Zarpei em direção ao Sul do país. Estou em Santa Catarina pra ver o quanto a filial volante do Café do Rato Preto apurou no mês de outubro, que é supermovimentado naquele Estado (oktoberfest aqui, oktoberfest acolá…).
Passarei dois dias especificamente em Brusque, cidade natal do maior compositor catarinense, que chegou aos oitenta anos de idade em 2008: Edino Krieger.
O CD que vai aqui postado contém cinco obras de três fases distintas de Krieger: a Suíte e o Divertimento para cordas, neoclássicos e nacionalistas, da década de 50, pós-expurgação de Koellreuter; Ludus e Estro, pós-expurgação nacionalista, altamente seriais; e o absurdamente estupendo Canticum Naturalle.
Se você acha bonito os passarinhos cantando na Alvorada de Lo schiavo de Carlos Gomes, no Choros n° 10 do Villa ou mesmo na rica Pássaros exóticos de Messiaen, vai se impressionar profundamente com a Floresta Amazônica reconstituída instrumento por instrumento (ou bicho por bicho) nos dois primeiros minutos da peça de Krieger e com o sirênico (ou iárico, “de Iara”, mais propriamente falando) vocalise para voz feminina na parte central – e vai perder o fôlego com a tempestade tropical que cai no último minuto.
Canticum Naturalle não alivia pra nenhum instrumento da orquestra – que requer piano, celesta, harpa e vasta percussão. Todos os naipes têm passagens superdifíceis, de modo que não é toda sinfônica que tem preparo pra dar conta dela. Existe um abismo entre as versões aqui postadas – a da Rádio MEC, mesmo com o grande Eleazar de Carvalho, não chega perto da orquestra alemã que Krieger regeu.
De longe essa é a obra-prima do octogenário compositor catarinense e item certo no top ten do cânone sinfônico nacional. Uma partitura sui generis e inigualável.
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01. Suíte para cordas (1954)
02. Divertimento para cordas (1959)
03. Ludus Symphonicus (1965)
04. Estro Armonico (1975)
05. Canticum Naturalle (1972)
Orquestra Sinfônica da Rádio MEC, regida por Eleazar de Carvalho
Meio-soprano: não sei.
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Quem não estiver a fim de adentrar no universo musical de Edino Krieger agora, baixe somente esta gravação de Canticum Naturalle, mas uma orquestra que dá conta do recado e que teve o próprio compositor regendo. Enfim: arquivo imperdível.
Orquestra Filarmônica do Sul da Vestfália, regida por Edino Krieger
Soprano: Evi Zeller
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Quem quiser que eu poste a famosa Sonatina do Krieger, bBasta pedir nos comentários: ela sairá na semana que vem, se Canticum Naturalle tiver boa saída, claro.
CVL
Eu conhecia muito pouco do Edino, e esse post, que post!!!!
Incrível, isso é música da melhor qualidade possível, principalmente o Canticum Naturalle.
Não vou escrever mais por não achar palavras.
Continuem assim com a mesma qualidade de sempre, vida longa a P.Q.P. Bach!!!!
Olá Villa!
Grande postagem do Canticum Naturalle.
Excelente “performance”.
Agora, após ouvi-la e enquanto escrevo veio-me uma indagação e a coloco apenas por não ter amadurecido as respostas possíveis, pois,as criações de ambientes são, realmente, muito ricas. Os momentos do depertar (como aquela flauta-uirapurú) e as sucessivas mesclas bem dosadas por uma instrumentação coerente (a voz feminina tem requícios de Villa-Lôbos ou fui eu quem imaginou isto?) geram riquezas de grande interação com os mútiplos cantares da natureza.
Então, a questão que resvalou, sem aprofundamente, enquanto estou aqui escrevendo, a qual pode não ter qualquer sentido musical mas, com certeza, o tem como ente de comunicação é a seguinte: é uma obra descritiva? …é uma obra imitativa? … ou não é nada disto, sendo, apenas um obra musical?
Na realidade eu estavado, talvez, (ao me colocar no espírito do Edino) tentando desvendar a interação desse mesmo espírito com as riquezas do cognitivo que o levaram às escolhas que fez e à maneira de as organizar como composição.
Ou seja: talvez eu estivesse buscando uma forma.
Deve ser uma das muitas tolices que surgem, assim, sem que nem para que.
Um grande abraço.
Edson
Até onde eu conheça a obra, Edson, ela é música absoluta, não programática, mas cheia de elementos imitativos – e de fato essa recriação sinfônica da Amazônia era o intuito de Krieger.
Por sinal, vou postar a Sonatina, as duas primeiras sonatas para piano e os Estudos Intervalares. O senhor conhece essas obras, para preencher o futuro post com comentários?
Oi Villa.
Acabei de ouvir o Eleazar.
Bem, ele quase fez milagre. Foi bem melhor do que eu esperava.
Mas mesmo os milagres parecem, de fato, milagres em confronto com a realidade.
O Edino é mesmo um grande compositor e é ótimo que você poste mais obras dele.
De Marlos Nobre também.
Agradeço o seu convite.
Pessoalmente, no momento, eu prefiro continuar só como ouvinte.
De qualquer forma conheço, suficientemente bem, apenas a Sonatina.
Talvez, também, todos estejamos interessados nas Sonatas das quais você fez ragados elogios a Clara Sverner.
Que tal postar algumas?
Bem, agora vou ouvir o Guia Prático.
A comparação com as Cenas Infantis e com o Microcosmos me renovaram a curiosidade.
Parabéns e um grande abraço.
Edson
A mozzo-soprano no Canticum Naturale é a Maria Lúcia Godoy. E nem todas as peças foram regidas pelo Eleazar. Na verdade, só o Canticum Naturale. Tristemente meu cd está emprestado, mas dá para confirmar algumas coisas aqui: http://www.arkivmusic.com/classical/Name/Edino-Krieger/Conductor/6618-3
Gratíssimo, Wellington.
Guten Abend
Eu sou coterraneo do Edino Krieger, ele nasceu na mesma cidade que eu. É um filho da minha cidade de grande valor, e essa obra é bem claro e demonstra a sua genialidade, abraços
Quero parabeniza-los pelo site, pois achei-o bem ilustrativo, com excelentes informações.
Estou precisando adquirir partituras do Edino krieger,mas não consigo encontra-las. Caso saibam, gostaria que me informassem.
MAIS UMA VEZ, PARABENS
Abraços
Eula
Esse aqui tb sumiu. Por favor, atualiza, obrigado.
Esse aqui tb sumiu. Por favor, atualiza, obrigado. Gosto muito do Edino Krieger.
É uma pena 🙁 o link nao ta funcionando, quando possível atualiza pra gente!! obrigadoo!!