Antonio Carlos Gomes (1836-1896): Cortina Lírica [Acervo PQPBach] [link atualizado 2017]

UM BAITA CD !!!

CD lindamente cedido para a extração do áudio pelo musicólogo Prof. Dr. Paulo Castagna. De valor inestimável!

Ah, que saudade de postar alguma coisa de Antonio Carlos Gomes, o compositor brasuca que mereceria um lugar muito mais destacado no cenário mundial, como disse em comentário um de nossos amigos que aqui acessam: “the most neglected composer of opera”. O cara era muito bom!

Aqui teremos uma seleção de alta categoria de árias de Carlos Gomes, executadas por uma grande orquestra, a Sinfônica da Escola de Música da UFRJ, cantadas por grandes solistas e regida por um competentíssimo maestro: Ernani Aguiar: assim como Alberto Nepomuceno executou Nunes Garcia, José Siqueira se debruçou sobre Lobo de Mesquita, o compositor Ernani Aguiar (um dos eruditos brasileiros mais executados no mundo atualmente) dedica-se a gravar Carlos Gomes: um compositor enaltece outro e vai-se criando uma linha que liga todos eles.

Nosso colega CVL já havia postado este CD, mas o link estava expirado há tempos e acabamos sobrepondo as postagens. REuní ambas aqui e, por isso, reproduzo as palavras do CVL, muito mais entendido de música que eu:

Um equívoco de maestros e musicólogos que já se tornou lugar-comum é que Carlos Gomes foi um compositor brasileiro de música italiana, e daí eles cobrarem que o compositor campineiro deveria ter sido uma coisa que ele não foi nem pensou ser: um Nepomuceno, um Mignone, um Nazareth ou um Villa, i. é, comprometido ou preocupado com a formação da identidade da música brasileira. Talvez isso viesse com o tempo (e sabe-se lá de que forma) – por sorte, outros musicólogos (que honestamente não sei citar) tomaram a defesa do nosso maior operista.
O que Carlos Gomes foi, foi o compositor com o segundo maior número de récitas na Itália no período em Verdi era imbatível (cerca de 15 anos depois da morte de Donizetti, até o sucesso de Puccini) e Ponchielli nem sequer lhe fazia rastro; foi o compositor que fez sucesso involuntário com O Guarani por conta do exotismo que atraía os olhos europeus, mas que insistia aos demais ter escrito partituras melhores, como Fosca; foi o compositor das Américas mais representativo em seu tempo; e foi o compositor que emplacou a única ópera composta por um americano encenada com alguma regularidade no Velho Mundo. Pra mim, me basta isso para que a música do autor de Quem sabe? seja eternamente respeitada.
Aqui vai uma seleção de árias e duetos desconhecidos, a título de prelúdio para mais dois posts futuros. Destaque para Era un tramonto d’oro, da ópera-oratório Colombo – pucciniana, decerto, mas muito bela.

Sobre as obras deste álbum, preferi transcrever o encarte:

O fracasso da “Fosca” representou para Carlos Gomes a maior decepção de sua carreira. Após o êxito em sua terra natal, com suas óperas com texto em português, e o triunfo no Scala de Milão com “II Guarany”, não imaginava que um trabalho que apresentava maiores virtudes musicais e no qual apostava no sucesso, fosse tão friamente recebido. A ópera Salvator Rosa foi sua tentativa, coroada de êxito, de novamente cair nas graças da crítica e do público, mesmo que para tal fossem necessárias algumas concessões e escrever aquilo que o público esperava ouvir. Tal atitude, entretanto, não é um demérito da obra e, antes, serviu para torná-la sua ópera mais popular e a que mais vezes foi representada durante o século XIX.
O enredo escolhido facilitou o sucesso. Baseia-se no romance “Masaniello” do escritor francês Eugène Mirécourt (1812-1880) que trata da revolta dos napolitanos contra o domínio espanhol em 1647, fato verídico da história italiana e que, com certeza, despertou os brios patrióticos do público.
Talvez o melhor exemplo dessa preocupação do compositor com o sucesso esteja na canzoneta Mia Picirella, cantada pelo personagem Generaielo logo no início do primeiro ato. Nela encontramos o melodismo esparramado e de efeito seguro, que fazia o público sair cantando ao término do espetáculo. Foi aqui gravada na sua versão de concerto e, como no original, com o soprano fazendo o papel masculino do pajem de Salvator Rosa.
No segundo ato encontra-se um dos momentos de maior dramaticidade da ópera, a ária de baixo Di sposo di padre, cantada pelo Duque D’Arcos, o vilão da história. O musicólogo italiano Marcello Conati diz que “este trecho é justamente famoso pela qualidade do declamado (tão descobertamente verdiano), pela nobreza da melodia, pela articulada diferenciação dos sentimentos expressa através da música, em que o discurso orquestral procede de maneira autônoma no tocante ao canto”.

