In Memoriam Arthur Moreira Lima – Coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – Parte 2 de 11: Volumes 2, 11, 19 e 25 (Chopin I, III, VI & VIII)


Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a segunda das onze partes de nossa eulogia ao gigante.


Partes:   I   |   II   |   III   |   IV   |   V   |   VI   |   VII   |   VIII   |   IX   |   X   |   XI

Arthur, desde o começo, foi Arthurzinho – não só por ser notável prodígio antes mesmo que suas perninhas em calças curtas alcançassem os pedais do piano, mas também por ter recebido o nome do pai e isso tornar de mister um diminutivo para que em sua casa não se confundissem os Arthures.

Arthurzinho, ou Juninho?

Arthurzinho tinha três anos quando, desgraçadamente, perdeu Arthur. A tristeza da orfandade marcaria seus primeiros anos de vida, nos quais mambembou entre cidades e casas de familiares, e esse turbilhão de inconstância o propeliu, desde muito cedo, a buscar um melhor futuro. Sua dedicação encarniçada aos estudos – primeiro como bolsista no Liceu Francês, e depois no Colégio Militar do Rio de Janeiro – sempre o manteve entre os mais condecorados estudantes. Vislumbrava, até graduar-se, um horizonte como engenheiro militar do Instituto Técnico da Aeronáutica, e provavelmente teria tomado esse rumo, não fosse o chamado daquela irresistível intercorrência que tanto amamos, a Música.

Depois de muito ouvir três gerações de mulheres – sua avó Lulu, a mãe Dulce e a irmã Luiza – a tocarem o piano alemão da matriarca, estreou na grande Arte em ainda maior estilo: pedindo para tocá-lo ele mesmo e, do mais puro nada, sair de seus dedinhos de seis anos a peça que a mãe estudava. Recobrando-se do pasmo, as parentes fizeram o possível para instrui-lo no teclado. O moleque, no entanto, era mais rápido, e já tinha esgotado os recursos pedagógicos das pianistas da família quando tocou o primeiro recital solo, aos oito anos. Em seguida, tornou-se aluno da grande professora Lúcia Branco. Sob essa orientadora formidável, Arthurzinho começou a dar de ombros a suas aspirações engenheiras e sua carreira seguiu, como costumava dizer, feito um Dodge: aos nove anos, deu seu primeiro recital profissional, no Theatro da Paz de Belém, e venceu o Concurso Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica Brasileira, feito que repetiria aos doze; aos dezesseis, ganhou uma bolsa de estudos em Paris, após vencer o concurso da Rádio Ministério da Educação, que postergou para concluir seus estudos no Colégio Militar; e aos dezessete, após chegar às finais do Primeiro Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, um novo convite para Paris veio da maneira mais irrecusável, ao partir da mítica Marguerite Long, membra do júri e muito impressionada com o jovem aluno-tenente.

– Est-ce que vous parlez de moi?

Se esses seus primeiros anos pianísticos foram muito calcados no repertório do classicismo vienense, tanto pelas preferências de Dona Lúcia quanto pelos ditames dos concursos da época, as estrelas do Alto Romantismo haveriam de prover-lhe todo repertório, se assim o deixassem – e Chopin, seu favorito, era a Alfa dessa constelação. Desde os Noturnos, que tocou praticamente desde o marco zero de sua trajetória como artista, até a participação histórica no Concurso que leva o nome do gênio de Żelazowa Wola, Arthurzinho sempre foi fortemente associado à música de Chopin, veículo apropriado a seu pianismo sempre temperamental e destemido. Além de seu grande intérprete, o mestre de São Sebastião do Rio de Janeiro também foi notório sósia de Frederico, não só pelas semelhanças entre seus perfis pontiagudos, prontamente percebidas pelo público de Varsóvia, de quem era o candidato favorito, mas também pelas mãos, como descobriu, quase em epifania, quando uma das suas encaixou-se exatamente ao molde da do polonês. O que há de Chopin na discografia de Arthur está entre o melhor que ele nos deixou, e é parte dessa beleza que, com muito gosto, lhes ofereço a seguir.

Arthurzinho – ou Frederico?


ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO
Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes
Idealizada por Arthur Moreira Lima
Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima

 

Volume 2: CHOPIN I

Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)

Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11
1 – Allegro maestoso
2 – Romanze: Larghetto
3 – Rondo – Vivace

Krakowiak, Grande Rondó em Fá maior para piano e orquestra, Op. 14
4 – Introduzione: Andantino quasi Allegretto – Rondo: Allegro non troppo – poco meno mosso

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Filarmônica de Sofia
Dimitar Manolov, regência

Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986
Idealização: Aleksandr Yossifov
Engenheiro de som: Georgi Harizanov
Produção: Nikola Mirchev
Piano Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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Volume 11: CHOPIN III

Fryderyk CHOPIN

Concerto no. 2 para piano e orquestra em Fá menor, Op. 21
1 – Maestoso
2 – Larghetto
3 – Allegro vivace

Variações em Si bemol maior sobre “Là Ci Darem La Mano”, da ópera “Don Giovanni” de Mozart, para piano e orquestra, Op. 2
4 – Introduction: Largo—Poco piu mosso –  Thema: Allegretto – Variation 1: Brillante – Variation 2: Veloce, ma accuratamente – Variation 3: Sempre sostenuto – Variation 4: Con bravura – Variation 5: Adagio
– Coda: Alla Polacca

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Filarmônica de Sofia
Dimitar Manolov, regência

Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986
Idealização: Aleksandr Yossifov
Engenheiro de som: Georgi Harizanov
Produção: Nikola Mirchev
Piano Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

Barcarola em Fá sustenido maior para piano, Op. 60
5 – Allegretto

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Pomona College, Califórnia, Estados Unidos, 1981
Engenheiro de som: Mitch Tannenbaum
Produção: Heiner Stadler
Piano: Blüthner, Leipzig
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1999)

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Volume 19: CHOPIN VI

Fryderyk CHOPIN

Vinte e quatro Prelúdios para piano, Op. 28
1 – Prelúdio em Dó maior
2 – Prelúdio em Lá menor
3 – Prelúdio em Sol maior
4 – Prelúdio em Mi menor
5 – Prelúdio em Ré maior
6 – Prelúdio em Si menor
7 – Prelúdio em Lá maior
8 – Prelúdio em Fá sustenido menor
9 – Prelúdio em Mi maior
10 – Prelúdio em Dó sustenido menor
11 – Prelúdio em Si maior
12 – Prelúdio em Sol sustenido menor
13 – Prelúdio em Fá sustenido maior
14 – Prelúdio em Mi bemol menor
15 – Prelúdio em Ré bemol maior
16 – Prelúdio em Si bemol maior
17 – Prelúdio em Lá bemol maior
18 – Prelúdio em Fá menor
19 – Prelúdio em Mi bemol maior
20 – Prelúdio em Dó menor
21 – Prelúdio em Si bemol maior
22 – Prelúdio em Sol menor
23 – Prelúdio em Fá maior
24 – Prelúdio em Ré Menor

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Pomona College, Califórnia, Estados Unidos, 1981
Engenheiro de som: Mitch Tannenbaum
Produção: Heiner Stadler
Piano: Blüthner, Leipzig
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1999)

Grande Fantasia em Lá maior sobre Canções Polonesas, para piano e orquestra, Op. 13
25 – Largo non troppo – Andantino – Allegretto – Lento quasi adagio – Molto più mosso – Vivace

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Filarmônica de Sofia
Dimitar Manolov, regência

Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986
Idealização: Aleksandr Yossifov
Engenheiro de som: Georgi Harizanov
Produção: Nikola Mirchev
Piano Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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Volume 25: CHOPIN VII

Fryderyk CHOPIN

Quatro Scherzi para piano:

1 – No. 1 em Si menor, Op. 20
2 – No. 2 em Si bemol menor, Op. 31
3 – No. 3 em Dó sustenido menor, Op. 39
4 – No. 4 em Mi maior, Op. 54

Arthur Moreira Lima, piano

Gravação: Pomona College, Califórnia, Estados Unidos, 1981
Engenheiro de som: Mitch Tannenbaum
Produção: Heiner Stadler
Piano: Blüthner, Leipzig
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1999)

Andante Spianato e Grande Polonaise Brilhante para piano e orquestra, Op. 22
5 – Andante spianato em Sol maior
6 – Grande Polonaise Brilhante em Mi bemol maior

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Filarmônica de Sofia
Dimitar Manolov, regência

Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986
Idealização: Aleksandr Yossifov
Engenheiro de som: Georgi Harizanov
Produção: Nikola Mirchev
Piano Steinway & Sons, Hamburgo
Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)

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BÔNUS (?)

