar gosto ao Cão”. Mas esta solução só será aceita pelo Cristo se João fizer uma pergunta que Jesus não possa responder. Ardilosamente João Grilo pergunta a Jesus: “em que dia vai acontecer sua segunda ida ao mundo?” Jesus Cristo lhe responde que isso é um grande mistério, e não lhe poderá responder, pois João vai voltar, e o conhecimento dessas coisas faz parte da vida íntima do Pai Eterno. A brincadeira de Jesus com João Grilo antecede, imediatamente, o fim da representação musicada da COMPADECIDA, que termina com a descida de João Grilo à terra, com as despedidas de Jesus e Maria, e suas recomendações para ser bom e tomar cuidado com o resto de vida que ainda lhe foi concedida.
A Ave Maria, cantada quando os presentes invocam à Compadecida como advogada de defesa:
O cara tem um cabedal enorme de música de ótima qualidade. Mereceria gozar de maior reconhecimento e estar no panteão, entre nossos melhores compositores, ao lado de Camargo Guarnieri, Radamés Gnattali, Francisco Mignone e Guerra-Peixe (Villa-Lobos acima, claro!).
Ah, é IM-PER-DÍ-VEL !!!
Uma joalheria inteira! Ouça! Ouça! Ouça!
José Siqueira (1907-1985) A Compadecida, comédia musical em 3 atos (1959)
baseada na obra “o Auto da Compadecida“, de Ariano Suassuna
01 – 1º ato – Introdução – Declamação do Palhaço
02 – 1º ato – João Grilo e Chicó vão falar com o padre
03 – 1º ato – Pedido ao padre para benzer o cachorro
04 – 1º ato – Saída da igreja – Diálogo de João Grilo e Chicó
05 – 1º ato – O padre está doido – Encontro com Antônio Morais
06 – 1º ato – O Padre enfurece o Major
07 – 1º ato – Padre, Benze ou não benze o cachorro
08 – 1º ato – Discussão do Padre com os Padeiros
09 – 1º ato – A morte do cachorro
10 – 1º ato – O testamento do bichinho
11 – 1º ato – E o cachorro é enterrado… em latim
12 – 1º ato – Marcha Fúnebre
13 – 2º ato – Prelúdio do ato
14 – 2º ato – Declamação do Palhaço e entrada do Bispo
15 – 2º ato – O bispo pede explicações ao padre
16 – 2º ato – O bispo entra no testamento do cachorro
17 – 2º ato – O gato que descome dinheiro
18 – 2º ato – Os clérigos referendam o testamento
19 – 2º ato – O padeiro descobre o golpe do gato
20 – 2º ato – O bando de Severino invade a vila
21 – 2º ato – Coro – Mulher Rendeira
22 – 2º ato – Dança – Pagode
23 – 2º ato – Execução dos Clérigos e dos Padeiros
24 – 2º ato – A gaita que ressuscita – Morte de Severino
25 – 2º ato – Morte de João Grilo
26 – 2º ato – Lamento de Chicó
27 – 3º ato – Introdução ao 3º ato – Declamação do Palhaço
28 – 3º ato – Julgamento – O diabo quer levar a todos
29 – 3º ato – Os mortos apelam a Jesus Cristo
30 – 3º ato – Coro – Aleluia
31 – 3º ato – Cristo surge… negro
32 – 3º ato – Acusação dos clérigos e dos padeiros
33 – 3º ato – A promotoria acusa os cangaceiros
34 – 3º ato – Acusação de João Grilo
35 – 3º ato – João Grilo solicita defesa
36 – 3º ato – Invocação a Nossa Senhora, poema de Canário Pardo
37 – 3º ato – Vinda da Compadecida
38 – 3º ato – Ave Maria
39 – 3º ato – Defesa dos clérigos e dos padeiros
40 – 3º ato – Defesa dos cangaceiros
41 – 3º ato – Sentença
42 – 3º ato – Defesa de João Grilo
43 – 3º ato – Sentença de João Grilo
44 – 3º ato – Final – Declamação do Palhaço
45 – Extra: Ave Maria (sem fala de João Grilo)
PALHAÇO – Ivan Senna, ator
JOÃO GRILO – Assis Pacheco, tenor
CHICÓ – Edson Castilho, barítono
PADRE JOÃO – Alfredo Colózimo, tenor
ANTÔNIO MORAIS – Alfredo Mello, baixo
SACRISTÃO – Enzo Feldes, barítono
PADEIRO – Raul Gonçalves, tenor
MULHER DO PADEIRO – Aracy Bellas Campos, soprano
BISPO – Newton Paiva, baixo
FRADE – Alcebíades Pereira
SEVERINO DO ARACAJU – Mahely Vieira, ator
CANGACEIRO – João Carlos Dittert, baixo-barítono
DEMÔNIO – Alfredo Mello, baixo
O ENCOURADO (DIABO) – Carlos Walter
MANOEL (JESUS CRISTO) – Roberto Miranda, tenor
A COMPADECIDA (NOSSA SENHORA) – Lia Salgado, soprano
Orquestra, Coro e Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro
José Siqueira, regente
Silva Ferreira, regisseur
Santiago Guerra, regente do coro
Denis Gray, coreografia
André Reverssé , cenografia
Theatro Municipal, Rio de Janeiro, 1961
Partituras e outros que tais?Clique aqui
Quer saber um pouco mais sobre José Siqueira? Veja este blog. Há ainda uma dissertação de mestrado sobre esta obra de hoje! Fala muito sobre a vida e a obra do compositor! Baixe!
Ouça! Deleite-se! … Mas, antes ou depois disso, deixe um comentário…
Quando, em 12 de julho de 2014, Alexandre Marcos Lourenço Barbosa lançou a proposta de criação de um Museu da Música do Vale do Paraíba (MMVP), durante as discussões da sessão de encerramento do XXVIII Simpósio de História do Vale do Paraíba, promovido em Cunha pelo Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV), cujo tema era, justamente, “Música no Vale do Paraíba”, não imaginávamos que, cinco meses depois, já estaríamos discutindo um cronograma de trabalho para a elaboração do seu projeto de criação.
O fato é que a ideia nasceu justamente da necessidade de uma instituição que pudesse tratar, custodiar, conservar e viabilizar a pesquisa de arquivos e coleções musicais do Vale do Paraíba ou a ele relacionados, além de centralizar informações, bibliografia, catálogos e bancos de dados sobre acervos musicais de outras regiões brasileiras, porém relacionados à história e à prática musical do Vale do Paraíba, desde o século XVIII ao presente.
Participaram, no entanto, dessa proposta de criação do Museu da Música do Vale do Paraíba alguns outros fatos importantes ocorridos a partir desse ano de 2014, especialmente o reencontro, em Pindamonhangaba, do arquivo musical de João Antônio Romão (1878-1972), a criação do Laboratório de Conservação, Arquivologia e Edição Musical da UNESP (Labor Carmine) em 15 de dezembro de 2014, e a atuação do Núcleo de Musicologia Social do Instituto de Artes da UNESP (NOMOS) – responsável pela criação do Labor Carmine – no tratamento do arquivo musical da família Lorena, da cidade de Aparecida, constituído de obras de Raldolpho José Lorena (1843-1913), José Raldolpho Lorena (1876-1961), Maria Annunciação Lorena Barbosa (1907-1996) e outros.
