Os melhores do ano segundo CDF

Eu sempre fui muito influenciado por listas. Se encontro algo dizendo “Os Dez melhores…” procuro uma canetinha para anotar. Pensando bem, quase tudo que conheço (música, livros,…) foi por indicação. Claro que com a idade ganhei certa autonomia nas escolhas. Mas se alguém diz “você deve ler esse livro”, vou na loja comprar. Li até Paulo Coelho. Por outro lado, minha capacidade de convencer outra pessoa é sofrível. Já dei livros e discos a torto e a direito sem nenhum feedback. Por essas e por outras é que fiquei motivado a fazer essa pequena listas dos 5 melhores discos que ouvi esse ano. Pois esse frustrado que vos fala se realiza por aqui, com a boa vontade e interesse de vocês. Não tive preocupação de escolher esses discos por período ou ano que foi realizado, foi simplesmente pelos números de vezes que coloquei no meu toca-discos esse ano.
Começo com Haydn, o maior dos compositores. Bach, Mozart ou Beethoven quase nos convencem de uma certa transcendência; com Haydn, isso não acontece. Ele sempre nos coloca no chão, na vida real. Mesmo em suas missas ou oratórios a celebração não é para Deus, mas à Natureza e ao homem. Por isso o século do romantismo rejeitou o mestre da luz. Em suas óperas, tanto tempo desprezadas, podemos também encontrar a ironia e clareza que também não cativam aqueles de coração mole. “Il Mondo della luna” e “Orlando Paladino” são óperas imperdíveis, que desnudam o lado bom e engraçado da natureza humana. Sorte nossa que Haydn ganhou fôlego com sua visita a Inglaterra, lugar único na valorização de um gênio. Áustria sempre foi injusta com seus compositores em vida: Mozart, Haydn, Schubert, Mahler e Schoenberg. Salzburg, terra onde Mozart nasceu, era o lugar mais provinciano do mundo. As recordações de Mozart daquele lugar sempre foram as piores possíveis, hoje essa cidade sobrevive do turismo em cima do filho que tanto desprezou, vendendo chocolate e camisinhas com a marca Mozart. Com Haydn aconteceu a mesma coisa, sempre foi tratado como serviçal na Áustria. Já na Inglaterra, foi recebido como celebridade, vindo a ganhar um bom dinheiro, o suficiente para comprar uma bela casa e viver independente. O disco “Haydn in London” mostra um desses frutos preciosos que devemos a Londres. Na verdade, são trios para piano, flauta e violoncelo cuja riqueza está justamente em sua simplicidade cristalina.
Mahler foi outro que também passou por dificuldades na Áustria, principalmente quando dirigia a ópera de Viena. Mas ele foi tão genial que conseguiu respirar um pouco a brisa do triunfo. Só que depois de sua morte, em 1911, Mahler ainda continuou sendo desprezado por seu país por um longo tempo. Foi pela boa vontade de seus amigos Bruno Walter, Mengelberg, Klemperer e outros que sua música ainda continuou sendo ouvida nas décadas que se seguiram. Trago para vocês o ciclo de canções orquestrais “Das Knaben Wunderhorn” interpretado por Dietrich Fischer-Dieskau, Elisabeth Schwarzkopf, regida por George Szell (meu maestro preferido junto com Carlos Kleiber). Eu tenho ótimas versões dessa obra, mas aqui o negócio é diferente. O disco já começa com Revelge, a canção militarizada com toda aquela pompa instrumental, como se tivéssemos assistindo uma parada do exército rumo à um bela batalha, mas a ironia do “tralali, tralalei, tralalera” e a sensação de desastre iminente é bem típica do maior profeta da música.
Vamos agora para a Rússia, com o Grand Duet (1959) para violoncelo e piano de Ustvolskaya. A compositora, morta em 2006, teve um caso amoroso com Shostakovich; talvez um pouco traumático, já que aquela, nos últimos anos de sua vida, vilipendiava a imagem do compositor. A mulher era o cão, sua música retrata bem essa personalidade. O Grand Duet tem cinco longos movimentos com nenhum momento de alívio ou encanto. Uma obra genial por sua economia e sonoridade. No disco ainda temos a segunda sonata para cello e piano de Schnittke, no mesmo nível de “humor”. Engraçado é encontrar no início do disco uma peça de Piazzola; bem fora do contexto, mas genial. Interpretação de Rostropovich.
Os próximos dois discos, Canções de Brahms com a mezzo-soprano argentina Bernada Fink e “Dream of Gerontius” de Elgar, foram meus preferidos esse ano. Pois é, senhores, Elgar sim. Tenho raiva do compositor por tratar sua genialidade com pouco rigor. Se ele tivesse enxugado um pouco mais suas obras, ele chegaria no primeiro escalão. Mas os momentos geniais de “Dream of Gerontius” valem o esforço de ouvir passagens pouco inspiradas. As canções de Schubert e Schumann são bem gravadas e conhecidas, mas não tanto as canções de Brahms. Depois de ouvir esse disco encantador, é difícil entender porque. Estão entre as melhores de todos os tempos. A interpretação de Bernarda Fink é soberba.

