Vamos começar mais uma incrível e inédita série no novo PQPBach, que agora está hospedado em outro domínio: as 104 sinfonias do mestre austríaco Franz Joseph Haydn (1732 — 1809) que foi um dos expoentes máximos do período clássico na história da música. Tendo vivido entre o finzinho do período Barroco até o início do Romantismo. Nasceu em 31 de março de 1732, na aldeia de Rohrau, na fronteira entre a Áustria e a Hungria, um entre 12 irmãos. Foi reverenciado por toda a Europa, amado por Mozart e Beethoven, poucos compositores desenvolveram um crescimento profissional tão notável quanto Haydn, despretensiosamente pretendemos mostrar nesta série a sua evolução através das suas belíssimas sinfonias. Nas primeiras sinfonias (1-21), vemos experimentos sinfônicos do material que era contemporâneo. Nas sinfonias 22-80, vemos um novo desenvolvimento, a criação de um estilo próprio. Quando Haydn escreveu as Sinfonias de Paris na década de 1780, ele já mostrava uma grande maturidade. E quando escreveu as Sinfonias de Londres na década de 1790, ele finalmente aperfeiçoara a sinfonia como uma forma. Não era mais um estilo que introduzia a ópera barroca ou uma série de interlúdios instrumentais, mas agora era uma importante forma musical, que Beethoven continuaria a aperfeiçoar no início do século XIX. Para quem ainda não teve a oportunidade de ouvir as 104 sinfonias de Haydn na sequência, esta série vai deixar claro a gostosa evolução do Mestre em belíssimas composições, aliás uma mais bela que a outra. Vale muuuito a pena. A música de Haydn nunca envelhece e é sempre uma delícia! Os textos serão baseados nos encartes dos 33 CDs assinados pelo maestro Adam Fischer, são anotações muito informativas, a cereja do bolo (em tradução livre deste que vos escreve).
Haydn não foi exceção à sua época: de família modesta, passou por dificuldades na juventude. Em 1749, aos 17 anos, ele trabalhava no coral da Escola da Catedral de St. Stephan, em Viena, quando sua voz de adolescente começou a mudar ele acabou por ser demitido, sua voz parecia que não estava correspondendo em qualidade e seu mestre de coro tentou convencê-lo a seguir uma carreira como “castrato”. Não rolou, e o jovem Franz decidido a seguir carreira de músico partiu e começou a se virar, no início ensinava cravo (com pouca recompensa financeira) durante o dia, enquanto à noite tocava em festas de serenata (um passatempo popular durante o verão vienense) e se entregava à sua vontade quase fanática de compor. Escreveu em suas memórias: “…eu tive que passar oito anos inteiros, dando lições para as crianças, muitos músicos talentosos ganham seu pão dessa maneira, quase miserável, sofrem com a falta de tempo para estudar e se aperfeiçoar. Essa foi a minha primeira experiência e eu nunca teria feito tanto progresso se não tivesse perseguido meu zelo pela composição e estudo durante a noite.”
Diz a tradição que Haydn era o “pai” do quarteto de cordas e da sinfonia. Enquanto o primeiro certamente alcançou sua forma definitiva em suas mãos, no caso da sinfonia, Haydn estava trabalhando em com um modelo já existente, o modelo vienense, ainda que relativamente embrionário da primeira metade do século XVIII, era uma combinação de vários gêneros instrumentais, entre eles o concerto grosso barroco, a “sonata da igreja” e a abertura de ópera italiana (ou “Sinfonia avanti”). Foi na ópera a fonte da qual a sinfonia ganhou seu nome e a forma de três movimentos, rápida – lenta – rápida.