O Labor Carmine, fundado no campus de São Paulo da UNESP, será instalado, estruturado e equipado durante todo o ano de 2015, mas os pesquisadores nele envolvidos já estão trabalhando no arquivo musical de João Antônio Romão, com a colaboração da família Romão em Pindamonhangaba,e no arquivo musical da família Lorena, em Aparecida. O objetivo do Labor Carmine é receber provisoriamente e tratar (em São Paulo ou em suas cidades de origem, dependendo de cada situação) arquivos e coleções musicais históricas (o que inclui sua higienização e desinfecção, organização, arranjo físico, acondicionamento, catalogação e digitalização) para devolve-los em segurança às suas instituições custodiadoras, ou mesmo para intermediar sua doação ou transferência para instituições do gênero, quando for o caso.
Por essa razão, o jornal O Lince e o Labor Carmine uniram-se, em fins de 2014, juntamente com outros colegas de Aparecida, para estudar as bases de criação do Museu da Música do Vale do Paraíba nesta mesma cidade, que já se encontra virtualmente em funcionamento, por meio do tratamento dos referidos arquivos musicais.
Há, no entanto, vários outros acervos musicais no Vale do Paraíba que necessitam o tratamento técnico e a custódia institucional para garantir sua preservação, acesso e divulgação, além de acervos musicais gerados nesta região, porém atualmente mantidos por colecionadores em outras cidades brasileiras ou talvez mesmo do exterior. Sabemos da existência de famílias que desejam transferir seus acervos histórico-musicais para instituições custodiadoras permanentes, e que poderão fazê-lo após a criação do MMVP, quando será possível receber e tratar todos esses acervos e mesmo reivindicar o retorno para o Vale do Paraíba dos acervos musicais aqui originados, porém transferidos para outras regiões.
A fundação do Museu da Música do Vale do Paraíba será proposta a uma instituição sólida e comprometida com a cultura paulista ainda neste ano, conjuntamente pelo jornal O Lince e pelo Labor Carmine da UNESP, que também solicitarão apoio do Museu da Música da Arquidiocese de Mariana (MG), que já realiza esse trabalho naquela região há mais de 40 anos, do Centro de Referência Musicológica “Prof. José Maria Neves” (CEREM), de São João del-Rei, que também possui ações e experiência com acervos histórico-musicais, e do Instituto de Estudos Valeparaibanos, importante referência cultural desta região, além de outras instituições, na forma de troca de conhecimentos e informações, para viabilizar sua instalação e o início de seu funcionamento técnico.
O objetivo do MMVP será a recepção, tratamento e custódia de acervos musicais, a manutenção de uma sala para sua consulta (inclusive por meios digitais), a manutenção de uma exposição permanente de fontes musicais (manuscritas, impressas e sonoras), fotografias, instrumentos e objetos, para a recepção de visitantes durante todo o ano, especialmente nas festas e datas comemorativas, além da produção de partituras e partes para o abastecimento das orquestras, coros e grupos musicais interessados no repertório histórico-musical de Aparecida, do Vale do Paraíba e do Estado de São Paulo, especialmente a música sacra.
O Lince e o Labor Carmine estão trabalhando a todo vapor para viabilizar a inauguração do Museu da Música do Vale do Paraíba durante o ano de 2017, ocasião em que a cidade e a Arquidiocese de Aparecida celebrarão os 300 anos do encontro, nas águas do rio Paraíba, em Guaratinguetá, da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do Brasil. Esperamos, com essa iniciativa, contribuir para a preservação e difusão da memória musical do Vale do Paraíba, para a promoção de apresentações musicais com o repertório custodiado no MMVP (sempre que possível nas igrejas, teatros e auditórios de Aparecida e do Vale do Paraíba) e receber professores, músicos, musicólogos, historiadores, religiosos e muitos visitantes interessados em conhecer a riqueza das tradições musicais desta cidade e desta região. E, no que se refere especificamente à música católica – uma das sessões mais volumosas dos acervos musicais valeparaibanos – esperamos, também, “promover a música sacra, como serviço eminente que corresponde à índole de nossos povos”, tal como expresso no item 947 da “Mensagem aos povos da América Latina”, emitida pela Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Puebla de los Angeles (México, 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979).
(postado originalmente em 6 de dezembro de 2012. Repostado agora com arquivo em FLAC)
A postagem de hoje atrasou, mas saiu. Vamos com mais um pouco de música erudita brasileira, brasileiríssima!
Aliás, você conhece ou, pelo menos, já ouviu falar de Maura Moreira? Ah, precisamos conhecê-la!
Maura foi (é) uma contralto brasileira excepcional de sólida carreira no exterior. Mineira de Belo Horizonte, começou seus estudos musicais no Conservatório Mineiro de Música. Após vencer um concurso de canto, deu prosseguimento aos estudos em Viena, onde teve aula com grandes nomes da música erudita. Estreou profissionalmente 1958, no teatro da cidade de Ulm, na Alemanha, interpretando Santuzza, na Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni. No ano seguinte fixou residência naquele país. Ao longo da carreira, acumulou outros papéis importantes, em óperas como Aida, Don Carlo e Madame Butterfly. Integrou, a partir de 1962, a tradicional Casa de Ópera de Colônia.
Por ser brasileira e negra, sempre se dedicou à música do Brasil e à música raiz e folclórica. Em meio Às suas gravações, sempre abriu um espaço para compositores como Villa-Lobos, Jayme Ovalle e Waldemar Henrique, para cantos de nossa terra…
Aqui ela se obrigou a levar sua técnica ao máximo: há uma variedade tão grande de ritmos, cadências, evoluções e síncopas da mesma maneira como grande é este país e diversificada a sua cultura. Há cantos indígenas amazônicos, pontos de orixás, cantos de trabalho, modinhas e canções de vários tipos, que fazem com que Maura Moreira mostre toda a sua versatilidade (e seu belo timbre) com O Canto da Terra. Coisa linda!
Em duas dimensões, no tempo e no espaço, este é um recital abrangente onde temos, pela voz privilegiada de Maura Moreira, um panorama do canto popular na terra brasileira. Popular em seu sentido mais fundamentado, porque profundamente ligado à terra e às suas tradições e acima dos modismos. São cantos de confluências raciais, de heranças espirituais que se somam, buscando pela complexidade da convivência evitar a perplexidade dos desencontros. (Zito Batista Filho, extraído do encarte)
Show de bola! Ouça! Ouça! Deleite-se!
Fonogramas espetaculosamente cedidos pelo paraense Raphael Soares! Inestimável!
Maura Moreira (1933-) O Canto da Terra
Waldemar Henrique (Belém, PA, 1905-1995)
01. Lendas Amazônicas – Cobra grande
02. Lendas Amazônicas – Tamba-tajá
03. Lendas Amazônicas – Uirapuru Aloysio de Alencar Pinto (Fortaleza, CE, 1912 – Rio de Janeiro, RJ, 2007) (arr.)
04. Cantos indígenas – Tagnani-tangrê (canto religioso dos índios Nhambiquaras)
05. Cantos indígenas – Canções dos índios botocudos: Céu grande, Macaco barbado na árvore, Minha mulher é boa de verdade Jayme Ovalle (Belém, PA, 1894 – Rio de Janeiro, RJ, 1955) (arr.)
06. Três pontos de Santo – Chariô
07. Três pontos de Santo – Aruanda
08. Três pontos de Santo – Estrela do mar Aloysio de Alencar Pinto (Fortaleza, CE, 1912 – Rio de Janeiro, RJ, 2007) (arr.)
