Depois de uma temporada no Tibet, onde estive apascentando os pensamentos após a última investida dos algozes capitalistas, estamos de volta com esta postagem im-per-dí-vel!!! Curiosamente, eu não conhecia, ainda, com intimidade, as sinfonias de Carl Nielsen. Fiquei impressionado com a qualidade do trabalho do dinamarquês. Tive a oportunidade de escutá-las hoje à tarde enquanto trabalhava. Notei um certo “crescendo”, uma gradação, uma evolução no material sinfônico de Nielsen. As três primeiras estão bem próximas em qualidade e as sinfonias de número 4 e 5 são verdadeiras obras primas. A número 4, por exemplo, é de uma sofisticação orquestral inacreditável. O nível de dramaticidade nos posiciona diante de um dilema. Há cintilações da obra de Sibelius. Trata-se de obras escritas durante a Primeira Grande Guerra. Portanto, representa a crença de Nielsen na vida. É um dos trabalhos mais populares do compositor. Já a Quinta Sinfonia é, no dizer de Augustos dos Anjos, “um monstro de escuridão e rutilância”; um duelo entre as forças da ordem e do caos; o apolíneo e o dionísiaco, em menção nietzscheniana. A percussão que impele uma espécie de marcha, cria uma atmosfera de guerra, como se as forças do caos avançassem titanicamente. A insistência do instrumento de sopro é visceral, mas do outro lado há a percussão com o seu agravo. Tudo cresce e torna-se numa grande tensão. Num mundo sacudido pela Guerra (a Quinta foi composta nos anos de 1921 e 1922), pelas Revoluções, a sinfonia no. 5 parece ser uma metáfora filósofica do mundo. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!
Pitaco de PQP Bach: A primeira é um belo cartão de visitas. A segunda é fraquinha. A Espansiva é sensacional! A quarta é um horror, apesar do bom último movimento. A quinta é linda e interessante! Acho a sexta muitíssimo boa e zombeteira, muito zombeteira.
Carl Nielsen (1865-1931): As Sinfonias Completas (Blomstedt)
DISCO 01
Symphony No. 1 in G minor
01. I. Allegro Orgoglioso
02. II. Andante
03. III. Allegro Comodo
04. IV. Finale
Symphony No. 6
05. I. Tempo Giusto
06. II. Humoreske – Allegretto
07. III. Proposta Seria – Adagio
08. IV. Tema Con Variazioni – Allegro
DISCO 02
Symphony No. 2 ‘The Four Temperaments’
01. I. Allegro collerico
02. II. Allegro comodo e flemmatico
03. III. Andante malincolico
04. IV. Allegro sanguineo
Symphony No. 3 ‘Espansiva’
05. I. Allegro espansivo
06. II. Andante pastorale
07. III. Allegretto Un Poco
08. IV. Finale – Allegro
DISCO 03
Symphony No. 4 ‘The Inextinguishable’
01. I. Allegro
02. II. Poco Allegretto
03. III. Poco Adagio Quasi Andante
04. IV. Con Anima, Allegro
Symphony No. 5, Op. 50
05. I. Tempo Giusto
06. II. Adagio Non Troppo
07. III. Allegro
08. IV. Presto
09. V. Andante Un Poco Tranquillo
10. VI. Allegro
San Francisco Symphony
Herbert Blomstedt, regente
Carlinus
Me gusta muchisimo!
Gracias, hombre!
Bela escolha, Carlinus. Nielsen não é um compositor muito acessível, e esta versão do Blomstedt é de primeira.
Bem entendido que quando falei compositor pouco acessível quis dizer que infelizmente ainda são poucas as gravações de suas obras. E esta versão do Blomstedt ajuda a cobrir esta lacuna.
Sensacional!
Essa é umas das melhores integrais Nielsen disponíveis, se não a melhor. Disputa ombro a ombro com a de Schoenwandt e com a clássica de Bernstein. Muuuuuuito superior à do próprio Blomstedt feita na Dinamarca pela EMI. (Existem gravações isoladas incríveis também, como a Quinta do Horenstein e a “Inextinguível” do Martinon. Fujam da “Inextinguível” do Karajan, é medonha.)
Não acho que existam tão poucas gravações de Nielsen assim. Não é assim um Beethoven de popularidade, mas só da “Inextinguível” eu conheço umas 15 versões 🙂
Na Amazon americana você provavelmente encontra essa integral dividida em dois álbuns “Double Decca”, com as sinfonias mais a cantata “Hymnus amoris”, a suíte “Aladdin”, a abertura de “Maskarade” e a Pequena Suíte para cordas.
José Eduardo, Carlinus, FDP e demais amigos:
Encontrei em um blog (http://when-the-musics-over.blogspot.com/) um cd com gravações antigas (da década de 50) com três maestros dinamarqueses que, ao que parece, foram grandes intérpretes do Nielsen (John Frandsen, Thomas Jensen, e Emil Reesen).
Nesse cd há a terceira e a sexta sinfonias e dois trechos de “Moderen”, que é uma música incidental.
Vocês já ouviram essas gravações? Se ouviram, qual a opinião de vocês?
FabioZF,
Preciso dizer que não tenho muita paciência para gravações antigas. Conheço essas gravações de outras encarnações (não nesta restauração do Michael Dutton – dizem que ele faz milagre) e são boas, mas nada que compensem a antiquidade de som e estilo.
Tô contigo, ZÉ Eduardo. Gravações antigas, só as muuuuito especiais.
A minha integral é a do Bryden Thomson, não sei se é boa ou ruim por falta de referências, mas a música me impressionou muitíssimo, sobretudo a quinta sinfonia. Parece que desde o início as características de estilo desse compositor já são bem distinguíveis numa certa concisão expressiva, um caráter antirômantico que já na primeira sinfonia parece bem marcado. Nele não há a bem-aventurança sonora que de uma forma ou de outra encontramos em compositores tão diferentes quanto Mahler, Sibelius, Strauss, Rachmaninov, ou até Shostakovich, (mas nesse caso é uma “bem-aventurança do mal” a expressividade no terrível ou no sarcástico). Enfim, é uma música mais cerebral.
O registro de Bryden Thomson é MUITO BOM.
Caro Carlinus, muito obrigado por compartilhar – sou suspeito, pois amo a música dos escandinavos, russos e demais povos da neve.
Como apreciador que sou – e sei que é – dos dinamarqueses e adjacentes, aguardo ansiosamente uma integral das sinfonias do Rued Langgaard, de quem sou fã ardoroso.
Um abraço.