Francis Poulenc (1899-1963): Melodias para Piano – Gabriel Tacchino ֎

 

POULENC

Mélodies pour piano

Gabriel Tacchino, piano

 

Imagine você como  um jovem pianista dando um recital no qual comparece o compositor de algumas das peças a serem tocadas e, naquele trecho que você ensaiou trocentas vezes, tropeça? Bem, na verdade, a única pessoa no auditório que poderia notar sua escorregadela seria o próprio compositor. Mais tarde, logo depois do concerto, você tem a oportunidade de conversar com o compositor: E aí, o que achou? Gostou de minhas interpretações, a despeito da escorregada na Pastorella? Isso é tudo o que consegue tartamudear diante do autor, mas é surpreendido por uma sonora gargalhada… Mais surpreso por ouvir que ele gostou é por descobrir que ele mesmo havia, certa vez, tropeçado no mesmo trecho.

Foi assim que nasceu uma forte colaboração artística entre o compositor Francis Poulenc e o então jovem pianista Gabriel Tacchino, colaboração esta que durou por alguns anos.

Gabriel Tacchino tornou-se uma referência para a obra para piano de Poulenc. Na entrevista que você poderá ler no livreto ele afirma que a música para piano de Poulenc busca a simplicidade e é sensível e perspicaz, assim como o próprio compositor. Sua música tem um caráter lírico, uma elegância despretensiosa e uma distinta linguagem harmônica, que a torna imediatamente reconhecível.

Estas características todas podem ser vistas ao longo das faixas deste disco, uma coletânea feita por Gabriel Tacchino dentre a obra toda gravada por ele, acrescida de uma ou outra faixa gravada para a ocasião. Como ele mencionou na entrevista, com este lançamento pretendia popularizar esta obra, buscando um equilíbrio entre a frivolidade e seriedade que fazem parte dela.

Os três movimentos perpétuos, que aparecem um pouco no início do disco, não foram as primeiras peças para piano de Poulenc que eu ouvi, mas foram as primeiras nas quais eu identifiquei como sendo dele, com as características que tornam suas peças tão distintas e especiais. Não deixe de ouvi-las também neste recital de música francesa de Rubinstein.

Eu já postei dois discos só com música para piano de Poulenc, mas este, devido ao arranjo do programa, é bem especial.

Yvonne Printemps

Há dois aspectos da música para piano de Poulenc que gostaria de realçar com a ajuda do disco. Sua música reflete seu amor pelas canções populares de seu tempo, criando uma maior proximidade entre a música popular e a música (digamos) erudita. Isso fica evidente nas duas primeiras faixas: Les chemins de l’amour (título que dispensa tradução) e uma Hommage à Edith Piaf. Esta última peça traz a mistura de sentimentos e sensualidade que ele admirava nela. Quanto a valsa cantada, Les chemins de l’amour é uma canção que ele compôs para Yvonne Printemps em 1940. Como disse Gabriel Tacchino, Poulenc dobrou a melodia vocal no piano, para dar à voz ainda mais apoio e, por isso, este pequeno milagre pode ser apresentado como uma peça para piano solo, sem nenhuma perda. Esta é uma das faixas gravadas especialmente para a coleção.

Volodia adorou a anedota…

Outra coisa que era fundamental para Poulenc com respeito à interpretação de suas músicas diz respeito ao tempo. Eu prefiro um punhado de notas erradas, mas nunca acelerar ou retardar o tempo! A propósito disso, Tacchino uma vez questionou as marcas do metrônomo dadas por Poulenc para sua Toccata, que era terrivelmente difícil manter-se estritamente naquele tempo, muito rápido, como indicado na partitura. Poulenc então perguntou-lhe: “Você ouviu a gravação feita por Horowitz? Não? Bem, você deve ouvi-la e posso lhe dizer que ELE toca no tempo que eu determinei”. Depois disso, Poulenc teria pedido a Gabriel que lhe trouxesse sua partitura da peça e nela escreveu: “Para meu querido Tacchino, que tocará a Toccata alla Volodia

A propósito, a Toccata é a última faixa do disco!

Francis Poulenc (1899 – 1963)

  1. Léocadia, FP 106 I. Les chemins de l’amour
  2. 15 Improvisations, No. 15 em dó menor ‘Hommage à Edith Piaf’
  3. Mélancolie

Trois Mouvements perpétuels

  1. Assez modéré
  2. Très modéré
  3. Alerte
  4. Novelette No. 3 em mi menor, sur un thème de Manuel de Falla
  5. 15 Improvisations, No. 12 em mi bemol maior ‘hommage à Schubert’
  6. Les Soirées de Nazelles – Variação II. Le coeur sur la main
  7. Suite française (d’après Claude Gervaise), FP80
  8. Pastourelle em si bemol maior, de “L’Éventail de Jeanne”, FP 45b
  9. Presto em si bemol maior

8 Nocturnes

  1. Sans traîner
  2. Assez allant
  3. Improvisations, No. 13 em lá menor

Suite française (d’après Claude Gervaise), FP80

  1. Bransle de Champagne. Modéré mais sans lenteur
  2. Sicilienne. Très doucement
  3. Valsa em dó maior
  4. 2 Novelettes, FP 47: I. Modéré sans lenteur
  5. Suite française d’après Claude Gervaise, FP 80b: I. Bransle de Bourgogne. Gai mais sans hâte

Villageoises

  1. Valse tyrolienne. Gai
  2. Staccato. Pas vite
  3. Polka. Sans hâte
  4. 8 Nocturnes, FP 56: IV. Bal fantôme. Lent, très las et piano

10 Improvisations, FP 63

  1. 7 em dó maior (Modéré sans lenteur)
  2. 2 em lá bemol maior (Assez animé)

Bourrée, au Pavillon d’Auvergne

  1. Thème varié
  2. Variation III – Pastorale
  3. Variation VI – Ironique
  4. Suíte para Piano em dó maior, FP 19: I. Presto
  5. 5 Impromptus, FP 21: III. Très modéré
  6. Novelettes, FP 47: II. Très rapide et rythmé
  7. Sonata para piano a quatro mãos, FP 8: II. Rustique
  8. 3 Pièces (1953 Version), FP 48: III. Toccata

Gabriel Tacchino, piano

Emmanuelle Stephan, piano (Faixa 33)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

FLAC | 222 MB

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 162 MB

Críticas da Amazon podem ser tendenciosas, mas achei esta aqui bastante razoável: If you discovered the music of Francis Poulenc during the 60s or 70s, it is most likely that you had an LP of Maestro Tacchino playing. After decades, I still remember those EMI/Angel records, the discovery and the pleasure of listening to such melodic richness, without an ounce of sugary excess. No wonder, Gabriel Tacchino was the only pupil Poulenc had, studying also under the tutelage of the great Jacques Fevrier. More authentic it cannot be! […] By the end of this disc I was literally elated. As if I was sitting at a beautiful parisian Café, enjoying patisserie with coffee, and watching people go by. A listening ride worth having.

Aproveite!

René Denon

Gabriel Tacchino experimentando um dos grandes pianos do PQP Bach…

Esta é de outro compositor terrivelmente francês:

 

2 comments / Add your comment below

  1. Muchas gracias.

    El archivo para download en formato MP3 corresponde a una grabación de Schubert.

    El archivo en formato FLAC está ok.

Deixe um comentário para René Denon Cancelar resposta