09. Três cantos afro-brasileiros – O Fuli-lorerê ê (Canto de Oxalá)
10. Três cantos afro-brasileiros – Yemanjá (Toada à Mãe-d’Água)
11. Três cantos afro-brasileiros – Abá Iogum (Louvação a Ogum) João Baptista Siqueira (Princesa, PB, 1906 – Rio de Janeiro, RJ, 1992) (arr.)
12. Se meus suspiros pudessem (Modinha do séc. XVIII)
13. Hei de amar-te até morrer (Melodia do séc. XX) Ernani Costa Braga (Rio de Janeiro, RJ, 1888 – 1948) (arr.)
14. Casinha pequenina (Modinha do séc. XX) Luciano Gallet (Rio de Janeiro, RJ, 1893 – 1931) (arr.)
15. Morena, morena (Modinha recolhida no Paraná) Mário Raul de Morais Andrade (São Paulo, SP, 1893 – 1945) (letra)
16. Viola quebrada (Toada de caipira) Aloysio de Alencar Pinto (Fortaleza, CE, 1912 – Rio de Janeiro, RJ, 2007) (arr.)
17. Sodade (Cantiga de roda de Minas Gerais) Luciano Gallet (Rio de Janeiro, RJ, 1893 – 1931) (arr.)
18. Tayêras (Chula de mulatas do Norte) Ubiratan (arr.)
19. Prenda minha (Folclore gaúcho) Ernani Costa Braga (Rio de Janeiro, RJ, 1888 – 1948) (arr.)
20. Capim di pranta (Folclore gaúcho), (Canto de trabalho de negros escravos)
Maura Moreira, contralto
Sonia Maria Vieira, piano
Rio de Janeiro, 1979
Ah, que orgulho! Hoje o P.Q.P.Bach tem a honra de disponibilizar a vocês as interpretações do fodástico pianista conterrâneo Arthur Moreira Lima sobre as obras do grande compositor paraense Waldemar Henrique! Moreira Lima, assim como um grupo considerável de colegas seus brasileiros, figura no rol dos melhores pianistas do planeta.
O CD é bipartido: a primeira parte contém nove canções ao piano com Moreira Lima e solistas de alta categoria: Adriane Queiroz, Maria Monarcha, Augusto Ó de Almeida e José Maria Cardoso. A segunda parte nos traz três brilhantes fantasias sobre temas henriquianos compostas para piano e orquestra por autores que, para grande parte de nós, são desconhecidos: Luiz Pardal cria a Suíte Waldemar, o russo Sergei Firsanov elabora uma Rapsódia sobre a obra de Henrique e Tynnôko Costa reelabora a canção Tajá-Panema. Um começo mais intimista e um final monumental. Show!
Muito, muito bom! Ouça, ouça!
Arthur Moreira Lima interpreta Waldemar Henrique
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Waldemar Henrique (Belém, PA, 1905-1995)
01. Uirapuru
02. Tambatajá
03. Matintaperera
04. Abaluaiê
05. Foi o Boto, Sinhá
06. Boi-Bumbá
07. Minha Terra
08. Senhora Dona Sancha
09. Essa Nêga Fulô Luiz Pereira de Moraes Filho (Luiz Pardal)
10. Suíte Valdemar, para piano e Orquestra, 1. Uirapuru
11. Suíte Valdemar, para piano e Orquestra, 3. Valsa
12. Suíte Valdemar, para piano e Orquestra, 3. Rolinha Sergei Firsanov (Moscou, Rússia, 1982)
13. Rapsódia para Piano e Orquestra Tynnôko Costa (Antonio Carlos Vieira Costa – Belém, PA, 19??)
14. Tajá-Panema, suíte para piano e orquestra
Arthur Moreira Lima, piano (faixas 1-14)
Adriane Queiroz, soprano (faixas 1, 2, 5 e 6)
Maria Monarcha, soprano (faixa 9)
Augusto Ó de Almeida, tenor (faixas 7 e 8)
José Maria Cardoso, baixo (faixas 3 e 4)
Orquestra Sinf do Theatro da Paz (faixas 10-14)
Barry Ford, regente (faixas 10-14)
P.Q.P.Bach, SEIS anos, com Carlos Gomes na pauta. Acredito que vocês, nossos ilustríssimos usuários/ouvintes, apreciarão.
Já vos aviso que este CD é um de meus prediletos! Guardei-o para uma ocasião especial e, como posto às quintas e o aniversário do P.Q.P.Bach foi cair justo nesse dia da semana, ei-lo aqui.
Para começar, o que mais um violista (mesmo que frustrado, como eu), amante das cordas e das óperas, poderia achar de um CD de compositores operísticos que se arriscaram nas peças de câmara? É simplesmente maravilhoso!
E aqui temos os corajosos e belíssimos trabalhospara grupos de cordas compostos pelo nosso conterrâneo Carlos Gomes e contemporâneos seus: Verdi, Gounod e Puccini, que se aventuraram nessa área, com a qual não tinham muita experiência, e se saíram muito, mas muito bem.
O Quarteto em Mi Menor, de Verdi, é passional, romântico, como não poderia deixar de sê-lo vindo de um compositor italiano: uma joia. O Quarteto em Lá Menor, de Gounod é tenso, visceral, problemático: parece que ele quer resolver algo e não consegue, resultando em uma música instigante e que prende inevitavelmente nossa atenção e nosso interesse. Já a Crisantemi, de Puccini, é obra mais sencilha, melancólica e sofrida, há muito sentimento em suas notas bem escritas. Cativante.
O ponto alto, não querendo ser bairrista, mas inexoravelmente o sendo, é a Sonata em Ré, a conhecida Burrico de Pau, de Carlos Gomes (quem é da região de Campinas vira e mexe ouve seu primeiro movimento quando aparece a propaganda do “Concertos EPTV”: repare). Essa é uma obra de gênio, sinceramente: jovial, vibrante (e Carlos Gomes já estava doente) e, pelo que percebo, a de mais difícil execução de todo o álbum. Pizzicatos, estacatos, pulos da primeira para a quarta corda, percussão das costas dos arcos nas cordas… Muito difícil e, pra melhorar, muito bonita. O último movimento, que dá nome à sonata, foi composto quando Carlos Gomes viu a sobrinha brincando com um cavalinho de madeira. Ele estava em seu auge composístico, com as obras mais melódicas e mais refinadas de sua carreira.
Para melhorar ainda mais, esse conjunto de peças inspiradas é executado pelo Quarteto Bessler-Reis, nome por demais importante no cenário camerístico nacional. Os que possuem um ouvido mais apurado perceberão um errinho, uma pequena escorregadela aqui ou lá, mas não se poderá negar que a execução do Besser-Reis tem o que é mais essencial à música: paixão. A execução é vibrante, carregada: eles tocam com vontade, mesmo, não são meros executores; há muito sentimento e as músicas saem com as cores mais vivas que a paleta musical as poderia pintar.
Um baaaaita CD! Digno da comemoração dos SEIS anos de existência deste blog. Ouça, ouça! Faça seu dia, sua semana melhor!