Ok, pessoal, encerro minha lista esperando convencer vocês 🙂

Feliz Ano Novo!!!

cdf

Baixe Aqui – Haydn in London
Baixe Aqui – Mahler – Das Knaben Wanderhorn
Baixe Aqui – Ustvolskaya
Baixe Aqui – Elgar- Dream of Gerontius – Disco 1
Baixe Aqui – Elgar- Dream of Gerontius – Disco 2
Baixe Aqui – Brahms

18 comments / Add your comment below

  1. Caro CDF, irmão bachstardo (ou primo, sei lá),
    O texto está muito bom e as seleções estão ótimas. Haydn, por exemplo, é um que é sempre bom reabilitar.
    Permita-me só muitas considerações:
    1) Divergência de opinão: O Romantismo, apesar de ter um aspecto religioso, era profundamente antropocêntrico e individualista, além de adorar a natureza (como em Rousseau, que a põe como boa em oposição à civilização má). Assim, não é por nos trazer ao homem e à natureza que Haydn não penetrou no Romantismo – por esses aspectos de sua música, ele seria muito bmem aceito.
    Creio que há duas outras razões:
    a) as biografias de Mozart e Beethoven são facilmente romantizáveis: o jovem gênio que luta contra a sociedade armado apenas com sua genialidade; o músico que supera até mesmo a surdez com a força de seu talento individual. Mas Haydn? Meh.
    b) A música de Haydn é perfeitamente classicista. Mozart já é proto-romântico e Beethoven foi um compositor de transição, com freqüentes explosões românticas. Assim, da óptica do Romantismo, que venera a música altamente dinâmica, profundamente expressiva e COM DESPREZO À FORMA em prol da emoção, Haydn é desprezível. Isso explica por que, como diz Carpeaux, esses três compositores sempre foram vistos como “Haydn menor, Mozart maior e Beethoven o gênio absoluto”. Até cronologicamente, é tentador estabelecer uma linha de evolução.
    2) Correção: Haydn, no fim da vida, era idolatrado na Áustria. Sério. Esses dias, vi um DVD com A Criação – fantástica gravação, aliás. Lá, tem um documentário sobre a estréia do Oratório. Ao compô-lo, Haydn já era respeitadíssimo na própria Áustria, a qual recebeu muito bem a obra. Mais ainda, mais perto de morrer, foi feito um concerto de gala com 2000 pessoas em homenagem a Haydn. Ao entrar, foi recebido com berros de “Vida longa a Haydn!” Os músicos da orquestra e do coro foram escolhidos a dedo para a apresentação, e ninguém menos que Salieri fez a regência. E um dos membros, olha só, era o bom e velho Ludwig.
    3) Concordância: Haydn é muito foda!
    4) Adendo: Quanto a Mahler, faltou só mencionar Felix Weingartner, outro de seus amigos que procurou manter a brasa de sua música acesa.
    5) Espanto: Nossassinhora, não fosse por esse blog, só em 2013 que eu ia ouvir falar dessa Ustvolskaya. Ouvirei!
    6) Recomendação: Eu gosto muito da Bernarda Fink. Ela gravou um aclamado, porém bastante pouco divulgado, ciclo de lieder de Brahms em parceria com o barítono Dietrich Henschel.
    7) Discordância parcial e recomendação: Eu tenho opinião semelhante sobre Elgar, só que um pouco pior. Quando ouvi o Dream of Gerontius na sala São Paulo, só não morri de tédio porque 7.1) de fato, há momentos muito bons e 7.2) era o Frank Shipway regendo. Para quem não o conhece (ele não é tão freqüentemente lembrado assim, eu jamais o conheceria se não o tivesse visto), prestem atenção. Ele é um regente seriamente feroz.
    8) OBRIGADO pelas recomendações! Num blog com bilhões de coisas boas como este, fica até meio difícil escolher.