Lentamente, e de forma consistente, Haydn foi ficando conhecido pela aristocracia e por volta de 1757, ele foi contratado como mestre de música da família do barão von Furnberg, em cuja casa de verão perto de Melk, no Danúbio, Haydn compôs seus primeiros quartetos de cordas para as festas dos membros da casa do barão. O mais importante, porém, para que ele pudesse compor sinfonias, foi a recomendação do seu patrão para que ele pudesse ser nomeado Kapellmeister e Kammercompositeur no castelo de Lukavec do Conde Morzin na Boêmia. O conde tinha uma orquestra de sopro, para a qual Haydn compunha suítes para apresentações ao ar livre, e também uma pequena orquestra de cordas. Haydn enxergou uma oportunidade: porque não juntar as duas orquestras? Foi para essa orquestra ampliada, por volta de 1759, que ele compôs suas primeiras sinfonias – certamente da primeira a quinta.
Como acontece com quase todos os compositores desta época a numeração convencional das primeiras obras são bastante confusas, em termos de cronologia, geralmente dá pouca indicação da época real em que foram compostas. As primeiras sinfonias seguem a tradição de sua cidade natal, Viena. Suas cinco primeiras sinfonias mostram-no experimentando uma variedade de formas. As de números 1, 2 e 4 seguem o padrão de três movimentos, derivado da abertura italiana, enquanto a quinta tem o modelo da “sonata de igreja” (primeiro movimento lento). A terceira sinfonia já é um trabalho de quatro movimentos completo com minueto.
Porém, o primeiro emprego permanente do jovem músico durou pouco: o conde Morzin teve dificuldades financeiras e dissolveu a orquestra. Por sorte, o príncipe Paul Anton Esterhazy, um grande admirador da música, assistiu a um dos concertos no castelo de verão de Morzin, no qual Haydn provavelmente conduziu sua sinfonia nº 1. O príncipe ficou impressionado com a qualidade da música do jovem compositor e ao saber que o conde estava falido ofereceu a Haydn o cargo de Kapellmeister na sua corte de Eisenstadt, no Burgenland, ao sul de Viena. E assim, com o contrato assinado em 1º de maio de 1761, Haydn então com 29 anos de idade, iniciou um dos mais notáveis e longevos casos de patrocínio musical já registrados na história, um período que durou quase trinta anos.
Desde o início, Haydn pode de forma livre moldar a orquestra com um corpo de músicos completo (cordas, sopros e percussão) sendo a orquestra mais original da época, instigando a criatividade experimental do jovem mestre austríaco. Com recursos disponíveis e com liberdade como chefe de orquestra, praticamente isolado do mundo sem ninguém para o azucrinar ou fazer o jovem a duvidar de sua própria capacidade inventiva, se tornou um compositor original. Pode experimentar, observar as nuances orquestrais o que funcionou ou o que ficou fora do esperado, e assim, poderia melhorar, expandir, cortar, correr riscos. O príncipe gostava dos concertos no estilo italiano, sobretudo de Vivaldi e Corelli, solicitando ao seu novo compositor a seguir por este estilo mais para o barroco, porém em vez de concertos, Haydn escolheu a forma sinfônica, embora dominada por elementos do concerto barroco e do concerto italiano. As três sinfonias resultantes dos seus primeiros esforços na corte foram as sinfonias 6, 7 e 8. Foi a chance de mostrar a nova orquestra e, em particular sem esquecer dos violinos carregados de influência italiana. O movimento lento da sinfonia número 7 introduz duas flautas pela primeira vez na sinfonia. A sinfonia número 9, de 1762, pode muito bem ter suas origens na abertura de óperas, uma vez que não possui final convencional, terminando com um minueto. Sempre experimentando, Haydn mostra sua originalidade aqui alterando novamente a estrutura orquestral, expande para dois oboés, duas trompas, adiciona um par de flautas e fagote solo além de dobrar os instrumentos de cordas. Já na sinfonia número 10 Haydn mostra um grau de desenvolvimento do gênero no papel mais independente dado aos instrumentos de sopro. A sinfonia número 12, de 1763, é um de seus trabalhos sinfônicos mais curtos, embora Haydn evite o padrão de movimento característico de seus primeiros trabalhos, é uma sinfonia alegre e seu final é inebriante.