Palhinha: o Quarteto Vox Brasiliensis (não achei vídeo com o Bessler-Reis) tocando o Burrico de Pau:
Quarteto Bessler-Reis
Carlos Gomes e seus Contemporâneos
Antonio Carlos Gomes (Campinas, SP, 1836 – Belém, PA, 1896)
01. Sonata em Ré “O Burrico de Pau”, I. Allegro animato
02. Sonata em Ré “O Burrico de Pau”, II. Allegro Scherzoso
03. Sonata em Ré “O Burrico de Pau”, III. Adagio lento e calmo
04. Sonata em Ré “O Burrico de Pau”, IV. (Vivace) O Burrico de Pau Giuseppe Verdi (Roncole, Itália 1813 — Milão, Itália, 1901)
05. Quarteto em Mi menor, I. Allegro
06. Quarteto em Mi menor, II. Andantino
07. Quarteto em Mi menor, III. Prestissimo
08. Quarteto em Mi menor, IV. Scherzo-fuga (allegro assi; mosso) Charles Gounod (Paris, França, 1818 – Saint-Cloud, França, 1893)
09. Quarteto nº3 em Lá menor, I. Allegro
10. Quarteto nº3 em Lá menor, II. Allegreto quasi moderato
11. Quarteto nº3 em Lá menor, III. Scherzo
12. Quarteto nº3 em Lá menor, IV. Final. Allegreto Giacomo Puccini (Lucca, Itália, 1858 – Bruxelas, Bélgica, 1924)
13. Crisantemi
(Postado originalmente em 19 de abril de 2013, agora repostado com opção em formato FLAC)
Eu já estava com problemas internos por haver passado um tempo sem postar nada de música brasileira. Hoje sarei! E volto com um peso-pesado: Camargo Guarnieri. O cara é foda!
O tieteense Mozart Camargo Guarnieri tinha um pai fissurado em óperas: seus outros dois irmãos se chamavam Verdi e Rossini Camargo Guarnieri. Seu pai era barbeiro, mas ganhava a vida também como flautista, tocava em bailes e cinemas da pequena Tietê. Sua mãe era pianista. É de se esperar que, numa família como essas, as crianças saíssem inclinadas à música. E foi o que aconteceu: todos os filhos do casal tiveram iniciação musical com os pais desde muito pequenos. Talvez os pais de Mozart nunca imaginassem o quão longe o filho iria com a música, tornando-se um dos principais maestros e compositores do país.
Depois do primeiro e indiscutível lugar pertencente a Villa-Lobos no panteão dos compositores brasileiros do século XX , é bastante comum que coloquem Camargo Guarnieri logo ali do ladinho. O cara é muito bom e faz jus ao prenome de Mozart (ainda que não seja classicista). Suas obras, especialmente as sinfônicas e pianísticas, são de grande complexibilidade e denotam a mente brilhante do filho do barbeiro-flautista de Tietê.
Hoje postamos aqui a obra sacra integral de Camargo Guarnieri. Não é uma maravilha de CD, pois o coral tem alguns problemas (o timbre do conjunto não está muito bem limpo, há momentos em que se percebe as sopranos exagerando nos vibratos). No entanto, vale muito baixar o álbum, pois algumas peças são as únicas gravações que conheço: mal de música erudita brasileira: por ser pouco gravada, muitas vezes não temos muita opção.
Mais pra frente postaremos mais desse gênio que foi Camargo Guarnieri.
Apesar de qualquer senão, ouça, ouça! A obra de Guarnieri é belíssima! Deleite-se!
Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993)
Obra Sacra Integral
01. Salmo 23 (O Senhor é meu pastor)
02. Ave Maria – 1980
03. Ave Maria – 1937
04. Em Memória de meu Pai – Versículo do livro de Hebreus 13:6
05. Louvação ao Senhor (Salmo 150) Missa Dilígite, “Amai-vos uns aos outros”
06. I. Kirie
07. II. Gloria
08. III. Sanctus e Benedictus
09. IV. Agnus Dei Canto de Amor aos meus irmãos do mundo
10. I. Lento
11. II. Contemplativo
12. III. Confiante
Coral Camargo Guarnieri
Orquestra organizada para esta gravação
Flávio Santos, regente
2004
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
FLAC (223Mb) encartes a 5.0 Mpixel MP3 (109Mb) encartes a 5.0 Mpixel
Postado originalmente em 28 de março de 2013. Repostado com direito a FLAC
Pessoal, que baita CD!
Eu confesso aqui que sou meio grandiloquente e que geralmente me interessam mais obras compostas para orquestras completas. Conjuntos pequenos, especialmente duetos, algumas vezes acabam por me cansar pela monotonia que eventualmente causam. Mas monotonia não é nem de longe o que esses dois caras fenomenais – repito: FE-NO-ME-NAIS – fazem aqui.
O Duo Quanta, com o paulista Paulo Gazzaneo no piano e o paraibano Raïff Dantas Barreto no violoncelo, é imenso, amplo, generoso na interpretação das músicas. E eu, vergonhosamente, os desconhecia até há bem pouco tempo e, portanto, o encarte falará melhor que eu sobre a dupla:
Formado por artistas de sólida reputação no mercado artístico nacional, o Duo Quanta vem preencher uma lacuna ainda pouco abordada pelos músicos brasileiros: o repertório de nosso país para piano e violoncelo.
O presente CD, com obras de compositores de São Paulo, Rio de Janeiro e da Paraíba, marca a estreia do duo formado por Raïff Dantas Barreto e Paulo Gazzaneo no cenário artístico nacional. com a premissa principal de resgatar as obras brasileiras para esta formação. Em defesa da brasilidade de seu trabalho, o duo escolheu para este registro fonográfico o uso de instrumentos de fabricação nacional, evidenciando e pondo em prova a qualidade sonora de nosso acervo instrumental. Nas cordas do violoncelo de Saulo Dantas Barreto e na primazia dos harmônicos produzidos pelo piano Fritz Dobbert os artistas foram muito bem sucedidos no emprego da máxima capacidade sonora dos instrumentos utilizados, mostrando-nos que já dispomos de conhecimento para produzir instrumentos com a mesma propriedade dos grandes que a história da música já presenciou (extraído do encarte).
São 13 faixas que contemplam compositores brasileiros desde o romantismo, como o melodioso Henrique Oswald (seu Berceuse e sua Elegia são de grande inspiração), até os contemporâneos como João Linhares, cujo Côco é simplesmente genial, o difícil Osvaldo Lacerda, com uma Elegia e uma Cançoneta, e Amaral Vieira, com as intrigantes Elegia e Burlesca. Aparecem também, brilhantemente, os modernos: Ponteio e Dansa (escrita assim, à antiga) são as vibrantes obras de Camargo Guarnieri apresentadas neste álbum. Já seu colega José Siqueira, sempre complexo, sincopado e genial, completa o álbum com a espetacular Suíte Sertaneja, digna deste grande compositor que a concebeu.
Obras muito boas, escolhidas a dedo. Um baita repertório rico, com todas as síncopas, contratempos e outros tempos quebrados que são característicos de nossa música e tão nossos, intercalados com momentos de extremo lirismo, de melodias enlevantes.
Ouça, ouça! Deleite-se sem a menor moderação!
Palhinha: o Côco, de João Linhares (faixa 2):
Duo Quanta
Música Brasileira para Piano e Violoncelo
Contribuição inestimável do musicólogo Prof. Paulo Castagna. Sem preço, sem valor que pague.
(não achei no Amazon)
Alberto Nepomuceno, cearense de Fortaleza, foi um dos mestres da música erudita brasileira, lançou bases para a modernidade musical brasileira nas salas de concerto, inseriu ritmos e instrumentos populares na sala orquestra, e está completando 150 anos em 2014!