  2. Só um comentário: essa história de ajudar o blog comprando na Amazon… eles boicotaram o Julian Assange! (que poderia ser Satan himself, mas liberdade de informação é liberdade TOTAL, ou não é liberdade, né?).
    E parabéns por divulgar mais Papa Haydn – aliás, já notei que ele é uma grande “inspiração” para muitos dos compositores de música de cinema – é muito frequente encontrar temas haydnianos! O cara foi demais – além de modesto e adorado pelo pessoal das orquestras dele.

  3. Mahler e Haydn: estupendos.
    Parabens, faca mais listas, vou ficar de olho.
    E para o He will be Bach: belo texto, acredito que agrega bem a iniciativa do seu irmao.

    Fica ai a sugestao para os outros autores deste belo blog aderirem a ideia, seria uma interessante discussao.

    Abracos e felicidades.

    Helio.

  4. esse CD do Rostropovich tocando Ulstvolskaya me deixou curioso (estou louco pra ouvir), já esse maravilhoso oratorio de Elgar (the dream of gerontius) é uma coisa para acabar com aquela idéia que algumas pessoas têm de que compositores ingleses eram medíocres, só esse ano eu consegui duas versões, uma com a regência do Sir John Barbirolli (a minha favorita) e outra mais recente com o Sir Simon Rattle. A primeira vez que ouvi essa obra foi em um concerto da OSESP, eu até então conhecia apenas o concerto pra violoncelo desse compositor e esse oratório me deixou assombrado com suas dimensões e carga dramática (depois de Elias de Mendelssohn esse é o meu oratório favorito do período romântico).
    Quanto ao CD do des knaben wunderhorn de Mahler, um elenco composto por verdadeiros especialistas no repertório mahleriano não tem como haver erro, até então eu havia ouvido uma belíssima versão com a regência de Ricardo Chaily e vozes de Barbara Booney e Matthias Goerne, do Dieskau eu só tinha uma interpretação junto com o Daniel Barenboim (ao piano) de vários ciclos completos de canções.
    Esse CD de Haydn me deixou curioso pela instrumentação utilizada (acho que não existem muitos trios com essa formação), sem contar que é um dos maiores compositores de toda a história (e acho que o mais injustiçado…).
    Quanto ao Brahms… Bom, não sou muito fã xD

    Postagem sensacional, CDF!!

    Abraços.

  5. Caros amigos,

    Obrigado pela calorosa acolhida.

    He will be Bach,

    É por causa de comentários como o seu que não podemos parar esse site. Muito obrigado.

