175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes
Estou ficando até sem graça de escrever isso sempre, mas não dá pra deixar de dizer: é IM-PER-DÍ-VEL!!!
Quando se aproximaram os anos para se completar o centenário de morte de Antonio Carlos Gomes (em 1996), ocorreram vários eventos, como o conjunto “A Música e o Pará”, que postamos no ano passado aqui, aqui, e aqui, e as montagens meticulosamente bem acabadas realizadas na Bulgária de Il Guarany, sob a batuta de Julio Medaglia, e de Maria Tudor e Fosca, estas sob a regência do competente Luís Fernando Malheiro.
Por essa época houve, no Brasil, um convênio com a Bulgária para megalômanas montagens aqui na terrinha da ópera Aída, de Verdi, com seus cenários gigantes, trazidos do país do Leste Europeu (foi executada em locais imensos: estádios e pedreiras de Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, São Paulo e Campinas). O intercâmbio rendeu frutos e nos anos que se seguiram, os búlgaros puderam conhecer as óperas de Carlos Gomes, tendo o conterrâneo Plamen Kartaloff como regisseur, músicos e solistas de sua terra e as regências sob a responsabilidade de grandes maestros brasileiros. Essas apresentações foram de enorme êxito e se registraram em CDs, dos quais temos esta Fosca para vos apresentar (mais pra frente teremos também a Maria Tudor de Malheiro)!
O que dizer desta montagem? Inevitavelmente vou compará-la com a de Armando Belardi, realizada por ocasião do centenário da peça, em 1973 (e que você pode conferir aqui). A versão de Belardi, creio que a primeira gravação mundial da ópera, é histórica, heróica e, também de alta qualidade: a orquestra a executa muito bem e foram reunidos alguns dos melhores solistas do país naquele tempo. Porém, eu tendo a gostar mais desta montagem de Malheiro por alguns motivos superficiais, como a melhor captação de som e a sua limpeza, sem os espocados do vinil (podem me tachar de insensível, mas prefiro sem os ruídos do bolachão); e por motivos musicais, mesmo: os solistas são tão bons quanto os da versão brasileira e a orquestra tem melhores cordas, o que não desabona a nacional, apenas constata uma característica dos grupos do Leste Europeu: a perfeição dos naipes de cordas. Se os aqui são bons, os de lá, sou forçado a admitir, são impecáveis.
Em suma, Fosca é uma ópera belíssima, é a melhor de Carlos Gomes e esta é a melhor montagem!
Ah, semana que vem teremos Salvator Rosa, a ópera mais conhecida de Carlos Gomes na Itália.
Confira! Não deixe de ouvir!
Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
Fosca (1873)
Libreto: Antonio Ghislanzoni,
Baseado em Le Feste delle Marie: Storia Veneta del Secolo X, de Luigi Capranica
Ato I – 01 Sinfonia
Ato I – 02 Coro e Scena – Buon di, compagni
Ato I – 03 Scena – Salute al capitano
Ato I – 04 Preghiera – Fratel, da, un fascino
Ato I – 05 Stretta e Scena – Ah Crudeli
Ato I – 06 Aria – D’amore l’ebbrezze
Ato I – 07 Scena e Duetto – Cara citta natia
Ato I – 08 Finale Primo – Scena e Terzettino – La tua rivale odiata
Ato II – 09 Atto Secondo – Scena d’amore e duettino – Soli, del mondo immemori
Ato II – 10 Dialogo e Canzone – Io vengo dai mondi
Ato II – 11 Terzetto – Mirate questa collana
Ato II – 12 Scena e frase – Bel cavaliero… sposa gentile
Ato II – 13 Duettino – Gia troppo al mio supplizio
Ato II – 14 Aria – Quale orribile peccato
Ato II – 15 Marcia e Coro Nuziale
Ato II – 16 Finale Secondo – Pezzo Concertato – Pazza! Pazza! É ver!
Ato III – 17 Atto Terzo – Scena ed Aria – Ad Ogni Mover Lontan di Fronda
Ato III – 18 Scena e Duetto – Orfana e Sola
Ato III – 19 Coro di Corsari – Dei Due Mente
Ato III – 20 Scena e Duetto – Tu La Vedrai Negli Impeti
Ato IV – 21 Scena del Consiglio e Strofe – Son Capitano
Ato IV – 22 Invettiva – Coro – Di Venezia la Vendetta
Ato IV – 23 Scenetta – Ti Allegra, o Giovane
Ato IV – 24 Romanza – Ah! Se Tu Sei Fra Gli Angeli
Ato IV – 25 Gran Scena – Alfin Tremanti e Supllici
Ato IV – 26 Quartetto – Scena Finale – Non M’Aborrir, Compiangimi
Fosca, pirata da Ístria – Gail Gilmore, soprano
Paolo, capitão veneziano – Roumen Doykov, tenor
Delia – Kassimira Stoyanova, soprano
Cambro, escravo de Gaiolo – Niko Issakov, barítono
Gaiolo, irmão de Fosca – Svetozar Ranguelov, baixo
Doge de Veneza – Stoil Gueorguiev, baixo
Michele Giotta, pai de Paolo – Peter Bakardzhiev, baixo
Sophia National Opera Orchestra
Sophia National Opera Choir
Luís Fernando Malheiro, regente
Plamen Kartaloff, regisseur (diretor)
Sofia, 1997
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (201Mb – 2CD, cartaz, info e resumo da ópera)
… Mas deixe um comentariozinho… Tenha coração…
Ouça! Deleite-se!