Personagem tão basal que é de nossa música, não poderia ficar sem menção ou homenagem aqui no PQPBach. Iniciaremos, a partir desta, uma série de postagens de sua música, para que conheçamos melhor sua bela, importante e rica obra!
Salve, Nepomuceno!
Se Carlos Gomes foi o maior compositor brasileiro do século XIX, Alberto Nepomuceno é, sem duvida, a figura máxima da música brasileira da virado do século.
Nascido em Fortaleza em 1864, começa seus estudos de música com o pai e, aos 19 anos, atua como violinista no Teatro Santa Isabel no Recife, onde inicia intensa atividade abolicionista e republicana.
Em 1885 encontra-se no Rio de janeiro como professor de piano do Club Beethoven, datando desta época sua amizade com Machado de Assis.
Parte para a Europa, em 1888, em viagem de estudos que vai se prolongar por sete anos, divididos entre Roma, Berlim, Viena e Paris, mantendo, a partir de então, contato com grandes personalidades musicais do seu tempo como Grieg, Mahler, Richard Struss, Saint-Saëns, D’Indy, Debussy e Milhaud.
Regressa ao Brasil em 1895, fixando-se no Rio de Janeiro, onde atuará como compositor. regente, professor e diretor do Instituto Nacional de Música.
Compôs ópera, música sinfônica, vocal e de câmara e foi incansável divulgador de música de seu tempo, apoiando e estimulando novos talentos como Glauco Velásquez, Heitor Villa-Lobos, Luciano Gallet e Lorenzo Fernandez.
É autor da mais importante coleção de canções da história da musica brasileira, pela quantidade, qualidade e pela associação feita com os mais expressivos poetas seus contemporâneos. Foi, acima de tudo, um pioneiro: suas canções apresentam textos em italiano, alemão, francês, sueco mas, principalmente, português, numa época em que nosso idioma era con siderado inadequado ao canto lírico ou de câmara.
(Extraído do encarte do álbum)
O cara era foda!
Ouça! Ouça! Deleite-se!
Alberto Nepomuceno (1864-1920)
Canções
01. Ora dize-me a verdade (João de Deus)
02. Amo-te muito (João de Deus)
03. Mater Dolorosa (Gonçalves Crespo)
04. Tu és o Sol (Juvenal Galeno)
05. Medroso de Amor (Moreninha, Juvenal Galeno)
06. Madrigal (Luís Guimarães Filho)
07. Coração triste (Machado de Assis)
08. Xácara (Orlando Teixeira)
09. O sono (Gonçalves Dias)
10. Dolor Supremus (Osório Duque-Estrada)
11. Soneto (Coelho Neto)
12. Turqueza (Luís Guimarães Filho)
13. Hidrófana (Luís Guimarães Filho)
14. Trovas 1 (Osório Duque Estrada)
15. Trovas II (Magalhães de Azeredo)
16. Coração Indeciso (Frota Pessoa)
17. Canção (Fontoura Xavier)
18. A Grinalda (Magalhães de Azeredo)
19. A Despedida (Magalhães de Azeredo)
20. Sempre (Afonso Celso)
21. Dor sem Consolo (Afonso Celso)
22. Anoitece (Adelina Lopes Vieira)
23. A jangada (Juvenal Galeno)
Anna Maria Kieffer, mezzo-soprano
Achille Picchi, piano
É preciso denunciar sempre e de forma obstinada, que a memória cultural brasileira não tem merecido dos governos de nosso Pais, atenção respeitosa. O Departamento Estadual de Cultura do Espirito Santo, através da Divisão de Música Erudita, dá seu grito de alerta com o I Festival de Música Capixaba. Nas noites do Festival, o Teatro Carlos Gomes, acolheu variadas formações instrumentais. Juri e Povo puderam ouvir e avaliar a potencialidade das vinte e seis obras selecionadas. Os prêmios de 1° lugar e de público obtiveram os compositores Carlos Cruz, com a sonatina para piano, e Mauricio de Oliveira, com o concerto para piano e orquestra, respectivamente. O prémio de melhor intérprete capixaba, ficou com o jovem pianista Manolo Cabral. Inteligentemente, o DEC, via Divisão de Música Erudita, cuidou de preservar e documentar esta manifestação cultural Capixaba, editando a obra premiada de Carlos Cruz e registrando em disco as doze obras finalistas. Ai está, um exemplo a ser imitado pelos demais órgãos oficiais de outros Estados da Federação.
MÚSICA É ARTE, É DESENVOLVIMENTO Desenvolvimento e um processo. e também produto, que transcende o simples acumulo material, envolvendo e requerendo o concurso das diferentes áreas da atividade humana, sendo a expressão objetiva daquilo que chamamos civilização Dai que o apoio a iniciativa ligadas a criação, de um modo geral. e à criação artistica em particular, é próprio de um banco que pretende ser ‘de desenvolvimento’ Entende o BANDES que eventos como esse I Festival de Música Erudita Capixaba estimulam a criação musical do Espirito Santo e propiciam o surgimento/valorização de compositores, intérpretes e regentes. Entende. também, que o alcance sócio-cultural da criação musical, a exemplo do que ocorre com o conhecimento humano de um modo geral, só se concretiza quando ela é posta à disposição dos seus consumidores: interpretes e ouvintes. Ao participar desse acontecimento o BANDES esta atuando nas matrizes próprias do processo social que chamamos desenvolvimento’
(Extraído do encarte do álbum)
Ouça! Ouça! Deleite-se!
I Festival de Música Erudita Capixaba
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Terezinha Dora Abreu de Carvalho
01. Tema Capixaba Carlos Cruz
02. 3 peças para violão Alceu Camargo
03. Estudo Seresteiro Carlos Cruz
04. Invenções a 2 vozes Alceu Camargo
05. Valsa da Saudade Maurício Rodrigues de Oliveira
06. Preludio n° 1, Angústia Alceu Camargo
07. Nostalgia Carlos Cruz
08. Sonatina
09. Igreja dos Negros Alceu Camargo
10. Caprichosa
11. Estudo em Si Menor Terezinha Dora Abreu de Carvalho
12. Dissonâncias e Consonâncias
01. Coral do DEC, Cláudio Modesto dos Reis, Regente
02. Hélio Rodrigues, violão
03. Lia Leal Barbosa, piano
04. Antônio Pádua dos Reis, flauta / António Paulo Filho, Clarinete
05 e 06. Manolo Cabral, piano
07. Ignácia Nogueira, canto / Laudelina Marreco Pádua, piano
08. Carla Dietze, piano
09. Carla Dietze, piano / Ernesto dos Santos Silva Filho, piano
10, 11, e 12. Célia Nascimento Ottoni, piano
As três obras foram gravadas ao vivo. Compostas para os Concursos Latino-Americanos de 1978 e 1979, respectivamente, elas têm em comum o envolvimento com material preexistente. Assim, RELAX-REQUIEM origina-se no Choral da Cantata nº 60 de J.S.Bach, TRUNCA DINÂMICA nasce de um módulo rítmico extraído da chacarera, música popular argentina e, em ASFALTANDO O NORDESTE emergem e submergem melodias características nordestinas. Todavia não se trata de paródias.