    1)Gostaria de tecer alguns comentários sobre a imagem de Haydn no século romântico. Meu texto não foi escrito com muito cuidado, e você tem toda razão sobre o aspecto “individualista” do romantismo. Na verdade, eu pensei a questão “transcedência” de um modo mais amplo, não apenas religioso. Questões relacionadas ao lado sombrio, a morte e um certo esoterismo eram recorrentes no romantismo, assim como o amor “verdadeiro” ou “ impossível”. Não podemos esquecer de Hoffmann e Poe na literatura. O tema do fantástico ou do além é completamente inexistente na obra de Haydn. Já em Don Giovanni de Mozart, obra preferida de Hoffmann, ficamos apavorados com a entrada do convidado de pedra. Haydn nos apresenta um homem simples e zomba daquele que quer ir além (ver as óperas que citei). É muito similar ao homem apresentado por Montagne.
    Além disso, deturparam muito a imagem de Mozart e Beethoven, como você falou. Tanto que gravações antigas ainda mostram esse ranço com a música desses compositores clássicos. Só hoje podemos ouvir Mozart e Beethoven decentemente.
    2)“Haydn, no fim da vida, era idolatrado na Áustria.” Pois é, muito tarde, não acha? E suas principais obras, A criação, As Estações e as últimas sinfonias foram encomendas de pagantes ingleses. Mas eu não tenho dúvida que se Mozart ou Schubert tivessem vividos 100 anos, seriam riquíssimos e venerados em vida.

  6. Caro C.D.F. Bach:

    Posso dizer, como assíduo frequentador deste site, que o seu texto é um dos melhores publicados aqui! Esta é uma constante aqui na casa do Filho de Bach: fina música e textos inteligentes. Bons textos, via de regra, são seguidos de bons comentários, como no caso presente, meus cumprimentos a He will be Bach.

    Decidi acrescentar algo mais primeiro em atenção a você, e também por ter aprendido a gostar de Haydn. A propósito, estou escutando composições para Piano Trio do mesmo. Já faz algum tempo que li que Haydn era o oposto de Mozart. Explico-me: enquanto Mozart compunha seguindo aquilo que lhe agradava, o primeiro compunha aquilo que agradava a quem o pagasse, talvez isto tenha ofuscado seu valor diante da mentalidade romântica, ou Mozart fosse mais apropriado a esta, e por ter vivido tão pouco e morrido de forma tão triste.

    Ah! É claro! Já estou baixando as suas indicações.

    Até breve!

  7. Brigadão, CDF!
    Ótimas considerações “transcendentais” (com o perdão do trocadilho cretino).
    Pois é, Haydn foi idolatrado só bem tarde. Mas acho sintomático ele chegar a ter sido idolatrado ainda em vida; a sua ainda não era a época do culto ao músico! E, quanto à Inglaterra ser bem mais grata nesse sentido, acrescento um ponto às suas considerações: por volta de 1791, com 59 anos, Haydn recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de Oxford (Carpeaux). O Carpô diz mais adiante: “O chamado classicismo vienense: isto é a tríade Haydn-Mozart-Beethoven. É uma rotina historiográfica que falsifica completamente a perspectiva histórica: como se Haydn tivesse sido o fundador e o menos perfeito dos três, Mozart já melhor e Beethoven “o melhor” dos três. (…) Mas o século XIX acreditava nesse mito. Os românticos idolatravam Mozart de tal maneira que Haydn, embora ainda muito apreciado, foi relegado para o fundo. Schumann já o trata com mera benevolência. Conhecidas são umas frases pouco compreensivas de Wagner.” (pp 127-128, edição de 1958 de Uma Nova História da Música)

    Mathues Pianista: hehehe, tá parecendo eu. Só que faço isso com o Fischer-Dieskau, e exageradamente: “Pô, como assim esse CD com os concertos de Chopin NÃO TEM o Fischer-Dieskau?? O que está acontecendo com o blog?”