Maria Tudor foi escrita após o estrondoso sucesso de Salvator Rosa e é uma ópera que não goza de grande prestígio, apesar de alguns trechos realmente inspirados. Foi termi-nada às pressas, pouco tempo antes da estréia, em função da morte de um dos libretistas, Emilio Praga. O outro libretista foi o compositor Artigo Boito, cuja participação, apesar de não vir creditada na partitura, é comprovada através da correspondência de Carlos Gomes com a Casa Ricordi. Para terminar o libreto foram chamados Angelo Zanardini e Ferdinando Fontana. O insucesso da ópera em sua estréia deveu-se ao momento político delicado, quando os jornais italianos começavam uma campanha de defesa dos compositores italianos contra os diversos “estrangeiros”, entre os quais estava Carlos Gomes [insucesso que, diga-se de passagem, foi alimentado pela imprensa: nas récitas seguintes, a aceitação da ópera foi crescente], e também devido a falta de tato do compositor ao escolher um enredo no qual o mocinho da historia é um aventureiro italiano assassinado por uma rainha inglesa, por não ser correspondida em seu amor.
A Romanza de Fabiani (Sol ch’io ti stiori), localizada no início do terceiro ato, é urna das mais belas árias de tenor escritas por Carlos Gomes, com as acentuações apaixonadas do recitativo inicial e as frases largas que conduzem à região aguda da voz, valorizada por uma bem equilibrada orquestração.

Com Lo Schiavo Carlos Gomes volta a abordar um enredo brasileiro, desta vez elaborado por seu amigo Visconde de Taunay. O libreto, produzido por Rodolfo Paravicini, foi outro que grandes transtornos causou ao compositor, a ponto de inviabilizar a estreia da ópera em Bolonha, para onde era destinada. Apesar da temática nacional, em nenhum momento encontramos elementos característicos de música brasileira, nem mesmo durante a “Dança dos Tamoios”, apesar de alguns comentaristas mais otimistas vislum-brarem “certas estranhezas rítmicas” ou mesmo “temas de sabor agreste”. É, antes, música da melhor escola italiana. A musica de “Lo Schiavo” é, sem dúvida, um passo à frente daquela de Maria Tudor. As linhas melódicas são mais elegantes e envolventes, os personagens mais bem caracteri-zados, sendo associados a motivos melódicos próprios, retornando o compositor proce-dimentos já utilizados na Fosca. Ao mesmo tempo a orquestra alinhava o discurso dramático, sendo importante elemento descritivo.
A famosa ária Sogni d’amore é cantada, no quarto ato, por Iberê, o índio escravo que é obrigado a casar-se com Ilara a mando do Conde Rodrigo, que pretende afastá-la de seu filho Américo, que por ela é apaixonado. Iberê lamenta o seu amor não correspondido e mostra-se disposto a sacrificar-se para que Ilara e Américo possam, finalmente, ficar juntos.

