Chegando perto do fim deste ano de muito Bruckner, um disco que ainda não estava nos acervos deste blog mas muita gente aqui deve conhecer, pois é uma gravação que circulou bastante nos últimos 25 anos. Embora não fosse um especialista no repertório do romantismo tardio, Harnoncourt tornou-se, nos anos 1990, um maestro respeitadíssimo em termos de Bruckner, com certas diferenças com relação à geração anterior, a de Jochum, Celibidache e Wand. Assim como o seu Beethoven, aqui temos um Bruckner cheio de energia, firmeza e outras qualidade que vão na direção contrária daquele estereótipo do compositor cheio de repetições um tanto tediosas…
“Eu não podia evitar Bruckner”, Nikolaus Harnoncourt admite. Sua visão de Bruckner repousa em reflexões sobre a enigmática personalidade do compositor. “As pessoas costumam pensar sobre ele como o organista de Deus sentado em uma igreja e tocando o órgão. E é assim que ele lida com os naipes orquestrais. É assim que aprendemos a vê-lo. Mas há esses notáveis elementos de scherzo, também nos seus movimentos iniciais e finais, e há relatos de que, na sua juventude, ele foi um bom músico de peças dançantes – o que os austríacos chamam um “Bratlgeiger”, ou seja, alguém que toca violino em tavernas. Ele deve ter sido um bom violinista. Isso me ajuda bastante na performance das suas obras: elas têm algo de muito físico, no sentido de movimento rítmico.”
“O que motivou essa Quarta Sinfonia foi a experiência de Lohengrin. Para Bruckner, era o auge do Romantismo em música. Deve ter sido uma experiência incrível para ele, musicalmente. Contudo, temente a Deus como ele era, era o típico anti-wagneriano. O modo como ele se enfeitiçou pelo som de Wagner me lembra o modo como Tannhäuser sucumbe a Venus. Ser arrebatado assim por Wagner era equivalente a um pecado para Bruckner. Tenho a impressão de que ele pensou que tinha que ir confessar seus pecados.”
“Sempre me perguntam o quão religiosa a pessoa deve ser para tocar Bruckner. Não acho que isso importe. Ele era um homem bastante religioso, mas na sua arte ele deve ter se sentido como alguém que estava sempre mexendo com algo proibido. Isso sugere que ele não era fixado por dogmas.”
– Nikolaus Harnoncourt (1929-2016), no livreto do disco.
Anton Bruckner (1824-1896): Symphony No. 4 in E-flat major – “Romantic” – 1878/80 version
01 – I – Bewegt, nicht zu schnell
02 – II – Andante quasi Allegretto
03 – III – Scherzo. Bewegt – Trio. Nicht zu schnell. Keinesfalls schleppend
04 – IV – Finale. Bewegt, doch nicht zu schnell
Royal Concertgebouw Orchestra, Amsterdam
Nikolaus Harnoncourt, regente
Recorded: Concertgebouw Amsterdam, 1997
Pleyel