ERNST WIDMER atua na Universidade Federal da Bahia desde 1956. É Professor Titular e, atualmente,Coordenador Central de Extensão. É membro fundador do “Grupo de Compositores da Bahia” e, com Piero Bastianelli, do Conjunto “Música Nova” da URBA. Foi Diretor dos Seminários de Música e, posteriormente da Escola de Música e Ar-tes Cênicas. Dirigiu o “Madrigal da UFBA” de 1958 a 1969. Coordenou os “Cursos de Música Nova”, as “Apresentações de Compositores da Bahia” e, desde 1974 os “Festivais de Artes Bahia”. Foi distinguido como compositor em numerosos concursos nacionais e internacionais: Com RELAX-REQUIEM, composto em 1978, obteve o 1º Prêmio. As variações sobre o Choral de J. S Bach não obedecem à forma tradicional, mas com exceção do movimento central, Memoria, cada um dos demais movimentos varia apenas um trecho do Choral: o 1º, Requiem, baseia-se nas primeiras 3 frases, o 2º, Dies Irae e o 4º, Lacrimosa, na seguinte e o último, Lux Aeterna, na frase final. O movimento central, Memoria, simétrico numa obra simetricamente concêntrica, expõe o Choral na sua íntegra evocando o passado: o canto fúnebre que vira levitação do Requiem o andar sobre águas revoltas do Dies Irae, e prepara o futuro: o pranto do Lacrimosa e a lucidez do Lux Aeterna.
HANS JÜRGEN LUDWIG iniciou seus estudos de música na sua cidade natal, formando-se Compositor em 1981, pela Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA. Seus proessores de orquestração e composição foram Agnaldo Ribeiro, Fernando Cerqueira e Ernst Widmer. A peça ASFALTANDO O NORDESTE foi selecionada e estreada em 1979, no Concurso Latino-Americano de Composição. A obra dispensa maiores comentários podendo ser entendida como denúncia de choque ecológico.
ALFREDO ESTEBAN REY fez seus estudos musicais com Edgar Spinassi, Eduardo Frazon, Haydée Gerardi e Rodolfo Achourron. TRUNCA DINÂMICA, da série “3 TRUNCAS para pequenos grupos instrumentais”, foi igualmente selecionada e estreada em 1979, no Concurso Latino-americano de Composição. Esta peça apresenta-se com a rudeza e a ingenuidade próprias da origem geográfica da chacarera, a província de Santiago del Estero. O termo “trunca” deriva de uma das características próprias desse ritmo folclórico: suas frases terminam no último tempo fraco do compasso 3/4 [6/8]. Os seguidos trechos de silêncio lhe conferem uma arritmia contrastante. O piano aparece como austero personagem principal. A sua utilização resume-se frequentemente no puramente rítmico. Sendo uma obra que nasce de um ritmo definido, exclui instrumentos de percussão e adota uma misteriosa série de clusters.
CONJUNTO MÚSICA NOVA DA UFBA, 10 ANOS (1973-1983)
Avançando sobre as idéias iniciais formuladas como ponto de partida para os trabalhos de ensino e extensão da Escola de Musica e Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, o Conjunto Música Nova consolidou sua imagem no cenário nacional e internacional, como componente especializado de uma época musical. Idealizado em 1973, tem o Conjunto exercido sua missão com sucesso ao longo desses 10 anos, apoiando a geração dos novos compositores brasileiros, ao mesmo tempo em que estabeleceu um envolvimento maior no estímulo à criatividade, na inovação do conhecimento e, até na reformulação de modelos didáticos, fatores que representam hoje o esteio da cultura musical contemporânea. Participou dos mais significativos eventos artísticos do país e do exterior, tais como: “II e III Bienais de Música Brasileira Contemporânea” (Rio de Janeiro, 1977 e 1979), tendo na oportunidade três obras gravadas em discos e video-tape; “Música Brasileira Hoje” (São Paulo, 1976); “Begegnung mit Brasilien” (Colônia, Bonn e Frankfurt, 1980);”Festivais de Arte*Bahia”(Salvador, 1975/82), realizando três concurso nacionais e dois latinoamericanos de composição; tournês de concertos no país e no exterior. E se não existissem outras razões para justificar sua presença, bastaria considerar a obra que, brotando espontaneamente, foi surgindo aos poucos e materializada em resulta dos que em termos de concepção apresentam hoje dimensões de inegável relevância.
(texto extraído do encarte)
Ouça! Ouça! Deleite-se!
Conjunto Música Nova da UFBA
Widmer * Ludwig * Rey
Ernst Widmer (Aarau, suíça, 1927-1990)
Relax – Requiem em forma de variações sobre um Choral de J.S.Bach
01.Requiem
02. Dies Irae
03. Memoria
04. Lacrimosa
05. Lux Aeterna Hans Jürgen Ludwig (São Paulo, 1952)
07. Asfaltando o Nordeste Alfredo Esteban Rey (Argentina, 1938)
08. Trunca Dinámica
Conjunto Música Nova da UFBA
Piero Bastianelli, Regente
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1983
O fim de semana traz concertos especiais em São João del-Rei, Tiradentes e Mariana, com a participação da organista portuguesa Edite Rocha e do organista mineiro Marco Brescia. Confira:
04/09 – quinta-feira
18h30 – Edite Rocha – participação de Elisa Freixo
Museu Regional de São João del-Rei
Entrada franca (capacidade de público: 60 pessoas sentadas)
05/09 – sexta-feira
11h30 – Marco Brescia
Catedral da Sé de Mariana
Ingressos a partir de R$28
20h – Edite Rocha
Igreja Matriz de Santo Antônio – Tiradentes
Ingressos a R$30 (para idosos e estudantes, a R$ 20)
07/09 – domingo
12h15 – Marco Brescia
Catedral da Sé de Mariana
Ingressos a partir de R$ 28
A grande e heroica saga pequepiana de descobrimento das obras barrocas do ocidente compostas no oriente chega ao seu terceiro álbum. Depois das Vésperas à Virgem Maria na China (aqui) e do Concerto Barroco na Cidade Proibida (aqui), por que não esta delirante Missa dos Jesuítas de Pequim?.
(<<< ao lado a primeira e a segunda capas do álbum). É mais uma daquelas coisas exóticas que, ao mesmo tempo em que causam estranhamento, encantam e maravilham. São sentimentos que parecem ambíguos, mas não são: do estranhamento tiramos muitas de nossas mais pungentes e felizes recordações. E como não achar no mínimo diferentes as composições já tanto orientalizadas de Joseph-Marie Amiot, ou ficar bestificado com a elegância das sonatas de Teodorico Pedrini e com a imensidão sugerida pelos cânones e contracantos de Charles d’Ambleville? Tudo isso é exponencializado pela execução do grupo XVIII-021 Musique des Lumières, que mantém a elevada qualidade apresentada nas outras duas obras aqui postadas.
Mais uma pérola do oriente! Ouça! Ouça! Deleite-se!
