Frederic Rzewski (1938): The People United Will Never Be Defeated!

CoverO dia 8 de Março é mundialmente famoso por ser o dia Internacional da Mulher. Poucos lembram ou sabem, que nesta mesma data, há 100 anos atrás, as tecelãs de São Petersburgo fizeram uma greve histórica, que acabou por ser o estopim daquilo que hoje conhecemos como a Revolução Russa. Cansadas pelas jornadas de trabalho extenuantes e em péssimas condições, que lhes dava um salário miserável, cansadas da participação do regime czarista na guerra imperialista entre as potências europeias, as tecelãs de São Petesburgo pararam a produção no dia 8 de Março (que no calendário Juliano era 23 de Fevereiro), data que era celebrada como Dia Internacional da Mulher desde 1914. Por terem iniciado a revolução que foi o maior paradigma do século XX, essas mulheres são lembradas e homenageadas na mesma data até hoje.

Para homenagear os 100 anos dessa greve histórica, venho postar a Magnum Opus de Frederic Rzewski: “The People United Will Never Be Defeated!” (O Povo Unido Jamais Será Vencido!). Baseada na composição de Sergio Ortega e o grupo Quilapayún, “El pueblo unido jamás será vencido“, que também compuseram o famoso hino da campanha de Allende, “Venceremos“. A obra foi composta por Rzewski em 1975, em homenagem à luta do povo chileno contra um regime que derrubou o presidente eleito Salvador Allende e instaurou a ditadura militar de Augusto Pinochet.

A música contém referências a outras lutas da esquerda, como citações à tradicional canção socialista italiana “Bandiera Rossa” e a “Canção da Solidariedade” de Bertolt Brecht e Hanns Eisler.

É uma obra excêntrica. O pianista deve usar técnicas incomuns, como por exemplo gritar, bater a tampa do piano e coisas do tipo. Tipicas técnicas de vanguarda do século XX. Mas não se preocupem, a maior parte da obra é tonal, usando muita da linguagem do romantismo do século XIX, mas misturando tonalidade diatônica, musica modal, e técnicas seriais. Assim como as Variações Goldberg de Bach, o tema inicial é repetido ao final.

Para além dos aspectos técnicos, a música é uma bela homenagem às lutadores e aos lutadores que tentaram fazer do nosso mundo um lugar melhor para se viver.

Viva a greve das tecelãs de São Petersburgo! Feliz dia Internacional das mulheres! 100 anos de Revolução Russa!

Frederic Rzewski (1938):

The People United Will Never Be Defeated!
36 Variations on “El pueblo unido jamas sera vencido” by Sergio Ortega

1 Theme — With determination (1:20)
2 Variation 1 — Weaving: delicate but firm (0:50)
3 Variation 2 — With firmness (0:52)
4 Variation 3 — Slightly slower with expressive nuances (1:09)
5 Variation 4 — Marcato (0:59)
6 Variation 5 — Dreamlike, frozen (1:02)
7 Variation 6 — Same tempo as beginning (1:07)
8 Variation 7 — Tempo (Lightly, impatiently) (0:58)
9 Variation 8 — With agility; not too much pedal; crisp (1:08)
10 Variation 9 — Evenly (1:00)
11 Variation 10 — Comodo, recklessly (1:00)
12 Variation 11 — Tempo I, Like fragments of an absent melody — in strict time (0:58)
13 Variation 12 (1:09)
14 Variation 13 — ♩ = 72 or slightly faster (1:34)
15 Variation 14 — A bit faster, optimistically (1:34)
16 Variation 15 — Flexible, like an improvisation (1:14)
17 Variation 16 — Same tempo as preceding, with fluctuations (1:21)
18 Variation 17 — L. H. strictly half note = 36, R. H. freely, roughly as in space (1:00)
19 Variation 18 (1:26)
20 Variation 19 — With Energy (0:37)
21 Variation 20 — Crisp, precise (0:35)
22 Variation 21 — Relentless, uncompromising (0:53)
23 Variation 22 — ♩ = 132 (0:48)
24 Variation 23 — As fast as possible, with some rubato (0:28)
25 Variation 24 — ♩ = 72 (2:00)
26 Variation 25 — ♩ = ca. 84, with fluctuations (1:55)
27 Variation 26 — ♩ = 168 In a militant manner (1:09)
28 Variation 27 — ♩ = 72 Tenderly, and with a hopeful expression (4:46)
29 Variation 28 — ♩ = 160 (1:22)
30 Variation 29 — ♩ = 144–152 (0:32)
31 Variation 30 — ♩ = 84 (2:18)
32 Variation 31 — ♩ = 106 (0:55)
33 Variation 32 (0:57)
34 Variation 33 (0:58)
35 Variation 34 (1:02)
36 Variation 35 (1:03)
37 Variation 36 (1:22)
38 Improvisation (2:38)
39 Theme — Tempo I (2:40)

Ursula Oppens, piano

Four Hands

40 I. ♩ = 96~104 (6:06)
41 II. senza misura (ca. 30” per line) (3:14)
42 III. ♩ = 72 (1:28)
43 IV. ♩ = 96 (5:05)

Ursula Oppens, piano
Jerome Lowenthal, piano

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8 de Março. Mulheres emancipadas constroem o socialismo!
8 de Março. Mulheres emancipadas constroem o socialismo!

Luke

6 comments / Add your comment below

    1. Pois é, eu também aprendi que se tratava de uma greve de tecelãs em Nova York precisamente 50 anos antes da Revolução Russa (1857), em que 130 mulheres teriam morrido queimadas depois de trancadas na fábrica. Porém tenho lido que os mais esforçados pesquisadores até hoje não conseguiram encontrar nem uma linha escrita à época (1857) sobre tal fato, que jamais deixaria de ser notícia.

      Ao que parece, com os anos houve confusão com a história real de um incêndio em fábrica em Nova York em 25 de março de 1911, em que 125 mulheres e 21 homens morreram, ou queimadas, ou por terem saltado de uma altura de 7 andares. Incêndio esse causado por falta de condições de segurança mesmo, sem que as mulheres estivessem em greve.

      E aconteceu que no mesmo mês e ano mulheres socialistas de vários países havia organizado manifestações em várias datas: na Alemanha, em 19 de março por ser aniversário da Revolução de 1848 em Berlim. Estados Unidos, Suíça, Dinamarca e Áustria teriam marcado para antes, dia 8 – por razões que ainda não encontrei explicadas.

      O incêndio da fábrica 17 dias depois pode ter demonstrado a relevância das manifestações, terminando associado a elas retroativamente. E por outro lado… a data que pegou internacionalmente acabou sendo mesmo dia 8, e não dia 19.

      E as russas? Bom, pelo que li, em 1917 as russas de Petersburgo aderiram em massa ao que já era o sétimo ano de manifestações internacionais… e esse teria sido esse o movimento de mulheres de maior impacto até hoje, na medida em que teria sido estopim de todos os acontecimentos revolucionários de 1917 nesse país – o que de fato não é pouco.

      O que só reforça a impressão deste monge de que nada acontece sozinho, e nada tem uma causa só!

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