Divirtam-se com estas doze primeiras sinfonias do mestre Franz Joseph Haydn, a apresentação da Orquestra Austro-Húngara Haydn é sensacional, lindamente sintonizada pela leveza das obras. Em suma, não se poderia pedir uma orquestra melhor para empreender esse imenso projeto que durou 14 anos para ser realizado. O ótimo maestro Adam Fischer usa instrumentos modernos combinados com um estilo de tocar de época, achei a combinação muito bonita de ouvir. Esta coleção que ora vamos compartilhar com os amigos do blog é impressionante e merece ser ouvida por todos os que amam a música de Josef Haydn. As performances são excelentes, as gravações impecáveis. Originalmente gravado entre 1987 e 2001 no “Haydnsaal of the Esterházy Palace” na Hungria (no mesmo salão em que Haydn executava seus concertos como “Kapellmeister”), os músicos escolhidos a dedo para a formação da “Austro-Hungarian Haydn Orchestra” para as gravações são os músicos da “Vienna Philharmonic”, “Vienna Symphony” e “Hungarian State Symphony Orchestras” o resultado é sublieme!
Interpretações transparentes, presumivelmente da maneira com a qual Haydn esperava que sua música fosse tocada – sem uma pitada de romantismo ou exageros modernos. Fischer e sua orquestra tem momentos em que o entusiasmo é muito perceptíve, um imenso trabalho! São gravações lindas. Eu experimentei e gostei muito de ouvir todas as sinfonias em sucessão, é diversão garantida do começo ao fim, a música de Haydn é muito leve, feliz e alegre, que é a marca infalível desse mestre de que tanto gostamos!
Disc: 1 (Recorded June 1990)
1. Symphony No. 1 (1759) in D major, H. 1/1: Presto
2. Symphony No. 1 (1759) in D major, H. 1/1: Andante
3. Symphony No. 1 (1759) in D major, H. 1/1: Presto
4. Symphony No. 2 (1764) in C major, H. 1/2: Allegro
5. Symphony No. 2 (1764) in C major, H. 1/2: Andante
6. Symphony No. 2 (1764) in C major, H. 1/2: Finale, presto
7. Symphony No. 3 (1762) in G major, H. 1/3: Allegro
8. Symphony No. 3 (1762) in G major, H. 1/3: Andante moderato
9. Symphony No. 3 (1762) in G major, H. 1/3: Menuet & Trio
10. Symphony No. 3 (1762) in G major, H. 1/3: Finale, alla breve, allegro
11. Symphony No. 4 (1762) in D major, H. 1/4: Presto
12. Symphony No. 4 (1762) in D major, H. 1/4: Andante
13. Symphony No. 4 (1762) in D major, H. 1/4: Finale, tempo di menuetto
14. Symphony No. 5 (1762) in A major, H. 1/5: Adagio, ma non troppo
15. Symphony No. 5 (1762) in A major, H. 1/5: Allegro
16. Symphony No. 5 (1762) in A major, H. 1/5: Minuet & trio
17. Symphony No. 5 (1762) in A major, H. 1/5: Finale, presto
Disc: 2 (Recorded April 1989)
1. Symphony No. 6 (1761) in D major (‘Le Matin’), H. 1/6: Adagio-allegro
2. Symphony No. 6 (1761) in D major (‘Le Matin’), H. 1/6: Adagio-andante-adagio
3. Symphony No. 6 (1761) in D major (‘Le Matin’), H. 1/6: Menuet & trio
4. Symphony No. 6 (1761) in D major (‘Le Matin’), H. 1/6: Finale, allegro
5. Symphony No. 7 (1761) in C major (‘Le midi’), H. 1/7: Adagio-allegro
6. Symphony No. 7 (1761) in C major (‘Le midi’), H. 1/7: Recitativo: adagio
7. Symphony No. 7 (1761) in C major (‘Le midi’), H. 1/7: Menuetto & trio
8. Symphony No. 7 (1761) in C major (‘Le midi’), H. 1/7: Finale, allegro
9. Symphony No. 8 (1761) in G major (‘Le soir’), H. 1/8: Allegro molto
10. Symphony No. 8 (1761) in G major (‘Le soir’), H. 1/8: Andante