Bisnaga
hahaha Belo desenho, Bisnaga! E bela postagem também. Você gosta muito de Carlos Gomes, dá pra ver, e não é o único. Talvez Villa-Lobos tenha sido o maior compositor brasileiro, mas sendo assim, Carlos Gomes fica em segundo lugar. Afinal, já que é meu o primeiro comentário, gostaria de perguntar: quem deveria vir primeiro nesse ranking (ou SE deveria ir), Villa-Lobos ou Carlos Gomes?
Ah, Leon, meu caro conterrâneo…
Eu sou apaixonado pela música brasileira! Mas não titubeio em dizer que Villa-Lobos é o grande compositor de nossa história. Ele era mais versátil e criou mais. Carlos Gomes fez várias inovações para a ópera italiana, mas não avançou tanto em novidades quanto Villa-Lobos. Além disso, Villa-Lobos tinha um domínio de todos os naipes da orquestra que raríssimos compositores do MUNDO tiveram ou têm. Uns pendiam mais para as cordas, outros para os sopros, outros deixavam a melodia meio de lado para dar vazão às modernidades. Villa, não. Pelo que me toca, podemos dizer que os maiores compositores eruditos do Brasil são, por período: Nunes Garcia (classicista, primeira metade do século XIX), Carlos Gomes (romântico, segunda metade do XIX) e Villa-Lobos (moderno, primeira metade do século XX). Dos mais antigos (barrocos, século XVIII e anteriores), eu não me sinto à vontade para dizer: preciso conhecer mais, dos mais recentes (contemporâneos, segunda metade do século XX em diante) precisamos de um distanciamento maior para ter um panorama mais completo e avaliar, ainda. Pena que não podemos postar Villa-Lobos… É meu compositor favorito. Em tempo nutro uma paixão e uma admiração enormes pelo Carlos Gomes. l cara também era genial e o que me revolta é ele ser atualmente menos conhecido que alguns compositores de ópera mais limitados. Problemas de ser brasileiro, da periferia da música clássica…
quero agradecer em meu nome (e de todos os brasileiros) pela sua enorme contribuição para toda a patria brasileira trazendo à luz os trabalhos de carlos gomes, um ilustre desconhecido, senão pela opera o grarani. vc revelou para mim e creio que para muita gente mais o genio que foi carlos gomes dando-nos a oportunidade de conhecer sua outras muitas e grandes composições musicais. muito obrigado.
Muito foda o desenho, Bisnaga! E parabéns a todos do blog pelos 5 anos…
Ótima avaliação, Bisnaga. “Conterrâneo”? Isso quer dizer que você é limeirense também, ou é só porque também é brasileiro?
Leon, sobre seu questionamento de se sou brasileiro, limeirense, etc, já deixei mensagem no seu e-mail (que só a gente da equipe PQP vê) faz coisa de um mês. Dá uma olhada lá. Temos que manter a nossa identidade secreta…
Bisnaga, receio dizer que você mandou pro e-mail errado. Eu mandei um e-mail pro PQP ontem (acho que ele ainda não viu). Lá você poderá entender do que estou falando.
Alguém teria a gravação da Yerma de Villa-Lobos que foi recentemente estreada ao completo) no Brasil (acho que foi em Manaus) com a Eliane Coelho no papel-título? Preciso urgente fazer um trabalho mas não existe nada no mercado. Obrigada.
Olha, nós não temos aqui no PQP, mas tem aqui: http://musicabrconcerto.blogspot.com.br/2008/10/villa-lobos-yerma.html. (não é a versão brasileira) Boa sorte e Boa audição.
Essas postagens da obra de Carlos Gomes são muito boas. Estou impressionado…
Todas as óperas dele estão aqui no PQP, Bruno. Aproveite para conhecer tudo que puder do mestre Carlos Gomes. Ainda esse ano creio que consigo postar mais uns três álbuns dele de peças não operísticas.