Palhinha: Alguns trechos das peças de Amiot:
http://youtu.be/5b_ZjTnAGV8
Messe des Jesuites de Pekin
Concerto barroco na Cidade Proibida
Joseph-Marie Amiot (1718-1793)
01. Actiones Nostras & C.
02. Acte D’humilité Charles d’Ambleville (séc. XVI – 1637)
03. Kyrie Joseph-Marie Amiot (1718-1793)
04. Prélude “Pin, Bambou, Prunus” / Aspersion De L’eau Charles d’Ambleville (séc. XVI – 1637)
05. Gloria
06. Credo
07. Sanctus Joseph-Marie Amiot (1718-1793)
08. Élévation De L’Hostie / Élévation Du Calice Simon Boyleau (ativo em 1544–1586)
09. Per La Natività Della Beata Vergine Joseph-Marie Amiot (1718-1793)
10. Salve Regina Simon Boyleau (ativo em 1544–1586)
11. Per La Natività Della Beata Vergine Joseph-Marie Amiot (1718-1793)
12. L’oie Qui Se Pose / Sanctissima Simon Boyleau (ativo em 1544–1586)
13. Per La Natività Della Beata Vergine Joseph-Marie Amiot (1718-1793)
14. Pater Charles d’Ambleville (séc. XVI – 1637)
15. Agnus Joseph-Marie Amiot (1718-1793)
16. Communion
17. Communion Teodorico Pedrini (1671-1746)
18. Sonate XII, Adagio
19. Sonate XII, Pastorale Joseph-Marie Amiot (1718-1793)
20. Prière À Jésus-Christ
21. Prière Au Saint Sacrement
22. Prière Après L’Office
23. Le Chant Des Oies Sur Leur Passage
24. Ave Maria
Ensemble Meihua Fleur De Prunus
Chœur Du Centre Catholique Chinois De Paris
François Picard, regente do coro
XVIII-21 Musique des Lumières
Jean-Christophe Frisch, regente
Temple Bon Secours, Paris, Junho de 1998
Sabe raridade? Então, você está diante de uma daquelas! inestimável.
Trata-se do louco e feliz encontro de dois organistas franceses de peso, Francis Chapelet e Uriel Valedeau (e de um grupo de musicistas que os acompanhou) com a música folclórica do Coro de los Niños y La Danza Cápac Qolla, na estupenda e delirante capela de Andahuaylillas, no Peru, que possui não um, mas DOIS órgãos!
Eu gostaria de escrever uma batelada de coisas aqui, pra que vocês entendessem melhor que supimpa é esse álbum, mas já são 3:25h e o sono me abate terrrivelmente. Quem sabe com uma palhinha (aí abaixo), vocês se animam a baixar.
Tesourinho lá do Peru! Ouça! Ouça! Deleite-se!
Amostra: A Hanaq Pachap (faixa 13):
Ah, não aguentei e acrescentei a Toccata de Zipoli, pois o cara não brincava em serviço!
Fiesta Andina
Órganos Históricos de Andahualillas
Anônimo
01. Villancico Tradicional
02. Dança Ritual Qollas
03. Improvisação Órgão da Epístola *
04. Improvisação Órgão do Evangelho ** Francisco Correa de Arauxo (Sevilha, Espanha, 1584 – Segóvia, Espanha, 1654)
05. Cantochão da Imaculada Conceição ***
06. Tento de meio registro de quarto tom [Ev.] *
07. Tento cheio de sexto tom [Ep.] ** Pietro Philippi (c. 1560 – 1628)
08. Fantasia [Ev.] * Domenico Zipoli (Prato, Itália, 1688 – Córdoba, Argentina 1726)
09. Toccata [Ev.] ** Jan Pieterszoon Sweelinck (Deventer, Holanda, 1562 – 1621)
10. Variaciones de ‘Von der Fortuna werd’ich getrieben’ [Ep.] *
11. Variaciones de ‘Ach Gott Von Himmel sieh darein’ [Ep.] * Ruggiero Trofeo (Mântua, Itália, 1550 – Turim, Itália, 1614)
12. Cancion XIX a 8 *** Anônimo
13. Hanaq Pachap Kusikuinin ***
14. Reportagem realizada pela Rádio Francesa
Juan Capistrano Pecca, regente
Francis Chapelet, órgão (*)
Uriel Valedeau, órgão (**)
Francis Chapelet, Uriel Valedeau, em ambos os órgãos (***)
El Coro de los Niños y La Danza Cápac Qolla de Andahuaylillas
Les Jeues Musiciens Baroques
Andahuaylillas, Peru, 2007-2008
Serie de 13 programas semanales idealizados y presentados por Paulo Castagna los martes de 11:00 a 12:00 de la mañana, del 6 de marzo al 29 de mayo de 2012, por la Radio Cultura FM de Sao Paulo (103,3 MHz), como parte del proyecto Ideas Musicales. Programas disponibles para audición online y download, en la página http://paulocastagna.com/alma-latina/
Traducción: Félix Eid
Programa 01/13 – Música para la catequesis indígena
(presentado el 6 de marzo de 2012)
¡Hola! Soy Paulo Castagna y, en esta serie, escucharemos música producida en las Américas durante la etapa de dominio europeo, desde el descubrimiento hasta los inicios del siglo XIX.
Sobre ese tema, normalmente tenemos muchas preguntas: ¿Existieron compositores americanos en la época de Palestrina, Vivaldi o Mozart? ¿Cómo fue la relación entre la música indígena o africana y la música europea? ¿Es realmente cierto que músicos indígenas cantaron, tocaron y hasta compusieron música sacra al estilo europeo? ¿Y es verdad que usaron instrumentos construidos por ellos mismos, en pleno siglo XVIII?
En los 13 programas de esta serie intentaremos responder algunas de esas preguntas y formular otras, que talvez nos estimulen a conocer un poco más de nuestro interesante pasado musical.
En el programa de hoy: Música para la catequesis indígena.
Escuchamos Dú nhãre, un canto de los Indios Xavante, que son una de las dos mil naciones indígenas que existían solamente en Brasil antes del “descubrimiento”.
Cuando españoles y portugueses iniciaron la exploración de las Américas, tuvieron que convertir a los pueblos indígenas en el proyecto europeo y luego notaron que la preservación de su cultura no los ayudaría mucho en esa tarea, iniciando, así, la transmisión y la enseñanza de la cultura europea a los nativos de América. Buena parte de ese trabajo fue realizada por los misionarios religiosos, principalmente aquellos de la Compañía de Jesús. También llamados jesuitas, esos misionarios criaron aldeas y misiones para la catequesis y conversión de los indígenas al cristianismo.
Durante el proceso de catequesis, fue común que los propios jesuitas escribieran música al estilo europeo para la transmisión de los valores religiosos básicos, y así substituir la música indígena tradicional por la música sacra cristiana. Un detalle importante: la mayor parte de las canciones destinadas a la catequesis era compuesta a la manera europea, pero en la lengua de los propios indígenas. Vamos a escuchar tres ejemplos de autoría anónima, compuestos para la catequesis de los indios Guaraní de América del Sur, entre fines del siglo XVII e inicios del siglo XVIII, con el Ensemble Louis Berger, bajo la dirección de Ricardo Massun. Los ejemplos, cantados en guaraní, son Tupãsy Maria, Tatá guassú y Hára Vale Háva.
Escuchamos Tupãsy Maria, Tatá guassú y Hára Vale Háva, tres cantos de autoría anónima en Guaraní, con el Ensemble Louis Berger, bajo la dirección de Ricardo Massun.
La música para catequesis tenía como primera finalidad la atracción de los indios hacia la cultura europea, especialmente el cristianismo. En ese repertorio se evitaba la dificultad técnica y se privilegiaba el canto colectivo, especialmente de niños, que aprendían más fácilmente que los adultos los nuevos valores religiosos.