11. Symphony No. 8 (1761) in G major (‘Le soir’), H. 1/8: Menuetto & trio
12. Symphony No. 8 (1761) in G major (‘Le soir’), H. 1/8: La Tempesta, presto
Disc: 3 (Recorded June 1990)
1. Symphony No. 9 (1762) in C major, H. 1/9: Allegro molto
2. Symphony No. 9 (1762) in C major, H. 1/9: Andante
3. Symphony No. 9 (1762) in C major, H. 1/9: Finale-menuetto & trio
4. Symphony No. 10 (1766) in D major, H. 1/10: Allegro
5. Symphony No. 10 (1766) in D major, H. 1/10: Andante
6. Symphony No. 10 (1766) in D major, H. 1/10: Finale, presto
7. Symphony No. 11 (1769) in E flat major, H. 1/11: Adagio cantabile
8. Symphony No. 11 (1769) in E flat major, H. 1/11: Allegro
9. Symphony No. 11 (1769) in E flat major, H. 1/11: Minuet & trio
10. Symphony No. 11 (1769) in E flat major, H. 1/11: Finale, presto
11. Symphony No. 12 (1763) in E major, H. 1/12: Allegro
12. Symphony No. 12 (1763) in E major, H. 1/12: Adagio
13. Symphony No. 12 (1763) in E major, H. 1/12: Finale, presto
Rainer Küchl, violin
Wolfgang Herzer, cello
Gerhard Turetschek, oboe
Michael Werba, bassoon
Austro-Hungarian Haydn Orchestra
Conductor: Adam Fischer
Ammiratore
Bravo!!
R;D
Bravo 2 !!!
Uau !!! Bravo 3 !!!
Bravo 3!!!
Bravo 4!!!
Bravo 104!!!
Bravo 444444444 !!!
Grazie a tutti ! Só faltam 10 postagens….
Abração !
Nossa! Incrível, Ammiratore.
Só posso me somar aos cumprimentos: bravissimo! A cada vez que este mestre (cuja casa natal eu vi por fora, cujo local de trabalho (inclusive o mencionado Haydnsaal) e residência em Eisenstadt pude conhecer, bem como a residência de seus últimos dias em Viena, aparece por aqui é motivo para mim de incomensurável satisfação. Haydn é alguém que me acompanha desde a infância, e nestes quase cinquenta anos é inspiração, sinônimo de leveza articulada, de um modo que só ele pode fazer, com densidade, algo que muitos não conseguem identificar. Sinto-me privilegiado por esta companhia que vem de tanto e tanto tempo, e quando um petardo como a Missa Sanctae Caeciliae é disponibilizado por aqui me congratulo antecipadamente com quem eventualmente venha a conhecer uma obra-prima injustamente relegada ao esquecimento. Ao usufruto de mais uma postagem, portanto, com meu agradecimento!
E se posso recomendar algo, além das verdadeiras obras primas que são as da série sobre os momentos do dia (sinf 6-8), atenção à sinf. 12: o movimento lento é de arrepiar…
Poderiam repostar? Parece que o link do Onedrive não está mais funcionando…
Sigo acompanhando de joelhos esse pedido.
Caros Marcelo, Agostinho, Pedro e demais amantes da grande Arte do Mestre de Rohrau,
As postagens com as sinfonias completas de Haydn, feitas por nosso saudoso Ammiratore, estão com links atualizados.
Caríssimo Vassily Genrikhovich,
Só tenho a agradecer, de coração, a você e a todos aqui do nosso oásis chamado PQP BACH… Dedicarei-me de modo organizado e metódico na audição dessas preciosidades do Mestre de Rohrau, na ordem e atento à sua verdadeira linha de produção artística.
Como é bom ter vocês por aqui! Considero-os verdadeiros amigos, Vassily, portanto mande um abraço carinhoso aos demais e sintam-se abraçados. Quando pintarem aqui por Brasília, saibam que estarão convidados para um bom café com bolo nas tardes secas – e às vezes frias – do cerrado.
O mestre de Rohrau faz aniversário hoje! 292 anos: rumo a 2032!