Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741) – Le Quattro Stagioni, com Il Giardino Armonico [link atualizado 2017]

ES-TU-PEN-DO !!!

Prezado ouvinte, como esses caras d’Il Giardino Armonico são bons! PQP!

Ah, para muitos essa é a a versão preferida d’As Quatro Estações de Vivaldi! Creio que também o seja para mim. E, para melhorar, há ainda mais o Concerto para Oboé RV 454 e o Concerto para Violino RV 332 de lambuja, para alegrar ainda mais o dia!

A primeira grande sacada, para começar, foi lembrar que, num concerto para orquestra e baixo contínuo o tal baixo contínuo não é especificado, ou seja: pra que fazer a base da música sempre apenas com um cravo? No barroco, pouco importava para o compositor que instrumento fazia o fundo, pois a função do baixo contínuo é, principalmente, ajudar a manter a cadência e a tonalidade da música. Então por que não usar como contínuo a teorba, “aquela alaúde enorme” e instrumento bastante utilizado na Itália no período vivaldiano? Por ser um instrumento de cordas dedilhadas, a base se torna muito mais dinâmica, pois as notas longas tornam-se repetições de uma mesma nota curta.

A segunda grande sacada foi lembrar que no barroco ainda se dava uma liberdade muito maior do que hoje aos músicos de interpretarem a música de decidirem entre si a intensidade dos fortes e pianos a variação do andamento. Depois, no classicismo e, principalmente, no romantismo, com o crescimento das orquestras, cresceu a importância do regente e o compositor chegou a sandices tais de marcar um pianíssimo com 5 pês (ppppp), para que os músicos interpretassem exatamente como ele tinha concebido. Não, não! Pra que isso? O conjunto milanês retoma a liberdade interpretativa barroca com muita vontade! Assim, sua execução é a mais vivaldiana possível: é quente, é sensual, é poética, é viva, é vibrante!

Enquanto encontramos tantas execuções de concertos por aí em que a partitura, como texto, é apenas lida, os rapazes d’Il Giardino Armonico a declamam! Há, de forma muito pungente, paixão e lirismo na sua calorosa interpretação, quase um grande manifesto contra as convencionais leituras em tons pastéis da partitura, em favor das vivas cores desses sons de Antonio Vivaldi! Eles não querem ser comportados, querem é a ebriedade dessa música, e nos brindam com ela!

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto espediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
(…)

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.

– Não quero saber do lirismo que não é libertação.

(“Poética”, Manuel Bandeira)

Ouça, ouça! Depois repita o CD todo! Depois ouça uma terceira vez! Deleite-se sem a menor moderação!

Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741)
Le Quattro Stagioni, Concerto para Oboé e Concerto para Violino

Concerto para Violino em Mi maior RV 269, “Primavera”
01. Allegro
02. Largo
03. Allegro Pastorale
Concerto para Violino em Sol menor RV 315, “L’estate”
04. Allegro non molto
05. Largo – presto
06. Presto (tempo impetuoso d’estate)
Concerto para Violino em Fá maior RV 293, “L’autunno”
07. Allegro
08. Adagio molto
09. Allegro
Concerto para Violino em Fá menor RV 297, “L’inverno”
10. Allegro non molto
11. Largo
12. Allegro
Concerto para Oboé em Ré menor RV 454
13. Allegro
14. Largo
15 Allegro
Concerto para Violino em Sol menor RV 332
16. Allegro
17. Largo
18. Allegro

Enrico Onofri, violino
Paolo Grazzi, oboé
Il Giardino Armonico: Enrico Onofri, Stefano Barneschi, Marco Bianchi, violinos; Francesco Lattuada, viola; Paolo Beschi, violoncelo; Luca Pianca, teorba; Francesco Cera, cravo
Giovanni Antonini, regente

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Os doidões d’Il Giardino Armonico papeando:
“C’era qualcosa di heavy metal in Vivaldi, non è vero?”

Bisnaga

21 comments / Add your comment below

  1. Creio já ter postado esse CD do Giardino Armonico há alguns anos atrás, com certeza o link já nem existe mais. E claro que essa interpretação se tornou quase que imediatamente a minha favorita. Coisa de doido… esses caras tem um pé na insanidade…

  2. Esta gravação para mim é a mais “tocante” das versões que ouvi. Lembro que a primeira vez foi pelo rádio, umas 7:30 da manhã. Fui obrigado a chegar atrasado no trabalho… justificadíssimo. Comprei na sequencia os cds deste grupo. São todos muito bem trabalhados. Gosto muito da versão que tem das Gymnopedie, do E. Satie. Obrigado pela divulgação destas obras. Deleito-me com meu filhote também.

  3. Disse tudo. O giardino tem o toque de midas – tudo o que toca vira ouro e… abaixo o purismo, que no mais das vezes não passa de noções equivocadas entronizadas como ideal.

  4. Você falou dos 5 pês e eu me lembrei também do metrônomo. Na época do Vivaldi, não existia essa de batidas por minuto, era tudo no “Allegro”, “Adagio”, “Andante”… Não sabia que o baixo contínuo podia ser qualquer instrumento, Bisnaga (quanta ignorância rsrs). Obrigado pela informação. E obrigado pela postagem, é claro.

  5. O que dizer? Lindo, lindo; o êxtase costurado no fio da navalha, onde podem ir mais, não vão, para manter-se na tensão lindamente e vivamente expressa. Intuitivos e avaliadores da expressão, a todo o instante. Obrigado!

  6. PQPariu, é realmente ma-ra-vi-lho-so. Quado estudava regência não me conformava com a música matemática, sempre achei que MUSICA se faz com intestinos e não números.

  7. Fantástico! Terei de reservar algumas boas horas para definir o meu ranking das 4 Estações: por enquanto ainda tinha que a leitura da Orquestra de Friburgo é insuperável. Mas essa desses irreverentes está ameaçando seriamente o posto…

  8. PQP!!!! Os caras são muito bons mesmo! Poucas vezes eu senti o que é “atingir a essência da música”. No caso de Vivaldi, isso freqüentemente envolve uma boa dose de porra-louquice… E o Giardino acertou em cheio nessa!

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