A ópera Condor foi encomendada pelo Scala de Milão para a temporada de 1891. De todas é a que menos é representada, amargando um imerecido ostracismo. Nela já se percebem “novos comportamentos da linha melódica”. O belíssimo Noturno que abre o terceiro ato merece figurar ao lado de outros tantos recursos sinfônicos de óperas italianas que alçaram voo isoladamente. Como os Intermezzos da “Manon Lesecaut ” de Puccini e da “Cavaleria Rusticana” de Mascagni. Nele destaca-se, a bem dosada orquestração, onde sobressai o Solo de oboé e a apaixonada melodia a cargo das cordas.

O Poema Vocal-Sinfônico Colombo foi escrito em 1892 para as comemorações ao quarto centenário da descoberta da América. Apesar de ter recebido este título do próprio compositor tem, na verdade, a estrutura de uma ópera. A ária Era um tramonto d’oro é apresentada no primeiro ato quando Colombo narra suas desventuras amorosas dizendo ser este o motivo pelo qual deseja descobrir novas terras. O dueto Non fosti mai si bel é cantado por Isabel e Fernando, Reis de Espanha, a quem Colombo pede ajuda para realizar seu sonho de descobrir um mundo novo. Diante da dúvida de Fernando, Isabel pede para que confie em Colombo, a quem finalmente o Rei decide fornecer marujos e navios para a viagem. No último ato, Isabel canta sua ária Vittoria!Vittorita! momento no qual saúda Colombo após a vitoriosa jornada.
(texto extraído do encarte)

Ouça, ouça! Deleite-se!

Palhinha: o belíssimo Noturno da ópera Condor, que figura entre as melhores obras orquestrais de Carlos Gomes:

http://youtu.be/ZEsq1P9XWj0

Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
Cortina Lírica

01. Salvator Rosa – Mia Piccirella
02. Salvator Rosa – Di Sposo Di Padre
03. Maria Tudor – Romanza di Fabiani
04. Lo Schiavo – Sogni d’Amore
05. Condor/Odaléa – Noturno
06. Colombo – Era un Tramonto d’Oro
07. Colombo – Non Fosti mai si Bel
08. Colombo – Vittoria, Vittoria

Carol McDavit, Soprano (faixas 01, 02, 07 e 08)
Fernando Portari, Tenor (faixas 03 e 07)
Inácio de Nonno, Barítono (faixas 04 e 06)
Maurício Luz, Baixo (faixa 02)
José Francisco Gonçalves, Oboé (Faixa 05)
Orquestra Sinfônica da Escola De Música da UFRJ
Ernani Aguiar, regente

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FLAC (205Mb) encartes a 5.0 Mpixel
MP3 (112Mb) encartes a 5.0 Mpixel

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“Sempre soube que esse mocinho tinha potencial!”

Bisnaga

9 comments / Add your comment below

  1. Oba!! Eu tinha esse cd que eu peguei não sei onde, em mp3 de 128 bitrate e som péssimo! Vou trocar já por esse maravilhoso FLAC, valeu, esse cd é ótimo!

    1. Ah, Vivelo, que bom tê-la por aqui dando um oi pra gente de novo!
      Estou tentando subir os arquivos na minha conta no Mediafire também. É melhor pra baixar?

      1. Andei meio sumida mesmo…é ótimo quando dá pra ver o que há de novo por aqui. Gosto do Mediafire, sim, mas também do Rapidshare, que anda meio estranho, mudando suas regras, mas já me adaptei a elas. Uso o JDownloader para baixar, e volta e meia tenho dificuldade com qualquer deles. Escolha o que for melhor para voce, sendo em FLAC ou similar, e gratuito, eu estou contente!

  2. Parabéns-Obrigadíssimo, Obrigadíssimo, Obrigadíssimo.
    Com esta mesma qualidade de gravação, agora só está a faltar a ópera completa O Guarani com a regência de Julio Medaglia e a orquestra de Sofia, se não estou enganado gravado em 1999 na Bulgaria. Para mim esta é a melhor versão do Guarani, superior ao de John Neshiling.

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