Bedřich Smetana (1824-1884): Quartetos de Cordas – Pražák Quartet ֍

 

Smetana

Quartetos de Cordas

Pražák Quartet

 

 

No dia 3 de junho de 1970 a Seleção Brasileira de Futebol estreou na Copa do Mundo contra a Seleção da Tchecoslováquia. O Brasil ganharia o jogo de virada, por 4 a 1. Pelé fez seu quase-gol mais antológico – aquele que deveria ter entrado – e foi assim que eu soube da existência deste país, ou par de países, já que naqueles dias os tchecos e os eslovacos andavam assim, siameses, ajuntados. Geografia é uma difícil disciplina. Foi só depois de 1993 que os dois países seguiram caminhos separados, sem, no entanto, sair do lugar, pois se há alguma coisa que não se move é um país.

Estou falando deste assunto pois o compositor da postagem é um dos mais importantes da República Tcheca, que foi assim que passamos a chamar esta parte da Tchecoslováquia de 1993 para cá. Pensava que poderia ser Tchecóvia ou Tchéquia, mas uma vez dito, entendo, República Tcheca é bem melhor.

Smetana, que viveu bem antes disto – suas referências eram Bohemia e Morávia – ficou famoso por suas óperas e pelo ciclo de poemas sinfônicos – Má Vlast (Minha Pátria) e justamente, foi um grande compositor. Eu conhecia o mais famoso destes poemas sinfônicos, Moldava, que alude ao rio que passa por lá, desde tenra infância. Pois agora sei que, assim como Beethoven e Gabriel Fauré, Smetana chegou surdo ao fim de seus dias. A surdez lhe ocorreu quando ainda tinha dez anos de vida pela frente, devido a um derrame, e foi terrível, como podemos tentar imaginar. As obras deste disco foram compostas neste período e formam, com o seu Trio com Piano, o conjunto de suas obras de câmera.

O Quarteto em mi menor, ‘da Minha Vida’, foi composto em fins de 1876 e teve sua estreia em 1878. Brevemente, o primeiro movimento trata do amor que Smetana tinha pela arte e tem uma disposição nostálgica e romântica, terminando com uma nota de premonição sobre o futuro. O segundo movimento – uma polca – trata da juventude e alude às danças. O compositor era tido como um grande dançarino. O terceiro refere-se ao amor de sua vida, aquela que viria a ser sua esposa. O último movimento tem como tema o nacionalismo na música, o que realmente distinguia suas composições, até o momento da fatídica condição de surdez.

Servindo como uma espécie de interlúdio entre os dois quartetos, temos duas peças para piano e violino e são resultado do pedido de um editor de música. Afinal, havia que colocar o pão na mesa. O editor estava de olho no sucesso de vendas de partituras para pequenas combinações com tons étnicos (digamos assim), do tipo das Danças Húngaras de Brahms e as Danças Eslavas de Dvořák, para piano a quatro mãos, que vendiam muito bem.

O Segundo Quarteto, em ré menor, foi composto em 1882-3 como um quase desafio às ordens médicas, de ficar longe da música, uma vez que a saúde de Smetana estava muito agravada e que o levaria à morte realmente pouco tempo depois. Esta obra é de natureza um pouco diferente das anteriores, bem mais compacta e seus aspectos inovadores foram apreciados pelos vienenses Hugo Wolf e Arnold Schoenberg.

Esta gravação é de boa cepa, autêntica até os digital-genes… O Quarteto tem ótima discografia e merece cuidadosa audição.

Bedřich Smetana (1824 – 1884)

Quarteto No. 1 em mi menor – Mého Života (da Minha Vida)

  1. Allegro vivo appassionato
  2. Allegro moderato alla polca
  3. Largo sostenuto
  4. Vivace

Z Domoviny (da Minha Terra Natal) – Duo para piano e violino

  1. Moderato
  2. Moderato. Allegro vivo. Moderato assai. Presto

Quarteto de Cordas No. 2 em ré menor

  1. Allegro
  2. Allegro moderato
  3. Allegro non più moderato, ma agitato e con fuoco
  4. Presto – Allegro

Pražákovo kvarteto (Pražák Quartet)

Václav Remes, violino

Vlastimil Holek, violino

Josef Klusoň, viola

Michal Kaňka, violoncelo

Sachiko Kayahara, piano e Václav Remes, violino (faixas 5 e 6)

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FLAC | 266 MB

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MP3 | 320 KBPS | 143 MB

Observação: O Quarteto Pražák hoje tem outra formação.

O pessoal do ‘Prozak’ Quartet visitando a sede de campo do PQP Bach em Blumenau

De um arguto crítico amador: ‘While it looks to me like “From the Homeland” was written to make a buck, as it was commissioned by a German publisher interested in Eastern European style music, I enjoyed getting to know it, especially the second part, which is played very nicely by Remes and Kayahara’.

Smetana, para os russos, é outra coisa…

10 comments / Add your comment below

  1. Querido René,
    Curiosamente, meu primeiro e distante contato com a Tchecoslováquia foi por conta duma Copa do Mundo – a de 1982, na qual ela não encarou o Brasil. Eu viria a morar, na década seguinte, em sua capital, num período de que todos por lá têm saudades, com os ventos da abertura soprando com força, mas ainda sem o impacto avassalador do turismo de massa. Achava-se música – ao vivo ou gravada – em cada igreja, esquina ou buraco na parede, e o nível dos músicos era invariavelmente alto, ainda que muito se estranhe que um país com tão sólida tradição tenha, hoje, tão poucos solistas no primeiro escalão. Tudo isso para dizer que, apesar de Dvořák ser o queridinho no exterior, por lá era Smetana quem mais aparecia no repertório, entre os “pratas da casa”.
    Desconhecia essa gravação do selo Praga, que é garantia de alta qualidade, sempre, quanto mais no repertório boêmio e morávio. E devo dizer que, para a infelicidade do pobre Bedřich, “smetana” também significa creme de leite em sua língua nativa – não necessariamente azedo, como o equivalente russo (e que em tcheco seria “zakysaná smetana”), mas ainda assim suficiente para garantir o “bullying” dos amiguinhos na escola.
    Grato por mais essa!

  2. belo post! mas…há um cd maravilhoso com o amadeus quartet com os quartetos de smetana, verdi e tchaikovsky, deutsche grammophon. que tal postá-lo? o amadeus está divino e acho difícil haver melhor leitura do quarteto da minha vida de smetana, melhor do que do amadeus. e o quarteto de verdi é belíssimo também!!!

    1. Caro Bernardo!
      Obrigado pela sua mensagem até o primeiro ponto de exclamação! Deve ser algum problema na minha internet (que tem cataratas, devido a idade…), mas após este ponto, tudo fica ilegível!
      Forte abraço do
      René

  3. Até o presente momento, acredito que nunca ouvi nada tão bonito, que tenha me deixado com lágrimas nos olhos, como Mà Vlast. Isso fez com que eu passasse a buscar mais e mais suas obras.
    É sempre um prazer encontrar essas gravações, é como ser transportado para outro mundo.

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