Ejemplo interesante es el de las canciones compuestas en el siglo XVIII para los indios araucanos de donde es actualmente Chile, por el jesuita Bernhard Von Havestadt. Escucharemos tres de esas canciones en lengua araucana, con el Sintagma Musicum de la Universidad de Santiago de Chile y el Coro infantil de la Comunidad Huilliche de Chiloé. Los ejemplos son: Yesús Cad, Dios Ñi Votm y Quiñe Dios.
Escuchamos Yesús Cad, Dios Ñi Votm y Quiñe Dios, tres composiciones del siglo XVIII en lengua araucana, por el jesuita Bernhard Von Havestadt, con el Sintagma Musicum de la Universidad de Santiago de Chile y el Coro infantil de la Comunidad Huilliche de Chiloé.
Aunque predomine la melodía acompañada en el repertorio catequético, también son conocidos algunos ejemplos polifónicos. El más antiguo de ellos, de autoría anónima, fue impreso en Cuzco, en Perú, en 1631, como ejemplo musical de un libro intitulado Ritual Formulario, de Juan Pérez Bocanegra. Se trata de Hanaq Patchap cussicuinin, en lengua quechua, que escucharemos con los Madrigalistas de la Universidad de Playa Ancha de Chile, bajo la dirección de Alberto Teichelmann.
Escuchamos Hanaq Patchap cussicuinin, composición en lengua quechua, de autoría anónima del siglo XVII, con los Madrigalistas de la Universidad de Playa Ancha de Chile, bajo la dirección de Alberto Teichelmann.
De las misiones jesuíticas de la actual Bolivia, escucharemos ahora una composición de autoría anónima intitulada Zoipaqui, escrita a mediados del siglo XVIII en la lengua de los indios Chiquitos. La refinada elaboración del acompañamiento de esta melodía, cuya forma es la de las Arias de las cantatas europeas, puede haber sido otro de los atractivos destinados a cautivar la atención de los indígenas a la cultura cristiana. La interpretación de Zoipaqui estará a cargo del Ensemble Elyma, bajo la dirección de Gabriel Garrido. Interesante observar que el autor mantuvo, en el texto chiquitano, el nombre latino “Santa María”.
Escuchamos Zoipaqui, aria en chiquitano de autoría anónima, con el Ensemble Elyma, bajo la dirección de Gabriel Garrido.
Además de las canciones en lenguas nativas para la catequesis cristiana, fueron compuestas piezas más elaboradas, para un envolvimiento indígena cada vez mayor con el ritual Cristiano, lo que también incluía el uso del latín y de la polifonía vocal. En algunos casos hubo mezcla del latín con idiomas indígenas, como ocurre en un Oficio para la Bendición del Santísimo Sacramento escrito a fines del siglo XVII o inicios del siglo XVIII para los indios Abenaki de la Nueva Francia, que corresponde al actual Quebec. De este Oficio, cantado en latín y Abenaki, escucharemos cuatro composiciones con el Studio de Musique Anciènne de Montreal, bajo la dirección de Christopher Jackson: O Jesu mi dulcis, Ave Maria, Hæc dies, e Inviolata.
Escuchamos O Jesu mi dulcis, Ave Maria, Hæc dies, e Inviolata, en latín y Abenaki, de autoría anónima, con el Studio de Musique Anciènne de Montreal, bajo la dirección de Christopher Jackson.
Además de la música para la catequesis en idiomas indígenas, los jesuitas entrenaron a los nativos americanos para el canto de música litúrgica en misas y oficios divinos, destinada, por lo tanto, a la celebración de las ceremonias cristianas. La documentación conocida demuestra que eso ya era hecho en el siglo XVI, pero los ejemplos más antiguos preservados son del final del siglo XVII. Es el caso de este Salmo 112 para Vísperas Laudate pueri Dominum, de autoría anónima, escrito en latín y probablemente cantado y tocado por los indios Guaraní de las misiones del actual Paraguay. Escucharemos esta composición con el Ensemble Elyma, bajo la dirección de Gabriel Garrido.
Escuchamos, de autoría anónima, el Salmo 112 Laudate pueri Dominum, cantado en las misiones jesuíticas probablemente del actual Paraguay a fines del siglo XVII, aquí interpretado por el Ensemble Elyma, bajo la dirección de Gabriel Garrido.
Ante los ejemplos escuchados, queda claro que la música usada por los misionarios buscaba la transmisión de la cultura musical europea y no la creación de un estilo americano propio. En una Encíclica de 1749, el entonces papa Benedicto XIV declaró: “el uso del canto armónico y de los instrumentos musicales, sea en las Misas, Vísperas y otras funciones eclesiásticas, fue tan lejos que llegó hasta la región del Paraguay”. Y más adelante afirma que “no existe cualquier diferencia en relación al canto y al sonido, en las Misas y Vísperas celebradas en nuestras regiones y en aquellas”.
Sobrevivieron pocas de las naciones indígenas que recibieron la catequesis. Una de ellas es la nación Guaraní, cuya música actual posee nítidas marcas de la música europea, que éstos asimilaron desde la época de la catequesis. Interesante, en la música guaraní, es que tales marcas son predominantemente originarias de la música antigua europea y no de la música más reciente. Como ejemplo, escucharemos Nhanerámoti karai poty, cantado por indios Guaraní del litoral del Estado de Sao Paulo y de Rio de Janeiro y acompañado por guitarra y rabeca guaraní.
Escuchamos Nhanerámoti karai poty, cantado por indios Guaraní del litoral del Estado de Sao Paulo y de Rio de Janeiro, ejemplo que demuestra la inclusión de elementos de la música antigua europea en la música tradicional Guaraní.
Ese fenómeno también ocurre en otras culturas indígenas americanas, como es el caso de los Guarayo de la actual Bolivia, región que también recibió catequesis cristiana. Como ejemplo, escucharemos Yeyú, canto de los indios Guarayo, que éstos acompañan con violines hechos de tacuaras.
Escuchamos Yeyú, canto de los Indios Guarayo de Bolivia, con acompañamiento de violines de tacuaras.
La exploración de las Américas transformó profundamente el mundo y ayudó a Europa a convertirse en el centro económico y cultural de la humanidad durante varios siglos. Pero ese proceso no favoreció mucho a las naciones indígenas americanas, cuya población disminuyó a cerca del 20% solamente en el final del primer siglo de dominio europeo. Actualmente, los pueblos indígenas constituyen apenas 5% de la población de las Américas. En el caso brasilero, se estima, en estos 500 años, una reducción de la población indígena de cerca de 4 millones, a menos de 300 mil personas.
Por otro lado, conocer mejor esa historia puede ayudarnos a cambiar nuestra relación con el pasado y construir un futuro diferente. Es lo que haremos en los próximos programas, escuchando un poco más de música de las Américas bajo dominio europeo.
En el programa siguiente: La sofisticación musical de las misiones jesuíticas.
Yo soy Paulo Castagna y vuelvo la próxima semana con otro Alma Latina, programa de la serie Ideas Musicales. Este programa tuvo la producción de Ralf Schwarz y trabajos técnicos de Almir Amador. Buena semana y hasta entonces.
CD Alma Latina 01/13 – Música para la catequesis indígena
1. Dú nhãre
2. Tupãsy Maria, Tatá guassú e Hára Vale Háva
3. Yesús Cad, Dios Ñi Votm e Quiñe Dios
4. Hanaq Patchap cussicuinin
5. Zoipaqui
6. O Jesu mi dulcis, Ave Maria, Hæc dies, e Inviolata
7. Laudate pueri Dominum
8. Nhanerámoti karai poty
9. Yeyú