Eu não tinha nem um mês como chapeiro-júnior nesse blogue quando, movido pela admiração à arte de Arthur, ripei os álbuns que lhes apresentarei a seguir. Pretendia que eles estivessem entre as minhas primeiras postagens, no que fracassei retumbantemente, tragado por um pendor pelo ecletismo que marcou meu primeiro surto de atividade por aqui. O título da coleção alinha-se com o projeto do saudoso mestre, iniciado ainda nos anos 70, de gravar a integral do que Frederico nos deixou. Concluiu o torso da empreitada até o final da década de 80, adicionando a ele algumas obras com as gravações que fez especialmente para a coleção lançada pela Editora Caras, e que seriam as últimas de sua carreira. A qualidade dessas ripagens é, bem, tanto um tributo à tortura que era ouvir CDs nacionais por boa parte da década de 90 – tua máxima culpa, Movieplay – quanto à qualidade da remasterização feita por Rosana Martins (então também Moreira Lima), que nos permitiu ouvir essas mesmas gravações com a qualidade que merecem, nos links que postamos mais acima. O simples fato de trazê-las à tona, entretanto, depois de dez anos de tanta doideira, convulsão e cacofonia, atira-me num estranho pufe com cheiro de missão cumprida que me faz até me emocionar com esse sonzinho safado que parece vindo do fundo dum balde.

Julguem-me.


CHOPIN – OBRA COMPLETA PARA PIANO E ORQUESTRA

Arthur Moreira Lima, piano
Orquestra Filarmônica de Sofia
Dimitar Manolov, regência


Volume I

Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi menor, Op. 11

Allegro maestoso
Romanze: Larghetto
Rondo – Vivace

 


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Volume II

Concerto no. 2 para piano e orquestra em Fá menor, Op. 21

Maestoso
Larghetto
Allegro vivace

Krakowiak, Grande Rondó em Fá maior para piano e orquestra, Op. 14

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Volume III

Variações em Si bemol maior sobre “Là Ci Darem La Mano”, da ópera “Don Giovanni” de Mozart, para piano e orquestra, Op. 2

Andante Spianato e Grande Polonaise Brilhante para piano e orquestra, Op. 22

Grande Fantasia em Lá maior sobre Canções Polonesas, para piano e orquestra, Op. 13


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Para Arthur, os mestres foram-lhe tudo. Em homenagem à sua primeira mestra, dona Lúcia Branco (1903-1973), publicamos sua única gravação conhecida, em que ela toca em sua residência o Scherzo no. 3 de Chopin. Essa preciosidade, mais uma da cornucópia do Instituto Piano Brasileiro, atesta claramente que Lúcia, aluna de Arthur De Greef (1862-1940) – por sua vez, aluno de Liszt -, foi uma das maiores pianistas que Pindorama deu ao mundo:


Segue vigente a intimação aos fãs de Arthur para escutarem sua participação no podcast “Conversa de Pianista”, do Instituto Piano Brasileiro, comandado por Alexandre Dias e que foi ao ar em 2020:

“2ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele trouxe mais memórias sobre sua professora Lúcia Branco, e sobre o conjunto de bailes que ele integrava quando adolescente, chamado “Os filhos da pauta”. Depois falou como foi sua transição para Paris, onde passou a ter aulas com Marguerite Long e Jean Doyen, vindo a vencer o Concurso Long–Thibaud. Também mencionou sua participação em outros concursos de piano como a 1ª edição do Concurso Van Cliburn, 1º Concurso Nacional de Piano da Bahia, e 3º Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, mencionando grandes personalidades que conheceu. Por fim, mencionou sua mudança para a Rússia no começo da década de 1960, onde viria a estudar com Rudolf Kehrer no Conservatório Tchaikovsky de Moscou, fato que transformaria sua vida para sempre.”

 

Frederico – ou Arthurzinho?

Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, estamos a lhe oferecer um álbum de figurinhas com os heróis da final da Copa Rio de 1952, que certamente fizeram o moleque Arthurzinho chorar de alegria. Eis o lateral-direito Píndaro Possidonti Marconi, o Píndaro (1925-2008), capitão do escrete tricolor.

 

Vassily

3 comments / Add your comment below

  1. Atento aqui, acompanhando as postagens e muito arrependido por não ter comprado esses CDs nas bancas, por puro preconceito (se é Caras, é porcaria). À época, Arthur M. L. para mim era um André Rieu do piano! Hoje a coleção em sebos está uma nota $$$

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