    Adriano: A bem da verdade, Mozart também (mas não só) compunha aquilo que agradava a quem o pagasse. Muitos de seus concertos para piano foram feitos para agradar instantaneamente; afinal, eram por subscrição. Se o público não gostasse de cara, podia mandá-lo passear. Bom, acabou fazendo isso de qualquer modo mais tarde…
    Aliás, Mozart é outra prova da lenta compreensão vienense. Era aclamadíssimo em Praga (onde estreou seu Don Giovanni). Se quisesse, poderia viver lá com glória. E grana. Mas ficou em Viena mesmo assim. O Norbert Elias (Sociologia de um Gênio) hipotetiza que é porque, para Mozart, era tão fundamental ter o reconhecimento da “capital da música” que mesmo os calorosos aplausos de outros lugares não eram decisivos.
    De todo modo, você está certíssimo, Adriano: a mentalidade romântica abomina a composição por encomenda – “vender a alma”. Só que só foi possível para um músico poder viver sem precisar “ser mercenário” no próprio século XIX. Pouco antes disso, o próprio Mozart acabou se ferrando bonito. A tese de Elias é de que sua época ainda não estava totalmente pronta para isso – por isso o mesmo modelo levou Mozart à bancarrota mas deu certo com o velho Ludwig. Beethoven morreu pobre, mas não miserável!

    Vitor: Como ousa, seu herege?? Mas não se preocupe, um dia você será convertid, ops, digo, convencido de Brahms. 😀
    É que Brahms também não facilita. “Sua música parecia dura a muitos; e ainda parece assim a alguns. Não se abre logo nem com facilidade. É preciso aprender a ouvir Brahms.” (Carpeaux, p, 313) Um dos complicômetros é que ele se inspirava muito fortemente no folclore alemão, e a gente não tem essa base. Por exemplo, a Abertura Acadêmica Festiva me soava apenas como algo que saltitava um pouco. No entanto, um dia, deparei com um CD com as canções dos estudantes bêbados alemães (é sério), e instantaneamente reconheci quase todos os temas da abertura ali. Com isso, ela passou a ser muito mais engraçada. Ainda mais porque era um “agradecimento” a um título de DOUTOR honoris causa. O equivalente de hoje seria assim: a tradicionalíssima São Francisco concede o tal título ao rigorosíssimo Neschling esperando que ele componha uma trova em agradecimento (as trovas são sagradas por lá). Daí, ele compõe com uma série de variações orquestrais sobre temas tocados nos puteiros do Centrão de São Paulo (onde fica a própria São Francisco).
    Esses alemães são uns engraçadinhos, não são?
    Bom, Vitor, sugiro você tentar o Quarteto com piano em sol menor e as Valsas do op. 39. São obras das mais acessíveis. Talvez você tenha um pouco de dificuldade de achar as Valsas, pois todo mundo grava só as Danças Húngaras, mas um cara chamado Soheil Nassieri postou no YouTube um recital com si mesmo em que ele toca todinhas. E, com atenção, você vai ver que Brahms usa acordes ALTAMENTE reconhecíveis. Daqueles que é só o seu amigo tocar no piano e você falar: “Isso é Brahms”. A Valsa no. 15 em Lá Bemol é uma ótima coleção deles.
    Mas não se sinta mal por isso: o próprio Nelson Freire detestava Brahms. Foi uma de suas professoras que o levou a mudar de opinião, a ponto de ter feito de seu Concerto nº 2 quase um hobby.

  8. He Will be Bach, obrigado pelas dicas de obras, na verdade já ouvi bastante coisa de Brahms, e admito que ele é um grande compositor, inclusive até gosto de algumas de suas obras, em especial o requiem alemão, o concerto duplo pra violino e cello e as sonatas pra violoncelo (até porque estudo cello), a primeira sinfonia tbm me agrada (embora ache Beethoveniana demais), mas entre os compositores do tempo dele acho ele retrogrado demais, sei lá, questão de gosto mesmo…
    Gostei muito do CD do Rostropovich tocando Schnittike e Ulstvolskaya, o que acho interessante nessas obras modernas é que não há esse negócio de “acompanhamento de piano”, pois a impressão que tenho é que ambos os instrumentos se completam como um verdadeiro duo.
    Também não entendi o que o le gran tango de Piazzolla estava fazendo no CD, mas para mim foi uma grata surpresa, pois desde o momento em que adquiri a partitura tive curiosidade de saber como é a interpretação do Rostropovich para essa obra (porque o le gran tango foi dedicado a ele), bom… Rostropovich é um dos violoncelistas que eu mais admiro, possui uma técnica incrível e ampla sonoridade, mas acho que na interpretação ele por vezes me parece um tanto “frio” e nesse tango ele fugiu muitas vezes do que Piazzolla escreveu (em especial no final), mas não sei se essa obra passou por revisões para que haja essas diferenças entre partitura e interpretação

