Dmitri Shostakovich (1906-1975): Concertos para Violoncelo Nos. 1 & 2 (Maisky, LSO, MTT)

Estou longe de ser um apaixonado por Mischa Maisky. Longe mesmo. E aqui ele não me decepciona ou realizar coisas pra lá de estranhas, principalmente no Concerto Nº 2. Mstislav Rostropovich (dois links) dá um banho neste epertório, assim, como Truls Mørk (dois links também). Fiquem com eles.

Concerto Nº 1 para Violoncelo e Orquestra, Op. 107 (1959)

Shostakovich e o grande violoncelista Mstislav Rostropovich eram amigos tendo, muitas vezes, viajado juntos, fazendo recitais que incluíam entre outras obras, a Sonata para violoncelo e piano, Op. 40, etc. Desde que se conheceram, o compositor avisara a Rostropovich que ele não deveria pedir-lhe um concerto diretamente, que o concerto sairia ao natural. Saíram dois. Quando Shostakovich enviou a partitura do primeiro, dedicada ao amigo, este compareceu quatro dias depois na casa do compositor com a partitura decorada. (Bem diferente foi o caso do segundo concerto, que foi composto praticamente a quatro mãos. Shostakovich escrevia uma parte, e ia testá-la na casa de Rostropovich; lá, mostrava-lhe as alternativas, os rascunhos ao violoncelista, que sugeria alterações e melhorias. Amizade.)

Estilisticamente, este concerto deve muito à Sinfonia Concertante de Prokofiev – também dedicada a Rostropovich – e muito admirada pelos dois amigos. É curioso notar como os eslavos têm tradição em música grandiosa para o violoncelo. Dvorak tem um notável concerto, Tchaikovsky escreveu as Variações sobre um tema rococó, Kodaly tem a sua espetacular Sonata para Cello Solo e Kabalevski também tem um belo concerto dedicado a Rostropovich. O de Shostakovich é um dos de um dos maiores concertos para violoncelo de todo o repertório erudito e minha preferência vai para a imensa Cadenza de cinco minutos (3º movimento) e para o brilhante colorido orquestral do Allegro com moto final.

Concerto para Violoncelo e Orquestra Nº 2, Op. 126 (1966)

Uma obra-prima, produto da estreita colaboração entre Shostakovich e Rostropovich, a quem o concerto é novamente dedicado. A tradição do discurso musical está aqui rompida, dando lugar a convenções próprias que são “aprendidas” pelo ouvinte no transcorrer da música. Não há nada de confessional ou declamatório neste concerto. Há arrebatadores efeitos sonoros que são logo propositadamente abandonados. A intenção é a de ser música absoluta e lúdica, mostrando-nos temas que se repetem e separam momentos convencionalmente sublimes ou decididamente burlescos. Nada mais burlesco do que a breve cadenza em que o violoncelo é interrompido pelo bombo, nada mais tradicional do que o tema que se repete por todo o terceiro movimento e que explode numa dança selvagem, acabando com o violoncelo num tema engraçadíssimo — como se fosse um baixo acústico — , para depois sustentar interminavelmente uma nota enquanto a percussão faz algo que nós, brasileiros, poderíamos chamar de batucada. Esta dança faz parte de uma longa preparação para um gran finale que não chega a acontecer. Um concerto espantoso, original, capaz de fazer qualquer melômano feliz ao ver sua grande catedral clássica virada de ponta cabeça e, ainda assim, bonita.

Dmitri Shostakovich (1906-1975): Concertos para Violoncelo Nos. 1 & 2

1 Shostakovich: Cello Concerto No.1, Op.107 – 1. Allegretto 6:11
2 Shostakovich: Cello Concerto No.1, Op.107 – 2. Moderato 11:57
3 Shostakovich: Cello Concerto No.1, Op.107 – 3. Cadenza 5:43
4 Shostakovich: Cello Concerto No.1, Op.107 – 4. Allegro con moto 4:43

5 Shostakovich: Cello Concerto No.2, Op.126 – 1. Largo 15:15
6 Shostakovich: Cello Concerto No.2, Op.126 – 2. Allegretto 4:40
7 Shostakovich: Cello Concerto No.2, Op.126 – 3. Allegretto 16:06

Mischa Maisky
London Symphony Orchestra
Michael Tilson Thomas

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Com Shostakovich é sempre na caçapa

PQP

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