  9. Le Grand Tango de Piazzolla foi composta especialmente para Rostropovich, que estreou em 1990, e que, dizem, não gostei tanto quanto o esperado. Uma excelente versão está no álbum Soul of the tango, de Yo-Yo Ma e Kathryn Stott.

    Uma pena as restrições dos herdeiros de Villa-Lobos. Eu entendo que a partir de um certo ponto de vista, há uma “perda” econômica para eles, mas não entendo como pode haver pessoas que insistem que o mundo tem menos e não mais de Villa-Lobos (ou cultura em geral). Pelo menos no meu caso, alguns blogs têm cumprido o papel de irmãos mais velhos para me dizer: tome, ouvir isso.

    Obrigado e feliz ano para você.

    (Espero que o tradutor do Google para fazer bem seu trabalho)

  10. SAC do PQP Bach:
    o mecanismo de reply para estar com pau. Em dois computadores diferentes, eu clico no reply e não acontece nada.

    Vitor:
    Como brahmsiano fanático e nietzscheano incorrigível, tenho de questionar o seu conceito de “moderno” em função do qual você classifica Brahms como “meio reacionário para o seu tempo”. Provavelmente, você usou “moderno” como sendo “experimentação tonal, rítmica, harmônica etc. e solapação de formas”. Só que, se conceituarmos “moderno” como “aquele que sempre tem algo a nos dizer de maneira acessível“, Schönberg será o compositor mais reacionário de todos os tempos, e Bach será o cara mais moderno do universo (sim, estou considerando a Terceira Escola Venusiana e o Círculo de Saturno). Nessa acepção, Brahms também seria bastante moderno.
    Mais ainda: o próprio Schönberg escreveu um artigo intitulado “Brahms, o Progressista” (Vide http://en.wikipedia.org/wiki/Johannes_Brahms). Sua idéia era, exatamente em vista das diversas acusações que Brahms sofria de ser retrógrado, mostrar como sua música era tremendamente ousada – isto é, acepção de “moderno” como “experimentação”.
    Peraí, você estuda cello e não venera Brahms? COMO OUSA???!?!?!? 😀
    Ok, agora fora de brincadeira: se já não ouviste o andante do Quarteto para piano no. 3, não perca isto – http://www.youtube.com/watch?v=nrQXsujPpWM

    Thiago Varjão: concordo em gênero, número e grau. 🙂

  11. Prezados,
    também quero dizer algo sobre o desprezo geral a que Haydn foi submetido ao longo do século XIX; acho que há pelo menos duas coisas: a) preconceito de classe: um lacaio da corte seria capaz de fazer música que não apenas para, de maneira frívola, agradar o amo? Não há uma obra em que o mestee se repita!!!!!!!! b) o único dos grandes músicos a não prestar a devida reverência a Haydn foi Beethoven (apesar de, como dito, buscar “reconciliar-se” com o ancião no referido concerto). Já na virada do século XVIII para o XIX Beethoven estimulava ridicularizações daquele que tinha sido seu mestre, bem como competições com ele. Creio que o preconceito se estendeu ao longo do tempo e está longe de ser dissipado. Por isso me congratulo com as palavras do CDF e com as observações acima; não deixa de ser uma surpresa que um disco consagrado a ele conste entre os melhores de um ano!

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